domingo, 13 de outubro de 2019

Guiné 61/74 - P20237: Pequeno Dicionário da Tabanca Grande, de A a Z (3): 2ª edição, revista e aumentada, Letra B

 

Guiné >  Região de Bafatá >  Galomaro >  CCS/BCAÇ 3872 (Galomaro, 171/74)

Binta, a bajuda mais bonita de Galomaro e arredores. Foto da coleção de Juvenal Amado (ex-1.º Cabo Condutor Auto Rodas da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74), autor do livro "A Tropa Vai Fazer de ti um Homem".

Foto (e legenda): © Juvenal Amado (2014). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Continuação da publicação do Pequeno Dicionário da Tabanca Grande (*), de A a Z, em construção, com o contributo de todos os amigos e camaradas da Guiné  que se sentam aqui à sombra do nosso poilão, e que até têm um livro de estilo.  Entradas da letra B:




BA12 - Base Aérea nº 12 (Bissau, Bissalanca)

BAC1 – Bataria de Artilharia de Campanha nº 1, mais tarde GAC7

  
Bacalhau - Aperto de mão

Badora – Regulado da região de Bafatá; morteiro 120 mm (PAIGC)

Baga baga – Termiteira (crioulo)

Baguera - Abelha (crioulo); ‘Baguera, baguera’!!!, era a expressão de aflição dos africanos quando atacados por abelhas, no mato

Bailarina – Mina A/P que rebentavam acima do solo, a meia altura

Bajuda - Rapariga, donzela, moça virgem (crioulo; lê-se badjuda)

Balafon - Instrumento da música afro-mandinga, antecedor do xilofone (crioulo)

Balaio - Cesto grande (crioulo)

Balanta Mané - Balanta islamizado

Baloba - Local de culto dos irãs, em geral uma pequena cabana, nas tabancas de populações animistas (crioulo)

Balobero - Feiticeiro ou curandeiro, sacerdote animista que realiza cerimónias nos locais sagrados, as balobas; cada balobero coloca o seu pote com água na baloba, junto ao poilão sagrado, para receber os poderes do mesmo e a poder usar nas cerimónias que realiza (crioulo): em português, Balobeiro

Banana - Rádio, equipamento de transmissões, AVP-1

Bandalho – Membro do “Bando do Café Progresso”, do Porto, tertúlia de ex-combatentes da Guiné

Bandim - Mercado de Bissau

Bandoleira - Correia permitindo o transporte de uma espingarda ao ombro ou a posição de tiro a tiracolo

Barraca - Acampamento temporário no mato (PAIGC)

BART - Batalhão de Artilharia

Básico - Soldado dos serviços auxiliares (afeto sobretudo à cozinha)


Batata - Nome de guerra do ten pilav António Martins de Matos (BA12, Bissalanca, 1972/74), autor de "Voando sobre um ninho de Strelas" (Lisboa: 2018)

Bate-estrada - Aerograma, carta, corta-capim

Bazuca (i)- LGFog (lança-granadas foguete, 8,7 cm); cerveja de 0,6 l (gíria)

Bazuca (ii) - Alcunha, na Academia Militar, do cap cav Fernando José Salgueiro Maia

Guião da CCP 122 /
BCP  12.
Fonte: Cortesia de
Tino Neves (2006)
Bazuca China - Lança Granadas-Foguete RPG-2 (PAIGC, gíria)

BCAÇ - Batalhão de Caçadores 

BCAV - Batalhão de Cavalaria


BCP - Batalhão de Caçadores Paraquedistas (o BCP nº 12 esteve na Guiné, o nº 21 em Angola e os nºs 31 e 32 em Moçambique);  o BCP era composto pelas CCP 121, 122 e 123



Bêbeda - Alcunha dada à viatura Fox MG-36-24, que pertenceu aos Pipas, foi sendo sucessivamente rebaptizada: BêbedaDiabos do Texas; esteve em Guileje desde 1965 a 1973.

Beijuda - Corruptela de Bajuda (gíria)

BENG - Batalhão de Engenharia

BENG 447 – Batalhão de Engenharia nº 447, Bissau

Bentém - Banco, baixo, onde os homens grandes se sentam, a conversar, em geral, à sombra do poilão da tabanca(crioulo)

Biafra - (i) Clube de Oficiais, no Quartel General, em Santa Luzia, Bissau; (ii) Bar dos pilotos, na BA12, Bissalanca (gíria)

Bianda - Comida; arroz, base da alimentação da população na época (crioulo)

Bicha de pirilau - Progressão, em fila, no mato, mantendo cada homem uma distância regulamentar de segurança (gíria); o mesmo que fila indiana

Bideiras - As vendedeiras ambulantes, que andam nas ruas de Bissau (crioulo)

Bigrupo - Força IN equivalente a c. 30: reforçado: c. 40 homens  (PAIGC)

BINT - Batalhão de Intendência

Bioxene – Álcool; estar com os copos (gíria)

Blufo - (i) Rapaz balanta não circuncidado;

Fonte: Casa Comum > Fundação Mário
Soares > Arquivo Amílcar Cabral
(com a devida vénia
rapaz inexperiente (crioulo; (ii) Orgão dos Pioneiros do PAIGC, publicação mensal
Boinas Negras - Fuzileiros


Boinas Pretas - Pessoal, africano, dos Pel Art, BAC1 / GAC7; nome do pessoal do CCAV 2482 (Tite e Fulacunda, 1968/70)

Boinas Verdes - Paraquedistas

Boinas Vermelhas - Comandos (depois de 1974); na Guiné, usavam a boina castanha do exército

Bolanha - Terreno alagadiço, próprio para a cultura do arroz (crioulo)

Bombolom - Instrumento musical, feito a partir do tronco de uma árvore; instrumento tradicional de comunicação entre aldeias balantas e manjacas (crioulo)

Bonifácio - Obus 11,4 cm, TR m/917, da I Guerra Mundial (termo da gíria dos artilheiros)

BOP - Bombardeameno a picar (FAP)

BOR - Embarcação civil, que navegava no Geba, com umas estranhas pás na popa

Brandão - Família da região de Tombali (Catió), mas também de Bambadinca (região de Bafatá), onde eram proprietários de "pontas" (hortas)

Bué - Muito, manga de (Não vem de Boé; termo do quimbundo de Angola; não se usava no nosso tempo) (gíria)

Bunda - Cú, traseiro (crioulo)

Burmedjus - Mulatos, mestiços, crioulos, cabo-verdianos (crioulo)

Burrinho - Viatura automóvel Unimog 411, a gasolina (mais pequena que o 404, a gasóleo) (NT) 





Guiné > Região de Tombali > Guileje > A Fox MG-36-24, que pertenceu aos Pipas, foi sendo sucessivamente rebaptizada: Bêbeda, Diabos do Texas... (Bêbeda, porque possivelmente gastava... "cem aos cem"!)...

Segundo Nuno Rubim, "a matrícula da Fox é a mesma que consta numa fotografia tirada por elementos do PAIGC em 25 de maio de 1973, quando ocuparam o quartel, três depois depois do seu abandono por ordem do comandante do COP 7. Portanto a Bêbeda ( que  fica para a história, representada com essa mesma inscrição no diorama de Guileje, que foi construído por Nuno Rubim para o Núcleo Museológico Memória de Guiledje ....) terá servido desde 1965 até 1973, integrada nos sucessivos Pel Rec Fox que por lá passaram"... A foto de baixo  foi gentilmente cedida pelo Teco (Alberto Pires), da CCAÇ 726.

Fotos (e legendas): © Nuno Rubim (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


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6 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Eh!, falta aqui uma entrada sobre a Berliet Tramagal!... Quem é que escreve duas linhas ?... LG

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Então, e o "barco turra" ?|... Imperdoável, fazia parte do nosso quotidiano e do nosso imaginário!... Alguém que faça duas linhas... LG

Fernando Ribeiro disse...

A palavra bué existe em quimbundo, mas não com o significado de "muito, manga de". É uma palavra derivada de bu, que é uma preposição de lugar, significando "junto a, perto de", e emprega-se em referência à pessoa com quem falamos ou a uma outra pessoa. Não há em português nenhuma palavra equivalente a bué em quimbundo. Não sei qual é a origem do significado que agora é atribuído a bué em português (esta palavra já está dicionarizada e tudo!).

Em quimbundo, "muito, manga de" traduz-se por kiavulu. Nada podia ser mais diferente de bué!

Mudando de tema e com referência à cor das boinas dos comandos, elas também eram castanhas em Angola. Por outro lado, os militares comandos da República do Zaire (atual República Democrática do Congo, também chamada Congo-Kinshasa) usavam boinas vermelhas, e não eram só as boinas. As botas deles também eram vermelhas! Apresentavam-se muito altivos e aprumados, mas na realidade eram indisciplinados. As aparências iludem.


Fernando de Sousa Ribeiro, ex-alferes miliciano da CCAÇ 3535, do BCAÇ 3880, Angola 1972-74

Valdemar Silva disse...

Dicionário da Porto Editora:
bué, do quimbundo mbuwe (abundância, fartura).

Valdemar Queiroz

Fernando Ribeiro disse...

Caro Valdemar, costuma ser difícil consultar um dicionário de uma língua bantu, como o quimbundo, sem ter um mínimo de conhecimentos de gramática da língua, por ausência de uma relação biunívoca entre muitos termos nessa língua e palavras ou expressões em português. Tudo depende das circunstâncias e dos contextos. Muitas vezes fechamos o dicionário frustrados e sem ter percebido patavina. Mesmo assim, aqui vai.

No Dicionário Kimbundo-Português, de A. de Assis Júnior, Luanda, s/d, encontra-se o seguinte:

Buê, adj. e pron (contr. da prep. bua e do pron. pesª. eie) De ti | Teu | Contigo | Para a tua ou pertencente à tua pessoa | Do teu: ng'ákatula bu— || adv. A' parte | Em separado: kala muiu ni — | No seu lugar || interrog. Onde ? | Em que lugar: u angi miiene — ? Quando ?

Por sua vez, para a palavra bua, referida acima, vem no mesmo dicionário:

Bua, adj. e pron. pl. (contr, da prep. bu e o pron. poss. ia) Delas; dêles | Com êles | Da pessoa dêles | Pertencente à sua pessoa (dêles) || adv. Nelas; neles | No seu lugar. | Na terra dêles: ndê — ngânji; ng'atundu — kuaku; o jingangula jaturila — Nexi. || — ene Deles mesmo | No seu verdadeiro lugar. | Com certeza.

Como se verifica, apesar da enorme confusão, não existe a mais pequena referência a abundância ou fartura, as quais são chamadas umonhi em quimbundo.

Eu acho que bué é mesmo calão de Luanda, de origem obscura, mas que entrou na linguagem corrente.


Fernando de Sousa Ribeiro, ex-alferes miliciano da CCAÇ 3535, BCAÇ 3880, Angola 1972-74

Valdemar Silva disse...

Caro Fernando Ribeiro.
Obrigado pela lição, aprendemos todos os dias.
A Porto Editora regista como advérbio coloquial.

Valdemar Queiroz