Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
quinta-feira, 8 de março de 2007
Guiné 63/74 - P1575: A TSF no Cantanhez, com uma equipa de cientistas portugueses, em busca do Dari, o chimpanzé (Luís Graça / José Martins)
Guiné-Bissau > Bissau > Abril de 2006 > Viagem Porto-Bissau > Nas três primeiras fotos, um dari, em cativeiro (na primeira foto, vê-se a Inês, a filha do Xico Allen); as duas últimas fotos são de um babuíno, macaco-cão (sancu, macaco, em crioulo).
De um modo geral, as populações da Guiné-Bissau, não islamizadas, perseguem, caçam e comem o sancu. Sobretudo depois de 1980, a caça (ilegal) ao macaco-cão aumentou. Quanto ao dari, o chimpanzé da mata do Cantanhez, há uma maior respeito pelas suas semelhanças com o ser humano. No entanto, o seu habitat está condicionado pelas actividades humanas (expansaão das áreas de cultivo). Há cerca de 7 milhões de anos, havia um antepassado ancestral. Há cinco anos que uma equipa de investigadores portugueses monitoriza a população de daris no sul da Guiné.
Fotos: © Hugo Costa / Albano Costa (2006). Direitos reservados
1. Reportagem TSF > Dari, Primata como Nós > 2 de Março de 2007 .
No sul da Guiné-Bissau, o chimpanzé tem nome de gente. Na pista de Dari, uma equipa de cientistas portugueses estuda, há cinco anos, os chimpanzés das matas de Cantanhez com o objectivo de ajudar a salvar uma espécie ameaçada, sobretudo pela redução do seu habitat e pela dificil coexistência com as populações humanas do sul da Guiné-Bissau (e do norte da Guiné-Conacri).
A par do chimpanzé (em tempos, um homem, ferreiro, que Deus transformou, por castigo, em alimária, segundo as lendas locais), há outros primatas e outros mamíferos como o búfalo e até o elefante na mata do Cantanhez.
O dari (chimpanzé) é mais difícil de encontrar que o macaco-cão ou babuíno, o quel por sua vez, e infelizmente, começou a ser mais procurado, como peça de caça e como iguaria, a partir dos anos 80, devido à maior raridade de outros animais, como os cervídeos (2). No tempo da guerra colonial, não era frequente o consumo de carne de macaco, pelo menos na zona leste habitada sobretudo por populações islamizadas (fulas e mandingas), muito embora o macaco-cão fosse muitas vezes baleado quando invadia os campos de mancarra (amendoím). Contudo, de entre os nossos camaradas houve quem tivesse comido macaco por cabrito (3)...
Um conhecido jornalista da TSF, Carlos Vaz Marques, passou 15 dias com o grupo de investigadores, coordenado pelas primatólogas portuguesas Catarina Casanova (37 anos, Universidade Técnica de Lisboa) e Cláudia Sousa (31 anos, Universidade Nova de Lisboa), e que inclui alunos de mestrado e doutoramento. A partir de Jemberem (vd. carta de Cacine), a companhou o quotidiano das caminhadas pelo mato, da recolha de vestígios, das conversas com os habitantes das tabancas e testemunhou o encontro com um grupo de chimpanzés, guardando o registo sonoro desse momento raro e seguramente emocionante.
Dari, Primata como Nós é uma grande (e belíssima) reportagem de Carlos Vaz Marques com montagem e sonorização de Alexandrina Guerreiro.
A reportagem inclui também excertos de conversas com os guias e com os cientistas, incluindo parte de um entrevista, a uma rádio local, dada pela Catarina, a qual fez questão de sublinhar a importância que a protecção do dari (e de outras espécies animais) tem para o desenvolvimento do ecoturismo e para a subsistência das populações do Cantanhez. Este é também um objectivo prosseguido pelo projecto Guiledje, da AD - Acção para o Desenvolvimento, liderada pelo nosso amigo e tertuliano Pepito.
Aqui fica o link para o registo áudio (cerca de 43 minutos), no sítio da TSF, que aconselho vivamente a ouvirem.
2. Entretanto, o nosso camarada José Martins, acaba de me mandar uma mensagem relacionada com a notícia, dada acima.
Caro Luís
Votos de boa saúde e boa disposição.
Silêncio quebrado para informar que, amanhã, sexta-feira, dia 9 de Março, vai para o ar, nas ondas da TSF, depois das notícias das 19 horas, uma reportagem sobre a Guiné. Título: Guerra do Patacão...
Disseram o tema especifico, passando alguns excertos, mas não consegui reter, nem confirmar com a rádio.
Se achares por bem, divulga.
Um abraço
José Martins
Comentário de L.G.:
Zé, confirmei na TSF. Deve ser a continuação da reportagem do Carlos Vaz Marques, que acaba de regressar da Guiné-Bissau, segundo me informaram da estação. Convidamos os nossos amigos e camaradas da Guiné a sintonizar a TSF, amanhã, às 19h. A emissão da TSF pode ser ouvida On Line, enquanto os nossos tertulianos vêem as últimas do nosso blogue.
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Notas de L.G.:
(1) Vd. outra notícia da TSF relacionada com Catarina Casanova: TSF on line > 1 de Setembro de 2005 > Chimpazés e homens têm mapa genético semelhante
(2) Provérbios em crioulo da Guiné, relacionados com o sancu (macaco) (alguns, com variantes):
I sancu di dus matu (= é macaco de dois matos)
Kal dia ku sancu fala jugude manteña si ka pa rispitu di kacur; (i) Kal dia ku sancu fala Sakala manteña si i ka na disgustu di kacur (= quando é que o macaco cumprimenta o abutre a não ser no velório do cachorro)
Kon kuma lebsimenti na rosta ki sta; (i) Kon kuma lepsimentu i na uju; (ii) Kon kuma lebsimentu na uju ki sta nel (= o macaco-cão diz que a ofensa está no rosto)
Rabu di sancu i kunpridu, ma si bu rikitil i ta sinti dur; (i) Rabu di sancu i kunpridu, ma si bu na rikitil i ta sinti (= o rabo do macaco é comprido, mas se você o beliscar ele sentirá)
Sancu beju, gelgelidora ka ta manda i kuspi manpatas ki ieki (= o macaco velho, o coceguento não manda cuspir no mampatás que enche a boca)
Sancu ka ta fala kuma si fiju fiu; (i) Tudu fiu ki fiu, nunka bu ka ta fala kuma bu fiju fiu; (ii) Tudu fiu ku bu fiu, bu ka ta fala kuma bu fiju fiu (= o macaco nunca diz que seu filho é feio)
Sancu ka ta jukta i fika si rabu; (i) Sancu ka ta jukuta pa i fika si rabu (= o macaco não pula sem levar o rabo consigo)
Sancu kunsi po ki ta fural uju; (i) Kon kuma i ka kunsi po ku ta matal, ma i kunsi kil ku ta fural uju (= o macaco conhece o pau que lhe furou o olho)
Sancu nega papia pa ka paga dasa (= o macaco não fala para não pagar imposto)
Si bu oja sancu ba fonti, sibi kuma i ka leba kalma (= se você vir o macaco indo à fonte, saiba que não leva cabaça)
Uju di sancu dalgadu, ma ningen ka ta pui la dedu (= o olho do macaco é pequeno, mas ninguém põe o dedo nele)
Fonte: Instituto de Letras da Universidade de Brasília > Provérbios crioulo-guineenses
(3) Vd. post de 11 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1266: Estórias de Bissau (1): Cabrito pé de rocha, manga di sabe (Vitor Junqueira)
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1 comentário:
Não há dúvida que estes bichos são quase humanos... excelente prontidão em presença do sexo fêmea! :)
Cumprimentos.
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