1. Mensagem de António Tavares (*), ex-Fur Mil da CCS/BCAÇ 2912, Galomaro, 1970/72, com data de 4 de Julho de 2009:
Caro Vinhal,
A minha 1.ª noite na Guiné foi passada no cais do Pidjiguiti em 01-05-1970... a guardar 21 caixas de whisky... era o sargento de reabastecimentos do BCAÇ 2912.
Chegados a Galomaro distribuiu-se o whisky só pelos oficiais e sargentos, segundo ordens expressas do comando.
Havia duas qualidades de whisky - velhos e novos - vendidos a 95$00 e 50$00 cada garrafa, respectivamente.
Só vendíamos nos bares - oficiais e sargentos – as garrafas de 50$00 por 65$00, porquanto medido o líquido dava 13 cálices ao preço unitário de 5$00.
A título de comparação refiro que uma bazuca - cerveja de 0,6 l - custava 6$50.
O principal consumidor era um major, que se deixou vencer pelo álcool... foi evacuado para a Metrópole... enquanto durava a bebida não existia oficial... quando lhe faltava até de noite vinha à minha procura... lá íamos os dois, no seu jeep, ao armazém levantar o whisky.
Certo dia, ao abrirmos uma caixa selada faltava uma garrafa... obrigou-me a fazer um auto da ocorrência e enviá-lo para a Intendência em Bissau... obviamente que nem resposta obtivemos, embora ele fosse testemunha no auto!
Outra vez precisou da bebida mas não havia em armazém... lá arranjam a bebida... foi feita uma sindicância ao whisky... o circuito – armazém, bares e venda – estava correcto.
Começaram a fazer um rigoroso controlo ao whisky quando começaram a vir menos caixas da Intendência.
Às escondidas vendia às praças cada garrafa a 65$00.
O whisky era vendido no Café/Restaurante do Francisco Augusto Regalla e em Bafatá quase pelo dobro do preço.
Recordo que após uma dificultosa e poeirenta picada, com um banho, uma coca-cola e um whisky sentíamo-nos jovens e sadios... era a cocaína com os seus efeitos... os guinéus mascavam a coca... nós bebíamo-la.
Esta foi uma história passada no mato – Galomaro 1970/72 – onde o whisky era uma estrela e brilhante... quem nunca esteve naquelas tórridas e frias terras e na guerra colonial não sabe o valor de tão precioso líquido... houve outros camaradas na Guiné que nunca o saborearam pelos mais diversos motivos!
A venda da coca-cola em Portugal Continental era proibida.
1 de Maio de 1970 > Chegada a Bissau
Bar de Sargentos
Um abraço do,
António Tavares
Foz do Douro
04 de Julho de 2009
__________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de24 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4573: Tabanca Grande (154): António Tavares, ex-Fur Mil da CCS/BCAÇ 2912, Galomaro, 1970/72
Vd. último poste da série de6 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4647: Estórias avulsas (41): Fotos de Gamdembel e Ponte Balana (Manuel Oliveira)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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2 comentários:
Caro Tavares
Na CCS 3872 também o whisky foi durante muitos meses vedado aos praças.
Era só para os oficiais e sargentos, até que um dia o nosso médico Pereira Coelho numa visita ao bar dos praças, constatou que tal precioso liquido nunca tinha sido tido nem achado, por aquelas paragens.
"É inadimissivel" disse. "Vou já tratar de remediar essa situação"
A partir desse dia a cantina do praças, exibia obrigatoriamente uma garrafa do dito, para nosso consumo.
Também passamos a ter direito a poder comprar não vou jurar, mas penso que era uma garrafa por mês.
Até essa data só a boa vontade de um ou outro furriel, nos permitia a obtenção de alguma garrafa.
O dr Pereira Coelho entendia que com aquele clima o whisky era importante.
Mais uma pequena estória sobre um grande médico e grande homem.
Um abraço
Juvenal Amado
António Tavares
Dizia mais ou menos isto, o Alf Med Cruz:dois ou tres uisquizitos por dia (bem medidos digo eu!)´so fazem bem ao sistema circulatório e ao paludismo.
Cá para mim tambem faziam bem,contra a mosquitada!
E aí entrava muitas vezes a bendita "coca-cola" verdadeira,de lata.
E essa latas para alem de invólocro da bebida tambem serviram como armadilha,sabias? Concerteza que sim!
Um abraço
Luis Faria
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