quinta-feira, 19 de setembro de 2024

Guiné 61/74 - P25957: Manuscrito(s) (Luís Graça): Museu Nacional do Azulejo: A "caça ao leopardo" (séc. XVII), uma das peças emblemáticas...

 












1. Título: Caça ao Leopardo.
Criador: Olaria de Manuel Francisco (?)
Data de Criação: 1650/1675.
Localização física: MNAz, Museu Nacional do Azulejo, Lisboa, Portugal.
Dimensões físicas: 150 cm x 189.5 cm.
Proveniência: Quinta de Santo António da Cadriceira, Turcifal, Torres Vedras.

Fotos (e legenda): © Luís Graça (2024). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


 1. O Museu Nacional do Azulejo, em Lisboa, é um dos mais importantes (e visitados) museus de Portugal (*):

(i) possui uma coleção ímpar no contexto internacional (completíssima e rica amostra  do azulejo português mas também holandês: as encomendas que vinham para Portugal tinham particularidades, nomeadamente em termos temáticos);

(ii)  o azulejo é, desde há 5 séculos,  uma forma  artística altamente diferenciadora da nossa cultura;

(iii) o edifício só por si, um antigo mosteiro,  vale uma visita,

Trata-se do Mosteiro da Madre de Deus que foi fundado em 1509 pela rainha D. Leonor (1458-1525), irmã de Dom João II e mulher de Dom Manuel I, e fundadora das misericórdias portuguesas.

Em finais do século XVII, o rei D. Pedro II (1648-1706) mandou, entretanto, proceder a um restauro profundo do edifício. É hoje considerado um dos melhores conjuntos do barroco nacional.

 2. A "Caça ao Leopardo", do 3º quartel do século XVII, é  uma das peças mais emblemáticas, fascinantes, do Museu. 

Como de resto acontecia com  toda a azulejaria figurativa, foi concebido a partir de  uma ou mais gravuras sobre a caça ao leopardo por europeus, sendo um belíssimo exemplo da capacidade das nossas oficinas para adoptar e reformular modelos que vinham de fora (por exemplo, gravuras com temas exóticos associados â fauna e flora do Novo Mundo, da África ou da Ásia). Neste caso,  os caçadores são os próprios indígenas do Novo Mundo que usam como  armadilha para atrair a presa um espelho (que obviamente eles não usavam, não fabricavam, nem tinham tecnologia para tal)...
 
Segundo o especialista e investigador do Museu (e seu atual diretor interino), João Pedro Monteiro, o uso do azulejo (vocábulo que vem do espanhol azulejo, do árabe hispânico al-zuléig.) não é exclusivo de Portugal mas foi no nosso país que, ao longo de uma produção de cinco séculos,  "assumiu uma especial importância no contexto universal da criação artística», tornado-se portanto um elemento identitário da nossa cultura.

Por três razões, que ele enumera: 

(i) "uso continuado ao longo de cinco séculos"; 

(ii) "modo de aplicação, como elemento estruturante das arquitecturas, através de revestimentos, muitas vezes monumentais, no interior e exterior dos edifícios" (palácios, mosteiros, conventos, quintas);

(iii) " e enquanto suporte da renovação do gosto e de registo de imaginários".

 Não é uma "arte pobre", bem pelo contrário, o azulejo podia chegar a representar um quarto dos custos de construção de um edifício. E não é por acaso que atingiu "o seu apogeu no reinado de D. João V, quando a chegada do ouro do Brasil permitia custear os mais ricos edifícios barrocos».

Caro leitor, se és um antigo combatente, aponta aí na tua agenda uma visita (obrigatória)  a este Museu, de acesso gratuito para ti (*)

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 2 de junho de 2024 > Guiné 61/74 - P25592: Manuscrito(s) (Luís Graça) (250): A "macacaria", o azulejo polícromo, burlesco e satírico, do séc. XVII

(**) Vd. poste de Instituto Camões > Exposição O Azulejo em Portugal: Uma opção identitária. Encarte Camões no JL n.º 144 Suplemento da edição n.º 1019, de 21 de outubro a 3 de novembro de 2009, do JL - Jornal de Letras, Artes e Ideias.

2 comentários:

Valdemar Silva disse...


"...os caçadores são os próprios indígenas do Novo Mundo ..."
Os indígenas do Novo Mundo seria no Brasil.
No Brasil não há leopardos, mas sim onças pintadas .
As onças pintadas tem rosetas maiores e com pintas nos seus interiores; leopardos não tem pintas no interior de suas rosetas.
As onças vivem na América Central e do Sul, onde vivem os maiores grandes felinos, enquanto os leopardos são os menores grandes felinos em seu habitat na África e na Ásia. Onças são maiores e mais corpulentas do que os leopardos, pesando até 110 kg contra os 80 kg do leopardo.

Valdemar Queiroz

nota: na Guiné também chamavam onça ao leopardos ou então a outro felino da mesma família com as rosetas de leopardo.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Valdemar, tens olho de lince. Não há "coelho" que te escape... De facto, não havia leopardos no Novo Mundo, mas onças.. .Os caçadores sã o de facto ameríndios, índios da Amazônia... O título do painel está, em princípio, errado...Vou escrever ao Museu. Mas estas trocas de nomes de animais são frequentes... A malta na Guiné chamava jacarés aos crocodilos... Obrigada, pelo comentário.