domingo, 14 de agosto de 2022

Guiné 61/74 - P23525: Guidaje, Guileje, Gadamael, maio/junho de 1973: foi há meio século... Alguém ainda se lembra? (11): "Se eu de ti me não lembrar, Jerusalém", poema de Luís Jales de Oliveira (ex-fur mil trms, CCAÇ 20, 1972/74)


Capa do livro de poemas, do Luís Jales de Oliveira, "Corre-me um Rio no Peito", Mondim de Basto, ed. autor, 2010, 72 pp. ilustrado. Capa de Samara (João Campos). Prefácio de José Alberto Faria, Depósito Legal n.º 307277/10.


Mondim de Basto > 29 de agosto de 2019 > Junto ao monumento aos combatentes do ultramar > Da esquerda para a direita, a Nitas (Ana Carneiro Pinto Soares), o Luís Graça, o "Ginho" [o escritor e poeta Luís Jales de Oliveira] e Alice Carneiro.(*)

Foto (e legenda): © Luís Graça (2019). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]






In: Luís Jales de Oliveira - Corre-me um Rio no Peito. Mondim de Basto, ed. autor, 2010, 72 pp. ilustrado. Capa de Samara (João Campos). Prefácio de José Alberto Faria, Depósito Legal nº 307277/10-


1. O Luís Jales de Oliveira, carinhosamente tratado por "Ginho", na sua terra  natal, Mondim de Basto, é nosso camarada, membro da nossa Tabanca Grande desde 21 de janeiro de 2008 (*), tendo sido fur mil trms inf, Agrup Trms de Bissau e CCAÇ 20 (Bissau e Gadamael Porto, 1972/74).
 

É, sem favor, o autor de um dos mais belos poemas, que eu tenho lido, sobre a a Guiné e a guerra do ultramar / guerra colonial, de ressonância bíblica: "Se eu de ti me não lembrar, Jerusalém (Gadamael Porto, Guiné, 1973)" (**).

Lembrei-me dele, hoje, que a 83ª Volta a Portugal Continente chega à mítica Senhora da Graça, em Mondim de Basto (Paredes - Mondim de Basto - Senhora da Graça), atravessando também a não menos mítica EN 304, uma das mais belas estradas da  Europa. 

E telefonei-lhe: com felicidade, apanhei-o em casa. E, em 5 minutos, pusemos a conversa em dia. Problemas de saúde de um lado e do outro, não nos irão impedir de, ainda um belo dia destes, a gente se voltar a encontrar na sua terra e, desta vez, "subir" à N.ª Sra. da Graça. E eu lá, já sem as canadianas, quero  "rezar com ele"  o seu poema:

GRAÇA

No cimo do monte há uma capela,
E cada vez que olho para ela,
Apetece-me voar…
E humilde peregrino,
Vou em ânsias de menino,
Lá rezar.

No cimo do monte há uma capela,
E cada vez que entro nela,
Vivo um mistério profundo:
Senhora,
Que feitiço derramais,
Que o mais comum dos mortais
A teus pés é Rei do Mundo?

Fonte: Luís Jales Oliveira – Basto (poemas). [Mondim de Basto], edição de autor, 1995 [Obra, de 49 pp.,  subsidiada pela programa LEADER Probasto], pág. 43

Pelo telefone soube dos seus novos projetos, um livro que está pronto para ser lançado dentro em breve (ficando nós, aqui no blogue, a aguardar notícias para o poder divulgar) e outro, para o ano, sobre Gadamael. Lembre-se que foi em 7 de julho de 1973, que a sua CCAÇ 20, comandada pelo então ten grad 'comand0' Tomás Camará, acabada a instrução no CIM de Bolama, foi colocada em Gadamael e lá ficou até ao fim, até sua extinção em agosto de 1974, perfazendo pouco mais de um ano de existência (****). 
 

2. Ficha de unidade > Companhia de Caçadores n.º 20

Identificação; CCaç 20
Cmdt: Ten Grad Cmd Tomás Camará | Alf Grad Cmd Malan Baldé | 1.° Sarg Grad Cmd Quebá Debá
Início: 05Jun73 | Extinção: princípios de Ago74

Síntese da Actividade Operacional

Foi organizada, de 5 a 9jun73, no CIM, em Bolama, e foi constituída por pessoal natural da Guiné, de diversas etnias, na sua grande maioria já integrante de companhias de milícias, tendo realizado a sua instrucção de 11Jun73 a 7Jul73.

Seguidamente, foi colocada em Gadamael, como subunidade de intervenção e reserva do sector do COP 5, tendo realizado diversas acções ofensivas, patrulhamentos e emboscadas nas regiões de Cacoca, Lamoi, Madina e Sangonhá, entre outras.

Em princípios de Ago74, foi desactivada e extinta.

Observações: Não tem História da Unidade.

Fonte: Excertos de Portugal. Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961-1974 [CECA] - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974). 7.º volume: fichas das unidades. Tomo II: Guiné. Lisboa: 2002, pág. 641
___________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 30 de agosto de  2019 > Guiné 61/74 - P20110: Os nossos seres, saberes e lazeres (350): a mítica estrada nacional, EN 304, em pleno Parque Natural do Alvão, entre Mondim de Basto e Vila Real... E finalmente conheci o "Ginho", "ao vivo e a cores", na sua terra natal, em terras de Basto, na "Casa do Lago"...(Luís Graça)

(**) Vd. poste de 21 de janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2467: Tabanca Grande (54): Luís Jales, ex-Fur Mil Trms (Agr Trms Bissau e CCAÇ 20, Gadamael Porto, 1973/74)


(****) Último poste da série > 3 de agosto de 2022 > Guiné 61/74 - P23487: Guidaje, Guileje, Gadamael, maio/junho de 1973: foi há meio século... Alguém ainda se lembra? (10): o massacre do alf mil Artur José de Sousa Branco e do seu pequeno grupo, nas imediações de Gadamael, em 4/6/1973 (J. Casimiro Carvalho / Manuel Reis / Carmo Vicente / Manuel Peredo / Jorge Araújo)

7 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Jerusalém, a terra prometida mas só para os... "justos". Ah!, o nosso etnocentrismo...Mas os poetas, perdidos pelas margens do rio do inferno, tinham direito a chorar pelo seu rio e pelo seu monte. sagrados.

Fernando Ribeiro disse...

Luis, o poema "...Jerusalém" está incompleto, comparando-o com o que foi publicado em https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2016/06/guie-6374-p16105-blogposia-453-se-eu-de.html

Falta a parte do meio, que começa por «Tão longe está o doce favo da partida...»

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Fernando, tens toda a razão... Vou corrigir, peço desculpa ao "Gino" e aos leitores... É o que dá estar a fazer três coisas ao mesmo tempo: (i) editar o poste; (ii) telefonar ao autor; (iii) e querer pagar a promessa de subir à Sra. da Graça... de muletas.

A vida é dura....

Unknown disse...

Acima de tudo a terra que nos viu
abrir os olhos para primeira vez
Depois os outros lugares com os seus sabores cheiros e gentes doutros costumes e cultura, onde deixámos o nosso coração e parte das nossas vidas.
Como refere o Luís, belo poema!!
Abraço fraterno
Eduardo Estrela

Fernando Ribeiro disse...

Este poema é de tal maneira belo e sentido, que seria um crime truncá-lo, mesmo que inadvertidamente. É Poesia com maiúscula, da melhor que eu já li.

Anónimo disse...

Saudações L.Jales
Grande poeta.
Gostei muito.
Há quanto tempo não nos vimos.
Grande animador das noites sem fim em Gadamael.
Algures entre a Sardenha e Génova um grande AB.

C.Martins

Anónimo disse...

Luís Manuel Jales de Oliveira (by email)
terça, 23/08/2022, 15:39

Obrigado, meu caro Luis. Adorei que te tivesses lembrado de mim, adorei teres republicado o poema e adorei os comentários que mereceu. Sim, um dia destes a gente se encontra e mata saudades.

Grande abraço para ti e esposa.