Pesquisar neste blogue

quinta-feira, 23 de outubro de 2025

Guiné 61/74 - P27343: S(C)em Comentários (79): Das "Vinhas de Ira" às "sopas de cavalo cansado", passando pelos verdes que me faziam azia... Tudo isto para dizer que prefiro...os maduros (Virgílio Teixeira, Vila do Conde)


O vinho verde branco "Camperlo" que também se
bebia em Bissau (passe a pblicidade...). 
Foto: Vt (2025)


1. Comentário (e fotos) do Virgílio Teixeira, ao poste P27280 (*)



As Vinhas da Ira. Romance de John Steinbeck, Escrito em 1939. A sua obra-prima. Adaptado ao cinema, surge o filme em 1940, dirigido por John Ford, com Henry Fonda como principal protagonista. Vi este filme ainda com 10 a 12 anos. Nunca o esqueci.

Dei este titulo ao comentário por me fazer lembrar as vinhas,  os vinhos e as bebedeiras....

O Luis fala e elenca uma série de vinhos que se bebiam no CTIG, eu conhecia todos, exceto o "Casal Mendes", que não me lembro de ver no meu tempo.

E naturalmente os Alvarinhos que já eram e são artigos de luxo, bebo quando mos oferecem, mas
não compro, até porque não sou apreciador de vinhos verdes, parece que me fazem azia, não os troco por maduros nrancos de qualidade, com graduação acentuada, e tintos obviamente.

O mais consumido por mim era o "Casal Garcia", que, ainda pós-desmobilização, bebia nos
dias muito quentes, mas tudo passa.

Na sequência no excelente trabalho inserto no Poste 27280, resolvi intervir com algo para mais conversa, senão a IA escreve tudo por nós e eu não sei defender-me!

Desde ainda criança começou a minha iniciação dos vinhos como tantos outros conhecem.
 
Estamos ainda em plena 2a guerra mundial, os bens escacionavam, o pequeno almoço eram as celebres "sopas de cavalo cansado": malga com broa desfeita ou casqueiro militar aos bocados; rega-se com vinho tinto, verde de pipa ou garrafão, adicionamos muito açúcar amarelo e depois é só comer.

 Não sei se fez bem ou mal, era o que havia!

E sempre bebia vinho às refeições, era de garrafão de vidro encestado.
 
Lembro me por exemplo, uma despedida de ano, talvez 59 ou 60, e num autocarro dos STCP, em plena Baixa Portuense, foi festejada a efeméride com garrafas de champanhe da conceituada marca  "Magos", uma garrafinha de 0,25

Sem direito a copo, que se abria com as cápsulas tipo cerveja e de águas do "Sameiro". Por isso nós, quando se falava dessa cápsula chamávamos de "Sameira".

Nas brincadeiras de jogar com elas, com enchimento de casca de laranja, e com os dedos fazer as corridas nas bermas dos passeios, sem sair das linhas até chegar o primeiro.

"Casal Mendes"
(passe a publicidade)
que eu náo conheci.
Foto: Vt (2025)

Que raio de brincadeiras que nem os Fulas ou Felupes as adoptaram. Não havia passeios, nem saneiras nem cascas de laranja, talvez.

O vinho que aqui se fala, o "Campelo", verde tinto e verde branco, faziam parte das bebidas de café. Encontrei 2 garrafas com rótulo original numa prateleira. A versão tinto e a versão branco que também a bebi na Guiné.
 

 O "Casal Mendes" não conheci, temos uma garrafa actual em foto, na prateleira de garrafeira. Nunca provei.

O vinho verde branco, bebe se fresco ou geladinho e não se nota defeitos. Nada como alguns vinhos Alvarinho, que são uma selecção à parte. "Palácio da Brejoeiro"  e outros.
 
Afinal não sou cliente de verdes!
 
Nunca vi uma vindima [excepto as que fazia por conta própria nos meus 10 anos nas videiras dos vizinhos]. Depois uma grande dor de barriga!
 
Abraços fraternos.(**)
 
Virgílio Teixeira
Em 2025 10 04

 PS - Nesta hora, ano 67,  já tinha feito o trajecto nos "barcos turra", e por estrda em coluna a caminho de Nova Lamego]. Já passaram 58 anos...




Virgílio Teixeira, ex-alf mil SAM, CCS/BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Dmingos, 1967 /69);  natural do Porto, vive em Vila do Conde.


______________

Notas do editor LG:


Vd. também postes de:

26 de setembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27255: Felizmente ainda há verão em 2025 (39): Quem se lembra do vinho verde branco, "Gatão, em garrafa de cantil com argola, que depois servia para fazer candeeiros de mesa de cabeceira nos nossos "resorts" turísticos ?

20 de setembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27232: Felizmente ainda há verão em 2025 (35): os vinhos verdes que aprendemos a gostar na guerra: Casal Garcia, Aveleda, Gatão, Três Marias, Lagosta, Palácio da Brejoeira (...sem esquecer o Mateus Rosé, da Sogrape)

11 de maio de 2015 > Guiné 63/74 - P14598: A bianda nossa de cada dia (5): Se a vida era boa em Lisboa, em Bissau nem tudo era mau... Do arroz de todas cores ao vinho verde alvarinho "Palácio da Brejoeira"... (Hélder Sousa)

11 de maio de 2015 > Guiné 63/74 - P14595: A bianda nossa de cada dia (4): Os nossos "chefs gourmet", lá no mato.. A fome aguçava o engenho... (Jorge Rosales / Manuel Serôdio / Vasco Pires)

9 de maio de 2015 > Guiné 63/74 - P14589: A bianda nossa de cada dia (3): o melhor casqueiro da zona leste, amassado e cozido em forno a lenha pelo Jacinto Cristina e pelo Manuel Sobral, no destacamento da ponte Caium... Mas nem só de pão viviam os homens do 3º Gr Comb, os "fantasmas do leste", da CCAÇ 3546 (Piche, 1972/74)

7 de maio de 2015 > Guiné 63/74 - P14584: A bianda nossa de cada dia (2): homenagem ao nosso cozinheiro Manuel, hoje empresário de restauração (Abílio Duarte, ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Nova Lamego, Paunca, 1969/1970)

5 de maio de 2015 Guiné 63/74 - P14574: A bianda nossa de cada dia (1): histórias do pão e do vinho... precisam-se!


(**) Último poste da série > 1 de outubro de 2025 > Guiné 61/74 - P27273: S(C)em Comentários (78): Na Guerra (tal como na Política) Não Vale Tudo... (António Rosinha / Cherno Baldé / Luís Graça)

quarta-feira, 22 de outubro de 2025

Guiné 61/74 - P27342: Agenda cultural (905): Exposição do artista plástico António Carmo, "Diálogo das Cores", patente ao público até Dezembro, com entrada gratuita, no Museu Municipal Santos Rocha na Figueira da Foz

Foto com a devida vénia ao Facebook do Museu Municipal Santos Rocha

1. Mensagem do artista plástico António Carmo, chegada hoje mesmo ao nosso Blogue através do Formulário do Blogger:

Acabei de encontrar o blogue numa pesquisa do google e a propósito da minha exposição que está patente no Museu Santos Rocha na Figueira da Foz.
Fica até fim de Dezembro com entrada gratuita.

Abraço cultural
António Carmo



Sobre o artista:

António Carmo nasceu em 1949 no Bairro da Madragoa em Lisboa, filho de gente ligada ao mar, mas foi criado pela madrinha de baptismo, tendo vivido sempre na capital.

Dada a sua apetência para o desenho e a conselho do seu professor, na adolescência, ingressa na Escola de Artes Decorativas António Arroio, onde cursou Pintura Decorativa. Ainda como estudante começa a frequentar as tertúlias de Lisboa, nomeadamente na Brasileira do Chiado, Café Tarantela, Café Vává, Leitaria Garrett, etc.

Na Brasileira, conheceu e conviveu com algumas das figuras conhecidas da cultura nacional, tais como Almada Negreiros, Abel Manta, Jorge Barradas e João Hogan que, em 1970 apadrinhou a sua exposição na Galeria Diário de Notícias, e outros que ainda hoje fazem parte do seu convívio diário, entre estes, Virgílio Domingues, Alberto Gordillo e Luís Lobato.

Dada a diversidade de interesses culturais que sempre manifestou, teve o privilégio de conviver com grandes vultos do mundo das artes, nomeadamente do bailado, cinema e literatura.

Amigo pessoal de alguns dos nossos cantores e compositores, tais como Adriano Correia de Oliveira (que homenageou com um painel de azulejos em Avintes), Carlos do Carmo (executou a capa do LP O Homem  no  País), Paulo de Carvalho, etc. Em 1968 faz a sua primeira exposição individual, na Galeria Nacional de Arte em Lisboa. Nesse mesmo ano, ingressa no Grupo de Bailados Portugueses Verde Gaio, aí permanecendo por dezoito anos e onde conheceu alguns grandes nomes do bailado internacional. Nesse período, para além de participar como bailarino, fez ainda os figurinos e cenários para alguns bailados do Grupo.

Em 1970 é mobilizado para a Guiné (Guerra Colonial) e durante os 2 anos em que ali permanece, organiza algumas exposições e executa alguns murais; colabora no jornal A Voz da Guiné e faz uma pesquisa sobre a Arte Nalu.

Regressa a Lisboa em 1972 e no ano seguinte promove na Galeria Opinião, uma exposição de reflexão e denúncia dessa mesma Guerra Colonial.

Depois de 25 de Abril de 1974, executa grandes murais nas Festas do Avante em conjunto com outros nomes da pintura, tais como: Rogério Ribeiro, Cipriano Dourado, Querubim Lapa, Jorge Vieira e Rogério do Amaral.

A partir de então inicia uma carreira internacional sendo a sua primeira exposição na Galeria Solidair em Roterdão/Holanda, vindo a fixar-se temporariamente em Bruxelas onde há cerca de 25 anos mantém uma permanência constante nalgumas galerias, tais como: Galerie L’Oeil, Racines e, mais recentemente a Galerie Albert I.

Em Bruxelas, executa ainda dois murais de grandes dimensões para a ABEP (Associação de Portugueses Emigrados na Bélgica) que foram, recentemente, doados à Câmara de S. Gilles/Bruxelas.

Dentro do espírito de divulgação cultural que está sempre presente na sua postura social, ilustrou durante alguns anos o “Suplemento Cultural” do matutino O Diário bem como outros jornais. Formou ainda o Grupo Paralelo, na Primavera de 1974, juntamente com alguns pintores e escultores: Adão Rodrigues, Alberto Gordillo, Álvaro Perdigão, António Trindade, Cipriano Dourado, Estevão Soares, Guilherme Casquilho, Teixeira Lopes, Ribeiro Farinha, Rogério Amaral e Virgílio Domingues.

 A ele aderiram posteriormente vários outros artistas plásticos, entre os quais Boavida Amaro, João Duarte, João Hogan, Jorge Vieira, José António Flores, Lurdes Freitas, Maurício Penha, Noémia Cruz e Querubim Lapa.

Nascido numa época ímpar da nossa História, o Paralelo foi também produto do sonho partilhado por quase todos os Portugueses de então, de construir um Portugal melhor, onde até a Cultura e a Arte tivessem a sua oportunidade. Os seus fundadores propunham-se sobretudo promover a divulgação das corrente estéticas das artes plásticas portuguesas, mirando o território virgem que a província representava e, se possível, projectando o voo além fronteiras. O veículo de propaganda eram, naturalmente, as exposições.

Pode dizer-se que ainda hoje, passados 45 anos, o Grupo Paralelo mantém o mesmo espírito e actividade que norteou a sua criação – a divulgação de várias tendências estéticas.

Do seu curriculum fazem parte inúmeras exposições tanto nacionais como estrangeiras que convida a ver na rubrica “Esposições”.


Créditos: Página do artista António Carmo
_____________

Nota do editor

Último post da série de 3 de outubro de 2025 > Guiné 61/74 - P27283: Agenda cultural (904): Continuação da minha visita em 21 de setembro à exposição “Venham mais cinco, o olhar estrangeiro sobre a revolução portuguesa, 1974-1975”. Para ver até 23 de Novembro de 2025, no Parque Tecnológico da Mutela, Almada (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P27341: Historiografia da presença portuguesa em África (501): A Província da Guiné Portuguesa - Boletim Oficial da Colónia da Guiné Portuguesa, finais de 1945 (58) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 21 de Abril de 2025:

Queridos amigos,
Entendi que se deviam publicar as linhas de ação governativa de Sarmento Rodrigues, ele diz que vem por pouco tempo, que pretende acabar obras e deixar muitas outras em andamentos, sente-se que vem bem apoiado pelo ministro Marcello Caetano, ao longo de 1945 observa-se a abertura de créditos, acabara a guerra e havia dinheiro, desanuvia-se a atmosfera de grande austeridade, lançam-se os fundamentos do que o governador idealizava para a Guiné: obras públicas, transportes, portos, pontes, reformulação de toda a política de saúde, investigação cultural. Quando deixar a colónia, em 1949, o seu sucessor, Raimundo Serrão, passará anos a inaugurar obras do seu legado. Legado tão forte que quando Craveiro Lopes visitar a Guiné em 1955, a grande estrela será Sarmento Rodrigues, então ministro das Colónias.

Um abraço do
Mário



A Província da Guiné Portuguesa
Boletim Oficial da Colónia da Guiné, finais de 1945 (58)


Mário Beja Santos

Vai começar a era de Sarmento Rodrigues, veremos ao longo de 1945 sucessivas autorizações de abertura de linhas de crédito, todas elas justificadas por dotações insuficientes. O novo governador chega e começa por trocar saudações com o Conselho de Governo.

O Comandante Manuel Maria Sarmento Rodrigues irá proferir na abertura dos trabalhos (mera sessão protocolar) um discurso surpreendente, vale a pena reter alguns parágrafos, pois deixa bem claro ao que vem e o que pretende fazer:
“Vossas Excelências esperariam, talvez, que nesta ocasião lhes fosse apresentado um programa do Governo. Justamente, uma das incumbências que Sua Excelência o Ministro me deu foi de elaborar um plano de Governo. Não serei eu só, mas Vossas Excelências, todas as pessoas esclarecidas e de boa-vontade, que hão de ter parte nele com as suas informações, os seus exemplos e a sua previsão. E, depois disso, mais do que planear, terão de executá-lo. Deposito a maior esperança na colaboração de todos. Não seria possível encontrar aqui homens que negassem o seu esforço par ao engrandecimento da colónia.

Conheço a dureza da vida na Guiné, por um lado causada pelas asperezas do clima, do outro pelas dificuldades económicas de cada um. É indispensável, portanto, fazer o possível por conseguir mais conforto e bem-estar para todos, de modo que esta colónia possa um dia ser, mais do que a região atrativa e prometedora do que já é, uma terra onde a vida possa decorrer sempre com agrado.
Julgo que isso será possível. Habitações higiénicas; higiene nas ruas e em volta das povoações; meios de vida mais fáceis; ambiente social cada vez mais digno; satisfação das necessidades espirituais.
Sua Excelência o Ministro enfrenta um vasto programa de melhoramentos na colónia, para a realização dos quais já começaram a trabalhar os organismos superiores do Ministério.

Muitos deles aqui se movimentam também. Habitações, saneamento, água e hospitais; pontes, portos, obras hidráulicas, aeroportos, farolagem; missões científicas, de geodesia, hidrografia, zoologia, antropologia, botânica, medicina, etc.; desenvolvimento do serviço missionário, na parte religiosa e na parte do ensino indígena; defesa militar na colónia; assistência às atividades económicas, nomeadamente às agrícolas e industriais, direta e indiretamente; ensino dos indígenas em agricultura, pecuária e artes e ofícios; e outros.
Infelizmente, o momento atual não é de molde a permitir a fácil realização deste vasto programa, porque em grande parte rareiam os elementos para a sua execução. Junta-se à falta de técnicos a escassez de materiais e a dificuldade de transportes. Heis porque, mais do que nunca, se impõe a colaboração de todos; levara moralidade administrativa a todos os setores, aos mais pequenos detalhes; intransigência, contudo que possa traduzir corrupção e vício. É nestas bases de moral sem transigências que temos de trabalhar.”


Imediatamente a seguir discursa na primeira sessão do Conselho de Governo, aí sim temos as linhas gerais do que planeou para a ação governativa:
“É premissa basilar não estagnar, não haver uma pausa sequer. O ritmo de trabalho, da atividade, tem de ser acelerado. Figura no primeiro plano das realizações, como mais visível, o trabalho das obras públicas. Temos uma vasta lista de obras projetadas para um período que desejaríamos que fosse bastante curto. Coloco à frente as construções por acabar e que pretendo arrumar. Afigura-se-me como ação de prestígio para nós a conclusão ou aproveitamento imediato de todos os edifícios que estão incompletos: Palácio, Sé, capelas de Catió, Bafatá, Canchungo, Mansoa e Gabu, moradias projetadas para os funcionários em Bissau, o monumento ao Esforço da Raça, edifício da Praça do Império, cuja origem quase se desconhece, e outras tentativas dispersas pela colónia, aguardando que as acabem.”

E passa em revista o que pretende fazer: instalar o Tribunal Administrativo, o Tribunal da Comarca, Escrivães e Conservatória; na Praça do Império instalar um Museu, Arquivo e Biblioteca. “Tenho também intenção de restaurar a Colónia Penal Agrícola, pois é necessário haver um local onde sejam conservados os condenados ao cumprimento de penas, os quais não têm presentemente lugar nas cadeias. Até hoje não descobri as razões que levaram à suspensão da Colónia Penal. Por toda a colónia há imensas obras eu se impõem, como as sedes dos postos administrativas de Prabis, Cacine, Bedanda, Bambadinca, Xitole, Bula, Enxudé, Binar, Enxalé, Piche, Pirada, Ilha Roxa, Caravela e outros; as secretarias das administrações de Bissau e Canchungo; residência dos administradores de S. Domingos e Gabu, do secretário de Farim e dos aspirantes em Bafatá, Catió, Bubaque e Farim.” E seguidamente fará menção da rede de estradas, pontes e reparações de envergadura.

E sinais desta atividade vão aparecer no Boletim Oficial, torna-se claro que o Ministro das Colónias, Marcello Caetano, lhe está a dar um apoio incondicional. Veja-se o suplemento ao n.º 46, Boletim Oficial de 17 de novembro, publica-se o Decreto-lei n.º 43:677, fala-se no levantamento hidrográfico da colónia da Guiné, é necessário um navio adaptado às especiais condições hidrográficas da colónia, o Ministério da Marinha destinará uma canhoneira, fala-se da logística, duração dos trabalhos, etc.

As questões de saúde merecerão do governador a devida atenção, como se pode ver numa portaria publicada no Boletim Oficial n.º 51, com a data de 17 de dezembro. Iniciara os seus trabalhos na colónia a Missão de Estudo e Combate à Doença do Sono, o governador determinava: que todos os indígenas a quem seja feito o diagnóstico de tripanossomíase fossem obrigatoriamente mandados apresentar nos postos de tratamento; e que os doentes indígenas considerados no período nervoso da afeção ficassem isentos de pagamento do imposto palhota e de quaisquer outras contribuições ou impostos a que tivessem sujeitos. Nesse mesmo Boletim Oficial era criado o Centro de Estudos da Guiné Portuguesa que teria como seu órgão o Boletim Cultural da Guiné Portuguesa.

No último dia do ano, no suplemento n.º 53 do Boletim Oficial n.º 25, publica-se o Decreto-lei n.º 34:478, do Ministério das Colónias, tem a ver com o envio de missões antropológicas e etnológicas, a quem Sarmento Rodrigues dará todo o impulso aos seus trabalhos. Enfim, o plano de ação governativa com o declarado apoio do Governo e com a chegada de dinheiro e meios e técnico ganhava o seu ímpeto.

Sarmento Rodrigues regressava de Lisboa e trazia boas notícias: dinheiro, equipamentos, a vinda de cientistas, apoio governamental para infraestruturas, obras públicas e saúde
Museu e Centro de Estudos da Guiné Portuguesa. Foto Serra, 1955
Tocado de Korá. Imagem retirada deste número de Ronda pelo Ultramar
Duas páginas do mesmo número da revista
(continua)
_____________

Nota do editor

Último post da série de 15 de outubro de 2025 > Guiné 61/74 - P27320: Historiografia da presença portuguesa em África (500): A Província da Guiné Portuguesa - Boletim Oficial da Colónia da Guiné Portuguesa, 1945 (57) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P27340: A nossa guerra em números (42): com um "per diem" (verba de alimentação diária) de 24$50 (hoje 4,10 euros) dava para fazer uma... ometela simples mas saborosa!



Cartum: O "per diem"

Fonte: LG + ChatGPT (imagem gerada pela IA, 
sob instruções de LG)

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2025)



1. Recorde-se que cada militar, do soldado ao general, tinha direito no nosso tempo, no CTIG,  a um "per diem" de 24$50 (=4,10 €, a preços de hoje). Para se alimentar.

O Estado pagava a "ração diária" dos seus soldados  em géneros. 

Nunca vi isso escrito em parte nenhuma, o valor da verba para a alimentação diária. Nem com a ajuda da "Sabe-Tudo"... Mas recordo-me que, no meu tempo (1969/71), um soldado da CCAÇ 12, do recrutamento local, uma praça de 2ª classe (!) ganhava 600 escudos por mês, mais o tal "per diem" de 24$50. 

Por ser "desarranchado": os nossos camaradas guineenses comiam a sua "bianda" na tabanca  (havia duas em Bambadinca, uma a mais antiga, entre o quartel e o rio Geba; e outra, um reordenamento, a oeste,  a Bambadincazinho; ou seja, eles viviam com as suas famílias fora do perímetro de arame farpado...). 

Quando iam para o mato, em operações, também não tinham direito a ração de combate, por serem "desarranchados":  levavam um lenço atado com um mão  cheia de arroz cozido e nozes de cola para aliviar a fome e a sede... 

De resto, o exército (ou o serviço de intendência) não tinha rações de combate para os soldados portugueses muçulmanos (pelo menos no meu tempo). 

Em suma, um soldado guineense de 2ª classe recebia em média 1300 escudos ("pesos"), o que para um tabanqueiro guineense era "manga de patacão" naquele tempo.  Era quanto ganhava um 1º cabo de transmissões, metropolitano.

 Vejamos: 1300$00 em 1969 seria equivalente a 466,00 euros, a preços de hoje, dava para comprar dois sacos de arroz, 200 kg, na loja do Rendeiro, em Bambadinca, e ter duas mulheres.

O vagomestre com esses 24$50 do "per diem" (não sei se a tropa usava esat expressão latina, que quer dizer "por dia"...)  tinha que nos dar de comer e beber,  a nós, metropolitanos:  pequeno-almoço, almoço e jantar.  Não havia lanche nem ceia... 

Os petiscos, o leitão, o cabrito, o vinho verde,  a cerveja,   o uísque, etc.,  isso era tudo por conta do "freguês". A tropa não pagava esses luxos.  "Tainadas e berlaitadas  o nosso primeiro  que não pagava" (dizia, com graça, o nosso 2o. sargento, o saudoso José Manuel Rosado Piça, a exercer funções de primeiro).

Parece que também tínhamos direito a uma dose....de bagaço.  Mas eu nunca o vi nem o cheirei em parte nenhuma.

Em 17 de junho de 1974, na CCS/BART 6523/73 (Nova Lamego, 1973/74), segundo a relação dos víveres existentes (*), o "per diem" dava para "comprar" o equivalente a uma dúzia... de ovos (=24$30) (importados da metrópole, custavam tanto como uma garrafa de vinho verde de marca!)...

Era, pois, um luxo fazer uma generosa omeleta (que tinha que dar.... para  3 refeições)!...Já não dava para juntar umas rodelas de chouriço (1 kg = 64$80,  ou 10,85 euros, a preços de hoje).

E se quisesses beber um copo ? Quanto representava a tua ração diára de vinho no "per diem" ?

2. Façamos as contas:

(i) tinhas direito a dois copos de vinho por dia (tinto, mais frequentemente, branco às vezes, e oxidado), o equivalente a 0,25 dl em junho de 1974;

(ii) valor, de resto, que ainda está por confirmar: um ano depois, a ração diária de vinho, em Lisboa, era de 0,40 l, para qualquer militar dos 3 ramos das Forças Armadas); (**)

(iii) o preço de um litro de vinho, em Nova Lamego, era de 11$60 (o equivalente hoje a 1,94 euros);

(iv) o quarto de litro ficava, portanto, por 2$90 (=0,485 euros);

(v) se considerarmos o valor mais provável da ração diária de vinho,  no ultramar, no fim da guerra, que seria os 0,4 l (1 copo de 2 dl  a cada refeição principal), terias gasto 4$60 do teu "per diem"  (à volta de um 1 euro, sobravam-te 3,1 euros para o conduto...).

3. Não te assustes: em 1969/71, a verba para a alimentação diária da rapaziada do Exércita  já era insuficiente...No relatório anual do Comando-Chefe referente a 1971 já se pede a atualização da verba de alimentação diária para os 33$00 (!). Claro, no Terreiro do Paço devem ter-lhe feito orelhas moucas ou mandado apertar o cinto.

Com certeza que o gen António  Spínola não estava a fazer "humor de caserna", como nós aqui, no blogue...

De facto, a inflação , galopante, desde o início da década de 1970 (e que se vai agravar em finais de 1973) (**), já estava a baralhar as  contas do vagomestre, do 1º sargento, do capitão e por ai fora até ao  governador e comandante-chefe ,o gen António Spínola,  em Bissau,  e no topo da cadeia o ministro das Finanças, em Lisboa (que já ninguém sabe quem era) ... 

Pois é,  camaradas, é a economia (e o moral das tropas...) que faz ganhar ou perder guerras... É como na política, "o pão e o circo" é que fazem ganhar ou perder eleições...

E tu, camarada Zé Saúde (que foste vagomestre por um mês, se bem percebi) (***), com um "per diem" de 24$50, já lerpavas... em Nova Lamego, nessa altura.  De larica, galga, fomeca. (Não sabemos, nem isso agora é relevante,  se, em junho de 1974, a verba para a alimentação da tropa no CTIG ainda eram os desgraçados 24$50 diários "per capita", para o soldado e para o general, para o branco e para o preto, o "tuga" e o "nharro"...).

O que vale é que já estavas de abalada para Lisboa... (Recorde-se que o teu batalhão "comandou e coordenou a execução do plano de retracção do dispositivo e a desactivação e entrega dos aquartelamentos ao PAIGC, sucessivamente efectuadas nos subsectores de Madina Mandinga e Cabuca, em 20ag074,  e de Piche, em 29ag074", e que em 7 de setembro já estavas, em Lisboa, a caminho de Beja para comeres as tuas saudosas  migas...

Mas pergunto-te: quantas vezes passaste sede ? quantas vezes deixaste de beber a tua pinga ? e porquê ?

Nunca se davam explicações na tropa. Especulava-se: atrasou-se o barco, ou foi atacado em Mato Cão, acabou-se ou estragou-se o vinho que havia no barril de 100 litros, ou no bidão metálico de 200/210 litros, etc... (Estes bidões metálicos são do teu tempo, Zé Saúde, não são do meu, enfim "modernices" da Intendência, ou então já indícios da crise dos tanoeiros.)

E não havia Jesus Cristo para fazer milagres, ele  que não chegava para todas as encomendas e nunca parou (nem reparou) em Nova Lamego, para fazer o milagre da conversão da água em vinho e da multiplicação dos pães!...

Mas alguém terá ficado no bolso com os teus tostões, os teus cêntimos, do teu mísero "per diem"... 

4. Sabemos que a 3ª Cart / BART 6523 tinha, em 18/6/1974, na despensa da CCS, à sua guarda,  um stock de vinho na ordem dos 1145 litros... Se multiplicares por 11$60, dava a bonita soma de 13 contos e mais uns trocos: 13.282$00 (= 2593,00 euros, a preços de hoje).


Essa 3ª Companhia deveria ter uns 160 homens, mais coisa, menos coisa... Famintos, sequiosos...Se todos bebessem (e não houvesse coluna de reabastecimento), só teriam vinho para menos de um mês:

(i) 29 dias, se a  ração diária de vinho fosse de 0,25 l (2 copos pequenos);

(ii) 18 dias, se a ração diária fosse de 0,40 l (2 copos de 2 dl cada, como nos parece mais provável, até de acordo com o volume do copo da tropa que nos foi distribuído com o cantil).

De qualquer modo, havia apenas  vinho para menos de um mês... A menos que fosse  "batizado"... coisa que o Aníbal Silva, em Nova Sintra, desmente categoricamente. 

Enfim,  era mais um quebra-cabeças logístico:
  • tinha-se que ir buscá-lo, ao vinho,  a Bambadinca, onde havia o destacamento da Intendência mais próximo, noutra ponta da zona leste (a estrada já era alcatroada, passando por Bafatá, ao menos isso);
  • pensando em termos de recipientes, 1145 litros de vinho eram 5 bidões metálicos de 200 litros + 1 barril de 100 litros e uns tantos garrafões de 5 litros  ( parece que em 1969/71 já não se viam garrafões de 10 l)...

Aníbal Silva
Falando, por telemóvel com o Aníbal Silva, o ex-fur mil vagomestre, da  CCAV 2483 / BCAV 2867 (Nova Sintra e Tite, 1969/70), um rapaz do meu tempo, dizia-me ele que a malta, em Nova Sintra  "estafava" um barril de 100 litros em menos de 3 dias. 

Noutros sítios, a malta queixava-se que  às vezes o raio do vinho oxidava--se, envinagrava-se, estragava-se... Ou então evaporava-se, sumia-se, e ninguém sabia como... "Obra de profissionais" ? Para quê se não havia "mercado local" ou "regional" ? !... 

Não seria para revender à população,  que os de Nova Lamego, por exemplo,  não podiam beber "água de Lisboa", por serem muçulmanos... E em Nova Sintra não havia população. Muitas vezes era "pró petisco" dos "tugas" (sendo o cozinheiro sempre convidado)...

De qualquer modo, nada como falar com números ! (***). E sobretudo ouvir as histórias dos nossos tão bravos quão pacientes vagomestres, como o Aníbal Silva, que é catedrático nestas matérias...

_______________________

Notas do editor LG:

(*) Vd. poste de 6 de fevereiro de 2020 > Guiné 61/74 - P20626: (Ex)citações (362): O ventre e o patacão da guerra, segundo duas preciosas listas de junho de 1974, guardadas pelo Zé Saúde... Cada um de nós tinha direito a um "per diem" de 24$50 para comer, o equivalente na época a um dúzia de ovos da Intendência (, a preços de hoje, 4,10 euros)

(**) Vd. este excerto do Relatório Anual do Cmd-Chefe das FAG, referente a 1971:

 (...) "Intendência

(i) Pessoal

A actual organização do Serviço de Intendência do CTIG é manifestamente deficiente. OS QO carecem de actualização, conforme proposta já apresentada por aquele Comando.

É premente a necessidade de montar no TO um Apoio Avançado eficiente, com níveis adequados, por forma a descentralizar o apoio logístico do serviço, descongestionando os órgãos-base. Para isso reconhece- se a necessidade, já há muito apresentada, de um reforço dos órgãos do Serviço de Intendência do CTIG.

(ii) Víveres

Ao longo do ano verificou-se uma melhoria do reabastecimento de víveres frescos às Unidades do TO pela utilização do sistema de reabastecimento aéreo com o lançamento em paraquedas.

Verificou-se também uma melhoria nos meios de frio nos órgãos-base avançados e Unidades, que permitiu que o reabastecimento de frescos às Unidades se processasse em condições mais eficientes.

(ii) Verba de alimentação

Em resultado do aumento do custo de géneros de 1a necessidade e ainda do aumento do custo dos transportes da Metrópole para a Província, tem--se vindo a agravar o custo da alimentação. Nesta conformidade e com vista a não baixar o nível de alimentação das tropas, toma-se necessário actualizar a verba diária actual para um valor da ordem dos 33$00" (...)

Fonte: Excerto de: Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 6.º Volume; Aspectos da Actividade Operacional; Tomo II; Guiné; Livro III; 1.ª Edição; Lisboa (2015), pp. 59. 

terça-feira, 21 de outubro de 2025

Guiné 61/74 - P27339: Tabanca Grande (577): Timóteo da Conceição dos Santos, ex-Fur Mil Inf Minas e Armadilhas da CCAÇ 2700 / BCAÇ 2912 (Dulombi, 1970/72), que se senta à sombra do nosso poilão no lugar nº 909

Timóteo Santos, ex-Fur Mil Inf MA da CCAÇ 2700/BCAÇ 2912
Timóteo Santos, hoje

********************

1. Mensagem do nosso camarada de armas, novo tertuliano e amigo, Timóteo da Conceição dos Santos, ex-Fur Mil Inf Minas e Armadilhas da CCAÇ 2700/BCAÇ 2912 (Dulombi, 1970/72), com data de 20 de Outubro de 2025:

Camaradas
Junto envio os meus dados para ser inscrito na Tabanca Grande

Um abraço
Timóteo Santos

Timóteo da Conceição dos Santos;

nasci em 10 de Janeiro de 1948, em Tomar;

vivo em Angra do Heroísmo, Ilha Terceira, Açores;

fui Furriel Miliciano Atirador, com a especialidade de Minas e Armadilhas;

pertenci à CCAÇ 2700 / BCAÇ 2912;

cumpri a minha comissão de serviço na Guiné de Maio de 1970 a Março de 1972;

na vida civil fui engenheiro técnico civil,
 empresário de construção civil, hoje estou reformado.


Ficha do Batalhão de Caçadores n.º 2912 - Identificação e Síntese da Actividade Operacional
Com a devida vénia à Comissão para o Estudo das Campanhas de África

********************
2. Deixamos agora uma mensagem que o nosso amigo Timóteo Santos nos enviou no dia 14 de Outubro, através do Formulário de Contacto do Blogger, a propósito da emboscada do dia 1 de Outubro de 1971, em Duas Fontes (Bangácia). Vd. Postes 27286 e 27287:

Tendo sido referido o meu nome sobre a emboscada nas Duas Fontes (Bangacia), informo mais uma vez que as mesmas correspondem aos mortos por uma mina numa operação ao Gifim e Rio Corubal.

Foto tirada por Américo Estanqueiro. Estando de costas o Furriel Mil Helder Coelho. Não tenho qualquer dúvida sobre o assunto descrito há 11 anos. 
Poderei enviar a foto em meu poder.

A patrulha que saiu na manhã seguinte para as Duas Fontes foi comandada pelo Fur Mil Carlos Medeiros Barbosa com o resto da sua secção e alguns voluntários. Reside no Nordeste na Ilha de S.Miguel, Açores. Está bem de saúde.

Um abraço
Cumprimentos,
Timoteo Santos


********************

3. Comentário do editor CV:

Caro Timóteo Santos,

Bem-vindo à nossa tertúlia, vais sentar-te no lugar 909, à sombra do nosso poilão.

Aqui, o convívio faz-se interagindo, publicando as nossas memórias escritas ou em fotografia. Outra forma de manter o nosso blogue vivo, é participar através dos comentários que podemos publicar nos postes que diariamente vão formando este manancial de informação sobre a guerra na Guiné, na primeira pessoa, para que outros o não façam por nós.

Ficas desde já convidado à participação activa, quer enviando as tuas vivências por escrito ou através das fotos que tens, com toda a certeza, guardadas no teu álbum da tropa.

Nós dois fizemos caminhos paralelos já que somos contemporâneos. Sendo natural de Tomar, deves ter feito a recruta em Santarém (eu nas Caldas da Rainha) e a especialidade em Tavira (eu em Vendas Novas), mas provavelmente andámos juntos em Tancos. Eu fiz o 33.º Curso de Minas e Armadilhas, nos meses de Outubro e Novembro de 1969.

Cheguei à Guiné no dia 17 de Abril de 1970 e tu no dia 1 de Maio. Regressei a 19 de Março de 1972 e tu a 22.

Não sei se estás familiarizado com o modo de se pesquisar/navegar no blogue, posso dar-te alguns exemplos:

Se quiseres procurar publicações da tua Companhia, tens na aba lateral esquerda os marcadores ou descritores como este especificamente CCAÇ 2700, é só clicar e vão-te aparecer todos os postes da 2700.

O ex-Alf Mil Fernando Barata publicou a história da vossa 2700 que podes ver neste marcador: História da CCAÇ 2700

A partir de hoje passas também a ter um marcador identificado com Timóteo Santos. Só depois de publicar esta tua apresentação, ele irá ser criado.

Julgo que ficou dito o essencial, no entanto estamos aqui ao teu dispor nos contactos que já conheces.

Antesque me esqueça, por favor não nos mandes textos em formato de fotografia porque assim de repente não sei como transformá-lo em texto para fixação no blogue.

Recebe um forte abraço de boas-vindas da tertúlia, editores e colaboradores permanentes deste blogue.

Guiné 61/74 - P27338: Casos: a verdade sobre... (59): Quatro mortos e treze feridos, e mais dois mortos do grupo do Marcelino da Mata: subsetor de Buba, 5 de maio de 1973 (Armando Ferreira, ex-fur mil at cav, CCAV 8353/72, Bula, 1973/74)


Armando Ferreira, ex-fur mil at cav, CCAv 8353/72 (Bula,  1973/74)


Foto (e legenda): © Armando Fonseca (2012). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. A propósito da emboscada que provocou 4 mortos e 13 feridos entre as NT, em 5 de maio de 1973, entre Dungor e Choquemone, a nordeste de Bula  (Carta de Bula. 1953 / Escala 1/50 mil), um dos quais foi o ex-1º cabo at cav J.j. Marques Agostinho (*), constatámos que há ainda pouca informação disponível sobre esta ocorrência. Para todos os efeitos, foi um revés para as NT, mesmo que tenha havido baixas prováveis do lado do IN.



1.1. Esta ação de 5/5/1973, é referida no livro da CECA, sobre a atividade operacional dos anos de 1971/74,  em termos sucintos:

Acção - 05Mai73

Forças dos Pel Mil 291, 293 e 341 (BCav 8320/72) realizaram patrulhamento conjunto com emboscada na região do Choquemone, 01-A. Tiveram três contactos com o ln, sendo o último à tarde, de que resultou no segundo, 3 mortos e 1 desaparecido do Pel Mil 293.

Naquela altura acorreram em auxílio forças de 1 Gr Comb / 1ª C/BCav8320/72 e 2 Gr Comb / CCav 8353/72, que realizavam um patrulhamento em Ponta Mátar, l Pel (-) / ERec 3432 e APAR (apoio de artilharia).

Quando as NF se dirigiam de Ponta Mátar para a região da emboscada, em Petabe, o 2° Gr Comb / CCav 8353/72 estabeleceu contacto com o ln em Bula 2H2.80, sofrendo 4 mortos, 5 feridos graves e 3 ligeiros.

Na batida feita posteriormente foram recolhidas peças de equipamento e fardamento, munições de armas ligeiras, géneros alimentícios e detida l mulher. O ln teve baixas prováveis comprovadas por grandes manchas de sangue.


Fonte: Excertos de: Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 6.º Volume; Aspectos da Actividade Operacional; Tomo II; Guiné; Livro III; 1.ª Edição; Lisboa (2015), pp. 300/301 (Com a devida vénia...).



O ex-fur mil at cav Serafim
 de Jesus Lopes Fortuna, natural
da Madalerna, V.N. Gaia,
mortoem 5/5/1973-
Fotograma do vídeo
"A ternura dos 20 anso",
do Armando Ferreira (2015)



1. 2. O Armando Ferreira, na altura furriel, e hoje um conhecido escultor e figura pública (nasceu em Alpiarca, a 14 de maio de 1951, e é membro da nossa Tabanca Grande desde 25/10/2015)  fez um emocionada homenagem aos seus camaradas de companhia caídos entre Dungor e Choquemone, por ocasião dos 42 anos da trágica emboscada, e ao mesmo tempo a denúncia de uma guerra insensata.  E, de entre eles, o seu camarada ex-fur mil cav Serafim de Jesus Lopes Fortuna, natural da Madalena, Vila Nova de Gaia, e que era um dos seus grandes amigos (tendo ambos feito a recruta e a especialidede na EPC, em Santarém).

O vídeo. "A ternura dos 20 anos"  está está disponível no You e no nosso blogue,  no poste P15291 (**)

Mais recentemente recebemos dele esta mensagem por email, em resposta ao nosso pedido de 
esclarecimento sobre a hora da emboscada:



Armando Ferreira
Data - Domingo, 19/10/2025, 19:34 

Caro camarada de guerra, a emboscada foi por volta das 15 e 30, 16 horas, fuso hprário de Bissau. 

Eu não usava horas e a situação não deu para isso, tínhamos pouco mais de um mês. 

Quatro mortos em emboscada e treze feridos, e mais dois mortos do Marcelino (da Mata).  Na mata do Choquemone, entre S. Vicente e Bula. 

Spínola e a sua equipa sabia o que ia acontecer, o seu propósito nestas situações era sempre idêntico, embora suas palavras para os governantes fossem muito diferentes. Vi e constatei coisas que me fazem dizer o que digo. 

Meu caro camarada, coloquei o furriel Fortuna na viatura. Ajudei os outros camaradas, fomos para Bula, ainda fui lavar os corpos, na capela, e depois tivemos de formar para ouvir o Grande Chefe: "Isto não foi uma derrota, mas, sim uma vitória, a nós dobram qualidades, aos outros faltam"...

Enfim,  a lengalenga do costume, o pessoal estava chorar como é natural mas o tipo deu uma chapada à pessoa errada que não era da nossa companhia. 

Bom estendi-me um pouco, ficamos assim camarada. Isto não valeu de nada.

 Um grande abraço 

Armando Ferreira

3. Comentário do editor LG:

Ficamos a saber que o gen Antónioi Spínola fez questão de estar presente em Bula, quartel de cavalaria, a sua arma, para homenagear os seus soldados acabados de ser "sacrificados no altar Pátria". Ficamos também a saber que nesta operação partiparam o Marcelino da Mata e o seu grupo (irregular), "Os Vingadores" (e que estes terão tido 2 mortes).

Enfim, seria importante ouvir outros testemunhos sobre estes acontecimentos (***).

(Revisão / fixação de texto: LG)

________________

Notas do editor LG:


(*) Vd. poste de 19 de outubro de 2025 > Guiné 61/74 - P27332: Seis jovens lourinhanenses mortos no CTIG (Jaime Silva / Luís Graça) (6) José João Marques Agostinho (Reguengo Grande, 1951 - Bula,1973): era 1º cabo at cav, CCAV 8353/72 (Cumeré, Bula e Pete, 1973/74)

Guiné 61/74 - P27337: Viagens à Guiné-Bissau: Amizade e Solidariedade (Armando Oliveira e Ricardo Abreu) (4): Nova Sintra (Aníbal Silva, ex-Fur Mil Vagomestre)

1. Em mensagem de 19 de Outubro de 2025, Aníbal José Soares da Silva, ex-Fur Mil Vagomestre da CCAV 2483 / BCAV 2867 (Nova Sintra e Tite, 1969/70), enviou-nos a quarta reportagem das "Viagens à Guiné-Bissau: Amizade e Solidariedade", levadas a efeito pelos nossos camaradas Armando Oliveira e Ricardo Abreu.


VIAGENS À GUINÉ BISSAU: AMIZADE E SOLIDARIEDADE

NOVA SINTRA

Instalações do quartel de Nova Sintra em 72/74 bem melhores que as de 69/70 da minha época

O quartel de Nova Sintra estava situado na parte sul do Setor de Tite, na Península de Gatangó, região do Quinara. Era uma localidade abundante em cajueiros e mangueiros e onde se fazia o cruzamento da estrada “internacional“ que tinha início no Enxudé, porto no rio Geba e ligava Tite a Bolama por São João e Fulacunda até Buba e Catió.

O quartel foi construído entre os dias 6 e 31 de Maio de 1968, pelos sacrificados e abnegados militares da CCAÇ 2314 e CART 1802, com o propósito de obstar ou dificultar o movimento de homens do PAIGC e de material, na direção de Bissássema, localidade junto ao rio Geba, fronteira à cidade de Bissau, de onde poderiam fazer ataques a esta cidade.



VIAGEM DE 15 DE ABRIL DE 2017

Para concluir o périplo do triângulo da região do Quinara, Tite, Fulacunda e Nova Sintra, a crónica de hoje é relativa à visita a esta ultima localidade da Guiné-Bissau, pelos camaradas Armando Oliveira e Ricardo Abreu.

O transporte dos “repórteres” desde Tite, via Fulacunda e até Nova Sintra foi assegurado por uma viatura da Missão Católica de Tite e conduzido por uma freira. Segundo eles, no espaço que fora ocupado pelo quartel nada resta, salvo meia dúzia de edifícios em ruínas (ver fotos) e está totalmente coberto por árvores e densa vegetação, não permitindo identificar o que quer que seja.

No meu tempo, Março de 69 a Setembro de 70, nas imediações do quartel não havia qualquer tabanca que albergasse população, pelo que foi com surpresa e agrado que os “repórteres” me deram a conhecer a existência da Tabanca de Nova Sintra, situada a meio caminho entre o antigo quartel e o “famigerado” cruzamento de Nova Sintra (acesso a S. João, Tite e Fulacunda).

O propósito da visita foi o mesmo que as efetuadas a Tite e Fulacunda, a “amizade e solidariedade” com a entrega de dádivas, tais como: livros, cadernos e material escolar; bolas e equipamentos desportivos, bonés e t-shirts; biberões e comida para bébés; soros e material de aplicação e principalmente medicamentos.

Ruínas de edifícios do antigo quartel de Nova Sintra
Vegetação densa no espaço outrora ocupado pelo quartel
Ricardo entre dois homens que foram do PAIGC, sendo o que tem a espingarda, o que colocava minas na zona de Nova Sintra.
Estrada Tite - Nova Sintra que o Ricardo percorreu de motorizada dois dias depois da visita. Estrada que ele ajudou a desminar, até ao “pontão”, após o 25 de Abrilde 1974.
Tabanca de Nova Sintra
Ricardo Abreu na entrega de sacos com dádivas
Juventude da Tabanca de Nova Sintra
Jovens no centro do famigerado, pela sua perigosidade de outrora, cruzamento de Nova Sintra

(continua)
_____________

Nota do editor

Último post da série de 14 de outubro de 2025 > Guiné 61/74 - P27316: Viagens à Guiné-Bissau: Amizade e Solidariedade (Armando Oliveira e Ricardo Abreu) (3): Vila de Fulacunda (Aníbal Silva, ex-Fur Mil Vagomestre)

segunda-feira, 20 de outubro de 2025

Guiné 61/74 - P27336: Notas de leitura (1854): "Um Império de Papel", por Leonor Pires Martins; posfácio de Manuela Ribeiro Sanches; Edições 70, 2.ª edição, 2014 (2) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 24 de Dezembro de 2024:

Queridos amigos,
No posfácio desta importantíssima obra que é um "Império de Papel, Imagens do Colonialismo Português na Imprensa Periódica Ilustrada (1875-1940)", a investigadora Manuela Ribeiro Sanches releva a retórica da missão civilizadora, como a do marquês de Sá da Bandeira, e a sua filantropia anti-esclavagista, desmentidas pelas práticas nas colónias, a noção de cristianização que acompanhou o processo missionário, onde estavam ausentes dois fundamentos essenciais: o da igualdade natural de todos os humanos e o do seu estádio civilizacional inferior para justificar o aproveitamento do progresso, uma forma de puxar para cima as raças e as culturas - era como se o colonialismo exigisse a África entrar na Idade das Luzes, isto no século XIX, porque a seguir, com a industrialização maciça, com a valorização das matérias-primas, a intenção libertadora ou filantrópica ganhou outra dimensão. A resposta política que o Estado Novo encontrou, na efervescência dos movimentos anticoloniais, foi o lusotropicalismo, outra ficção, basta pensar na Guiné onde a população branca era mínima e quase sempre de passagem. Procurou-se dar uma imagem de tolerância, catapultar os quadros africanos para lugares intermédios da Administração Pública, subsidiar as peregrinações a Meca, construir estradas a galope, etc. Claro que estamos a falar de uma ou outra história posteriores à de um Império de Papel. E Manuela Ribeiro Sanches observa que cabe à Europa tentar ver no seu passado menos um repositório de glórias e feitos, mas uma oportunidade para reconhecer os limites e ensaiar um pequeno passo para se reinventar a Europa e as suas relações consigo mesma e com o mundo.

Um abraço do
Mário



Um Império ficcionado em jornais e revistas, livros e álbuns, um Império de e em papel (2)

Mário Beja Santos

Trata-se de uma obra esmerada pelo conteúdo e apresentação, "Um Império de Papel", por Leonor Pires Martins, posfácio de Manuela Ribeiro Sanches, Edições 70, 2.ª edição em 2014. A autora visionou e analisou publicações entre 1875 e 1940 e diz que vem ao mesmo tempo propor uma revisitação crítica da iconografia. “Com esse objetivo, procurei fazer um enquadramento histórico de imagens aqui reproduzidas, assinalando as circunstâncias políticas, culturais, mas também da ordem tecnológica, que marcaram – e possibilitaram – a sua produção e circulação. Considerei os temas mais recorrentes e as motivações dos diversos artistas e fotógrafos. O papel diligente e ideologicamente empenhado da generalidade da imprensa periódica ilustrada na disseminação de ideias e conhecimentos.“

Porquê 1875 e até 1940? Em 1875 é criada a Sociedade de Geografia de Lisboa, a quem caberá o papel catalisador para a construção do Terceiro Império, funcionará como o lobby junto do poder soberano, contribuirá para expedições, congregará intelectuais, diplomatas, agentes dos negócios e da finança, escritores, tem no seu comando uma figura excecional, Luciano Cordeiro- 1940 é a data da maior obra ideológica da construção e mentalização de que o Mundo Português ia do Minho a Timor, o regime de Salazar não poupou esforços para o grandioso espetáculo que ofereceu na Praça do Império.

Jornais e revistas contribuem para que os leitores nutram um sentimento de grandeza pelos cerca de 2 milhões de quilómetros quadrados do Império Colonial Português, é graças a esse Império de Papel que se vai tomando conhecimento da ocupação das regiões africanas, do atrativo em emigrar, refazer a vida numa base de prosperidade, tudo parece abrir campo à riqueza daquelas Áfricas, mais a mais o país continua a ser visceralmente de analfabetos, o que realça o peso da imagem.

Mas, como escreve a autora, tudo era relativamente ilusório. “O país não dispunha de meios para explorar e colonizar os seus domínios ultramarinos. Repare-se que na viragem do século a maior parte dos territórios, sobretudo os maiores, não estavam mapeados, não tinham redes de estradas ou caminhos de ferro, nem um sistema de administração unificado e as comunicações com a metrópole eram esporádicas e dependentes da navegação inglesa. As ferrovias existentes, construídas com capitais ingleses e à custa do trabalho forçado imposto aos indígenas ligava não as regiões das províncias ultramarinas portuguesas, mas Lourenço Marques aos Transval e a Beira à Rodésia. Assim, talvez mais do que a deficiente organização do aparelho administrativo colonial, ou as cíclicas crises financeiras nacionais, foi a dificuldade de atrair colones para a África Portuguesa, para a transformar no novo Brasil.”

As publicações esforçavam-se por mostrar as estações zootécnicas, os touros, os pastores portugueses, a produção de açúcar. Dava-se notícia do transporte gratuito de portugueses para Angola e da entrega de terras a esses novos colonos, preferindo-se aqueles que soubesse ofícios mecânicos ou fossem artistas e lavradores. Mas o Brasil continuava a ser um polo de atração.

A Igreja Católica mobilizava padres, freiras e missionários. E, sem tréguas, surgem imagens de construções, plantações, embarques de cacau, as famílias no planalto de Moçâmedes. Andaram a conviver portugueses e bóeres na Huíla, não se misturaram bem na maneira de viver, os bóeres grandes caçadores, os madeirenses dedicados principalmente a culturas alimentares, os bóeres abandonam o planalto da Huíla, houve depois um ambicioso projeto de colonização com transmontanos, estes só chegaram depois da Segunda Guerra Mundial. Também a autora observa que o imediato envolvimento de Portugal na Primeira Guerra Mundial acarretou a deslocação de tropas expedicionárias para o sul de Angola ou norte de Moçambique, estes atos foram decisivos para que o país mantivesse as suas colónias, contudo não ficou afastado o fantasma da expropriação do Império. Para afastar esse perigo criou-se em 1920 o regime dos Altos-Comissários para Angola e Moçambique, conferindo-lhe vastos poderes e maior autonomia de decisão, Norton de Matos foi Alto-Comissário em Angola, tinha um plano bastante ambicioso que previa, entre outros aspetos, a rápida modernização do território, feita através da reorganização das estruturas administrativas, o fomento da economia, a construção de habitações – mas um regime encapotado de escravatura ainda permanecia na colónia.

Há também uma outra observação pertinente que a autora regista:
“A iconografia alusiva à África colonial mascarava as fragilidades do Império: um Império onde as viagens de exploração não trariam grandes vantagens a Portugal no jogo da diplomacia e política coloniais europeias, mas a que as imagens publicadas na imprensa periódica deram uma expressão notável; um Império cujo efetivo controlo foi tardio, apesar das revistas ilustradas confirmarem a presença de regimentos de tropas portuguesas em várias regiões africanas desde os meados da década de 1890; um Império que, década após década, assistiu à falência dos sucessivos projetos do povoamento ‘branco’, mas que os retratos de grupos de colonos pareciam contraditar; um Império que, em termos globais, não gozava de uma economia próspera, mas do qual chegavam notícias e imagens de grandes fazendas agrícolas, empregando mão de obra nativa que era educada na aprendizagem da música europeia…”
Tudo conjugado, estas imagens tinha o poder de ludibriar, o mesmo não acontecia nos altos círculos da política, aí sabia-se perfeitamente que havia ameaças de expropriação estrangeira, e que os governos eram incompetentes para defender, administrar e desenvolver eficientemente as possessões ultramarinas.

Império de ficção, basta pensar na missão civilizadora advogada por Sá da Bandeira, a abolição da escravatura, que se prolongou à sorrelfa do que a lei prescrevia, mascarada de trabalho forçado. O Estado Novo procurou usar todo este material imagético a partir da Agência Geral das Colónias, teve a preocupação de apoiar ou incentivar a publicações periódicas para preparar os quadros da administração colonial (basta pensar no Boletim Geral das Colónias, a revista "O Mundo Português", a coleção "Pelo Império", os "Cadernos Coloniais", as mostras de produtos, os cortejos, as exposições coloniais, eram imagens em que aparecia o ministro das Colónias, Armino Monteiro, no Parque Eduardo VII, onde se realizava a Grande Exposição Industrial Portuguesa, em 1932, ali apareceram grupos de guineenses, depois a exposição colonial de 1934, apresentada publicamente como uma grande lição de colonialismo, faziam-se excursões no centro e no norte do país para ir ver esta gente exótica e as meninas de peito ao léu.

E assim se chegou ao acontecimento mais espetacular do Estado Novo, a exposição do Mundo Português, momento de grande dinamismo do regime, a par das comemorações, iniciava-se a recuperação de vários castelos medievais, o restauro dos chamados “Primitivos Portugueses” (pinturas dos séculos XV e XVI), a construção do Estádio Nacional, da Fonte Luminosa na Alameda D. Afonso Henriques, dos bairros do Restelo e Alvalade, do aeroporto, das gares marítimas e fluvial, de entre outras obras e infraestruturas públicas que mudariam de forma significativa a toponímia e a vida na cidade.

Não voltou a haver elã para repetir tal desafio de desenvolvimento à sombra do Império, nem mesmo nas comemorações do 40.º aniversário da Revolução Nacional. E a autora assim termina:
“Poder-se-á dizer que o Império de Papel aqui referido foi-o sobretudo de papel de jornal e revista. Não chegou a ser sequer um Império, de capa dura ou emoldurado – e muito menos de película.”

Exposição do Mundo Português, indígena Bijagó
Plano geral da Exposição do Mundo Português, 1940
Exposição do Mundo Português, outra vista panorâmica
_____________

Notas do editor:

Vd. post anterior de 13 de outubro de 2025 > Guiné 61/74 - P27314: Notas de leitura (1850): " Um Império de Papel", por Leonor Pires Martins; posfácio de Manuela Ribeiro Sanches; Edições 70, 2.ª edição, 2014 (1) (Mário Beja Santos)

Último post da série de 20 de outubro de 2025 > Guiné 61/74 - P27333: Notas de leitura (1853): "Os Có Boys (Nos Trilhos da Memória)", de Luís da Cruz Ferreira, ex-1º cabo aux enf, 2ª C/BART 6521/72 (Có,1972/74) - Parte IV: de Figo Maduro a Bissalanca "by air", e depois de LDG até Bolama para a estopada da IAO (Luís Graça)