Soldado atirador infantaria nº 1135736/67
Naturalidade - Ribamar, Lourinhã
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1. REGISTO DE NASCIMENTO
Albino Cláudio nasceu a 30 de maio de 1946, às 8 horas, no lugar de Ribamar, então freguesia de Lourinhã.
Era filho legítimo de Artur Cláudio, de 38 anos, casado e jornaleiro, e de Jacinta da Conceição, 33 anos, casada, doméstica, ambos naturais da freguesia e concelho da Lourinhã e domiciliados no lugar de Ribamar. Neto paterno de Manuel Cláudio e de Maria da Conceição, ambos falecidos, e materno de Januário Feliciano (falecido) e Luzia de Jesus.
O registo de nascimento foi efetuado pelo pai, às onze horas e quinze minutos, de 13 de junho de 1946, teve como testemunhas Manuel Pereira, casado, moleiro, morador em Pregança, e Mateus Baltazar, solteiro, empregado de comércio e residente na Lourinhã, sendo assinado pelas testemunhas e não assinado pelo declarante por não saber escrever.
A importância dos emolumentos foi de seis escudos e a dos selos devidos pela parte de três escudos. Registo de nascimento n.º 272, efetuado a 13 de junho de 1946 na Conservatória do Registo Civil da Lourinhã.
2. REGISTO MILITAR
Recenseamento: recenseado pelo concelho e freguesia de Lourinhã sob o nº 8 em 1966, solteiro, com a profissão de marítimo, pescador.
Tinha como habilitações literárias o 1º grau (3ª classe) do Ensino Primário Elementar e morava em Santa Bárbara, Ribamar.
Colocação durante o serviço: foi incorporado em 23 de outubro de 1967, como recrutado, no RI 10 (Aveiro) na 1ª Companhia. A 04.12. 67 tomou parte nos exercícios de campo da 8ª semana de Iinstrução Básica (IB) /1º ER/67; 20.12.67 Jurou Bandeira; 23.12.67 termina a IB (Recruta); 02.01.1968 marchou para o BCAÇ 10 (Chaves), sendo aumentado ao efetivo do Batalhão e da 2ª Companhia.
Em 03.02.68 fica Pronto da Especialidade de Atirador.
Unidades onde prestou serviço: RI 10 (Aveiro), 23.10.67. BCAÇ10 (Chaves), 02. 01. 68
2.1. Comissão de serviço no ultramar, Guiné
Mobilizado: em 09. 02. 68 nos termos da alínea e) do artº 3º do Dec. 42937 de 22.04.1960 para servir no ultramar, sendo transferido para a CCAÇ 2368.
Embarque:
em Lisboa a 1 de maio de 1968 com destino ao CTIG, fazendo parte da CCAÇ
2368.
Desembarque: Bissau a 7 de maio 68
desde quando aumenta 100% ao tempo de serviço.
Data do falecimento:
23.07.1968
Causa da morte:
acidente com arma de fogo
Local do acidente: Bissorã.
Abatido ao efetivo: nos termos das NEP/Pessoal – III – I Pág. 9 – F. 4a. Da 1ª Rep/QG/CTIG, é abatido ao efetivo desta Subunidade (CCAÇ 2368), desde 23 julho 1968, por morte de acidente com arma de fogo (OS 2 de 27.07.68), desde quando deixa de contar 100% de aumento do tempo de serviço.
2.2. Registo disciplinar: condecorações e louvores:
Medalha: de segunda classe de
comportamento (Artº 88.º do RDM) é-lhe atribuída em 25 de outubro de 1967.
3. PROCESSO DE AVERIGUAÇÕES AO ACIDENTE: ANOTAÇÕES E CONTEXTO
Participação do acidente: no dia 23 de julho de 1968 o Oficial de Dia, de serviço à CCAÇ 2368, pertencente ao BCAÇ 1915, aquartelado em Bissorã, participa ao seu Comandante de Companhia as circunstâncias do acidente:
- Que “pelas 7.00 horas da manhã
quando me encontrava a assistir à primeira refeição na qualidade de Oficial de
Dia, ouvi uma detonação na caserna e acorri lá imediatamente tendo deparado com
o soldado nº 113573 67, Albino Cláudio, caído à entrada da caserna e com o
sangue a sair abundantemente por uma ferida no peito, o que me levou a chamar
prontamente o médico e alertar o Comandante de Companhia ao mesmo tempo que
providenciava o seu transporte para o Posto de Socorros.
São testemunhas da ocorrência o
soldado nº 11485267, Joaquim da Cunha Moreira e o soldado nº 11699667, Cipriano
Martins da Silva”.
A 24 de julho de 68, o
Comandante do BCAV 1915 ordena que o alf mil António de Matos de Almeida
proceda ao respetivo processo por acidente com arma de fogo.
-A 25.07.68 o alf mil Almeida interroga as duas testemunhas mencionadas que declaram para os autos:
1.ª testemunha, o
1º cabo Atirador Cipriano Martins Silva, casado, de 22 anos de idade, natural
de Oliveira Santa Maria, concelho de Famalicão, após juramento, declarou:
“Que no dia 23.07.68, uns dez minutos antes das 7.00 horas, vira o sinistrado a limpar a arma, pois iria entrar de serviço às sete horas, que não viu o acidente porque foi para o refeitório tomar a primeira refeição, que, quando se deu o tiro, viu o oficial de serviço correr para a caserna e fazer transportar o sinistrado para o posto de socorros, onde foi assistido pelo médico, em vão, pois que acabou por morrer.
O sinistrado tinha dito algumas vezes aos amigos que, logo que passasse
à disponibilidade, se casaria e construiria uma casa com o dinheiro que já tinha
no banco, pelo que pensa que o sinistrado não se tivesse suicidado”.
2.ª testemunha, o
soldado atirador de infantaria, Joaquim Moreira, solteiro, de 21 anos de idade,
natural da freguesia e concelho de Penafiel, após juramento, disse:
“que estava à porta da caserna quando ouviu um tiro dentro da caserna, que, entrando lá dentro, viu o sinistrado caído no chão com a arma ao lado e com muito sangue a sair-lhe do peito, que vira momentos antes o sinistrado a limpar arma.
Disse ainda que pensa que o
sinistrado não se matou propositadamente porque lhe parecia uma pessoa pacata e
sem problemas”.
Certidão de óbito: a
23.07.68 no quartel de Bissorâ, o médico da Companhia confirma que “a causa
principal da morte foi o ferimento perfurante na caixa torácica”.
Espólio: relação de fardamento, calçado e outros haveres, pertencentes ao soldado Albino Cláudio: o comandante de companhia, capitão de infantaria Manuel Joaquim Sampaio Cerveira assina, em 27.07.68, a relação dos haveres elaborada pelo alferes António Matos e pelas testemunhas, furriel mil, António Pimenta Rodrigues e 1º cabo Victor Manuel da Costa.
Entre os diversos pertencentes, consta: “01 fio de prata contendo uma pequena medalha. Por declaração de camarada da praça falecida, soube-se que este em situação operacional declarara, se viesse a falecer em combate, que apenas desejava que o fio em prata que contém a pequena medalha, fosse entregue à sua namorada”.
Dúvidas do Comando
Territorial Independente da Guiné:
Conclusão do Processo e
despacho final do Comando Militar da Guine “Serviço da República, Ministério do
Exército, Comando Territorial Independente da Guiné, Quartel General – 1ª
Repartição, Processo – Por desastre em serviço
Mostra o Processo:
- Que em 23 julho 68, este soldado ao limpar a sua arma em virtude
de ir entrar de serviço, disparou involuntariamente um tiro que o atingiu
mortalmente;
- Que o certificado de óbito revela como causa da morte “ferimento
perfurante na caixa torácica”;
- Que segundo se investigou não há indícios de se ter suicidado;
- Que está demonstrado o nexo desastre-serviço;
O Processo foi organizado nos termos da Determinação 6ª da O.E. nº 8 – 1ª Série – 1965;
Em face do exposto é parecer desta Repartição:
a) que o desastre deve ser considerado em serviço;
b) dado que para o sinistrado adveio a morte, deve o processo, depois de despachado nos termos da Determinação 3º da O.E. nº 6 – 1ª Série 1966, ser enviado à RSP/DSP/ME-
Quartel General em Bissau 10 de
dezembro de 1968; O Chefe da 1ª Repartição; Carlos Beirão, ten cor inf c/
CGEM.
DESPACHO: "Sou de parecer que deve ser considerado ocorrido por motivo de serviço o desastre sofrido por este militar e que motivou a sua morte, em 23 julho 68. O Comandante Militar”.
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Nota do editor LG:
Último poste da série > 9 de julho de 2025 > Guiné 61/74 - P26998: Seis jovens lourinhanenses mortos no CTIG (Jaime Silva / Luís Graça) (2): José Henriques Mateus (1944-1966), sold at inf, CCAV 1484 (Catió, 1964/1966) - II (e última) Parte: testemunhos de camaradas