segunda-feira, 15 de agosto de 2022

Guiné 61/74 - P23527: O nosso querido mês de agosto, pós-pandémico: o que é ser português, hoje? (4): O melhor e o pior já estava dito em "Os Lusíadas", de Luís de Camões (1572) (Alberto Branquinho / António Graça de Abreu)



Capa de "Os Lusíadas", de Luís de Camões, 1ª edição, Lisboa, 1572.


CAMOES, Luís de, 1524-1580
Os Lusiadas / de Luis de Camões. - Lisboa : em casa de 
Antonio Gõçaluez, 1572. - [2], 186 f. ; 4º (20 cm)


1. Mais comentários ao poste P23518 (*):


(i) Alberto Branquinho  

Este, ainda não publicado, foi arrancado ao autor muito contra sua vontade. Não aceitava a sua divulgação.

PORTUGALADO

malfadado
malcriado
malparido
maldizente
maljogado
malandro
malvado
malvestido
malpago
malabarista
mal-agradecido
malquisto

MAL-AMADO !

12 de agosto de 2022 às 21:49 

(ii) Antonio Graça de Abreu 

Ser português é ser diferente de todos os outros povos do mundo. Mas qual é a diferença? É que somos diferentes e iguais a todos os outros povos do mundo. Tenho dois filhos de mãe chinesa, de Xangai, e eu, pai português. O João, o mais velho, hoje com 34 anos, era um miúdo quando, há vinte e tal anos atrás. viajámos largamente pela Europa. A meio da viagem o rapazinho saíu-se com esta: "Pai, afinal eu não sou português, nem chinês, sou europeu." 

Somos uns meio transviados cidadãos do mundo, com um grande defeito, a palavra e conteúdo INVEJA, com que Camões conclui Os Lusíadas. Mas a inveja não é privilégio português, grassa em catadupas por mil terras. (**)


Notas do editor:

(*) Vd. poste de 12 DE agosto de 2022 > Guiné 61/74 - P23518: O nosso querido mês de agosto, pós-pandémico: o que é ser português, hoje ? (1) : É estar no mundo como em casa (Telma Pinguelo, Toronto, Canadá, citando o etnólogo Jorge Dias)

(**) Último poste da série > 13 de agosto de 2022 > Guiné 61/74 - P23522: O nosso querido mês de agosto, pós-pandémico: o que é ser português, hoje? (3): Nos Camarões não há... camarões (Alberto Branquinho) / E já cá chegaram os meus netos, filho e nora para passar férias vindos dos Países Baixos (Valdemar Queiroz)

Guiné 61/74 - P23526: Notas de leitura (1475): BC 513 - História do Batalhão, por Artur Lagoela, execução gráfica no Jornal de Matosinhos, 2000 (1) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 13 de Janeiro de 2020:

Queridos amigos,
Esta preciosidade é uma edição comercial, tiragem de 300 exemplares, com execução gráfica no Jornal de Matosinhos e o autor da obra é o 1.º Cabo n.º 103763, Artur Lagoela, que expressa na introdução a sua grande admiração pelo Comandante do Batalhão. Documento formal, retirado de outros documentos, estruturado quase como um relatório. Trata-se de uma epopeia silenciosa e responde à grande injustiça de se manter no esquecimento o que militarmente se fez, com decisão, firmeza e combatividade no Comando-Chefe, quando toda aquela região Sul parecia imparavelmente na posse dos grupos do PAIGC. Documento de estudo: a adesão dos Fulas, o armamento que possuíamos, o uso de minas antipessoal e fornilhos por parte do PAIGC, as minas anticarro virão mais tarde, como gradualmente os armamentos da guerrilha irão melhorar, com poucas contrapartidas das nossas tropas. Insistia-se em contrariar os corredores de reabastecimento, tinha sido um abandono tão grande que a reocupação de muitos pontos custou os olhos da cara. Tornar-se-á moda, a partir de 1968, denegrir no que se fez e como se respondeu nos primeiros anos. A documentação oficial desmente esse mito e é bom encontrar livros como a história do BCAÇ 513 para se ver o heroísmo de que hoje ninguém fala.

Um abraço do
Mário



Um documento eloquente, peça de historiografia: A história do BC 513 (1)

Mário Beja Santos

Encontrei este livro na Biblioteca da Liga dos Combatentes, tem uma dedicatória do então Alferes Miliciano Sapador José Filipe da Cunha Fialho Barata: 

“Para a Liga dos Combatentes, de todos nós, combatentes do Batalhão de Caçadores n.º 513, que prestou serviço militar na Guiné, entre 25 de julho de 1963 e 25 de agosto de 1965, daqueles que por lá perderam a vida e daqueles que voltaram deixando lá parte dela, aqui fica um muito pouco de nós, num livro chamado "História do Batalhão" e também um grande reconhecimento que os combatentes sabem ter por quem nunca os esquece. 

A nossa história, essa, ficará sempre por contar. Ela seria o enorme somatório de todas as histórias, de todos nós, amalgamadas com todos os nossos sentimentos, todas as nossas indignações, angústias, inquietações, desesperos, raivas, medos, coragens, esperanças, desilusões, amizades, amores, tudo isso unido pela fortíssima argamassa que é a irmandade que nasce e perdura para sempre entre aqueles que foram combatentes”.

Que importância podemos atribuir a este documento? Esta unidade militar faz parte daquele elenco de batalhões que tinham Comando e CCS ao qual se iam agregando diferentes Companhias. Parecia destinada a Moçambique mas a intensidade da luta armada na Guiné exigiu vários desvios, um deles foi o BC 513. Embarcaram em 17 de março, tanto o Comando e a CCS como as CART 494, 495 e 496, como igualmente o Batalhão de Cavalaria 490. Desembarcaram e tinham à espera um graúdo problema logístico, não existiam quaisquer instalações para alojar todo aquele pessoal e guardar o material, estava-se em plena época das chuvas. Houve que distribuir os efetivos por um conjunto de instalações até que em 21 de agosto foram transferidos para a Escola das Missões. Em 31 de outubro, o Comando e a CSS vão para Buba. Fica-se a saber que o capitão Coutinho e Lima, que virá a responder, em 1973, pela retirada de Guilege, é o comandante da CART n.º 494. Às três unidades referenciadas ir-se-ão agregando também pelotões Fox e Daimler, um pelotão de morteiros e outras companhias de caçadores. Era a resposta de juntar com rapidez um conjunto de unidades destinadas a um setor onde campeava em cheio a subversão. Respondia-se à Ordem de Operações n.º 1/63, procurar contrariar a infiltração das forças subversivas, aniquilar grupos de guerrilha, recuperar populações, ocupar espaços abandonados. Havia igualmente que garantir a estrada Buba – Aldeia Formosa e criar condições de utilização da estrada Mampatá – Cacine. As unidades dispersam-se por Cacine, Aldeia Formosa, Ganjola, no setor de Catió. Inicia-se a atividade operacional num território em que há muitas tabancas completamente destruídas, as tropas irão viver nas piores condições, construindo paliçadas, abrigos, pistas para aviões.

O livro reproduz o relatório periódico do Comando, referente ao período de 8 a 24 de novembro de 1963. O inimigo é quantificado e qualificado, existem três importantes zonas de concentração de grupos de guerrilha, duas de simples passagem e uma isenta de atividades. “As áreas de concentração situam-se nas proximidades das regiões ricas em arroz e outros produtos de primeira necessidade, que são precisamente aquelas onde não há forças militares. Assim, temos a região do Incassol, nas margens do rio Corubal (Gã Gregório), a região do Forreá nas margens do rio Cumbijã (Bantael Silá) e a região do Cacine, na orla marítima (Campeane). As zonas de passagem são a região de Buba e a região fronteiriça de Ganturé – Guilege. Como zona isenta de atividade inimiga, temos a região de Aldeia Formosa – Contabane”.

A guerrilha recebe a tropa com flagelações, pretende prejudicar as ligações com Aldeia Formosa, pretende manter inacessível a região do Incassol. As minas anticarro chegarão depois, ao tempo os pelotões Fox e Daimler circulam com perigo mínimo. Procura-se recuperar o chão Fula, atrair populações às tabancas abandonadas, é o que irá acontecer em Colibuia. Será necessário progredir em direção de Guilege, instalando aqui um novo destacamento. Em Aldeia Formosa existe já uma milícia de auxiliares Fulas. A guerrilha pretende manter interdito o trânsito na área do Forreá, embosca frequentemente no eixo Buba – Nhala bem como os patrulhamentos na estrada Buba – Aldeia Formosa. Os fornilhos revelam a sua força destruidora. Nesse mês de novembro de 1963 o Tenente-Coronel Luís Gonçalves Carneiro descreve o estado disciplinar como bom, tem tropas moralizadas mas há preocupantes problemas sanitários.

Bem interessante é o que se escreve sobre a reocupação do chão Fula. São referenciados os regulados de Contabane, Forreá e Guilege, correspondente a uma extensão de fronteira de mais de quarenta quilómetros. No início de 1963, grupos armados do PAIGC atacaram e expulsaram das tabancas os Fulas, pretendiam total liberdade num corredor compreendendo Guilege – Mejo – Nhacobá – Buba – Fulacunda. Fora saqueada a tabanca de Salancaur Fula, onde vivia o régulo de Guilege. Todas estas populações tinham fugido; as casas de construção europeia em Salancaur Cul e Bantel Silá tinham sido destruídas. A reocupação é feita com cautelas, atentas as grandes dificuldades. Em 4 de fevereiro de 1964 reocupa-se Guilege, em 30 de março do ano seguinte a tabanca de Mejo, considerava-se que tinham sido criadas as condições para atingir Salancaur Fula e ligar Cumbijã através de Nhacobá e Samenau. Não havia um único europeu na região. Quando terminar a comissão do BCAÇ 513 ficarão distribuídas 700 armas pelas populações, trinta tabancas em autodefesa.

Os Fulas atuarão praticamente sozinhos, chefiados pelo chefe da tabanca de Mampatá, atuarão na região do Incassol, causando grandes destruições na guerrilha. Em novembro de 1964 começarão os ataques a Guilege, e com destruições.

Todo este período inicial visa a proteção da fronteira sul da Guiné, há as povoações de Cacine, Cacoca, Sangonhá, Ganturé, Gadamael, Guilege, Gandembel está destruída e Mampatá. A subversão manifestara-se inicialmente na região de Sangonhá, primeiro com grupos da FLING que serão ultrapassados pelo PAIGC, com o apoio dos Beafadas da região. Serão assaltadas casas comerciais de Gadamael Porto e Cacoca. O relatório recorda que ao entrar o BC n.º 513 no setor havia uma região totalmente abandonada, Guilege, e uma região totalmente controlada pelo PAIGC – Ganturé, Sangonhá, Cacoca, Cameconde e Campeane, era por esta região que se reabasteciam as bases do Cantanhez. Iremos ver seguidamente como se procurou reocupar a região fronteiriça, em que operações se envolveram ao longo de todo o ano de 1964.

(continua)

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Nota do editor

Último poste da série de 12 DE AGOSTO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23517: Notas de leitura (1474): "Histórias da C. CAÇ. 2533" - Os belos testemunhos da gentes da CCAÇ 2533 (2) (Mário Beja Santos)

domingo, 14 de agosto de 2022

Guiné 61/74 - P23525: Guidaje, Guileje, Gadamael, maio/junho de 1973: foi há meio século... Alguém ainda se lembra? (11): "Se eu de ti me não lembrar, Jerusalém", poema de Luís Jales de Oliveira (ex-fur mil trms, CCAÇ 20, 1972/74)


Capa do livro de poemas, do Luís Jales de Oliveira, "Corre-me um Rio no Peito", Mondim de Basto, ed. autor, 2010, 72 pp. ilustrado. Capa de Samara (João Campos). Prefácio de José Alberto Faria, Depósito Legal n.º 307277/10.


Mondim de Basto > 29 de agosto de 2019 > Junto ao monumento aos combatentes do ultramar > Da esquerda para a direita, a Nitas (Ana Carneiro Pinto Soares), o Luís Graça, o "Ginho" [o escritor e poeta Luís Jales de Oliveira] e Alice Carneiro.(*)

Foto (e legenda): © Luís Graça (2019). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]






In: Luís Jales de Oliveira - Corre-me um Rio no Peito. Mondim de Basto, ed. autor, 2010, 72 pp. ilustrado. Capa de Samara (João Campos). Prefácio de José Alberto Faria, Depósito Legal nº 307277/10-


1. O Luís Jales de Oliveira, carinhosamente tratado por "Ginho", na sua terra  natal, Mondim de Basto, é nosso camarada, membro da nossa Tabanca Grande desde 21 de janeiro de 2008 (*), tendo sido fur mil trms inf, Agrup Trms de Bissau e CCAÇ 20 (Bissau e Gadamael Porto, 1972/74).
 

É, sem favor, o autor de um dos mais belos poemas, que eu tenho lido, sobre a a Guiné e a guerra do ultramar / guerra colonial, de ressonância bíblica: "Se eu de ti me não lembrar, Jerusalém (Gadamael Porto, Guiné, 1973)" (**).

Lembrei-me dele, hoje, que a 83ª Volta a Portugal Continente chega à mítica Senhora da Graça, em Mondim de Basto (Paredes - Mondim de Basto - Senhora da Graça), atravessando também a não menos mítica EN 304, uma das mais belas estradas da  Europa. 

E telefonei-lhe: com felicidade, apanhei-o em casa. E, em 5 minutos, pusemos a conversa em dia. Problemas de saúde de um lado e do outro, não nos irão impedir de, ainda um belo dia destes, a gente se voltar a encontrar na sua terra e, desta vez, "subir" à N.ª Sra. da Graça. E eu lá, já sem as canadianas, quero  "rezar com ele"  o seu poema:

GRAÇA

No cimo do monte há uma capela,
E cada vez que olho para ela,
Apetece-me voar…
E humilde peregrino,
Vou em ânsias de menino,
Lá rezar.

No cimo do monte há uma capela,
E cada vez que entro nela,
Vivo um mistério profundo:
Senhora,
Que feitiço derramais,
Que o mais comum dos mortais
A teus pés é Rei do Mundo?

Fonte: Luís Jales Oliveira – Basto (poemas). [Mondim de Basto], edição de autor, 1995 [Obra, de 49 pp.,  subsidiada pela programa LEADER Probasto], pág. 43

Pelo telefone soube dos seus novos projetos, um livro que está pronto para ser lançado dentro em breve (ficando nós, aqui no blogue, a aguardar notícias para o poder divulgar) e outro, para o ano, sobre Gadamael. Lembre-se que foi em 7 de julho de 1973, que a sua CCAÇ 20, comandada pelo então ten grad 'comand0' Tomás Camará, acabada a instrução no CIM de Bolama, foi colocada em Gadamael e lá ficou até ao fim, até sua extinção em agosto de 1974, perfazendo pouco mais de um ano de existência (****). 
 

2. Ficha de unidade > Companhia de Caçadores n.º 20

Identificação; CCaç 20
Cmdt: Ten Grad Cmd Tomás Camará | Alf Grad Cmd Malan Baldé | 1.° Sarg Grad Cmd Quebá Debá
Início: 05Jun73 | Extinção: princípios de Ago74

Síntese da Actividade Operacional

Foi organizada, de 5 a 9jun73, no CIM, em Bolama, e foi constituída por pessoal natural da Guiné, de diversas etnias, na sua grande maioria já integrante de companhias de milícias, tendo realizado a sua instrucção de 11Jun73 a 7Jul73.

Seguidamente, foi colocada em Gadamael, como subunidade de intervenção e reserva do sector do COP 5, tendo realizado diversas acções ofensivas, patrulhamentos e emboscadas nas regiões de Cacoca, Lamoi, Madina e Sangonhá, entre outras.

Em princípios de Ago74, foi desactivada e extinta.

Observações: Não tem História da Unidade.

Fonte: Excertos de Portugal. Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961-1974 [CECA] - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974). 7.º volume: fichas das unidades. Tomo II: Guiné. Lisboa: 2002, pág. 641
___________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 30 de agosto de  2019 > Guiné 61/74 - P20110: Os nossos seres, saberes e lazeres (350): a mítica estrada nacional, EN 304, em pleno Parque Natural do Alvão, entre Mondim de Basto e Vila Real... E finalmente conheci o "Ginho", "ao vivo e a cores", na sua terra natal, em terras de Basto, na "Casa do Lago"...(Luís Graça)

(**) Vd. poste de 21 de janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2467: Tabanca Grande (54): Luís Jales, ex-Fur Mil Trms (Agr Trms Bissau e CCAÇ 20, Gadamael Porto, 1973/74)


(****) Último poste da série > 3 de agosto de 2022 > Guiné 61/74 - P23487: Guidaje, Guileje, Gadamael, maio/junho de 1973: foi há meio século... Alguém ainda se lembra? (10): o massacre do alf mil Artur José de Sousa Branco e do seu pequeno grupo, nas imediações de Gadamael, em 4/6/1973 (J. Casimiro Carvalho / Manuel Reis / Carmo Vicente / Manuel Peredo / Jorge Araújo)

Guiné 61/74 - P23524: Blogpoesia (781): "Na Foz do Douro" e "Uma andorinha do Arctíco", poemas ilustrados da autoria de Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547/BCAÇ 1887 (Canquelifá e Bigene, 1966/68)

© ADÃO CRUZ


Na Foz do Douro

Generoso abraço
verdade solitária
o mar infindo onde colhes as palavras
e o pequeno gesto da areia fina
riscada dos pés das gaivotas.
Entra-me nos olhos o mar como em ti
como tu tenho os olhos inundados de mar
mas fogem-me as sílabas férteis
que ele te põe nos lábios e nos versos.
A vibração das palavras de água
salva-me da paz sacrificial das rochas erectas e firmes.
Quase me sinto futuro aqui
a lembrar que o passado só existe para enganar o presente.
Sinto-me bem aqui
ao lado do possível e do impossível
na orla do silêncio das tuas palmeiras
saboreando o Sal da Língua como fruto roubado
que me liberta da longa noite acumulada na boca.
Arde em mim a luz de fogo que abre o mar e o peito
quando o sol se derrama e vai dormir.
Aqui eu sinto bem dentro dos sentidos
o esplendor da água fervente
e dos corpos entontecidos
que só podem amar-se no ventre do mar.
Um vento leve com cheiro a maçãs acaricia-me a face
trazendo pela mão a paz da tarde
e quase me adormece.
Perdi a página já não sei onde ia
também o sol se foi e com ele o dia.
Bate agora a noite com estrondo
no casco frágil da solidão.
Penso que tudo se vai desmoronar
talvez morrer
mas de novo retomados
teus versos dizem-me que não.


adão cruz


********************

© ADÃO CRUZ

Uma andorinha do Árctico

Abri o peito a uma andorinha do Árctico
vinda das auroras de frescura
trazia em cada asa um poema
e um abraço de ternura.
Trazia um sonho no bico
sonho que eu perdi
não sei onde nem quando
não sei se dentro de ti
não sei se na vida errando.


adão cruz

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Nota do editor

Último poste da série de 7 DE AGOSTO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23503: Blogpoesia (780): "Se eu fosse um avião", "A dor" e "Um sopro de vento", por Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547/BCAÇ 1887

Guiné 61/74 - P23523: In Memoriam (447): Gen João Almeida Bruno (1935-2022): cerimónias fúnebres na Academia Militar, capela do Palácio da Bemposta... E recordando também a sua memória da Op Ametista Real (Senegal, 1973), de que ele foi o comandante

 



Lisboa > Academia Militar > Palácio da Bemposta > 12 de agosto de 2022 > Cerimónias fúnebres do ten gen João Almeida Bruno (1935-2022). A capela da Bemposta estava cheia de familiares, amigos e camaradas; à hora em que se celebrou missa de corpo presente, às 14h00, seguindo-se o funeral para o Cemitério do Alto de São João, em Lisboa, a partir das 15h00. O nosso editor jubilado Virgínio Briote esteve lá e fez inclusive um vídeo que pode ser ser visto na página do Facebook da Tabanca Grande (12/8/2002, 19h34).

O nosso editor jubilado Virgínio Briote, ex-alf mil, ex-alf mil da CCAV 489/BCAV 490 (Cuntima) e alf mil 'comando, Comanos da Guiné, cmdt do Grupo Diabólicos, Brá; 1965/67), passou pela Academia Militar na primeira metade da década de 1960 e era amigo pessoal do falecido.

Foto (e legenda): © Virgínio Briote (2022). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Na hora da partida do brilhante e corajoso militar quer foi o general de 4 estrelas na reforma, João Almeida Bruno (1935-2022), , recordemos aqui um texto já antigo (1995), da sua autoria, sobre a Op Ametista Real, de que ele foi o comandante (**):

Op Ametista Real, 

por João de Almeida Bruno (1995)


(...) A operação mais importante que comandei foi, no entanto, na Guiné. O nome de código foi Ametista Real - eu sempre dei nomes de pedras preciosas às operações que comandei. Penso que, na altura, foi a operação de maior envergadura daquele tipo, fora do território nacional. Comandava então o Batalhão de Comandos Africanos que foi, julgo, uma das unidades que ganharam o Guião de Mérito, um estandarte especial que penso só ter sido também atribuído à unidade do então capitão de Infantaria Maurício Saraiva, meu grande amigo. De qualquer modo esses guiões estão hoje na Amadora.

A 16 de Maio de 1973 fui chamado de urgência ao Comandante-Chefe; o então general António de Spínola, que me traçou um panorama geral da guarnição militar de Guidage, junto à fronteira com o Senegal. Estava isolada por terra por causa dos fortíssimos campos de minas lançados pelo inimigo. As colunas logísticas, enquadradas por forças paraquedistas, não conseguiram romper. Era difícil o reabastecimento aéreo e a evacuação de feridos, por causa dos mísseis terra-ar Strela de que dispunha o PAIGC. E era grande o desgaste físico e psicológico da guarnição.

Tudo indicava que o inimigo pretendia lançar um assalto final a Guidage para tirar dividendos internos e externos. E, por isso, era necessário aliviar a pressão: o único caminho possível era pelo Norte, pelo território senegalês.

A missão foi dada de forma clara e simples: atacar a base inimiga de Cumbamory, que ficava uns cinco quilómetros a norte da fronteira. Era preciso, no mínimo, desarticular o dispositivo inimigo. Se possível, destruir a base ou, pelo menos, causar o maior número possível de baixas e destruir a maior quantidade possível de material.

Foi decidido transportar a força, em meios navais, de Bissau para Bigene. E lançar depois uma operação de curta duração, em terra, por forma a atacar a base inimiga a partir de uma base de ataque já instalada em território senegalês. "Limpar", por fim, a região de acesso a Guidage, recolhendo as nossas forças a essa povoação.

O apoio de fogos ficaria a cargo de seis baterias fixas de 10,5 e de helicanhões. Verificou-se que não eram possíveis reabastecimentos e evacuações por helicóptero. Os mortos e os feridos teriam de ser transportados para Guidage sem meios auxiliares, e a haver reabastecimento de munições ele teria de ser feito nos paióis inimigos detectados. Nada se sabia quanto à localização exacta do objectivo, a não ser que era na área da povoação senegalesa de Kumbamory.

Na tarde de 19 de Maio (de 1973) o batalhão embarcou para Bigene, onde chegou pouco antes do pôr-do-sol. Foram constituídos três agrupamentos, com uma companhia de comandos cada um. Eram comandados pelos capitães Raúl Folques (que ficaria gravemente ferido) e Matos Gomes e pelo capitão paraquedista António Ramos. Este comandava o agrupamento a que ficou adstrito o grupo especial comandado pelo alferes Marcelino da Mata, especializado em demolições.

Nele me integrei, o batalhão entrou em território senegalês pelas seis da manhã do dia 20. A artilharia de Bigene concentrava entretanto o seu fogo sobre o objectivo, mais como manobra de diversão do que como forma de destruição, uma vez que não era conhecida com rigor a localização da base inimiga. Hora e meia depois os agrupamentos estavam dispostos na base de ataque, a sul da povoação senegalesa.

Foi necessário cortar a estrada que corria paralela à fronteira e «reter» o comandante de um batalhão de paraquedistas senegalês que chegara entretanto em missão de reconhecimento. A conversa entre mim e ele foi cordial e amistosa. E franca, claro. O comandante senegalês sabia perfeitamente da existência da base do PAIGC, mas argumentava que ela ficava em território português. Pedia assim que abandonássemos rapidamente o Senegal e garantia que não iria haver nenhum incidente diplomático. E não houve.

Pelas oito horas a Força Aérea iniciou um pesado bombardeamento, a que se seguiu o assalto. Um pouco à sorte, já que não se sabia onde ficava a base. E a sorte foi decisiva.

Quase de imediato os dois agrupamentos que iam à frente detectaram vários depósitos de material de guerra. O terceiro agrupamento, que estava em reserva e logo deixou de estar, envolveu-se em violento combate com um forte grupo inimigo que dispunha de canhões sem recuo e de metralhadoras pesadas: defendia o depósito principal, o de foguetões de 122 mm.

Não é fácil descrever a acção. A tónica principal deve ter sido a confusão, não só a própria da batalha, como a decorrente do facto de se enfrentarem adversários da mesma cor e com armamento semelhante, e de ser impossível delimitar claramente a frente. E foi nesta grande confusão que o posto de comando aéreo teve um papel decisivo: os agrupamentos, correndo embora o risco de serem referenciados, iam indicando a sua posição com sinais pirotécnicos. Pela rádio, o posto de comando aéreo ia-me informando do movimento das tropas. Pelo meio-dia, a missão estava cumprida.

O agrupamento, que era comandado pelo capitão Folques ficou, a dada altura, praticamente sem munições. Foi então dada ordem de retirada, o que equivalia a continuar na direcção de Guidage. Foi um movimento lento, interrompido por vários e violentos combates, até que, pelas quatro da tarde, o inimigo abandonou o terreno.

Pelas seis da tarde as nossas tropas chegaram a Guidage. Depois continuaram a pé, até serem recolhidas, no dia seguinte, pela Marinha de Guerra, no rio Cacheu.

Os resultados conseguidos foram assinaláveis e foi aliviada a pressão sobre Guidage, cuja guarnição militar recuperou a iniciativa depois de rendidos os seus efectivos.

Não é sem uma ponta de orgulho que me vejo forçado a afirmar que nesta operação ficou patente o alto espírito agressivo dos Comandos Africanos, a sua capacidade excepcional de orientação na selva e a sua invulgar resistência física. Ficou também patente que os quatro oficiais europeus que comandaram a acção foram decisivos nos momentos mais difíceis, sobretudo pelo bom senso e capacidade de decisão que revelaram.

O inimigo sofreu 67 mortos. As nossas tropas 14 mortos (dos quais dois alferes), onze desaparecidos, mais tarde confirmados como mortos, e 23 feridos graves (dos quais três oficiais e sete sargentos). Ao inimigo foram destruídos 22 depósitos de material de guerra.(...)

Fonte: Autores vários - "Os Últimos Guerreiros do Império". Lisboa: Edições Erasmos. 1995, pp. 72-75. (Excertos, reproduzidos com a devida vénia...) (**). Na altura (1995), o autor era tenente-coronel.
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 11 de agosto de  2022 > Guiné 61/74 - P23515: In Memoriam (446): Gen João Almeida Bruno (1935-2022), que esteve connosco no CTIG, foi comandante da mítica Op Ametista Real, à frente dos seus bravos Comandos da Guiné, e participou depois no 25 de Abril

sábado, 13 de agosto de 2022

Guiné 61/74 - P23522: O nosso querido mês de agosto, pós-pandémico: o que é ser português, hoje? (3): Nos Camarões não há... camarões (Alberto Branquinho) / E já cá chegaram os meus netos, filho e nora para passar férias vindos dos Países Baixos (Valdemar Queiroz)





Cadaval > Vilar > Vila Nova > Serra de Montejunto > 20 de agosto de 2015 > Moinho de vento, de tipo mediterrânico, usado para moer cereais:  O "Moinho de Aviz", dizem, é o mais alto (e talvez o maior) da península ibérica... E "canta" graças ao seu sistema de cabaças de barra...É do nosso amigo Miguel Luís Evaristo Nobre (Vilar, Cadaval) que, em vez de comprar um apartamento em Lisboa, construiu  um moínho de raíz, com três pisos (ou melhor, restaurou uma ruína)... Além de moleiro, é o único "engenheiro de moinhos" certificado (no ofício de restauro e manutenção de moinhos de vento) em Portugal. Ser português é também ter paixão por moinhos de vento... , "ver o padeiro ou a padeira"... e adorar comer "casqueiro" (LG).

Foto (e legenda): © Luís Graça  (2015). Todos os direitos reservados. [Edição:  Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Países Baixos > Um exemplar dos moínhos de vento holandeses usados, até à década de 1970, na drenagem dos pólderes.

 Imagem (s/d, s/l) inserida no poste de 23 de março de  2019 > Guiné 61/74 - P19615: Os nossos seres, saberes e lazeres (313): Viagem à Holanda acima das águas (17) (Mário Beja Santos).. Como soi dizer-se, "Deus fez o mundo, e os holandeses fizeram a Holanda".


1. Mais comentários ao poste P23512 (*) com respostas à pergunta: "O que é ser português hoje ?" (**)

(i) Alberto Branquinho:

Olá, José Belo: Não consigo fazer contraditório nem "acrescentatório" ao teu texto (*). Venho só dizer (acrescentar, afinal) que, para além da necessidade de sair de Portugal para "respirar liberdade", que tu referes, há que não esquecer que a sua (dele, E. L., Eduardo Lourenço) pequena aldeia do concelho de Almeida ("Alma até Almeida!") confina com Espanha e tem Vilar Formoso - a fronteira legal para ir para a Europa - ali mesmo à mão de semear - o que poderá fazer um adolescente sonhar. Não esquecendo os contrabandistas. Estes ficavam-se por perto, mas não os "passadores" (que, no devido tempo, ninguém me apresentou um).

Mas decidi escrever para contar um episódio a que assisti na Gulbenkian, talvez em 2004, que envolveu E. L..

Presidia ele a uma Mesa de uma sessão sobre literatura francófona (salvo erro). Apresentou o orador - um escritor dos Camarões - e fez um trocadilho com a palavra "camarões" (em francês, "crevettes").

A assistência achou graça. Sorridente (com aquele seu sorriso), deu a palavra ao orador-convidado.
O escritor camaronês fez os agradecimentos da praxe e, depois, virando-se para E.L., em tom seco, disse qualquer coisa como isto:

- Je voulais dire a Mr. le Président q'il n'y a pas de crevettes dans mon país.(Gueria dizer ao senhor presidente que no meu país não há camarões).

Foi nítido o incómodo de E.L. que agarrou (como era seu hábito) os óculos por uma das hastes e os rodava de olhos fixos no palestrante.

Abraço
Alberto Branquinho


(ii) Valdemar Queiroz:
 
O que é ser português ?

Mas, depois de três dias de viagem a atravessar a França e, por não aguentar mais tempo, uma directa de San Sabestian pra chegar a Bragança. Uf!, chegar a Portugal, e começar logo a sentir a diferença do calor, do cheiro, ver o céu azul, tudo diferente mas nunca esquecido, e ouvir 'bócê nem sabe o calor pro aqui'.

Depois, é só passar por Valverde, Vale do Porco, Vilar de Rei e chegar a Mogadouro, estacionar a autocaravana no Parque de Campismo e descansar para viajar em Portugal.

Parece que estes imigrantes dos anos 2000 já não se sentem imigrantes, antes vão trabalhar para outras paragens...mas a razão é sempre a mesma: um país com mais conventos que palácios e fábricas, ter mar à porta de casa.

Assim cá chegaram os meus netos, filho e nora para passar férias vindos dos Países Baixos.

O que é ser português?... Cito Guilherme Duarte > Por falar noutra coisa > 31 de jneiro de 2014 > Ser português é...:

(...) "Ser português é desenrascar. É encontrar caminho sem perguntar. Ser português é pedir indicações e ter logo a ajuda de vários estranhos. Ser português é tentar a borla seja do que for. Ser português é oferecer só porque se simpatizou com alguém. Ser português é ter os melhores lá fora porque é lá fora que se faz o melhor. Ser português é ter o mar no horizonte e nunca olhar para terra, é seguir em frente até o mar acabar, é descobrir, sonhar e inventar. Ser português é conquistar, é dar porrada na mãe, é dizer não e expulsar os mouros e os espanhóis. Ser português é esquecer". (...)


11 de agosto de 2022 às 16:03 

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 10 de agosto de 2022 > Guiné 61/74 - P23512: Notas de leitura (1473): Eduardo Lourenço (1923-2020): afinal, quem são os portugueses, e o que significa ser português? (José Belo, Suécia)

Guiné 61/74 - P23521: Os nossos seres, saberes e lazeres (518): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (63): Voltar à minha querida Bruxelas, depois da pandemia - 1 (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 21 de Junho de 2022:

Queridos amigos,
Cheguei eufórico a Bruxelas, é a primeira viagem no continente desde aquele março de 2020 em que passei semanas a limpar a casa, a devorar livros, a ver as óperas que tão graciosamente a Metropolitan Opera House de Nova Iorque oferecia, a telefonar a meio mundo, por ora são relíquias do passado, ainda não ganhei consciência de como o mundo mudou. Bruxelas sofreu as mesmas transfigurações que aqui provamos, muitas lojas fechadas, profundas alterações na oferta, mas é talvez, depois de Londres, a cidade mais cosmopolita de toda a Europa, aqui trabalham povos de todo o mundo. A grande deceção são as exposições, já me falta a paciência para ver pedregulhos ou fieiras de metal e os arbustos, a que chamam instalações, ou aquelas telas com seis pinceladas, umas mais berrantes que as outras,todas elas intituladas sem título. Decidi reviver o passado, o primeiro dia a percorrer Marolles, igrejas e o museu Magritte, é sempre uma lavagem para a alma. Amanhã o dia será em Namur, viaja-se barato de comboio, quem me espera vai ficar de olhar arrelampado quando lhe disser que ela é a heroína subliminar do meu romance A Rua do Eclipse. Então sim, iremos passear por Meuse e contemplar a arte fantástica de Félicien Rops.

Um abraço do
Mário



Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (63):
Voltar à minha querida Bruxelas, depois da pandemia - 1


Mário Beja Santos

Era o regresso a Bruxelas, depois da pandemia, a última visita fora no ano anterior. Do aeroporto de Zaventem toma-se o comboio para a Gare Central, aqui o metro até Herrmann-Debroux, daqui até Avenue du Geai, em pleno Watermael-Boitsfort, é um salto. Sinto-me praticamente em casa, ocorreu-me uma estranha lembrança, passou-se em meados de março de 1968, regressava de São Miguel para formar batalhão num regimento na Amadora. Cheguei a casa e tive a sensação que saíra na véspera, tudo arrumado como eu deixara, naturalmente que andara por ali o pano da limpeza, não era visível um grão de pó, deu gosto conversar com as minhas coisas. O mesmo ocorrera durante a viagem de comboio, a confirmação dos lugares, as igrejas, as estações ferroviárias, os mesmos sons de apito a mandar seguir a composição. Chego e é uma festa de amizade, proponho um passeio ali bem perto, ao Parc Seny, vamos para a natureza e desfiar recordações sobre estes últimos anos, tão difíceis para quem me recebe, não há nada como a viva voz superar o que se foi dizendo ao telefone ou mandou por mail. E de braço dado reenceta-se a festa da amizade, o doce reencontro de espaços e lugares.
Estás na mesma, meu adorável parc Seny, famílias e crianças estridentes, as brotoejas em flor, o parque confina com a floresta de Soignes, é uma vegetação delicadamente ajardinada, há para ali uns periquitos selvagens a fazer ninho, o lago tem o seu encanto, até as árvores mortas ornamentam este belo lugar de lazer. Conversa-se muito, regressamos, há muitas saudações à mesa, lembramos os que partiram, programamos esta semana de convívio que hoje começa, tão ansiada. Sim, amanhã começamos por onde tu gostas de começar, Marolles, é inevitável a feira da ladra, passeamos pelo bairro, tudo tão ao teu gosto, alguém recorda que gostava que fôssemos todos ao museu Magritte, na parte da tarde, tudo aceite. É um dia seguinte cheio de promessas.
Como aconteceu. Já se fez a praça do Jeu de Balle, quem me diria que me fizera comprador de ações e obrigações de há um século atrás de companhias de transportes ferroviários de Odessa, Moscovo, Xangai, Buenos Aires, papéis lindíssimos, cheios de cupões, fora tudo bem regateado, coisas de colecionador eclético, mas que dão indiscutível prazer. E passo a fazer a vigilância das paredes entre Marolles e o Grand Sablon, as paredes grafitadas são um encanto, não conhecia esta intervenção, importa registá-la, o passeio continua, estamos a ganhar lastro para uma boa almoçarada.
Coloco estas duas imagens neste artigo e importa explicá-las. Passei por aqui inúmeras vezes sem me dar conta do encanto desta montra de uma loja de adelo, e quanto à rua dos Tanoeiros nunca tinha dado pela boa escala deste quarteirão social, é um bairro dominado por população emigrante, é um prazer o vestuário africano berrante e ver passar gente do Magrebe. É nestas circunstâncias que me ocorre sempre o que José Saramago escreve no final do seu livro Viagem a Portugal, 1981: “O fim de uma viagem é apenas o começo de outra. É preciso ver o que não foi visto, ver outra vez o que se viu já, ver na primavera o que se vira no verão, ver de dia o que se viu de noite, com Sol onde primeiramente a chuva caía, ver a seara verde, o fruto maduro, a pedra que mudou de lugar, a sombra que aqui não estava. É preciso voltar aos passos que foram dados, para os repetir, e para traçar caminhos novos ao lado deles.”
Por esta é que eu não esperava, entrar num verdadeiro ferro velho, ali dominava o mobiliário e eis que subitamente se olha para um barco emoldurado e se fala consigo próprio, mas é o Santa Maria, onde o capitão Henrique Galvão andou a fazer as suas tropelias. E era mesmo, era uma fotografia do Santa Maria, o adeleiro pedia um preço exorbitante, 70€, além disso intransportável em voo low cost, mas gostei deste encontro com um dos ícones do que foi a nossa marinha mercante.
A Queda de Ícaro, Bruegel, o Velho

Entrámos todos na Igreja de Nossa Senhora da Capela, não só nos une uma grande amizade como todos nós gostamos seriamente de Pieter Bruegel, o Velho, um génio do renascimento, morreu com cerca de 40 anos, consta que só temos para dele fruir 40 quadros, alguns deles estão aqui bem perto no Museu Real das Belas Artes, felizmente que deixou sucessores, logo Bruegel, o Moço, formou-se uma grande empresa, há uns bons anos vi a exposição sobre a firma Bruegel, tão produtiva que os mais representativos museus do mundo têm obras suas. Pieter era flamengo, irá instalar-se em Bruxelas, trabalhou para a corte dos Habsburgo e para o cardeal arcebispo de Malines. Vezes sem conta subo ao Museu Real das Belas Artes só para ver um dos seus quadros mais espantosos, A Queda de Ícaro.
O púlpito da Igreja de Notre-Dame de la Chapelle
É o último passeio da manhã, sempre conheci esta igreja pelo nome de Notre-Dame du Sablon, afinal o seu verdadeiro nome é Notre-Dame des Victoires au Sablon, iniciada no século XV, gótico flamejante, relativamente poupada pelas guerras de religião e pela Revolução Francesa; foi restaurada no século XIX. Funcionou como igreja de peregrinação, ainda hoje há uma importante cerimónia na Grand Place em que a estátua da Virgem vai em procissão, é uma evocação da receção a Carlos V e Filipe II. Foi chamada a visita de médica, voltou-se à rue Blaes, vamos experimentar comida libanesa, nesta altura ainda não sabíamos que antes de visitar o museu Magritte íamos dar uma saltada ao centro cultural da Coreia, uma verdadeira surpresa.
(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 6 DE AGOSTO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23499: Os nossos seres, saberes e lazeres (516): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (62): De novo em São Miguel, é infindável a romagem de saudade - 6 (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P23520: O nosso querido mês de agosto, pós-pandémico: o que é ser português, hoje? (2): Sou transmontano, orgulhoso por necessidade, como todos os homens das montanhas, mas identifico-me mais com Portugal quando, raramente, estou lá fora (Francisco Baptista, Brunhoso, Mogadouro)


Capa do livro do Francisco Baptista, natural de Brunhoso, concelho de Mogadouro, Terra Fria, Nordeste Transmontano, "Brunhoso, Era o Tempo das Segadas - Na Guiné, o Capim Ardia" (Edição de autor,  2019, 388 pp.)




1. Comentário (*) de Francisco Baptista, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2616 / BCAÇ 2892 (Buba, 1970/71) e CART 2732 (Mansabá, 1971/72), natural de Brunhoso, Mogadouro:

Do "Labirinto da Saudade",  Camões não pertence a ninguém, mas na medida em que emprestou forma à existência e ao ser ideal da "pequena casa lusitana" e assim a subtraiu à informe existência histórica empírica, a ele pertencemos.

Pela poesia lírica e pelos "Lusíadas", o grande poema heroico português que, ao cantar a história de um passado glorioso nos quer projectar para um futuro venturoso, eu na minha pequenez e humildade, considero-me um filho espiritual da Pátria que ele nos legou. 

Fernando Pessoa é uma águia que voou muito alto e que por vezes se torna difícil de interpretar, quando o conheci um pouco melhor, já tinha assimilado a lição de Luís de Camões.

Sou transmontano, orgulhoso por necessidade, como todos os homens das montanhas, onde há mais urze, silvas e torga, com raízes fundas nessa terra pobre, que me identifico mais com Portugal quando, raramente, estou lá fora.

Obrigado, José Belo, obrigado, Luís Graça. Gosto destes temas, aquecem-me o cérebro. (**)
Abraço.

10 de agosto de 2022 às 17:15


2. Comentários a este comentário do Francisco Baptista (*):

(i)  José Belo:

“Que me identifico mais com Portugal quando estou lá fora”...

Meu Caro Amigo e Camarada Francisco Baptista: Quando o “lá fora” é um aqui, ali e acolá, as identificações tornam-se… esquizofrénicas!

E surge a pergunta de um tal Fernando Pessoa: “Será que alguma vez vou poder compreender o nada que sou?”

10 de agosto de 2022 às 21:30
 
(ii) Antº Rosinha

O português lá fora é mais português e menos bairrista, se for transmontano pode ir às festas da casa do Minho ou das Beiras, se for algarvio pode ir ao clube transmontano e assim por diante.

Lá fora o "lagarto" pode torcer pelo "Porto", cá é tudo contra o "Norte"... até os comemos!

10 de agosto de 2022 às 22:24
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Notas do editor:


(**) Último poste da série > 12 de agosto de 2022 > Guiné 61/74 - P23518: O nosso querido mês de agosto, pós-pandémico: o que é ser português, hoje ? (1) : É estar no mundo como em casa (Telma Pinguelo, Toronto, Canadá, citando o etnólogo Jorge Dias)

sexta-feira, 12 de agosto de 2022

Guiné 61/74 - P23519: (In)citações (214): Reflexão escrita “à moderna”, a fim de que todos entendam - Vinte e cinco por cento de ilusão (Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 / BCAÇ 1887, Canquelifá e Bigene, 1966/68)

© ADÃO CRUZ


VINTE E CINCO POR CENTO DE ILUSÃO

(Reflexão escrita “à moderna”, a fim de que todos entendam)

adão cruz

Não te zangues, porque ninguém se enamora de alguém com público carimbo na cara.
Quem de nós sente a liberdade ou a prisão de um devaneio, com alguma elegância de formas tece as malhas de uma afeição.
Vinte e cinco por cento de ilusão neutraliza a depressão, faz dormir que nem um justo e as coisas são o que são, nem surpresa nem desdobramentos de personalidade nem pensamentos duplos nem amargos de lágrimas.
Como é bom conversar contigo ó ilusão, assim calado e mudo, vazio da minha posse e do meu abrigo.
Sempre nos perdemos naquele instante que começa a dominar, mas é uma fraca ideia pensar ir longe e, sem ir, ter a sorte de voltar.
Deste mundo à real intimidade vai um passo cerimonioso, sonhador, penetrante, mas sem cor, sem brilho, sem sentido, de fonologia perfeitamente evitável se a desconjuntada linguística não lhe chamasse poesia.
Surpreende apenas o delírio, escondendo o vivo interesse da inconsequência que é ensejo de todos nós.
Surpreendem as razões inquietas das pessoas equivocadas que gemem angústias no conspurcar dos seus intentos.
Vinte e cinco por cento de ilusão impede de adormecer às três e acordar às cinco, não desonra amigos nem inimigos e não dá ares de inocência falsa.
Vinte e cinco por cento de ilusão é sentimento que garante provas positivas e faz acreditar na ideia de que se pode entender o que não tem entendimento.
Vinte e cinco por cento de ilusão leva-nos a crer que o regime simbólico com que pensamos e habitamos a experiência do mundo é sempre propriedade dos nossos sistemas cognitivos, bem como a garantia da circularidade simbólico-cognitiva que pode resultar numa unidade espontaneamente congruente.
Com vinte e cinco por cento de ilusão, não acreditando em nada, acredito agora, com nobre intenção, voz clara e firme, sem mostras de arrependimento nem buscas de coerência nem condições de entender, que o idiota é crer no poder do entendimento de toda a merda que se escreve e não dá para entender.

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Nota do editor

Último poste da série de 9 DE AGOSTO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23508: (In)citações (213): Testamento, de Ana Luisa Amaral (1956-2022)... E homenagem a uma grande voz feminina da língua portuguesa (Luís Graça / Laura Fonseca)

Guiné 61/74 - P23518: O nosso querido mês de agosto, pós-pandémico: o que é ser português, hoje ? (1) : É estar no mundo como em casa (Telma Pinguelo, Toronto, Canadá, citando o etnólogo Jorge Dias)

1. O José (Joseph, para os suecos, os lapões ou "suomi", os americanos, etc.) Belo, talvez o mais "estrangeirado" dos membros da "diáspora  lusófona" da Tabanca Grande (que vai de Toronto a Sidney, passando por Macau), lembrou-se, a alguns dias ou semanas de voltar a Key West, Florida, EUA, de nos lançar um saudável, criativo, senão mesmo provocador mas divertido desafio, muito ao seu jeito, feitio e gosto;

 "Afinal, quem somos, hoje, nós,  os portugueses e os descendentes de portugueses?"... 

Inevitavelmente o nome do grande vulto da cultura portuguesa do séc. XX,  Eduardo Lourenço (Almeida, 1923- Lisboa, 2020) veio  à baila (*):


(...) "No 'Labirinto da Saudade', Eduardo Lourenço  afirma que a literatura histórica portuguesa se pode ler como uma busca de resposta às perguntas: Quem são os portugueses? O que significa ser-se português?

Com início em Camões, Eduardo Lourenço identifica todo um irrealismo que engloba o espírito português. Uma mistura de grandiosidades,  lado a lado com profundo complexo de inferioridade.

Segundo ele, a imagem histórica de Portugal não é resultante de observações baseadas em realidades. Resulta antes de sonhos político-ideológicos criados por uma minoria urbana, como referido pelo realismo de Eça de Queiroz. Uma aristocracia (e burguesia) endinheirada sempre com o pé no estribo do 'Sud-Express', arrastando-se para uma Europa onde se produz a verdadeira cultura e o conhecimento.

A existência de um mítico 'povo simples' torna o diálogo literário entre estes polos opostos num… monólogo literário limitativo. É neste espaço (ou contradição) entre a 'falta' e o 'regresso' que, segundo ele, surge a palavra 'saudade'."(,,,)

2. O "nosso querido mês de agosto, pós-pandémico" não é o mais apetecível para "blogar"... Pelo contrário, é mais indicado para "folgar" (praia, campo, festivais, festas, viagens, petisqueira, convívio, amigos, família...).  Mas, por tradição ou pirraça, o raio do blogue recusa-se a fazer "férias"... Há dezoito anos que não faz "férias". 

Até quando ? Não sabemos, quando o blogue fizer "férias" é mau sinal... É como a história do frango e do pobre (hospitalizado): "Quando o pobre come frango, um dos dois está doente"... Caro leitor, quando o blogue começar a fazer gazeta, é caso para desconfiar... e chamar o 112...

Mas, voltemos à "provocação" do Joseph Belo, o nosso "luso-lapão" que agora também já é meio "amaricano": 

(...)   "A fins deste mês volto para Key West e, por lá, os meus tempos dedicados à “com-puta-gem” perdem prioridade frente ao Sloppy Joe’s Bar." (que é o "Sempre em Festa" lá do sítio)...

 A brincar, a brincar, meio a blogar e meio a folgar, a rapaziada (e porque não também a raparugada ?!) lá foi debitando matéria sobre o tema, "o que é ser português, hoje, em 2022"...

O que é ser português ? Boa pergunto, responde o nosso editor, LG... Pergunta que os portugueses "cá de dentro" não fazem (a não quando "provocados" ) nem sequer sabem responder (a menos que "obrigadps")... 

Parece que é preciso a gente ir para lá fora, para o "estrangeiro", para ganhar a suficiente distância e sentir a tal "saudade" e perder-se no seu "labirinto"... Como eu, que uma noite de verão e de tempestade cheguei a um parque de campismo perto de Guernica / Gernika, e quando estava a montar a tenda, começo a ouvir, no altifalante, a voz da Amália em a "Estranha Forma de Vida"... E, depois a seguir, o "Grândola, vila morena"... Hà emoções sentidas fora da nossa terra, que são indescritíveis e que nos marcam para sempre... Eu que gostava da Amália q.b., passei a ouvi-la com emoção, quando ela morreu... 

2. Leia-se então esta reflexão de Telma Pinguelo, jornalista, natural de Aveiro, apaixoanda pelo Canadá. A primeira intervenção, publicada na caixa de comentários ao poste P23512 (*), é nada menos desta jovem  "portuga", radicada no Canadá...e que faz questão de dizer que o que mais ama naquele país que a acolhei é justamente a sua "diversidade cultural"...

Esperamos que ela, a Telma Pinguelo,  não nos leve a mal a ousadia de reproduzir aqui a sua estimulante crónica na Revista Amar, que secionámos para dar o pontapé de saída à discussão sobre a nossa identidade, ou melhor, sobre o significado de ser-se português, hoje, aqui e em toda a parte... (Com a devida vénia... Adaptação / revisão / fixação de texto / negritos: LG)




 

O que é ser português? É a pergunta que volta e meia paira no ar e tema que ouvi ser inúmeras vezes debatido durante os anos em que tenho convivido com a comunidade lusa em Toronto.

Os nossos clubes e associaçōes têm de momento em mãos a difícil tarefa de passar as suas casas, tão arduamente construídas, para as mãos das novas geraçōes. É difícil porque os modelos de organização e também muitas tradiçōes que alegravam os nossos pais e avós estão a cair em desuso e já não cativam os jovens. 

Independentemente do que agrada a uns e a outros, o certo é que, seja qual for a idade ou situação, todos partilhamos do mesmo sentimento: amamos ser portugueses. Se há tantas diferenças de como celebramos, do que gostamos e do futuro que envisionamos… o que é, afinal, esta coisa de ser português?

Se pergunto ao condutor do Uber que me leva a casa, ele diz “Portuguese chicken”, os meus colegas dizem “Cristiano Ronaldo”, num encontro de amigos falam-me das “férias com paisagens lindas, deliciosa comida e ainda melhores bebidas”, nos eventos fala-se de “fado” e nos jantares vem sempre à conversa o famoso pastel de nata, aqui batizado “Portuguese custard tart”.

Mas então é isto? Será que ser português se resume a frango de churrasco, futebol, turismo, música, vinhos e bolos? Tenho a certeza de que existe muito além das belezas, sabores e conquistas deste nosso país plantado à beira-mar. O que mais faz de nós portugueses ? A língua, o território, o passaporte?

O povo português nunca teve, nem tem, problemas de identidade. Ainda que a resposta não esteja na ponta da língua, não é por isso que ela deixa de existir. Antes pelo contrário. Esta é uma daquelas situaçōes em que andamos à procura das chaves pela casa toda e depois damos conta que afinal estiveram sempre no bolso do casaco que temos vestido. É o que eu vejo acontecer com esta pergunta. Esquecemo-nos de olhar para dentro.

Eu digo que ser português está naquilo que não se saboreia, não se vê nem se toca. A portugalidade está no nosso caráter. 

O etnólogo português Jorge Dias publicou na década de 50 um livro chamado “Os Elementos Fundamentais da Cultura Portuguesa”, no qual faz um resumo daquilo que seria a nossa personalidade geral. Jorge Dias diz que:

  • o português é “ao mesmo tempo sonhador e homem de ação”, ou seja, “um sonhador ativo que mantém sempre um olhar realista sobre os seus objetivos”;
  • é "humano e sensível, amoroso e bondoso, contudo, sem ser fraco";
  • "não gosta de fazer sofrer e evita conflitos";
  • "mas quando ferido no seu orgulho pode ser violento e cruel";
  • "tem um grande sentido de fé";
  • "tem uma ligação muito forte com a sua natureza e herança";
  • "é  individualista, mas tem uma forte solidariedade humana";
  • "tem espírito crítico e trocista e uma ironia pungente”.

Pegando nas palavras de Jorge Dias, eu acrescento: 

o português: (i)  traz na alma a inspiração de Luís Vaz de Camōes, (ii) a ousadia de Bocage, (iii) a inquietude de Saramago, (iv) leva no peito a libertação da Revolução dos Cravos, (v) a coragem dos navegadores dos Descobrimentos e (vi) pratica diariamente o verso de Fernando Pessoa “tudo vale a pena quando a alma não é pequena”.

Mesmo com a globalização e os crescentes fluxos migratórios, os portugueses espalhados pelo mundo continuam a manter a essência da sua identidade. A verdadeira portugalidade acontece nos empregos em que somos conhecidos como um povo trabalhador, nos nossos círculos sociais em que somos calorosos e acolhedores, acontece em cada uma das nossas mesas em que há sempre espaço para mais uma pessoa.

Ser português é falar de uma História que não é perfeita, mas que nos tornou no que somos hoje. Somos lutadores, resilientes, somos um povo guerreiro, endurecido pelas batalhas travadas ao longo dos tempos e sofrido com a tão nossa saudade. O encanto é que embrulhamos tudo isso com a também muito nossa bondade, hospitalidade e fé.

Sim, há algo em ser português que é especial. É a nossa vocação de “estar no mundo como em casa”, assim o diz muito bem o autor Jorge Dias. Feliz Dia de Portugal!

Telma Pinguelo