sábado, 13 de agosto de 2022

Guiné 61/74 - P23520: O nosso querido mês de agosto, pós-pandémico: o que é ser português, hoje? (2): Sou transmontano, orgulhoso por necessidade, como todos os homens das montanhas, mas identifico-me mais com Portugal quando, raramente, estou lá fora (Francisco Baptista, Brunhoso, Mogadouro)


Capa do livro do Francisco Baptista, natural de Brunhoso, concelho de Mogadouro, Terra Fria, Nordeste Transmontano, "Brunhoso, Era o Tempo das Segadas - Na Guiné, o Capim Ardia" (Edição de autor,  2019, 388 pp.)




1. Comentário (*) de Francisco Baptista, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2616 / BCAÇ 2892 (Buba, 1970/71) e CART 2732 (Mansabá, 1971/72), natural de Brunhoso, Mogadouro:

Do "Labirinto da Saudade",  Camões não pertence a ninguém, mas na medida em que emprestou forma à existência e ao ser ideal da "pequena casa lusitana" e assim a subtraiu à informe existência histórica empírica, a ele pertencemos.

Pela poesia lírica e pelos "Lusíadas", o grande poema heroico português que, ao cantar a história de um passado glorioso nos quer projectar para um futuro venturoso, eu na minha pequenez e humildade, considero-me um filho espiritual da Pátria que ele nos legou. 

Fernando Pessoa é uma águia que voou muito alto e que por vezes se torna difícil de interpretar, quando o conheci um pouco melhor, já tinha assimilado a lição de Luís de Camões.

Sou transmontano, orgulhoso por necessidade, como todos os homens das montanhas, onde há mais urze, silvas e torga, com raízes fundas nessa terra pobre, que me identifico mais com Portugal quando, raramente, estou lá fora.

Obrigado, José Belo, obrigado, Luís Graça. Gosto destes temas, aquecem-me o cérebro. (**)
Abraço.

10 de agosto de 2022 às 17:15


2. Comentários a este comentário do Francisco Baptista (*):

(i)  José Belo:

“Que me identifico mais com Portugal quando estou lá fora”...

Meu Caro Amigo e Camarada Francisco Baptista: Quando o “lá fora” é um aqui, ali e acolá, as identificações tornam-se… esquizofrénicas!

E surge a pergunta de um tal Fernando Pessoa: “Será que alguma vez vou poder compreender o nada que sou?”

10 de agosto de 2022 às 21:30
 
(ii) Antº Rosinha

O português lá fora é mais português e menos bairrista, se for transmontano pode ir às festas da casa do Minho ou das Beiras, se for algarvio pode ir ao clube transmontano e assim por diante.

Lá fora o "lagarto" pode torcer pelo "Porto", cá é tudo contra o "Norte"... até os comemos!

10 de agosto de 2022 às 22:24
__________

Notas do editor:


(**) Último poste da série > 12 de agosto de 2022 > Guiné 61/74 - P23518: O nosso querido mês de agosto, pós-pandémico: o que é ser português, hoje ? (1) : É estar no mundo como em casa (Telma Pinguelo, Toronto, Canadá, citando o etnólogo Jorge Dias)

2 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Terra Fria, Terra Quente... Somos, como o vinho, um produto também do nosso chão (ou "terroir", como dizem os frabceses). Vamos à Wikipédia:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Terra_Fria_Transmontana


(...) Terra Fria é o nome que se dá a um território situado no Nordeste Transmontano composto pelos concelhos raianos de Vinhais, Bragança, Vimioso, Miranda do Douro e Mogadouro. Surge por oposição a outro, a "Terra Quente".

A metade oriental de Trás-os-Montes, correspondente ao Distrito de Bragança, está dividida em dois territórios distintos: a Terra Fria Transmontana e a Terra Quente Trasmontana. (...)

Apesar dos nomes, as temperaturas médias registadas nos dois territórios são muito semelhantes, servindo esta divisão mais em termos morfológicos do que propriamente de temperaturas. No entanto, não deixa de ser verdade que nas serras da Terra Fria se registam as temperaturas mais baixas do Nordeste Transmontano, e até de Portugal.[carece de fontes]

Agricultura e pecuária

As principais produções agrícolas são cereais (trigo e centeio), bovinos, ovinos, caprinos e castanha. Uma cultura associada à Terra Fria Transmontana é o castanheiro. O castanheiro é a referência paisagística da região, que possui extensos soutos. (...)

A castanha é considerada “o ouro” da Terra Fria Transmontana, nomeadamente os concelhos de Vinhais, Bragança e Valpaços, responsáveis por 90 por cento da produção nacional, que ronda as 40 mil toneladas. Quase toda a produção é encaminhada para exportação. (...)

Fernando Ribeiro disse...

Peço licença para discordar do que está escrito na Wikipedia. Há uma grande diferença entre a Terra Fria e a Terra Quente de Trás-os-Montes.

A Terra Fria é predominantemente planáltica e varrida pelos ventos gelados no inverno. Os seus campos de centeio fazem lembrar os campos de trigo do Alentejo. Basta ir a Mogadouro (uma bela e airosa vila) e olhar os campos em volta: ficamos com a nítida sensação de que estamos no meio do Alentejo. A Terra Fria tem um clima continental.

A Terra Quente tem um terreno atravessado por vales profundos e aquecidos pelo sol do verão até temperaturas insuportáveis. Tem um clima mediterrânico.

As principais culturas da Terra Quente Transmontana são a oliveira, a amendoeira, a cerejeira, a laranjeira, a vinha, etc. Podemos dizer que os produtos da Terra Quente Transmontana são os mesmos do Algarve, à exceção da alfarrobeira, que em Trás-os-Montes não existe.