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terça-feira, 29 de julho de 2025

Guiné 61/74 - P27064: As nossas geografias emocionais (536): a Nhacra que eu conheciu no final da guerra (Eduardo Campos, ex-1º cabo trms, CCAÇ 4540, Cumeré, Bigene, Cadique, Cufar e Nhacra, 1972/74)



Guiné > Bissau > Nhacra > Janeiro de 1972 > Foto 249 > Fonte do Vale,  desvio para a estrada para Cumeré

Foto nº 249 do álbum do  João de Jesus Moreira, ex-fur mil at cav , MA, CCAV 2721 (Olossato e Nhacra, 1970/72)




Guiné > Bissau > Nhacra > Agosto de 1971 >  O João Moreira em cima do espaldão do morteiro 81

Foto nº 212  do álbum do  João de Jesus Moreira, ex-fur mil at cav, MA, CCAV 2721 (Olossato e Nhacra, 1970/72)


Guiné > Bissau > Nhacra > Janeiro de 1972 >Posto retransmissor da Emissora Oficial da Guiné, com anti-aéreas

Foto nº 227  do álbum do  João de Jesus Moreira, ex-fur mil at cav, MA, CCAV 2721 (Olossato e Nhacra, 1970/72)

Fotos (e legendas): © João Moreira  (2025). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.]
 


Guiné > Bissau > Nhacra> c. 1973/74 > Aspeto da entrada e porta-de-armas do quartel


Foto (e legenda): © Eduardo Campos   (2010). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Cacine > Cadique > Junho de 2007 > Pedras que falam da CCAÇ 4540, "Somos um Caso Sério":  esteve aqui, em Cadique, em pleno coração do Cantanhez, na margem esquerda do Rio Cumbijã, de 12 de dezembro de 1972 a 17 de agosto de 1973.

 Foto: Pepito / AD - Acção para o Desenvolvimento (2007)./ Arquivo do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné 



1. Condensação de 2 textos do  Eduardo Campos, ex-1º cabo trms, CCAÇ 4540 (Cumeré, Bigene, Cadique, Cufar e Nhacra, 1972/74), um dos nossos camaradas que melhor conheceu Nhacra  onde permaneceu quase um ano. Tem  cerca de 6 dezenas de referências no blogue. Faz parte da Tabanca Grande desde 21/5/2008.

É autor da série "Histórias do Eduardo Campos". Vamos lembrar algumas das suas memórias de  Nhacra, que ficava as escassas duas dezenas e meia de quilómetros, a norte de Bissau.


A Nhacra que eu conheci no final da guerra

por Eduardo Campos 




1. Em 08/09/73, saímos do Depósito de Adidos, com destino a Nhacra, onde iríamos substituir a CCaç 3477, “Os Gringos de Guileje”


A partir de 19/09/73, a Companhia passou a ter á sua responsabilidade o subsector de Nhacra, sob as ordens do COP 8, instalado no local.

A área do subsector de Nhacra, tinha por limite:

  • a Norte o Rio Mansoa, 
  • a sul o Rio Geba, 
  • a Oeste o Canal do Impernal 
  • e, a leste, confinava com o Dugal.

Era atravessada, nos seus limites, por uma estrada asfaltada (com grande movimento de pessoas e viaturas), que ligava Bissau a Mansoa. Havia também a ligação entre Nhacra e Cumeré, em estrada asfaltada.

As tabancas mais populosas tinham ligações com as estradas principais, através de picadas largas.

Sobre o Canal de Impernal e no itinerário Bissau – Mansoa, encontrava-se a Ponte de Ensalmá, onde se mantinha em permanência um destacamento da Companhia, dada a sua importância estratégica e pelo facto capital de ser a única ponte que permitia a ligação por terra, entre Bissau e o resto do território da Guiné.

O terreno apresentava uma uniformidade e configuração incaraterísticas, em que os relevos praticamente não existiam. Er apenas entrecortado pelas bolanhas que abundavam nessa região, visto formarem-se a cotas inferiores às do terreno.

Hidrograficamente a região era rica, com os importantes rios Mansoa e Geba, bastante caudalosos na praia-mar, que chegavam a atingir cerca de três metros de amplitude e invadiam uma série de canais, do qual se destacava o Canal do Impernal, que estabelecia a ligação entre eles, dando origem à ilha de Bissau… 

Sim, disse ilha, porque Bissau era uma ilha e, curiosamente, muitos dos nossos camaradas desconheciam o facto.

A mata era muita reduzida nessa região, exceptuando-se pequenas manchas existentes no extremo norte do Rio Geba e nas proximidades do Canal do Impernal.

Na zona interior a savana arbustiva, era salpicada aqui e além, por árvores de grande porte (poilões), mangueiros e cajueiros.

Nas zonas marginais dos rios e dos canais, zonas extremamente pantanosos, abundavam as plantas hidrófilas que se ramificavam em múltiplas raízes, formando o que se designava por “tarrafo”.

A fauna, sem ser abundante, poderia considerar-se rica em diversas espécies. Além dos animais considerados domésticos (bovinos, caprinos, suínos e galináceos), destacavam-se as gazelas, os porcos-espinhos, os macacos, as hienas e as cabras do mato.

Nas aves destacavam-se os pelicanos, as garças os periquitos, além das perdizes, rolas, codornizes, galinha-do-mato, patos, sem esquecer  os jagudis. (...)



2. Em Nhacra, fomos encontrar os camaradas do Pelotão de Morteiros 4581/72 e os do 3º Pelotão AA da Btr AA 7040, além de dois pelotões de Milícias: o 329, aquartelado em Oco Grande,  e o 230 aquartelado em Bupe, ambos pertencendo à Companhia de Milícias de Nhacra e que ficaram adidos à CCAÇ 4540.


O IN não possuía dentro da nossa ZA, pessoal suficiente em quadros e grupos que lhe permitisse desenvolver uma atividade dinâmica e poderosa, quer para flagelar e atacar o aquartelamento e o Centro Emissor de Nhacra, quer para emboscar as NT fora do aquartelamento.

No entanto, fomos informados que Nhacra e o Centro Emissor foram flagelados pelo IN duas vezes: a primeira ao tempo da CCAÇ 3326, em maio de 1972, por um grupo equipado com armas automáticas e RPG-2 e 7; e a segunda em agosto de 1972, utilizando também um canhão s/r. Em ambos os casos sem qualquer consequência material ou pessoal para as NT.

Sabíamos que o IN andava por ali perto e que atravessava, frequentemente, algumas linhas principais de infiltração, para o interior da nossa ZA a saber: de Choquemone, Infaide, Biambe, pela península de Unche para Iuncume, quando se dirigiam para Nhacra.

As principais prioridades da nossa Companhia eram:

  •  a garantia da segurança do Centro Emissor de Nhacra,
  •  o itinerário Bissau–Mansoa;
  •  e, através de intensa actividade (patrulhamentos e reconhecimentos), evitar que o IN se aproximasse de forma a evitar que pudesse atacar a cidade/capital de Bissau, o Aeroporto de Bissalanca, os complexos miltares de Brá e da Sacor, bem como as instalações militares e civis do Cumeré.

Em onze meses de permanência em Nhacra, nunca tivemos contacto com IN, nem as instalações sofreram qualquer ataque.

Os aglomerados populacionais da ZA da nossa Companhia distribuíam-se por dois regulados: 
  • o Regulado de Nhacra com as tabancas de Nhacra, Teda, Sal, Bupe, Sucuto, Incume, Sumo, Nhoma e Cholufe; 
  •  e o Regulado do Cumeré com as tabancas do Cumeré, Com, Cuntanga, Quide, Birla, Caiana, Som Caramacó, Cola, Nague, Ocozinho, Rucuto e Oco Grande (reordenamento zincado).

A estrutura agrícola existente baseava-se numa economia básica de subsistência, cujos produtos, que ocupavam lugares especiais de relevo, eram o amendoim, o arroz, o milho, a mandioca, o feijão, a cana sacarina e pouco mais. 

Na pecuária existiam boas condições para a criação de gado, com a condicionante, porém,  do ancestral costume tribal que considerava o gado como um sinal exterior de respeito e riqueza e não com um factor económico.

Era evidente e manifesto o desagrado em abater, ou mesmo vender, qualquer cabeça de gado, fosse para alimentação ou para outros fins industriais. 

Em toda aquela zona predominava a etnia Balanta, coexistindo com algumas minorias étnicas que se estabeleceram em chão Balanta, vindas de outras regiões, escorraçadas pela insegurança que a guerra originava, principalmente Fulas, Mandingas e alguns Manjacos.

Os Balantas eram dotados de uma impressionante constituição física, trabalhadores, valentes, enérgicos e com grande força de vontade pela vida, ao que acrescentaria que eram bons agricultores, arrancando da terra os meios de subsistência de que necessitavam, alimentando-se à base de arroz, azeite de palma, milho e mandioca. Além disso, eram polígamos e condenavam o celibato. Extremamente supersticiosos, acreditavam na transfiguração da alma, atribuindo à feitiçaria as suas desgraças.

Praticavam o roubo, em especial de gado, com a consciência de um ato não criminoso, mas sim um admirável e enaltecedor sinal que revelava a perícia pessoal, bem com de toda a sua própria tribo. 

O gado bovino que possuíam destinavam-no às cerimónias de sacrifício, nomeadamente nos seus rituais de acompanhamentos fúnebres ("choros").

Os Fulas de um modo geral eram hospitaleiros, considerando mesmo a hospitalidade como um dever sagrado. Apesar da influência que o Islamismo tinha entre eles, praticavam ainda o feiticismo e criavam gado, considerado este facto como um sinal de respeito e nobreza.

A acção psicológica desenvolvida pela NT na zona era bastante intensiva, apesar de se constatar,  em alguns núcleos, certa reserva em relação à mesma, quando não nula, com maior evidência nas tabancas de Sal e Bupe.

As populações tinham:
  • apoio médico/sanitário, 
  • transporte em viaturas militares, 
  • assistência educativa prestada por missões religiosas em várias escolas, um professor militar e vários elementos africanos que estavam adidos à Companhia,
  •  sendo também de salientar a assistência religiosa prestada por padres missionários aos domingos.

(Seleção, revisão / fixação de texto, negritos, título: LG)


______________

Nota do editor LG:


domingo, 13 de julho de 2025

Guiné 61/74 - P27014: (Ex)citações (436): "Filhos de Tuga"... e o caso do meu mano, meu amigo, meu herói, militar de carreira, falecido em 2021 (Virgílio Teixeira, ex-alf mil SAM, CCS/BCAÇ 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69; Vila do Conde)



Guiné > Região de Gabu > CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) > Fonte de Nova Lamego > O Virgílio Teixeira posando com uma bajuda e lavadeira do Gabu. 

Foto (e legenda): © Virgílio Teixeira (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem enviada pelo Virgílio Teixeira (ex-alf mil SAM, CCS/BCAÇ 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69; natural do Porto, vive em Vila do Conde; gestor e empresário reformado; tem 205 referências no nosso blogue para o qual entrou em 19/12/2017):


Data - quinta, 3/07/205, 17:46
Assunto - Os filhos de tuga, restos de tuga, filhos do vento...


Falamos do 1º episódio da reportagem sobre os "Filhos de Tuga" (ontem na RTP1).

Ontem, foi da Guiné, suponho que os dois próximos sejam de Angola e Moçambique.

Para mim, ficou muito aquém da expectativa, salve-se ao menos de não falar da guerra e dos comentários dos ex-turras, hoje, guerrilheiros , como no passado com outros comentários, designadamente do Furtado. Fiquei enojado com isso.

Isto já foi passado noutras noutros reportagens, os filhos do Vento, foi assim que passei a conhecer a Isabel Levy, viúva do Pepito, que na altura nada me diziam.

Alertei toda a gente conhecida para ver o programa, alguns fizeram, outros nem viram a mensagem, ou então pelo titulo apagaram logo, pois não era sobre coisas da nossa juventude, como concertos, festivais, festas de verão, e outras modernices dos 18 aos 58 anos.

Já conhecemos a temática, e pelo que já li e vi de comentários vários, chego à conclusão que estas iniciativas têm em vista, por um lado, conhecerem os seus pais, por outro lado, obterem a cidadania de Portugueses, e as regalias inerentes, que a meu ver, no quadro de então, eram todos portugueses.

Não gosto que uma pessoa seja filha de pai incógnito, quando muitas vezes já sabem quem é o pai verdadeiro, e agora há os testes ADN que não deixam margem para dúvidas.

A verdade é que ainda hoje, em pleno Século XXI, ainda nascem muitas crianças sem pai (registado) , filhos de pai incógnito! Pai há, só que não querem dar o seu nome, por muitas e variadas razões, e outros não têm a certeza disso, nem querem ser submetidos aos testes ADN.

Mas isto é filosofia, e as entidades responsáveis que cuidem destas situações, no mínimo, tristes e degradantes, para os filhos acabados de nascer e pela vida fora.

Por isso não é, de facto, de estranhar, pois num cenário de conflito de guerra, não há leis, a não ser a da própria consciência de cada um.

Nas nossas guerras de África, e nas outras de séculos passados, quantos são os que fazem o papel de filhos do vento?

Como aprendi na instrução primária, no planeta Terra haviam 4 raças - Brancos, Pretos, Amarelos e Mongóis.

Não havia brancos mais brancos que outros, não haviam pretos com cor mais clara, os Amarelos eram de toda a Ásia, e os Mongóis, eram uma raça superior com os seus impérios. Não sei mais nada.

Este amaranhado de povos ao longo de séculos, foram se misturando, dando origem, hoje, a uma multiplicidades de raças e cores inimagináveis.

A maioria dessas pessoas oriundas de guerras entre povos bárbaros e afins, não faltando as árabes e muçulmanos, hindus e chineses, somos uma amálgama de várias origens, eu próprio com pele mais escura, até chego a confundir a minha raça.

Portanto das relações havidas, sejam elas forçadas ou consentidas, entre raças que nem imaginamos, saíram filhos, todos com mãe, mas muitos sem o nome dos pais, nem se sabiam quem eram.

Não me repugna que hajam ainda tantas pessoas na nossa ex-África, e províncias ultramarinas, que não conhecem os pais. Não acredito muito na tese de violência sexual, da qual nasceram tantas crianças. Não é de uma relação apenas que nascem logo filhos, na maioria são de relações prolongadas, e com consentimento de ambas as partes. Não havia proteções e o tempo não dava para isso, a avidez carnal ultrapassa tudo isso. Claro que nós, como gente eventualmente mais adiantada, devíamos ter esse cuidado, mas quem vai pensar nisso...

Sem fazer juízos de valor, acho que há aqui um entendimento, seja por razões culturais, económicas ou outras, tal como acontece aqui, nas nossas cidades e aldeias, com as várias casas de prostituição, só que está tudo mais evoluído.


Sem pudor nenhum, falo de um caso na minha familia, nem sequer o vou esconder, o meu irmãos mais velho um ano e meio, já falecido (**), era pior que esse algarvio (o Camarinha!, não me lembro do nome): o meu irmão enrolou-se com uma rapariga, que eu conhecia, por sinal irmã de uma outra com quem partilhei algum tempo, nada mais, e vai daí sai um filho, isto é uma filha, que dizem ser muito parecida com ele, meu irmão.


Mas não era só o meu irmão que ia lá vasculhar, outros seus amigos faziam o mesmo nas mesmas ocasiões, eu estou de fora.

Então a menina vai fazer queixa ao meu pai, que era de uma inflexibilidade e responsabilidade impecável.

Não sei os pormenores, mas o caso foi passando e o meu irmão sempre disse que pode ser ele ou dos amigos, devidamente identificados, mas ela, porque o meu irmão era já militar de carreira, lhe interessava mais, e a criança nunca teve o nome de nenhum pai. Ingrata situação.

Passaram décadas, o meu irmão morreu, a noticia percorreu rápido, pois era tudo muito perto. O meu irmão teve mais dois filhos, menina e menino, fora de casamento, mas ele normalmente os perfilhou.

Mas havia outro filho, de outra mulher, era o primeiro da série, que ele perfilhou, mas nunca casou com a mulher.

Sou mais tarde acusado por esta primeira e pelo filho, que o meu pai o adorava e queria que ele fosse para a Academia Militar, era a cara do meu irmão, mas que a mãe se opôs, e sou acusado de ser o responsável por este desvio, nem me passou pela cabeça. O rapaz foi sempre muito acarinhado pelos avós, em especial o meu pai, mas também a minha mãe e irmãos. Eu respeitava a outra e nunca interferi e vi que ele batia a bola mais pela nova do que pela primeira.

Quando o meu irmão morreu, também fui acusado, pela minha cunhada e filhos, de nunca ter tido uma vida mais perto deles, quando afinal os últimos vinte anos antes da sua morte, nós falávamos todos os dias, pessoalmente, no Norte Shopping do Porto. Mas não nos visitava lá em casa, ao contrário de os receber e bem na minha. Ele foi sempre, e tal como escrevi no ramo de flores no seu funeral: "Ao meu irmão, meu herói, meu amigo» . Nunca te esquecerei!

Mas não fica por aqui, as relações com o meu irmão eram ótimas e há coisa que só ele e eu sabemos, mais ninguém.

Mas a mulher por inveja, e não vejo mais, passou a não se dar connosco, depois de ter sido eu mesmo, a introduzi-la na minha familia, os filhos seguiram as pesadas da mãe. Morreu o homem sem a gente se ver algum tempo antes.

Passados uns tempos, ele morreu a 9 de Maio de 2021, por doença prolongada, a nossa familia toda fez-se representar condignamente no seu funeral, com bandeira e guarda de honra, fotografei tudo.

Neste ano, ou fins do ano passado, sou confrontado com um mail, de uma pessoa que se identificou com o nome e morada, dizendo que era o meu cunhado, marido da alegada filha do meu irmão, e que estavam muito zangados por o meu irmão nunca ter ido visitar o neto e filha, etc....

Refutei tudo, e perguntei que tenho eu a ver com isso, porque não o fizeram diretamente com o meu irmão enquanto ele era vivo?

Foi uma conversa de lá para cá e vice versa, sem se chegar a nada.

Nunca percebi como esse senhor arranjou o meu email pessoal, sem nunca nos conhecermos . Fiquei a pensar que terá havido conversas com ele, meu irmão, antes de morrer, mas com a intervenção da minha cunhada, sua mulher e dos seus filhos, que chutaram a bola, dando o meu email! Felizmente não deram o telefone.

Espero que o caso esteja encerrado, mas admito que o meu irmão tenha muitas culpas no cartório, sempre lhe disse, mas era tipo tarado, não tenho outras palavras. Já a nossa vizinhança, ele teria os seus 15 ou 16 anos, era o terror das raparigas vizinhas, amigas ou não da nossa casa.

Deus o tenha em paz.

Eu gostava e continuo a gostar dele, sem limitações. Há um Poste dessa data com fotos, que pode ser consultado (**).

Teve vários problemas disciplinares na tropa - era do quadro - por causa e sempre das mulheres e dos seus desenfianços.

Em 1969 quando eu regressei , tive de o safar de muitas coisas, utilizando ainda o meu cartão de alferes, junto do Quartel General e o seu comandante, nosso amigo e vizinho passado.

Foi sempre muito respeitador da nossa familia, em especial a minha mulher à qual ele tinha elevado respeito, e vice versa.

Nunca fomos de beijinhos, íamos a muitos sítios os quatro, mas sempre nos cumprimentávamos de mão, jamais houve beijos.

Então quando eu cheguei e face ao que eu lhe contava da Guiné, ele ficou com a ideia, talvez não clara, que não era terreno para ele. Tinha sido mobilizado para lá como Técnico de Radio Transmissões, era um especialista que aprendeu em Paço de Arcos.

Ele já tinha tido dois anos na Índia, 6 meses como prisioneiro, depois em Angola durante 28 meses, percorreu de lés a lés, foi o responsável pela primeira chamada via rádio de Cabinda para o meu Pai.

Confrontado como nova mobilização para a Guiné, arranjou um esquema altamente sofisticado, de modo a nunca ter ido, mas com contornos do arco da velha.

Passou à disponibilidade em 1969, pela minha mão, com a Pensão de Invalidez respectiva. Mais tarde veio a pensão de prisioneiros, uma bela molhada de massa. Vitalicia, pois ainda a mulher usufrui dela. Coincidências sem explicação.

Quando ele esteve como prisioneiro na Índia ainda não tinha conhecido a sua futura mulher, mas ela teve direito também à pensão.

Conclusão, após esta confusão que lancei aqui:
  • não há crime nenhum de ter filhos sem os perfilhar;
  • há culpas de carácter também reprováveis,
  • muitos filhos de Tuga, nem os Tugas os conhecem nem sabem;
  • outros sabem e nada fazem;
  • são opções, depois de uma vida feita com outra familia;
  • reprovo fundamentalmente as violações, sejam quais forem as situações, o homem não é um animal....

Lamento profundamente aqueles que vivem e morrem ser ter os nomes dos pais, nem sequer os conhecerem.

Abraços, 

Virgilio Teixeira

_____________


(**) Vd poste de 9 de maio de 2021 > Guiné 61/74 - P22186: In Memoriam (394): Jorge Oscar Machado Teixeira (1941-2021), 2º srgt QP, radiomontador, DFA, reformado, irmão mais velho do nosso camarada Virgílio Teixeira, e que esteve prisioneiro na Índia, em 1961/62

terça-feira, 8 de julho de 2025

Guiné 61/74 - P26994: S(C)em Comentários (73): Filhos do vento, náufragos do império: e tudo o vento levou... (Domingos Robalo / Luís Graça)

O nosso Zé Saúde
com a menina do Gabu
(c. 1973/74)
1. Sobre o documentário "Filhos de Tuga", realizado opro João Gomes e Catarina Gomes  (série de 3 episõdios que começou na RTP1 no dia 2 de julho, e que vai continuar nos dias 9 e 16, às quartas, às 22:29) (*), ficam aqui dois comentários:

(i) Domingos Robalo:

Estou expectante em ver a série de 3 episódios que se inicia hoje na RTP1, sobre o tema em questão (Filhos de Tuga").

Tema nada fácil de abordar entre nós, soldados combatentes, não só porque estamos a uma distância de 50 anos, mas porque muitos de nós já partiram, sem sentirem uma palavra de conforto como reconhecimento por uma entrega nem sempre bem compreendida.

Mas a história tem destas coisas: ela é simplesmente escrita pelos vencedores e aqui os combatentes foram os vencidos e sempre ostracizados. Ainda assim, atrevo-me a divagar sobre o assunto de uma forma indisciplinada.

Fui para o CSM, nas Caldas, com 20 anos e 3 meses de idade. Passei à disponibilidade 43 meses depois, sendo que os últimos 24 meses foram cumpridos na Guiné 69/71.

Não estou comprometido com descendentes “filhos do vento”, embora conheça dois ou três casos, um dos quais assumiu com a desmobilização, a paternidade de uma criança que trouxe com ele e aceite pela namorada.

A vida desta família teve um desenvolvimento igual a todas as outras ditas normais. Mas, a questão parece ser a seguinte: porque não foram assumidas muitas outras paternidades?

Na sequência do movimento dos capitães e posterior revolução, toda a relação entre colonizador e colonizados ficou inquinada e hoje, as relações com esses países independentes há 50 anos continuam pouco amistosas, para além das relações Estado a Estado de forma envergonhada. A própria CPLP é um flop.

Restaram então filhos não reconhecidos, militares fuzilados em alguns desses países, nomeadamente na Guiné e uma quase proibição de se falar da “ guerra colonial “ como forma de carpir tempos traumáticos para uma juventude, que tinha sido muito mal tratada pelo poder colonial.

Muitos problemas têm origem nesta proibição que eu designo como “suportar em silêncio” o que devia ter sido proclamado ao vento. No envolvimento destes silêncios estão os “filhos do vento” que não puderam ser proclamados. Durante anos viveu- se em silêncio, constituíram-se famílias e os ventos dissolveram os “filhos do vento”. Fico a aguardar pelo primeiro episódio de hoje na RTP 1, às 22h00.

(ii) Luís Graça (*)

Vi o 1º episódio do documentário realizado por João Gomes e Catarina Gomes, que me despertou sentimentos contraditórios...São seres humanos com histórias pungentes, que não pedem mais nada do que o sonho (impossível, na maioria dos casos) de ainda virem a conhecer o pai biológico e sobretudo ver reconhecido o seu direito a ter a nacionalidade portuguesa...

São homens e mulheres na casa dos 50/60 anos (o mais velho terá nascido em 1963, o mais novo em 1975)...Têm uma associação ("Fidju di Tuga"), onde se reunem de tempos a tempos, são poucos, tratam-se por irmãos e irmãs, vão todos os anos depositar uma coroa de flores ao "pai desconhecido", no talhão dos combatentes portugueses, no cemitério de Bissau...

Têm uma visão idealizada do pai (que só conhecem pelas histórias contadas pelas mães...) bem como do longínquo Portugal... Tiveram infâncias tristes, magoadas, cruéis, vítimas de racismo, de bullying, de maus tratos... Sobreviveram...

Temos a obrigação, enquanto blogue, de fazer algo mais por estes homens e mulheres que, apesar de tudo, ostentam dignidade, querem ser conhecidos, reconhecidos, ouvidos... É o mínimo a que têm direito. Nem sequer são "portugueses"... Precisam de apoio psicológico e jurídico (que a embaixada portuguesa em Bissau podia dar, enquanto não há uma "solução política" para este drama humano e social..., afinal os "filhos de tuga" não são mais do quer  do "náufragos do império", como tantos outros").

Com tantas ONG a trabalhar na Guiné, e ainda ninguém se "lembrou" e teve compaixão por "estes restos de tuga" (a não ser alguns de nós, como a Catarina Gomes, o José Saúde, o Pepito, o Cherno Baldé...). (Apesar de tudo, há uma centena de referências no nosso blogue aos "filhos do vento"...).(**)

 (Revisão / fixação de texto: LG)
________________


Notas do editor LG:


Vd. t6ambém poste de 4 de julho de 2025 > Guiné 61/74 - P26981: Diálogos com a IA (Inteligència Artificial) (5) : a origem da expressão "Filhos do Vento" (="Filhos de Tuga") e a "paternidade" do José Saúde

(**) Último poste da série > 12 de junho de 2025 > Guiné 61/74 - P26910: S(C)em comentártios (72): Em Fulacunda, a tropa mal tinha o necessário para a sua própria alimentação, quanto mais alimentar 400 bocas civis e muçulmanas (Cherno Baldé, Bissau)

quarta-feira, 11 de junho de 2025

Guiné 61/74 - P26907: As nossas geografias emocionais (51): Jerusalém, Israel (António Graça de Abreu, Cascais)




Israel > Jerusalém  e Nazaré, "lugares santos"> 2013 > Vista panorámica da cidade de Jerusalém; "Muro das Lamentações"; "Jesus, Maria e José"(presume-se que em Nazaré) 


Fotos (e legenda): © António Graça de Abreu (2025). Todos os direitos reservados [Edição e lendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




O escritor, sinólogo, 
tradutor e "globe-trotter"  
António Graça de Abreu
com a esposa, médica,
Hai Yuan. O casal vive em
São Pedro do Estoril, Cascais
1. Texto enviado pelo nsso amigo e camarada António Graça de Abreu ( ex-alf mil, CAOP1, Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74),  e já publicado, no passado dia 9, 22:29, na sua página do Facebook


“Vi a Cidade Santa, a nova Jerusalém, que descia dos céus, da parte de Deus, preparada como uma noiva adornada para o seu marido. Eles serão os seus povos. Ele enxugará dos seus olhos todas as lágrimas.”

Apocalipse 21, 2-4

No mar tanta tormenta e tanto dano,Tantas vezes a morte apercebida.
Na terra, tanta guerra, tanto engano,
Tanta necessidade aborrecida!
Onde pode acolher-se um fraco humano,
Onde terá segura a curta vida,
Que não se arme e se indigne o céu sereno
Contra um bicho da terra tão pequeno?



Luís de Camões, Os Lusíadas, 
canto I, 116


Ia à Palestina, minha senhora! Ia ver Jerusalém, o Jordão! (…) E havia de trazer apontamentos, minha senhora, havia de publicar impressões históricas.


Eça de Queirós, A Relíquia


As nossas geografias emocionais >
 Jerusalém, Israel

por António Graça de Abreu



Há muitos séculos é esta terra a sombra iluminada de cristãos, o lugar do acariciante respirar de Deus Pai, o altar supremo do sacrifício de Deus Filho. 

Para quem crê, aqui desceu o Espírito Santo em línguas de fogo ao encontro de Maria e dos apóstolos de Jesus, trazendo-lhes iluminação e sabedoria. 

Para os judeus é também a sua cidade sagrada, onde tomou forma o mundo, com reverências no Muro das Lamentações do tempo do rei Salomão (sec. X a.C.). 

Para os muçulmanos, aqui, na mesquita dourada de Al Aksa, construída logo por cima do Muro judeu de Salomão, subiu Maomé ao céu, três dias após a sua morte acontecida em Medina, a dois mil quilómetros de distância. 

Três religiões, duas mãos cheias de ódio e de lutas de morte entre pais e filhos transviados, gerados numa mesma terra. Onde encontrar a “Glória a Deus nas alturas e a paz na terra aos homens de boa vontade" ?

Venho desde Haifa, de autocarro até Nazaré. Almoço num kiboutz na estrada, estas unidades agrícolas criadas pelos judeus para cultivar e dominar um pequeno território que há mais de trinta séculos consideram como seu. 

Chego a Nazaré onde Jesus terá crescido e com seu pai, São José, terá aprendido a arte de carpinteirar. Venho de visita à casa da família, quase uma espécie de gruta. Antiquíssimas paredes de pedra, vetustos instrumentos para se trabalhar a madeira, Jesus passou por aqui.

Depois, a cidade de Jerusalém, a capital de David e Salomão, do Templo Sagrado, recordar maravilhas gravadas no Cântico dos Cânticos. E relembrar encantamentos e sobretudo sofrimentos de Jesus, da nossa velha fé cristã, da exaltação, da morte e ressurreição de Deus feito homem.

No Muro das Lamentações, caminho rodeado de judeus em permanente peregrinação. Votos e pedidos ao Yehowah, Deus dos hebreus, em papéis colocados nos interstícios da pedra antiquíssima. Preces pela paz. 

Logo acima, a cúpula dourada da Domo muçulmana e a mesquita de Al-Aqsa, depois de Meca e Medina, o lugar mais sagrado do Islão.

 Como é possível haver harmonia entre judeus e muçulmanos? Ao longo dos séculos, a fé e as crenças tão díspares, a terra que ambas as crenças religiosas reivindicam como apenas suas, tanto sangue judeu e muçulmano, algum também cristão a correr pelas lajes delapidadas de Jerusalém... Terra Santa e de paz, infindáveis ódios, ignomínias e guerras. As lágrimas descendo pela face dos deuses.

Avanço na esteira da divindade de Jesus. Nas ruelas de antiga Jerusalém, como outrora, os vendilhões de quinquilharia e pasmosa fancaria, parecem enraizados na pedra da cidade. 

Sigo pela Via Sacra, imagino o Senhor carregando a cruz até ao lugar do Calvário, hoje a igreja do Santo Sepulcro, quase uma fortaleza de pedra. Aqui veio morrer Jesus Cristo, crucificado entre dois ladrões, aqui os cristãos ajoelham diante das cruzes do sec. XII. Adiante, abre-se a estrutura circular no meio da qual se situa a construção que abriga o túmulo onde Cristo terá sido sepultado. Está sempre vazio porque, três dias após a morte, terá subido gloriosamente aos céus.

Todos nós, poderemos, talvez um dia, também na hora da morte, ressuscitar e ascender a paragens celestiais. Jesus Cristo disse: “Eu sou a ressurreição e a vida; quem acredita em mim, ainda que morra, viverá.” João, 11, 25-26.

Ah, homens de pouca fé – eu também, tanta incerteza e tanta dúvida, até em Jerusalém 
, porque duvido da palavra do Senhor?

sexta-feira, 6 de junho de 2025

Guiné 61/74 - P26890: A Guiné-Bissau, hoje: factos e números (6): Exportar caju e importar arroz: uma fatalidade?



Guiné-Bissau > Bissau > AD - Acção para o Desenvolvimento > Foto da semana > "Chegou a hora do Caju" > Data de Publicação: 9 de maio de 2010 > Data da foto: 24 de abril de 2010. Palavras-chave: Segurança alimentar .

Foto (e legenda) © AD - Acção para o Desenvolvimento (2010).
 Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guine]

(http://www.adbissau.org/adbissau/fotodasemana/2010.05.09.htm) (link descontinuado) (*)

Legenda que tinha o inegável cunho crítico, original e pessoal,  do nosso querido amigo Pepito, engº agr. Carlos Schwarz (Bissau, 1949-Lisboa, 2012), então diretor executivo da ONG AD. Faz muita falta ao seu país. Infelizmente, os bons irãs não o protegeram.

"Aí está! Chegou a hora do caju!

"Anualmente, por esta altura, o caju assume a sua omnipresença e todos se envolvem freneticamente nesta actividade, excluindo bem claro, os que estão mais preocupados em dar uso às fardas e às armas.

"Para além da castanha de caju, vendida ou trocada por arroz, num processo iniciado há mais de 20 anos e que subverteu por completo a lógica da segurança alimentar nacional, a qual deixou de se basear na nossa produção de arroz para passar a contar com a importação deste cereal, o que custou o ano passado 85 milhões de dólares. (Negritos nossos)

"Igualmente mobilizadora é a comercialização de vinho de caju extraído da polpa e que, uma vez introduzido em bidões de plástico de 20 litros, é comercializado, transportado e… arrastado em camiões por todo o país."




Guiné-Bissau > Bissau > Bissau Velho > Maio de 2025 > Um trecho do porto de mar em Bissau quando em maré baixa. Ao fundo, um navio graneleiro chinês a fazer descarga de arroz... No passeio da avenida marginal do nosso tempo (hoje, e desde 1975, avenida dos Combatentes da Liberdade da Pátria), bons carros, sinal de prosperidade (que é para alguns, não para todos)...

Fotos (e legenda): © João de Melo  (2025). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guine]


I. A Guiné-Bissau é um país independente. É membro da CPLP. Temos uma relação de amizade com este país lusófono e o seu povo. Não devemos imiscuir-nos nos seus assuntos internos. Mas os seus problemas e desafios não nos são (nem devem ser)  estranhos ou indiferentes.  Daí esta série, "A Guiné-Bissau, hoje: factos e números" (**).

(...) O caju é uma fruta tropical originária do Nordeste do Brasil. Ele foi introduzido na África, incluindo a Guiné-Bissau, pelos portugueses no final do século XVIII.

Na Guiné-Bissau, o caju tem sido historicamente plantado ao longo das estradas e hoje forma vastas florestas de cajueiros, tornando-se o principal produto de exportação do país e um pilar fundamental da sua economia. (...) (Gemini IA / Google)


Pergunta 1  - Valores da exportação de caju e da importação de arroz, na Guiné-Bissau?

Resposta do assistente de IA / Gemini, Google:

A economia da Guiné-Bissau é fortemente dependente da exportação de caju e da importação de arroz

Exportação de Caju:

  • Principal produto: A castanha de caju é o pilar da economia guineense, representando mais de 90% do total das exportações nacionais.
  • Volume de exportação:
    • Em 2022, o volume de exportação foi de 200.000 toneladas.
    • A Guiné-Bissau está pronta para exportar 130 mil das 200 mil toneladas de castanha de caju que espera vender em 2025.
  • Preço:
    • O preço base de venda da castanha de caju para a campanha de 2025 foi fixado em 410 francos CFA (0,63 euros) por quilograma. Em 2024, o preço base foi de 350 francos CFA, mas chegou a 700 francos CFA devido à procura.
    • Em 2022, o preço de venda efetivo foi de 363 FCFA/kg, o equivalente a 626 USD/tonelada.
  • Destino: Mais de 95% da castanha de caju exportada pela Guiné-Bissau tem como destino a Índia.

Importação de Arroz:

  • Consumo: O arroz é o principal alimento básico da população guineense, representando cerca de 80% do consumo de cereais no país.
  • Volume de importação:
    • A Guiné-Bissau importa anualmente mais de 200 mil toneladas de arroz.
    • A produção nacional de arroz está longe de satisfazer as necessidades do consumo, que é de cerca de 200.886 toneladas por ano, com uma produção que não passa das 112 mil toneladas.
  • Valor:
    • Em abril de 2024, o governo decidiu aumentar os preços do arroz devido à incapacidade de continuar a subvencionar as empresas importadoras.
    • Um saco de 50kg de arroz tipo "nhelém" 100% partido passou a custar 21.500 francos CFA (cerca de 32 euros).
    • O arroz da qualidade 5% partido (grosso) passou a custar 24.000 francos CFA.
    • Entre novembro de 2023 e abril de 2024, o governo gastou mais de quatro mil milhões de francos CFA (cerca de 6 milhões de euros) para financiar a subvenção do arroz no país.

É importante notar que há também um problema de contrabando de caju para países vizinhos, como Senegal, Gâmbia e Guiné-Conacri, o que afeta as receitas do Estado. O governo tem reforçado a vigilância nas fronteiras para combater essa prática.


Pergunta 2 - Análise SWOT da relação Caju (Exportação) / Arroz (Importação) na Guiné-Bissau.

Resposta do assistente de IA / Gemini, Google:

Análise SWOT da Relação Caju (Exportação) / Arroz (Importação) na Guiné-Bissau

A relação entre a exportação de caju e a importação de arroz na Guiné-Bissau é um ponto central da sua economia, com implicações significativas para a segurança alimentar, balança comercial e desenvolvimento sustentável. Abaixo, é apresentada uma análise SWOT detalhada dessa dinâmica:

Forças (Strengths)

  • Potencial de Exportação de Caju: O caju é o principal produto de exportação da Guiné-Bissau, gerando divisas estrangeiras cruciais para a economia. A procura global por castanha de caju tem-se mantido robusta.
  • Adaptação do Caju ao Clima: O caju é uma cultura bem adaptada às condições climáticas da Guiné-Bissau, exigindo relativamente poucos fatores de produção  e sendo resiliente a períodos de seca.
  • Geração de Emprego na Cadeia do Caju: A colheita e o processamento inicial do caju (ainda que limitados) geram empregos, especialmente em áreas rurais, contribuindo para a subsistência de muitas famílias.
  • Disponibilidade de Terras para Arroz: A Guiné-Bissau possui extensas áreas de várzeas e bolanhas com potencial para o cultivo de arroz, uma cultura alimentar fundamental.
  • Importância do Arroz na Dieta Local: O arroz é a base da dieta da população guineense, o que garante uma demanda interna constante e justificada para o seu consumo.

Fraquezas (Weaknesses)

  • Dependência Excessiva do Caju: A economia da Guiné-Bissau é excessivamente dependente da exportação de caju, tornando-a vulnerável a flutuações nos preços internacionais e a choques externos.
  • Baixo Valor Agregado do Caju: A maior parte do caju exportado é em bruto, o que significa que o país perde a oportunidade de agregar valor através do processamento industrial (descasque, torra, embalagem), limitando os ganhos económicos e a criação de empregos qualificados.
  • Vulnerabilidade à Flutuação de Preços: Os preços do caju no mercado internacional podem ser voláteis, impactando diretamente as receitas de exportação e a rendimento dos produtores.
  • Elevada Dependência da Importação de Arroz: A Guiné-Bissau importa uma parcela significativa do arroz que consome, tornando-a vulnerável a choques nos preços internacionais do arroz, flutuações cambiais e interrupções na cadeia de suprimentos.
  • Baixa Produtividade do Arroz: A produção interna de arroz é frequentemente baixa devido a técnicas agrícolas tradicionais, falta de acesso a sementes melhoradas, fertilizantes e sistemas de irrigação adequados.
  • Infraestrutura Deficiente: A infraestrutura precária (estradas, portos, eletricidade) dificulta o escoamento do caju e o transporte do arroz importado para o interior do país.
  • Financiamento Limitado: O acesso limitado a financiamento para agricultores, tanto para o caju quanto para o arroz, impede investimentos em melhorias de produtividade e processamento.

Oportunidades (Opportunities)

  • Agregação de Valor ao Caju: Investir no processamento local do caju pode aumentar significativamente as receitas de exportação, gerar empregos qualificados e promover o desenvolvimento industrial.
  • Diversificação de Mercados para o Caju: Buscar novos mercados para o caju pode reduzir a dependência de um pequeno número de compradores e estabilizar as receitas.
  • Aumento da Produtividade do Arroz: Adoção de novas tecnologias agrícolas, sementes melhoradas, técnicas de irrigação e formação para os agricultores pode impulsionar a produção interna de arroz e reduzir a necessidade de importação.
  • Desenvolvimento de Cadeias de Valor Locais: Fortalecer as cadeias de valor do caju e do arroz, desde a produção até o consumidor final, pode criar novas oportunidades de negócio e empregos.
  • Cooperação Regional e Internacional: Parcerias com países vizinhos e organizações internacionais podem facilitar o intercâmbio de conhecimentos, tecnologias e financiamento para o setor agrícola.
  • Investimento em Infraestrutura: Melhorias na infraestrutura de transporte e armazenamento podem otimizar o escoamento do caju e a distribuição do arroz.
  • Promoção de Práticas Agrícolas Sustentáveis: Implementar práticas agrícolas que melhorem a fertilidade do solo e a gestão da água pode aumentar a resiliência da produção de caju e arroz às mudanças climáticas.

Ameaças (Threats)

  • Flutuações nos Preços Internacionais: A volatilidade dos preços do caju e do arroz no mercado mundial pode impactar negativamente a balança comercial e a segurança alimentar.
  • Mudanças Climáticas: Secas, inundações e outras condições climáticas extremas podem afetar a produção de caju e arroz, colocando em risco a segurança alimentar e as receitas de exportação.
  • Concorrência Internacional: A Guiné-Bissau enfrenta concorrência de outros países produtores de caju e arroz, o que pode pressionar os preços e a participação de mercado.
  • Barreiras Comerciais: Novas tarifas ou regulamentações comerciais impostas por países importadores podem afetar negativamente as exportações de caju.
  • Instabilidade Política e Social: A instabilidade pode perturbar as cadeias de produção e distribuição, afetando tanto a exportação de caju quanto a importação e distribuição de arroz.
  • Doenças e Pragas: O surgimento de doenças ou pragas que afetam as culturas de caju ou arroz pode causar perdas significativas na produção.
  • Dependência de Agentes Externos: A forte dependência de intermediários na cadeia de valor do caju pode resultar em menores retornos para os produtores locais.

Conclusão

A Guiné-Bissau enfrenta um desafio complexo na gestão da sua relação caju/arroz. Embora o caju seja uma força económica, a sua dependência excessiva e a falta de valor acrescentado representam vulnerabilidades significativas. 

Por outro lado, a importação maciça de arroz sublinha uma fraqueza na segurança alimentar. 

As oportunidades residem na agregação de valor ao caju, na diversificação da produção agrícola e no aumento da produtividade do arroz. No entanto, o país deve estar atento às ameaças externas, como as flutuações de preços e as mudanças climáticas, e internas, como a instabilidade política e a infraestrutura deficiente.

Para um futuro mais sustentável, a Guiné-Bissau precisa de uma estratégia integrada que promova a diversificação económica, o aumento da produtividade agrícola (especialmente do arroz), o processamento local do caju e o investimento em infraestrutura

A resiliência económica do país dependerá da sua capacidade de transformar estas fraquezas e ameaças em oportunidades de crescimento e desenvolvimento.

(Perguntas, Revisáo / fixação de texto: LG / Respostas,  Negritos: Gemini IA)

______________

Notas do editor LG:

(*) Vd. poste de 12 de maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6376: Notícias dos nossos amigos da AD - Bissau (14): Chegou a hora do caju... e do vinho de caju!

(**) Último poste da série > 17 de junho de 2022 >
Guiné 61/74 - P23360: A Guiné-Bissau, hoje: factos e números (5): A principal fonte de energia (c. 85%) ainda é a proveniente da biomassa (lenha, carvão vegetal...)

domingo, 13 de abril de 2025

Guiné 61/74 - P26683: In Memoriam (542): Carlos Matos Gomes (1946-2025), membro do MFA no CTIG, cor cav 'cmd', ref, escritor e historiógrafo, e grande amigo da Tabanca Grande



Carlos Matos Gomes, cor cav 'cmd', ref; capitão de Abril; escritor, historiógrafo (Vila Nova da Barquinha, 1946 - Lisboa, 2025). Ia completar 79 anos em 24 de julho. Do seu CV militar destaque-se: fez part do curso de cadetes de 1963 na Academia Militar; oficial dos 'comandos', passou pelos 3 TO, com destaque para  Moçambique, onde participou na operação “Nó Górdio” (1970); esteve no CTIG  de julho de 1972 a fins de junho de 1974, participando em diversas operações com o Batalhão de Comandos da Guiné (por ex., a Op Ametista Real, 1973);  pertenceu à primeira Comissão Coordenadora do Movimento dos Capitães na Guiné; foi membro da Assembleia do MFA em 1975;


Guiné-Bissau > Bissau > 7 de Março de 2008 > Simpósito Internacionald e Guileje (Bussau,. 1-7 de março de 2008) > Visita à Fortaleza da Amura > Amura: um lugar repleto de história e de histórias... Visita no âmbito do Simpósio Internacional de Guileje, no último dia do evento. Na foto, o coronel de cavalaria do Exército Português, Carlos Matos Gomes, na situação de reforma, um homem do MFA da Guiné e um celebrado autor de romances de guerra como "Nó Cego", "Soldadó" ou "Fala-me de África" (que assina sob o pseudónimo literário de Carlos Vale Ferraz); a seu lado, o catalão Josep Sánchez Cervelló (n. 1958), professor universitário, em Tarragona, especialista em história sobre o 25 de Abril e a descolonização portuguesa...

Por detrás, o edifício, em ruína, da antiga 2ª Rep do Comando-Chefe, a famosa Rep Apsico, onde trabalhou Otelo Saraiva de Carvalho e Ramalho Eanes. Matos Gomes, na altura capitão dos comandos, foi um dos protagonistas do 25 de Abril neste palco da história... Recorde-se que a Amura é hoje o panteão nacional da Guiné-Bissau, onde repousam os restos mortais de Amílcar Cabral e de outros heróis da pátria guineense, como Osvaldo Vieira, Domingos Ramos, Tina Silá, Pansau Na Isna ou Rui Djassi.

Foto e legenda: © Luís Graça (2008). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. O Paulo Santiago deu-me a desoladora notícia, esta manhã: morreu o Matos Gomes. E confirmei, de imediato,  na sua página do Facebook:
 
"A todos os amigos e seguidores do meu pai, Carlos Matos Gomes, é com profunda tristeza que informo que faleceu hoje, 13 de Abril, no Hospital Cuf Tejo. Partiu sereno e com músicas de Abril. Direi por aqui todos os pormenores sobre as cerimónias que se seguem. Grata a todos pelo carinho e admiração que tinham por ele."


2. Comentário do editor LG: 

Morreu o Matos Gomes, um amigo e camarada da Guiné que tinha na Tabanca Grande muitos e bons amigos. Fico desolado por mais esta perda da nossa comunidade de antigos combatentes. (*)

Já não o via há largos anos, mas também nunca fomos íntimos. Propus o seu nome, como participante, ao Pepito, organizador do Simpósio Internacional de Guileje (Bissau, 1-7 de março de 2008) (**). Viajámos juntos e estivemos juntos nesse evento. Estive também com ele nalgumas sessões de lançamentos de livros e conferências.

Não, não fazia parte da Tabanca Grande, pelas razões que ele próprio, em vida, apresentou. Nem eu agora, à revelia da sua vontade, vou "dar-lhe honras de Tabanca Grande"... Tem mais de 100 reeferências no nosso blogue.  Foi uma "espécie de marginal-secante", interagindo connosco sempre que entendia oportuno ou que nós o solicitávamos...

Era um espírito muito livre,  independente, rebelde, culto e crítico. E um combatente com uma grande folha de serviço. Capitão de Abril, escritor, historiógrafo, "influencer"...  Confesso que não o seguia no Facebook,  como de resto não sigo ninguém em especial.

Li, dele, para além das obras de  historiografia militar, dois livros que considero incontornáveis para quem quiser conhecer melhor a nossa geração a quem coube fazer a(s) guerra(s) da descolonização, mas também a paz e o 25 de  Abril: "Nó Cego" (1983), romance, escrito sob o pseudónimo Carlos Vale Ferraz  e "Geração D: da Ditadura à Democracia" (2024).  O "Nó Cego" é já uma clássico da literatura portuguesa. E a "Geração D" também a li de um fôlego...

Deixemos, porém, aos nossos leitores, e sobretudo aos camaradas que o conheceram melhor do que eu, a honra (e o dever...) de o lembrar aqui.

Como fundador, administrador e editor deste blogue (que já tem mais de 20 anos)), recordo dois apontamentos da autoria do Carlos Matos Gomes que sempre nos deu força e motivação para continuar a manter vivo, ativo, proativo, produtivo e saudável o nosso blogue. Temos para com ele mais esta dívida, a de gratidão.


(i) Mensagem enviada aos editor Luís Graça e Carlos Vinhal:

Data - segunda, 23/04/2012, 18:32
Assunto -Parabéns

Meus caros amigos, estive a ver as fotos da festa da Tabanca (Grande) (**). Queria deixar aqui os meus parabéns, mas também expressar a admiração pelo convívio e pela sã troca de afetos e memórias entre aqueles que passaram pela Guiné no cumprimento do serviço militar. 

Todos ficamos enriquecidos ao visitar esta Tabanca. Em especial ao Luís Graça e aos editores, o meu bem hajam e o estímulo para que continuem. Para todos os que aqui partilham os seus segredos, os seus pensamentos, os seus sentimentos vai o meu obrigado pelo que me têm ensinado. 

Um grande abraço para todos do Carlos Matos Gomes

(ii)  Mensagem, de 17 de janeiro de 2010,  do cor cav ref Carlos Matos Gomes, conhecido estudioso e analista da guerra colonial, investigador e também romancista e argumentista (autor de, entre outras obras, sob o pseudónimo, do romance "Nó Górdio", 1983). (***)


Meu caro Luís, a propósito de uma resposta minha ao post do Jorge Félix relativo ao vídeo da viagem pelo Rio Cacheu Acima , fizeste-me uma proposta de integrar esta Tabanca, que me fez reflectir com serenidade antes de ter responder.

A primeira reacção foi: é claro que sim!... Preencho todos os requisitos, tenho ali (na Tabanca) tantos amigos, conhecidos. O local é bem frequentado, isto é, a frequência é de boa gente, são boas as intenções e a finalidade dos que frequentam a Tabanca. 

Une-me aos que aqui se reúnem recordações de lugares e de tempos e ainda o afecto pela terra da Guiné e das suas gentes. Nada a obstar, antes pelo contrário, tudo me levaria a sentir-me, além de honrado, disponível para integrar este grupo como membro de pleno direito.

Mas… vamos aos mas…

Sou leitor e frequentador assíduo e muito interessado da Tabanca. Tenho um juízo sobre esta Obra. Penso, sem qualquer lisonja, para a qual tenho espinha demasiado rígida e a boca demasiado dura, que este blogue é algo de extraordinário. Um daqueles casos que nos aquecem a esperança e nos incham a alma.

É extraordinário a vários títulos: pela ideia de reunir antigos combatentes num espaço democrático (o que quer dizer de livre expressão de cada um e de obrigatório respeito por todos e cada um dos outros), onde relatassem as suas experiências de há 30/40 anos, revivessem a sua grande aventura dos 20 anos, restabelecessem contactos, amizades e camaradagens, recordassem através da escrita e da imagem os lugares, os acontecimentos e as pessoas com quem partilharam os seus tempos da guerra, que servisse até de veículo de ajuda.

É extraordinário porque tem mantido o diálogo entre pessoas com diferentes visões da guerra e das situações num elevado nível de tolerância, mesmo quando o calor provoca reacções mais ásperas.

É extraordinário porque o colectivo do blogue conseguiu criar um "espírito de corpo" entre os tabanqueiros, que se reveem nas histórias, nos convívios que se vão multiplicando, nas acções que se desenvolvem, seja de solidariedade e ajuda ao povo da Guiné, seja a camaradas em dificuldades, seja ainda a familiares que procuram reconstituir as histórias de parentes seus na guerra.

O bloque e a Tabanca são um espaço de pureza e generosidade.

A pureza do blogue e dos seus tabanqueiros tem a ver com aquilo que é a sua matriz, a sua característica fundadora, o seu ADN: o blogue serve para relatar, contar, descrever, para transmitir emoções, para despejar pesos acumulados.

O blogue é a camaradagem, o que desaconselha grandes reflexões, análises e explicações. Deve continuar assim. É a sua força.

Ora eu, pelos rumos que a minha vida tomou, se ainda mantenho a minha generosidade, perdi a pureza de reviver a guerra colonial. Isto é, eu bebo do blogue, leio o que os homens da minha idade e da minha geração que passaram pelos locais por onde eu passei escrevem sobre ela, tento perceber como, em termos coletivos, a minha geração viveu este período da nossa História. Cada pequena descrição, ou relato, ou fotografia, ou filme, que cada um coloca é para mim um objecto de análise. 

Não tenho, pois, a pureza indispensável para me intrometer neste ambiente, não me sentiria confortável a fazer de mais um, quando afinal eu era e sou o que está a observar.

Um dos muitos factores de interesse do blogue é ser, além de um extraordinário local de convívio para os antigos combatentes da Guiné, uma futura fonte de conhecimento para a História da guerra colonial. 

E este conhecimento assenta em informações, por vezes únicas, sobre determinados acontecimentos e só isso já seria muito e bom serviço, mas o mais importante é que este blogue vai permitir aos historiadores e aos interessados do futuro pela História de Portugal, pela história colonial, pela história das forças armadas portuguesas e pela História da Guiné uma visão muito real sobre os actores que estiveram no terreno.

Raramente, na história em geral e na história militar em particular, é possível aceder ao sentimento, ao pensamento dos homens comuns que a fizeram. Este blogue dota os futuros estudiosos desse precioso elemento que é o de lhes fornecer o relato em primeira mão do soldado, do sargento, do subalterno, do capitão que estavam no mato, a bordo de navios, nos aviões.

Eu, pelo facto de ter enveredado muito cedo pelo trabalho de análise da guerra colonial, sou alguém que polui essa fonte.

 Se aceitasse pertencer à Tabanca e aceder ao teu convite, estava a seguir o meu instinto e a fazer o que eu gostaria, mas não estava a prestar um bom serviço à Tabanca (tenderia a apresentar análises e a fazer interpretações que gerariam tensões e desviariam a atenção dos puros tabanqueiros), nem estava a prestar um bom serviço ao futuro estudo da guerra colonial, pois introduziria factores de distorção na análise. Estava a fazer o que gostava, mas não o que devo,

É por tudo isto que aqui tentei resumir e sem ter a certeza de ter sido claro que, meu caro Luís, te peço para me deixares neste lugar de entreportas, a vaguear pela Tabanca como um estrangeiro adotado, respeitando os usos e os costumes, falando quando me autorizarem, ou quando me pedirem, saudando os que assumem a responsabilidade de manter o fogo aceso, o gado alimentado, os fracos protegidos. Sendo agradecido pelo muito que o vosso labor me proporciona, pelo que aprendo e pelas amizades que criei.

Um grande abraço

Carlos Matos Gomes.

NB: Desculpa a extensão da resposta, mas não consegui resumir e devia-te, e a todos os membros da Tabanca, uma explicação séria, sem falsas humildades, mas principalmente sem deixar qualquer mal-entendido sobre a recusa a partilhar um espaço como este que, reafirmo, honra todos os que a ele pertencem e me honraria a mim também, se não fossem as razões que tentei expressar.

[ Revisão / fixação de texto, título: L.G.]

 
(iii) Comentário de L.G., com data de 24/1/2010:

Carlos:

Em meu nome e dos demais editores, o Carlos, o Eduardo e o Virgínio, bem como de todos os demais amigos e camaradas da Guiné que se reconhecem neste blogue, agradeço as palavras que dizes a nosso respeito e que são um estímulo, público, para continuar...

Às vezes, as nossas forças também fraquejam e a gente tem dúvidas, legítimas, sobre o caminho a seguir... Tu bem sabes, da longa e dura experiência dos três TO por onde passaste, a começar pela Guiné, como as picadas pareciam não ter fim... As tuas palavras são um doce bálsamo para as dores do caminho e um bom tónico para prosseguir, apesar de alguns conflitos, incompreensões e escaramuças que, inevitavelmente - e por que não, saudavelmente - surgem neste percurso comum...

E queremos prosseguir, não exactamente por sentido de "missão" (não somos heróis nem iluminados, somos apenas 'common people'), mas pela simples razão de termos criado, quase sem o querer, uma comunidade de desvairadas gentes que têm, como menor denominador comum, uma experiência de guerra e o conhecimento, vivido, de uma terra...

A guerra colonial e a Guiné-Bissau (ou o discurso sobre) não são monopólio de ninguém, nem sequer mesmo dos guineenses... Este período da história comum de portugueses e guineenses está longe de estar encerrado. Vamos continuar a esforçarmo-nos por manter este espaço plural e aberto, e cultivar nosso espírito de partilha, de tolerância e de discrição.

Dito isto, entendo inteiramente as razões por que gostarias de, mas não podes nem deves, aceitar o meu/nosso convite para integrar a Tabanca Grande. 

És uma figura pública, um autor com obra feita sobre a história e a ficção da guerra colonial, não queres com a tua presença inquinar ou enviesar as fontes subterrâneas que alimentam este blogue... É de um grande honestidade intelectual: tu não queres ser o eucalipto que seca tudo em seu redor, os poilões, os bissilões, as cabaceiras, o mangal... da nossa Tabanca Grande.

Em contrapartida, deixa-me aceitar a tua proposta de seres uma espécie de marginal-secante, alguém que está fora e está dentro, que intersecta dois sistemas... Não propriamente esse "estrangeiro adotado" de que falas, mas sim alguém que ocupa esse "lugar de entre.portas, a vaguear pela Tabanca (...), respeitando os usos e os costumes, falando quando me autorizarem, ou quando me pedirem, saudando os que assumem a responsabilidade de manter o fogo aceso, o gado alimentado, os fracos protegidos"...

Carlos, aparece sempre que te der na real gana, entra e sai: não precisas de bater à porta...

Como bem sabes, nesta Tabanca Grande não há moranças com portas nem janelas, não há bunkers nem abrigos, não há portas de armas nem cavalos de frisa, não há cercas de arame farpado, nem muito menos campos de minas e armadilhas... No dia em que nos impuserem tal, serei eu o primeiro a escolher a picada do exílio...


_____________

Notas do editor:


(**) Vd. poste de 25 de abril de 2012 > Guiné 63/74 - P9800: Tabanca Grande: oito anos a blogar (10): Parabéns! (Carlos Matos Gomes / António Vaz)