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quarta-feira, 10 de abril de 2024

Guiné 61/74 - P25364: A 23ª hora: Memórias do consulado do Gen Bettencourt Rodrigues, Governador e Com-Chefe do CTIG (21 de setembro de 1973-26 de abril de 1974) - Parte XIV: Foi pela rádio, a BBC e outras emissoras, que a malta ouviu a notícia do golpe de Estado em Lisboa... Uns em Bissau, outros em Bissorã, Canssissé, Guidaje, Xitole...


Guiné > Região de Tombali > Sector S2
(Aldeia Formosa) > Nhala >  2ª C/BCAÇ 4513
(Nhala, 1973/74) >  23 de Abril d
e 1974 > A última 
visita do Com-Chefe a um quartel no mato.
Foto (datalhe): António Murta  (2014)

1. Foi a BBC,  mas também   outras emissoras, estrangeiras ou nacionais, que deram as primeiras notícias do golpe de Estado que estava em curso, em Portugal, na madrugada do 25 de Abril de 1974. 

E foram naturalmente os nossos camaradas de transmissões os primeiros a aperceber-se de que algo estava a acontecer, "de anormal", em Lisboa... 

Na manhã de 26 de Abril de 1974, o gen Bettencourt Rodrigues seria destituído do cargo de governador e comandante-chefe e enviado para a Metrópole.(*)

Na nossa série "No 25 de Abil de1974 eu estava em...", temos cerca de 3 dezenas de depoimentos, com relatos, em primeira mão, e na primeira pessoa, do alvoroço que a notícia provocou  nos aquartelamentos do CTIG...


(i)  José Zeferino, ex-alf mil, 2ª CCAÇ / BCAÇ 4616 (Xitole, 1973/74)


(...) Xitole – 25 de Abril 1974 - madrugada, cerca das 6 horas:

– Zefruíno, alferes Zefruíno!!!

Era o Jamil, comerciante libanês com grande influência política, social e económica, tanto na Guiné como na restante família, árabe, dispersa por três continentes.

Estávamos a iniciar mais um patrulhamento, a dois Gr Comb, talvez à zona do Duá.

Na varanda da sua casa, tipo colonial, claro, estendiam-se fios de antenas que acabavam num rádio antigo, de válvulas, por onde estava a ouvir a BBC em árabe.

Diz-me:

– Zefruíno, o... (não me lembro, ou não quero, das palavras exactas) do Spínola está a fazer uma revolta.

O Jamil tinha tido um contencioso com o general Spínola: tinha querido transferir as suas casas de comércio na zona, para Bissau, no que foi impedido pelo general. Era uma base de apoio para as nossas tropas e para a população.

Foi assim que tive conhecimento do que se passava em Lisboa.

Regressámos de imediato ao quartel. Ficámos na expectativa nos dias seguintes. (...) (**)


(ii) Américo Marques (ex-sold trms, 3ª CART / BART 6523, Nova Lamego, Junho de 1973/ Setembro de 1974)

(Excertos do seu depoimento recolhido por telefone, em abril de 2007: na altura, ele era técnico de higiene e segurança no trabalho, nos Estaleiros Navais de Viana do Castelo; na falta de uma foto do Américo Marques, um dos histórios do nosso blogue, reproduz-se à direita a imagem da igreja de Nova Lamego) (*)

Confundido e baralhado...

(...) A 3ª CART do BART 6523, estava colocada em Nova Lamego, enquanto ele foi destacado com um grupo de combate (25 homens) para Cansissé, a sul de Nova Lamego, a uma hora de caminho do Rio Corubal.

Ele era soldado de transmissões e, na noite de 24 para 25 de Abril de 1974, estava no seu posto, a sintonizar a rádio em Lisboa. Costumava fazer isso com muita frequência. Estava em contacto com todo o mundo. Os dias eram sempre iguais e custavam a passar. E as noites ainda pior.

Mas "nessa noite ficou confundido e baralhado: havia movimento de tropas em Lisboa, alguma coisa se passava de anormal"…

Foi assim que teve conhecimento do golpe de estado do Movimento das Forças Armadas que depôs o Governo de Marcelo Caetano. Foi logo informou os seus camaradas. Foi um alvoroço.

A vida em Nova Lamego e em Cansissé não voltou mais a ser como dantes. Apareceram logo uns “esquerdistas” (sic), até então muito caladinhos, a organizar o pessoal, a dar ordens, a fazer reuniões... A hierarquia e a disciplina militares começaram a ser postas em causas. Eram os "comités de soldados" (sic) que tomavam iniciativas. (...) (***)


(iii) João Dias da Silva, ex-alf mil op esp, Guidaje,  CCAÇ 4150 (1973/74)


(...) 25 de Abril de 1974 – Parece que hoje houve um Golpe de Estado Militar, em Lisboa.

Passámos todo o dia à volta do rádio, ouvindo as edições especiais da BBC em língua portuguesa, a tentar saber algo sobre o sucedido.

Por enquanto está tudo muito, muito confuso, pois todas as notícias são precedidas de "parece que" ou finalizadas por "não confirmado". Vive-se por aqui um certo estado de tensão por não se saber nada em concreto. Há que aguardar.

Pelas 22H45 chegou uma mensagem relâmpago confidencial do Com-Chefe (gen Bettencourt Rodrigues) a informar que corriam notícias que o Governo de Marcelo Caetano tinha sido derrubado, mas que eram só boatos (...) (****)


(iv) Belarmino Sardinha, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista STM, Agrupamento de Transmissões (Mansoa, Bolama, Aldeia Formosa e Bissau, 1972/74)

(...) Após grande agitação no Agrupamento de Transmissões, uns dois ou três dias imediatamente anteriores ao 25 de Abril de 1974, por parte de alguns oficiais que perguntavam com frequência se tinha vindo esta ou aquela mensagem, acordámos todos, os que não estavam de serviço, com a certeza de que algo se tinha passado na noite de 24 para 25 de Abril de 1974.

O nosso comandante, à data tenente-coronel, Mateus da Silva, tinha substituído interinamente o então Governador e Chefe Supremo da Forças Armadas Bettencourt Rodrigues. Esta situação manteve-se durante e até à chegada do Coronel, graduado em Brigadeiro, Carlos Fabião. (...)


Foi este o nosso despertar, no Agrupamento de Transmissões, no dia da revolução dos cravos. (....) (*****)

(v) Henrique Cerqueira (ex- fur mll, 3.ª CCAÇ / BCAÇ 4610/72, e CCAÇ 13, Biambe e Bissorã, 1972/74)


(...) Tinha ido eu com o nosso grupo de combate no dia 24 de abril de 1974 fazer mais um patrulhamento para a zona situada entre Bissorã e Biambe, o qual se prolongou por toda a noite e felizmente sem qualquer acontecimento a assinalar. Pese embora a nossa guerra noturna com os mosquitos tudo correu com normalidade. 

Pela manhãzinha foi a hora de regressar ao aquartelamento e,  como era normal,  a malta quando chegava a Bissorã dava uma passagem pelo bar dos Sargentos tanto para saciar a sede como para depositar o armamento mais pesado, pois que era nas traseiras do bar que havia a arrecadação de armamento.

Então nós nos deparamos com toda a malta junto de um pequeno rádio a ouvir notícias da BBC sobre os acontecimentos na Metrópole. Lembro-me que na altura se encontrava lá um elemento da PIDE/DGS e não se cansava de ameaçar o pessoal por estar a ouvir as ditas notícias (mal ele sabia o que o esperava).

Toda a gente ainda incrédula com a possibilidade do fim da guerra,  mas mesmo assim foi como se nada mais importasse e, a partir daí, começou logo a rolar cerveja a festejar. Eu até esqueci as ferradelas dos mosquitos da noite passada no mato.

Bom, depois de já convencido das mudanças na nossa política e com o fim á vista, lá me dirigi a casa onde me esperava a minha mulher e filho (pois que ambos viviam comigo em Bissorã) e dei a novidade, o que foi recebida com alguma incredulidade. É que dias antes tinha sido avisado que, devido ao agravar da guerra na Guiné, teria que mandar embora a família para a Metrópole que até já estaria um navio em Bissau de prevenção para a evacuação dos civis. (...) (******)



(****) Vd. poste de 14 de junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2939: No 25 de Abril eu estava em... (3): Guidage (João Dias da Silva, ex-alf mil op esp,, CCAÇ 4150, 1973/74)

(*****) 22 de novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3498: No 25 de Abril eu estava em... (6) Agrupamento de Transmissões, Bissau (Belarmino Sardinha)

(******) Vd. poste de 25 de abril de  2013 > Guiné 63/74 - P11470: No 25 de abril de 1974 eu estava em... (17): Bissorã, a ouvir as notícias da BBC, depois de regressar, de manhã, de um patrulhamento noturno (Henrique Cerqueira, Bissorã)

Guiné 61/74 - P25363: Blogues da nossa blogosfera (192): Recuperando parte dos conteúdos do antigo sítio da AD Bissau - Parte IV, foto da semana, 11 de maio de 2009: lutando contra a fome, em Bolol, chão felupe


Guiné-Bissau > AD - Acção para o Desenvolvimento > Foto da semana > 11 de maio de 2008 >  Título da foto: Lutando contra a fome | Data de Publicação: | 11 de Maio de 2008 | Palavras-chave:Alimentação 
 
Legenda:

O mau ano agrícola de 2007 começa a fazer os seus efeitos na segurança alimentar das famílias guineenses mais pobres, as quais registam o início da ruptura dos seus stocks, quando num ano normal isso só acontece em julho ou agosto.

A agravar esta situação junta-se o aumento exponencial e repentino dos produtos alimentares, fruto de fatores externos, dos quais se salienta a sua utilização para biocombustível, um verdadeiro crime contra a humanidade.

Consciente do problema, Adama Djata, horticultora de Bolol, no norte da Guiné-Bissau, região do Cacheu, improvisa um campo de cultivo de tomate, em condições pré-desérticas, onde falta a água e os solos arenosos são muito pobres.

Fonte: Arquivo.pt > ADBissau.org (com a devida vénia...)

(Revisão / fixação de texto, edição da foto: LG)

2.  Comentário do editor LG:

É reconfortante saber que a memória e o exemplo do "Pipito" (como lhe chamavam os seus amigos e vizinhos do bairro do Quelelé, em Bissau, e no nosso... blogue!) continuam vivos  (**) e a inspirar os seus colegas da AD - Ação para o Desenvolvimento, de que foi cofundador e diretor executivo até à data da sua morte, ocorrida em Lisboa (18 de fevereiro de 2014).

O Carlos Schwarz da Silva (1949-2014), além de ser um engenheiro agrónomo competente, entusiástico  e inovador, era um grande líder e animador, e um homem dotado de elevada sensibilidade cultural e capacidade de leitura da realidade sociopolítica do seu tempo.

Seria uma pena que as suas "fotos da semana", publicadas no sítio da sua organização, desde 2005, se perdessem... As fotos e as legendas.  Estamos a recuperar algumas, que foram publicadas no antigo sítio da AD Bissau (http://www.adbissau.org/ ), descontimuado com a pandemia.  Muitas já se perderam, irremediavelmente.

O atual endereço eletrónico (URL) do sítio da "nova" AD - Ação para o Desenvolvimento (https://ad-bissau.org é ligeiramente diferente do anterior.  Esta ONGD, guineense, foi criada em 1991.
___________

Notas do editor:

(*) Último poste da série > 9 de abril de 2024 > Guiné 61/74 - P25360: Blogues da nossa blogosfera (191): Recuperando parte dos conteúdos do antigo sítio da AD Bissau - Parte IV: a ilha-refúgio de Alfa Iaia, rio Corubal

(**) Vd. poste de 19 de fevereirio de 2024 > Guiné 61/74 - P25186: Efemérides (426): "Pipito Ka Muri": foi há dez anos, a 18/2/2014, que deixou a Terra da Alegria, mas com ele, o seu exemplo, a sua memória, renasce agora a nova AD - Acção para o Desenvolvimento

terça-feira, 9 de abril de 2024

Guiné 61/74 - P25362: Trabalho sobre a formação dos Comandos na Guiné, publicado na Revista da Associação de Comandos, MAMA SUME - Parte I (Virgínio Briote, ex-Alf Mil Comando)



"Os Comandos na Guiné", artigo da autoria do nosso camarada Virgínio Briote, ex-Alf Mil Comando, publicado na Revista MAMA SUME, da Associação de Comandos, e enviado ao Blog no dia 22 de Março de 2024:

“Comandos” do CTIG - Parte I

As chefias militares da Guiné cedo se aperceberam que havia necessidade de se dispor de uma tropa que fosse capaz de fazer a contraguerrilha, móvel, aligeirada, com pequenos efectivos, autónoma e agressiva, uma tropa diferente.

Uma tropa que, aliás, já estava a dar provas em Angola. Foi em Quibala, no norte de Angola, que foram preparados os primeiros grupos de “Comandos”.

Em Julho de 1963, o Comando-Chefe da Guiné solicitou à Região Militar de Angola que recebesse e formasse um pequeno grupo de militares. Na mesma altura, foi enviada uma circular para todos os batalhões estacionados na Guiné, convidando oficiais e sargentos a oferecerem-se como voluntários para os “Comandos”.

Muita gente se ofereceu. Depois das selecções foram escolhidos para o curso em Angola, o major Correia Dinis, os alferes Maurício Saraiva e Justino Godinho, os sargentos e irmãos, Roseira Dias e os furriéis Vassalo Miranda e o Artur Pires. E ainda, o Adulai Queta Djamanca e o Adulai Djaló, naturais da Guiné.

(...) “A cerimónia de apresentação teve lugar no gabinete do Chefe do Estado-Maior. Fomos recebidos pelo Major Chefe da 2ª Rep, que fez votos para que, da nossa estadia em Angola, tirássemos o máximo proveito. Pôs em evidência os inconvenientes da nossa vinda naquela altura, pois tinha terminado um curso e não se sabia ainda quando teria início o próximo. Deste desencontro de datas, resultariam, naturalmente, limitações à nossa instrução.

Na manhã seguinte foi-nos exposta, com algum pormenor, a situação actual na Região Militar de Angola. Foram-nos indicadas as zonas consideradas activas, semi-activas e as pacificadas.
Cabinda, devido à localização e ao reduzido efectivo das NT e um triângulo com um vértice em Bessa Monteiro e base na região dos Dembos (Nambuangongo, Zala, Beira Baixa, etc), eram as zonas com maiores preocupações. Considerava esta última mais difícil, porque os grupos IN tinham mais experiência e mostravam-se aguerridos.

As alterações ao programa da nossa visita começaram aqui e mantiveram-se sempre, até ao fim da nossa estadia.

Tivemos uma palestra de um capitão, instrutor dos comandos. Começou por abordar a questão da disciplina:

Nada de tolerâncias. Que os comandos falam sempre em sentido. Que o mínimo desleixo, dos superiores ou dos inferiores, não pode passar em claro. Que a mentalização era a menina dos olhos dos cursos de comandos. Um comando luta para matar e não para não morrer.

Indicou-nos os processos e as técnicas que utilizam para a mentalização.

  • Slogans, dísticos humorísticos nas paredes, nos lavabos, em todo o lado, até dentro do pão.
  • Uma aparelhagem sonora nas casernas e nos quartos de sargentos e oficiais.
  • Alocuções de mensagens gravadas, para ouvirem sempre que estejam a descansar. Devem ser feitos testes para avaliar o grau de assimilação.
  • Emulação entre os instruendos, entre as equipas e entre os grupos. Cerimónias com aparato para realçar as qualidades e os méritos dos indivíduos que mais se destaquem.

Abordou o conceito da parelha, da equipa e do grupo. Numa primeira fase, deve dar-se aos instruendos a liberdade para se agregarem como entenderem, depois as relações tendem para alguma estabilidade.

Reforçar essas amizades, estimulá-los a comerem na mesma mesa, participarem nos mesmos jogos, fazerem os mesmos serviços.

Falou depois na constituição do grupo:

1. O indivíduo que concorre aos comandos tem que estar situado entre os 20 a 30% melhores do contingente donde é originário.
2. Os comandantes dos grupos e os chefes das equipas devem situar-se entre os 10% melhores do contingente de quadros.
3. A selecção é a operação mais importante na formação dos comandos.
4. A instrução deve assumir um carácter selectivo.
5. Sendo o tiro um aspecto muito sensível, não deve haver restrições nesta instrução.
6. Todos os elementos devem ser especialistas no tiro de precisão e no tiro instintivo e todos devem estar aptos na utilização de lança-rockets.

No dia 26 de Outubro partimos para o quartel de Quibala, onde estivemos 6 dias em contacto com os 3 grupos de comandos recentemente chegados de uma operação. O tenente Abreu Cardoso deu-nos explicações pormenorizadas sobre a mesma.

Regressámos a Luanda e ficámos a aguardar o início da operação que deveria ter lugar nas margens do M’Bridge. Patrulhar as margens do rio entre as picadas de Evange e Quiaia. Uma operação de rotina.

Na 2ª operação fomos integrados no grupo de comandos do batalhão de artilharia. Montámos a emboscada nas margens do rio Loge. 3 dias. (...)

Se deste estágio na R. Militar de Angola não tirámos o máximo proveito, ele foi, pelo menos, muito útil. Útil porque das lições dos instrutores ficámos com a cabeça mais arrumada, com muitos ensinamentos que nos serão úteis se um dia viermos a ser instrutores de comandos. Útil ainda, porque do contacto que mantivemos com os grupos em operações, adquirimos experiência, vimos como aquela tropa se comporta no mato e as situações que vivemos serão para nós motivos de ensinamento.

Resta acrescentar que os oficiais da R. Militar de Angola estiveram sempre ao nosso dispor e se mais não fizeram, foi, de facto, devido à nossa visita ter sido efectuada numa altura pouco conveniente."

Considerandos, directivas e orientações. Mais de cinquenta páginas do bloco de apontamentos do estágio na R. M. de Angola do alferes Justino Godinho, um dos voluntários da Guiné.

Depois de regressarem do estágio operacional em Angola, o Comandante-Chefe da Guiné pensou em aproveitar esses militares e integrá-los nas forças que iriam executar a operação "Tridente", marcada para o início do ano de 1964.

Aproveitaram os elementos que, anteriormente, tinham respondido ao apelo de 'voluntários precisam-se para os comandos', quase todos pertencentes aos efectivos do BCav 490, a unidade base que iria executar a operação ao Como.

Havia a necessidade de reforçar os efectivos do Gr. Cmds. Para isso, sob a orientação dos “Comandos” regressados de Angola, os que se ofereceram iniciaram um curto período de instrução operacional com vista à participação na referida operação.
GrCmds na Operação Tridente – Ilha do Como.
Grupo de Comandos no Como.

Constituiu-se assim o grupo que interveio na operação “Tridente”, de 14 de Janeiro a 24 de Março, nas ilhas do Como, Caiar e Catunco, integrados nas forças à disposição do Batalhão de Cavalaria 490. O comando do grupo foi entregue ao alferes Maurício Saraiva e, ao alferes Godinho, aos furriéis Mário Dias, Artur e Miranda, a chefia das equipas.

Mário Dias, um dos participantes na operação, esclarece as razões da operação:

(...) "Na ilha não existia qualquer autoridade administrativa nem força militar pelo que o PAIGC a ocupou (não conquistou) sem qualquer dificuldade em 1963. As tabancas existentes eram relativamente pequenas e muito dispersas. Possuía numerosos arrozais, o que convinha aos guerrilheiros pois aí tinham uma bela fonte de abastecimento, acrescido do factor estratégico da proximidade com a fronteira marítima sul e o estabelecimento de uma base num local que facilitava a penetração na península de Tombali e daí poderia ir progredindo para Norte.
Não tinha estradas. Apenas existia uma picada que ligava as instalações do comerciante de arroz, Manuel Pinho Brandão (na prática, o dono da ilha) a Cachil. A partir desta localidade o acesso ao continente (Catió) era feito de canoa ou em qualquer outra embarcação. A casa deste comerciante era, se não estou em erro, a única construída de cimento e coberta a telha.
Portugal não exercia, de facto, qualquer espécie de soberania sobre a ilha.

"Tornava-se imperiosa a recuperação do Como. Foi então planeada pelo Comando-Chefe a Operação ‘Tridente’ na qual foram envolvidos numerosos efectivos, divididos em 4 agrupamentos, num total de cerca de 1200 homens". (...)
Guerrilheiros do PAIGC no Como. Foto na Net. Com a devida vénia ao autor que desconheço.

(...) "O meu destacamento entrou na mata para fazer reconhecimento. Tínhamos desembarcado a 14 de Janeiro e esta operação foi a 19. Levei duas secções cerca de 25 homens. Andámos entre 100 a 150 metros e tivemos um choque frontal com uma força inimiga que calculei num numero de 60 a 70 homens. Foi um combate que durou 2 horas e meia. Foi um embate muito forte que me custou dois mortos e cinco feridos - cheguei a estar a dez metros de distância do inimigo. Tentei fazer um movimento de envolvimento pela direita, mas faltava-me massa de manobra. Pedi um reforço e enviaram-me um grupo de comandos - cerca de 20 homens - comandado por um extraordinário oficial, alferes Maurício Saraiva, e assim já pude fazer a manobra de envolvimento. Certo é que acabaram por retirar. Comigo estava o chefe de Estado-Maior da Defesa Marítima da Guiné, um capitão-tenente já com uma certa idade, Costa Santos. Era raro os altos comandos participarem nas operações, mas alguns iam, como era o caso deste (…) Alpoim Calvão Cmdt do Destacamento de Fuzileiros nº 8." (...)
Brá – Imposição dos crachás aos Grupos Fantasmas, Camaleões e Panteras.
Brá – Apresentação do Capitão Jaime Cardoso.
Desfile comandado pelo Capitão Jaime Cardoso.
Imposição de crachás aos Grupos Apaches, Centuriões, Diabólicos e Vampiros.
Apresentação pelo Capitão Saraiva ao Governador-Geral.

Publicamente reconhecida a contribuição que deram para o sucesso da operação, os “Comandos” receberam os crachás em cerimónia pública realizada em Bissau em 29 de Abril de 1964. Em finais de Julho e com a duração de 4 semanas começou a escola de quadros.

Entre 30 de Setembro e 17 de Novembro de 1964, realizou-se em Brá o 1º Curso de Comandos da Guiné[1]. Começaram cerca de 200, terminaram 78. “Fantasmas”, “Panteras” e “Camaleões” foram os nomes que escolheram para os grupos que saíram dessa formação.

E em Dezembro de 1964[2], o Boletim de Informação do E. Maior do Exército, relatava oficialmente as primeiras acções desses grupos:

(...)  "A actividade desenvolvida pelos grupos de “Comandos” conduziu a resultados muito remuneradores. Prova-se deste modo, a necessidade de se poder dispor de uma tropa com instrução especializada, apta a desempenhar missões que, pelas suas características, estão fora das capacidades das unidades normais.

Um grupo em actuação em Canjambari efectuou uma acção de muito interesse sobre um bando de terroristas, instalado a coberto do rio. Apoiados por um pelotão de auto-metralhadoras, os “Comandos” transpuseram o rio e lançaram-se ao assalto do IN, bem instalado no terreno e com bom e numeroso armamento. O IN foi desalojado, tendo deixado várias baixas no local.
Outro grupo efectuou uma emboscada na mesma região causando ao IN 2 mortos e vários feridos, tendo sido capturadas várias espingardas, pistolas-metralhadoras e granadas de mão.

Na zona de Tite, outro grupo realizou um golpe de mão a NE daquela povoação. Capturadas 8 espingardas, uma pistola-metralhadora e várias granadas de mão”. (...)


Nesse mês de Dezembro, numa reunião em Brá com os comandantes dos grupos, o Major Correia Dinis, preocupado com a aproximação das datas dos fins das comissões dos militares dos comandos, relia-lhes uma nota que endereçara ao Comandante Militar da Guiné:

"Exmº Senhor,
Por determinação de S. Ex.ª o General Venâncio Deslandes, apresentei-me na véspera do meu embarque de fim de licença na Defesa Nacional a fim de ser ouvido por aquele Exmº. Senhor.
A conversa baseou-se única e exclusivamente na organização de grupos de Comandos, seu interesse e modalidades de acção.

Para terminar, Sua Ex.ª o General mostrou-se interessado na organização de mais grupos de comandos no CTIG.

Informei que essa organização dependia não só do Centro Nacional de Instrução de Comandos em Angola, presentemente em organização, como também do necessário pessoal que deveria vir da metrópole para substituição, nos Batalhões, dos voluntários para os comandos.
Quanto a este segundo condicionamento, Sua Ex.ª esclareceu que o CTIG poderia pedir o envio desse pessoal.

No meu entender, a organização de novos grupos de comandos é da maior utilidade, tanto mais que a partir de Abril de 1965 os três grupos existentes começarão a ficar desfalcados com as desmobilizações.

Há que atender, porém, ao trabalho que o Centro Nacional de Comandos vai produzir na formação de novos grupos.

Estarão esses grupos prontos num futuro próximo e poderá o CTIG aproveitá-los em breve ou a formação desses grupos demorará ainda o bastante, que justifique como emergência, a formação de novos Grupos neste CTIG?

Assim, proponho:

1º- Que com a necessária urgência se procure obter da Região Militar de Angola as seguintes informações:
a). Qual o número de grupos de comandos que em 1ª prioridade serão atribuídos ao CTIG? Ainda se mantém a Companhia como foi pedido?
b). Qual a data provável da sua apresentação neste CTIG?
2º– Em face da resposta obtida, poderá então este CTIG pensar na formação ou não de novos grupos.
Em Brá, 26 de Novembro de 1964
O Comandante do Centro de Comandos, Correia Dinis, major."


Qual a resposta? Temos ainda algum tempo à nossa frente. Abril não vem longe, mas mesmo assim, também não é demasiado tarde ainda. Leu-lhes outra, que acabara de receber, a felicitá-los pela forma como elaboraram os programas do curso:

"Comando Territorial Independente da Guiné, Quartel-General, 3ª Repartição, ao
Sr. Director do CI de Comandos, Brá.

Encarrega-me Sua Ex.ª o Brigadeiro Comandante Militar de informar V. Ex.ª que aprovou os programas da Instrução de “Comandos” que acompanharam a nota em referência e manifestar o seu agrado pelo cuidado feito pelo Director de Instrução na elaboração dos respectivos programas.

O Chefe do Estado-Maior, sarrabiscos miúdos, o nome por extenso, Tenente-Coronel do CEM".

E uma cópia de uma outra que o Comandante Militar dirigira aos Comandos dos Batalhões:
"Por determinação do Comandante Militar, os comandantes dos batalhões em quadrícula devem não só prestar todo o apoio que lhes for pedido como também, eles próprios, devem proceder à escolha de voluntários, os quais devem dar garantias de permanência na Província pelo menos de 1 ano. Os “Comandos” não fazem qualquer outro serviço, actuam, em regra, durante 3 a 5 dias, e descansam dois ou três.

Trabalham, normalmente, em benefício dos Batalhões mas quando o CTIG o entender podem ser accionados directamente por este. (...) sarrabiscos iguais aos anteriores, o mesmo nome por extenso.

Execute-se."
Guarda de Honra – Palácio de Bissau.
Grupo de Comandos – Embarque rumo a Bafatá.

Entretanto os grupos foram-se mantendo em actividade, conforme atestam as numerosas citações de que foram alvo, apesar de actuarem com efectivos progressivamente mais reduzidos.

Para recordar os 9 camaradas mortos que tiveram numa tarde na zona de Madina do Boé, logo na semana seguinte os “Fantasmas” sobreviventes foram nomadizar para a zona do Oio. E terminaram em 6 de Maio de 1965, no sul, em Catunco, no acampamento chefiado pelo Pansau Na Isna, guerrilheiro do PAIGC que se tornou lendário.

Foi um golpe de mão como deve ser, entraram pelas barracas com o In a dormir e, como era de esperar, acordaram-nos. Retiraram eufóricos, um sucesso para finalizarem a guerra. No regresso alguém perguntou quem trazia o morteiro do inimigo. Ninguém o trazia! Duas equipas, metade do grupo, receberam ordem para o ir buscar. Voltaram para trás, ao acampamento que momentos antes tinham incendiado. Iluminados pelas labaredas, apareceram bem recortados aos olhos de alguns guerrilheiros, refugiados nas proximidades, que não tiveram dificuldade em mandar para o meio deles uma roquetada. Todos atingidos, um morto e nove feridos foi o saldo do regresso ao acampamento. A operação tinha recebido o nome de código “Ciao”.

Em Junho de 1965 começou o 2º curso de Comandos para oficiais e sargentos na Guiné.[3] E logo que terminou, começou a preparação dos novos grupos. Os nomes já estavam escolhidos, os Centuriões herdavam os sobreviventes dos Fantasmas do agora capitão Saraiva, os Apaches os dos Camaleões do alferes Godinho, os Vampiros o 4º grupo que não existia anteriormente e os Diabólicos absorviam o pessoal dos Panteras do tenente Pombo.

(continua)

(Revisão / fixação de texto, para efeitos de publicação do artigo no nossso blogue: CV/LG)
Porta de armas do quartel de Brá. Foto de V. Briote
O interior do aquartelamento de Brá. Messes em frente, à direita. Foto de Mário Dias.
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Notas de VB:

[1] - 23/7/64: início das actividades do Centro de Instrução Comandos em Brá. 03/8/64: início da Escola Preparatória de Quadros.24/8 a 17/10/64: Iº Curso de formação dos GrsCmds (Camaleões, Fantasmas e Panteras), com o apoio de instrutores e monitores do CI25/RMA e do GCmds "Gatos"/BArt 400/R.M Angola, que sob o comando do alferes Horácio Valente (morto mais tarde em Moçambique) permaneceu na Guiné entre 22 Set. e 28 Dez.1964, participando em três operações no sector do Batalhão de Artilharia 645.

[2] - De 20/10/64 a Junho de 1965: actividade operacional dos Grs. Comandos

[3] - Em meados de 1965 o Major Correia Diniz terminou a sua comissão tendo sido substituído pelo seu Adjunto, Capitão Varela Rubim. Nesta altura o QG decidiu extinguir o Centro de Instrução de Comandos e criar a Companhia de Comandos do CTIG com data de 1 de Julho.
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Guiné 61/74 - P25361: Historiografia da Presença Portuguesa em África (417): "Desastre de Bolor ou Bolol" [Carlos Cordeiro, 1946-2018) / Patrício Ribeiro]


Antiga Província Portuguesa da Guiné > Carta Geral (Escala: 1/500 mil) (1961) > Posição relativa de Bolor (1), Bolola (2), Jufunco (3), Varela (4) e Cacheu (5). No Google Map, o topónimo uado é "Bolor" (mas os guineenses hoje dizem "Bolol"... e o povo é quem faz a língua)

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2024)


1. Comentário de Carlos Cordeiro (1946-2018) ao poste P8622 (*)

[O desstre de Bolor ou Bolol] aconteceu em finais (talvez mesmo em dezembro) de 1878. A Guiné era governada por um governador, dependente do governador-geral de Cabo Verde.

Foi uma grande mortandade: falou-se mesmo em cerca de duas centenas de mortos. 

Tudo aconteceu por incompetência das autoridades portuguesas, em especial, do governador, que mandou sair tropas com armas descarregadas e ficou num barco a ver o desenrolar dos acontecimentos. Depois, o barco onde estava,  disparou o canhão (que me desculpe o C. Martins), que, mal assente, tombou e foi parar ao mar, etc.. 

A Câmara dos Deputados tem debates acalorados sobre os acontecimentos, ao longo de várias sessões, bem como sobre a legislação que, em 1879, criou a "província da Guiné portuguesa", tornando o seu governo independente do de Cabo Verde. 

Administrativamente ficou dividida em quatro concelhos: Bolama, Bissau, Cacheu e Bolola. (**)

Três aspectos sempre em destaque nos debates (além de outros, naturalmente):

(i) Que fazer? Expedição punitiva ou reconhecimento da incompetência das autoridades ao terem intervindo numa rixa que não tinha propriamente a ver com os interesses portugueses?

(ii) A falta de informações sobre as realidades ultramarinas e o problema da dificuldade das comunicações.

(iii)  As insuficiências das guarnições militares em todas as "possessões ultramarinas".

Não resisto a transcrever esta passagem de um discurso do deputado Freitas Oliveira, na sessão de 11 de Março de 1879 

(...) "Ouvi fallar das fortalezas da Guiné, como se ali houvesse alguma fortaleza! O que se chamou fortaleza da-Guiné, consiste em um paredão sobre o qual estão dez peças do artilheria, collocadas em sarilhos de madeira, que em dias de grande galla, por occasião das salvas, se voltam de traz para diante, quando disparam, como aconteceu ao rodizio da canhoneira que ultimamente aggravou com o ridículo o desastre dè Bolor". (...)

Só mais uma coisa: fala-se sempre em "Bolor" e não Bolol. No mapa aqui publicado também tem a indicação "Bolor". Deve ter havido alteração do nome.

Um abraço,
Carlos Cordeiro

1 de agosto de 2011 às 03:28


2. Comentário do editor LG:
 
O nosso "correspondente em Bissau" Patrício Ribeiro já em tempos nos tinha mandado fotos destas terras do chão felupe, que poucos de nós conheceram... Chama "Bolor" ao lugar que hoje outros chamam "Bolol"... E lá está o canhão... e vestígios (correntes de ferro) provavelmente do tempo ainda do tráfico de escravos... A rever. (***)



Guiné-Bissau > Região de Cacheu > Bolor ou Bolo, na foz do rio Cacheu > Velhos canhões... e correntes de ferr

Fotos (e legenda): © Patrício Ribeiro (2015). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
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(***) Vd. poste de 2 de setemnro de 2015 > Guiné 63/74 - P15065: Memória dos lugares (318): em terra dos felupes: Bolor, Rio Cacheu, Djufunco, Varela... (Patrício Ribeiro)

(...) Envio, para recordarem, algumas fotos tiradas no mês de maio [de 2015],  de visita por terra à Tabanca, do antigo Fortim da Ponta de Bolor (...).

Como sabemos, esta tabanca [Bolor, no estuário do Rio Cacheu, na margem direita, e vizinha de Jufunco ou Djufunco e de Bolol,] está cheia de histórias:

(i) afundamento de um barco inglês e morte dos tripulantes;

(ii) morte de mais de 30 militares portugueses, envenenados por flechas e lanças;

(iii) queda de avioneta com dois franceses, que desapareceram; após muitas buscas em terra e nos rios, nunca foram encontrados...

A quem pertencem estas correntes ? 
[vd. foto acima] (...) Foi a pergunta que o nosso amigo Pepito (Carlos Shwarz) fez aos Homens Grandes da tabanca, nunca teve resposta … aquando do almoço nesta tabanca de dezenas de brasileiros descendentes de escravos, em 2010, em Cacheu.

Será que alguém sabe a quem pertence? (...) Fotografei, nesta festa, mais ou menos 5 canhões , do tempo das caravelas, que só neste dia estavam nos largos da tabanca. (...)

(...) [Falta-nos a carta, de 1/50 mil, de Jufunco, lapso nosso ou do nosso "cartógrafo" Humberto Reis...Esta região faz parte do Parque Natural dos Tarrafes do Rio Cacheu, "considerado o 5º maior parque com mancha contínua do ecossistema do mangal em África"...]

Guiné 61/74 - P25360: Blogues da nossa blogosfera (191): Recuperando parte dos conteúdos do antigo sítio da AD Bissau - Parte IV: foto da semana, 2 de janeiro de 2011: a ilha-refúgio de Alfa Iaia, rio Corubal


Guiné-Bissau > AD - Acção para o Desenvolvimento > Foto da semana > Título da foto: A ilha refúgio de Alfa Iaia | Data de Publicação: 2 de Janeiro de 2011 | Data da foto: 6 de Novembro de 2010 | Palavras-chave: ecoturismo

Legenda:

No século XIX,  

Alfa Iaia, rei de Labé, c. 1900
Fonte: Wikimedia Commons 
(com a devida vénia...)
Alfa Iaia era rei de Labé no Futa Jalon, tendo sido coroado em 1892 e sendo hoje uma figura reverenciada na Guiné-Conacri e adorada como um herói nacional deste país.

Embora controversa pelas alianças que fez com o colonizador francês, acabou por ser um grande combatente que afrontou os colonialistas em numerosas batalhas a cavalo. 

Foi nesta ilha no meio do rio Corubal que por vezes se refugiava quando acossado pelos franceses que assim lhe perdiam a pista.

Acaba por morrer na Mauritânia em 1912, depois de ter sido para lá deportado pelos franceses, na sequência de uma anterior deportação para o Dahomé (atual Benin).

(com a devida vénia...)
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Nota do editor:

Último poste da série > 8 de abril de 2024 > Guiné 61/74 - P25356: Blogues da nossa blogosfera (190): Recuperando parte dos conteúdos do antigo  sítio da AD Bissau - Parte III: Foto da semana, 19 de dezembro de 2010, o canhão do fortim de Bolol (ou Bolor), memória silenciosa do desastre de 1870

Guiné 61/74 - P25359: Os 50 anos do 25 de Abril (7): exposição em Santiago do Cacém, "Filhos da Terra, Soldados do Ultramar"


Cartaz da exposição "25 de Abril, 50 Anos: Filhos da Terra, Soldados do Utramar", Santiago do Cacém, a inaugurar no próximo dia 12 de abril de 2024.

Fonte: TV Canal Alentejo, 8 de abril de 2024 (com a devida vénia...)


1. Da nossa amiga SS (endereço de email: ssambado@gmail.com ), sobrinha de um camarada nosso, da FAP (Força Aérea Portuguesa), já falecido (em 9 de novembro de 2022),  e que passou pelo TO da Guiné (*), chegou-nos uma notícia que pode interessar aos nossos leitores,  a de um exposição, a ser inaugurada dentro de dias, em Santiago do Cacém, sobre os "filhos da terra" que foram "soldados do ultramar"...

Do Canal Alentejo, respigamos  a seguinte informação sobre o evento (com a devida vénia):

(...) "Entre os dias 12 e 30 de abril, os cidadãos de Santiago do Cacém têm a oportunidade de testemunhar uma parte importante da história nacional através da Exposição 'Filhos da Terra, Soldados do Ultramar'. 

"Esta mostra, que decorre na Biblioteca Municipal Manuel da Fonseca e na Travessa de São Sebastião, é uma oportunidade para refletir sobre a experiência dos santiaguenses que foram soldados durante a Guerra do Ultramar.

"A inauguração da exposição está marcada para o dia 12 de abril, às 15h00, na Biblioteca Municipal Manuel da Fonseca, onde será também apresentado o Arquifolha n.º 5. Este evento inaugural será seguido, às 15h30, por uma conversa com antigos soldados do Ultramar, moderada pelo Dr. Sérgio Pereira Bento, no Auditório da Biblioteca Municipal Manuel da Fonseca.

"A Exposição 'Filhos da Terra, Soldados do Ultramar' é mais do que uma simples coleção de fotografias e relatos. Ela representa uma parte da história vivida por muitos santiaguenses em tempos de guerra, oferecendo um olhar humano e íntimo sobre um período marcante e por vezes doloroso.

"As fotografias, gentilmente cedidas por ex-soldados e suas famílias no âmbito do projeto 'Imagens com História', oferecem um testemunho poderoso e autêntico desse período conturbado. É uma oportunidade única para todos os interessados em compreender e honrar o legado daqueles que viveram esta experiência.

"Esta iniciativa faz parte das Comemorações dos 50 anos do 25 de Abril, celebrando não apenas a liberdade alcançada nessa data histórica, mas também reconhecendo os sacrifícios e as vivências daqueles que estiveram envolvidos na Guerra do Ultramar. 

"É um convite para todos os cidadãos de Santiago do Cacém participarem nesta jornada de memória e reflexão sobre o passado coletivo de Portugal." (...)

2. Comentário do nosso editor LG:

Agradeço à nossa amiga SS, que regularmemte nos fornece informação relativa aos antigos combatentes. com origem em fontes do seu Alentejo e comunicação social em geral. 

Aproveito também por saudar esta iniciativa do Municipio de Santiagodo  Cacém, ao querer manter viva, 50 anos depois do 25 de abril e do fim da guerra de África / guerra do ultramar / gierra colonial (**), a memória dos seus filhos que lá combateram, e alguns morreram (um total de 32, segundo o portal UTW - Ultramar TerraWen).

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(**) Último poste da série > 1 de abril de 2024 > Guiné 61/74 - P25326: Os 50 anos do 25 de Abril (6): "Geração D - Da Ditadura À Democracia", por Carlos Matos Gomes; Porto Editora, 2024 (3) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P25358: Parabéns a Você (2260): Jorge Canhão, ex-Fur Mil Inf da 3.ª CCAÇ / BCAÇ 4612/72 (Mansoa, 1972/74); Mário Vitorino Gaspar, ex-Fur Mil At Art MA da CART 1659 - Zorba (Gadamael e Ganturé, 1967/68) e Coronel PilAv Ref Miguel Pessoa, ex-Cap PilAv da Esquadra 121 / GO 1201 / BA 12 (Bissau, 1972/74)

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Nota do editor

Último post da série de 6 de Abril de 2024 > Guiné 61/74 - P25343: Parabéns a Você (2259): Joaquim Mexia Alves, ex-Alf Mil Op Especiais da CART 3492 / BART 3873; Pel Caç Nat 52 e CCAÇ 15 (Xitole, Mato Cão e Mansoa, 1971/73)

segunda-feira, 8 de abril de 2024

Guiné 61/74 - P25357: Notas de leitura (1681): "Margens - Vivências de Guerra", por Paulo Cordeiro Salgado; Lema d’origem Editora, Março de 2024 (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 8 de Abril de 2024:

Queridos amigos,
Porque ficou este amor excessivo pela Guiné, por aqui andamos a testemunhar o que a memória ainda retém, no caso vertente Paulo Salgado, nosso confrade, volta em ondas sucessivas ao Olossato, aproveita acontecimentos vividos nos anos da cooperação e estas vivências da guerra, que agora nos oferece em livro, andam talentosamente entre o antes e o depois. Compete-me fazer uma declaração de interesse, dizendo que conheci o Paulo Salgado nos meses de cooperação de 1991, que viajámos ao Cumeré e ao Olossato, que numa das suas páginas me trata por Mariano e põe-me em Galomaro (diga-se de passagem que no meu tempo era uma quase colónia de férias, mas ele retratou-me entre flagelações e minas anticarro...). Devo-lhe um memorável encontro no Cumeré com o coronel Mamadu Jaquité que me deixava bilhetinhos na picada, sempre tratando-me carinhosamente por "alferes de merda"; e, não menos importante, guardo comovido a recordação da viagem ao Olossato, espero que o Paulo Salgado se recorde que quando ali chegámos se disse que nada de tão edénico tinha visto, sentia-me em Sintra. Enfim, as vivências que partilhei com o Paulo Salgado.

Um abraço do
Mário



Nunca o preço do amor pela Guiné é excessivo, só a morte o pode aniquilar

Mário Beja Santos

Paulo Salgado, depois da sua comissão no Olossato e em Nhacra, voltou à Guiné muito mais tarde como cooperante na área da saúde, durante sete anos, e sobre esta temática e outras incursões já deixara algumas achegas na escrita. Acaba de publicar uma nova incursão, de cariz memorial, pontuada por solilóquios, circunlóquios, viagens ficcionadas mas com personagens de carne e osso, deixa fluir a consciência de como pensava e agia no turbilhão da guerra, e com subtileza articula todos os seus regressos ao anseio da paz e do desenvolvimento, aquela terra, aquela vivência ganham forma de um processo irrefragável, é corpo dentro do seu corpo, e não resisto a comentar o que me ocorreu quando finalizei a leitura das "Margens Vivências de Guerra", Lema d’origem Editora, março de 2024, aquele parágrafo de Álvaro Guerra na sua obra O Capitão Nemo e Eu, 1973, nada de mais belo conheço em termos literários, e tudo por causa daquela guerra que nos irmanou: “Por lá chafurdei na lama das lalas, debati-me no turbilhão dos tornados, derreti-me na fornalha de um Sol quase invisível, dissolvi-me na chuva vertical, e amei como um danado aquela terra que me injetou a febre, me secou, me expulsou a tiro. Mas nunca o preço do amor é excessivo, nem a presença da morte o pode aniquilar.”

Paulo Salgado é Alberto, tudo começa no aeroporto de Bissalanca, vem esperar Mateus, irão viajar até ao Olossato, inevitavelmente passarão por Ponte do Maqué, “lá está o que resta do fortim, quadrado fortificado, por onde passaram pelotões de companhias para guarda e salvaguarda da ponte, coberto de capim e arbustos, tudo o tempo levou, mas não levou as memórias que me vêm ao presente”; no Olossato Mateus procura Sali, a sua antiga lavadeira, ela anuncia-lhe que lhe deixou um filho, tem nome de Infali, trabalha nos correios de Bissau, põe-lhe diante dos olhos uma criança de cinco anos, é o neto de Mateus e dá pelo menos nome, Mateus pensa logo em levar esta criança consigo e educá-la; mas há uma outra viagem, Alberto, a mulher e a filha levam um outro antigo alferes, de nome Mariano até ao Cumeré, conta-lhe que em Nhacra, no dia 9 de junho de 1971, houve bastante sobressalto com flagelações do PAIGC, no Cumeré Mariano procura o comandante Demba, o antigo guerrilheiro do PAIGC fora seriamente flagelado no seu aquartelamento por ele e por o seu grupo, depois de uns segundos de embaraço tudo acabou em abraços, e gritou-se viva à Guiné!, e viva à Portugal!

Temos agora uma rotação de lugar e tempo, o antigo médico combatente conversa com uma sua colega, um rasto de memória leva-os até ao Sul, a jovem médica tem muito por contar, e nem lhe passa pela cabeça como fez bem ao veterano da guerra ouvi-la. Voltamos á orla do Morés, há um soldado que chora numa emboscada e será reconfortado pelo seu comandante; há um radiotelegrafista que não queria naquele dia ir em operação, o alferes lá o persuadiu, houve emboscada, a vítima foi o radiotelegrafista.

Temos agora Mateus e Alberto junto do enorme poilão do Alto do Maqué: “As nervuras salientes do poilão são enormes, cabendo ambos numa das fendas, parecendo que, abraçando-a, a magnífica árvore parece recordar-se deles, uma espécie de reencontro entre a majestade e imponência da árvore e a revisitação por estes homens que a ela ocorrem respeitosamente. Sentado, de pé, ao lado, de vários ângulos, deixam-se fotografar por Carolina, embevecida perante aquele cenário, aquele consolo quase pueril dos ex-militares, agora cinquentões.”

E há a memória do rio, quase sempre um fio de água que vaza as suas águas pelos braços do rio Cacheu; naquele local, estratégico, entre Bissorã e Farim, com o Morés à espreita, há recomendações para fazer ação psicológica, organizar manifestações de apoio à política do Governo, Alberto, que comanda a companhia, conversou com onze chefes de tabanca, e houve recados incómodos, do género: “Nosso alferes, a guerra não tem jeito nenhum; o senhor fala com o homem grande de Bissau para falar com o chefe do PAIGC para acabar com a guerra.”

E há as cartas de amor, Fernando Pessoa falava nelas como ridículas, Alberto dirige-se à sua amada, um tanto circunspecto, mas sempre com muitas saudades; traz-se gente da população afeta ao PAIGC numa operação, Alberto conversa com uma enfermeira da guerrilha, ela diz-lhe sem volteios que só quer lutar pela liberdade, o capitão decide que ela e as outras mulheres voltem para onde estavam, como aconteceu; não falta a mágoa de receber mensagens criticando a falta de cumprimento exato do que se devia ter feito numa operação e Alberto/Paulo Salgado dão nos conta, como se todos estivéssemos numa sala de espelhos, em Assembleia Geral, da ansiedade na espera do correio, a morte de um ente querido que nos é comunicada por uma mensagem, os meses passam, há brancos e pretos, mortos e feridos, lá na companhia chegou a funcionar um jornal, de novo “O Tabanca”, morre a mãe de Alberto e ele dedica-lhe um lindo poema, estamos em novembro de 1970, no fim desse ano há um ataque com mísseis terra-terra ao Olossato, o capitão enviar para Bissau o relatório: “Aquartelamento e povoação atacados com mísseis terra-terra; não houve vítimas nem prejuízos; apenas há que refazer o heliporto.” Num relatório não cabe dizer que houve gente escoriada e que se comeu um jantar frio; caso excecional, desapareceu um cabo-condutor do aquartelamento, mandou-me mensagem informando que o militar se teria perdido na mata do Morés.

O cooperante Alberto está agora numa receção na embaixada do Brasil em Bissau, disserta-se e brinda-se à lusofonia. Novo salto até ao passado, Alberto viaja pelas tabancas do Olossato e, mais adiante, fala-se do pontão que liga as duas margens do rio Maqué, que faz a ligação entre Bissorã e Farim, e alguém conta que o PAIG a rebentou com petardos, houve que reconstruir a ponte; muito anos mais tarde, quem contou a esta história, de nome Suleiman, ex-chefe de milícia, foi visitado pelo cooperante Alberto no hospital Simão Mendes, e o que fica escrito a todos nós pertence:
“Que vida de dor, primeiro, português de segunda, depois guineense de segunda, castigado por ter combatido ao lado da trapo portuguesa; agora amortalhado, vencido pelo sacrifício e pela doença, tenho de chorar, para dentro, não se consigo reter as lágrimas, um pedaço da minha vida escoou-se naquela figura íntegra e amiga, que tantas vezes guiou os nossos passos, nossos e de outras companhias, trilhos, carreiros, picadas… e me salvou a vida, evitando o pisar de uma mina… que Alá te abençoe, Suleiman.”

Ainda há muito que esperar desta literatura memorial, na casa dos setentas e dos oitentas são estas acendalhas que tornam esplendente o que Álvaro Guerra nos advertiu em 1973, chafurdou-se na lama das lalas, viveu-se a espiral da solidão, conheceu-se o medo, viram-se crianças esquálidas e de ventre inchado, seres humanos minados pela doença, tudo parecia acabado quando a guerra para nós acabou, mas não, como diz Álvaro Guerra, nunca o preço do amor é excessivo, porque muitos receberam a graça de amar aquela terra como este amor que agora se confessa, não se quer só reter para uso da memória individual.
Olossato: torre abrigo com vista para a pista de aviação
Olossato: abrigo das peças de artilharia – obus 8,8
Olossato: efeitos de uma mina na estrutura da ponte

Estas três imagens foram extraídas do blogue Rumo a Fulacunda, com a devida vénia
Regresso ao Olossato, neste caso Ponte do Maqué, 2006. Paulo Salgado, ex-alferes da CCAV 2721, na companhia do ex-cabo Moura Marques. Imagem retirado do nosso blogue
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Nota do editor

Último poste da série de 5 DE ABRIL DE 2024 > Guiné 61/74 - P25342: Notas de leitura (1680): O Santuário Perdido: A Força Aérea na Guerra da Guiné, 1961-1974 - Volume II: Perto do abismo até ao impasse (1966-1972), por Matthew M. Hurley e José Augusto Matos, 2023 (19) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P25356: Blogues da nossa blogosfera (190): Recuperando parte dos conteúdos do antigo sítio da AD Bissau - Parte III: Foto da semana, 19 de dezembro de 2010, o canhão do fortim de Bolol (ou Bolor), memória silenciosa do desastre de 1870


Guiné-Bissau > AD-Acção Para o Desemvolvimento > Foto da Semana >  Título da foto: Canhão do Fortim de Bolol | Data de Publicação: 19 de Dezembro de 2010 | Data da foto: | 21 de Novembro de 2010 | Palavras-chave: história (*)

Legenda:

Durante o período colonial, no final do século XIX, os portugueses estabelecem um fortim em Bolol para controlar o movimento marítimo na embocadura do Rio Cacheu, já próximo do oceano Atlântico.

A tabanca felupe de Djufunco, situada a pouca distância de Bolol, não aceita a presença desse Fortim e faz uma investida que acaba por destruí-lo e impedir de vez o seu funcionamento.

Ofendido, o governador da Guiné, sediado em Cabo Verde, organiza uma expedição punitiva a Djufunco, que acaba por se traduzir na morte de quase todos os soldados portugueses envolvidos nesta operação.

Passará a ficar conhecido na história como o Desastre de Bolol, vindo a ter como consequência imediata a afectação de um governador na Guiné, em vez de continuar a estar em Cabo Verde.

Fonte: Arquivo.pt > ADBissau.org (com  devida vénuia...)


Antiga Província Portuguesa da Guiné > Carta Geral (Escala: 1/500 mil) (1961) > Posição relativa de Bolol (ou Bolor(, Bolola, Jufunco, Varela e Cacheu.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guimné (2024)


2. Sobre o desastre de Bolol (ou Bolor, como ainda se escrevia na carta de 1961), pode ler-se na Wikipedia (com a devida vénia...)

(...) Desastre de Bolol é a designação por que ficou conhecida na historiografia colonial portuguesa o resultado da expedição militar portuguesa enviada em finais de 1878 para recuperar o fortim de Bolor (era assim que se escrevia na época ao) na foz do rio Cacheu, na então Guiné Portuguesa.

A expedição, enviada pelo governador de Cabo Verde, que à época tinha jurisdição sobre a costa da Guiné, resultou na morte de quase todo o contingente envolvido na operação, o que determinou a alteração da estratégia portuguesa na região, nomeadamente a criação de um governo específico na Guiné, sedeado em Bolama e separado do de Cabo Verde.

(...) No contexto da corrida à ocupação efectiva do território africano, que culminaria na Conferência de Berlim (1884-1885), forças britânicas da colónia da Serra Leoa instalaram-se na ilha de Bolama, iniciando uma disputa pelo controlo da foz do Cacheu que culminou em 1870 com a decisão arbitral do presidente norte-americano Ulysses S. Grant que reconheceu a soberania portuguesa na região.

Em consequência, o Governo português ordenou a ocupação efectiva daquela região, visando a consolidação do seu estatuto como possessão portuguesa. 

Entre os postos criados, foi estabelecido um fortim na tabanca de Bolol (ao tempo referida como Bolor), em território do grupo étnico dos felupes, na margem direita do rio Cacheu.

O objetivo do fortim de Bolor/Bolol era albergar uma pequena força portuguesa à qual caberia controlo do movimento marítimo na embocadura do rio Cacheu, estabelecendo assim a posse efectiva do território em antecipação a novos conflitos pela posse daquela estratégica porção da costa africana e das ilhas fronteiras, nomeadamente a posse de Bolama e da parte mais interna do arquipélago dos Bijagós.

Aparentemente com o apoio britânico, cujos mercadores na região terão fornecido armamento, o povo da tabanca felupe de Jufunco (lê-se: Djufunco),  situada a pouca distância de Bolor/Bolol, não aceitou a presença militar portuguesa, atacando e destruindo o fortim.

Em resposta ao ataque, o governador da Cabo Verde, então com jurisdição sobre a costa africana fronteira ao arquipélago de Cabo Verde, na qual se incluía a actual Guiné-Bissau, enviou em 1878 uma expedição punitiva a Jufunco. 

A resistência do povo felupe foi inesperadamente dura e a expedição foi um desastre militar, resultando na morte da maioria do efetivo português envolvido na operação.

O incidente, apelidado de 'desastre de Bolol' (na época dizia-se Bolor), foi uma das maiores derrotas do Exército Português na luta pelo controlo das populações africanas das colónias portuguesa no contexto das campanhas de pacificação.

Como consequência imediata foi determinado a criação de um governador autónomo na Guiné, separado de Cabo Verde, sendo escolhida como sede a vila de Bolama, estabelecendo assim uma efectiva presença portuguesa no território que havia sido disputado com os britânicos.

 Seguiram-se múltiplas acções militares visando a submissão dos diversos povos da região, nomeadamente contra os biafadas em Jabadá (1882), os papéis em Bissau e no Biombo (1882-1884), os balantas em Nhacra (1882-1884) e os manjacos em Caió (1883).(...)

No local do fortim, agora parte do Parque Natural dos Tarrafes do Rio Cacheu, apenas resta uma pequena peça de artilharia em ferro, de alma lisa.(...)

(Seleção, revisão / fixação de texto, itálicos, negritos: LG) 
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