quinta-feira, 16 de maio de 2024

Guiné 61/74 - P25532: S(C)em Comentários (37): no séc XVI, a língua portuguesa tornou-se a língua-franca de quase todo o Oceano Índico...Para o bem e para o mal, os portugueses fazem parte da própria história de muitos daqueles povos (Fernando de Sousa Ribeiro)



Fernando de Sousa Ribeiro, ex-alf mil at inf,
CCAÇ 3535 / BCAÇ 3880 ( Zemba e 
Ponte do Zádi, Angola, 1972/74);
membro da Tabanca Grande 
desde 11 de novembro de 2018, 
com o nº 780


1. Comentário de Fernando de Sousa Ribeiro  ao poste P25426 (*):


Com a chegada dos portugueses, não foi só o tétum que passou a ter novas palavras. Praticamente todas as línguas do sul e sudeste asiático tiveram essas novas palavras: tailandês, cingalês, vietnamita, malaio, indonésio, japonês, etc. etc. 

Isto é assim porque, no séc XVI, a língua portuguesa tornou-se a língua-franca de quase todo o Oceano Índico. Era a língua que permitia que pessoas falando diferentes idiomas se entendessem entre si nas trocas comerciais ao longo da África Oriental, Arábia, Índia, Birmânia, Malásia, Japão e por aí adiante. 

Desde então, praticamente todos os habitantes do sul e sudeste da Ásia passaram a incorporar palavras portuguesas nas suas línguas, que adaptaram à sua própria pronúncia. Cinco séculos depois, ainda as utilizam: "escola", "sapato", "bandeira", "copo", "mesa", etc. etc.

O tétum oficial de Timor Leste é, de facto, considerado um idioma crioulo. Foi em cima do tétum original, que já ninguém fala, que se desenvolveu o tétum simplificado de hoje. Este é por vezes chamado tétum-praça ou tétum-Díli, certamente porque era uma variante do tétum nascida na praça do mercado de Díli. Veja-se, por exemplo o que diz a este respeito a Wikipedia.

Em português
 
Em mirandês

Nestas coisas linguísticas, uma das referências mais credíveis costuma ser o Ethnologue.

Timor Leste:
 
Guiné-Bissau:
 
Qualquer criança em idade escolar de um qualquer país da Ásia sabe localizar Portugal no mapa. Pode não saber localizar a Suécia ou a Bulgária, mas Portugal sabe. 

Para o bem e para o mal, os portugueses fazem parte da sua própria história. 

O Japão, por exemplo, nunca mais foi o mesmo depois da chegada dos portugueses com as suas armas de fogo; esta chegada marcou o fim do feudalismo no Japão. 

No Sri Lanka, milhões(!) de pessoas possuem apelidos portugueses, como Silva ou Pereira.

 A língua vietnamita é escrita em carateres latinos, por influência dos jesuítas portugueses. 

Nós podemos não saber nada sobre todos estes povos e nações, mas eles sabem sobre nós. Os portugueses não são para eles uns ilustres desconhecidos, seja no Camboja, seja em Taiwan (a que os portugueses chamaram Formosa), seja na Indonésia, seja onde for. (**)


Japão > Museu da cidade de Kobe > Biombo namban (séc. XVI/XVII) > Representação de um caraca portuguesa. A famosa "nau do trato" (os japoneses chamava-lhe  Kurofune, navio negro). 

Imagem do domínio público. (A carraca um tipo de navio utilizado no transporte de mercadorias, concebido pelos portugueses especificamente para as viagens oceânicas. Tinha   velas redondas e borda alta, e possuíam três mastros. Os da carreira da Índia tinham capacidade até  2 mil  toneladas.

Fonte: Wikimedia Commons (com a devida vénia...) 

____________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 15 de maio de 2024 > Guiné 61/74 - P25426: Timor-Leste, passado e presente (2): Exorcizando fantasmas da história: reparações... ou reconciliações ?... Apostemos, isso, sim, no ensino e promoção do tétum e do português

(**) Último poste da série >  9 de maio de 2024 > Guiné 61/74 - P25499: S(C)em Comentários (36): Os 50 anos do 25 de Abril foram bem celebrados neste canto do mundo, Timor-Leste , onde quase ninguém fala o português, mas que tem um grande carinho e afeição com os portugueses, com Portugal (Rui Chamuco)

5 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Há dezenas de palavras japonesas são de origem portugues, ou que derivaram diretamente do português ou inspiraram palavras japonesas ou têm fonéticas parecidas...

Quando lá chegámos (e fomos mesmo os primeiros europeus a chegar ao império do sol nascente, mesmo não tendo sido a "melhor embaixada portuguesa", os nipónicos, aceitaram-nos com os nossos defeitos e virtudes... Como é normal, nos primeiros contactos entre povos, grupos, indivíduos...Duas ou três ou coisas chocaram, porém, os "etnocêntricos" japoneses ainda a viver em pleno feudalismo, e que se consideravam o umbigo do mundo: tínhamos narizes compridos, comíamos com as mãos (!) e, talvez pior ainda, expressávamos em público as nossas emoções (!!!). Por isso nos chamaram "bárbaros do sul", "namban-jin"...

Japonês | Português

Arukoru | Álcool

Bateren | Padre

Bidama | Berlinde

Birodo | Veludo

Biidoro | Vidro

Botan | Bbotão

Bouro | Bolo

Buranko | Balanço

Furasuko | Trasco

Iesu, Igirisu | Inglês

Iruman | Irmão

Jouro | Jarro

Kapitan | Capitão

Kappa | Capa

Karameru | Caramelo

Karuta | Carta

Kirisuto | Cristo

Koppu | Copo

Kurusu | Cruz

Marumero | marmelo

Oranda| Holanda

Pan | pão

Pandoro | pão-de-ló

Rozario | Rosário

Sabato | Sábado

Shabon | Sabão

Shoro | Choro

Shurasuko | Churrasco

Tabako | Tabaco

https://iilp.wordpress.com/2022/01/31/portugues-30-palavras-japonesas-de-origem-portuguesa/

Fernando Ribeiro disse...

Em 2011, completaram-se 500 anos sobre a chegada dos primeiros portugueses à Tailândia, que se chamava então Sião. Este país assinalou o facto, realizando nesse ano uma exposição e produzindo um filme. Parece que o filme não está na internet, mas está o seu trailer, que é falado em tailandês, mas está legendado em inglês.

https://www.youtube.com/watch?v=2Rl0XDQBCyc

Valdemar Silva disse...

Também existe o patuá de Macau, que é um crioulo de base do português.

Valdemar Queiroz

Fernando Ribeiro disse...

Caro Valdemar,

Os macaenses podem ser 1 ou 2% da população total de Macau, ou talvez nem tanto, mas são uma minoria muito aguerrida. Ora veja e oiça:

https://www.youtube.com/watch?v=3ut1q76K6cE

Por outro lado, quando, no séc. XVII, os holandeses conquistaram Malaca aos portugueses, fizeram muitos prisioneiros, como se calcula. Muitos destes prisioneiros foram levados para a capital das Índias Orientais Holandesas, Djakarta, que então se chamava Batávia. Estes cativos deixaram descendentes, que ainda hoje vivem em Djakarta. Sáo os Tugus, que vivem num bairro chamado Kampung Tugu. Eles têm nacionalidade indonésia, são cristãos (mas protestantes, porque os holandeses obrigaram-nos a renunciar à Igreja Católica), e falavam, mas já não falam, um crioulo em tudo semelhante ao Papiá Cristão de Malaca. Digo que falavam mas já não falam, porque agora falam indonésio (bahasa indonesia, isto é, língua indonésia; bahasa significa língua). O idioma Tugu já só subsiste na sua tradição oral e nas suas canções, como a que se segue:

https://www.youtube.com/watch?v=mASv5vEdLDQ

Os Tugus olham para Portugal como sendo a sua pátria longínqua, sem contudo renegarem à sua nacionalidade indonésia, e sentem-se próximos dos povos lusófonos em geral.

https://www.youtube.com/watch?v=f9D1gQVzvd0

Valdemar Silva disse...

Obrigado, caro Fernando Ribeiro.

Essa do idioma Tugu vem à ideia os "tugas", como assim são conhecidos os portugueses em vários
paragens,

Valdemar Queiroz