terça-feira, 31 de maio de 2011

Guiné 63/74 - P8351: Tabanca Grande (290): Aura Emília Rico Teles, ex-Tenente Enfermeira Pára-quedista (1963/1984)

1. Com a preciosa ajuda do casal Giselda e Miguel Pessoa contamos na tertúlia com mais três Enfermeiras Pára-quedistas, além da nossa veterana Giselda, claro, a Rosa Serra, a Maria Arminda, e a Aura Teles que agora se apresenta.

É para nós uma subida honra contar entre a tertúlia com quatro representantes de um grupo generoso de senhoras que, parecendo não ter mais nada para fazer na vida, se lembraram um dia de que podiam pôr ao serviço dos militares que combatiam em Angola, Guiné e Moçambique, os seus conhecimentos e sua capacidade de ajudar nos momentos de infortúnio, quando mais precisavam de uma palavra meiga para além do tratamento das feridas corporais.

Levantemo-nos pois, porque vai entrar uma senhora. Mais um Anjo da Guarda.

[Acrescente-se que a Aura Teles é também um das oito ex-enfermeiras pára-quedistas que entra no filme Quem Vai  à Guerra, da realizadora Marta Pessoa, a estrear em Lisboa, Porto e Aveiro, no próximo dia 16].


Aura Emília Rico Teles
Ex-Tenente Enf.ª Pára-quedista
Natural de Vendas Novas
Profissão: Enfermeira (Aposentada)
Ingresso na Força Aérea Portuguesa no curso de Enfermeiras Pára-quedistas em Agosto 1963.

Datas precisas e concisas ao rigor do dia e do mês como têm a Maria Arminda, isso eu não tenho assim tão prestigiada memória, mas prometo dar o meu melhor.


1963 — Fui para Tancos e ingressei no curso de pára-quedismo.

Em Novembro fui para o Hospital da B.A.4 (Terra Chã) Ilha Terceira, Açores com todas as enfermeiras que acabaram o curso de pára-quedismo.

Eu por acidente fracturei uma clavícula a oito dias do primeiro salto em pára-quedas “com recruta terminada” não acabei o curso claro.

Estive nos Açores um ano.

1964 — Em Setembro regressei a Tancos para finalizar o curso.

1965 — Colocada na Guiné-Bissau na B.A. 12.

No dia seguinte comecei logo a fazer evacuações na província e todas as semanas uma enfermeira transportava feridos para Lisboa.

1967 — Voltei aos Açores, Hospital da Força Aérea para trabalho nas enfermarias, quarto de queimados e bloco operatório.

1968 — Guiné-Bissau, colocada novamente.

Nessa altura já ia muito mais à vontade e segura do que ia encontrar e contente por voltar à Guiné-Bissau. Foi a unidade onde mais gostei de trabalhar. Era lá que me sentia útil e era muito gratificante quando trazíamos militares, civis e até “os chamados inimigos” para Bissau, Hospital Militar.

1969 — Angola onde estive seis meses no B.C.P. em Belas e os outros seis meses na Direcção dos Serviços de Saúde em Luanda.

1970 — Moçambique onde fui colocada na 3ª Região Aérea.

Destacada de seguida para Nampula, onde fiquei seis meses e os outros seis meses trabalhei na Direcção dos Serviços de Saúde em Lourenço Marques.

1971 — Guiné-Bissau novamente. Estive lá um ano e meio.

1973 — Angola, colocada na Direcção dos Serviços de Saúde em Luanda.

1975 — Regressei ao Hospital da Força Aérea Portuguesa, Lumiar Lisboa.

1984 — Passei à reforma por incapacidade física.

No fim de uma década de vai e vem, saltitando de província em província, graças a DEUS que terminou o sofrimento de muitos jovens, pais, filhos, esposas e até avós, com o regresso a casa dos seus entes queridos.

Os que lá tombaram, esses estão de pé nas nossas memórias para sempre.

Foi duro demais para nos esquecermos DELES e de uma colega nossa CELESTE [PEREIRA] (*). PAZ ÀS SUAS ALMAS.

De facto vivemos situações muito frustrantes, querer salvar todos mas era impossível, resta-nos o conforto que trouxemos a muitos camaradas vivos do mato para o hospital militar de Bissau.

Essa sim é a nossa glória, sentir que cumprimos o que nos propusemos, utilizando todo o nosso saber com humanismo, carinho para que cada situação a tratar fosse menos dolorosa, procurando não só cuidar do corpo mas também do espírito.

Os nossos cuidados estenderam-se a todos que deles precisavam, nomeadamente os militares das forças armadas, seus familiares, populações civis e repito até o “ inimigo”.

Bem…. é uma alegria interior tão grande que só por quem lá passou pode senti-la.
Mas nem tudo foi mau e stressante, também tivemos momentos inesquecíveis com amizades que fizemos e que ainda hoje perduram.

Com verdade vos digo camaradas… sinto-me orgulhosa de todo o trabalho que fiz, “porque fiz o meu melhor” e muito em especial na Guiné.

Foi na Força Aérea que cresci e me orgulho de pertencer a esta organização e tenho “vaidade” de ter sido enfermeira pára-quedista e muito amor à minha boina verde.


Tenente Enf.ª Pára-quedista Aura Emília Rico Teles

Curso de Pára-quedistas de 1964


Guiné 1965 > Uma evacuação

Luanda 1967


PÁRA-QUEDISTAS

Se o ter asas simboliza a liberdade
Que a vida nega e a alma precisa
Olhai Pára-quedistas, tendes tudo
Lá no céu elevai vossas almas
Que cá na terra a dor é nossa
E a fraqueza que ela tem
Tendes ao menos a força de não a
Mostrardes a ninguém.

Aura Rico Teles
Tenente Enfª Pára-quedista


2. Comentário de CV:

Cara enfermeira Aura, com muito prazer a recebemos nesta Caserna Virtual. Tem lugar junto das suas camaradas: Giselda, Rosa Serra e Maria Arminda.

Agora que faz parte desta comunidade, onde são maioria os infantes que atravessavam bolanhas e rios da Guiné na esperança de que nunca fosse necessária a vossa presença junto deles, sinal de que nada de mau havia acontecido.

Agora, afastados esses tempos, é com o maior carinho que as recebemos, porque apesar de muitas preces, muitos foram os que necessitaram do socorro dos nossos anjos da guarda, que se não guardavam, estavam presentes sempre que necessário, porque o azar nos batia à porta.

Anjos que vinham do céu, que nas horas de horror aplicavam o seu saber tentando aliviar a dor, fazendo alguns milagres, ao mesmo tempo que davam uma palavra meiga e amiga, qual mãe, irmã ou namorada.

Diz o Miguel que a Aura tem uma memória prodigiosa, pelo que ficamos à espera das suas narrativas que não terão a ver forçosamente só com a Guiné.

Permita que no fim destas palavras de agradecimento, lhe envie um abraço colectivo da tertúlia do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, e por que não, de todos os militares que fizeram a guerra colonial nos três teatros de operações.

Bem hajam.

Carlos Vinhal
____________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 27 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8334: Tabanca Grande (289): António Luiz Figueiredo, ex-Fur Mil TRMS TSF (Pirada, Teixeira Pinto e Bissau, 1972/74)

(*) Vítima de acidente mortal, ocorrido  na Guiné, em fevereiro de 1973.  Segundo se lê no poste nº 1668, de 17 de Abril último, a Celestet Pereira "ao correr para uma DO que se preparava para levantar voo a fim de proceder a evacuação,  foi morta pela hélice da avioneta que lhe cortou a cabeça, no aeroporto de Bissalanca" (Nota de rodapé do autor de Diário da Guiné, António da Graça Abreu, p. 64).

9 comentários:

Anónimo disse...

Boas vindas a mais uma enf. pára-quedista. Nunca será demais louvar o vosso incansável trabalho, que tantas vidas salvou.

Já agora, uma curiosidade, pois não sei se estará ao corrente: o hospital da Terra Chã (que foi o único hospital da FAP até 1975), foi utilizado, a partir de 1976, pelo Pólo de Angra do Heroísmo da Universidade dos Açores. Só o ano passado é que novas instalações para a Universidade foram construídas perto do centro de Angra, mas ainda funcionam algumas valências na Terra Chã.
O piso de cimento vermelho polido manteve-se sempre mais ou menos impecável. Quando se acabar a transferência da Universidade, não sei o que farão do antigo hospital-

Um abraço,
Carlos Cordeiro

Jorge Narciso disse...

Cara Aura

Primeiro os votos de boas vindas e os desejo de frutuosos voos nesta Tabanca, agora também tua.

P.S.
Fica-me uma dúvida relativamente ao percurso que descreves.
Estive na linha dos helis na Guiné, entre Abril 69 e Dezembro de 70 e ia jurar que por lá estiveste algures entre estas datas.
Confusão minha ? Outra Aura ?

Com um abraço
Jorge Narciso

jOSÉ mARCELINO mARTINS disse...

Querida Aura.

Bem vinda, de novo, à Nossa Guiné.
É aqui que nos encontramos, a sombra do poilão, e falamos dessa terra e desse tempo que, infelizmente para nós, mas em especial para os guineenses, não volta mais.
Resta-nos a amizade e camaradagem e a recordação dum dever cumprido na guerra, que continua na nossa paz (possível).

Admiro o vosso trabalho apesar de, felizmente, no tempo em que permaneci em Canjadude, nunca ter sido necessária a vossa presença, mas sabíamos que, caso fosse necessário, bastava chamar e haveria, de pronto, a resposta por parte dos NOSSOS ANJOS DA GUARDA.

bEM HAJAM!

Anónimo disse...

É sempre com agrado que vejo a entrada de mais uma camarada neste espaço de reunião.

É também aqui que nos reagrupamos para finalizarmos a nossa comissão.

Um abraço para este novo membro da Tabanca.
BSardinha

Anónimo disse...

Cara Aura

Bem vinda seja.
Nesta Tabanca fazem falta os ANJOS DA GUARDA do passado, tempos idos, que desciam do céu, por vezes com grande risco, para darem a mão amiga e confortante aos que dela necessitavam.
No tempo que estiva na Guiné (HM241)só conheci uma enfª Pára-Quedista com posto de tenente, a Enfermeira IVONE.
Será que a AURA, esteve lá no meu tempo?
Cheguei ao Hostipal em Junho de 68.
Quanto ao nome das Enfermeiras Pára-Quedistas, tambem na minha cabeça pairam algumas incertezas, o tempo vai longe e a memória está fraca.
Penso que no meu tempo houveram duas enfermeiras de nomes ALICE e DULCE, mas hoje não tenho a certeza.
Quanto á duvida do nosso Camarada e Amigo Jorge Narciso, não poderia ter havido uma Enfermeira de Nome LAURA?
Naquele Hospital, quando chegavam as evacuações, dificil nos era ver quem eram as enfermeiras, a única de quem eu me lembro ter visto de corpo inteiro, foi a Sarg.Enf.Pára-Quedista Maria do Céu Pedro, por ter saltado do Helicóptero, dirigindo-se ao Laboratório de Sangue para fazer recolha para uma evecuação.

Minha amiga, acomode-se neste livro aberto e escreva as suas Histórias, que todos nós teremos muito gosto em conhecer.

Unm abraço
António Paiva

Luis Faria disse...

Cara amiga Aura

Anos atràs eras um nosso "Anjo alado"que descia dos ceus e nos trazia esperança,apoio e conforto,pelo que te agradeço de verdade.

De novo aterras entre nós,dando-me o prazer da companhia e o sabor das recordaçoes que poderás vir a contar.

Sê bem vinda

Luis Faria

Anónimo disse...

Nova Camariga Aura

Bem Vinda a esta nossa Tabanca, como mais uma representante desse grupo de Enf.ª a que chamavam os ANJOS DA GUARDA.

Felizmente que também não tive necessidade e contacto convosco, mas os vossos prestimosos e eficientes serviços e cuidados prestados foram valiosos para muitos.

Abraço
Jorge Picado

Carlos Vinhal disse...

Porque a nossa camarada Aura ainda não está treinada na arte de comentar, aqui deixo esta sua mensagem, recebida hoje mesmo:

Caros camaradas da Tabanca Grande,
Já vi no blogue a publicação da minha apresentação que vos enviei atráves do nosso grande amigo Miguel.

Obrigada pelas vossas palavras de carinho e amizade que sentem por todas nós.

É muito gratificante contar com amigos que por várias circunstâncias nos distanciamos mas que agora através da TABANCA podemos apertar mais os laços de amizade.

Também me sinto honrada por ser mais uma tertuliana e pelos vistos a mais "periquita".

Claro que sempre que puder dou notícias, tenho muitas histórias para partilhar convosco.

Bom fim de semana e votem bem Sorriso!!!

Um abraço,
Aura.

Henrique Cerqueira disse...

Cara Aura
Tenho o prazer de lhe prestar homenagem a si e a todas as Enfermeiras Para-quedistas.Foram a minha primeira imagem de tranquilidade na primeira emboscada em que caí quando esta no Biambi em 1972.Já fiz referencia neste blog num artigo dirigido aos "Gloriosos Malucos "das maquinas voadoras da Guiné.A vossa aparição ao saírem do Heli-transporte em pleno mato no vosso camufolado e camisola branca.Era o elemento mais tranquilizador que jamais poderão imaginar.
Um beijinho meu e da NI e muito bem vinda.
Henrique e NI