1. Mensagem do nosso camarada Belmiro Tavares (ex-Alf Mil, CCAÇ 675, Quinhamel, Binta e Farim,
1964/66), com data de 10 de Outubro de 2012, com um esclarecimento dirigido a José Manuel Silva Estanqueiro que comentou o Poste 10476:
Caro Senhor José Manuel
Acabo de receber o seu comentário* ao meu texto sobre factos concretos e verídicos que eu vivi intensamente na famigerada guerra da Guiné.
1º - Antes de mais, pretendo informar que não tinha conhecimento que os não combatentes e/ou ex-combatentes doutros TO “ eram mal aceites” neste blog. Acontece que este é um blog de ex-combatentes da Guiné (apenas) e tem as suas regras como tudo na vida. Na verdade, cada um vê as coisas um pouco de acordo com a sua vivência dos acontecimentos e o seu interesse. Pretendo dizer que sendo a guerra da Guiné diferente – pior – das outras duas, nós vivemos os temas e reproduzimo-los de modo dissemelhante. De qualquer modo, uma coisa será ser “mal aceite” (a sua opinião), outra será ser proibido de entrar.
2º - Gostaria que o Sr. José Manuel me informasse:
a) Se é ex-combatente;
b) Se afirmativo, em qual TO participou
c) Qual o posto
d) Em que arma esteve inserido.
3º - Não compreendo que, em termos práticos, não distinga entre um oficial do QP e um do SG. Permito-me não explicar
4º - Se tem dúvidas que um castigo em OS prejudicava tremendamente o ex-militar (de novo na vida civil), apenas direi que um furriel miliciano da minha companhia – a gloriosa CCaç 675 – era funcionário das Finanças em Ponte de Lima; foi punido na Guiné e, quando chegou ao seu antigo posto de trabalho, foi informado que já não era funcionário público. Basta!
5 – Meu caro Sr: nunca me considerei , não fui, não sou nem pretendo ser um “valentão”; tenho, porém, duas pernas e dois braços (estes com uma mão no extremo de cada um) que, na defesa de superiores interesses dos meus subordinados (ou mesmo que sejam já ex-combatentes), seria capaz de usar, sujeitando-me à resposta do visado. Cumpre-me esclarecer que o alferes a quem transmiti o “tal” aviso era mais antigo do que eu. Ciente que esta situação era gravemente penalizadora para mim, eu não fugi à questão – a defesa intransigente dos meus Homens; em primeiro lugar os do meu pelotão… mas dos outros também. E valeu a pena! Que eu saiba nunca mais fez o mesmo.
6º - Não consigo, Sr. Estanqueiro, entender a expressão: “se fosse de Infantaria também mencionava?” não posso deixar de informar que a minha CCaç 675 – a gloriosa – era uma unidade independente; inicialmente adimos a um batalhão de Cavalaria – o célebre batalhão de Como; na parte final dependíamos de um batalhão de Artilharia. Tivemos um bom relacionamento com o Ten. Coronel de Cavalaria e também (quase o mesmo) com o Ten. Coronel de Artilharia. Com os capitães dos dois batalhões não nos demos bem nem mal, antes pelo contrário; com os subalternos tudo correu sempre sobre esferas. Pior foi a minha convivência – e a CCaç 675 também, com um ten./Cap./major que até me ameaçou com prisão… porque eu me recusei a caminhar… para o suicídio, o meu e o do meu pessoal. Ele, porém, não teve a coragem de pôr em prática as suas ameaças!
7º - Quanto aos seus considerandos sobre comandantes e chefes, meu caro Sr. José Manuel, apenas direi que um graduado tem de dar e transmitir ordens (não é o mesmo) e acima de tudo cumpri-las e fazê-las cumprir. Quanto às consequências apenas e especialmente me interessa o que os meus soldados pensaram de mim, na Guiné, e os seus juízos de valor durante os 46 anos que se seguiram ao nosso regresso, para já. Desde o nosso regresso, organizei “apenas” 46 confraternizações anuais e um sem número de “minis” que ocorreram em Lisboa e de norte a sul do País. A maior das minis ocorreu em Fermentelos (Águeda) com a participação de mais de 50 ex-combatentes – já não era propriamente uma mini!
8º - “Por isso ocorriam desastres”. Penso, Sr. Estanqueiro que entendi onde pretende chegar, mas afirmo categoricamente que nunca receei que tal acontecesse comigo; nunca pensei nisso; eu confiava plenamente nos militares à minha guarda e sempre senti que o contrário também era verdadeiro. Aliás nunca tive conhecimento efetivo – nem lá nem cá – de casos desses mas… diz-se muita coisa. O meu comportamento não mudava com a hora, e a temperatura ou o local onde nos encontrávamos; em Évora, em Bissau, em Binta ou no meio das matas mais cerradas ou mais abertas, nas viaturas ou em num barco, armados ou não, eu agi sempre do mesmo modo – eu era sempre o mesmo quer em combate quer a beber uns copos. De qualquer modo, Sr. Estanqueiro, só pode tentar beliscar-me quem teve a mesma vivência que eu e acima de tudo quem eu entender que tem capacidade moral, para agir como tal – até rima mas é verdade! A melhor resposta a tudo isto é dada pelos meus soldados – aqui incluo todos os da Companhia- não só os do meu pelotão. Permita-me Sr. José Manuel, parafrasear o estafado lema mas em sentido diferente do usual: “o povo é quem mais ordena”!
9º - Quanto ao agredir os empregados, Sr. Estanqueiro, aconselho-o (aceite se quiser) a não misturar alhos com bugalhos; não são compatíveis.
Para terminar:
Meu caro Sr. José Estanqueiro, alvitro que leia os meus textos no blog em que falo da gloriosa CCaç 675 – a família e seus componentes – e já são vários – e creia, caro senhor, que são puras verdades; não necessito inventar o que quer que seja (nem romancear) sobre o tema.
Última nota:
Aceito, perfeitamente, que trate por “senhor” quem não conhece. Como poderá o senhor, Estanqueiro, em sã consciência, tentar emitir juízos de valor sobre quem não conhece… minimamente?!
Por aqui me fico, aguardando os esclarecimentos solicitados, bem como qualquer réplica que o tema possa merecer.
Mui respeitosamente
Belmiro Tavares
10.10.2012
____________
Notas de CV:
(*) Comentário de José Estanqueiro ao poste > Guiné 63/74 - P10476: (Ex)citações (197): Carta aberta a Tony Borié (Belmiro Tavares) de 3 de Outubro de 2012:
Sr Belmiro
Sei que neste blog são mal aceites todos os que não combateram na Guiné, mesmo sendo combatentes noutros TO. Pelo menos é a conclusão daquilo que vou lendo de cada vez que aqui venho. Mesmo assim não resisto em expor a minha opinião.
Não concordo minimamente coma as suas teorias sobre disciplina. Não é preciso agredir ninguém para fazer cumprir as normas e regulamentos. E não me venha com a teoria que que os castigos à ordem prejudicava a vida civil.
O sr agredia soldados e ameaçava camaradas de igual posto por ser oficial e se achar um valentão. E teve a sorte de apanhar oficiais que não o puseram em sentido.
Não percebi a referencia () ser do serviço geral. Se fosse de infantaria também mencionava? Também agride os e empregados do hotel?.
Francamente, um chefe, líder não usa métodos desses. A diferença entre comandante e chefe está exactamente na capacidade de se levar os outros a fazerem o que nós queremos sem recurso a violência.
Os (co)mandantes esses recorrem a ela. Infelizmente à época havia muitos Belmiros. Por isso por ocorriam "desastres".
Como não pertenço ao clã e sou penetra, trato-o por sr, pois foi assim que aprendi a tratar quem não conheço.
Atenciosamente
José Manuel Silva Estanqueiro
Vd. último poste da série de 9 de Outubro de 2012 > Guiné 63/74 - P10508: (Ex)citações (198): O termo “batalha” pela ocupação da mata de Cufar Nalu poderá ser uma “figura de estilo”, à luz dos conceitos da ciência militar (Manuel Lomba)


















