terça-feira, 7 de julho de 2009

Guiné 63/74 - P4651: Estórias cabralianas (51): Alfero esfregador entre as balantas (Jorge Cabral)



Guiné > Região do Oio > Mansoa > Bajuda Balanta > Série de postais ilustrados do tempo da Guiné Portuguesa, s/d nem editor... Colecção do nosso amigo e camarada José Casimiro Carvalho (ex-Fur Mil Op Esp, CCAV 8350, Guileje e Gadamael, 1973/74).

Foto: © José Casimiro Carvalho (2006). Direitos reservados.


1. Mensagem do Jorge Cabral (*), ex-cmdt do Pel Caç Nat 63, Fá Mandinga e Missirá, Sector L1 - Bambadinca, Zona Leste, 1969/71, hoje jurista e professor do ensino superior universitário (*):


Caros Amigos!

Passada a euforia do nosso glorioso Encontro, eis-me perante mais uma grande Alegria – a colaboração do Cherno Baldé (**). E assim eu que havia resolvido finalizar as cabralianas, vejo-me obrigado a continuar pois ele consegue trazer-me à lembrança mais estórias.

Aí vai uma.

Abraços
Jorge Cabral



2. Estórias cabralianas (***) > Alfero esfregador entre Balantas


Tanto nas Tabancas Fulas como nas Mandingas, o Alfero actuava à vontade com as Bajudas, perante a complacência dos Homens e Mulheres Grandes… Aliás não ia além de um acariciar voluptuoso, acompanhado com promessas de encontros no Quartel. Na altura teria merecido o cognome de Apalpador.

Em Novembro de 1969, visitou uma Tabanca Balanta, Bissaque [, a norte de Fá, ](****), e ficou deslumbrado com a beleza das Bajudas, designadamente peitoral… Face à pouca simpatia com que foi recebido, não ousou sequer qualquer gesto que fizesse jus ao referido cognome.

Mas aquela visão idílica espevitou-lhe a imaginação e logo uma semana depois voltou.

Através do intérprete Albino, seu único Soldado Balanta, explicou que ia proceder a um tratamento com uma boa mezinha, afastadora de doenças… Para tanto, colocadas em fila todas as bajudas, o Alfero esfregou-lhes o peito com um bálsamo, ao mesmo tempo que proferia umas palavras, mágicas é claro… Na semana seguinte regressou e repetiu. As melhoras das Bajudas eram já evidentes…

À terceira vez aconteceu porém um facto extraordinário. Chegado à Tabanca, constatou que nem uma só Bajuda se vislumbrava.

Esperando o Alfero, já em fila e preparadas para a função encontravam-se todas as velhas da aldeia, de seios pendentes, quase pelos joelhos…

Estoicamente o Alfero esfregou, esfregou…

Não houve quarta vez…

Jorge Cabral

___________

Notas de L.G.:


(*) Vd. poste de 10 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4403 - P4494: A Tabanca Grande no 10 de Unho de 2009 (2): Cabral só há um, o de Missirá e mais nenhum (Luís Graça)

(**) Vd. poste de 25 de Junho de 2009 >Guiné 63/74 - P4580: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (3): A chegada dos primeiros homens brancos a Cambajú em 1965: terror e fascínio


(***) 3 de Junho de 2009 >Guiné 63/74 – P4455: Estórias cabralianas (50): Alfero, de Lisboa p'ra mim um Fato de Abade (Jorge Cabral)


(****) 16 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2354: Estórias cabralianas (29): A Festa do Corpinho ou... feliz o tuga entre as bajudas, mandingas e balantas (Jorge Cabral)

(...) Bissaque era uma aprazível aldeia balanta. Logo nessa noite, à volta de uma fogueira, reparei na beleza das raparigas, tendo passado a frequentar semanalmente a Tabanca, numa acção sócio-erótica, a qual consistia numa esfregação mamária às belíssimas bajudas. Habituado às bajudas mandingas, verifiquei experimentalmente a superioridade dos seios balantas, tendo, e disso me penitencio, contribuído para um conflito étnico-mamário.

Afim de me redimir, em Janeiro de 1970, de férias em Lisboa, comprei 35 corpinhos (soutiens) no armazém Fama, sito à Calçada do Garcia, junto ao Rossio, onde agora se reúnem os guineenses. (...)

5 comentários:

Luís Graça disse...

Meu caro Jorge:

Nunca cheguei a perceber se essa função de esfregação mamária (sic), e outras funções não menos nobres, que eram atribuídas a um comandante de pelotão de caçadores nativos, tinha o devido suporte político-legal e, nomeadaemnte, se se enquadravam na política do Caco Baldé, Por Uma Guiné Melhor...

Hoje, os teus críticos iriam logo perguntar se eram práticas politicamente correctas...e ecologicamente sustentáveis, para além da análise de custo/benefício, etc.

Confesso que não sei quais eram as orientações, nesta matéria, da APsico, a Rep do apoio psicosocial às populações... LG

MANUEL MAIA disse...

CARO JORGE,

SÓ TU COM O TEU HUMOR CORROSIVO PARA DESANUVIAR O AMBIENTE COM TENDÊNCIA PARA A BORRASCA...

O ESFORÇO DA TERCEIRA VEZ COM AS MULHERES GRANDES,MERECERIA O PRÉMIO GOVERNADOR,OU PELO MENOS O DE APALPADOR MOR DO REINO...

UM GRANDE ABRAÇO.

MANUEL MAIA

Luís Graça disse...

Manuel Maia:

O talento deste homem, e nosso camarada, Cabral (o verdadeiro, o único), bem poderia ter sido melhor aproveitado, durante a sua comissão militar na Guiné (1969/71)... Sinto que foi mal tratado, ignorado, esquecido, escamoteado, cafrelizado, ostracizado, subaproveitado...

Para um já, deram-lhe o comando de um miserável destacamento, a nordeste de Bambadinca, em Fá (Mandinga) onde em tempos, antes da guerra, funcionara uma estação agronómica onde, segundo creio,s fazia o melhoramento de espécies de arroz...

Ainda por cima, por pirraça, por má fé, pro maldade por ignorância, puseram a correr o boato de que o outro Cabral, o rival, passara por ali, e chefiara o dito serviço (colonial), numa altura em que a Guiné (dita portuguesa) produzia, tinha excedentes e exportava arroz...

Nada mais errado: em Fá, pelo menos, só houve um Cabral, o Jorge e mais nenhum...

Eu sou suspeito por que sou seu fã, amigo e futuro prefacidor do seu livro de estórias cabralianas...

Manuel Maia, meu vate de Cafal Balanta: Concordo contigo, este homem devia ter chegado, pelo menos, a apalpador-mor do reino da Guiné...

Eu acho-o (e já escrevi isso algures) que o homem é simplesmente genial: este camarada, se não existisse, tinha que ser inventado... O seu espírito, aberto, sadio, maroto, provocador, lúcido, irreverente, desconcertante, descomplexado, só pode acrescentar anos à vida de todos nós, e pelo menos mais alguns meses a este blogue... É sempre um lufada de ar fresco quando chega mais uma, a conta-gotas, estória cabraliana... Ele prometeu-me 50, já vai na 51...

Este homem é o Cabral, o Jorge, o nosso Jorge Cabral, ex-Alferes Miliciano de Artilharia, comandante do Pel Caç Nat 63, que esteve destacado, há muitas luas, nos idos tempos de 1969/71, em Fá Mandinga e depois em Missirá... Na Província portuguesíssima da Guiné, longe do Vietname... Hoje, República da Guiné-Bissau, país independente, de língua oficial portuguesa... Do you remember ?

Dele já aqui se disse (e penso que é o maior elogio que alguém pode fazer dele), é que, para além de oficial & cavalheiro, era homem grande, pai, patrão, chefe de tabanca, conselheiro, amigo (ou não-inimigo) do PAIGC, poeta, antropólogo, feiticeiro, cherno, mauro, médico, boticário, sexólogo, consertador de catotas, advogado e não sei que mais, um verdadeiro Lawrence da Guiné, que os seus pares de Bambadinca chegaram a recear (uns, os amigos) ou a desejar (outros, os seus inimigos) que tivesse entrado num processo total e irreversível de cafrealização...

Inimigos é uma força de expressão: em boa verdade, nunca lhe conheci até hoje nenhum inimigo verdadeiro... Ele é a bondade em pessoa!

Luís Graça

Fernando Gouveia disse...

Atenção Luis Graça: Não sei muito bem com que intenção dizes que em Fá só houve um Cabral e mais nenhum. Venho referir que me foi dito pelo Sr. Teófilo lá de Bafatá, que ele próprio trabalhou com o Amílcar Cabral em Fá, na referida exploração agrícola experimental. O que acabo de referir iria, e irá, fazer parte de uma futura estória.

Luís Graça disse...

Aqui fica um comentário da nossa amiga Filomena, que nos chega pelo correio interno da Tabanca Grande:

Sr. Dr. Luís Graça,

Efectivamente, o Dr. Jorge Cabral escreve histórias fantásticas. "Estórias cabralianas (51)", ainda não as li todas, mas acredite, já li muitas e como quando entrei no blogue já as "estórias cabralianas" tinham dois anos, ainda não as li todas, mas com calma, vou tentar tirar algumas horas nas minhas férias e ler as mais antigas.
Muitas vezes acontece que ao ler uma estória do Dr. Jorge Cabral, relembre outra contada pelo meu Marido, mais ou menos o mesmo género de estórias que contava sobre os dias que passou na Guiné.
Cumprimentos
Filomena