quinta-feira, 30 de maio de 2013

Guiné 63/74 - P11654: 9º aniversário do nosso blogue: Os melhores postes da I Série (2004/06) (15): Memórias de Guileje ao tempo da CART 1613 (1967/68), por José Neto (1929-2007) - Parte III : O Dauda (filho do vento e mascote da companhia), o 1º cabo escriturário Cardoso, o faxina Rochinha, e...o batismo de fogo, no final das chuvas, em outubro de 1967



Guiné > Região de Tombali > Guileje > CART 1613 (1967/68) > O quarto do Zé Neto... Na mesinha de cabeceira, uma foto da esposa Júlia, de quem tem três filhas. A Júlia é nossa tabanqueira.


Guiné > Região de Tombali > Guileje > CART 1613 (1967/68) > A secretaria... [ O Zé Neto deixou-nos o seu álbum fotográfico (, obtido a partir dos seus diapositivos), organizado por temas, mas as fotos, individualmente, não estão legendadas. Não sei se o 1º cabo Cardoso, escriturário, aparece aqui na foto. Também não nos parece que o Cap Corvacho esteja neste grupo, segundo informação do cor art ref  (e nosso tabanqueiro) Nuno Rubim, que é do curso a seguir ao dele. O Corvacho também já morreu].



Guiné > Região de Tombali > Guileje > CART 1613 (1967/68) > O 2º sargento José Neto (que exercia as funções de 1º sargento da compnhia) junto a um abrigo e a uma viatura do Pel Rec Fox 1165, que era comandado pelo alf mil cav Michael Winston Schnitzer da Silva.


Guiné > Região de Tombali > Guileje > CART 1613 (1967/68) > O obús 8.8 (1)



Guiné > Região de Tombali > Guileje > CART 1613 (1967/68) > 1967 > O obús 8.8 (2)



Guiné > Região de Tombali > Guileje > CART 1613 (1967/68) >  O Dauda, a "mascote da companhia" (1), com outros meninos da Tabanca, a brincar numa poça de água, junto à capelinha...


Guiné > Região de Tombali > Guileje > CART 1613 (1967/68) > O Dauda,  a "mascote da companhia" (2)... Vivia praticamente com os militares...


Guiné > Região de Tombali > Guileje > CART 1613 (1967/68) > 1967 > O Dauda, a "mascote da companhia" (3)... Dizia-se, na caserna, que era cara chapada do pai... O Dauda terá morrido há 4 anos atrás, com cerca de 45 anos... Era casado e pai de duas filhas. A família vivia em Bissau.

Fotos: © José Neto (2005) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: L.G.]


1. Dauda era filho de Sona, uma jovem de Cacine, comprada pelo alfaiate de Guileje para ser a sua terceira esposa. O pai biológico  de Dauda, dizia-se,  era um militar português que passara por Cacine, em 1965/66.  O Dauda teve no Zé Neto um protetor. E, história espantosa, em janeiro de 2010, a Júlia Neto, viúva do cap ref José Neto (1929-2007), foi conhecer a esposa e as duas filhas do Dauda (, entretanto falecido ainda há pouco tempo), em Bissau.

Sobre este reencontro, escreveria o Pepito mais tarde, no nosso blogue: "Quando o Capitão começou a colaborar com a Iniciativa de Recuperação de Guiledje, a única coisa que pediu foi: 'Procurem e encontrem-me o Dauda, filho abandonado por um militar que tinha estado neste quartel e que sempre tratei como um filho e que gostaria de voltar a ver'. Para ele, Capitão Neto, com aquele coração enorme que tinha, nunca conseguiu perceber como se pode abandonar uma criança pequena e desinteressar-se definitivamente dela. A sua mulher Júlia Neto veio a Guiledje e encontrou a mulher e as filhas do Dauda e … perfilhou-as imediatamente. A família Neto, toda ela, tem um coração de ouro".

E com o Dauda que começa a III parte das memórias de Guileje, da autoria do Zé Neto, e que já publicámos na I Série do nosso blogue, em janeiro de 2005. O Zé Neto úm dos primeiros 50 camaradas a ingressar no nosso blogue. Hoje somos 12 vezes mais, a maior parte dos tabanqueiros não o conheceram nem têm acesso à sua colaboração, dispersa. Daí também esta nova edição dos seus postes sobre Guileje, no ano em que celebramos o 9º aniversário. Faz há 40 anos, a 22 de maio de 1973, que retirámos de Guileje.



2. Memórias de Guileje, ao tempo da CART 1613, por José Neto (1929-2007) > Parte III


(i) Dauda,  filho vento e mascote da companhia


Como já escrevi, eram todos de etnia fula, de raça negra, com excepção de um menino mestiço.
Este menino, na altura com onze, doze meses de idade, era filho da Sona, uma jovem de Cacine, comprada pelo alfaiate de Guileje para ser a sua terceira esposa.

Tinha o nome de Dauda, mas era tratado por todos nós por Viegas, apelido do pai, capitão que comandara a companhia de Cacine. Ainda hoje, quando revejo as dezenas de fotografias que fiz do garoto, acho que poderíamos anteceder Silva a Viegas…

Foi pela minha mão que o miúdo deu os primeiros passos. E foi por ele que, suponho, arrisquei a vida quando, num ataque bem apontado, as morteiradas atingiram a zona da cozinha, lenheiro e depósito de géneros.



Guiné > Região de Tombali > Guileje > CART 1613 (1967/68) > 1967 >  Uma dos dos abrigos enterrados... Na foto vê-se uma bazuca pendurada e, do lado direito, a máquina de costura do alfaiate da tabanca...

Foto (e legenda): © José Neto (2005) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.


Ao correr para o abrigo ouvi o choro duma criança. O Viegas tinha jantado connosco, como de costume, e tive a quase certeza de que era ele. Retrocedi e apanhei-o junto ao coberto que servia de messe de sargentos. Arrastei-o até à entrada do abrigo e, uns instantes depois, uma granada explodiu no monte de lenha a menos de quatro metros de distância, projectando cavacas em todas as direcções.

Dos meus troféus faz parte a empenagem que sobrou dessa granada, que nunca limpei, e que a minha mulher resmunga que só serve para sujar o móvel onde está. Não é que suje, mas também nunca me apeteceu contar-lhe a história desse bocado de ferro com alhetas e terra empastada.

Quanto à actividade militar, a das tropas operacionais era intensa e da minha parte não o era menos. O Capitão Corvacho, ainda em Brá, dividiu o comando da companhia em duas partes distintas: a parte operacional era dirigida por ele e a administrativa por mim. Basta referir que o meu Registo Geral (caderno mensal em que são escriturados todos os homens e as suas mais diversas situações) tinha muito perto de trezentos títulos.


(ii) O meu escriturário, o 1º cabo Cardoso, empregado de sapataria em Viseu, e meu braço direito

Creio que é a terceira vez que o trago a esta história, mas não posso deixar de salientar a enorme ajuda do meu escriturário, o 1º Cabo Ramiro Pais Cardoso, um jovem que antes da tropa era empregado duma sapataria em Viseu, sua terra natal, cuja dedicação e competência me levaram a decidir e recomendar ao nosso Capitão que, durante a minha licença na Metrópole, ele ficasse a exercer as minhas funções, prescindindo da regulamentar substituição pelo 2º Sargento C... P..., que só constou no papel e nos actos imprescindíveis… tais como dispensa de serviço de escala.

(iii) O Rochinha, meu fidelíssimo faxina, manufactor de calçado na vida civil, básico na tropa por ter os pés chatos...

E aproveito também para prestar o meu profundo apreço pelo meu ultra zeloso faxina pessoal, o Rochinha, de seu nome completo António Casimiro da Rocha, natural de Passais, freguesia de Fiães, concelho de Vila da Feira. Dizia-se mal classificado pela tropa, pois era manufactor de calçado e não sapateiro como constava nos seus documentos e roía-se todo por ter sido privado de especialidade, ficando portanto básico, só pelo facto de ter os pés chatos.

Cuidava de mim e dos meus pertences com uma dedicação extrema. Um dos seus cuidados era fazer-me o café às horas certas de acordo com a nossa combinação. Ficou histórica a sua presteza quando, durante os dois dias de viagem marítima de Buba para Gadamael, às horas marcadas me aparecia o Rochinha com o cafezinho fumegante.

E o único convidado para a bica que ele admitia era o nosso Capitão e o Dr. Oliveira Martins quando estava connosco. Fartou-se de me pedir para o deixar ir a uma operação, mas sempre lhe neguei a vontade, porque, se por um lado lhe estava vedada essa actividade, por outro eu não podia prescindir da sua colaboração.

De parceria com o Ramiro, que o ensinou a escrever à máquina, dava volta à papelada mais trivial com segurança e a contento de todos, pois nunca abusou da sua relativa proximidade com o comando da companhia. Antes pelo contrário. Algumas vezes ajudava um ou outro camarada menos expedito a trazer-me este ou aquele problema que necessitava da minha intervenção.


 Guiné > Região de Tombali > Guileje > CART 1613 (1967/68) 1967 > Mais um dos abrigos enterrados... e local de brincadeira da criançada...

Foto (e legenda): © José Neto (2005) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.

(iv) O nosso batismo de fogo já no final das chuvas, em outubro de 1967

O resto da estação das chuvas, de Junho a Setembro [de 1967], foi passada na expectativa das tradicionais boas vindas que os turras costumavam dar às guarnições novas.

Havia informações de que o IN tinha deslocado para aquela zona dois bigrupos (*) e possivelmente, tal como nós, andavam a adaptar-se ao terreno. Até que, em meados de Outubro, tivemos o primeiro ataque, muito mal realizado, graças a Deus.

Primeiro, já tínhamos conhecimento dos seus movimentos e da hora provável da flagelação e segundo, acercaram-se demasiado do perímetro fortificado e ficaram expostos ao fogo das nossas armas ligeiras, principalmente dilagramas (1) e bazucas. Além disso as suas granadas de morteiro, embora tivessem o alvo constituído pelas coberturas de zinco das nossas instalações iluminado pelo luar, caíram todas longe da tabanca, sem causar o mínimo estrago.

Em contrapartida, deixaram no terreno algum armamento, peças de roupa ensanguentada e sinais de uma retirada pouco organizada. Soube-se depois que esta acção foi o baptismo de fogo da maior parte dos atacantes, uma espécie de exercícios finais de recrutas, mas a sério. E para mim também o foi, já que a campanha do Lap Sap, de 1952, em Macau (2), não conta, porque não cheguei a sentir o calafrio provocado pela incerteza de onde irá cair a próxima?

Tínhamos acabado de jantar e cada qual foi para o seu buraco, porque, como já referi, estávamos à espera do ataque. No meu quarto-abrigo a segurança era mais que suficiente e dispus-me a escrever um aerograma para a minha mulher a mentir-lhe, como sempre fiz em relação aos perigos que corria, dizendo-lhe que estava tudo bem comigo, que estivesse descansada e por aí fora.

Ao estrondo da primeira granada de morteiro que caiu lá para o fundo da pista seguiu-se o corte da electricidade, já programado. Acendi a minha lanterna de pilhas e fiz um leve risco no alto da folha para assinalar o acontecimento. Com o continuar dos rebentamentos, começou a ouvir-se o som característico das costureirinhas e das Kalash, o que pressupunha a intenção de flagelação seguida de tentativa de assalto.

Até essa altura eu tinha a convicção de que a história de medo de pôr os cabelos em pé não passava disso mesmo, um rifão como outro qualquer. Mas a veracidade estava bem presente. Por momentos senti um arrepio de frio na espinha e os cabelos, e pêlos dos braços, a eriçarem-se.

Compreendi rapidamente que estar ali sozinho não me era emocionalmente favorável e arrastei-me até ao abrigo fortificado que ficava por trás do meu quarto onde encontrei os elementos da guarnição muito calmos a fazerem uns disparos tiro-a-tiro pelas seteiras ao mesmo tempo que comentavam:
- Estes gajos são loucos. Se avançam para cá das árvores caiem todos como tordos.

Ao fim de muitas horas, quando o silêncio se consolidou, fiquei pasmado ao olhar para o meu relógio e constatar que a coisa tinha durado menos de quarenta minutos. Acompanhei o Capitão na volta pelos abrigos e palhotas da tabanca e certificámo-nos de que o ataque nem uma beliscadura causou.

Em conversa sobre o acontecido eu disse-lhe que me tinha arrepiado com medo, embora sabendo que estava em local seguro. Respondeu-me que também ele já tinha passado por isso, mas que, com a continuação, uma pessoa se habitua.

Entramos assim num ciclo de duas campanhas: eles executavam a sua de noite e nós a nossa de dia. Quanto aos ataques que sofremos daí para o futuro, e foram muitos, apenas quero salientar, para além do que descrevi sobre o Viegas, dois ou três pormenores:

Na gíria das transmissões essas acções do IN eram alcunhadas de festival o que se estendeu ao dia-a-dia do pessoal. Muitas vezes as nossas sentinelas detectavam o som da saída das granadas do tubo e disparavam uma rajada ao mesmo tempo que gritavam:
-Festival!!!

Quando a primeira granada chegava já estava quase tudo abrigado. Uma ocasião tal não sucedeu e se alguém pode acreditar em milagres, esses são o Capitão Corvacho e o Alferes Michael (3). Ao correrem para junto da posição do Morteiro de 81 mm, seu posto de combate na circunstância, por pouco não foram atingidos por qualquer coisa que não identificaram de imediato. Quando acabou a flagelação constatou-se que essa coisa era uma granada de morteiro que não explodiu e estava semi-enterrada no solo.

Tomaram-se as precauções necessárias e no dia seguinte a granada foi puxada por um extenso cabo de aço. Mas antes, como bom artilheiro, o Capitão mediu o ângulo de chegada do projéctil com o qual calculou a direcção e a distância de onde tinha sido disparado, para futuras retribuições (4).

Providencialmente o turra tinha-se esquecido de sacar a cavilha de segurança da espoleta antes de meter a granada no tubo!!!

(Continua)

[Subtítulos da responsabilidade do editor]
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Notas do autor


(1) Dispositivo de Lançamento de Granadas de Mão, um engenho português que se adaptava ao cano da espingarda automática G3. Com uma munição especial, facultava o lançamento de granadas de mão a distâncias consideráveis em tiro curvo. Era terrivelmente eficaz quando lançado sobre as copas das árvores, pois as granadas explodiam e fragmentavam-se em direcção ao solo.

O seu uso exigia do atirador muita perícia e, principalmente, concentração, pois se na confusão fosse utilizada munição normal a granada explodia imediatamente. Deu-se um percalço destes com um atirador da CART 1612 que matou dois soldados.

(2) Incidentes das Portas do Cerco que isolaram Macau durante três semanas, nos quais os chineses mataram o Soldado Moçambicano Jacinto Mundau.

(3) Michael Winston Schnitzer da Silva [, alf mil cav, comandante do Pelotão de Reconhecimento Fox nº 1165, ou Pel Rec Fox 1165]


(4) O Morteiro é uma arma de tiro curvo, mas diferente dos obuses ou canhões. Grosso modo pode dizer-se que o projéctil descreve uma trajectória parecida com um V invertido. O alcance da arma (distância para o alvo) é obtido pelas tabelas de inclinação do tubo de lançamento e variação das cargas propulsoras. Assim, identificado o projéctil descobre-se com facilidade a arma que o lançou. Com uma arma igual, ou outra com os ajustes calculados, há muitas probabilidades de fazer um disparo inverso e atingir as redondezas da posição da arma inimiga.
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Nota do editor:

Último poste da série > 27 de maio de 2013 > Guiné 63/74 - P11635: 9º aniversário do nosso blogue: Os melhores postes da I Série (2004/06) (14): Memórias de Guileje ao tempo da CART 1613 (1967/68), por José Neto (1929-2007) - Partes I/II: Formação e mobilização da companhia, que foi render a CCAÇ 1477

Guiné 63/74 - P11653: Em busca de... (223): Pessoal do Pel Mort 1242 (Buba, outubro de 1967/ agosto de 1969) cujos nomes ficaram gravados na "pedra de Buba"... O que é feito de ti, camarada Clemente, ex-alf mil e comandante? E de ti, Simão? E de ti, Laginha?... E de vocês todos, 44 anos anos depois de terem regressado no T/T Uíge, em 23/8/1969?


Foto nº 1 >Guiné-Bissau > Região de Tombali > Buba > Maio de 2013 > "Por aqui passou o Pel Mort 1242 (1967/69)"... Restos do seu memorial, com o respetivo brasão.


Foto nº 2 >Guiné-Bissau > Região de Tombali > Buba > Maio de 2013 > "Por aqui passou o Pel Mort 1242 (1967/69)"...  O que resta do memorial, em pedra, com os nomes de todos os seus militares (1)


Foto nº 3 > Guiné-Bissau > Região de Tombali > Buba > Maio de 2013 > "Por aqui passou o Pel Mort 1242 (1967/69)"...  O que resta do memorial, em pedra, com os nomes de todos os seus militares (2)


Foto nº 4 > Guiné-Bissau > Região de Tombali > Buba > Maio de 2013 > "Por aqui passou o Pel Mort 1242 (1967/69)"...  O que resta do memorial, em pedra, com os nomes de todos os seus militares (3)

Fotos : © José Teixeira (2013). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: LG]



1.  O que é feito de vocês, camaradas do Pel Mort 1242 (Buba, 1967/69)? Por onde param?  Que histórias têm para contar? (*)... A "pedra" de Buba registou para a posteridade os vossos nomes... O José Teixeira e o Francisco Silva passaram por lá, no passado dia 1 de maio (**)  e trouxeram-nos uma foto do vosso memorial que não era aos mortos, mas aos vivos!...

Ainda bem visíveis, gravados na pedra (quase intacta) estão os nomes de:

Clemente
Gomes
Albuquerque
Simão
Correia
Fernandes
Gonçalves
Brito
Sousa (?)
Cerqueira
Pipa (?)
Neto
Gomes
Sarmento
Aurélio (?)
Neto
Pereira
Branquinho (?)
Matias
[...]

[vd. foto nº 3]

e também

Rodrigues
Félix
Macedo
Farropas (?)
Teixeira
M [...]
M. Vieira
Domingos
Laginha
Couto
Venâncio
P. Vieira
P. Barbosa
Lopes
G. Barbosa
Ribeiro
Alves
Carvalho
Reis
Marques
B. Peneira (?)
Oliveira
Anacleto
[...]

[Vd, foto nº 4].

Sabemos, das pesquisas no nosso colaborador José Martins, que o Pel Mort 1242 foi mobilizado pelo BC 10, Chaves, e esteve no TO da Guiné, em Buba, desde  outubro de 1967 até agosto de 1969.  É bem possível que tivesse secções e esquadras espalhadas por outros aquartelamentos e destacamentos da região de Quínara.

Muito provavelmente, o pessoal era transmontano, sendo a unidade mobilizadora o BC 10, de Chaves.  Sabemos que regressou no Uige, em 23/8/1969, juntamente com outras tropas... Esta era lista dos "passageiros", segundo apontamentos do nosso camarada da Reserva Naval, Manuel Lema Santos:

Cmd BCaç 1933/RI 15
CCaç 1790/1791/1792 RI 15
Cmd BCaç 1932/RI 15 CCaç 1787/1788/1789 RI 15
CCaç 1801/1802/ BC 10
Pel Mort 1242/BC 10
Pel AA 1257/RAAF
Pel Rec D 1258/ RC 6.

Se alguém souber do paradeiro atual de algum destes camaradas, que nos avise. Ou se alguém souber da sua história lá pelas terras de Buba, que nos escreva. Eles não têm ninguém que os represente na nossa Tabanca Grande. Há escassas referência, no nosso blogue, ao Pel Mort 1242. (***)
______________

Notas do editor:

(*) Último poste da série > 17 de maio de 2013 > Guiné 63/74 - P11582: Em busca de ... (222): Quem confirma a ida de Brigitte Bardot às praias de Ponta Varela no início dos anos 60? (José Belo)

(**) Vd. poste de 28 de maio de 2013 > Guiné 63/74 - P11649: Crónicas de uma viagem à Guiné-Bissau: de 30 de abril a 12 de maio de 2013: reencontros com o passado (José Teixeira) (2): De Bissau até ao sul: Jugudul, Xitole, Saltinho, Contabane, Buba, Quebo...

(***) Em 1968 estava em Buba o BCAÇ 2834:

Sobre o BCAÇ 2834:

Unidade Mobilizadora: RI 15 - Tomar
Comandante: TCor Inf Carlos Barroso Hipólito
2.º CMDT: Maj Inf Rui Barbosa Mexia Leitão
Of Inf Op/Adj: Maj Inf Albino Simões Teixeira Lino

CMDTs CCS:
Cap SGE António Freitas Novais
Cap Mil Art António Dias Lopes
Cap Inf Eugénio Batista Neves

CMDT CCAÇ 2312: Cap Mil Inf Júlio Máximo Teixeira Trigo
CMDT CCAÇ 2313: Cap Inf Carlos Alberto Oliveira Penim
CMDT CCAÇ 2314: Cap Inf Joaquim de Jesus das Neves

Divisa: "Juntos Venceremos" - "Para Vencer, Convencer"
Partida: 10JAN68
Regresso: 23NOV69

quarta-feira, 29 de maio de 2013

Guiné 63/74 - P11652: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (60): Respostas (nºs 133/134/135): Carlos Rios (CCAÇ 1420, Mansoa e Bissorã, 1965/66); Ricardo Figueiredo (2ª CART / BART 6523, Cabuca, 1973/74); e Manuel Amaro (CCAÇ 2615, Nhacra, Aldeia Formosa e Nhala, 1969/71)

Mais três respostas ao nosso questionário (*), mais três "provas de vida"!... Obrigado, camaradas, a vocês três, que continuam a sentar-se, vivinhos da costa, no nosso bentém, à sombra do nosso mágico, fraterno, mítico, fantástico, maravilhoso, protetor, solidário,  frondoso... poilão da Tabanca Grande!


Resposta nº 133  >  

Carlos Rios [, ex-fur mil, CCAÇ 1420 / BCAÇ 1857, Mansoa e Bissorã, 1965/66]

 Caros camaradas e amigos! 
Lamentando a lentidão da resposta ao Questionário, com a apresentação das minhas desculpas aqui vos envio a minha modesta opinião!

1) Não tenho a certeza absoluta, mas creio que foi em 2010.

2) Através da troca de e-mail`s com o meu camarada de companhia, Henrique de Sacadura Cabral, tendo solicitado também pela mesma via ao co-responsável do blogue Ilmº. Ex-Alferes Cmdº. Virginio Briote, a quem envio um profundo agradecimento e um respeitoso cumprimento a minha adesão ao blogue.

3) Sim, sou membro da Tabanca Grande, puco tempo após o mencionado na alínea 1)

4) Faz parte do meu quotidiano.

5) Sim enviei e fizeram o favor de publicar o que escrevi (um diário em caderninhos), e estou a tentar coligir mais alguma coisa.

6) Não, detesto tudo o que se relaciona com a palavra FACEBOOK, para além de não me entender com aquela metodologia.

7) A resposta está inserta na alínea anterior.

8) O Blogue está estruturado superiormente e todo ele me é agradável e chamativo, agradando-me sobremaneira onde aparecem referências de caracter social.

9) As respostas anteriores são explícitas; creio eu!

10) Não, todavia não esqueço que quando me encontro em 

Ferreira do Zêzere, tenho problemas de lentidão na Internet, globalmente, o que pressupõe uma dificuldade tecnológica simplesmente.

11) Representa um aumento de força anímica, o reencontro e nascimento de grandes amizades, e camaradas, um motor de sociabilidade; o homem é um ser gregário, bem como um aumento e abertura de conhecimentos e cultura na arrumação e estruturação da minha carola. Já vou com 70 anos. O muito obrigado aos camaradas, luis Graça,Carlos Vinhal, e todos os responsáveis do Blogue.

12) Não, nunca participei.

13) As minhas decrépitas condições de saúde levam a que (com muita pena minha), não possa deslocar-me facilmente, pelo que não posso participar, mas envio a minha felicitação pelo 9º Aniversário.

14) Incomensuravelmente!! Sim!!

15) Não tenho capacidade para analisar uma magnificente ideia dos camaradas. Apenas peço que continuem, e notem…

“POR MAIS LONGA E ESCURA QUE SEJA A NOITE O SOL (BLOGUE) VOLTA A BRILHAR” (Autor desconhecido)...

Com o maior abraço de solidariedade


Resposta nº 134 >   

Ricardo Figueiredo [, ex-fur mil,  2ª CART / BART 6523, Cabuca, 1973/74]

(1) Quando é que descobriste o blogue?

Por acaso,quando a nostalgia se apoderou de mim e iniciei a busca da minha 2ªCART/BART 6523 e coloquei no motor de busca CABUCA que me levou ao Blogue e me mostrou o mapa.Estava no ano de 2007.

(2) Como ou através de quem? (por ex., pesquisa no Google, informação de um camarada)

Pesquisa no Google.

(3) És membro da nossa Tabanca Grande (ou tertúlia)? Se sim, desde quando?

Sou membro desde 19 de Janeiro de 2011 [, com o nº 472].

(4) Com que regularidade visitas o blogue? (Diariamente, semanalmente, de tempos a tempos...)

Diariamente. De manhã visito o Diário da República. À tarde o blogue. Tornou-se uma obrigação.

(5) Tens mandado (ou gostarias de mandar mais) material para o Blogue (fotos, textos, comentários, etc.)?

Tenho mandado esporadicamente. Espero em breve aumentar a minha colaboração.

(6) Conheces também a nossa página no Facebook [Tabanca Grande Luís Graça]?

Conheço, mas visito-a com menos regularidade.

(7) Vais mais vezes ao Facebook do que ao Blogue?

Vou mais vezes ao blogue.

(8) O que gostas mais do Blogue? E do Facebook?

A história que se vai escrevendo e as estórias que se vão acumulando numa mescla de realidade e de imaginação. No Facebook não tenho opinião formada.

(9) O que gostas menos do Blogue? E do Facebook?

A política que de forma camuflada de vez em quando se posta , reconhecendo porám o cuidado dos Editores em evitar ao máximo esse tipo de atitudes. Quanto do Facebook não tenho opinião formada pelas razões já expostas.

(10) Tens dificuldade, ultimamente, em aceder ao Blogue? (Tem havido queixas de lentidão no acesso...)

Não tenho tido qualquer problema, talvez pela hora tardia a que acedo.

(11) O que é que o Blogue representou (ou representa ainda hoje para ti? E a nossa página no Facebook?

O Blogue é um meio imprescindível para a compreensão da guerra do Ultramar, do conhecimento da juventude de então, dos seus pensamentos, dos seus actos e das suas omissões e sobretudo um arquivo importantíssimo para a compreensão da HISTÓRIA. Creio que o Blogue será a transposição futura da verdadeira HISTÓRIA,  contada pelos seus intervenientes directos e será qualificado como o único repositório dos verdadeiros factos devidamente documentados e narrados pelos próprios actores.

Sobre o facebook , será sempre uma forma imediata e actual da expressão da comunicação de uma rede social.

(12) Já alguma vez participaste num dos nossos anteriores encontros nacionais?

Não , com muita pena minha.

(13) Este ano, estás a pensar ir ao VIII Encontro Nacional, no dia 8 de junho, em Monte Real?

Gostaria, mas mais uma vez não poderei estar presente.Espero para o próximo ano quebrar estes impedimentos. Sobretudo este ano gostaria de estar para abraçar o JOSÉ SAÚDE , que muito considero e estimo, no lançamento do seu novo livro.

(14) E, por fim, achas que o blogue ainda tem fôlego, força anímica, garra... para continuar?

Naturalmente que sim. Acho que o Blogue nunca será um moribundo,pois graças ao envolvimento que construiu ao longo dos anos, a seriedade que impôs no seu editorial,os filhos e netos dos ex-Combatentes da Guiné, saberão mantê-lo vivo, sabendo homenagear os seus mortos e trazendo à colação muita da documentação que certamente ainda se encontra arquivada.

(15) Outras críticas, sugestões, comentários que queiras fazer.

Continuem com o mesmo espírito e se me é permitido, um abraço muito apertado aos seus Editores pela coragem,trabalho e dedicação com que mantêm o Blogue. BEM HAJAM !


Resposta nº 135 > 

 Manuel Amaro [, ex-fur mil enf, CCAÇ 2615 / BCAÇ 2892, Nhacra, Aldeia Formosa e Nhala, 1969/71]

Caros Editores

Com um pedido de desculpas pela demora, aqui vai a minha resposta ao referido questionário.

1 - Descobri o blogue em Abril de 2008.

2 - Estava a fazer uma pesquisa sobre o Capitão Salgueiro Maia, para uma comunicação que ia fazer numa aula, sobre o 25 de Abril de 1974.

3 – Sou membro desta família desde 27 de Maio de 2008.

4 – Consulto o blogue, em média duas vezes por dia, embora por vezes esteja dias sem consultar.

5 – Já enviei vários textos, que foram publicados e faço comentários com frequência.

6 – No Facebook não tenho participado.

7 – Só vou ao blogue.

8 – Gosto de ler boas estórias, sejam elas “guerreiras” ou sociais, bons poemas e ver boas fotos.

9 – Não gostei de ler alguns textos doutrinários, algumas polémicas exageradas... sobre quem ganhou, quem perdeu, onde reuniu o PAIGC em 1973, quem matou Amílcar Cabral e mesmo sobre um texto do livro do Rui Alexandrino Ferreira, escrito pelo Major General Pezarat Correia. Até porque é sempre possível discordar sem recorrer à ofensa. E isso nem sempre foi conseguido. Mas, que diabo, ex-combatentes, seniores, também têm que ser tolerantes.

10 – Nunca tive dificuldade em aceder ao blogue.

11 – O blogue representou e representa muito para mim. Sem ser “lamechas”, foi aqui que reencontrei um grande amigo que estava “desaparecido” desde 1967: O Zé Teixeira. Foi aqui que reencontrei o Mário Pinto, o Arménio Santos, o Mário Fitas e o Alberto Branquinho. Foi aqui que voltei a ouvir falar, ler estórias e ver fotos de Buba, Nhala e Quebo, que foram as minhas “terras” na Guiné. É aqui que encontro ex-combatentes, gente que sentiu e que sente a Guiné como fazendo parte das suas vidas. O blogue é hoje uma das minhas referências de vida.

12 – Já participei em três Encontros Nacionais, em 2009/10/11, em Ortigosa e Monte Real.

13 – Este ano não vou participar porque estarei ausente, noutra missão, de 2 a 21 de Junho.

14 – Sim. Acho que o blogue tem todas as condições para continuar e para se fortalecer. Basta ver o trabalho feito até hoje pelo Comandante Luís Graça e pela Equipa de Editores.

15 – Sugestões? Bem sugestões, sugestões, não sei muito bem. Talvez continuar a trabalhar com o mesmo entusiasmo. Talvez com entusiasmo redobrado. Se o caminho percorrido valeu a pena, é seguir no mesmo caminho, de cabeça erguida. Sim, é isso. Porque o dever foi cumprido e as consciências estão tranquilas. Tenho dito... e escrito. Com um abraço.
______________

Nota do editor:

Último poste da série > Guiné 63/74 - P11643: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (59): Respostas (nºs 130/131/132): Albano Gomes (CART 2339, Fá Mandinga, Mansambo, 1968/69): João Nunes ( CCAÇ 4544, Cafal Balanta e Bolama, 1973/74); e Joaquim Sequeira (BENG 447, Bissau, 1965/67)

(...) Questionário ao leitor do blogue:

(1) Quando é que descobriste o blogue?
(2) Como ou através de quem? (por ex., pesquisa no Google, informação de um camarada)
(3) És membro da nossa Tabanca Grande (ou tertúlia)? Se sim, desde quando?
(4) Com que regularidade visitas o blogue? (Diariamente, semanalmente, de tempos a tempos...)
(5) Tens mandado (ou gostarias de mandar mais) material para o Blogue (fotos, textos, comentários, etc.)?
(6) Conheces também a nossa página no Facebook [Tabanca Grande Luís Graça]?
(7) Vais mais vezes ao Facebook do que ao Blogue?
(8) O que gostas mais do Blogue? E do Facebook?
(9) O que gostas menos do Blogue? E do Facebook?
(10) Tens dificuldade, ultimamente, em aceder ao Blogue? (Tem havido queixas de lentidão no acesso...)
(11) O que é que o Blogue representou (ou representa ainda hoje para ti? E a nossa página no Facebook?
(12) Já alguma vez participaste num dos nossos anteriores encontros nacionais?
(13) Este ano, estás a pensar ir ao VIII Encontro Nacional, no dia 8 de junho, em Monte Real?
(14) E, por fim, achas que o blogue ainda tem fôlego, força anímica, garra... para continuar?
(15) Outras críticas, sugestões, comentários que queiras fazer. (...)

Quem não respondeu (e, portanto, não fez a "prova de vida"...), ainda vai a tempo. O blogue agradece. Contunuamos a celebrar, com alegria comedida, o nosso 9º aniversário. Nove anos a blogar são cinco comissões na Guiné!... É obra, meus caros coeditores Carlos, Eduardo, Virgínio, e demais colaboradores, autores, tabanqueiros e leitores!... 

Responder por email para: luisgracaecamaradasdaguine@gmail.com 

Guiné 63/74 - P11651: Tabanca Grande (401): Joaquim Moreira Cardoso, ex-Soldado TRMS do Pel Mort 4574 (Nova Lamego, 1972/74)

Vista aérea da tabanca de Nova Lamego

Foto: © Manuel Caldeira Coelho (2011). Todos os direitos reservados.


1. No passado dia 19 de Abril de 2013, recebemos do nosso camarada e novo tertuliano Joaquim Moreira Cardoso, ex-Soldado de TRMS do Pel Mort 4574, Nova Lamego, 1972/74, esta mensagem:

Sr. Luís Graça
Porque não nos conhecemos, tomo a liberdade de o tratar desta forma para lhe solicitar o seguinte:
- Desde há pouco tempo atrás, venho pesquisando os vossos blogs da Tabanca Grande, encontrando fotos inseridas no blog, (A.Santos Gabu Sara - Guiné-Bissau 1972/74), que me são "familiares".

A foto que retrata o Posto de transmissôes por Rádio e três militares, o que se encontra a ler algo, sou eu. Como são colegas, (entre outros), que tanto prezo e jamais voltei a encontrar, "aguçou-me o apetite" de, ( se houver lugar e mo permitirem ), entrar na vossa Tabanca, tentando desta forma alguma aproximação com amigos de longa data.

Agradeço que me informe o que se torna necessário para a minha entrada. Aproveitando a oportunidade, ficaria-lhe também muito grato que este assunto fosse levado ao conhecimento do bloguista A.Santos, soldado de transmissões do Pelotão de Morteiros 4574 já acima referido, mais o humorístico complemento.

Porque a Guerra agora é outra, disparei este pacífico foguetão que tem como único objectivo, (se explodir no local pretendido), noticiar a um amigo que não vejo há mais de 40 anos, principalmente duas coisas: 
- a primeira é que ainda sou vivo e com forças para lhe dar um abraço "do tamanho do mundo"; 
- a segunda, disponibilizar os meios através dos quais me poderá contactar, sabendo algo mais acerca deste intruso que está ansioso por lhe falar.

 Esperando ter sucesso, é tudo de momento. 
Obrigado a todos, um forte abraço e até breve.
Joaquim Moreira Cardoso


2. Cabe aqui uma lamentável nota. O camarada Cardoso nunca obteve resposta à sua mensagem porque o editor de serviço a perdeu de vista.


Zona Leste > Sector L3 > Nova Lamego > Na foto, António Santos a "transmitir" e o Joaquim Cardoso, em primeiro plano, a ler

Foto: © António Santos(2006). Direitos reservados. Legenda: CV


3. Assim, e felizmente, o Cardoso insistindo, mandou-nos esta mensagem no passado dia 27 deste mês de Maio:

Caro Sr. 
Com os meus cumprimentos envio este mail para o seguinte: 
- Há tempos atrás, ao pesquisar algo relacionado com história de Portugal, encontrei muito casualmente o vosso blog tabanca grande e, ao abri-lo, deparei-me com uma agradável surpresa! Ali são expostas entre outras coisas, fotos dos meus ex-camaradas do Pelotão de Morteiros 4574 tiradas no Gabu Sara - Guiné nos anos 1972/74 nomeadamente, o Santos, o Graça e o Vasco. 
Éramos os quatro das transmissões que, por ironia do destino, não nos vemos há mais de 40 anos. 
Com esta "descoberta" ficou-me na cabeça a ideia de um dia formalizar o pedido de entrada na vossa tabanca, o que hoje concretizo, será aceite? 
Caso afirmativo anexo duas fotos, uma antiga vestido de militar e outra actual à civil.

Segue o meu nome, residência e contactos:
Joaquim Moreira Cardoso 
Ex-soldado de transmissões de Infantaria
NM 19453071 
Residente em Castelões - Penafiel 

Aguardando notícias, renovo os meus cumprimentos e subscrevo-me 
J. Cardoso.


4. Comentário do editor

Caro camarada Joaquim Cardoso
Tivesse eu a têmpera do Egas Moniz e apresentar-me-ia perante ti com uma corda ao pescoço, mas como não sou nenhum valente nem gosto de gravata, limito-me a pedir-te publicamente desculpa por ter perdido de vista a tua mensagem de 19 de Abril, logo não te ter dado resposta.

Em boa hora resolveste insistir e agora sim vais ser apresentado formalmente à tertúlia.
Podes perguntar porque não é o editor Luís Graça a responder-te, já que até te dirigiste a ele? Respondo eu, porque, como trabalho por estes lados é coisa que não falta, tentamos distribuir tarefas e algumas funções. É suposto eu responder aos camaradas que se querem juntar a nós, só que desta vez falhei.

Acho que o António Santos, um camaradão que eu tenho o prazer de conhecer pessoalmente, vai ficar contente por te juntares a ele neste Blogue e por a partir de agora poderes participar nos Convívios do Pel Mort 4574, o próximo já no dia 1 de Junho. Espero que te tenhas já inscrito. Vê aqui, é só clicares: Guiné 63/74 - P11551: Convívios (519): 9.º Almoço de confraternização do pessoal do Pel Mort 4574/72 em Almeirim no dia 1 de Junho de 2013 (António Santos)

Se quiseres contribuir com as tuas fotos e algumas das tuas memórias escritas, manda-as para a caixa de correio do editor Luís Graça e para a de um dos co-editores, eu ou Eduardo Magalhães.

Por outro lado, se tiveres necessidade de algum esclarecimento adicional não hesites em solicitá-lo.

E por falar em esclarecimento, ficas desde já a saber que na tertúlia não há nenhuma distinção entre os camaradas, que por o serem, se tratam todos por tu.

Recebe um abraço em nome da tertúlia e dos editores.

O teu camarada e novo amigo
Carlos Vinhal
____________

Nota do editor

Último poste da série de 28 DE MAIO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11641: Tabanca Grande (400): Almiro da Silva Gonçalves, ex-Soldado TRMS de Inf do Pel Mort 4580 (Bambadinca, 1973/74)

Guiné 63/74 - P11650: Cartas de amor e guerra (Manuel Joaquim, ex-fur mil, arm pes inf, CCAÇ 1419, Bissau, Bissorã e Mansabá, 1965/67) (14): Ciúmes

1. Em mensagem do dia 27 de Maio de 2013, o nosso camarada  Manuel Joaquim (ex-Fur Mil de Armas Pesadas da CCAÇ 1419, BissauBissorã e Mansabá, 1965/67), enviou-nos a sua décima quarta "Carta de Amor e Guerra".


CARTAS DE AMOR E GUERRA

14 - Ciúmes

Vale de Figueira, 9-Fevereiro-66 
Meu M. querido, acho um pouco estranho não ter recebido notícias tuas, sábado. Esperava-as com ansiedade tanto mais que havias prometido escrever acerca de um assunto em que eu não tinha nem sequer pensado. (… … …). 
(…). 
Isto foi o prefácio para me pôr à vontade contigo. Tenho um assunto mais delicado a focar-te. 

Previno-te já que não gozes. Está bem, meu querido? 

Fotos: D. em Lisboa (1967) e M. em Bissorã (1966)

Gosto muito, muito de ti. Mas isso não é suficiente para que não sinta certas dúvidas e desconfianças quando posta ao corrente das reacções de tantos perante a vida que levam as moças de quem gostam. Eles não gostam disto ou daquilo, sentem ciúmes, etc. Ora, em todo este tempo de convivência nunca me apercebi de que, contigo, acontecesse tal. Não te rias, meu M., já sabes que detesto ser objecto de troça.

Mas existe ou não existe ciúme, o mínimo que seja, em relação a mim? Nunca me apercebi dessa existência e agora preocupo-me, sinto-me muitas vezes até diminuída, ao ouvir o que as minhas colegas me contam de noivos ciumentos. E ao expor-lhes certos pontos de como decorre o nosso namoro, elas estranham e eu deduzo que não acreditam nas tuas boas intenções a meu respeito.
(…). Mesmo assim, meu querido, acredito na tua sinceridade, na tua lealdade, numa retribuição completa, total, dos meus sentimentos.
Ainda assim, atrevo-me a perguntar-te:
- Sentes ciúmes de mim? Principalmente agora, que estamos tão distanciados, que estou empregada e que mantenho uma correspondência íntima com um grande amigo?
Explica-me, esclarece o que te for possível neste sentido. Está bem? (…).Com todo o meu amor, beijo-te e abraço-te intensamente. (…).


Bissorã, 24FEV66 
Não, minha querida, o teu comportamento nos últimos tempos de maneira nenhuma influenciou os meus silêncios, de vez em quando mais prolongados do que o costume. Tu sabes que estou contigo. Então para quê todos esses receios, por possíveis zangas minhas? 
(… … …). 
E, para a próxima, não andes por aí a atrapalhar-te com os meus aborrecimentos sem primeiro veres, com olhos de ver, o que te escrevo. 
(… … …). 
E vamos lá então falar um bocadito dos ciúmes que queres que tenha. 
Que queres que te diga? Forçosamente que os tenho mas numa quantidade muito relativa. Quero-te para mim, sim senhor. Mas quero-te para mim com a certeza de que és minha, te dás ao teu M. totalmente. O que é que me pode provocar ciúmes? Saber que te escreves com uma espécie de “rival” meu ou saber que acompanhas rapazes por aqui ou por ali? Não. 

Concedo às pessoas a máxima liberdade na máxima responsabilidade. Saber que anda um moço tentando conquistar-te, não me aflige. Fico à espera. E superficialmente advém-me uma certa aversão ao moço ou mesmo a ti (estou a falar num hipotético exemplo). Mas o meu espírito crítico põe-se logo em acção. Porquê tu com o outro? Os resultados não me afligem. Se me deixas e vais para o outro é porque, na verdade, eu te não sirvo, (…). 
Ciúmes duradoiros, não tenho. Ciúmes depois da reflexão, não tenho. Podes ter a certeza de que, se um dia te encontrasse ”fazendo amor” com um rapaz qualquer, estarias sujeita a levar dois estalos ou levarias mesmo [!!!], não pelo que estavas a fazer mas por me teres mentido. Ponho todas as hipóteses: 
Casamos. Se se desse o caso de teres encontrado um homem que te fizesse esquecer-me e mo dissesses, eu ajudar-te-ia inclusivamente a ires ao seu encontro [!]. Se eu entrasse em casa e vos visse aos dois na cama ou soubesse que a esposa se escapulia para ir ao encontro do “amado” então o caso mudaria de figura. A “queridinha” seria aquele bombo de festa [!!!]. Está claro que num ou noutro caso separar-me-ia imediatamente. Se eu confio plenamente em ti, como posso ser ciumento? Se eu confio plenamente na tua capacidade de escolheres o caminho que desejas, como posso ter ciúmes? Não sei como te hei-de explicar mas, o que é certo, é que não sou ciumento, no verdadeiro sentido da palavra. Estou a teu lado enquanto estiver convencido de que és aquela que quero ou até que me queiras. Hoje, amanhã, daqui a anos, a separação existirá se se verificar que fomos uns “patinhos” e que não servimos um para o outro. Resta-me agora acrescentar que não acredito nada em que isto possa acontecer. Amo-te e creio no teu amor, no nosso grande amor. Se o tema ciúme não estiver bem explicado, diz. Para a próxima continuo. 
Abraço-te e beijo-te, meu amor. M.


Lisboa, 1-Março-1966 Querido M. 
(…). Não há um dia em que tu não sejas recordado por mim com extrema saudade. Com a certeza do grande Amor que nos une, a vida ainda vale a pena, apesar de tudo. Conheci-te num período decisivo da minha vida, (…) agora nunca poderás sair dela, aconteça o que acontecer. 
(… … …). 
Agradeço-te, (…), o acolhimento, a compreensão, o estímulo com que aceitas e destrinças os meus problemas. Satisfez-me muito a tua explicação, os teus pontos de vista sobre o problema “ciúme”, (…). Um abraço, meu querido. Não de gratidão mas de certeza e afirmação de que te quero, um testemunho de que me serves. Essa tua explanação de ideias é suficiente, não preciso mais de falar em tal. Continuarei a merecer essa tua confiança como até agora, com a certeza de que posso contar contigo. Meu amor, talvez que quando esta carta te chegar às mãos já terás notícias da tua Mãezinha [hospitalizada]. Mesmo assim, afirmo-te que está excelente. Tenciona ir para casa esta semana. Podes descansar, meu querido, que já não corre perigo. 
(… … …). 
(…). Como anseio o teu regresso! Abraça-me, querido … Aperta-me nos teus braços como só tu sabes. (…). Autoriza que te grite uma vez mais que te amo muito, (…). (…). 
P.S. Diz-me os livros que gostarás de adquirir (…), tenho agora oportunidade de os mandar por um rapaz meu conhecido que embarca para aí a 22 do corrente. Está bem? Pede tudo o mais que quiseres. 
Beijo-te. (…).
____________

Nota do editor

Último poste da série de 23 DE MAIO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11614: Cartas de amor e guerra (Manuel Joaquim, ex-fur mil, arm pes inf, CCAÇ 1419, Bissau, Bissorã e Mansabá, 1965/67) (13): Religiosidade

Guiné 63/74 - P11649: Crónicas de uma viagem à Guiné-Bissau: de 30 de abril a 12 de maio de 2013: reencontros com o passado (José Teixeira) (2): De Bissau até ao sul: Jugudul, Xitole, Saltinho, Contabane, Buba, Quebo...


Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Xitole > Maio de 2013 > Restos do forte na Ponte dos Fulas

Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Xitole > Maio de 2013 > A mesquita do Xitole


Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Xitole > 1 de Maio de 2013 > O Francisco Silva junto ao memorial (ou o que resta dele) aos mortos da CART 2413.

[ A CART 2413 (Xitole, 1968/70), uma companhia com quem a CCAÇ 12 fez diversas operações no seu sector Esta subunidade, que será substituída pela CART 2716 (1970/72), teve 4 mortos, a saber (e de acordo com a lápide constante da imagem acima):

(i) Sold At Manuel de Sousa Branco, natural de Areosa, Rio Tinto, Gondomar, CART 2413/BCAÇ 2852, morto em combate, 25/10/1968. Os restos mortais estão no cemitério da sua Freguesia Natal (segundo a completíssima lista publicada pelo portal Utramar Terraweb, relativa aos mortos da guerra do Ultramar do concelho de Gondomar; acrescente-se: não só a mais completa como a mais fiável da lista dos mortos da guerra do ultramar, disponível na Internet);

(ii) Sold At Joaquim Gomes Dias Vale de Ossos, natural de Fradelos, Vila Nova de Famalicão, morto por afogamento em 7/11/1968. Está sepultado no cemitério da sua Freguesia Natal (Fonte: Portal Ultramar Terraweb);

(iii) Sold At Crispim Almeida da Costa, natural de Monte Calvo, Romariz, Santa Maria da Feira, falecido por doença em 3/4/1969 doença, e sepultado no cemitério da sua Freguesia Natal (Fonte: Portal Ultramar Terraweb);

(iv) Sold At Mário Ferreira de Azevedo, nascido em Cavadas, Vermoim, Maia, falecido também por doença, em 22/12/1969, e sepultado no cemitério concelhio (Fonte: Portal Ultramar Terraweb).



Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Xitole > 1 de Maio de 1974 > O Francisco Silva (e em segundo plano a Armanda e a Elisabete) com habitantes do Xitole, falando do passado.



Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Saltinho  > 1 de Maio de 2013 > O Rio Corubal... Ainda um "paraíso do Saltinho"...


Guiné-Bissau > Região de Tombali  > Contabane > 1 de Maio de 2013 > O Régulo de Contabane, o Suleimane, com a sua família,  mais o  Zé Teixeira e esposa, Armanda:  amizades que perduram.


Guiné-Bissau > Região de Tombali  > Quebo > 1 de Maio de 2013 > A feira semanal, sempre colorida e movimentada.



Guiné-Bissau > Região de Tombali  > Buba > 1 de Maio de 2013  > Por aqui passou o Pel Mort  1242 (1967/69).


Guiné-Bissau > Região de Tombali  > Buba > Maio de 2013  > Memorial do Pel Mort  1242 (1967/69). Ainda legíveis os nomes e quase todo os militares portugueses que o compunham. Era seu comandante o alf mil Clemente.

Fotos (e legendas): © José Teixeira (2013). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar:  LG]


Crónicas de uma viagem à Guiné-Bissau (28 de Abril - 12 de maio de 2013) - Parte II

por José Teixeira [, membro sénior da Tabanca Grande e ativista solidário da Tabanca Pequena, ONGD, de Matosinhos; partiu de Casablanca, de avião, e chegou a Bissau, já na madrugada do dia 30 de abril de 2013]


Partimos de Bissau pela manhã do dia seguinte [, 1 de maio, 4ª feira],  bem cedinho, com destino à Pousado do Saltinho [, onde pernoitámos]. O nosso destino final era Iemberém. Por agora queríamos peregrinar pelo Xitole, terra que o Francisco Silva bem conhecia e da qual estava roído de saudades (1).

Depois continuaríamos por Quebo, Mampatá Forreá e Buba, atravessar o rio Balana, subir a Gandembel, apanhar o carreiro da morte ou estrada da liberdade e seguir até Guiledje para apreciar o museu que a AD Acção para o Desenvolvimento está a construir para memória futura dum tempo que foi de sangue suor e lágrimas, muitas lágrimas.

Pernoitámos no Saltinho, depois de uma tarde bem vivida no Xitole, onde o Francisco Silva poisou e viveu grande parte da "sua" guerra, mas antes atravessamos parte da Guiné profunda em que em cada canto há uma estória para contar. 

A pista de Amedalae, ou a estrada transformada em pista de aviação para descarga da mal fadada droga, o Matu Cão, do Alfero Cabral, a Ponte dos Fulas, ou o Sr. Manuel Simões.  do Jugudul, o senhor que geria a empresa, à qual o exército português fretava os barcos para levar os mantimentos às suas tropas no interior. Amigo do Amílcar Cabral, a cujo funeral foi, transportando a bandeira do clube onde ambos eram associados e não foi preso quando regressou a Bissau. No fim da guerra comprou ao Nino Vieira o quartel do Jugudul e montou um alambique de água ardente de cana.

O negócio está mau, também para o Sr. Manuel,  ou o Nelinho Simões,  como era conhecido nos seus tempos de menino em Bolama. Hoje o alambique está parado. Não há dinheiro para comprar aguardente. Até o "choro" aos mortos deixou de ser aquela festança de arromba. Vai-se servindo o vinho de palma e o vinho de cajú, à falta de melhor.

Esta paragem no Saltinho foi uma oportunidade para mim de visitar um velho amigo de Mampatá, o Suleimane, atual Régulo de Contabane e sua mulher,  a Náná. Companheiros da minha juventude no que foi o melhor tempo que vivi na guerra. Não, porque houvesse paz, mas porque o povo de Mampatá, melhor que ninguém soube acolher-me na juventude perdida na guerra em que não queria participar.

Saboroso acolhimento, na companhia da minha esposa, que desta vez aceitou o desafio de me acompanhar nesta peregrinação à Guiné que não me cansa. Em cada passagem ficam memórias que persistem e obrigam a repensar um regresso

Gente extremamente simpática que sabe receber com calor humano e carinho. Gosto de conversar com eles e aprendo sempre qualquer coisa de novo. Aguardo agora que venham a Portugal para os poder acolher em minha casa.

Aqui, no Saltinho,  houve tempo para dar um mergulho no Rio Corubal, com as suas margens que nos transportam ao paraíso pela verdejante beleza natural que nos permitem desfrutar e lá seguimos para Quebo à procura do Habibo, o chefe da polícia local, também ele companheiro de outros tempos. Foi só um abraço, uma passagem pela feira que decorria e partimos de novo até Mampatá, a minha segunda terra. Um saltinho a Buba para rever a bela paisagem, agora perdida numa extensa plantação de cajueiros e onde não se pode tirar uma foto, nem aos memoriais deixados pelos militares portugueses.

 Zé Teixeira

Continua)

_______________

Nota do autor:

(1) Este reencontro do Francisco, no Xitole, vai merecer uma crónica especial.

Guiné 63/74 - P11648: Blogpoesia (342): Antologia: Poemas de Maio, de Ovar a Mafra, entre o céu e o inferno, com as bolanhas de Tombali ao fundo (J. L. Mendes Gomes)



Álbum do José Neto (1929-2007) > Guiné > Região de Tombali > Guileje > CART 1613 (1966/68) > Foto nº 8: fim de tarde


Álbum do José Neto (1929-2007) > Guiné > Região de Tombali > Guileje > CART 1613 (1966/68) > Foto nº 6: bando de jagudis 


Fotos: © José Neto (2005) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados

Lavo minha alma…

Encomendo minha alma a Deus,
Todas as noites,
Antes de dormir.
Pode ela não mais acordar. 
E subir ao céu.
Onde, perdidamente,
Para sempre, 
Restaria triste.
Como um anjo
Que voou da terra,
E apareceu a Deus,
Sem se lavar…

Ovar, 17 de Maio de 2013
16h37m

Subindo à montanha

Arregaço as mangas.
Pego na pena.
Lanço meus olhos
Para o infinito do céu.
Estremeço, de medo,
Na escuridão que o cobre.
Nem uma estrela sozinha aparece.
Tremente.
É o silêncio. 
E o ermo.
Ergo uma prece
Uma luz que rasgue e desfaça
Em pedaços as trevas
E negrumes de todas as serras.
Lanço no mar
Minhas cordas e amarras que prendem.
Levanto e bato as asas do sonho,
E parto à sorte e ao vento.
Atravesso as nuvens.
E eis que, num espanto,
Entro num céu vasto de luz.
Só o silêncio
Aqui reina, inunda e seduz.
Surgem flores de todas as cores.
Abro janelas em mim.
Entra uma aragem suave
Que inunda minha alma. 
Meus olhos cerrados voltam a ver.
Passam clarões pela frente.
Que me inundam de rastos.
Tento apanhar pedaços e restos
Como quem colhe flores.
Quando vou a tocar-lhes,
Desfazem-se em fumo,
E se escondem no espaço.
Mas parecem brincar,
Vão a sorrir. 
Corro no encalço,
Encantado e sedento.
Não desisto e tento.
E uma lufada de vento mais forte
Rasga as cortinas
E me mostra um jardim.
Fico suspenso.
Ressoam, cá dentro,
Ondas indizíveis,
Pintadas de tons
De todas as cores
Que me deixam feliz.
E começo a pintar e escrever…


Mafra, 23 de Maio de 2013
7h43m

Que grande estrumeira!

Eles entram-me em bando,
Pelas frestas da minha janela.
Como mosquitos.
Zumbem. Vêm vorazes.
Chupam-me o sangue.
Só me deixam os ossos.

Piores do que larvas.
Piores que serpentes.
Trazem lama nas patas.
Como lagartas.
Minhas escadas ficam sujas
De sangue e terra.
Estou desarmado.
Deixei minha G3,
Nas bolanhas da Guiné,
Tão longe.
Se não correria com eles
Com rajadas de os derreter.
Nem um só ficava.
Assim, só a pontapé.
Já me falta o sangue…
Já pedi socorro.
Ninguém atende.
Só um tornado gigante.
Do Oklahoma.
Que os meta em coma.
Depois o lixo.

Que grande estrumeira
Me restou em casa!...

Mafra, 21 de Maio de 2013
20h49m


Fecunda guerra...

Caem pedras no meu telhado.
Chovem na minha cama
Cinzas negras
Dum vendaval feroz.
Oiço cães na rua.
Vêm esfaimados
Das mansões de luz.
Passam os coveiros
De enxada nas mãos.
Querem enterrar-nos vivos.
Por ordem d’alguém.
Estilhaçaram tudo.
Com vestes de anjos.
Querem o meu sangue
Para o seu festim.
São canibais de fome...
Devoraram os pais.
Não poupam ninguém.
Deixei minha G-3
Nas bolanhas de África.
Minha cartucheira amada.
Agora é que eu a queria
Mesmo à cabeceira.
Nem um só escapava.
Mesmo sem pontaria.
Ia tudo a eito.
Até que, de novo, a paz
Voltasse a nascer...
E minha terra verde
Me visse a morrer.

Ovar, 27 de Maio de 2013
14h53m



Batuque no meu quintal

Armei uma tenda grande
No meu quintal.
De caqui da tropa.
Pequei num tambor
E pus-me a tocar.
Aquele batuque,
Soturno e longo,
Bem à moda da Guiné.
A passarada à volta,
Apardalada,
Foi a primeira.
Debandou em alvoroço.
Por momentos,
Fiquei só eu
E o agudo latir
Dos cães do povoado.
Foi só um pouco.
Um a um,
Depois em grupo,
Foram chegando,
Espavoridos,
Primeiro, os vizinhos,
Depois, de mais longe,
Os mais curiosos.
Ainda assim, eram vizinhos.
Não levou muito.

Uma magna assembleia,
Vinda de longe e perto,
Se prantou a ouvir
O trinado forte
E toques simples
Que não dizem nada...
São só batuque!

Ovar, 28 de Maio de 2013
8h12m

Serei feliz...

Custe o que custar,
Prometi a mim mesmo
Que serei feliz.
Tenho Fé!...
Não há vagas,
Não há rochedos
Que eu não escale
De olhos presos
E o coração livre.
Não preciso de asas.
Basta um balão
E uma chama a arder.
O vento me leva,
Rumo ao infinito.
Basta soltar amarras
E deixar-me ir.
É lá do alto,
Por cima das nuvens
Que se vê o céu.
Como é pequena e simples
Esta terra azul.
Nem os montes mais altos
Me conseguem tocar.
Quanto mais subir
Mais pequenos ficam.
Já não há impérios,
Nem coações ferozes
Que me prendam o leme.
É só neste mundo livre
Que eu quero florir.

Ovar, 28 de Maio de 2013
13h58m

Joaquim Luís Monteiro Mendes Gomes

[ex-alf mil, CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66]

[Seleção dos poemas, enviados por email ao longo do mês de maio, e título da antologia: L.G.]

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Nota do editor:
Último poste da série > 27 de maio de 2013 > Guiné 63/74 - P11638: Blogpoesia (341): Ainda o paludismo... (Manuel Maia)

Guiné 63/74 - P11647: Parabéns a você (582): António Vaz, ex-Cap Mil, CMDT da CART 1746 (Guiné, 1967/69)

Com um voto especial de rápidas e definitivas melhoras
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Nota do editor

Último poste da série de 27 DE MAIO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11634: Parabéns a você (581): António Manuel Salvador, ex-1.º Cabo Aux Enf da CCAÇ 4740 (Guiné, 1972/74)

terça-feira, 28 de maio de 2013

Guiné 63/74 - P11646: Bom ou mau tempo na bolanha (12): O meu 10 de Junho (Tony Borié)

Décimo segundo episódio da série Bom ou mau tempo na bolanha, do nosso camarada Tony Borié, ex-1.º Cabo Operador Cripto do Cmd Agru 16, Mansoa, 1964/66.




Companheiros e amigos combatentes, no dia 10 de Junho, em Portugal, celebra-se o dia do combatente, e eu aqui, um pouco distante, é o único dia no ano que uso com muito orgulho as insígnias comemorativas das campanhas da Guiné, que me foram colocadas no peito, no Forte da Amura, em Bissau, em Maio de 1966, pouco tempo antes de ter embarcado no navio “Uíge”. E nesse dia devíamos ser nós os combatentes, tal como disse o nosso camarada combatente José Colaço, acompanhado por muitos, que sofreram no corpo aquela guerra, a falar e expressar o profundo sentimento que nos vai na alma. Eu, colocando-me numa hipotética personagem de um filho, cujo pai morreu nas bolanhas e savanas da Guiné, vou contar-vos este texto, que não é bem um texto, é um expressar de um sentimento profundo e quase real, de um filho que ainda chora o pai morto em combate, portanto tirem um minuto e leiam.

Claro que ele me disse, com os olhos chorosos, que é por profundo sentimento que faz isto. Fiquei tão impressionado quando ele falou e pediu a todos para serem atenciosos e lembrarem o que as vidas representadas por aquelas pedras, naquele cemitério de aldeia, significavam.


Quem estava na minha frente e falava era um antigo Combatente do Ultramar, tinha barba crescida, cara com rugas e uma boina muito velha, mas com um emblema muito brilhante. Depois de muito emocionado, ter falado que conheceu o meu pai, que lutou e sofreu junto a ele, que se riu e confraternizou com ele, que ambos viveram debaixo de um miserável abrigo, que eram como irmãos, sabiam segredos um do outro, ajudavam-se e repartiam as agruras de uma maldita guerra, e que um maldito dia, uma mina rebentou-lhe debaixo dos pés, mesmo debaixo daquelas botas já velhas, quase com vinte e dois meses, que conheciam o som dos tiros, o rebentamento de uma granada, as bolanhas e algum tarrafo que existiam na zona de combate onde estava estacionado, foi ele que recolheu o resto do seu corpo.


Esse combatente, limpando uma lágrima, agarrou ainda com alguma força numa coroa de flores, entregou essa mesma coroa de flores a mim. A minha mãe, mal se podendo erguer, limpando constantemente os olhos com um lenço branco, o mesmo que tinha acenado ao meu pai, na despedida, já grávida e trazendo-me na sua barriga, no cais de embarque em Lisboa, antes de ir para a Guiné, que o meu pai lhe tinha oferecido, escolheu a minha neta mais nova para colocar a coroa de flores no túmulo de meu pai, porque essa minha neta, ainda leva o seu nome, e via-se que estava muito orgulhosa. Mais tarde a minha mãe, mostrou-nos um livro com fotografias a preto e branco e estava lá na última página a legenda:

“NÓS, ORGULHOSOS DE TI, NUNCA TE VAMOS ESQUECER”


Isto significou muito para mim, e eu percebi que já fazia parte da minha dor, os meus filhos nunca o conheceram, os meus netos nunca irão encontrá-lo, e eu estava com medo que ele um dia, o meu querido pai, morto em combate nas bolanhas e savanas da Guiné, fosse esquecido.

E virando-me para esse antigo combatente, com a barba crescida, cara com rugas e uma boina muito velha, mas com um emblema muito brilhante, disse-lhe:

POR CAUSA DE TI, O MEU PAI NUNCA VAI SER ESQUECIDO


Tony Borie, 10 de Junho de 2013
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Nota do editor

Último poste da série de 25 DE MAIO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11628: Bom ou mau tempo na bolanha (11): Diz-me com quem andas... (Tony Borié)