quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Guiné 63/74 - P2308: Notas de leitura (3): Guerra, Paz e Fuzilamento dos Guerreiros: Guiné, de Manuel Amaro Bernardo (Jorge Santos)

Capa do último livro de Manuel Amaro Bernardo. Imagem: O General António de Spínola passa revista às tropas do Batalhão de Comandos da Guiné, acompanhado do seu comandante, Major Almeida Bruno (Fonte: Editora Prefácio).


1. O nosso camarada Jorge Santos, autor do sítio Guerra Colonial Portuguesa (onde pode ser consultada a mais completa e sempre actualizada lista bibliográfica sobre a guerra colonial, de A a Z, a par de uma valiosa filmografaa) mandou-nos, em 23 de Novembro, a seguinte nota, para conhecimento da Tertúlia:

Será lançado no dia 29 (quinta-feira), pelas 18 horas, no Palácio da Independência, Largo de São Domingos, nº 11, em Lisboa, o livro Guerra, Paz e Fuzilamento dos Guerreiros: Guiné, da autoria de Manuel Amaro Bernardo, editado pela Editora Prefácio.

A apresentação será efectuada pelo General Ricardo Durão. O livro aborda a guerra na Guiné, e as sequelas do pós-independência, através de diversos testemunhos. O autor não conheceu o TO da Guiné.

Do Prefácio: (…) O livro de Manuel Bernardo narra, através de diversos testemunhos, a guerra da Guiné. Foi um dos teatros onde, porventura, a luta foi mais intensa e dura; contudo, em todo o momento podíamos, desde que com o planeamento adequado e os efectivos necessários, estar presentes em qualquer ponto do território, o que não podia ser conseguido pelo inimigo. Isto não origina que o esforço militar se pudesse prolongar indefinidamente; havia que procurar solução política, inteligente e condigna, que não foi tentada atempadamente. (…).

Cumprimentos e bom fim de semana
Jorge Santos


2. Manuel Amaro Bernardo > Nota biobliográfica:

(i) Nasceu em Faro;

(ii) Foi promovido a alferes em 1960;

(iii) É Coronel do Exército (Infantaria), na reforma;

(iv) Cumpriu quatro comissões no Ultramar (Angola e Moçambique);

(v) No 25 de Abril estava colocado na Academia Militar, "onde existia um núcleo importante de oficiais contestatários ao regime anterior";

(vi) Estave no Regimento de Comandos, na Amadora, no 25 de Novembro de 1975, no Posto de Comando, dirigido por Ramalho Eanes;

(vii) Desempenhou funções de comando no Batalhão n.º2/GNR (1979/85);

(viii) Foi promotor de justiça e juiz nos Tribunais Militares de Lisboa (1987/95);

(ix) É diplomado com o Curso de Ciências da Informação da Universidade Católica (1990/93);

(x) É autor dos seguintes livros (além de outros, em co-autoria):

Os Comandos no Eixo da Revolução; Crise Permanente do PREC; Portugal 1975/76 (1977);

Marcelo e Spínola, a Ruptura; as Forças Armadas e a Imprensa na Queda do Estado Novo; Portugal 1973-74. (1994 e 2. edição em 1996, Ed. Estampa).

Equívocos e Realidades - Portugal 1974-75. (2 volumes 1999).

Combater em Moçambique – Guerra e Descolonização, 1964-1975 (2003, Ed. Prefácio) (1).

Memórias da Revolução; Portugal 1974-1975 (2004, Ed. Prefácio) (2).


Fonte: Passa-Palavra, jornal dos Comandos de Portugal (com a devida vénia...)

______

Notas dos editores:

(1) Do blogue do nosso camararada e amigo João Tunes:

Bota Acima > 8 de Julho de 2004 > Africando

(...) Voltei a ler mais um livro do Coronel reformado Manuel Amaro Bernardo. Desta vez, dedicado a Moçambique [ “Combater em Moçambique – Guerra e Descolonização – 1974/1975”, Manuel Amaro Bernardo, Ed. Prefácio]. É uma miscelânea de memórias da sua experiência em campanha, narrativas sobre os processos da guerra e da independência, colecta de depoimentos de vários camaradas de armas, uns intervenientes activos na resistência à independência, outros, pelo menos, críticos radicais da descolonização. A ideia regeneradora é uma constante sem falhas. A guerra foi heróica, a descolonização foi um crime. Frelimo e independência foram, são e serão a desgraça dos moçambicanos (depois de ter sido a nossa).

(...) "Nada tenho contra a proliferação desta literatura. Era inevitável. Até lhes compro os livros e os leio.O problema, quanto a mim, reside apenas no seu peso relativamente desproporcionado no panorama editorial. Bem sei que lhes 'chegou a hora'. Mas, sem contraponto, corre-se o risco de haver fixação num estereótipo bem marcado (extremado) que não permite a incorporação do fenómeno em termos de memória colectiva. E, assim, corre-se o risco de os portugueses, perante África, continuarem na sua ancestral incapacidade de olhar e entender o Outro. E se esta incapacidade, grande tragédia nossa, serviu para 'alguma coisa' (pelo menos serviu para uns tantos) no passado, hoje, sem colónias, só nos separa do mundo, impedindo-nos de termos história. E não há negócio que ganhe com o negócio. (...).

(2) Vd. recensão crítica do João Tunes > Bota Acima > 18 de Junho de 2004 > Leitura cruzada

(...) Terminada a leitura do livro da historiadora Dalila Cabrita Mateus [ “A Pide/DGS na Guerra Colonial – 1961-1974”, Dalila Cabrita Mateus, Ed Terramar ] aqui referido, entrou-me nas mãos um outro livro volumoso (750 pgs!) do Coronel reformado Manuel Amaro Bernardo [“Memórias da Revolução – 1974/1975”, Manuel Amaro Bernardo, Ed Prefácio] .

Acabei por terminar a leitura do segundo antes de trazer para aqui a apreciação sobre o primeiro. Aparentemente, os dois livros não se cruzam.Os factos abordados no livro de Dalila Mateus terminam quando começam os que são tratados no livro do Coronel reformado.

Dalila Mateus concentra-se nas actividades da Pide/DGS nas antigas colónias. O Coronel, abordando a descolonização, transborda para o campo da revolução e da contra-revolução, sobretudo em termos das movimentações golpistas dos militares de direita até ao 25 de Novembro de 1975.

Enquanto o livro sobre a Pide/DGS é obra de historiadora que usa as ferramentas e a metodologia do ofício (foi adaptado de uma tese de doutoramento), o Coronel utiliza os seus conhecimentos, amizades e cumplicidades (ele próprio navegou nas águas da contra-revolução), para construir uma completíssima recolha de depoimentos sobretudo dos militares que se opuseram à descolonização, que lutaram contra o MFA e contra o rumo revolucionário (com alguns depoimentos esparsos de pides, civis envolvidos no golpismo de direita e um (!) depoimento, entre dezenas de entrevistas, de um (!) militar do MFA).

Nota-se que a perspectiva da historiadora parte de um enfoque de 'esquerda' sobre a guerra colonial, enquanto o Coronel reformado partilha com os seus depoentes a rejeição do processo de descolonização e constrói e reconstrói os conhecidos lugares comuns da visão dos militares desconsolados com o 25 de Abril, logo nesse dia ou no dia seguinte. E é aqui que, a meu ver, os livros sempre acabam por se cruzarem (simetricamente). (...)

Sem comentários: