domingo, 28 de junho de 2009

Guiné 63/74 - P4598: Estórias avulsas (35): O porco que andava à solta (José Carlos Neves)

1. O porco que andava à solta é uma estória que o José Carlos Neves, (*), ex-Soldado Radiotelegrafista do STM, Cufar, 1974, nos enviou em mensagem do dia 26 de Junho de 2009:

O porco que andava à solta

Um belo dia resolvemos (eu e alguns Camarada da Intendência) ir tomar banho à piscina que era nem mais nem menos do que uma pedreira onde a água da chuva se concentrava e formava uma bela piscina. E por estranho que pareça até estava limpa.

Estávamos a refrescarmo-nos quando demos pela presença de um porquinho muito jeitoso na borda da água. Como a fominha apertava, não se pensou duas vezes. Um saiu da água pegou na G3 e zás, lá estava o porco morto. O pior é que um tiro de G3 faz barulho e logo quase de imediato a Senhora que andava a pastar os porcos apareceu.

Procurou o porco por todos os lados, só se esqueceu de o procurar debaixo de água, onde ele foi parar antes que viesse alguém. Até aqui tudo bem, só que a dita Senhora que não era parva nenhuma e já sabia com quem lidava, não saía dali. O porco tinha que estar em algum lado. E estava! Debaixo dos meus pés porque teimosamente queria vir à superfície.

O tempo foi passando até que passou uma viatura do Exército. Fizemos sinal e lá pararam. Explicámos a situação e eles fizeram-nos companhia até que a Senhora resolveu afastar-se por uns momentos. Foi o suficiente para o porquinho, num salto acrobático, saltar da água para cima da carripana.

O problema todo é que tivemos que repartir o bicho por mais gente o que ficou menos para cada um. Mas mesmo assim deu para matar a fominha.

Escusado é dizer que a tal Senhora no dia seguinte foi perguntar pelo porco ao Comandante, mas nós, que também não éramos completamente parvos, tratámos logo de enterrar as tripas e apagar todos os vestígios do crime.

Esta foi uma das estórias que vou tendo para contar.
Qualquer dia conto outra se virem interesse nisso.

Um Alfa Bravo para toda a Tabanca Grande
José Carlos Neves
Soldado Radiotelegrafista do STM
Cufar, 1974
__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 18 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4546: (Ex)citações (31): Tenho pena daquele povo afável que vive hoje na miséria absoluta! (J. Carlos Neves)

Vd. último poste da série de 14 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4519: Estórias avulsas (34): Desertei depois de ter vindo da Guiné (Manuel Maia)

4 comentários:

Anónimo disse...

A propósito de leitão, será que o recem-muçulmano Kumaba Yalá tambem rejeitou a carne de porco?

Será que logo à noite vemos como presidente da Guiné o Balanta-muçulmano?

A Guiné-Bissau há-de sair do buraco onde caiu!

Antº Rosinha

Artur Coelho disse...

não sou amigo nem camarada (não entendam como ofensa); sou antes membro de uma geração que nunca conheceu guerra e ditadura, que não conhece, ou aliás, conhece muito superficialmente, a história de um dos momentos mais marcantes da segunda metade do século XX português. este blog, que merece uma exploração profunda, é um precioso contributo para a manutenção da memória colectiva e um exemplo a descobrir pelas novas gerações, para que aprendam em primeira mão a experiência real dos combatentes em áfrica.

parabéns pela iniciativa!

MANUEL MAIA disse...

CARO ZÉ CARLOS,

SE ME PERMITES O ALVITRE, O TEU ESCRITO DEVERIA CHAMAR-SE A HISTÓRIA DO PORCO/LIMPO.

COM TANTO TEMPO NA ÁGUA...

UM ABRAÇO.

MANUEL MAIA

JD disse...

Segunda-feira.
Última hora: ainda não se sabem os resultados eleitorais na G-B.
Mas de que servem os actos democráticos onde há profusam de armas ainda a funcionar, e a cultura do tirinho como meio para chegar a um lado qualquer, pois parece não haver fim à vista.
Abraços fraternos
JD