domingo, 14 de agosto de 2022

Guiné 61/74 - P23524: Blogpoesia (781): "Na Foz do Douro" e "Uma andorinha do Arctíco", poemas ilustrados da autoria de Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547/BCAÇ 1887 (Canquelifá e Bigene, 1966/68)

© ADÃO CRUZ


Na Foz do Douro

Generoso abraço
verdade solitária
o mar infindo onde colhes as palavras
e o pequeno gesto da areia fina
riscada dos pés das gaivotas.
Entra-me nos olhos o mar como em ti
como tu tenho os olhos inundados de mar
mas fogem-me as sílabas férteis
que ele te põe nos lábios e nos versos.
A vibração das palavras de água
salva-me da paz sacrificial das rochas erectas e firmes.
Quase me sinto futuro aqui
a lembrar que o passado só existe para enganar o presente.
Sinto-me bem aqui
ao lado do possível e do impossível
na orla do silêncio das tuas palmeiras
saboreando o Sal da Língua como fruto roubado
que me liberta da longa noite acumulada na boca.
Arde em mim a luz de fogo que abre o mar e o peito
quando o sol se derrama e vai dormir.
Aqui eu sinto bem dentro dos sentidos
o esplendor da água fervente
e dos corpos entontecidos
que só podem amar-se no ventre do mar.
Um vento leve com cheiro a maçãs acaricia-me a face
trazendo pela mão a paz da tarde
e quase me adormece.
Perdi a página já não sei onde ia
também o sol se foi e com ele o dia.
Bate agora a noite com estrondo
no casco frágil da solidão.
Penso que tudo se vai desmoronar
talvez morrer
mas de novo retomados
teus versos dizem-me que não.


adão cruz


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© ADÃO CRUZ

Uma andorinha do Árctico

Abri o peito a uma andorinha do Árctico
vinda das auroras de frescura
trazia em cada asa um poema
e um abraço de ternura.
Trazia um sonho no bico
sonho que eu perdi
não sei onde nem quando
não sei se dentro de ti
não sei se na vida errando.


adão cruz

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Nota do editor

Último poste da série de 7 DE AGOSTO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23503: Blogpoesia (780): "Se eu fosse um avião", "A dor" e "Um sopro de vento", por Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547/BCAÇ 1887

1 comentário:

Unknown disse...

A foz também é começo
Quem sabe se dum sonho trazido no bico duma andorinha.

Belos poemas!!
Abraço
Eduardo Estrela