domingo, 7 de agosto de 2022

Guiné 61/74 - P23503: Blogpoesia (780): "Se eu fosse um avião", "A dor" e "Um sopro de vento", por Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547/BCAÇ 1887

1. Poemas, ilustrados, enviados ao regularmente ao Blogue pelo nosso camarada Adão Cruz, (ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 / BCAÇ 1887, Canquelifá e Bigene, 1966/68), médico cardiologista, pintor e escritor. Hoje, mais três intitulados: "Se eu fosse um avião", "A dor" e "Um sopro de vento".

© Adão Cruz

Se eu fosse um avião

Se eu fosse um avião
com um motor em cada mão
voava…
não sei para onde
mas voava à procura da ilusão.
Se eu fosse um avião
com um sonho em cada mão
voava…
não sei para onde
mas voava para fora da ilusão.
Ai… se eu fosse um avião
com um copo em cada mão
voava… voava…
não sei para onde
mas sempre rentinho ao chão.


adão cruz


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© Adão Cruz

A dor

A dor vestiu-se de mulher de terra e flores
e voou para lá das nuvens onde mora o vento.
A vida é um lugar muito longe
lá para as bandas do sonho
nas margens do silêncio
na arte do encontro-desencontro
na alegria de ser triste.
Nesta Galiza de poetas e água e céu e solidão
onde um mar de rias baixas desagua dentro de nós
pinta Jordi um rosto de mulher
a ocre, terra-siena e carmim.
...Que os cabelos e os jardins
querem-se soltos e naturais
como as aves e as manhãs!
Um homem nu toca Mussorgsky ao vivo
como se Jordi pintasse Quadros de uma Exposição.
Bem perto daqui
há muito foi sonhada a Nostalgia
mas ninguém viu a luz vermelha fendendo as águas verdes
e a dor já se vestia de terra e flores
e a dor já fugia para lá dos montes
onde moram mulheres de vento.


adão cruz


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© Adão Cruz


Um sopro de vento

Um sopro de vento na janela entreaberta
depôs no chão uma folha desajeitada.
Ela assustou-se
apertou os olhos e espremeu uma lágrima.
Serenamente
vestiu a saia e disse que não voltava.


adão cruz

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Nota do editor

Último poste da série de 4 DE AGOSTO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23491: Blogpoesia (779): "Universo", por José Teixeira, ex-1.º Cabo Aux Enfermeiro da CCAÇ 2381

1 comentário:

Valdemar Silva disse...

A beleza da poesia de Adão Cruz, quase nos leva ao dialeto galiziano.

...que o cabelo e os xardins
quere su solto e natural
como os paxaros e as mañás.


Valdemar Queiroz