terça-feira, 9 de agosto de 2022

Guiné 61/74 - P23510: In Memoriam (445): António Júlio Emerenciano Estácio (Bissau, 1947 - Algueirão, Sintra, 2022): foi alf mil, RM de Angola (1970/72), viveu e trabalhou em Macau (1972/98) e era um apaixonado pela sua terra e as suas gentes

  

V Encontro Nacional da Tabanca Grande, Leiria, Monte Real, 2010 > 
António Estácio, 


Aos 17 anos, em 1964, em Bissau, na Guiné, onde nasceu em 3 de maio de 1947, de pais transmontanos, e fez o Liceu Honório Barreto (onde foi condiscípulo do Pepito e do Manuel Amanante da Rosa, entre outros).


1. Morreu o António Estácio, foi o António Graça de Abreu, seu amigo dos tempos de Macau, quem nos deu a triste notícia. Vivia em Algueirão, Sintra. Os seus restos mortais serão cremados hoje.  Não sabemos exatamente onde. Mas deve ser em Barcarena. (*)

António [Júlio Emerenciano] Estácio era um luso-guineense, nado e criado no chão de papel, em Bissau, em 1947. Completou os 75 anos, no passado dia 3 de maio. Era filho de  pais transmontanos, o pai funcionário público, a mãe professora primária. A família também viveu em Bolama, nos anos cinquenta.

Estudou no liceu Honório Barreto, em Bissau,  onde teve como professora a dra. Clara Schwarz (1915-2016), mãe do nosso comum amigo Pepito (1949-2014). Foi condiscípulo do Pepito e do Manuel Amante da Rosa, entre outros.

Veio para a metrópole, aos 17 anos (1964) (foto à direita), tendo-se formado como engenheiro técnico agrário (Coimbra, ex-Escola Nacional de Agricuktura, 1964-1967,  onde tirou o Curso de Regente Agrícola, e  onde foi condiscípulo do Paulo Santiago).

Estagiou no extinto Instituto de Algodão de Angola (IAA).  Entretanto, de janeiro de 1969 a maio de 1972 cumpriu o serviço militar obrigatório, tendo, a partir de março de 1970 a maio de 1972, prestado comissão de serviço na Região Militar de Angola (RMA), como alferes miliciano,  e estado aquartelado nas povoações de Luquembo, Sautar e Bessa Monteiro.

Depois de regressar de Macau (onde trabalhou e viveu de 1972 a 1998) (**), radicou-se   em Portugal, Algueirão, concelho de Sintra. 

Tinha uma forte ligação a Macau, cuja casa, em Lisboa, frequentava. Mas também conhecida toda a antiga comunidade luso-guineense que retornou a Portugal depois da independência. 

Era um homem discreto, reservado mas afável, e de fino humor. Esteve presente nalguns dos Encontros Nacionais da Tabanca Grande, o primeiro dos quais em 2010 (Vd. foto acima).  Também se reunia regularmente com os seus antigos condiscípulos de curso, entre eles o Paulo Santiago e outros (alguns oriundos das ex-colónias).



António Estácio, um homem apaixonado 
pela sua terra e as suas gentes


Sobre ele escrevi em 2010 (**): 

"Conheci-o, há dias, pessoalmente, na sessão de lançamento do livro do Amadu Djaló, 'Guineense, Comando, Português'... E hoje, de manhã (19 de maio de 2010)  estive a falar com ele ao telefone. É um apaixonado pela sua terra. E é dotado de um finíssimo humor. É uma pessoa encantadora. Convidei-o a (e ele aceitou em) fazer parte do nosso blogue. Fiz questão de sublinhar que não é apenas um blogue de camaradas que fizeram a guerra colonial na Guiné (1961/74) mas um espaço de diálogo entre todos aqueles que são naturais da Guiné ou são estudiosos da história e da cultura da Guiné, e nomeadamente que se interessam pela historiografia da presença portuguesa. E sobretudo daqueles que amam a Guiné e o seu povo."

Era (e continuará a ser)  membro da nossa Tabanca Grande desde 19 de maio de 2010; tem 64 referências no nosso blogue. Mas há mais de 2 anos que não tínhamos notícias dele. A última mensagem que publicou na sua página do Facebook data de 20 de junho de 2019. Alguém nos disse que sofria de  doença crónica degenerativa (Alzheimer). Tem, pelo menos, um filho, que foi quem contactou o António Graça de Abreu, e (se não erro) duas filhas. 

À família enlutada a Tabanca Grande, o blogue dos amigos e camaradas da Guiné,  apresenta as nossas mais sentidas condolências. Perdemos um grande amigo e um bom camarada.

2. É autor de diversas obras, de indole técnica e não técnica (*),  já aqui citadas ou em parte reproduzidas no blogue:  

(i) além de "Bolama, a saudosa" (edição de autor, 2016), dois dos seus livros mais recentes narram as histórias de vida de duas "mulheres grandes" da Guiné:

(ii) a cabo-verdiana Nha Carlota (1889-1970) ("Nha Carlota, figura esquecida da História Guineense", edição de autor, 2010):

(iii) e a guineense Nha Bijagó (1871-1959) ("Nha Bijagó: respeitada personalidade da sociedade guineense (1871-1959) (edição de autor, 2011, 159 pp., c/ ilustrações).

Publicámos também  no nosso blogue, com a sua autorização, a separata da sua comunicação "O Contributo Chinês para a Orizicultura Guineense, V Semana Cultural da China, de 21 a 26 de janeiro de 2002. (Referêmcia bibliográfica: Amtónio J. E. Estácio - O Contributo Chinês para a Orizicultura Guineense", in: Actas, V. Semana Cultural da China, Centro de Estudos Orientais, ISCSP/UTL, 2002, pp. 431‑466.)


 

Capa do livro "Bolama, a saudosa...", 
do nosso grã-tabanqueiro António Estácio, 

Excertos do Curriculum Vitae abreviado:

(...) (vi) em 28.09.1972 chegou a Macau, a fim de desempenhar funções técnicas na, então, Brigada da Missão de Estudos Agronómicos do Ultramar (MEAU)); neste território, conviveu com o Mário Dias e com o José Neto (1929-2007, de quem ficou grande amigo, membros da nossa Tabanca Grande

(vii) de 28 Setembro de 1972 a 2 Dezembro de 1998 viveu em Macau, onde exerceu vários cargos e funções, como:

- Técnico e Técnico Chefe dos Serviços Florestais e Agrícolas de Macau (SFAM); 

- Criador e Coordenador da “Semana Verde”, campanha de sensibilização, nomeadamente dos jovens em idades escolar, sobre a manutenção, defesa e valorização das Zonas Verdes de Macau;

- Membro da Comissão de Educação da União Internacional para a Conservação da Natureza; 

- Vogal a Tempo Inteiro da Comissão Administrativa da Câmara Municipal das Ilhas (CMI); 

- Vogal do Conselho Consultivo do Governador; 

- Secretário-Geral e, posteriormente, vogal do Conselho do Ambiente (Macau); 

- Vice-Presidente da Câmara Municipal das Ilhas; 

- Colaborador da Editora Verbo; 

- Coordenador científico da Exposição “A Aventura das Plantas e os Descobrimentos Portugueses”, promovida em 1995 pela Comissão Territorial de Macau para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses; 

- Colaborador no Projecto Garcia de Orta, da “Expo 98”; 

- Colaborador do Museu de Macau; 

- Membro fundador (30.04.1974) e dirigente do Centro Democrático de Macau; 

- Sócio e, em 2 mandatos não sequenciais, membro da Direcção do Clube Militar (Macau); 

- Vogal do Conselho Fiscal da Associação de Xadrez de Macau; 

- Presidente da Direcção e Vice-Presidente da A.G. da Associação de Patinagem de Macau; 

- Segundo Secretário da A. G. da Associação para a Promoção da Instrução dos Macaenses, 

Em 03.07.1997 aposentou-se da, então, Câmara Municipal das Ilhas (Macau).

- Foi Vogal da Direcção da Casa de Macau (2003-2005); 

(viii) esteve ligado a diversas  instituições nacionais, desempenhando funções como: 

- Sócio da Sociedade de Geografia,  sendo e Secretário da sua Comissão de Heráldica; 

- Observatório da China, em cujo Conselho Fiscal, foi Vogal; 

- Membro da Associação Lusitana da Heráldica; 

- Associação Cultural da Terceira Idade e Sintra (ACTIS), sendo 1.º Secretário da Direcção. 

- Sócio n.º 456 da 223ª Casa do Benfica em Algueirão Mem Martins, fundada em 28.02.2008.

(ix) participou, por diversas vezes na Semana Cultural da China e no Fórum Internacional de Sinologia. 

(x) louvores e distinções:
  • Foi louvado pelo Despacho n.º 19/SASAS/91 e pela Deliberação n.º 268/26/CMI/97;
  • Foi agraciado, em 1995, pelo Governador de Macau, com a Medalha de Mérito Profissional ; 
  • Em Março de 2006, foi distinguido com a Moeda Comemorativa, pelo Instituto para os Assuntos Cívicos de Macau, aquando da 25.ª edição da “Semana Verde de Macau”. 
  • Em 8 de Fevereiro de 2007, distinguido com Medalha de Honra atribuída pela ONG “Acção para o Desenvolvimento” (AD), da República da Guiné-Bissau.
(xi) É autor, co-autor e coordenador de diversas publicações, na sua maioria de carácter técnico e referentes a Macau tendo apresentado comunicações, artigos, folhetos, brochuras e sido responsável pela edição de Boletins Informativos da Casa de Macau, da respectiva Folha In-formativa não periódica “Qui Nova?!...” que criou e, bem assim, responsável pela edição do Boletim da Associação Cultural da Terceira Idade e Sintra (ACTIS).

Trabalhos publicados > É autor de vários folhetos, brochuras e das seguintes publicações:

Publicações de índole técnica:

- Flora da Ilha da Taipa, Monografia e Carta Temática (M. E. Cartográficos) 1978; 

- Flora da Ilha de Coloane (S.F.A. Macau) 1982; 

- Dinâmica das Zonas Verdes na cidade de Macau (S.F.A.M.) 1982;

- Arborização de Macau. Intervenção de Tancredo Caldeira do Casal Ribeiro (1883-1885) (S.F.A.M.) 1985;

- Jardins e Parques de Macau  (Macau) 1993 (Em colaboração com o Eng.º Agrónomo e Arq. Paisagista António Manuel Paula Saraiva); 

- Zonas Verdes. Particularidades da Flora de Macau (Macau) 1994 – Ed. do B.C.M.;

- Guia do Parque de Seac Pai Van (C. M. das Ilhas - Macau) 1995;

- Evolução das Zonas Verdes das Ilhas  (C. M. das Ilhas -Macau) 1999 (Em colaboração com o Eng.º Técnico Agrário Carlos Daniel de Carvalho Batalha);

- As Árvores no Brasões Municipais – Ed. da C. M. de Freixo de Espada à Cinta 2001;

- Contributo Chinês para a Orizicultura Guineense (Portugal) 2002 – Ed. do autor.

Publicações de índole não técnica: 

- Em Memória de Sá Nogueira (S.F.A.M.) 1984;

- Passadas. Recordações de um aluno do Liceu Honório Barreto, em Bissau. (1958-1964) - Ed. do autor (Macau)1992;

- Na Roda de Amigos – Ed. do autor (Macau) 1973;

- Para lá do Rasgar da Ganga ... – Ed. do autor (Macau) 1997;

- Histórias Vividas e Contadas – Ed. “Livros do Oriente” (Macau) 1997.

- Nha Carlota, figura esquecida da História Guineense – Ed. do autor (Portugal) 2010

Coordenador as seguintes publicações técnicas:

- Árvores de Macau, Vol. I, de autoria do Prof. Wang Zhu Hao (Ed. C. M. Ilhas) 1997;

- Árvores de Macau, Vol. II, de autoria do Prof. Wang Zhu Hao (Ed. C. M. Ilhas) 1999.

Foi editor do:

- Boletim do Rotary Club Amagao (Macau);

- Boletim da Casa de Macau (Lisboa) (2004-2006);

- Boletim da Associação Cultural da Terceira Idade de Sintra (ACTIS).

13 comentários:

antonio graça de abreu disse...

Descansa em paz,Estácio, meu bom Amigo.

António Graça de Abreu

Hélder Valério disse...

Mais um!

Conheci-o e falámos algumas vezes.
A ideia que tenho dele está bem expressa no que o Luís escreveu: "Era um homem discreto, reservado mas afável, e de fino humor". Confere!

Só posso desejar que descanse em paz.

Hélder Sousa

António J. P. Costa disse...

Olá Camaradas

Foi meu colega na ACTIS (Associação Cultural da Terceira Idade de Sintra) onde era muito popular a chegou a ser um dos dirigentes.
Confere que era "discreto, afável e de fino humor".
Mais um que se vai. É uma pena!

Um Ab.
António J. P. Costa

Cesar Dias disse...

Um abraço solidário a todos que dele estiveram perto. Paz à sua alma.

paulo santiago disse...

Um nosso colega,caboverdiano,da ERAC,informara-me há meses da doença do Estácio.
Estivemos juntos,pela última vez,em Junho/2019,quando do almoço do nosso curso da Escola.Veio a pandemia e acabaram-se os encontros dos quais o Estácio era grande animador.
Descansa em paz meu bom amigo

P.Santiago

Valdemar Silva disse...

Sentidos pêsames.

(é uma chatice, a extraordinária "colheita" 1940's está a esgotar-se)


Valdemar Queiroz

José Botelho Colaço disse...

Sentidos pêsames á familia enlutada.

Anónimo disse...

Sentimentos à Família. Encontrei-o, talvez em 2020, numa estação de serviço da A2.Já não era o mesmo Estácio que conheci.

V. Briote
__________________

José Marcelino Martins disse...

Condolências.

Carlos Pinheiro disse...

Os meus sentimentos à familia enlutada. Que descanse em paz.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

É uma doença maldita, o Alzheimer!

Anónimo disse...

Júlia C. Neto (by email)

Data - 9 ago 2022 12:36
Assunto - Falecimento do António Estacio

Obrigada, Luís, pela triste notícia. Pena não saber a hora do funeral ou da cremação, pois como estou perto dava lá um salto.

Carlos Vinhal disse...

Aos familiares do nosso amigo António Estácio apresento as minhas condolências.
Carlos Vinhal
Leça da Palmeira