Pesquisar neste blogue

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2023

Guiné 61/74 - P24041: Notas de leitura (1550): Uma safra de leituras, sábado na Feira da Ladra, em tempos de pandemia (1) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 25 de Maio de 2020:

Queridos amigos,
Tony Tcheka é nome proeminente da poesia guineense e aqui se deixa referência à sua comunicação num encontro de escritores de língua portuguesa, realizado em Luanda em 2015 sobre o tema da relação de escritores com as cidades, Tony Tcheka privilegiou discretear sobre a evolução das temáticas poéticas pós-independência, onde a criança e a mulher sobressaem, a primeira por constituir a dor constante da infância humilhada, a fase patente do subdesenvolvimento e da humilhação; a segunda, decorre do facto de a mulher se ocupar de todos os misteres, deita mão a tudo, produz, curva-se na bolanha, prepara o arroz para a família, na cidade deita mão a tudo, e a literatura guineense espelha muito bem a sua dor física e psicológica. Bem gostei de voltar à Feira da Ladra depois do intenso jejum pandémico, trouxe outras leituras de que vos vou dar conta, um antigo combatente de Olhão que veio matar saudades à Guiné, e o relatório produzido por um think tank, o Bow Group, muito próximo do Partido Conservador britânico, elaborado em 1961, em que se diz claramente que não há qualquer solução militar para o império colonial português.

Um abraço do
Mário



Uma safra de leituras, sábado na Feira da Ladra, em tempos de pandemia (1)

Mário Beja Santos

Foi sábado de sol, o polícia a vigiar o cumprimento das normas, quem queria folhear e comprar alfarrábios usava obrigatoriamente máscara e luvas. Confesso que tinha saudades, eram meses sem visitas, compreensivelmente, ali me senti bem e entusiasmado, na fase de desconfinamento. A primeira surpresa foi o livrinho Literatura e Lusofonia 2015, desse encontro de escritores de Língua Portuguesa havia nomes sonantes como Pepetela, Manuel Rui e Tony Tcheka, poeta guineense que muito admiro. A UCCLA – União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa tem privilegiado estes encontros, o de 2015 foi em Luanda, a temática era a relação dos escritores com as cidades, a forma como as encaram e em que medida elas os inspiram. Como o nosso blogue, por definição está orientado para tudo quanto é Guiné, vamos dar a palavra a Tony Tcheka que discreteou sobre a criança, a mulher e a cidade na literatura guineense – Meninos da Terra Vermelha, alusão à cor da laterite.

Começou a sua intervenção com o poema Chamo-me Menino!, assim:
“Sou a criança pobre/ de uma rua sem nome/ num bairro escuro/ de covas fundas/ em gargantas/ fatalmente magras, carentes de pão/ e sem muita ambição/ Sou filho da miséria/ escancarada/ enteado da vida/ entreaberta/ Vivo na periferia/ passo no tempo/ com trejeitos d’homem/ Chamo-me Menino!/ Dou passas desde os cinco/ tenho doze chuvas/ uma cara operária/ sobre um corpo fininho/ cinco anos/ Sofro de raquitismo/ por comer com os olhos/ enquanto na garganta/ destilam bolas de saliva/ Meu peito nicotizado/ é mortalha e tantam/ arde e inflama/ como a chama! – Chamo-me Menino!”.

Tony Tcheka alude a jovens da geração que nos anos 1960, vivendo na cidade de Bissau, ia registando episódios diversos, apontamentos que inevitavelmente se prendiam com o sistema social e político. Iniciado o chamado processo de reconstrução nacional, Mário Pinto de Andrade deu acalento à publicação de muitos desses textos com o nome de Mantenhas para Quem Luta, antologia poética com 48 textos escritos em português, 1977. No ano seguinte seria editada uma segunda coletânea, a diversidade temática extravasava o colonialismo, a escravatura, a exaltação da liberdade e a esperança num futuro melhor. A investigador Filomena Embaló escreveu a propósito: “A questão de identidade não é apresentada como um fator de oposição entre o indivíduo e a sociedade na qual este evolui. Ela é analisada como um conflito pessoal do indivíduo, que consciente do seu desfasamento cultural em relação à sociedade de origem procura identificar-se com as suas raízes, da qual foi afastado pela assimilação colonial”.

É neste contexto que aparecem a criança e a mulher, a par da terra libertada. Como Tony Tcheka escreve: “Criança trabalhadora, menino de rua, portador de deficiência, enfim, a realidade vigente que mais não é que o reflexo do seu próprio atraso de desenvolvimento, o que também coloca a infância à margem da saúde e da própria escola”. E cita vários poemas onde realçam os “meninus de kriason”, crianças entregues a supostos cuidados de famílias urbanas remediadas, com o fito de aprenderem a ser gente e a ter uma vida melhor. "São levadas para a cidade com o fito de aprenderem a vida. Entre o enunciado e a verdade ressalta a dimensão verdadeira da criança maltratada, a criança escravizada. Chegados à cidade ou noutros centros urbanos, na casa dos senhores, são confinados a um trabalho árduo e sem limites. São os primeiros a erguer-se, ainda antes dos raios de sol vencerem a madrugada, seguindo os caminhos das fontes para encher baldes e baldes de água e apanhar lenha para fazer crepitar o fogareiro e preparar o ‘matabicho’ dos senhores da casa e familiares. Nunca vão à escola e se falham nalguma labuta são severamente punidos. Há muitos deles, quando tudo se torna insuportável, só lhes resta a fuga para a rua, onde alimentam o batalhão dos Meninos da Rua".

Refere o autor que trinta anos depois, em 2010, foi lançada em Lisboa uma nova antologia juvenil da Guiné-Bissau, assinada por 23 jovens com poemas em português e kiriol. E o que se verifica? Que persistem os meninos de ontem e de hoje na poesia guineense, povoam espaços criativos, de igual modo também se regista a presença feminina. E Tony Tcheka questiona o que é a cidade dos meninos. “Sacudida ciclicamente por crises políticas e militares violentas, ela resiste e disponibiliza-se como palco das lides literárias que acontecem nos centros culturais nas embaixadas de países amigos”.
E o poeta continua:
“Quando os tempos são duros, trazendo lascas e bagos de dor, outras penas perscrutam a cidade dos meninos, atingido pelo macaréu da maldade, e os canhões orquestram valsas fúnebres que sentenciam a desertificação compulsiva da cidade (…) Durante mais de uma década, esta cidade de meninos não parou de ser fustigada e castigada por lâminas desembainhadas, amputando mentes, lascando corpos, suprimindo vidas”.

Falando de 2014, ano de eleição de José Maria Vaz, com todas as expetativas de reconciliação nacional, o poeta Tony Tcheka destaca o alívio que as promessas de paz trouxeram ao país, relembra que as garças e pelicanos fizeram a viagem de regresso ao seu habitat, que muitos pássaros voltaram a cantar o fim da madrugada, como se estivessem a anunciar um novo tempo de uma esperança resgatada. O mesmo poeta que exalta o sofrimento da criança também não esquece que a mulher surge como a fiel depositária dos valores e referências da idiossincrasia guineense. É camponesa, é pescadora, é mestre, professora. E deste modo termina a comunicação de Tony Tcheka:
“Nem sempre ser mulher é sinónimo de satisfação, ante adversidades de vária ordem instala-se a revolta que desagua na escrita de uma poeta: obrigado por esta dor/ por este desespero/ essa voz gigante/ ecoando em mim/ … / obrigada por este momento de angústia/ por esta raiva de ser mulher/ esta luz/ obrigado por este silêncio/ meu refúgio…/. Mas é também pelo verso de Odete Semedo que se percebe uma abordagem inovadora sintonizada com o género: … sou o rio que corre/ tropeçando em pedras e velas/ para chegar ao seu destino/ não sou mulher nem homem/ … apenas um pedaço deste chão.
Tanto tratadas, no entanto, são poucas as vozes femininas no universo literário guineense. Destacam-se: Odete Semedo; Saliatu Costa; Domingas Samy; Filomena Embaló; Teresa Montenegro; Eunice Borges; Mariana Ribeiro; Auzenda Nogueira; Filomena Correia; Gina Có; Irina Ramos e Rira Ié. Contudo, no segundo volume da antologia poética guineense, Traços no Tempo, participam já nove poetisas”
.

É este o registo que Tony Tcheka faz de crianças e mulheres na lírica guineense pós-independência. O outro documento que encontrei na Feira da Ladra intitula-se Retrato(s), o seu autor João Peres, edição do Núcleo de Olhão da Liga dos Combatentes, é uma lindíssima romagem de saudade que iremos ver a seguir.

(continua)

____________

Nota do editor

Último poste da série de 3 DE FEVEREIRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24034: Notas de leitura (1549): "O Santuário Perdido: A Força Aérea na Guerra da Guiné, 1961-1974 - Volume I: Eclosão e Escalada (1961-1966)", por Matthew M. Hurley e José Augusto Matos, 2022 (15) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P24040: Memórias de Luís Cabral (Bissau, 1931 - Torres Vedras, 2009): Factos & mitos - Parte II: O comandante Pombo que intercedeu junto do 'Nino' Vieira por causa da situação humilhante em que se encontrava o Luís Cabral, detido no Forte da Amura, sem cinto nas calças e atacadores nos sapatos, depois do golpe militar de 14/11/1980


Foto nº 1 > Guiné > c. 1972/74 > O comandante Pombo aos comandos de um Cessna dos  TAGP (Transportes Aéreos da Guiné Portuguesa) (era uma aeronave muito melhor equipada com instrumentos de navegação do que a DO-27)


Foto nº 2 > Guiné > c. 1972/74 > Imagens do Cessna, vermelho, pilotado pelo comandante Pombo (foto nº 1), dos TAGP (Transportes Aéreos da Guiné Portuguesa) em que o nosso camarada Álvaro Basto, ex-fur mil enf, CART 3492 (Xitole, 1971/74)  fez várias viagens entre o Xitole e Bissau, nos anos da sua comissão.

Fotos (e legendas): © Álvaro Basto (2008). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1º Srgt Pombo, piloto de F-86-F Sabre,
BA 5, Monte Real, 1961.

1. Há histórias que andam por aí perdidas, no nosso blogue, na floresta-galeria dos mais de 24 mil postes publicados desde 2004, e que fazem mais sentido se as situarmos num contexto de "memórias cruzadas". Por outro lado, é difícil dizer onde começa(m) e acaba(m) a(s) nossa(s) história(s), mesmo que seja(m) com h pequeno.

No seu livro de memórias (*), o Luís Cabral (1931-2009) não fala do seu piloto privativo, o comandante Pombo, pela simples razão de que o livro acaba no dia seguinte ao assassinato do irmão Amílcar Cabral (1924-1973).  

Ao que parece, esteve ( prometido um segundo livro com as "memórias presidenciais" (1973-1980) que, infelizmente, nunca chegaram a ser escritas ou, pelo menos, publicadas. E nesse segundo volume talvez o Luís Cabral quisesse (u pudesse) fazer a justiça de evocar, pelo menos, o nome do dedicado piloto, português,  do seu avião a jato, presidencial, um Falcon...

O mítico comandante Pombo, José  Luís Pombo  Rodrigues (1934-2017),  também já não está, fisicamente, entre nós. Morreu há seis anos, em 2/9/2017. Tinha 83 anos, feitos em 3 de junho desse ano.  

Tive o privilégio de falar com ele, duas ou trêz vezes, não na Guiné mas já cá, a primeira vez foi em 3/2/2015: tinha regressado, por razões de saúde, do Brasil (para onde fora viver em 2010). Tivemos uma longa conversa ao telemóvel. Depois conhecemo-nos pessoalmete e  estivemos juntos, pelo menos duas vezes, na Tabanca da Linha. 

Ao telefone, o nosso camarada, José Luis Pombo Rodrigues, popular e carinhosamente conhecido como o comandante Pombo, começou por falar-me dos problemas de saúde que o preocupavam então, e que terão motivado o seu regresso a Portugal. Transmiti-lhe os nossos votos de rápidas melhoras, em nome dos amigos e camaradas da Guiné, depois disso, recuperada a saúde, ele arranjaria, por certo, tempo e disposição para passar à escrita muitas das suas histórias e memórias da FAP e da Guiné, antes e depois da independência, e partilhá-las connosco. Infelizmente isso não chegou a acontecer. Mas ingressou, postumamente, na Tabanca Grande, e a sua presença, sob o nosso poilão, honra-nos a todos. (*)

O Pombo era então capitão piloto reformado.  Tinha feito, segundo bem percebi, 4 comissões na Guiné. Vivia em Bucelas, sendo grande amigo do major gen paraquedista Avelar de Sousa, que passou pelo TO da Guiné, integrando o BCP 12, como comandante da CCP 123 (1970/71), e foi ajudante de campo, entre 1976 e 1981, do gen Ramalho Eanes, 1º presidente da República eleito democraticamente no pós 25 de abril. E esse facto é relevante para se perceber a influência, discretíssima, que o comandante Pombo terá tido na libertação do ex-1º primeiro ministro da Guiné-Bissau, Luís Cabral, depois do golpe de Estado do ‘Nino’ Vieira em 1980.  Pareceu-me que não haver aqui imodéstia ou fanfarronice.

O comandante Pombo privou com os dois, o Luís Cabral e o 'Nino' Vieira. Dos dois era inclusive "amigo". Ao ‘Nino’ Vieira tratava-o mesmo por tu. E o Pombo continuou a ser o comandante Pombo, depois da independência da Guiné-Bissau. 

Terá havido, ao que parece,  um acordo entre as novas autoridades de Bissau e o governo português para que ele ficasse na Guiné... Desconheço as condições em que ele lá ficou. Sabemos que o PAIGC não tinha pilotos (muito menos MiG ou outros aviões). O comandante Pombo pilotava o pequeno Falcon que fora oferecido ao Luís Cabral, já não sei por quem (talvez pelos suecos). 

O Luís Cabral gostava muito do cmdt Pombo, e sempre que viajava com ele trazia-lhe uma garrafa de... champagne. (É interessante que o PAIGC não tinha ido buscar um piloto cabo-verdiano como o antigo sargento piloto, da FAP, o Honório Brito da Costa  (de resto mais novo, nasceu em 1941, sendo também um perfeito conhecedor dos céus da Guiné: depois de servir na FAP, no CTIG, onde terá feito duas comissões, regressou à sua terra; foi piloto comercial nos TACV - Transportes Aéreos de Cabo Verde, onde terá chegado a comandante).

Depois veio o golpe militar do ‘Nino’ em 14/11/1980 e o Luis Cabral ficou preso na Fortaleza da AmuraSem cinto, por alegadas razões de segurança!... (E possivelmente sem atacadores nos sapatos: é dos livros.)

O comandante Pombo foi visitá-lo e encontrou-o sem cinto, com as calças na mão, numa situação caricata e humilhante para um ex-chefe de Estado… Diziam-lhe, os seus carcereiros, que era para ele não poder fugir. Achando essa uma situação indigna, o Pombo foi falar ao seu amigo ‘Nino’, que lhe deu razão…

Mais tarde o Pombo moveu as suas influências, junto do seu amigo e camarada Avelar de Sousa… O presidente Ramalho Eanes, como é sabido publicamente, exerceu forte influência junto de ‘Nino’, no sentido de obter a libertação de Luís Cabral, preso há 13 meses. Primeiro, foi para Cuba e mais tarde veio para Portugal, tendo passado também, antes, por Cabo Verde.  Acabou por viver o resto da sua vida (cerca de 25 anos) em Portugal: viria a morrer, no antigo Hospital do Barro, em Torres Vedras, em 30/5/2009. Ramalho Eanes e Luís Cabral tinham muita estima mútua.

2. A este propósito o António Rosinha que viveu e trabalhou na República da Guiné-Bissau (era topógrafo na empresa TECNIL), depois da independência, entre 1979 e 1993, escreveu o seguinte comentário no poste P24031 (*):

"(...) Até certo ponto, o Presidente Ramalho Eanes teria dois motivos para receber bem, muito bem, o exilado Luís Cabral. E se não estou equivocado, também foi atribuída uma "mesada" ao presidente exilado.

Mas um dos motivos no meu entender, para Ramalho Eanes receber bem Luís Cabral, seria motivo político, era um ex-presidente de um PALOP.

O segundo motivo, no meu entender, seria um caso pessoalmente muito motivador, é que Luís Cabral proporcionou uma recepção na Guiné ao Presidente Ramalho Eanes, de tal maneira calorosa que passados mais de 2 anos dessa visita (1978), ainda se viam grandes cartazes com a foto do nosso Presidente, intactas e bem tratadas, nas mais importantes ruas da cidade de Bissau.

Mais tarde já com Nino na presidência, Ramalhos Eanes também foi bem recebido, mas não com tanta euforia. (...)"


Voltando ao comandante Pombo: contrariamente ao boato que corria na Guiné, no tempo da guerra colonial, ele nunca esteve feito com os “turras”… E a prova disso é que umas das aeronaves (não era um Cessna, era uma outra avioneta tipo DO 27…) foi perseguida por dois mísseis Strela, já depois do último avião da FAP ter sido abatido (em 31/1/1974, no leste do território)…

Ele contou-me os pormenores ao telemóvel: deve ter sido, deduzo eu, por volta de março ou mesmo abril de 1974, um ano depois do aparecimento dos Strela. O comandante Pombo vinha de Bissau para Farim, na “carreira normal” dos TAGP (Transportes Aéreos da Guiné Portuguesa)… O PAIGC (o Manecas dos Santos) conhecia o horário e os apontadores do Strela estavam à espera da aeronave nas imediações de Farim…

Havia a indicação de que a guerrilha queria mesmo cortar todas as ligações aéreas com o nordeste da Guiné. Deve ter havido falhas na segurança militar, nas imediações da pista de aviação… Para iludir os guerrilheiros, o comandante Pombo vinha com a sua avioneta a baixa altitude e a baixa velocidade. como mandavam as regras de segurança emitidas pela FAP no período pós-Strela. Mas antes de chegar ao destino ele fez inteligentemente uma mistura de combustível que não deixava rasto, isto é, "fumaça"… E, antes de aterrar, terá feito uma manobra de subida, na vertical, seguida de um voo a pique…

Foi o que eu percebi, desculpem-me se o relato é tecnicamente grosseiro… Mesmo assim não se livrou de ver passar-lhe, por perto, dois mísseis que lhe vinham dirigidos… Conseguiu, por fim, aterrar em segurança… "Não ganhei para o susto: os auscultadores saltaram-me da cabeça!", confessou-me ele...

3. Esta é umas das suas muitas histórias de piloto lendário, desde a famosa "Missão" de 1961, que já aqui foi contada (**)... De facto, o que muita gente também não sabia (eu incluído…) é que o comandante Pombo era um orgulhoso sobrevivente da “Operação Atlas”, a primeira (e única) travessia Monte Real – Bissalanca, feita pela Esquadra 51/201 (BA 5), constituída por aviões F-86F “Sabre”, realizada em agosto de 1961… Era então um jovem 1.º sargento piloto, com 27 anos...

O comandante Pombo esteve depois muitos anos no antigo Zaire em Kinshasa a trabalhar como piloto da companhia Sicotra Aviation (aviões de carga). Trabalhou ainda em Angola antes de ir para o Brasil em 2010.

O  que o Pombo nunca foi, isso não,  foi "piloto privativo" do Sékou Touré, a seguir à independência da Guiné-Bissau, como chegou a constar por aí... Esse boato foi desmentido pela filha, Maria João Pombo Rodrigues. 

Nas conversas que tive com ele, apercebi-me apenas que tinha pilotado o pequeno Falcon da presidência da Guiné-Bissau, tendo estado ao serviço do Luís Cabral e depois do 'Nino"... E que nessa condição chegou a levar várias vezes o presidente de São Tomé e Príncipe, Manuel Pinto da Costa, isso sim, no avião que era do Luís Cabral e que este emprestava ao seu amigo são-tomense... 

O comandante Pombo tem 24 referências no nosso blogue.  Já agora publicamos a seguir uma foto de grupo, tirada na BA 12, Bissalanca, em 1973, em que aparece o Pombo. Cortesia do Miguel Pessoa e do blogue dos Especialistas da BA 12, Guiné 65/74). (****)




Guiné > Bissalanca > BA 12 > 1973 > Foto (histórica) de grupo com diversos pilotos (sargentos e oficiais, alguns já nossos conhecidos e referenciados no nosso blogue, como por exemplo - citamos de cor - o cor Moura Pinto, o ten cor Lemos Ferreira ou o cap Branco) e duas enfermeiras (a Giselda e a Piedade). O Pombo (que nessa altura já estava nos TAGP, não sabemos quando entrou) é o terceiro da primeira fila, a contar da direita para a esquerda. (E em quinto lugar, o nosso então ten pilav Matos, António Martins de Matos, hoje ten gen ref; o Miguel Pessoa não aparece na foto, pode ter sido ele o fotógrafo.)

Foto (e legenda): © Miguel Pessoa (2014). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
___________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 2 de fevereiro de 2023 > Guiné 61/74 - P24031: Memórias de Luís Cabral (Bissau, 1931 - Torres Vedras, 2009): Factos & mitos Parte I: Ainda não foi desta que o autor nos contou toda a verdade...

Vd. também o poste de 4 de março de 2009 > Guiné 63/74 - P3983: Nuvens negras sobre Bissau (16): O Nino e o Luís Cabral que eu conheci, em 1979-1993 (António Rosinha)


(***) Vd. poste de 4 de fevereiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14218: Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras (32): Falei ao telefone com o comandante Pombo, amigo de Luís Cabral e de 'Nino' Vieira... e sobretudo um orgulhoso sobrevivente dos Strela (em 1973/74) e da "Operação Atlas", em agosto de 1961 (travessia, com uma esquadra de F-86F “Sabre”, Monte Real-Bissalanca, num total de 3888 km e o tempo de 7h50 sobre o Atlântico) (Luís Graça, com José Cabeleira, cap TMMA ref, Leiria)

(...) No dia 8 de agosto de 1961, oito F-86F "Sabre" descolaram da BA-5 para dar início a uma longa viagem que os levaria até Bissalanca (!)... Os aviões escolhidos para a missão foram os seguintes 5307, 5314, 5322, 5326, 5354, 5356, 5361 e 5362. A missão foi executada com êxito, os 8 aviões aterraram em Bissalanca no dia 15 de agosto. Segundo informação do blogue dos nossos camaradas "Especialistas da BA 12, Guiné, 65/74", o Pombo terá levado para Bissalanca o F-86F "Sabre" 5314.  (...)



(****) Blogue Especialistas BA12 Guiné 65/4 > 28 de fevereiro de 2014 > Voo 3068 > A Minha Colaboração (Miguel Pessoa, cor pilav, Lisboa)

Guiné 61/74 - P24039: Parabéns a você (2143): José Teixeira, ex-1.º Cabo Aux. Enfermeiro da CCAÇ 2381 (Buba, Aldeia Formosa e Empada, 1968/70)

____________

Nota do editor

Último poste da série de 4 de Fevereiro de 2023 > Guiné 61/74 - P24035: Parabéns a você (2142): José Belo, Cap Inf Ref, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2381 (Ingoré, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70) e Mário Silva Bravo, Médico Ortopedista, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 6 (Bedanda, 1971/72)

domingo, 5 de fevereiro de 2023

Guiné 61/74 - P24038: Blogues da nossa blogosfera (177): A matança do porco de antigamente... e a alegria da festa que não se compra nos hipermercados (Augusto Pinto Soares, coeditor de "A Nossa Quinta de Candoz")


Marco de Canaveses > Paredes de Viadores > Parque de merenda de Nossa  Senhora do Socorro > 31 de agosto de 2019 > 6º encontro da família Ferreira > O nosso "Gusto", natural  do orto, casado com uma Ferreira Carneiro, nascida em Candoz... Ele é o homem dos sete ofícios, podador, enxertador, tractorista, contabilista, etc., incluindo acordeonista...  E de há quatro anos a esta parte, um grande cuidador, que sabe lidar como poucos com a doença crónica da sua Ana (que tem sido uma heroína)...

Mas a vida não é só dor, sofrimento, doença, tristeza... Na festa da família Ferreira não podem faltar todos os elementos da festa da vida... o pão, o vinho, os salpicões, o anho assado com o arroz de forno, os pastelinhos de bacalhau,  a doçaria,  a alegria, a música, a reinação, as cantigas à desgarrada, os cantaréus, a dança, a "canalha" (as crianças, os adolescentes), os jovens, os graúdos, os pais. os avós e os bisavós...

Cada "família" trouxe o seu pestisco, que foi partilhado nas  mesas de granito do parque das merendas, sob a benção da Nossa Senhora do Socorro... Era já noitinha quando cada família  arrumou a trouxa e voltou às suas casas, uns mais perto, outros mais longe, com vontade de voltar no  ano seguinte (estava agendado, o 7º convívio,  para 29 de agosto de 2020, mas a pandemia de covid-19 pregou-nos a partida, e que partida!)... 

Afinal, a vida são dois dias e a festa da vida deviam ser três...

Foto (e legenda): © Luís Graça (2019). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Teve bom acolhimento, entre os nossos leitores, o poste do Francisco Baptista sobre a matança do porco na sua aldeia de Brunhoso, concelho de Mogadouro, Terra Fria Transmontana (*). Uma terra  "rica e autossuficiente", escreveu ele, num dos postes da sua série "Brunhoso há 50 anos". Aliás, ninguém como ele, neste blogue, comnseguiu manifestar por escrito, com tanta evidência, ternura e talento literário, o amor que que se pode ter  à terra que nos viu nascer. (Desta série, sairia, de resto, o seu livro "Brunhoso, Era o Tempo das Segadas - Na Guiné, o capim Ardia", edição de autor, 2019, 388 pp.)

Não nos levem a mal que, em complemento dessa narrativa, de inegável interesse etnográfico, e que sobretudo nos ajuda a reconstituir ou reviver parte das memórias das nossas raízes telúricas, eu reproduza também aqui um texto, da lavra do meu cunhado e sócio, Augusto Pinto Soares (o "Gusto"), s0bre "a matança do porco de antigamente" em Candoz (região duriense), publicado originalmente no blogue de que somos, eu, a Alice e ele, editores, "A Nossa Quinta de Candoz" (**). Para além de saborosos pormenores que ilustram a "festa" e a "gastronomia" associadas ao porco (elemento essencial da economia doméstica das famílias rurais no Norte), há também uma boa ilustração fotográfica, que falta ao poste do Francisco Baptista.

São do Augusto Pinto Soares também dois notáveis postes, já aqui publicados, sobre as vindimas de antigamente (***). (De resto, a Quinta de Candoz também é uma tabanca: a Tabanca de Candoz tem mais de meia centena de referências no nosso blogue.)


Quinta de Candoz: a matança do porco de antigamente

Texto de Augusto Pinto Soares (2005)

Créditos fotográficos: Luís Graça (2005) e Luís Filipe Soares (2005)


Quinta de Candoz (sita em Candoz, antigo concelho de Bem Viver, hoje freguesia de Paredes Viadores, concelho do Marco de Canaveses, distrito do Porto) > O amanhecer em Candoz... O rio Douro, a albufeira da barragem do Carrapatelo, Porto Antigo, ao fundo,  a serra de Montemuro, Cinfães (já no distrito de Viseu) coberto de nevoeiro cerrado.

Manhã cedo, quase a alvorecer, fria como convinha. Ao longe, as serras estão brancas, cobertas com um manto de neve. Típica manhã de Dezembro.

Os dedos enregelavam. O dono da casa e os filhos já espigadotes, com corpo de homem, agasalhados com capotes e samarras com pele de coelho no colarinho, calçados com socos de madeira que estropiam nos montes de geada congelada no chão, esfregam as mãos tentando fazer girar o sangue para as aquecer.

Era o dia da matança do porco. Dia esperado com alguma ansiedade pois parecia dar abundância naqueles tempos de míngua, de escassez. A matança era um momento solene, porque muitas famílias não tinham mais nada além do porco.

O ambiente ia sendo preparado. O carro de bois já tinha sido colocado de feição. As panelas com água já estavam na lareira, entretanto acesa, para ferver água. Molhos de palha, amarradas como archotes, estavam prontos. Um alguidar com um pouco de vinho verde tinto no fundo aguardava junto ao carro.


Quinta de Candoz > O velho carro de bois, agora peça de museu, onde, antigamente, se sacrificava o animal...

Os preparativos estavam feitos. Munido das suas facas e do respectivo afiador, eis que chegava o matador. Homem experiente, já de certa idade, lavrador como todos os outros mas que há já muitos anos, nestas alturas, se dedicava a matar os porcos que a vizinhança das redondezas lhe solicitava. Era uma arte a que poucos se dedicavam.

A dona da casa já tinha preparado o mata-bicho (broa de milho e centeio e aguardente – alguns preferiam-na com um pouco de açúcar) para aquecer os corpos, ainda esfriados como a manhã.

O dono da casa, o matador e mais três ou quatro filhos lá se dirigiam para a corte onde o bicho, qual condenado sem saber a sentença que lhe coubera de sorte – mas parecendo que a adivinhava – olhava de soslaio, e com alguns guinchos, para aqueles vultos que não era costume aparecerem àquelas horas para lhe darem de comer – o que tanto desejava pois desde o dia anterior que pouco ou nada tinha comido, apenas alguma água de lavagem. Desconfiado, ia-se resguardando no canto mais recôndito que encontrava na corte.


Marco de Canaveses >  Feira do gado > O porco era o governinho da patroa e o boizinho, vendido na feira do Marco, uma das poucas fontes de receita dos lavradores e sobretudo dos caseiros, para além do vinho e do milho, antes do 25 de Abril. (O boi da foto era um animal de trabalho, a junta de bois substituía o tractor.)

O dono da casa ou normalmente o próprio matador, munido de uma corda de amarrar os bois, entrava e aproximava-se do animal. Os outros, à porta cercavam o local.

– Oh bitcho! Oh bitcho!

Com alguma dificuldade mas com a mestria de quem tantas vezes já tinha efectuado aquela tarefa, o matador colocava a corda, como um açaimo, em redor do focinho e entre os dentes do animal.

Agora, puxado para fora da corte e com os restantes homens a vigiar – não fosse o bicho fugir, o que não seria a primeira vez – era conduzido para o carro de bois. E todos num verdadeiro esforço lá conseguiam deitá-lo com a cabeça para baixo junto à cabeceira do carro.

Os quatro homens seguram-no, cada um em sua pata e colocado o alguidar com o vinho (para o sangue não coagular) por debaixo da cabeça do bicho, o matador, dando uma palmada (tal como se fosse para dar uma injecção) por cima do sítio onde a faca iria entrar, espeta-a com precisão cirúrgica, junto à goela, no único sítio que fará com que o sangue flua completamente para o alguidar. Os berros do bicho são essenciais para que o sangue saia todo e são sinal que a faca foi espetada no sitio certo.

 Sim senhor! A faca foi bem metida! Nem uma pinta de sangue lá ficou! Deu-o todo!

O alguidar já vai para a cozinha onde o sangue será cozido (a água já ferve na panela de ferro que está à lareira) para, daqui a pouco, ser levado como pitéu, juntamente com broa e vinho verde tinto, aos homens. È o dejujuadoro (deixar de estar em jejum) daquele dia.


Quinta de Candoz > c. 1980 > A matança do porco: cinco homens e duas mukheres oara matar um porco... Uma cena, hoje cruel para os nossos filhos e netos citadinos (a que a criança do cmapo se habituava desde tenra idade...), e  que Bruxelas quis definitivamente banir dos nossos campos e aldeias em nome de uma concepção fundamentalista da saúde pública e de uma Europa globalizada, normalizada e tecnocrática, matando a etnodiversidade... O "Gusto", em segundo plano, ao centro, de óculos...A Alice Ferreira Carneiro, do lado direito, de perfil, em primeiro plano...  O "matador" é o Manuel Ferreira Carneiro, o único dos três rapazes da família que ficou livre da tropa por deficiência  numa perna. Três raparigas completavam a famíia Ferreira Carneiro.

Aceso um molhe de palha pouco a pouco vai-se tostando a pele do bicho, queimando-se os pêlos para que o couro fique o mais liso possível. Os homens já não sentem tanto o frio. O esforço e a tocha a queimar a pele do bicho já os fez aquecer. Entretanto já lá vem o sangue cozido que, com a broa e o vinho, os fará aquecer ainda mais. Os casacos e as samarras já são um estorvo!

– Bitcho bô! ...Pesa bem cem quilos!

– Eu não dou tanto! P’raí uns noventa e três!

– Depois veremos! Há aí uma balança para tirar as teimas!

A pele do animal já está quase escura. Com sacholas, facas, escovas e pedras rapam-se os pêlos já queimados, lavando ao mesmo tempo o couro.


Quinta de Candoz > A palha de centeio com que se limpava e tostava a pele do animal...

Escaldada a língua e a orelheira, faz-se a limpeza a essas partes. Dá-se agora mais uma achega de calor com a palha a arder para que a pele fique mais tostada – a cor dum verdadeiro leitão assado – e com água e sabão completa-se a aparência final.

Com as mãos da frente amarradas a um estadulho do carro de bois e o mesmo para as patas traseiras o bicho é erguido pelos quatro homens que, quais gatos-pingados em cortejo fúnebre, o levam para a loja da casa – o sítio mais fresco – onde pendurado nuns ferros fixos ao tecto (que sempre lá existiram para o efeito) e com a cabeça para baixo será preparado para uma primeira dissecação.


Quinta de Candoz > A desmancha do bitcho na loja (o piso térreo da casa rural que servia para armazenamento ou para apoio às actividades agrícolas: era lá que ficava o lagar, as pipas do vinho, a salgadeira, etc.)

Enquanto os homens se ocupam em outros serviços (é tempo de podar as videiras), o matador e a dona da casa iniciam a primeira operação de desmanchar o porco. Aberta a barriga desde a garganta até ao ânus, são-lhe então retiradas as tripas (que depois de frenética e convenientemente lavadas em água corredia, passadas várias vezes por água bem quente, esfregadas com sal e limão e marinadas com vinho alho e limão serão usadas para fazer as moiras e os salpicões); os miúdos (coração, bofes, goela, etc.) que no dia seguinte devidamente cortados em pequenos pedaços, adicionadas com vinho verde tinto, algum sangue, de carne das capas e demais condimentos, darão as referidas moiras que depois de fumadas no sarilho (cravado na chaminé por cima da lareira), propiciarão um lauto manjar de arroz “a fugir pelo prato fora” com feijão branco e grelos.

A língua servirá para um óptimo salpicão que será apreciado no Carnaval. O fígado cozia-se para depois ser comido frio, ás fatias, com um bom naco de broa. A bexiga, depois de cheia com ar e amarrada no topo, como um balão, vai a secar junto ao fumo da lareira como sinal que se tinha feito uma matança de porco e em alguns casos para servir como irrigador para dar clisteres a quem deles necessitava. Desde o unto à bexiga nada se podia perder. 

Nesses tempos, o porco era o governo da casa, algo de que a patroa se poderia socorrer sempre que era preciso confeccionar uma refeição mais elaborada (em dias de festa por exemplo) para a família ou para eventuais visitantes citadinos que de quando em vez apareciam. Era uma boa oportunidade para a patroa pôr à prova os seus dotes culinários e de gestão alimentar transformando o corpulento animal em fartura para a casa durante o ano.

Já sem as entranhas, com a barriga bem aberta e segura por espetos de madeira cravados duma banda à outra para melhor expor o interior, recheado de ramos de folhas de loureiro aí vai ficar o bicho a secar e a arrefecer a carne até ao outro dia.

A porta devidamente fechada à chave não só para prevenir a entrada de moscas (não são normais neste tempo de frio mas…) que poderão conspurcar a carne, mas também não vá aparecer um daqueles vizinhos maganões que por brincadeira leve o porco da loja deixando os donos da casa atormentados e com os cabelos em pé por pensarem que lhes roubaram o que tanto lhes tinha custado a criar no último ano e que seria o principal sustento da família durante o próximo.

O almoço já apetecia. O odor do salpicão paioto (o maior) – reservado até agora da matança do porco do ano anterior – a cozer juntamente com um arroz malandro convidava ao repasto e fazia crescer água na boca.

Novo dia. Nova expectativa de mais fartura.

A meio da manhã, o matador chegava preparado para a segunda operação de desmanchar o porco. Descido dos ganchos que o sustiveram durante a noite era então levado para a balança.

– Cento e cinco quilos!
– Eu sempre tinha razão! Tenho o peso nos olhos!
– Pois,  olhe, eu fazia-lhe menos um bocado!

Preparada a tábua – em cima de uns cepos – com uma toalha de linho onde o porco seria dissecado, preparados os panos – também de linho – onde as várias qualidades de carne seriam colocadas consoante o seu destino – o matador, sob a vigilância aguçada da dona da casa, começava a desmancha cortando sabiamente cada peça de forma a ter o maior aproveitamento possível.

 – Corte mais por ali! Tire as capas mais fininhas!

 – Tá bem, Tia Maria!

 – Arredonde-me mais esse presunto! Essa gordura vai para pingue!

Meticulosamente cada peça dá o seu melhor para a salgadeira ou para o fumeiro.


Quinta de Candoz > A continuação da desmancha do bitcho na loja...Um dos especialistas era o mano mais velho, o António Ferreira Carneiro, que na tropa foi 1º cabo magarefe, e é DFA: fez parte do  Destacamento Avançado Móvel de Intendência nº 664 (Moçambique, Tete, 1964/66; era conhecido como o "brasileiro")  

E pouco a pouco as várias partes do porco lá iam sendo cortadas, preparadas e separadas: as bandas (para fazer os rojões), os coelhos (para os melhores salpicões pois é a coisa mais gostosa que tem o porco, muito tenrinha.), a cabeça com as orelhas a serem comidas por altura do Entrudo ou na primeira lavourada, a caluba (para salpicões), a espinha (para dar sabor à sopa), os lombos (para os salpicões), as costelas, as capas (donde saíam as melhores fêveras para assar – que sabor… – mas poucas, pois poupar era preciso e eram bem necessárias para as moiras), os meios, os presuntos, as pás e finalmente a cumeeira (couro com a parte mais gorda que se usava para fazer banha ou unto – cortava-se aos poucos, um bocadinho de cada vez, para durar o ano todo - e juntava-se à sopa para lhe dar a gordura que a enriquecia ou, quantas vezes, migava-se com sal fazendo-se assim extrair mais gordura).

A hora de almoço chegava e naturalmente era servido um arroz de costelas mas, um ossinho para cada pessoa e, só porque era o dia da matança. À lareira umas boas brasas aqueciam o ambiente frio da manhã e … assavam fêveras das bandas, só com uma pitada de sal para – uma por pessoa – acompanhar aquele arroz com o suco que delas saía.

O cheirinho que exalava.

 Oh! Sabor dos sabores… Só possível dum porco caseiro, criado durante quase um ano com os restos da comida caseira. Era quando uma boa caneca de vinho verde tinto da casa, da colheita há pouco acabada de fazer, com o característico sabor málico – a transformação malo-láctica ainda não se tinha efectuado – bem adstringente, fazia exclamar:

– Isto até dá vida a um morto! …

Acabada aquela soberba refeição e enquanto os homens se dirigiam para os trabalhos do campo (podar, cortar erva para os bois, pensar o gado, etc.), o matador e a dona da casa lá iam para a loja tratar de salgar o porco.

E esfrega que esfrega, os presuntos e as pás, mais que as outras peças, lá iam ficando bem impregnados de sal. Então, na salgadeira (caixa enorme de madeira) – o frigorífico da altura – onde iriam ser consumidos entre cem a cento e vinte quilos de sal, as peças, de acordo com a sua utilização temporal iam sendo acondicionadas com cuidado e sempre bem cobertas e aconchegadas com o sal – nisso a “patroa” era intransigente –.

 –  Olhe, Tio Rocha, aqui está a cumeeira! Ponha-a bem no fundo! Tem que dar para o ano todo!

E lá seguiam os presuntos (que aí permaneceriam cerca de quatro meses, para depois, previamente esfregadas com colorau - pimentão doce - e conjuntamente com as pás, serem expostas ao fumo), as pás (cerca de três meses), os ossos a calçar as várias peças, as unhas, os lombos (aí estariam só cerca de dois a três dias para depois serem colocados em vinha d’alhos e quarenta e oito horas depois se fazerem os salpicões) e a cabeça.

Mais umas boas garfadas de sal a cobrir tudo para que nada ficasse exposto ao ar e… estava terminado o trabalho.


Quita de Candoz > A panela de ferro onde se faziam os rojões...

A noite aproximava-se. Era preciso preparar a panela de ferro onde os rojões seriam feitos para dar cumprimento à tradição e ao manjar final do dia da matança do porco. Uma pequena parte, das bandas do porco, já tinha sido separada e cortada aos pedaços. A carne entremeada de uma parte gorda e outra magra (próprio daquela parte da barriga), juntamente com o couro e sempre acompanhada do redenho ou gola ou lenço – tecido que separa as tripas grossas das finas – é então deitada na panela com um pouco de banha e com paciência e a ajuda de uma colher de pau, mexe e remexe e torna a mexer, lá se vai vendo os rojões a ficar douradinhos, untados, deliciosos quanto baste para se ter a tentação – sem que a dona da casa o visse – de sorrateiramente se surripiar um, bem quentinho, directamente de panela, que é o que melhor sabe de todos os que se irão comer. A boca até parece empolar com a quentura e sofreguidão com que é facilmente mastigado e digerido. As batatinhas mais miúdas – separadas especialmente para o efeito – também já estão prontas e bem molhadas na banha que serviu para as cozer.


Quinta de Candoz > Os rojões douradinhos...


Quinta de Candoz > Os manjares do porco ... Que cheirinho!... Que sabor!... Que saudade!…

Uns bons travos de vinho para acompanhar e está terminado o dia da matança do porco. Durante o ano que se vai aproximar, naco a naco, o porco vai ser utilizado para ocasiões especiais mas sempre poupadinho para durar até à matança do próximo.


Quinta de Candoz > A matança do porco era também uma festa... E à noite havia sempre cantorias... Em primeiro plano, o Manuel Ferreira Carneiro.


Quinta de Candoz > Vinham os vizinhos, os amigos e os familiares de mais perto e de mais longe... Ainda era vivo o patrão da casa, o José Carneiro (1911-1996) (ao fundo, à cabeceira da mesa), tal como a dona da casa, Maria Ferreira (1912-1995). Portanto, a foto só pode ser do séc. XX...


Quinta de Candoz > A festa à volta da mesa... Do lado direito, em primeiro plano, de perfil o caçula da família, o irmão mais novo da Alice (que é do meio), o José Ferreira Carneiro (ex-1º cabo, operador de transmissões, de rendição individual,  1969/71: pertenceu  à CCAÇ 313 / BCAÇ 13 (1969/71), aquartelada em Camabatela; era uma companhia que guardava os cafezais lá da região, no norte de Angola, perto de Negage e de Quitexe; hoje, Camabatela, sede do município de Ambaca, pertence à província de Quanza Norte). (Engraçado, caçula, vem do quimbundo, "kasule", filho último, derradeiro, o último de uma série.)

Hoje em dia, a matança do porco ainda se realiza aqui ou ali, mas com menos frequência e os métodos utilizados também evoluíram sendo já mais modernos. Cada vez é mais rara a criação doméstica do porco e tende a desaparecer a tradição da matança. 

Em Bruxelas vai-se discutindo se isto é uma tradição mas, mesmo que decida em sentido contrário (alguém se importará?) tal não é necessário porque enquanto este costume se for mantendo a tradição completar-se-á. Naturalmente, pouco a pouco, este uso vai perder-se porque é mais fácil, menos trabalhoso, provavelmente mais económico ir a qualquer grande ou pequeno supermercado comprar as partes e quantidades necessárias para simular uma matança de porco.

freima, aquela pequena festa, aquela fugaz alegria de ter fartura durante uns tempos, essas não se compram e... o sabor da carne daquele porco caseiro, criado durante quase um ano com os restos da comida caseira, algum farelo, couves, batata cozida, etc., esse… muito menos.

Texto de Augusto Pinto Soares (2005)

Créditos fotográficos: Luís Graça (2005) e Luís Filipe Soares (2005)

[ Seleção / revisão e fixação de texto / negritos / título, para efeitos de publicação neste blogue: LG]
__________

sábado, 4 de fevereiro de 2023

Guiné 61/74 - P24037: Os nossos seres, saberes e lazeres (554): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (88): Leeds, a próspera, sempre em renovação, aqui dá gosto ser pedestre (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 2 de Janeiro de 2023:

Queridos amigos,
Era a véspera do regresso, assim se programou esta visita relâmpago a Leeds, uma metrópole que se orgulha de ser gigante mas onde tudo (ou praticamente tudo) se pode fazer a pé, saí do autocarro, andei a farejar as novidades (pus aqui os pés um pouco antes da pandemia), dirigi-me aos meus locais de culto, fui bem compensado, até encontrei promoções a uma libra de cd's na Grande Biblioteca, deslumbrei-me com as mudanças na arquitetura, olhei sempre com admiração para o quadro de Francis Bacon, dei pela falta da Paula Rego, andava em itinerância, fechei os olhos agradecido por tão belo passeio, houvesse tempo e até iria visitar com imenso gosto a uns quilómetros daqui Harewood House, uma propriedade que pertenceu a uma princesa real e que tem uns jardins de sonho, nestas, como noutras coisas, pensa-se que a vida nos tem dado enormes dádivas e compensações, oxalá que possa voltar a este Yorkshire tão amigável.

Um abraço do
Mário



Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (88):
Leeds, a próspera, sempre em renovação, aqui dá gosto ser pedestre


Mário Beja Santos

Imponente pela arquitetura, praça financeira de indiscutível importância, aqui respira-se prosperidade. Pega-se no guia do visitante e fica-se a saber que depois de Londres é a única cidade que tem companhias de ópera e ballet residentes, a Opera North e o Northern Ballet, atuam num espaço opulento, a Leeds Playhouse e no Leeds Grand Theatre.
Desembarca-se no terminal rodoviário, ali perto fica uma praça que nos deixa boquiabertos, uma magnificência escultórica entre arranha-céus, muitas obras, muito dinamismo, ora vejam este triunfalismo arquitetónico e no ponto central da praça a estátua do lendário Príncipe Negro.

Daqui, com o mapa na mão, procuro a Leeds Art Gallery, encravada entre o Instituto Henry Moore, a Biblioteca Central e o magnificente edifício da autarquia. Perguntei por uma pintura de Paula Rego que em visita anterior estava exposta no vestíbulo, frente a um quadro de Francis Bacon, tinhas ido para uma exposição, voltava em breve. Entrei e fui ver a sala dos românticos e naturalistas, nada de assombroso, mas há para ali quadros que a retina acolhe muito bem, saíram da mão de mestres, aqui deixo alguns exemplos.
Escultura de Barbara Hepworth, a minha escultora contemporânea preferida

A Galeria de Arte de Leeds tem em permanência exposições, não resisti a visitar a exposição “Rebellion to Romance”, dedicada à 2ª geração de britânicos provenientes das Índias Ocidentais, um trabalho brilhante de levantamento etnográfico e etnológico, acho que esta imagem vale por mil palavras.
Era inevitável contemplar este genial Francis Bacon e depois o escultor Antony Gormley e sua maquete para o Homem de Tijolo de Leeds. É sempre com enorme prazer que aqui venho, oxalá volte depressa, também tenho saudades de ir contemplar outro génio, Henry Moore, num instituto aqui ao lado, tem mesmo de ficar para a próxima, ainda quero amesendar na cafetaria da Biblioteca, adoro o edifício, estes interiores marcados pelos períodos vitoriano e eduardiano são fabulosos, aqui fica uma amostra.
Com o estômago reconfortado, prossegue a viagem, este palácio autárquico parece ser o cartão de visita da prosperidade de Leeds, outrora uma cidade cerealífera e têxtil de largos poderes, hoje zona financeira só superada pela City londrina, não esconde ser uma praça das artes (recordo que possui um importante concurso internacional de piano, Artur Pizarro foi primeiro prémio há umas décadas), capricha, para além do mundo dos negócios em ser uma atração turística e possuir uma enorme capacidade de adaptação dos seus armazéns marítimos em prédios de habitação. Vamos então prosseguir viagem.
Um gigantismo de pedra a rivalizar com os gigantismos de Londres, a torre do relógio é uma beleza, transfigura todo aquele tamanhão de pedra e a pomposidade da colunata
Imagens avulsas do passeio pedestre, a elegância da escadaria para a Galeria de Arte, onde avulta a escultura “A Mulher Reclinada” de Henry Moore, as flores outonais e um impressionante design aposto à Galeria de Arte, inteligente e suscetível de uma leitura rápida e completa
Leeds é famosa pelo seu comércio no chamado Victoria Quarter, sãos as arcadas vitorianas que dão pelo nome de Queen’s Archade, Thornton’s Archade, Grand Archade, de ourivesaria às boutiques de maior luxo tudo aqui se pode encontrar.
Imagem do interior daquele que será o edifício mais icónico de Leeds, The Corner Exchange, a Bolsa dos Cereais transformou-se num centro comercial onde primam os valores da contemporaneidade, o contraste é uma guloseima para os olhos
Vista do exterior da Bolsa dos Cereais
Estou a despedir-me de Leeds, aqui estão os velhos armazéns e a prova de que a arquitetura pode andar ao lado da pintura, da escultura, o que estamos a ver são belas-artes, a sublime capacidade de reaproveitar o que parecia destinado à demolição num espaço de arquitetura com laivos modernizantes com inserções de bom gosto e que garantem a Leeds estar na vanguarda da inovação. Adeus, até ao meu regresso.
____________

Notas do editor

Vd. poste de 28 DE JANEIRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24018: Os nossos seres, saberes e lazeres (552): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (87): Uma visita a legados presidenciais, a pretexto da exposição Pintasilgo (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 31 DE JANEIRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24026: Os nossos seres, saberes e lazeres (553): As matanças eram tempos de celebração e de paz entre as famílias (Francisco Baptista, ex-Alf Mil Inf)

Guiné 61/74 - P24036: Blogues da nossa blogosfera (176): revisitando e revendo mais 13 da nossa velha lista (de L a N)


Memórias de Jolmete - Ex-alf mil Manuel Resende, CCAÇ 2585 (1969/71), o régulo da Tabanca da Linha

1. Continuamo a rever a nossa lista (já antiga e que nunca tinha sido  atualizada, aumentada, corrigida,  melhorada...) dos cento e poucos blogues e outras páginas na Net  que faziam parte da nossa blogosfera (c. 110)... Constava/consta da coluna estática do nosso blogue, no lado esquerdo.

Hoje fizemos a verificação, desses blogues e páginas, de L a N (n=13). Metade desses sítios já não existem, foram descontinuados, mudaram de URL... 

Como temos dito, é o preço que se paga por uma existência virtual, que é sempre precária, dependente da boa vontade ou dos caprichos dos servidores (alguns que já não existem, como o Clix, o Sapo, o Terràvista... O Serviço de Alojamento Gratuito de Páginas Pessoais do Sapo, por exemplo, foi descontinuado em dezembro de 2012.)

Os blogues e outras páginas que deixaram de estar "on line" vêm assinalados, em baixo, com um asterico. Nalguns casos têm novos endereços. Alguns destes "sítios" (ou "web pages") poderão ser recuperados através do Arquivo.pt.


Lamparam II, Página de Leopoldo Amado (*)

"Espaço guineense de análises, divulgação de textos e comentários sobre a Guiné-Bissau e o mundo africano. Envie-nos a sua contribuição: leopoldo.amado@gmail.com"...

"Bem-vindo ao Lamparam, espaço guineense de permuta de ideias, reflexões, análises e comentários. Lamparam:  nome escolhido propositadamente para este espaço, justifica-se por verosimilhança,  pois é a palavra ou a expressão por que se designa no crioulo da Guiné-Bissau um engenho tradicional de propulsão normalmente utilizado nas plantações e nas bolanhas da Guiné-Bissau para afugentar a acção predatória das aves sobre as culturas."

Infelizmente teve vida curta: de fevereiro a setembro de 2006... E o nosso amigo e grã-tabanqueiro Leopoldo Amado, historiador,  também já nos deixou em 2021, vítima da pandemia de Covid-19. Vivia em Bissau. É uma grande perda para a Guiné-Bissau.

Tem um novo "site", com novo "design",  mas o URL é o mesmo, 

https://www.ligacombatentes.org/
"Primeiro estava no Blogue-Fora-Nada, que era uma caserna da tropa. Agora chama-se Luís Graça & Camaradas da Guiné. Blogue-Fora-Nada E vão três. Não desertei. Mudei-me apenas para este Tê Dois. Rés do chão com jardim, barbecue e vista para o mar, as Berlengas da minha infância ao fundo: para poder cultivar as minhas blogarias de luxo. Dispenso a piscina, mas não as falésias de Paimogo ou a praia da Peralta,na Lourinhã. © Luís Graça (2006-2008). Direitos reservados."

... Desde 2013 que não é atualizado... Mas o autor promete voltar, se tiver vida e saúde...



Cortaram-lhe o pio, ao fim de muitos anos. Quem disse que as páginas na Net  morrem de pé?... Mas foi salva, felizmente, pelo Arquivo.pt

Infelizmente já não pode ser atualizada... É uma "peça de museu". Mas tem imensos recursos para quem se interessa por temas como a saúde, o trabalho, as profissões de saúde, a história da medicina e da saúde, etc.



Estava alojada no Sapo. Foi descontinuada. 

http://lusotopia.no.sapo.pt/indexGB.html

Mas mesmo assim foi capturada pelo Arquivo.pt em novembro de 2013




Teve vida efémera. Os "Maçaricos" (ramo a que pertence o nosso editor LG pelo lado paterno) publicaram um livro e fizeram dois encontros. Depois esgotaram as baterias... A página, alojada no Sapo, foi descontinuada... Mas o Arquivo.pt capturou-a 

http://macaricos.no.sapo.pt/


Um pouco de história sobre o clã (interessa a alguém ?):

(...) "Ribamar na época dos Descobrimentos era já um importante centro de construção naval, tendo ainda existido até cerca de 1930 um estaleiro que situava no local onde está hoje a antiga escola primária.

E já nesses tempos idos os Maçaricos eram reconhecidos como especialistas nessa área tendo acompanhado diversas expedições navais. E provavelmente estabeleceram-se também noutras localidades onde existiam estaleiros, possível explicação para haver outras famílias Maçarico espalhadas pelo Pais, como por exemplo em Mira".(...) 

  • Marinha Portuguesa
Portal oficial da Marinha Portuguesa na internet. O endereço correto é:

https://www.marinha.pt/pt



A página já não existe, a banda também não... Criada em 2006, fez mais de 150 cocnertos pelo mundo fora,  durou cerca de 10 anos... Cada um foi à sua vida... O João Graça continua a ser nosso grã-tabanqueiro. E a tocar violino.

https://myspace.com/melechmechaya

"O Portal das Memórias de África e do Oriente é um projecto da Fundação Portugal-África desenvolvido e mantido pela Universidade de Aveiro e pelo Centro de Estudos sobre África e do Desenvolvimento desde 1997.

"É um instrumento fundamental e pioneiro na tentativa de potenciar a memória histórica dos laços que unem Portugal e a Lusofonia, sendo deste modo uma ponte com o nosso passado comum na construção de um identidade colectiva aos povos de todos esses países.

https://1950pinto.blogspot.com/

Ainda vai mexendo, desde 2012... O José Pinto pertenceu ao BCav 8320/72  (Bula, 1972/74). Fala sobretudo dos convívios que a malta do batalhão ainda vai fazendo.


"Este Blog destina-se a contar estórias da CCAÇ 2585 passadas em Jolmete (Pelundo) desde Maio de 1969 a Março de 1971, altura da nossa comissão militar. Propomo-nos também divulgar trabalhos e convívios de todas as Companhias que por lá passaram, antes e depois de nós, e que queiram colaborar. Aceitamos estórias reais, ou mais ou menos, desde que tenham um fundo de verdade."

Página do Manuel Reswnde, régulo da Tabanca da Linha (Algés).


Alojado no Sapo, foi descontimaudo me finais de 2012.Mas pode ser consultado aqui, através do Arquivo.pt. Estão cá todos os navios que nos levaram para (e trouxeram da) Guiné. Frota da marinha mercante existente em 1958. 



Ver novo endereço do portal, que abrange o universo da lusofonia:
___________

Guiné 61/74 - P24035: Parabéns a você (2142): José Belo, Cap Inf Ref, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2381 (Ingoré, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70) e Mário Silva Bravo, Médico Ortopedista, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 6 (Bedanda, 1971/72)

____________

Nota do editor

Último poste da série de 29 DE JANEIRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24020: Parabéns a você (2141): Luís Graça, fundador e editor deste Blogue, ex-Fur Mil Armas Pesadas Inf da CCAÇ 2590/CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71)