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sábado, 19 de julho de 2025

Guiné 61/74 - P27032: Seis jovens lourinhanenses mortos no CTIG (Jaime Silva / Luís Graça) (3): Albino Cláudio (1946-1968), sold at inf, CCAÇ 2368 / BCAÇ 2845 (1968/1970), natural de Ribamar: vítima de acidente com arma de fogo, em Bissorã, em 23/7/1968 - Parte I: nota biográfica e circunstâncias da morte


Albino Cláudio (30.05.1946 – 23.07.1968), sold at inf, CCAÇ 2368 (Cacheu, Bissorã, Teixeira Pinto, 1968-70)

Crachá da CCAÇ 2368 / BCAÇ 2845 "Feras" (Fortes e Altivos")


Localidade do falecimento - Bissorã, Guiné

Soldado atirador infantaria nº 1135736/67

Naturalidade - Ribamar, Lourinhã

Local da sepultura - Cemitério de Santa Bárbara, Marquiteira


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1. REGISTO DE NASCIMENTO


Albino Cláudio nasceu a 30 de maio de 1946, às 8 horas, no lugar de Ribamar, então freguesia de Lourinhã.

Era filho legítimo de Artur Cláudio, de 38 anos, casado e jornaleiro, e de Jacinta da Conceição, 33 anos, casada, doméstica, ambos naturais da freguesia e concelho da Lourinhã e domiciliados no lugar de Ribamar. Neto paterno de Manuel Cláudio e de Maria da Conceição, ambos falecidos, e materno de Januário Feliciano (falecido) e Luzia de Jesus.

O registo de nascimento foi efetuado pelo pai, às onze horas e quinze minutos, de 13 de junho de 1946, teve como testemunhas Manuel Pereira, casado, moleiro, morador em Pregança, e Mateus Baltazar, solteiro, empregado de comércio e residente na Lourinhã, sendo assinado pelas testemunhas e não assinado pelo declarante por não saber escrever.

A importância dos emolumentos foi de seis escudos e a dos selos devidos pela parte de três escudos. Registo de nascimento n.º 272, efetuado a 13 de junho de 1946 na Conservatória do Registo Civil da Lourinhã.


2. REGISTO MILITAR


Recenseamento: recenseado pelo concelho e freguesia de Lourinhã sob o nº 8 em 1966, solteiro, com a profissão de marítimo,  pescador.

Tinha como habilitações literárias o 1º grau (3ª classe) do Ensino Primário Elementar e morava em Santa Bárbara,  Ribamar.

Inspeção militar: alistado em 21 de julho de 1966 com o número mecanográfico nº 113573/67. Media 1.66 m de altura, cabelo castanho, olhos azuis, pesava 67 quilos. Foi apurado para todo o serviço.

Colocação durante o serviço: foi incorporado em 23 de outubro de 1967, como recrutado, no RI 10 (Aveiro) na 1ª Companhia. A 04.12. 67 tomou parte nos exercícios de campo da 8ª semana de Iinstrução Básica (IB) /1º ER/67; 20.12.67 Jurou Bandeira; 23.12.67 termina a IB (Recruta); 02.01.1968 marchou para o BCAÇ 10 (Chaves), sendo aumentado ao efetivo do Batalhão e da 2ª Companhia.

Em 03.02.68 fica Pronto da Especialidade de Atirador.

Unidades onde prestou serviço: RI 10 (Aveiro), 23.10.67. BCAÇ10 (Chaves), 02. 01. 68

2.1. Comissão de serviço no ultramar, Guiné

Mobilizado: em 09. 02. 68 nos termos da alínea e) do artº 3º do Dec. 42937 de 22.04.1960 para servir no ultramar, sendo transferido para a CCAÇ 2368. 


Embarque: em Lisboa a 1 de maio de 1968 com destino ao CTIG, fazendo parte da CCAÇ 2368.


Desembarque: Bissau a 7 de maio 68 desde quando aumenta 100% ao tempo de serviço.


Data do falecimento: 23.07.1968


Causa da morte: acidente com arma de fogo


Local do acidente: Bissorã.


Abatido ao efetivo: nos termos das NEP/Pessoal – III – I Pág. 9 – F. 4a. Da 1ª Rep/QG/CTIG, é abatido ao efetivo desta Subunidade (CCAÇ 2368), desde 23 julho 1968, por morte de acidente com arma de fogo (OS 2 de 27.07.68), desde quando deixa de contar 100% de aumento do tempo de serviço.

2.2. Registo disciplinar: condecorações e louvores:


Medalha: de segunda classe de comportamento (Artº 88.º do RDM) é-lhe atribuída em 25 de outubro de 1967.

3. PROCESSO DE AVERIGUAÇÕES AO ACIDENTE: ANOTAÇÕES E CONTEXTO

Participação do acidente: no dia 23 de julho de 1968 o Oficial de Dia, de serviço à CCAÇ 2368, pertencente ao BCAÇ 1915, aquartelado em Bissorã, participa ao seu Comandante de Companhia as circunstâncias do acidente: 


- Que “pelas 7.00 horas da manhã quando me encontrava a assistir à primeira refeição na qualidade de Oficial de Dia, ouvi uma detonação na caserna e acorri lá imediatamente tendo deparado com o soldado nº 113573 67, Albino Cláudio, caído à entrada da caserna e com o sangue a sair abundantemente por uma ferida no peito, o que me levou a chamar prontamente o médico e alertar o Comandante de Companhia ao mesmo tempo que providenciava o seu transporte para o Posto de Socorros.


São testemunhas da ocorrência o soldado nº 11485267, Joaquim da Cunha Moreira e o soldado nº 11699667, Cipriano Martins da Silva”.



A 24 de julho de 68, o Comandante do BCAV 1915 ordena que o alf mil António de Matos de Almeida proceda ao respetivo processo por acidente com arma de fogo.


-A 25.07.68 o alf mil  Almeida interroga as duas testemunhas mencionadas que declaram para os autos:


1.ª testemunha, o 1º cabo Atirador Cipriano Martins Silva, casado, de 22 anos de idade, natural de Oliveira Santa Maria, concelho de Famalicão, após juramento, declarou:


“Que no dia 23.07.68, uns dez minutos antes das 7.00 horas, vira o sinistrado a limpar a arma, pois iria entrar de serviço às sete horas, que não viu o acidente porque foi para o refeitório tomar a primeira refeição, que, quando se deu o tiro, viu o oficial de serviço correr para a caserna e fazer transportar o sinistrado para o posto de socorros, onde foi assistido pelo médico, em vão, pois que acabou por morrer.


O sinistrado tinha dito algumas vezes aos amigos que, logo que passasse à disponibilidade,  se casaria e construiria uma casa com o dinheiro que já tinha no banco, pelo que pensa que o sinistrado não se tivesse suicidado”.


2.ª testemunha, o soldado atirador de infantaria, Joaquim Moreira, solteiro, de 21 anos de idade, natural da freguesia e concelho de Penafiel, após juramento, disse:


“que estava à porta da caserna quando ouviu um tiro dentro da caserna, que, entrando lá dentro, viu o sinistrado caído no chão com a arma ao lado e com muito sangue a sair-lhe do peito, que vira momentos antes o sinistrado a limpar arma. 


Disse ainda que pensa que o sinistrado não se matou propositadamente porque lhe parecia uma pessoa pacata e sem problemas”.


Certidão de óbito: a 23.07.68 no quartel de Bissorâ, o médico da Companhia confirma que “a causa principal da morte foi o ferimento perfurante na caixa torácica”.


Espólio:  relação de fardamento, calçado e outros haveres, pertencentes ao soldado Albino Cláudio: o comandante de companhia, capitão de infantaria Manuel Joaquim Sampaio Cerveira assina, em 27.07.68, a relação dos haveres elaborada pelo alferes António Matos e pelas testemunhas, furriel mil, António Pimenta Rodrigues e 1º cabo Victor Manuel da Costa.

Entre os diversos pertencentes, consta: “01 fio de prata contendo uma pequena medalha. Por declaração de camarada da praça falecida, soube-se que este em situação operacional declarara, se viesse a falecer em combate, que apenas desejava que o fio em prata que contém a pequena medalha,  fosse entregue à sua namorada”.


Dúvidas do Comando Territorial Independente da Guiné:


A 14 e 28 de agosto o Comando Territorial Independente da Guiné envia dois ofícios aos Comandantes do BCAÇ 1915 e da CCAÇ 2368 no sentido de se clarificar que: 

(i) “o Processo instaurado ao soldado Albino Claúdio é por desastre em serviço e não por acidente por arma de fogo”.

(ii)  (…) “e que além das provas testemunhais deve ficar bem esclarecido no Processo se a morte foi por acidente ou suicídio”.


Conclusão do Processo e despacho final do Comando Militar da Guine “Serviço da República, Ministério do Exército, Comando Territorial Independente da Guiné, Quartel General – 1ª Repartição, Processo – Por desastre em serviço


Mostra o Processo:


- Que em 23 julho 68, este soldado ao limpar a sua arma em virtude de ir entrar de serviço, disparou involuntariamente um tiro que o atingiu mortalmente;


- Que o certificado de óbito revela como causa da morte “ferimento perfurante na caixa torácica”;


-  Que segundo se investigou não há indícios de se ter suicidado;


-  Que está demonstrado o nexo desastre-serviço;


 O Processo foi organizado nos termos da Determinação 6ª da O.E. nº 8 – 1ª Série – 1965;


 Em face do exposto é parecer desta Repartição:


a) que o desastre deve ser considerado em serviço; 


b) dado que para o sinistrado adveio a morte, deve o processo, depois de despachado nos termos da Determinação 3º da O.E. nº 6 – 1ª Série 1966, ser enviado à RSP/DSP/ME-


Quartel General em Bissau 10 de dezembro de 1968; O Chefe da 1ª Repartição; Carlos Beirão, ten cor inf c/ CGEM.


DESPACHO: "Sou de parecer que deve ser considerado ocorrido por motivo de serviço o desastre sofrido por este militar e que motivou a sua morte, em 23 julho 68. O Comandante Militar”.

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Nota do editor LG:


Último poste da série > 9 de julho de 2025 > Guiné 61/74 - P26998: Seis jovens lourinhanenses mortos no CTIG (Jaime Silva / Luís Graça) (2): José Henriques Mateus (1944-1966), sold at inf, CCAV 1484 (Catió, 1964/1966) - II (e última) Parte: testemunhos de camaradas

Guiné 61/74 - P27031: Parabéns a você (2397): Francisco Baptista, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2616/BCAÇ 2892 e CART 2732 (Bula e Mansabá, 1970/72)

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Nota do editor

Último post da série de 17 de julho de 2025 > Guiné 61/74 - P27024: Parabéns a você (2396): Jaime Bonifácio Marques da Silva, ex-Alf Mil Paraquedista da 1.ª CCP/BCP 21 (Angola, 1970/72)

sexta-feira, 18 de julho de 2025

Guiné 61/74 - P27030: Notas de leitura (1820): Para melhor entender o início da presença portuguesa na Senegâmbia (século XV) - 3 (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 3 de Julho de 2025:

Queridos amigos,
Ciente que a investigação historiográfica carecia de bases científicas, Vitorino Magalhães Godinho irá definir que a heurística e a hermenêutica precisam de fontes, para pôr termo à história feita de alusões miraculosas ou de referência a documentos que ninguém põe em cima da mesa. Estas propostas de rigor já tinham sido avançadas por Alexandre Herculano, já estava denunciado a revelação de Cristo a D. Afonso Henriques na Batalha de Ourique, a existência das cortes de Lamego, a multiplicidade de disparates da historiografia de Alcobaça. E para mostrar o que é trabalhar com fontes, levou Magalhães Godinho a enunciar documentação e a fazer comentários dizendo que era verdadeiro e falso. Décadas depois deste levantamento documental, o historiador deixa bem claro quais foram as molas reais do empreendimento de todas as estas navegações, e por ordem de grandeza, e não é de estranhar que os corifeus ideológicos do Estado Novo o detestassem, procurando mesmo silenciá-lo, ou ignorando-o. A verdade histórica veio ao de cima.

Um abraço do
Mário



Para melhor entender o início da presença portuguesa na Senegâmbia (século XV) – 3

Mário Beja Santos

Não é demais enfatizar que foi Vitorino Magalhães Godinho quem introduziu novos rumos científicos para a investigação histórica. Nesta obra intitulada "Documentos sobre a Expansão Portuguesa", o historiados dirá claramente quais são as fontes para o estudo da história da expansão nos séculos XIV a XVII, estas constam de fontes narrativas (crónicas e relações), fontes diplomáticas (diplomas régios, diplomas emanados de entidades com direitos senhoriais, bulas pontifícias), documentos diversos (vão desde instruções e correspondência oficiais a documentos particulares), obras técnicas (roteiros, regimentos náuticos e tratados cosmográficos e náuticos) e fontes cartográficas. Fará um desenvolvido comentário quanto à especificidade destas fontes e, em jeito de conclusão dirá algo que continua a ser importante reter:
“Os descobrimentos e a colonização são um vasto movimento social e cultural que suscita problemas históricos bem mais complexos do que a simples data de uma viagem, prioridade de uma descoberta, virtudes de um dirigente. Tem de ser focado da perspetiva universal, como obra de cooperação e concorrência, na multiplicidade das suas diretrizes, na diversidade das necessidades económicas e tendências ideológicas. A náutica dos séculos XV e XVI construiu-se sobre a navegação mediterrânea, a agulha, as cartas de marear, sobre os instrumentos e teorias que vinham dos gregos, sobre as tábuas elaboradas por judeus, sobre as aquisições de técnica naval, como por exemplo o leme, sobre a perícia no mar de genoveses e catalães. Esta amalgama foi utilizada segundo as necessidades sociais e as sugestões ideológicas de Portugal e da Europa, em ação e reação com a realidade dos outros continentes. É a fase do desabrochar do capitalismo comercial em conexão com as transformações do senhorio fundiário, e ambos integrados na estruturação de um Estado que nascera da economia urbana, mas ultrapassara a cidade como núcleo político.”

Os documentos recolhidos pelo historiador prendem-se com navegações do século XIV, a conquista Ceuta, a Relação de Diogo Gomes, a análise da atividade do Infante D. Henrique, o povoamento das ilhas da Madeira e Porto Santo, a questão político-diplomática posta pelas Canárias, o povoamento dos Açores, a navegação entre o Cabo Não até à Pedra da Galé. Tome-se agora em consideração as referências que Duarte Pacheco faz no capítulo XXII do Esmeraldo à obra do Infante D. Henrique:
“A razão não sofre que nós calemos aquelas coisas as quais, por serem verdade, o coração deseja dizer, como o virtuoso Infante D. Henrique sendo com El-Rei seu pai na tomada da grande cidade de Ceuta que por bravo combate contra os Mouros pela Porta de Almina foi a entrada, o Infante exercitou ali tão esforçadamente a fortaleza do seu coração; no qual lugar mereceu o excelente grau do estado militar que lhe então foi dado, que por tais feitos aos esforçados barões por obrigação é devido; e passados alguns anos depois de Ceuta ser tomada e El-Rei seu pai finado, ele fez no Cabo de São Vicente que por outro nome antigamente Sacro Promontório se chamava, a sua vila de Terça Naval situada sobre angra de Sagres, que hoje em dia ali está fundada; onde se apartou com sua casa das fadigas e maldades deste mundo e viveu sempre tão virtuosa e castamente; e com outras virtuosas obras, sendo então governador do mestrado de Cristo desses Reinos, sua vida ali passou em tal extremo de bondade.

Outras muitas coisas podemos dizer deste príncipe; somente é para escrever a causa que moveu a descobrir estas Etiópias de Guiné, de que principalmente tratamos; e como quer que os virtuosos barões amigos de Deus e de limpo coração, inimigos da cobiça, nunca são desamparados da graça do Espírito Santo, jazendo o Infante uma noite em sua cama lhe veio a revelação como faria muito serviço a Nosso Senhor descobrir as ditas Etiópias; na qual região se acharia tanta multidão de novos povos e homens negros, quanta do tempo deste descobrimento até agora temos sabido e praticado; cuja cor e feição e modo de viver alguém poderia querer, senão os houvesse visto; e que destas gentes muita parte delas haviam de ser salvas pelo sacramento do santo batismo, sendo-lhe mais dito que nestas terras se acharia tanto oiro como outras tão ricas mercadorias, com que bem e abastadamente se manteriam os Reis e povos destes Reinos de Portugal, e se poderia fazer guerra aos infiéis inimigos da nossa santa fé católica.

Bem-aventurado é o Infante D. Henrique e bem-aventurados são os Reis de Portugal que suas vezes sucederam. A qual navegação começou o Infante por serviço de Deus pelo Cabo Não para diante; e tanto que a estes Reinos foram trazidos os primeiros negros e por eles sabida a verdade da Santa Revelação, logo o Infante escreveu a todos os Reis cristãos que o ajudassem a este descobrimento e conquista por serviço de Nosso Senhor; pelo qual o Infante mandou ao Santo Padre, o Papa Eugénio IV, Fernão Lopes de Azevedo fidalgo da sua casa e do Conselho de El-Rei D. Afonso V, Comendador Mor da Ordem de Cristo; e assim como por Deus foi revelado e mostrado ao virtuoso Infante este maravilhoso mistério escondido a todas as outras gerações da Cristandade, assim quis que por mão do seu vigário, e assim por outros Padres Santos com suas bênçãos e letras a conquista e comércio destas regiões até ao fim de toda a India lhe fossem dadas e outorgadas; e com este fundamento deu princípio à obra, deixando este virtuoso Príncipe para sempre a dizima de todos os frutos e novidades que em cada um ano rendessem as ilhas da Madeira e dos Açores e de Santiago, e vintena de tudo o que se em Guiné resgatasse e a estes Reinos trouxesse ao dito mestrado de Cristo em satisfação e pagamento de algumas rendas que do dito mestrado houvessem, sendo ele governador, que no descobrimento destas terras e ilhas despendeu.”


Vitorino Magalhães Godinho ao comentar este texto distingue as razões apresentadas por Duarte Pacheco das de Zurara quanto às motivações do Infante para se lançar neste empreendimento das navegações. Recorda que não corresponde à verdade histórica a referência do apelo feito pelo Infante aos outros Príncipes Cristãos e promessa de partilha de vantagens. É verdade que a Ordem de Cristo recebeu a vintena dos extratos da Guiné; e deve-se reter que segundo Duarte Pacheco o termo inicial dos descobrimentos foi o Cabo Não.

Vitorino Magalhães Godinho (1918-2011)

(continua)
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Notas do editor:

Vd. post de 11 de julho de 2025 > Guiné 61/74 - P27003: Notas de leitura (1818): Para melhor entender o início da presença portuguesa na Senegâmbia (século XV) – 2 (Mário Beja Santos)

Último post da série de 14 de julho de 2025 > Guiné 61/74 - P27016: Notas de leitura (1819): "Guiné Destino Imposto", por Rui Sérgio; 5livros.pt, 2020 (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P27029: E as nossas palmas vão para... (27): Rosa Serra, ex-tenente graduada enfermeira paraquedista (Guiné, Angola e Moçambique, 1969/73), homenageada na sua terra natal, Famalicão, no passado dia 9 de julho de 2025







Vila Nova de Famalicão > 9 de Julho de 2025 > "40 anos de Cidade" > Sessão solene evocativa do 40º aniversário do Dia da Cidade > Atribuição da medalha de mérito municipal a uma série de munícipes e instiutuições famalicenses, incluinso a nossa grã-tabanqueira Rosa Serra. 

Fotos da págima do facebook do Município de Famalicão, com a devida vénia. (Seleção e edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné 


1. Reprodução do discurso de agradecimento da Rosa Serra, ex-tenente ghraduada enfermeira paraquedista (Guiné, Angola e Moçambique, 1969/73):

Famalicão 9 de julho de 2025

Boa a tarde a todos os presentes nesta cerimónia.

Permitam-me, primeiro, que comece por me dirigir ao Senhor presidente da Câmara, Professor Doutor Mário de Sousa Passos, para, na sua pessoa, agradecer ao município de Famalicão o facto de me incluir no grupo de munícipes, homenageados, hoje.

A todos vós o meu muito obrigado por reconhecerem que a minha participação, como enfermeira paraquedista na Guiné, Angola e Moçambique, durante a Guerra Colonial, entre 1969 e 1973, merece, 52 anos depois, a estima das gentes da minha terra.

Minhas senhoras e meus senhores, gostaria de enquadrar este meu muito breve percurso de vida no qual “prestei cuidados de saúde em zonas de combate", dirigindo-me às gerações, aqui presentes, nascidas após a Revolução de 25 de abril que instaurou a democracia em Portugal e colocou fim à Guerra Colonial.

Nasci na Vila de Ribeirão. Os meus pais criaram seis filhos e, apesar das dificuldades, tiveram a coragem de me pôr a estudar num tempo em que o destino das raparigas, após terminarem a escola primária, era o campo ou a fábrica, casarem e ter filhos. Eu tive a sorte de frequentar, primeiro, o Externato Camilo Castelo e, depois, prosseguir os estudos no Porto, com a ajuda de familiares de meus pais e frequentar o Curso de Enfermagem que terminei no Hospital de Santo António no Porto.

A minha entrada nas Tropas Paraquedista dá-se no final do Curso de Enfermagem, numa altura em que a Força Aérea estava a recrutar voluntárias para frequentarem o Curso de Enfermeiras Paraquedistas. Nunca me passou pela cabeça oferecer-me, mas a minha amiga e colega enfermeira Rosa Mota desafiou-me e, apesar de lhe dizer que não estava interessada, tanto mais que não me estava a ver a saltar da porta de um avião em pleno voo e ficar suspensa no ar num paraquedas.

No entanto, sem me dizer nada e à minha revelia, a minha amiga Rosa Mota inscreveu-me para prestar provas em Tancos, no Regimento de Caçadores Paraquedistas. Lá fomos as duas, fizemos as provas, em tudo igual às dos homens, e ficámos apuradas.

A partir dessa data, fiquei a pertencer, para sempre, ao grupo daquelas 46 jovens enfermeiras Paraquedistas, formadas entre 1961 e 1974.

Durante este nosso percurso ao serviço das Forças Armadas Portuguesas e das populações civis, lembro a morte trágica da enfermeira furriel graduada Maria Celeste Costa, na Guiné, ao ser atingida pela hélice de um avião DO 27 quando se preparava para embarcar para uma evacuação na zona de combate e a sargento graduada Maria Cristina Silva, ferida por tiro inimigo na região de Mueda, em missão de evacuação de feridos em combate.

Este, foi o grupo das primeiras mulheres em Portugal a entrar em quartéis, com postos militares e grau de dificuldade na instrução do Curso de Paraquedismo iguais à dos homens.

Quando terminei o Curso de Paraquedismo fui mobilizada para a Guiné em 1969. Seguiu-se Angola em 1970 e cumpri a última comissão e serviço no Norte de Moçambique, em Mueda, entre 1972 e 73.

Esta foi, seguramente, a zona operacional mais difícil onde tive de exercer a minha atividade como enfermeira. As duas enfermeiras, aí destacadas, para além do apoio às Forças Armadas portuguesas, socorriam, também, a população civil africana que apareciam na enfermaria improvisada, dentro do arame farpado do nosso quartel, para serem tratadas, incluindo, sabíamos nós, alguns elementos da FRELIMO doentes e, que, obviamente, sem serem identificados, eram tratados com a mesma dignidade de outro ser humano. Nós sabíamos que eram, mas nunca os denunciámos à PIDE.

Para terminar, amigas e amigos aqui presentes, e sobre a crueza daquela Guerra, permitam-me que vos leia o que escrevi em 2016 quando fui convidada pela Câmara Municipal de Fafe a dar o meu testemunho no âmbito do evento solidário “Terra Justa”, durante o qual se homenageou o corpo das Enfermeiras Paraquedistas pelo seu contributo humano e solidário prestado durante a Guerra Colonial.

Disse, então:

“Em Mueda existia uma placa que dizia: “Bem vindos a Mueda, Terra da Guerra. Aqui trabalha-se, Luta-se e Morre-se.”

E era bem verdade, morriam muitos! Eu, muitas vezes, olhava para as Companhias do Exército formadas antes das viaturas reiniciarem a progressão pela picada rumo ao objetivo da operação de combate, olhava para as caras daqueles jovens, alguns, ainda, com cara de meninos, e dava comigo a pensar: Daqui a pouco alguém me chamará para embarcar no Helicóptero para socorrer alguns destes jovens em consequência das emboscadas ou rebentamentos de minas.

Era quase sempre assim. Algumas vezes acontecia que, uma vez chegado ao local do combate ou do rebentamento de minas, já nada havia a fazer. Alturas houve em que me entregaram o corpo desfeito em pedaços embrulhado na capa impermeável!

Tudo irreconhecível. Horrível! Só quem viu!...

Finalizo: eu e as minhas camaradas enfermeiras sempre nos assumimos como gente que viveu a dor dos outros, gente igual a tanta gente. Gente que tratou gente,

Muito obrigado
Rosa Serra
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Guiné 61/74 - P27028: Memórias da tropa e da guerra (Joaquim Caldeira, ex-fur mil at inf, CCAÇ 2314 / BCAÇ 2834, Tite e Fulacunda, 1968/69) (5): Consagração de um grande homem e combatente, o João Gualberto Amaral Leite (1944-2011)




Da esquerda para a direita, Fernando Almeida, Narciso Durão, João Leite e Anselmo Adrião, ex-furrieis da CCaç. 2314. Foto: cortesia de Blogue BART 1914 > 9 de fevereiro de 2011 (Legendagem: Joaquim Caldeira)


Joaquim Caldeira, ex-fur mil at inf, CCACÇ 2314, "Brutos", TIte e Fulacunda, 19689/609; nosso grão-tabanqueiro nº 905; 
vive em Coimbra; autor do livro, "Guiné - Memórias da Guerra Colonial", publicado pela Amazona espanhola (2021)


Fotos (e legendas: © Joaquim Caldeira (2025). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guine]



Consagração de um grande homem e combatente: o João Gualberto Amaral Leite
 
por Joaquim Caldeira (*)


Estávamos nos finais de 1967 e, à entrada  do quartel de Tomar, cruzei-me com o João que trazia um braço ao peito e vinha abatido. Mal nos conhecíamos e não nos víamos desde os tempos da recruta, muitos meses antes. Nem sabia o seu nome tal como ele não saberia o meu. Satisfez a minha curiosidade dizendo que se chamava João Leite e que tinha tido um acidente…

Despedimo-nos nesse dia e só voltámos a rever-nos no seguinte, na caserna que nos foi destinada. Ficámos a saber que o nosso destino era comum. Íamos formar companhia para depois seguirmos para o ultramar, mas nem sabíamos ainda para onde.

Não sabíamos que os dois anos seguintes iriam ser muito cheios de emoções fortes, perigos, mas também de solidariedade só possível de construir nos momentos mais difíceis e de grande perigo.

E vim a conhecer melhor o Leite e toda a equipa com quem fizemos grandes amizades.

Passarei a designá-lo por Leite, pois era o nome que usávamos por lá e mais tarde, já no fim da guerra, quando nos encontrávamos por ocasião dos convívios.

Afinal, era um homem diferente do que conheci à entrada do quartel, em Tomar. Era folgazão, brincalhão, sempre de boa disposição e muito bem humorado.

Cedo demos conta de que se tratava de homem determinado, sabia o que queria, como queria e quando queria.

Quis o destino que tivéssemos de viver o desastre de Bissássema onde ele, mesmo na linha da frente por onde o IN pretendia repetir o assalto, tal como fizera uns dias antes e se apoderara de armamento, equipamento e prisioneiros, soube infligir a maior derrota sofrida pelo IN durante toda a guerra que travou com o Exército português. Esta batalha nem consta da história de guerra do PAIGC.

Outros desastres aconteceram nas nossas vidas e, em todos, o Leite teve participação com vantagens para o nosso lado.

Desgostoso com o conformismo que reinava na companhia, decidiu formar o seu próprio grupo indo buscar os melhores de entre os melhores. E assim nasceu o grupo “Os Brutos ”. E fizeram história deixando um rasto de medo nos grupos do IN.

Estavam sempre na linha da frente. Tive o privilégio de os comandar nas ausências do Leite. Eram o escol da companhia. E ajudaram o seu comandante, o Leite, na conquista de uma condecoração justa e merecida, só atribuída aos bons. Uma “Cruz de Guerra” (**).

Mas nem sempre foi fácil a vida do grupo. Tiveram as suas horas más. Entre outras, talvez a pior, o acidente do Viriato Lopes.

E assim se passaram dois anos de uma convivência fraterna, só possível em teatros de guerra. Fizemos amizades para a vida. Ficaram as saudades dos amigos e de algumas, muitas vivências.

Só voltei a ver o Leite passados alguns anos, por ocasião dos convívios a que ele não queria faltar, mesmo vindo de tão longe.

Por fim, soube da sua doença. Fui dar-lhe o meu abraço numa das suas vindas a Lisboa para tratamentos. A doença venceu o homem. Mas não venceu o marido, o pai, o profissional bem realizado, o amigo e o camarada de quem todos sentimos saudades.

O Leite ainda vive em nós. Até sempre, companheiro.


(Revisão / fixação de texto: LG)


PS - O João Gualberto Amaral Leite nasceu em São Miguel, Açores, em 13/07/1944, e faleceu em 16/02/2011. Era bancário.

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Notas do editor:


(*) Último poste da série > 10 de julho de 2025 > Guiné 61/74 - P27001: Memórias da tropa e da guerra (Joaquim Caldeira, ex-fur mil at inf, CCAÇ 2314 / BCAÇ 2834, Tite e Fulacunda, 1968/69) (4): A carta de condução, tirada na Escola de Condução Angélica da Conceição Racha


(**) Furriel Miliciano de Infantaria JOÃO GUALBERTO AMARAL LEITE, CCaç 2314/BCaç 2834 - RI 15, GUINÉ - Cruz de Guerra, 4." CLASSE



Cruz de Guerra de 4ª Classe. Imagem:
cortesia do Portal UTW - Dos Veteranos da
Guerra do Ultramar


Transcrição da Portaria publicada na OE nº 15 - 3ª série, de 1970.

Por Portaria de 15 de Abril de 1970:

Manda o Governo da República Portuguesa, pelo Ministro do Exército, condecorar com a Cruz de Guerra de 4ª classe, ao abrigo dos artigos 9.° e 10.° do Regulamento da Medalha Militar, de 28 de Maio de 1946, por serviços prestados em acções de combate na Província da Guiné Portuguesa, o
Furriel Miliciano de Infantaria, João Gualberto Amaral Leite, da Companhia de Caçadores 2314/Batalhão de Caçadores nº 2834 - Regimento de Infantaria nº 15.

Transcrição do louvor que originou a condecoração.
(Por Portaria da mesma data, publicada naquela OE):

Manda o Governo da República Portuguesa, pelo Ministro do Exército, louvar o Furriel Miliciano de Infantaria, João Gualberto Amaral Leite, da Companhia de Caçadores nº 2314, do Batalhão de Caçadores nº 2834 - Regimento de Infantaria n.º 15, pelo modo brilhante e abnegado como se desempenhou de todas as missões de que foi incumbido durante a sua comissão de serviço na Província da Guiné.

Criando um Grupo de Combate tipo Comandos, "Os Brutos", soube logo de início imprimir-lhe notável eficiência para o combate, incutindo nos seus homens o espírito aguerrido e audaz de que ele próprio é' possuidor.

Realizando dezenas de emboscadas, participou em numerosas acções, onde a actuação do seu Grupo de Combate foi bastante influente nos resultados obtidos.

Num ataque sofrido por um dos nossos aquartelamentos, em 24 de Dezembro de 1968, apesar do intenso fogo, deslocou-se para um dos abrigos periféricos mais próximos das posições inimigas, onde dirigiu eficientemente o fogo do pessoal que o guarnecia, tendo ele próprio efectuado o lançamento de dilagramas, de posições a descoberto.

Já antes, em 09 de Fevereiro de 1968, numa acção semelhante, manteve a sua posição num abrigo que guarnecia, apesar de na altura dispor de poucas munições, contribuindo para o aniquilamento de quinze elementos inimigos e para a captura de diverso armamento e outro material.

Numa operação em 26/29 de Maio de 1969, soube conduzir o pessoal do seu Grupo de forma assinalável, no assalto a um acampamento inimigo, debaixo de intenso fogo e na perseguição imediata ao inimigo, até este dispersar.

Militar dotado de elevadas virtudes militares e invulgar capacidade para o comando do seu Grupo, tendo resultado dos seus serviços honra e lustre para a Pátria e para o Exército a que pertence, merece o Furriel Leite que aqueles sejam considerados extraordinários e importantes.

 
 Excertos de Portugal. Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961-1974 [CECA] - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974). 5.° volume: Condecorações Militares Atribuídas, Tomo VI: Cruz de Guerra (1970-1971). Lisboa, 1994, pág. 202/203.

quinta-feira, 17 de julho de 2025

Guiné 61/74 - P27027: Manuscrito(s) (Luís Graça) (270): Salve, Jaime, ao km 79 da tua picada da vida!

1. O meu concidadão, conterrâneo, vizinho, colega, companheiro, camarada, grão -tabanqueiro, amigo e  'mano',  Jaime Bonifácio Marques da Silva, faz hoje 79 anos.  E vou comer umas sardinhas grelhadas com ele, e outros amigos tabanqueiros como o Pinto Carvalho (somos todos membros da Tabanca do Atira-te ao Mar... e Não Tenhas Medo). Faz cá falta o João Crisóstomo, o régulo da Tabanca da Diáspora Lusófona...  Que preza a nossa amizade e adora as nossas sardinhas.

Respiguei uns tantos tópicos da  vida do Jaime,  já longa, mas também sofrida... Vou-lhe oferecer como prenda de anos, a "Arte de Amar", de Ovídio (edição bilingue, português e latim com tradução, introdução e anotações de Carlos Ascenso André; Lisboa, Quetzal Editores, 2023, 221 pp.). 



Cortesia de Quetzal
Em  honra do Jaime (e também do grande poeta romano Ovídio, séc. I a.C.), e mostrando-o como exemplo da arte e engenho  não só de amar e ser amado como de promover o envelhecimento saudável e ativo, pedi a vários assistentes de IA que me fizessem  uns versinhos de parabéns, a ele Jaime, à moda do romano Públio Ovídio Nasão, em dístico elegíaco. Em português e depois em latim.  (Uma brincadeira, já que não tive tempo para mais.)

As versões, em português e em latim, foram revistas e fixadas por mim, em curto espaço de tempo , e  tanto quanto me permite o meu já muito esquecido e agora limitado domínio do latim clássico. (Já lá vai o tempo em que eu lia com fluência, e o Jaime também, os clássicos romanos, do Cícero ao Virgílio!).

Jaime Bonifácio Marques da Silva

(i) Nasceu no Seixal, Lourinhã, Portugal, na margem direita do Rio Grande que no tempo do poeta Ovídio, século I a.C., foi navegado pelas naus romanas... E em 711 era conquistada pelos mouros, novos senhores da Península Ibérica... Quatro séculos depois, em 1147, o primeiro rei português, Afonso Henriques, na sua marcha para Lisboa, conquista aquelas terras, donde se avista o "Mare Nostrum" de quinhentos, o Atlântico. A Lourinhã foi entregue aos cavaleiros francos, feros cruzados, cristãos. 

(ii)  Nasceu numa família de gente honesta e trabalhadora, tem ainda 3 irmãs vivas, que o adoram, sendo ele o mais velho. O pai trabalhou as terras dos senhores, a fértil várzea do Seixal e Areia Branca, até conseguir, por fim, montar o seu próprio negócio, como comerciante de frutas e legumes no mercado  da vila da Lourinhã. 

(iii)  Teve uma infância dura, uns vizinhos, ricos e com terras mas sem filhos, quiseram em vão adotá-lo. Era um menino pobre, lindo, de olho azul... Triunfou o amor dos pais e dos irmãos. 

(iv) Feita a escola primária, e sendo um miúdo inteligente, cursou o seminário, na esperança de vir a ser padre. Deus chamou-o mas o não ungiu, como um dos seus eleitos.

(v)  Fez a tropa e a depois a guerra colonial, em Angola, onde comandou um bravo grupo de paraquedistas (1ª CCP / BCP 21, Angola, 1970/72). Foi forte e leal. Mas sempre atento aos seus valores humanos, portugueses e cristãos: na guerra não valia tudo.  Tem a cruz de guerra de 3a. classe.

(vi)  Ainda em Angola,  antes da independência, começou a tirar o curso de educação física. Foi professor nesta área, e durante 40 anos viveu e trabalhou  em Fafe, no Norte de Portugal. Para lá foi levado pela paixão pela Dina, que lhe deu dois filhos, o Pedro e a Sofia. Tem muito orgulho neles, que se doutoraram e são hoje professores. 

(vii)  Tem também muito orgulho no seu trabalho, como autarca, no município de Fafe onde foi vereador, em três mandatos, dos pelouros do desporto e da cultura (1986/97). Fala com um brilho nos olhos do seu legado em Fafe: sendo ele "mouro", português do Sul, levou a gente nobre, minhota,  do Norte,  a gostar tanto da música sinfónica tanto como do andebol feminino... 

(viii)  Foi um cuidador excecional da sua Dina, atingida pela terrível doença do Alzhemeir, e já falecida (Fafe, 1946-Lourinhã, 2022). Nunca se deixou abater pelo desânimo, a desesperança, a solidão, minas e armadilhas da sua picada da vida,  ou as suas próprias mazelas... 

(ix)  Cultiva a amizade como poucos e mais recentemente, há uns anos, deixou-se atingir novamente pela seta de Cúpido. O seu coração foi ganho por uma temível feminista e socióloga da Lixa, Felgueiras. Uma mulher culta, inteligente, lutadora e de coração ardente. A doutora Laura, amiga da Alice Carneiro e do padre Mário da Lixa. 

(x) E, com todo o mérito, arte e engenho, o Jaime tem sabido manter e conservar não só a sua saúde física e mental, bem como os seus amores (pela Laura, pelos filhos Pedro e Sofia, pelas manas, Natália, Esmeralda e Maria João, pelos amigos...).

(xi) Gosta de música, toca cavaquinho. Escreveu recentemente, em 2025, o livro "Não esquecemos os jovens militares do concelho da Lourinhã mortos na guerra colonial"

2. Resposta dos assistentes de IA ao meu desafio. Interessante como a IA pega nas diferentes facetas da biografia do Jaime e quase instantaneamente (mais depressa que o diabo a esfregar um olho)  faz um poema em dístico elegíaco, conforme lhe foi pedido... E nunca sai igual. E tem, a IA,  a "humildade" de por enquanto  aceitar as sugestões e correções dos humanos... (Seleção, revisão / fixação de texto: LG)

Perplexity ia

Eis os versos em honra do teu amigo Jaime Bonifácio Marques da Silva, primeiro em português e depois em latim, à maneira dos dísticos elegíacos de Ovídio:

Em Português:

Ó Jaime, que o Tempo não doma, menino do Seixal, herói de Angola,
tua vida é poema que se entrelaça: guerra, amor, dever, voz que não cala!

Da Lourinhã a Fafe, foste luz, levando a música aos rudes corações;
e até no luto, firme como a cruz, guardaste a graça em todas as estações.

Agora, aos setenta e nove anos (mais sábio que um romano, mais audaz),
mostras que o amor, em seus verdes anos, vence a velhice e o viço do rapaz.


In Latinum Versum (Dactylico Elegiaco):

O Iacome, quem Numen nihil domat, puer Seixalensis, heros Angoli,
Vita tua carmen est, quod contexit arma, amor, officiumque voxque silentis.

A Laurinhâ Fafemque tulisti lux, ferens musicam duris cordibus;
Et quoque in luctus stans pede certa crux, gratia servasti omni tempore.

Iam septuagenus et novem annos tuos, praeclari prudentior Romanis, audax,
Ostendis amorem viridi praesente aetate vincere senemque iuvenemque.

____

Notas da IA;

(i) Forma e métrica geral: o dístico elegíaco é composto por um verso hexâmetro seguido por um verso pentâmetro. Tentei respeitar esse ritmo clássico para que o poema soe realmente como um epigrama ou elegia de Ovídio;

(ii) Primeiro dístico: “O Iacome, quem Numen nihil domat, puer Seixalensis, heros Angoli"...

  • “O Iacome” (forma latina de Jaime);
  • "Numen” (uma força divina ou o espírito do tempo, uma palavra-poética para o tempo);
  • “quem Numen nihil domat” (quem o poder divino não subjuga);
  • “puer Seixalensis” (menino do Seixal, adjetivo derivado do nome), etc.

Gemini IA

Parabéns para o Jaime, à Maneira de Ovídio

Setenta e nove anos celebra o valoroso Jaime,
Nascido onde o Rio Grande outrora as naves romanas viu.
Do Seixal, terra fértil, onde o Atlântico se espraia,
Um homem de virtude, cujo espírito floresceu.

Em tenra idade, o trabalho e a honra o guiaram,
Dos pais, que o amaram, o pobre menino se fez forte.
Do seminário à guerra, onde a lealdade brilhou,
Comandou bravos, em Angola, mas a humanidade foi seu norte.

Em Fafe, o amor da Dina e filhos, Pedro e Sofia,
Na educação, um mestre, em quarenta anos de paixão.
Como autarca, a cultura e o desporto enriqueceu,
Unindo Norte e Sul, num só coração.

Na dor, cuidador fiel, sem se render ao desespero,
Sua Dina viu partir, mas sua alma permaneceu.
A amizade cultiva, e o amor o reencontrou,
Com a Laura, a feminista, seu coração renasceu.

Saúde e amores guarda, com arte e sabedoria,
Pelos filhos, irmãs, e amigos, o carinho infindo.
No cavaquinho a melodia, na escrita a memória,
Jaime, és exemplo de vida, um presente tão lindo!


Em Latim (em Dístico Elegíaco)

Septem et septuaginta annos Jaime noster celebrat fortis,
 Ubi flumen magnum naves Romanas olim vidit. 
Seixal terra fecunda, ubi Oceanus se ostendit, 
Vir virtutis, cuius animus floruit per saecla.

In teneris annis, labor et honor eum duxerunt, 
Parentes dilexerunt, puer pauper factus est fortis. 
A seminario ad bellum, ubi fides resplenduit, 
Ducens audaces, sed humanitas eius finis fuit.

Fafe in urbe, amor Dinae, filiorumque, Petri et Sophiae, 
In doctrinis magister, quadraginta annis cum amore. 
Ut magistratus, culturam et ludum auxit, 
Septentrionem et Meridiem univit, in uno corde.

In dolore, custos fidelis, spe non victus tristis,
Dina decessit, sed anima eius mansit integra. 
Amicitiam colit, et amor eum invenit rursus, 
Cum Laura, feminista, cor eius rediit iuvenile.

Salutem et amores servat, arte et sapientia mira, 
Filiis, sororibus, amicis, amor est infinitus.
 In cavaquinho melos, scriptis memoria vivit, 
Iacobe, vitae exemplum es, donum tam pulchrum!

Chatpgt

Parabéns elegíacos para o  Jaime (em português)

Jaime, que o tempo honra, com passos de herói persistente,
Setenta e nove outonos, vividos com alma ardente.

Da margem do Rio Grande, nasceu sob o céu lusitano,
De olhos de céu azul, menino pobre mas soberano.

Não foi o ouro que o moldou, mas o amor fiel dos pais,
Rejeitou adoções ricas, escolheu raízes reais.

No seminário sonhou com Deus, mas o destino era outro,
Na guerra foi justo e firme, com coração resoluto.

Em Angola, e depois em Fafe, ensinou corpos e almas,
Com saber e com paixão, promoveu saberes e palmas.

Do andebol ao concerto, o “mouro” domou o Norte,
Fez da Cultura um brasão, do Desporto, força e sorte.

Cuidou a sua Dina, com devoção e ternura,
E o Amor, como o vinho velho, voltou com nova doçura.

Hoje é pai, avô, amigo, guardião de um tempo digno,
E mostra como se vive com sentido e com ritmo.


 Salve, Jaime (em latim)

Iamus, quem decorat tempus, gressibus heros,
Septuaginta novem vitae complevit amoros.

Ex ripa fluminis magni natus sub caelo Lusitano,
Caeruleis oculis, pauper puer, sed urbano.

Non aurum formavit eum, sed amor parens fidelis,
Divites sprevit adoptantes, amplexus est originis melis.

In seminario deum quaesivit, sed fata vetabant,
In bello justus et firmus fuit, cor non vacillabat.

In Angola docuit, postea Favae manebat,
Corpora mensque regebat, scientia palmas dabant.

A ludo ad musicam, Maurus domuit Aquilonem,
Cultus signum fecit, ludum fortem coronem.

Dinam curavit amore, dulcedine plena fide,
Et amor rediit, ut vinum vetus, dulci ridente ride.

Nunc pater, avus, amicus, temporis custos honesti,
Et monstrat vivere sensu plenoque motu festi


Em português (à maneira de Ovídio):

Jaime, flor de virtude e vigor, na serena alvorada dos anos,
Tece com mãos firmes a trama do tempo: justo e fiel.

Filho da várzea pura, onde o vento romano passou,
Sul e Norte unindo, em teu peito há um fado imortal.

Nem guerra nem dor dobraram teu estofo de ferro e ternura,
Com alma cristã, encheste o mundo de luz sem igual.

A Dina, teu porto, amaste até à mais doce saudade,
E depois a Laura, chama viva, amante e igual.

Ergues os dias com riso, cavaquinho e memória,
Do passado fazes honra, teu ideal é real.

Aos filhos das tuas entranhas deixaste um legado de estrelas,
E a Fafe do teu labor canta-te em hino triunfal.

Hoje, ao sopro do tempo, brindamos à tua jornada,
Jaime, que sejas eterno, como o amor sem final.


 Em latim (meticulosa adaptação ao estilo elegíaco):

Iámius, exemplo virum, sub lucida tempora vitae,
Dextra tenet vitam, iustus et aequus homo.

Natus in ubertate, Seixale, ubi flamina Romae,
Cordis in ore canis,  lusus et arma tenens.

Nec bellum fractum, nec dolor flexere viriles,
Sed pietate valens, lumen in orbe tulit.

Dinam amavisti, dulcem usque ad limina somni,
Et Lauran postea, fortis amore pari.

Cantibus et risu surgis cum luce diei,
Praeteritae memorem, vivis et arte fide.

Filiis et Fafae lucem reliquisti perennem,
Te celebrant vates, gloria longa manet.

Nunc, inter annos, carmina tibi damus alma,
Iámi, vive diu,  amor aeternus erit!

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Notas da IA sobre a composição:

O dístico elegíaco é composto por um hexâmetro seguido de um pentâmetro, utilizado pelos romanos sobretudo na poesia amorosa (elegia), mas também em epigramas laudatórios.

Busquei conservar o ritmo, a imagética, e sobretudo o tom celebratório e inesquecível que Ovídio poderia usar para um herói moderno como o Jaime.

Parabéns ao Jaime! Que continue a ser uma inspiração e que a sua vida seja celebrada como um verdadeiro clássico da humanidade!


Dísticos Elegíacos – Ao Jaime, aos 79 anos

Nas margens do Rio Grande  nasceu o Jaime, de olho azul,
Homem de honra e memória, firme como rochedo ao sul.

Na infância pobre e bela, recusou adoção dourada,
Preferiu o lar humilde, a alma pela fé guardada.

Serviu a pátria em Angola, bravo, íntegro, decidido,
Mas foi brando no gesto, jamais o ódio o teria vencido.

Fez-se mestre do corpo, e no Norte deixou marca viva,
Fafe ganhou com cultura, e com desporto em deriva.

Foi amante fiel, cuidador de alma e de dor,
Guardião de memória, um farol contra o temor.

Hoje, aos setenta e nove, Jaime é arte de viver,
Sabe amar, resistir, sem jamais se perder.

Louvor ao homem que canta, que escreve, que não cede,
Que viva cem anos, ou mais, com graça, saúde e sede!

Em Latim:

In Ripa Magna natus est Jaime, oculis caeruleis,
Virtute clarus erat, firmus ut rupes australis.

Pauper et pulcher puer, adoptari noluit umquam,
Parentes, patriamque fovit corde benignum.

In Angola militavit, fortis et mente valens,
Sed lumen humanum secutus, mitis et acer.

Magister motus factus, terras Borealis amavit,
Fafam donavit cultu, lusibus atque docuit.

Fidus amator erat, custos memor atque dolorum,
Firmus in adversis, lux inter nocte malorum.

Septem novem annos nunc Jaime laetus agit,
Amor et virtus illi sunt arma quibus sapit.


Laus tibi, qui cantas, scribis, sperasque serenum,
Vivas centenos annos, plus, si fata sinerent!

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Nota do editor:

Último poste da série: 18 de junho de 2025 > Guiné 61/74 - P26931: Manuscrito(s) (Luís Graça) (269): o azul, o preto e o vermelho, aliás, carmesim

Guiné 61/74 - P27026: Agenda cultural (894): Comemoração do 1.º Aniversário do MASM (Museu Aristides de Sousa Mendes) e dos 140 anos do nascimento de Aristides de Sousa Mendes, a levar a efeito no próximo dia 19 de Julho de 2025, a partir das 17h30, na Casa do Passal - Cabanas de Viriato - Carregal do Sal


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Nota do editor

Último post da série de 16 de julho de 2025 > Guiné 61/74 - P27023: Agenda cultural (893): Lançamento do livro "Aristides de Sousa Mendes - Na Encruzilhada de uma Carreira", de Lina Alves Madeira, a levar a efeito no próximo dia 19 de Julho de 2025, pelas 16 horas, na Biblioteca Pública Municipal João Brandão, Rua Dr. Francisco Beirão, 3 - Tábua. O livro será apresentado pelo Doutor Luís Reis Torgal