quarta-feira, 9 de dezembro de 2020

Guiné 61/74 - P21624: Boas Festas 2020/21: Em rede, ligados e solidários, uns com os outros, lutando contra a pandemia de Covid-19 (4): Da Lapónia sueca com... humor (José Belo)



Suécia > Lapónia > O corvo e a garrafa de vodca... (Foto enviada por J. Belo) 

[Em Portugal, também é conhecida como gralha conzenta ou gralha de capuz, corvus cornix, mas não integra a Lista Sistemática das Aves de Portugal Continental]


José Belo


1. Mensagem de José Belo, ex-alf mil, CCAÇ 2381 (Ingoré, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70); cap inf ref, jurista, autor da série "Da Suécia com Saudade"; vive na Suécia  há mais de 4 décadas; régulo da Tabanca da Lapónia (a única tabanca de um homem só, em todas as Tabancas Federadas na Tabanca Grande); tem mais de  180 referências no nosso blogue; membro da nossa Tabanca Grande desde 8 de março de 2009]


Data - 08/12/2020, 21:08

Assunto - Humor em tempos difíceis

Com este, em todos os aspectos, típico corvo da Lapónia Sueca,  os Votos de um Feliz Natal e Bom Novo Ano!

J.Belo

__________

Nota do editor:

10 comentários:

Anónimo disse...




Muito obrigado José Belo. grande amigo lá de longe, das terras onde nasce o frio e a neve, onde vivem as renas e os homens resistentes de barba branca e rija, que bebem o melhor e mais forte vodca do planeta.
De ti qual profeta moderno a meditar no teu exílio branco de noites brancas e dias mais longos, mais propício a revelações esperamos que anuncies para o próximo ano um tempo melhor para podermos sair pelos caminhos ,pelas estradas. pelos mares e pelas nuvens.
José Belo votos de Bom Natal e Bom Ano para ti.
Um grande abraço

Francisco Baptista

Anónimo disse...

Meu Caro Amigo

Apesar de por aqui se viver imerso numa Natureza magnífica esta é bem dura e impiedosa.
O que leva a desenvolver as capacidades observatóricas com detrimento das tais “proféticas”.
Infelizmente.

Na “filosofia” das gentes locais os dias de “ontem”, “hoje” e “amanhã”,formam um todo indivisível quanto à sua importância relativa.
O dia de hoje,basedado no que aprendeste ontem,ajuda-te a sobreviver no dia de amanhã.
A ideia é mais a de uma “onda” continuada do que a nossa ideia de uma sucessão de passadas independentes no tempo.
E aí quase poderíamos voltar às tais “professias”.
A interpretar hoje (corretamente!) o que aprendi ontem ,quase poderei antever o amanhã.
Todo um diferente estado de espírito com um “tempo” não linear mas antes circular.

Inesperadamente,da filosofia das gentes do Círculo Polar lá vamos cair no tempo circular de Fernando Pessoa e,a sermos generosos, nas quase semelhanças (atenção ao “quase”) ao poema quanto........*O que é que os taipais do mundo escondem nas montras de Deus?*

Um grande abraço do J.Belo com Votos para Ti e para os Teus de um Feliz Natal e Bom Novo Ano!

Anónimo disse...

José Belo se puderes e quiseres responder e se fizeres o favor claro.Como resiste o fígado dos habitantes aí com o "Vodka mais forte do planeta".Ou será que têm um fígado blindado.
Abraço
Carlos Gaspar

Anónimo disse...

Caro Camarada Carlos Gaspar

A pergunta que me ponho depois de 40 anos de “observador” não será tanto a de terem fígado blindado mas antes ....... a de terem fígado!

De qualquer modo,talvez pelos trinta( e mais!) graus negativos,as médias de idade são elevadas.
Carnes de alce,rena e urso..... frescas!
Salmão e trutas também....frescos!
As meninas locais também....frescas!

Com tanta “frescalhada” a doentia “frascalhada” quase que fica imunizada.
(Está da “ imunizada” está adaptada aos tempos que correm)

Um abraço do J.Belo

Tabanca Grande Luís Graça disse...

A pro+ósito dos corvos "samis", e Falando do Fernando Pessoa, lembrei-me da sua genial tradução (1924) do famoso poema "The Raven",o Corvo, de Edgar Poe (1845). Há uma tradução do grande romancista brasileiro Machado Assis, mas é um desastre, feita a partir do francês...

https://pt.wikipedia.org/wiki/O_Corvo


O Corvo (tradução de Fernando Pessoa)

https://pt.wikisource.org/wiki/O_Corvo_(tradu%C3%A7%C3%A3o_de_Fernando_Pessoa)

Numa meia-noite agreste, quando eu lia, lento e triste,
Vagos, curiosos tomos de ciências ancestrais,
E já quase adormecia, ouvi o que parecia
O som de alguém que batia levemente a meus umbrais.
"Uma visita", eu me disse, "está batendo a meus umbrais.
É só isto, e nada mais."

Ah, que bem disso me lembro! Era no frio dezembro,
E o fogo, morrendo negro, urdia sombras desiguais.
Como eu qu'ria a madrugada, toda a noite aos livros dada
P'ra esquecer (em vão!) a amada, hoje entre hostes celestiais -
Essa cujo nome sabem as hostes celestiais,
Mas sem nome aqui jamais!

Como, a tremer frio e frouxo, cada reposteiro roxo
Me incutia, urdia estranhos terrores nunca antes tais!
Mas, a mim mesmo infundido força, eu ia repetindo,
"É uma visita pedindo entrada aqui em meus umbrais;
Uma visita tardia pede entrada em meus umbrais.
É só isto, e nada mais".

E, mais forte num instante, já nem tardo ou hesitante,
"Senhor", eu disse, "ou senhora, decerto me desculpais;
Mas eu ia adormecendo, quando viestes batendo,
Tão levemente batendo, batendo por meus umbrais,
Que mal ouvi..." E abri largos, franqueando-os, meus umbrais.
Noite, noite e nada mais.

A treva enorme fitando, fiquei perdido receando,
Dúbio e tais sonhos sonhando que os ninguém sonhou iguais.
Mas a noite era infinita, a paz profunda e maldita,
E a única palavra dita foi um nome cheio de ais -
Eu o disse, o nome dela, e o eco disse aos meus ais.
Isso só e nada mais.

Para dentro então volvendo, toda a alma em mim ardendo,
Não tardou que ouvisse novo som batendo mais e mais.
"Por certo", disse eu, "aquela bulha é na minha janela.
Vamos ver o que está nela, e o que são estes sinais."
Meu coração se distraía pesquisando estes sinais.
"É o vento, e nada mais."

Abri então a vidraça, e eis que, com muita negaça,
Entrou grave e nobre um corvo dos bons tempos ancestrais.
Não fez nenhum cumprimento, não parou nem um momento,
Mas com ar solene e lento pousou sobre os meus umbrais,
Num alvo busto de Atena que há por sobre meus umbrais,
Foi, pousou, e nada mais.

(Continua)

Tabanca Grande Luís Graça disse...


O Corvo, de Edgar Poe (1845) (tradução de Fernando Pessoa, 1924)

https://pt.wikisource.org/wiki/O_Corvo_(tradu%C3%A7%C3%A3o_de_Fernando_Pessoa)

(Continuação)

esta ave estranha e escura fez sorrir minha amargura
Com o solene decoro de seus ares rituais.
"Tens o aspecto tosquiado", disse eu, "mas de nobre e ousado,
Ó velho corvo emigrado lá das trevas infernais!
Dize-me qual o teu nome lá nas trevas infernais."
Disse o corvo, "Nunca mais".

Pasmei de ouvir este raro pássaro falar tão claro,
Inda que pouco sentido tivessem palavras tais.
Mas deve ser concedido que ninguém terá havido
Que uma ave tenha tido pousada nos seus umbrais,
Ave ou bicho sobre o busto que há por sobre seus umbrais,
Com o nome "Nunca mais".

Mas o corvo, sobre o busto, nada mais dissera, augusto,
Que essa frase, qual se nela a alma lhe ficasse em ais.
Nem mais voz nem movimento fez, e eu, em meu pensamento
Perdido, murmurei lento, "Amigos, sonhos - mortais
Todos - todos já se foram. Amanhã também te vais".
Disse o corvo, "Nunca mais".

A alma súbito movida por frase tão bem cabida,
"Por certo", disse eu, "são estas vozes usuais,
Aprendeu-as de algum dono, que a desgraça e o abandono
Seguiram até que o entono da alma se quebrou em ais,
E o bordão de desesp'rança de seu canto cheio de ais
Era este "Nunca mais".

Mas, fazendo inda a ave escura sorrir a minha amargura,
Sentei-me defronte dela, do alvo busto e meus umbrais;
E, enterrado na cadeira, pensei de muita maneira
Que qu'ria esta ave agoureira dos maus tempos ancestrais,
Esta ave negra e agoureira dos maus tempos ancestrais,
Com aquele "Nunca mais".

Comigo isto discorrendo, mas nem sílaba dizendo
À ave que na minha alma cravava os olhos fatais,
Isto e mais ia cismando, a cabeça reclinando
No veludo onde a luz punha vagas sombras desiguais,
Naquele veludo onde ela, entre as sombras desiguais,
Reclinar-se-á nunca mais!

Fez-se então o ar mais denso, como cheio dum incenso
Que anjos dessem, cujos leves passos soam musicais.
"Maldito!", a mim disse, "deu-te Deus, por anjos concedeu-te
O esquecimento; valeu-te. Toma-o, esquece, com teus ais,
O nome da que não esqueces, e que faz esses teus ais!"
Disse o corvo, "Nunca mais".

(Continua)

Tabanca Grande Luís Graça disse...

O Corvo, de Edgar Poe (1845) (tradução de Fernando Pessoa, 1924)

https://pt.wikisource.org/wiki/O_Corvo_(tradu%C3%A7%C3%A3o_de_Fernando_Pessoa)

(Continuação)


"Profeta", disse eu, "profeta - ou demônio ou ave preta!
Fosse diabo ou tempestade quem te trouxe a meus umbrais,
A este luto e este degredo, a esta noite e este segredo,
A esta casa de ânsia e medo, dize a esta alma a quem atrais
Se há um bálsamo longínquo para esta alma a quem atrais!
Disse o corvo, "Nunca mais".

"Profeta", disse eu, "profeta - ou demônio ou ave preta!
Pelo Deus ante quem ambos somos fracos e mortais.
Dize a esta alma entristecida se no Éden de outra vida
Verá essa hoje perdida entre hostes celestiais,
Essa cujo nome sabem as hostes celestiais!"
Disse o corvo, "Nunca mais".

"Que esse grito nos aparte, ave ou diabo!", eu disse. "Parte!
Torna à noite e à tempestade! Torna às trevas infernais!
Não deixes pena que ateste a mentira que disseste!
Minha solidão me reste! Tira-te de meus umbrais!
Tira o vulto de meu peito e a sombra de meus umbrais!"
Disse o corvo, "Nunca mais".

E o corvo, na noite infinda, está ainda, está ainda
No alvo busto de Atena que há por sobre os meus umbrais.
Seu olhar tem a medonha cor de um demônio que sonha,
E a luz lança-lhe a tristonha sombra no chão há mais e mais,
E a minhalma dessa sombra que no chão há mais e mais,
Libertar-se-á... nunca mais!

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Hélder Valério disse...

Caro amigo e camarada JBelo

Fiquei com a impressão, mas se calhar só isso, de que o empenho bem visível do corvo em tentar abrir, rodando a tampa, a garrafa de vodca, se ela (a garrafa) não será do tal "produto" de 90º....
Acredito que sim!

Abraço
HSousa

Anónimo disse...

Caro Amigo e Camarada Helder

Algum pequenos,mas importantíssimos, detalhes.

A)-O corvo está não(!)a tentar abrir a garrafa mas sim a tentar fechá-la.
B)-A garrafa está quase fazia.
C)-A “alimária” ainda está de pé.

Logo: A vodka não é a do meu alambique caseiro,a tal dos .....90%+

Um grande abraço do J.Belo

Anónimo disse...

José Belo Obrigado pela tua resposta.Parece-me então, ser a frescura o segredo e o "elixir" para a longevidade.
Tudo de Bom para ti e votos de um Bom Natal e melhor Ano Novo que com neve e renas
me parece mais real.
Abraço
Carlos Gaspar