Rosa Serra, ex-ten grad enf paraquedista, (Guiné, Angola e Moçambique, 1969/73). Fotos do seu álbum / Fonte: Página do Facebook "Quem Vai à Guerra" (com a devida vénia...)
1. Achámos uma delícia este "postal do dia" do Luís Osório, conhecido escritor, jornalista e radialista,sobre a nossa querida Rosa Serra (tem cerca de 7 dezenas de referências no nosso blogue; é membro da Tabanca Grande desde 25/5/2010.
Só Entre Nós > A paraquedista secreta da Força Aérea Portuguesa
(Nota de LG: No espaço de uma semana teve mais de 500 comentários e cerca de mil partilhas, o que é absolutamente notável...
Sobre o autor: (i) Luís Osório (nascido em 1971) tem onze livros publicados, o mais recente dos quais A Última Lição de Manuel Sobrinho Simões (Contraponto, 2024):
(ii) é cronista diário na Antena 1, onde assina o Postal do Dia:
(iii) escreve todos os dias nas redes sociais, onde tem muitos milhares de seguidores;
(iv) foi diretor de jornais e de uma estação de rádio;
(v) ganhou prémios como criativo e autor de programas de televisão;
(vi) é consultor político e empresarial;
(vii) a partir do livro Ficheiros Secretos – Histórias Nunca Contadas da Política e da Sociedade Portuguesas, que transpôs para palco com um monólogo de grande sucesso, percorreu o país e esgotou salas emblemáticas, como o Teatro Tivoli, em Lisboa, e a Casa da Música, no Porto. (Fonte: Wook).
Muitos foram os homens que se apaixonaram por Rosa Serra. Era tempo de guerra, não havia espaço para avanços amorosos, mas os militares quando a viam “aterrar” com o seu paraquedas na selva da Guiné, Angola ou Moçambique, ficavam de boca à banda.
Rosa foi uma das mais respeitáveis enfermeiras da Força Aérea Portuguesa. Em meados da década de 1960, pouco tempo antes de se finar, Salazar dera, após insistência de alguns generais, autorização para que as mulheres pudessem vestir farda. Crescia o número de feridos por evacuar, todos os esforços eram poucos.
Rosa desejava conhecer Lisboa. Nascera em Famalicão e foi essa vontade, mais do que outra coisa, que a levou a inscrever-se no curso de paraquedistas em Tancos.
Antes de ir para a Guiné tratou de cegos e estropiados em Angra do Heroísmo, lugar de recuo.
Raramente vacilava e não tremia em terra, no ar, a amputar pernas e braços ou a desembaraçar-se de tiros cruzados.
Evacuou soldados nos lugares mais difíceis e, quando passava, não havia quem conseguisse deixar de olhar. Recebeu dois louvores que nunca foram anunciados – as mulheres não podiam ter relevância em trabalhos de homem. Por isso, foi esquecida.
Ela e várias outras paraquedistas. Durante o Estado Novo poucos sabiam da sua existência. Na democracia a ninguém interessava que se soubesse. Só vários anos depois a sua história foi contada, só há poucos dias a Câmara de Famalicão, e muito bem, lhe ofereceu a mais alta distinção da cidade. Valeu a pena, Rosa.
LO
Rosa foi uma das mais respeitáveis enfermeiras da Força Aérea Portuguesa. Em meados da década de 1960, pouco tempo antes de se finar, Salazar dera, após insistência de alguns generais, autorização para que as mulheres pudessem vestir farda. Crescia o número de feridos por evacuar, todos os esforços eram poucos.
Rosa desejava conhecer Lisboa. Nascera em Famalicão e foi essa vontade, mais do que outra coisa, que a levou a inscrever-se no curso de paraquedistas em Tancos.
Antes de ir para a Guiné tratou de cegos e estropiados em Angra do Heroísmo, lugar de recuo.
Raramente vacilava e não tremia em terra, no ar, a amputar pernas e braços ou a desembaraçar-se de tiros cruzados.
Evacuou soldados nos lugares mais difíceis e, quando passava, não havia quem conseguisse deixar de olhar. Recebeu dois louvores que nunca foram anunciados – as mulheres não podiam ter relevância em trabalhos de homem. Por isso, foi esquecida.
Ela e várias outras paraquedistas. Durante o Estado Novo poucos sabiam da sua existência. Na democracia a ninguém interessava que se soubesse. Só vários anos depois a sua história foi contada, só há poucos dias a Câmara de Famalicão, e muito bem, lhe ofereceu a mais alta distinção da cidade. Valeu a pena, Rosa.
LO
Crónica publicada hoje no Jornal de Notícias | Todos os dias úteis no JN
(Reproduzido no blogue com a devida vénia | Revisão /fixação de texto, títiulo, LG)
Rosa Serra: foto do seu álbum
2. Comentário do nosso editor LG:
O postal do Luís Osório pode estar a romantizar um pouco a atuação das nossas enfermeiras paraquedistas... É verdade que, sendo as únicas mulheres nossas camaradas, e para mais brancas (não havia negras...) , causava sempre alguma "turvação" á sua chegada aos quartéis do mato... Sobretudo, quando faziam uma pausa no seu trabalho sanitário. Fui testemunha disso em Bambadinca.
É verdade, partiram corações (sobretudo da malta da FAP, a começar pelos nossos bravos paraquedistas, com quem algumas depois viriam a casar...). Mas as enfermeiras no mato, em Angola, Guiné e Moçambique, não "aterravam de paraquedas"... Faziam evacuações de helicóptero. Desde 1961, o ano em que "os anjos que vinham do céu" apareceram. Em Angola. Em meados de 1961.
A Rosa não tremia em terra, nem no ar, é verdade. Mas não era seguramente a amputar pernas e braços. Na Guiné, levava os feridos graves, no helicóptero Alouette III, direitinho ao HM 241. Aí, sim, competia aos cirurgiões militares amputar pernas e braços que não se podiam "salvar". A missão da Rosa e das demais enfermeiras paraquedistas era salvar vidas, levar camaradas nossos ( mas também civis), muitas vezes politraumatizados, até ao "heliporto de salvação", que era o do hospital. Neste caso, o HM 241, em Bissau.
O Luís Osório, que felizmente não fez a guerra (nem tinha idade para isso), não pode saber tudo... Um abraço para ele e para as nossas antigas camaradas de armas (as únicas que tivemos).
3. Comentário de Jaime Bonifácio da Silva
Caro Luís Osório, para que a memória de quem serviu a “nossa Pátria” em tempos de “uma guerra sem sentido”, como disse o Presidente da República, general Ramalho , estou-lhe reconhecido e grato pelo facto de trazer à nossa memória o exemplo de um grupo de jovens mulheres, as enfermeiras paraquedistas, que serviram a nossa pátria em tempo de guerra, no teatro de operações.
Tive a felicidade (infelizmente em tempo de guerra) de conviver diariamente com a enfermeira alferes paraquedista Rosa Serra no Batalhão de Caçadores Paraquedistas (BCP 21) em Angola.
Dela , e de mais duas camaradas enfermeiras, guardo a memória de uma dedicação e entrega sem paralelo.
Em 6 de abril de 2016 a Câmara Municipal de Fafe, no âmbito da efeméride Fafe - Terra Justa, fez uma merecida homenagem às enfermeiras paraquedistas.
Por favor, consultem a bibliografia disponível sobre a sua história, nomeadamente o livro " Nós, as enfermeiras paraquedistas" (2a, ed, 2014), coordenado pela tenente graduada enfermeira paraquedista Rosa Serra, sobre a origem e percurso deste grupo de mulheres em tempo de guerra (e que, como elas dizem, "fomos gente que cuidámos de gente"!).
Obrigado, Luís Osório. Jaime Silva.
(Revisão / fixação de texto, link: LG)
_________________
Nota do editor LG:
Último poste da série > 2 de agosto de 2025 > Guiné 61/74 - P27079: (De)Caras (237): Ercília Ribeiro Pedro, ex-enfermeira paraquedista, do 2º curso (1962), reconhecida pela Maria Arminda em foto de grupo, tirada no Brasil, em 2012, e pertença do álbum do cor art ref Morais da Silva
5 comentários:
Deixei este comentário no post publicado no facebook pelo jornalista Luís Osório, que, confesso, sigo com alguma atenção:
"Nem parece um artigo do Luís Osório. Tanto quis dizer sobre as nossas queridas enfermeiras paraquedistas que estragou tudo. Ainda pôs entre aspas o aterrar, mas esqueceu-se do paraquedas. Só mesmo quem não andou no mato, e não selva, da Guiné, Angola e Moçambique, é capaz de tal afirmação, pelo menos subentendida.
As nossas enfermeiras paraquedistas deslocavam-se em meios aéreos, os mesmos que evacuavam os deserdados da sorte daquele dia.
Os militares ficavam de boca à banda quando viam as enfermeiras paraquedistas? Estas meninas eram, as nossas mães, irmãs, esposas e filhas, que todos deixávamos na metrópole. Eram "só" os nossos anjos da guarda.
Um eterno obrigado a estas meninas que deixaram para trás as suas vidas em prol dos militares infantes que lutaram no ultramar.
Um beijinho especial para as senhoras enfermeiras, Giselda Pessoa, Maria Arminda e Rosa Serra que tenho o prazer de conhecer pessoalmente.
Carlos Vinhal, ex-Fur Mil
CART 2732 - Guiné, 1970/72"
Digo eu agora, que quando queremos homenagear alguém, o devemos fazer citando factos reais e não divagando segundo aquilo que pensamos ter essa pessoa feito.
Gostava de saber onde é que as nossas queridas enfermeiras paraquedistas aterraram de paraquedas para socorrerm militares feridos na "selva".
"Raramente vacilava e não tremia em terra, no ar, a amputar pernas e braços ou a desembaraçar-se de tiros cruzados."
Mas que grande filme. Não sabia que dos cursos de enfermagem e/ou de paraquedismo, fazia parte a matéria de esquiva a tiros cruzados.
Também gostava que a Enfermeira Rosa Serra confirmasse quantas amputações de braços e pernas fez, por sua iniciativa e sem médico presente.
Uma coisa é certa, a nossa querida enfermeira Rosa Serra tem no LO um admirador único, talvez até um apaixonado. Não é que não mereça. Tal como as suas colegas, tem a nossa eterna gratidão e admiração.
Carlos Vinhal
Pois é, Carlos, quando os paisanos se põem a falar de tropa...
Quando um tipo quer ser "mais papista que o papa" escreve um arrazoado de palavras após os comentários do Luís e do Jaime Silva...porquê???
As enfermeiras paraquedistas (44 ao todo, as que foram à guerra...) eram nossas camaradas, mas não deixavam de ser "mulheres", mesmo disfarçadas de ,miliaters, sob a farda camuflada...
Para muitos camaradas nossos, e nomeadamente na Guiné, eram as únicas mulheres, "brancas", metropolitanas, parecidas cpom as suas esposas, namoradas, madrinhas de guerra, irmãs, amigas, vizinhas, etc., que podiam ver, na maior dos casos, no mato, no interior da Guiné... Não é "pecado nenhum" reconhecer-se que podiam, em certas circunstâncias, ser "objeto de desejo"... Elas sabiam lidar com esse risco...Mas isso não
as impediu de casar depois, em diversos casos, com militares, da FAP, incluindo do BCP 12 com quem terão convidido mais...
Subscrevo por inteiro o que disse o meu camarada e amigo Carlos Vinhal.Sou um seguidor do Luis Osorio.Aprecio muito os seus textos,mas aqui está completamente ao "lado da placa".Deveria ter-se informado melhor......Enfim....
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