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sexta-feira, 20 de setembro de 2024

Guiné 61/74 - P25959: Verão de 2024: Nós por cá todos bem (13): no rio Corubal, na travessia para o Cheche (e Madina do Boé), que agora tem jangada nova... (Cherno Baldé / Valdemar Queiroz "Embaló")





Guiné > Região de Gabu >  Rio Corubal >  15 de setembro de 2024 >  Travessia  para o Cheche, na margem esquerda > A jangada (que não havia em 1969)

Foto (e legenda): © Chern0 Baldé (2024). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]






Valdemar Queiroz "Embalõ" , ex-fur mil art, CART 2479 / CART 11 (Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70) (o "Embaló" é um #"nickname", uma alcunha carinhosa, que o Cherno Baldé lhe pôs em tempos, pela tua forte ligação aos fulas)


Cherno Baldé, o "nosso correspondente" em Bissau
 (tem 303 referências no nosso blogue)


Data - quarta, 18/09/2024, 21:55 
Assunto - Guiné, travessia para Che-Che


Luís, nova jangada a sério,  da travessia do Rio Corubal para o Cheche.

Por que razão  a nossa Engenharia não "produziu" uma jangada como esta ?  Não teria havido aquele desastre com dezenas de mortos na evacuação de Madina do Boé, Beli e Che-Che.

Esta foto foi-me enviada pelo Cherno Baldé numa viagem que fez a Madina.

Valdemar



Guiné-Bissau > Região de Gabu > Rio Corubal > Rampa de acesso ao outro lado do rio, Cheche  > 21 de abril de 2021 > Acidente com a jangada: queda de um camião ao rio, ao entrar na jangada, do lado de Béli.  Trânsito interrompido dos dois lados.


Foto (e legenda): © Patrício Ribeiro (2021). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné-Bissau > Região do Boé > Rio Corubal > 30 de junho de 2018 > Rampa de acesso, do lado do Gabu, na margem direita



Guiné-Bissau > Região do Boé > Rio Corubal > 30 de junho de 2018 >  Rampa de acesso, na margem direita; lavadeiras-


Fotos (e legendas): © Patrício Ribeiro (2018) Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné > Região de Gabu > Carta de Jábia (1961) > Escala 1/50 mil > Posição relativa de Ché Ché, na margem esquerda do Rio Corubal. 

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné


2. Comentário do editor LG:

Valdemar e Cherno, obrigado pela foto. Nunca lá estive, e apesar das inúmeras fotos que temos publicadas no blogue, sobre este lugar que nos traz trágicas memórias, às vezes também eu faço confusão:   a rampa, mostrada nas fotos acima,  fica na margem  direita do rio Corubal; Cheche, onde até à retirada de Madina doo Boé, em 6 de fevereiro de 1969, havia um destacamento militar, ficava na margem esquerda, como de resto bem documena a carta de Jábia (1961).

Portanto, está correta a tua legenda:  a jangada que faz a travessia do Rio Corubal para o Cheche, ou seja de norte para sul, da margem direita para a margem esquerda.

Obrigado, Cherno, pela tua lembrança. Pode não ser verão aí  (é ainda tempo das chuvas), mas não se está mal por essas bandas, no rio Corubal, para mais com uma "jangada nova" que não vai ao fundo...

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Nota do editor

Último poste da série > 13 de setembro de 2024 > Guiné 61/74 - P25939: Verão de 2024: Nõs por cã todos bem (12): ...menos as andorinhas, vítimas dos "ocupas", as abelhas asiáticas e os javalis, predadores! (Luís Graça, Tabanca de Candoz)

quinta-feira, 19 de setembro de 2024

Guiné 61/74 - P25958: Agenda cultural (859): Convite para a sessão de apresentação do livro "O (Ainda) Enigma da Vida Intelectual e Científica de João Barreto", de Mário Beja Santos, dia 10 de Outubro de 2024, pelas 16h00, na Sociedade de Geografia de Lisboa

C O N V I T E


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 17 de Setembro de 2024:

Meus caros,
Meti-me numa alhada que não sei como é que vai acabar, já gastei a ponta dos dedos a folhear Boletins Officiais de Cabo Verde e da Costa da Guiné e também da Província da Guiné, até já pedi ajuda ao Philip Havik por causa da Escola de Medicina Tropical, e tenho que saber o que é que este meco andou a fazer desde que se reformou (1931), a única coisa que sei é que viveu sempre em Lisboa até que partiu para as estrelas em 1 de dezembro de 1940. Não me podia ter metido noutra alhada maior, eu que andava com o Boletim Official da Província da Guiné à volta de 1890... Peço, pois, a amabilidade de fazerem a notícia nos próximos dias e um pouco antes do 10 de outubro. Grato.

Um abraço do
Mário



CONVITE

O que falta saber sobre a obra científica do autor da única História da Guiné, apresentação do livro na Sociedade de Geografia de Lisboa, 10 de outubro, pelas 16h00.

João Barreto (de seu nome João Vicente Sant’Ana Barreto) foi aluno distintíssimo da Escola Médico-Cirúrgica de Nova Goa, ali lecionou cerca de um ano, antes de partir para Lisboa apresentou um trabalho de estrutura invulgarmente moderna sobre a peste na Índia portuguesa. Continuará os seus estudos em Lisboa, parte em 1916 para Cabo Verde, onde permanecerá durante toda a Primeira Guerra Mundial. Segue depois para a Guiné, é louvado pelo seu desempenho no combate à peste em Cacheu, exerce outros cargos em Bafatá, em 1923 é nomeado delegado na Junta de Saúde de Bissau. Parte para a Índia, onde permanecerá cerca de meio ano. É no seu regresso à Guiné que os seus trabalhos científicos ganham reconhecimento. É então enviado para a Presidência da República uma proposta de condecoração como Cavaleiro da Ordem de Avis.

É uma parte deste percurso que este estudo aprecia, há ainda significativas lacunas a preencher, haverá que decifrar o que vai levar este notável epidemiologista a lançarse num empreendimento da única História da Guiné, que dará à estampa dois anos antes de falecer.

A pedido de um seu bisneto, lancei-me neste empreendimento, é empolgante tudo quanto escreveu (fora o que ainda não se conhece), incluindo os seus comentários quando foi delegado de saúde na Ilha do Fogo, no auge do conflito mundial.

A apresentação deste estudo será precedida, em homenagem à sua memória, a uma visita à Sala da Índia, seguindo-se uma passagem pela Sala de Portugal para visitar os tesouros artísticos da Índia portuguesa, visita que decorrerá entre as 15h30 e as 16h00.

A sessão de apresentação contará com Valentino Viegas, professor universitário aposentado, o autor e o comentário final de Aires Barreto, bisneto do biografado.

Seguir-se-á um Porto de Honra.
Por decisão do autor da edição, os participantes receberão gratuitamente um exemplar da obra.
Bolama no tempo em que lá viveu João Barreto, ali se tornou cidadão emérito
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Nota do editor

Último post da série de 22 de agosto de 2024 > Guiné 61/74 - P25868: Agenda cultural (858): O nosso camarada Fernando de Jesus Sousa, (ex-1.º Cabo At Inf DFA da CCAÇ 6, Bedanda, 1970/71), vai estar presente no próximo dia 24 de Agosto, sábado, às 18 horas, na Feira do Livro do Porto, Jardins do Palácio de Cristal, para uma sessão de autógrafos no Pavilhão 118

Guiné 61/74 - P25957: Manuscrito(s) (Luís Graça) (254): Museu Nacional do Azulejo: A "caça ao leopardo" (séc. XVII), uma das peças emblemáticas...

 












1. Título: Caça ao Leopardo.
Criador: Olaria de Manuel Francisco (?)
Data de Criação: 1650/1675.
Localização física: MNAz, Museu Nacional do Azulejo, Lisboa, Portugal.
Dimensões físicas: 150 cm x 189.5 cm.
Proveniência: Quinta de Santo António da Cadriceira, Turcifal, Torres Vedras.

Fotos (e legenda): © Luís Graça (2024). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


 1. O Museu Nacional do Azulejo, em Lisboa, é um dos mais importantes (e visitados) museus de Portugal (*):

(i) possui uma coleção ímpar no contexto internacional (completíssima e rica amostra  do azulejo português mas também holandês: as encomendas que vinham para Portugal tinham particularidades, nomeadamente em termos temáticos);

(ii)  o azulejo é, desde há 5 séculos,  uma forma  artística altamente diferenciadora da nossa cultura;

(iii) o edifício só por si, um antigo mosteiro,  vale uma visita,

Trata-se do Mosteiro da Madre de Deus que foi fundado em 1509 pela rainha D. Leonor (1458-1525), irmã de Dom João II e mulher de Dom Manuel I, e fundadora das misericórdias portuguesas.

Em finais do século XVII, o rei D. Pedro II (1648-1706) mandou, entretanto, proceder a um restauro profundo do edifício. É hoje considerado um dos melhores conjuntos do barroco nacional.

 2. A "Caça ao Leopardo", do 3º quartel do século XVII, é  uma das peças mais emblemáticas, fascinantes, do Museu. 

Como de resto acontecia com  toda a azulejaria figurativa, foi concebido a partir de  uma ou mais gravuras sobre a caça ao leopardo por europeus, sendo um belíssimo exemplo da capacidade das nossas oficinas para adoptar e reformular modelos que vinham de fora (por exemplo, gravuras com temas exóticos associados â fauna e flora do Novo Mundo, da África ou da Ásia). Neste caso,  os caçadores são os próprios indígenas do Novo Mundo que usam como  armadilha para atrair a presa um espelho (que obviamente eles não usavam, não fabricavam, nem tinham tecnologia para tal)...
 
Segundo o especialista e investigador do Museu (e seu atual diretor interino), João Pedro Monteiro, o uso do azulejo (vocábulo que vem do espanhol azulejo, do árabe hispânico al-zuléig.) não é exclusivo de Portugal mas foi no nosso país que, ao longo de uma produção de cinco séculos,  "assumiu uma especial importância no contexto universal da criação artística», tornado-se portanto um elemento identitário da nossa cultura.

Por três razões, que ele enumera: 

(i) "uso continuado ao longo de cinco séculos"; 

(ii) "modo de aplicação, como elemento estruturante das arquitecturas, através de revestimentos, muitas vezes monumentais, no interior e exterior dos edifícios" (palácios, mosteiros, conventos, quintas);

(iii) " e enquanto suporte da renovação do gosto e de registo de imaginários".

 Não é uma "arte pobre", bem pelo contrário, o azulejo podia chegar a representar um quarto dos custos de construção de um edifício. E não é por acaso que atingiu "o seu apogeu no reinado de D. João V, quando a chegada do ouro do Brasil permitia custear os mais ricos edifícios barrocos».

Caro leitor, se és um antigo combatente, aponta aí na tua agenda uma visita (obrigatória)  a este Museu, de acesso gratuito para ti (*)

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 2 de junho de 2024 > Guiné 61/74 - P25592: Manuscrito(s) (Luís Graça) (250): A "macacaria", o azulejo polícromo, burlesco e satírico, do séc. XVII

(**) Vd. poste de Instituto Camões > Exposição O Azulejo em Portugal: Uma opção identitária. Encarte Camões no JL n.º 144 Suplemento da edição n.º 1019, de 21 de outubro a 3 de novembro de 2009, do JL - Jornal de Letras, Artes e Ideias.

Guiné 61/74 - P25956: Parabéns a você (2312): José Emídio Marques, ex-1.º Cabo Aux. Enfermeiro da 3.ª CCAÇ / BCAÇ 4616/73 (Jumbembém, Farim e Canjambari, 1974)

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Nota do editor

Último post da série de 15 de setembro de 2024 > Guiné 61/74 - P25943: Parabéns a você (2311): Manuel J. Ribeiro Agostinho, ex-Soldado Radiotelegrafista da CCS/QG/CTIG (Bissau, 1968/70)

quarta-feira, 18 de setembro de 2024

Guiné 61/74 - P25955: Historiografia da Presença Portuguesa em África (443): a história (atribulada) de Bolama, segundo o Padre J.A.V (1938)


 Guiné-Bissau > Bolama > Junho de 2021 > A estátua de Ulysses Grant, "ao luar"...


Guiné-Bissau > Bolama > Junho de 2021 > A estátua de Ulysses Grant, vista de dia... (A estátua original, em bronze,  desapareceu, há uns largos anos; esta da foto é uma réplica... em cimento)



Guiné-Bissau > Bolama > Junho de 2021 > A estátua de Ulysses Grant > Base: inscrição (parcial):    
[...] Grant,   [...]  dente dos 
Estados Unidos da 
América do Norte justo
árbritro na causa de
Bolama    21 - IV-18970

Fotos (e legendas): © Patrício Ribeiro (2021). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]






1. O que sabíamos nós sobre a história da Guiné quando nos mandaram para lá "defender a Pátria" ? Nada, e muito menos desta ou daquela cidade ou vila, como Bolama, Bissau, Bafatá, Bambadinca, Nova Lamego, Tite, Buba, Cacheu, Catió, Teixeira Pinto, etc.

Cinquenta anos depois ainda temos direito a saber algo mais... sobre aquela terra a quem pagámos o  devido "imposto de sangue, suor e lãgrimas"... Por exemplo, sobre a história (atribulada) de Bolama: muitos camaradas passaram por lá, fizeram a  IAO e até foram "saudados" pela "rapaziada do PAIGC com uns foguetões 122 mm, felizmente com fraca pontaria...

O nosso colaborador permanente Mário Beja Santos (uma das pessoas que em Portugal mais sabe sobre a historiografia da presença portuguesa na Guiné) tem escrito imenso sobre estes temas, e nomeadamemnte sobre Bolama. 

Isso não nos impede de publicar aqui um apontamento com "uma resenha histórica" de Bolama, escrita por um padre, de que só conhecemos as iniciais (Pe. A. J. D.). O artigo faz parte do nº único do jornal "Sport Lisboa e Bolama", novembro de 1938 (pp. 1, 6 e 7 de 12). É um artigo de divulgação, já com quase 90 anos, escrito por um missionário (que seguramente tinha uma grande amor àquela terra).

Recorde-se que Bolama foi elevada à categoria de cidade, com a República, em 1913. O seu plano urbano também tem a marca da época. E foi a capital da antiga Guiné Portuguesa até 1941 (portanto, ao longo de escassas sete décadas). 

O século XIX (e sobretudo o período entre 1830 e 1870) é marcado pela  disputa, npor vezes violenta.  em relação à soberania da ilha, entre portugueses.  ingleses e ilhéus. 

Correu-se até o  risco até de cair num conflito militar entre as duas potências coloniais, se bem que "velhos aliados",  o que terá sido  evitado  graças à iniciativa de  António José de Ávila (Horta, Ilha do Faial, Açores,  1807 — Lisboa, 1881) (futuro Duque de Ávila e Bolama), que pediu a intervenção de Ulysses S. Grant, presidente dos Estados Unidos, a favor de Portugal,  

 Os bolamenses erigiram-lhe uma estátua, em homenagem à sua justa arbitragem  a favor de Portugal. Infelizmemnte, há uns anos atrás a estátua (ou parte da estátua), em bronze, desapareceu...Em total decadència, a Bolama de hoje parece não saber ou poder conseguir tomar contar dos vivos, quanto mais dos mortos...

Hoje é também uma ilha de fantasmas. onde por certo por lá pára ainda a alma errante do Caetano José Nozolini (ilha do Fogo, Cabo Verde, 1800 — Bissau, 1850), grande esclavagista cabo-verdiano de origem italiana... Mas também o Bento José Nogueira, o Bevaer, o Nozolini, o Honórito Barreto,  o  Grant e tantos outros, sem esquecer os régulos bijagós e biafadas.




Jornal-programa (sic) editado pelo "Sport Lisboa e Bolama", novembro de 1938. Composto e impresso pela Imprensa Nacional da Guiné, Bolama. Nº de páginas: 12 (doze).Visado pela Comissão de Censura,


Fonte: Câmara Municipal de Lisboa > Hemeroteca Digital >  Sport Lisboa e Bolama, novembro de 1938 (com a devida vénia).
































(Seleção, introdução, recortes, revisão / fixação de texto: LG)


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Nota do editor:


Guiné 61/74 - P25954: Historiografia da presença portuguesa em África (442): A Guiné Portuguesa - Boletim Official do Governo da Província da Guiné Portuguesa, 1881 até 1882 (2) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 23 de julho de 2024:

Queridos amigos,
Estão a ser dados passos seguros para a implantação da presença portuguesa, aparece gente interessada, foi repelido um assalto à praça de Buba e alcançado um tratado de paz subscrito pelos régulos Fulas-Forros e Futa-Fulas do Forreá e Futa-Djalon; começou a ocupação dos territórios banhados pelos rio Nalu e Cacine, uma porção completamente nova de território que surgiu graças à compensação dada pelos franceses que tudo fizeram para ficar com o Casamansa e, sobretudo, Ziguinchor; caem pendularmente vindas de Bissau e de Geba, a agricultura está numa lástima, a indústria limita-se a fabricar tecidos e sabão; tornou-se obrigatório o sistema métrico-decimal; fica-nos a intuição de que perderam importância Geba, Fá e S. Belchior, o ponteiro da bússola está a oscilar para os Bijagós. Enfim, o Governo de Bolama parece ter entrado com o pé direito.

Um abraço do
Mário



A Guiné Portuguesa
Boletim Official do Governo da Província da Guiné Portuguesa, 1881 até 1882 (2)


Mário Beja Santos

Indiscutivelmente que em 1881 o governador Agostinho Coelho já não tem dependência alguma de Cabo Verde, a presença portuguesa mantém-se ténue, veremos adiante que o governador faz esforços para apagar os focos de guerra, caso do que se estava a passar no Forreá. Convém informar o leitor que há evidentes lacunas neste primeiro volume do Boletim Official, em determinado momento passamos dos finais de 1881 para agosto de 1882, mas é, por enquanto, o que tenho ao dispor. No Boletim n.º 7, de 19 de março, dispomos de informações vindas do presídio de Geba e assinadas pelo respetivo chefe, alferes Caetano Alberto da Costa Pessoa, do que por ali se passa: não há alterações no sossego público, o estado sanitário é regular, na agricultura não há quase nada a não ser a cultura da cebola; quanto à indústria, regista-se o fabrico de tecido de algodão e sabão para consumo do presídio; no tocante à instrução pública, e escola funciona com regularidade, tem 20 alunos do sexo masculino e 1 do sexo feminino; o estado alimentício é bastante escasso e o comércio insignificante.

No Boletim n.º 8, de 26 de março, uma novidade e com peso, faz-se a adoção do sistema métrico, assina o governador:
“Notando-se que o sistema anárquico de pesos e medidas em uso nas transações comerciais na Província impossibilita pela sua variedade arbitrária e falta de padrão a fiscalização legal de uma uniformidade regular, prejudicando o consumidor; considerando que este país, mais facilmente do que os melhor policiados, pode aceitar o estabelecimento da uniformidade de pesos e medidas, por isso que não há a impugnar o uso radicado de algum outro; tendo em vista as informações dos concelhos municipais; ouvido o conselho de Governo e com o seu parecer afirmativo; hei por conveniente determinar, que dentro do prazo de um ano, a contar da presente data, seja adotado na Província o sistema métrico-decimal em todas as suas fórmulas; e, outrossim que as comunicações municipais adquiram durante esse período os padrões e instrumentos de afilamento necessários, para dar execução ao que a este respeito dispõe o código administrativo de 1842.” A data do despacho é de 24 de março.

Neste mesmo Boletim vem publicado o termo da ampliação e ratificação do tratado feito em 16 de junho de 1856, na aldeia de Umbaná, entre o Governo do Distrito da Guiné e o régulo e chefes Biafares de Guinala e Buduel – na margem direita do Rio Grande; o objetivo é de que com este novo tratado se estreitassem mais as dependências e vassalagem daquele território, havendo garantia da proteção da bandeira portuguesa, tratado que se estendia até aos povos Biafadas.

O leitor encontrará em permanência referências a gente preso, sobretudo por embriaguez e tentativa de furto, síntese da Administração de Bissau, informações mensais, e também do presídio de Geba. Ganha importância no Boletim Official n.º 10, de 25 de junho, a notícia de que fora repelido uma tentativa de assalto a Futa-Fulas à Praça de Buba, que ocorrera em fevereiro de 1881, mencionavam-se comportamento exemplares, o do cidadão francês Henri de Galambert que apoiara eficazmente a defesa da dita praça e do soldado Manuel Gomes, que praticara um ato de coragem na maior força do assalto indo resgatar uma rês confiada à sua guarda e que o gentio lhe roubar, Sua Majestade recomendava para os ditos louvor pelas provas dadas.

Igualmente vem publicado no Boletim N.º 12, de 16 de julho, o tratado de paz celebrado entre o Governo português e os régulos Fulas-Forros e Futa-Fulas do Forreá e do Futa-Djalon. O tratado foi assinado em 3 de julho de 1871, em Bolama, da parte portuguesa faziam parte o Governador e um conjunto de membros do concelho do Governo (curiosamente aparece o nome de Marcelino Marques de Barros, o primeiro grande vulto cultural com naturalidade guineense), dos tempos da província da Guiné Portuguesa. E do lado dos Fulas-Forros e Futa-Fulas representantes de Bakar Kidaly e Mamadi Paté, estando presente pelos Futa-Fulas Mamadu Djau, representante de Alfa Labé, do Futa-Djalon, terminavam as contendas entre o Governo português e os povos Fulas e Futa-Fulas, reconhecendo estes terem dado origem à guerra, aceitavam os régulos a condição imposta de haver na principal povoação do Forreá um delegado do Governo, assim como a bandeira portuguesa arvorada na mesma população, como símbolo da soberania do Governo de Portugal.

É um texto detalhado, indiscutivelmente um momento da maior importância para a governação de Agostinho Coelho, como se pode especificar: obrigam-se todos os chefes assinantes do tratado à condição de não fazerem guerra aos povos limítrofes, em que seja empenhado o Forreá sem consentimento do Governo; os chefes Futa-Fulas obrigam-se a prevenir o Governo pelo comando militar de Buba, todas as vezes que os seus corpos de guerra vierem àquele território; aceitam a condição imposta pelo Governo de virem anualmente a Bolama em número de três ou mais chefes, sendo um pelo menos Futa-Fula, a fim de conferenciarem com a autoridade superior da Província; o Governo determina a reconstituição da povoação de Buba, permite que venham estabelecer-se ali todas as famílias do Forreá que o desejarem, comprometendo-se o Governo em não constranger o sistema de governação e constituição das tribos do Forreá; os chefes Futa-Fulas obrigam-se a facilitar a todos os enviados do Governo português os caminhos para o interior do continente até Labé; os chefes Fulas e Futa-Fulas obriga-se a não fazerem tratado algum com estrangeiros, sem consentimento prévio do Governo português.
Firmou-se este tratado em português e em árabe, documentos selados com o selo grande das armas reais.

Outro dado que me parece tido de menção é a determinação do Governo em ocupar os territórios banhados pelos rios Nalu e Cacine, nomeando um funcionário da administração. Na prática isto significa que esta porção do território incorporada na província da Guiné, pela Convenção Luso-Francesa, de 12 de maio de 1886, ainda não tinha sido ocupada. E passamos agora para o que resta do ano de 1882, como se disse há uma lacuna de cerca de 7 meses.

A agricultura tornou-se um valor atrativo, pode ler-se nesta folha de 19 de março de 1881 conceções legais de terrenos ou com autorização do Governo da Província
Rua Governador Catela, Bolama, em 1892
O que resta do majestoso Palácio dos Paços do Concelho, imagem retirada do blogue Alma do Viajante, com a devida vénia
A primeira igreja de Bolama

(continua)
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Nota do editor

Último post da série de 11 de setembro de 2024 > Guiné 61/74 - P25935: Historiografia da presença portuguesa em África (441): A Guiné Portuguesa em 1878 - Boletim Official do Governo da Província da Guiné Portuguesa, 1880 e 1881 (1) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P25953: Contributo para o estudo da participação dos militares de Fafe na Guerra do Ultramar: uma visão pessoal (Excertos) (Jaime Silva) - Parte X: Testemunho 5: "Desaparecido em combate, em Moçambique, em 15/11/1972: fur mil op esp / ranger João Manuel de Castro Guimarães"

 


SILVA, Jaime Bonifácio da - Contributo para o estudo da participação dos militares de Fafe na Guerra do Ultramar : uma visão pessoal.

In:  Artur Ferreira Coimbra... [et al.]; "O concelho de Fafe e a Guerra Colonial : 1961-1974 : contributos para a sua história". [Fafe] : Núcleo de Artes e Letras de Fafe, 2014, pp. 23-84.


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Jaime Bonifácio Marques da Silva (n. 1946): 

(i) foi alf mil paraquedista, BCP 21 (Angola, 1970/72); (ii) tem uma cruz de guerra por feitos em combate; (iii) viveu em Angola até 1974; (iv) licenciatura em Ciências do Desporto (UTL/ISEF) e pós-graduação em Envelhecimento, Atividade Física e Autonomia Funcional (UL/FMH); (v) professor de educação física reformado, no ensino secundário e no ensino superior ; (vi) autarca em Fafe, em dois mandatos (1987/97), com o pelouro de desporto e cultura; (vii) vive atualmente entre a Lourinhã, donde é natural, e o Norte; (viii) é membro da nossa Tabanca Grande desde 31/1/2014; (ix) tem 85 referências no nosso blogue.

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1. Estamos a reproduzir, por cortesia do autor (e com algumas correções de pormenor), excertos do extenso estudo do nosso camarada e amigo Jaime Silva, sobre os 41 mortos do concelho de Fafe, na guerra do ultramar / guerra colonial. A última parte do capítulo é dedicada a testemunhos e depoimentos recolhidos pelo autor (pp. 67/82).


Contributo para o estudo da participação dos militares de Fafe na Guerra do Ultramar – Uma visão pessoal [Excertos] 


Parte X:  Testemunho 5: "Desaparecido em combate,  em Moçambique, em 15/11/1972: fur mil op esp / ranger João Manuel de Castro Guimarães"  (pp. 78/79)



Testemunho 5 : 

Há algum militar fafense desaparecido em combate?


O furriel miliciano ranger João Manuel de Castro Guimarães desapareceu em combate no Norte de Moçambique durante a Guerra Colonial. O seu desaparecimento ocorreu durante uma operação realizada junto da povoação de Kytaia, aldeia situada no sul da Tanzânia, nas margens do rio Rovuma, e cujo corpo nunca mais foi resgatado.

Tenho em meu poder cópia de um documento que me foi cedido pela Direção do Centro de Trabalhos de Fafe da Associação de Operações Especiais – “Ranger” em 12.03.2012 e que descreve as circunstâncias do desaparecimento do furriel Guimarães.

O texto é da autoria de Carlos Vardasca, ex-soldado condutor nº mec. 15263570,  da CCAÇ 3309, estacionada no aquartelamento de Nangade. 

Vardasca afirma que só foi possível elaborar o documento com o depoimento de Filipe Manuel Cardão Pinto, ex-furriel mil da  CCAÇ 3309 e comandante dos GES 212, estacionados no aquartelamento de Nhica do Rovuma, em Cabo Delgado.

Relata que a operação denominada “Baga 6” teve como objetivo vigiar junto da fronteira da Tanzânia, a cerca de nove quilómetros do aquartelamento, as movimentações da população moçambicana que trabalhava em machambas (terrenos de cultivo) comunais junto da povoação tanzaniana de Kytaia, nas margens do rio Rovuma, e cujos produtos alimentares serviam para guarnecer os guerrilheiros da FRELIMO que, com bastante regularidade, ali se abasteciam para reentrarem em Moçambique e efetuarem as suas operações contra o exército português.

A operação decorreu entre os dias 14 a 16 de novembro de 1972, sendo enviado um pequeno grupo comandado pelo furriel Guimarães, recentemente chegado da Metrópole (designação dada a Portugal no período colonial).

Na tarde de 14 de novembro, o grupo atingiu o local previsto junto ao rio Rovuma e, dado o adiantado da hora, decidiu emboscar ali para observar as movimentações do outro lado da fronteira. 

Na manhã de 15, iniciaram-se as observações, ainda o cacimbo (nevoeiro) flutuava por cima do capim e o rio em maré baixa deixava emergir do seu leito vastos bancos de areia, permitindo alguns deles o acesso fácil ao outro lado da fronteira.

Talvez por inexperiência e desconhecimento da realidade ou por simples espírito de aventura, continua Verdasca, o furriel Guimarães, apesar de ser advertido pelos seus soldados africanos dos perigos em que ia incorrer, decidiu percorrer um dos bancos de areia que se estendia até à outra margem, tendo mesmo pisado território tanzaniano.

Inesperadamente e perante a angústia dos companheiros, ouvem-se dois tiros de arma de precisão e o corpo do Guimarães tombou de imediato, ficando inerte. 

Alguns dos elementos do grupo iniciam os preparativos para resgatar o corpo, mas, advertidos pelos mais experientes de que seriam, certamente, alvos, também da emboscada do atirador que os esperava, decidem não avançar e comunicar com o destacamento de Nhica do Rovuma que, consciente da gravidade da situação, decide enviar para o local um novo Grupo de Combate comandado pelo furriel Pinto para coordenar as ações no terreno. 

Foi decidido, relata o Verdasca, pedir apoio aéreo para proteger e apoiar o grupo de resgate do corpo do Guimarães. O comando do destacamento de Mueda negou esse apoio, sob o pretexto de se poder vir a abrir um conflito internacional com um país vizinho.

O corpo permaneceu no local e, no dia seguinte, 16 de novembro (de 1972), o soldado que estava de sentinela,  alertou os restantes, informando que o corpo do furriel já não se encontrava no local.

A convicção de todos é que o corpo do Guimarães teria sido levado pelos tanzanianos, facto corroborado por um dos GEs da aldeia de Nhica do Rovuma que disse ter ouvido no seu rádio um comunicado difundido por uma rádio tanzaniana em dialeto Swahili,  segundo o qual "as nossas forças fronteiriças abateram e capturaram um mercenário branco, de farda negra e armado de G3, que tentava penetrar no nosso espaço territorial".

Conclui que, com aquela informação oficial, o corpo do furriel Guimarães tinha sido retirado do local por quem o abateu, sendo mais tarde sepultado em território tanzaniano, local que ainda hoje se desconhece, mas provavelmente nas imediações da aldeia mais próxima do local, ou seja, na aldeia tanzaniana de Kytaia.

Insurge-se 
ainda pelo facto de o seu nome não constar na lista inscrita no Monumento Nacional aos Mortos da Guerra Colonial, erigido em Belém e insiste no dever de Portugal em recuperar ainda os seus mortos sepultados e dispersos por vários locais do continente africano. (**)