Boa tarde, caro Luís
Desta vez vai uma das noites que marcaram a minha presença em Tite.
Um abraço e bom fim de semana.
J.Caldeira
TABANCA DE FENINQUÊ
Quem ainda se lembra de uma tabanca a sul de Tite, composta por meia dúzia de palhotas e habitada por uma população que era fiel à nossa bandeira? Pelo menos assim parecia e pareceu. Chamava-se Feninquê.
Localização da tabanca de Feninquê a sudoeste de Tite
Infogravura: © Luís Graça & Camaradas da Guiné. Carta de Tite 1:50.000
Mais uma noite de muita chuva. Onze na noite. A aldeia estava a ser atacada e pelo que se ouvia, tínhamos a certeza de que estava a ser dizimada.
O já Coronel Hélio Felgas manda que a 15.ª Companhia de Comandos, nessa noite em passagem por TITE, vá em socorro da aldeia. Não sei o que se passou para que o seu comandante se escusasse e, ironia, não foi a Companhia de Caçadores 2314 que saiu em defesa daqueles pobres? Nunca percebi porquê, mas de uma companhia, foi resolvido que quem iria era o 2.º pelotão. E, como não podia deixar de ser, fui eu a comandar.
Acertadas as logísticas de aproximação, havia que evitar um campo de minas colocado na picada, foi-me entregue um mapa com as coordenadas rigorosas para eu seguir e, após avistar a tabanca, informar a sede do batalhão para onde deveria ser feito fogo de obus para neutralizar o IN e possibilitar-me o resgate da população.
Cheguei tarde. Só encontrei morte e destruição à minha chegada. Ainda assim, pressentindo que o IN estivesse em fuga pela margem esquerda do rio, pedi fogo nessa direção, o que não resultou em nada.
Reuni os habitantes que sobreviveram e, com a ajuda dos homens válidos, improvisámos umas macas para transportar os feridos que seriam tratados pelo médico do Batalhão de Tite. Encetámos o regresso já de dia bem alto e sem chuva. À chegada foi como se nada se tivesse passado. Apenas me ordenaram que elaborasse um relatório da operação.
Afinal, as companhias de Comandos, bem formadas e bem equipadas, também se escusavam a cumprir tarefas que pudessem comportar algum perigo. Será que ainda alguém se lembra deste episódio?
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Nota do editor
Último post da série de 31 de agosto de 2025 > Guiné 61/74 - P27170: Memórias da tropa e da guerra (Joaquim Caldeira, ex-Fur Mil At Inf, CCAÇ 2314 / BCAÇ 2834, Tite e Fulacunda, 1968/69) (9): O perfume da Enfermeira Paraquedista
4 comentários:
Joaquim, li e apreciei mais este pequeno apontamento sobre as duras condições da tua atividade operacional...Mas deixa-me fazer uma pequena correção factual: a companhia de comandos a que te referes, a 12ª, não esteve no CTIG. Querias dizer, 15ª CCmds.
Vejo pelos livros da CECA que a 15ª CCmds esteve, no teu tempo, e ao tempo do BART 1914, integrada temporariamente no dispositivo do Sector S1 (Tite):
Ordem de batalha - 13 de julho de 1968
BArt 1914
- Comando - Sector SI Tite
- CCaç 1624 Fulacunda
- CArt 1743 (-) Jabadá
- 1 Pel (-) Enxudé
- 1 Pel S. João
- CCaç 1787 Empada
- 1 Pel/CCaç 1791 Empada
- CArt 1802 N. Sintra
- CCaç 2314 Tite
- 15a CCmds Bolama (T)
- C I M
- Comando (-) Bolama
- 2 Sec Ilha das Galinhas
- 1 Sec Ilha das Cobras
- Pel Caç 56 S. João
- Pel Caç 66 N. Sintra
- Pel Mort 1208 (-) Tite
- 1 Sec Enxudé
- 8° Pel Art (10,5 cm) Tite
- Pel AMetr "Daimler" 2044 Tite
- 1 Sec N. Sintra
- CMil 6 Empada
- CMil 7
- Pel 123 (-) Jabadá
- 1 Sec Enxudé
- Pel 124 Tite
- Pel 125 Fulacunda
- 2 Sec/Pel Mil 178 Empada
Se concordares, corrigimos... Por mor da verdade... Um alfabravo, Luís
Joaquim, vê lá se bate certo...O ataque à tabanca de Feninqué ocorre no tempo das chuvas, pela tua descrição... 1968 ou 1969 ?... Confere as tuas memórias e apontamentos com esta ficha de unidade. Ab, Luís
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Ficha de unidade: 15ª Companhia de Comandos
Identificação 15ª CCrnds
Unidade Mob: CIOE - Lamego
Cmdt: Cap Inf Cmd Luciano António de Jesus Garcia Lopes
Partida: Embarque em 01Mai68; desembarque em 06Mai68
Regresso: Embarque em 10Mar70
Síntese da Actividade Operacional
Inicialmente, instalou-se em Bolama, onde recebeu a instrução da especialidade,
ministrada pela 5ª CCmds até 08Jul68 e efectuando o treino operacional
nas regiões de Mansoa, Jabadá e Bula, até 16Ag068.
Seguidamente, a companhia ficou instalada em Bissau, como força de
intervenção do Comando-Chefe, para actuação em áreas de diferentes batalhões.
Em 19A9068, foi atribuída em reforço do BCaç 1932, tendo estabelecido a
sua base temporária em Cuntima e, em 08Set68, em Jumbembém para actuação
sobre as linhas de infiltração de Sitató e Lamel, nas operações "Segura Turra"
e "Estrada Fechada".
Em 170ut68, foi deslocada para Farim, destacando-se, entre outras, pelos resultados obtidos, as operações "Boas Vindas" e "Missão Nobre", entre outras. Em 04Nov68, a companhia recolheu a Bissau, após o grande desgaste sofrido, em particular pelas deficientes condições de instalação no subsector de Farim, tendo efectuado patrulhamentos e colaborado na segurança da ilha de Bissau.
Em OlJan69, foi atribuída ao COP 4, instalando-se em Buba, para actuação sobre as linhas de infiltração e bases inimigas, destacando-se o quantitativo de material capturado em Sare Dibane.
Em 04Mai69, regressou a Bissau, já com os efectivos reduzidos a 2 GComb, onde se manteve para recuperação e colaboração na segurança da área.
Em 03Jun69, foi atribuída em reforço do BCav 2867, deslocando-se para Tite e, em 20Ju169, para Fulacunda, para realização de patrulhamentos, emboscadas e intervenção, entre outras, nas operações "Quarta Batalha II" e "Quinta Batalha".
Em 30Ago69, com os efectivos reduzidos a 15 homens, devido ao desgaste sofrido, regressou a Bissau, onde se manteve até final da comissão em serviço interno do aquartelamento e colaborando ainda, de 14Jul69 a II Fev70, na
instrução ministrada em Brá a graduados e praças de outras subunidades.
Observações
Tem História da Unidade (Caixa n." 118 - 2.a Div/4." Sec, do AHM).
Fonte: Excerto de Portugal. Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961-1974 [CECA] - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974). 7.º volume: Fichas das Unidades. Tomo II: Guiné. Lisboa: 2002, pág.
pág. 531
Joaquim Caldeira (by email)
10 set 2025 07:57
Bom dia meu caro amigo.
Após o alerta que fizeste sobre o número da companhia de comandos que o Robles comandava da Guiné, fiz várias consultas e dou como certa ser a décima quinta e está errada a informação por mim escrita.
Se possível, corrige.
No meu caso já não é possível por estar o livro impresso.
Uma boa semana e um abraço.
J. Caldeira.
OLá, Joaquim, correção feita... Não sabia que o alf mil inf 'cmd' Fernando Augusto Colaço Leal Robles (mais tarde cap inf 'cmd') tinha estado na Guiné, como adjunto do comandante da 15ª CCmds, de maio68 a ago69. Obrigado pela tua informação. Um alfabravo, Luís.
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