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sexta-feira, 15 de novembro de 2024

Guiné 61/74 - P26158: Notas de leitura (1744): O Arquivo Histórico Ultramarino em contraponto ao Boletim Official, até ao virar do século (2) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 24 de Outubro de 2024:

Queridos amigos,
Confrontado com esta nova linguagem do Boletim Oficial da Província da Guiné que passou a ser omisso quanto à história política, económica e social, reduzindo-se à rotina burocrática, vi toda a vantagem em revisitar o acervo monumental organizado por Armando Tavares da Silva na sua gigantesca obra A Presença Portuguesa na Guiné, 1878-1926. No texto de hoje, são referidos os dois primeiros governadores, Agostinho Coelho e Pedro Ignacio de Gouveia, tiveram que apagar incêndios, sobretudo à volta de Geba e na região do Forreá, são notórios os lugares onde ainda não há presença portuguesa, as hostilidades sucedem-se, exigindo expedições, punições, perdões e tratados de paz, muitas destas iniciativas são pura fantasia, os insubmissos voltarão à carga. A França tudo vai fazendo tudo o que pode para pôr os Fulas revoltosos, aquela região sul ainda é para ela um grande atrativo, para juntar ao Futa-Djalon. Aqui fica o registo de duas governações dificílimas, há pouquíssimo dinheiro, os meios navais são frágeis e até há revoltas no Batalhão de Caçadores nº1, com os oficiais punidos.

Um abraço do
Mário



O Arquivo Histórico Ultramarino em contraponto ao Boletim Official, até ao virar do século (2)

Mário Beja Santos

Estamos agora no Governo de Agostinho Coelho, ele é o 1.º Governador da Guiné como província independente de Cabo Verde, desembarca em Bolama a 20 de abril de 1879. Começa por mexer no dispositivo militar, constituiu o Conselho do Governo, a província da Guiné é dividida em quatro concelhos: Bolama, Bissau, Cacheu e Bolola, Bissau compreende a vila de S. José e o presídio de Geba, Cacheu inclui, além da praça deste nome, os presídios de Farim e Ziguinchor e as povoações de Mata, Bolor enquanto Bolola inclui Sta. Cruz de Buba e todos os mais pontos que venham a ocupar-se no Rio Grande, era esta a divisão administrativa da Guiné autónoma. É claro que havia porções do território ainda não ocupadas, outros com presença duvidosa, e esta situação irá perdurar por algumas dezenas de anos. A divisão administrativa levantou críticas e o Governador seguinte, Pedro Ignacio de Gouveia, fará alterações.

Melhorou o equipamento naval, havia a canhoneira Rio Lima, vai chegar o vapor Guiné, o Rio Lima regressará a Cabo Verde. O coronel Agostinho Coelho tinha à sua espera problemas que requeriam inadiável solução, era indispensável garantir um quadro de normalidade em Buba, os Futa-Fulas impunham tributos aos negociantes. O Governador procurou fazer tratados com régulos, havia pretensões territoriais francesas no sul, o Governador deixou um documento esclarecedor sobre a situação existente no Rio Grande:
“É uma das zonas mais produtivas da província; as suas margens são povoadas até muito para o interior por tribos laboriosas e agrícolas e convém a todo o custo dar-lhe segurança e proteção. Há nas margens deste rio 53 feitorias portuguesas e francesas, onde vão muitos navios à carga; porém, estes agricultores, têm vivido até hoje expostos aos vexames dos Futas, os quais, em diversas épocas do ano, percorriam os vários estabelecimentos e exigiam, mesmo à mão armada, o tributo a que eles chamam dacha. Cobravam a título de senhores do território um imposto de proximamente 12 mil pesos, e os cofres da província nada lucravam. Como medida de transição, determinei que a importância da dacha fosse paga pelos negociantes por uma comissão composta da autoridade militar de Buba e de três negociantes, competindo a esta comissão reunir, em determinado dia do ano, os principais chefes Fulas e Futas, a quem distribuiria com o simples caráter de presentes, alguns donativos em panos, armas, e bijutarias, uma parte do produto do imposto, entrando na Fazenda o resto, quando o houvesse.” E mais adiante dirá que houve resistência dos negociantes franceses que tentaram atrair os chefes indígenas para ações de descontentamento.

O Governador empregou esforços para a ocupação do Rio Grande, assinou em Buba o tratado de paz com os régulos de Biafadas e com o chefe principal do Forreá. O Governador informa Lisboa que com este tratado terminava uma guerra encarniçada entre etnias. Mas havia continuidade de problemas em Geba, encontravam-se em guerra Fulas-Pretos e Mandigas. Atenda-se a um parágrafo de um documento que Agostinho Coelho mandara ao Governo: “Geba era antigamente o principal centro de resgate do ouro e do marfim na Guiné; hoje do primeiro aparece muito escassa quantidade e do segundo nem a mínima partícula. Dirigi-me a Geba, e foi aí tal o espanto produzido pela aparição de um navio a vapor que muito do interior vieram inúmeras pessoas verificar tão assombroso facto. Esta romaria de visita ao Guiné durou nos 3 dias em que nos conservámos em Geba. Os Fulas-Pretos e Mandigas andavam em guerra, Agostinho Coelho reforçou a defesa de Geba. Dá-se a sublevação do Batalhão de Caçadores n.º 1. O capitão e o ajudante suscitavam comentários injuriosos acerca dos actos de Governo da província. Agostinho Coelho aplicou-lhes dois meses de prisão, houve tentativas de levantamento, o Governador respondeu mandando levantar autos do corpo de delito".

Tavares da Silva destaca a dimensão daquela Guiné com o propósito de degredados, estes, por sua vez, eram sujeitos a um tratamento vexatório, o Governador tomou providências para aquilo que hoje se designa reinserção social. Foram efetuados tratados, houve esforço para a pacificação do Forreá, que culminou com o tratado de paz com os régulos do Forreá e do Futa-Djalon. Mas a questão nevrálgica dava pela delimitação da Guiné, havia a presença estrangeira, particularmente a francesa, fazia-se uma enorme pressão para a ocupação de pontos onde a administração portuguesa não se encontrava estabelecida. O Governador pede a Lisboa recursos financeiros; se havia problemas no sul, surgiram novos problemas fronteiriços envolvendo o Senegal. O que se passava no sul era preocupante, o próprio governante comunica que naquele sul era débil o movimento comercial, muita gente a viver em condições miseráveis, o que inaceitável.

Assim se passaram dois anos é nomeado novo Governador, o 1.º Tenente da Armada Pedro Ignacio de Gouveia, toma posse do cargo em dezembro de 1881, após três semanas de permanência no território, manda uma exposição ao Governo, constata que os povos da região estão longe da civilização, fala sobre o cultivo da mancarra, o principal produto agrícola de exportação, manifesta dúvidas que em pouco tempo se faça a substituição desta cultura de um produto pobre como é a mancarra pela cana sacarina, algodão ou café e cacau. Manifestando a sua preocupação sobre as produções agrícolas da província, escreve:
“A árvore que dá borracha e que aqui é abundante também sofre umas incisões primitivas: se na América ainda não compreendem bem a maneira de obter-lhe o líquido sem prejuízo temporário da árvore, aqui o definhamento é quase completo e o produto que sai é perfeito.” Falando do elemento militar ao Governo, é profundamente crítico: “As autoridades subalternas não são sempre aquelas que coadjuvam melhor o magistrado superior da província: o elemento militar tem o seu lado bom e o seu lado mau. Quando o militar não é ilustrado, e que saiu unicamente da fileira, sem noções razoáveis de administração civil, colocado à frente do concelho, vê nos indivíduos que o rodeiam soldados ou, quanto muito, sargentos. Se este indivíduo, entregue aos próprios recursos naturais, e uns hábitos de vida que destoam completamente da sua educação militar, não é vigário a mando, principia a destemperar e, por fim, desproposita, estabelecendo completamente a desarmonia social.” Pede meios de transportes, recorda a dificuldade em obter o combustível apropriados para os navios a favor.

Ignacio de Gouveia lança uma nova expedição contra os Biafadas de Jabadá, a exposição acontece em janeiro de 1882, está ciente de que deu uma lição aos rebeldes, é feita a paz com o régulo de Jabadá, fará outros tratados de paz, é confrontado com novos atritos com os Fula-Forros de Bakar Quidali. Muitos anos mais tarde, no Boletim Cultural da Guiné Portuguesa, Fausto Duarte louva o documento enviado por Pedro Ignacio de Gouveia a Lisboa, dizendo a seu favor: “Espírito lúcido, observador arguto e com uma cultura digna de apreço […] Não faz literatura, nem procura servir-se de artifícios de linguagem para esconder ou mesmo diminuir certas deficiências da administração local. Num período incerto para a vida da província que adquirira a tão almejada autonomia política, mas se via a braços com toda a sorte de dificuldades, era preciso expor ao Governo de Sua Majestade em toda a sua crueza variadíssimas contrariedades que mantinham dentro de certos limites a ação do Governador.”

Mas ainda iremos falar adiante deste Governador, haverá acusações de alegada escravatura, novas desavenças em Geba e Buba, o alferes Marques Geraldes entra em cena, haverá perda do vapor Guiné, operações em Nhacra, a criação de escolas em Bissau e Bolama, dar-se-ão passos na organização administrativa e na ocupação do território.
1902, o Boletim Oficial passa por uma fase burocrática, não há conflitos, não há tensões políticas, é só rotina administrativa
Notícia da chegada de novo governador, em novembro de 1902, o 1º tenente da Armada Judice Biker
Pedro Ignacio de Gouveia
Imagem do que foi o último Palácio do Governador em Bolama

(continua)
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Notas do editor

Vd. post anterior de 8 de novembro de 2024 > 8 de novembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26128: Notas de leitura (1742): O Arquivo Histórico Ultramarino em contraponto ao Boletim Official, até ao virar do século (1) (Mário Beja Santos)

Último post da série de 11 de novembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26141: Notas de leitura (1743): À descoberta do passado de África, por Basil Davidson (2) (Mário Beja Santos)

segunda-feira, 11 de novembro de 2024

Guiné 61/74 - P26141: Notas de leitura (1743): À descoberta do passado de África, por Basil Davidson (2) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 25 de Julho de 2023:

Queridos amigos,
Desta edição em português se fez outra destinada ao Ministério da Educação da República Popular de Angola, em 1981. A este país recentemente independente interessava um relato que não se cingisse à visão colonial ou mesmo à história monumental da UNESCO. Confiou-se no poder divulgador de Davidson que pesquisou em diferentes livros o passado africano, e há que reconhecer que fez um levantamento corretamente cingido a investigações de referência. Mas ao abordar a questão ainda hoje muito tensa do comércio de escravos tudo se irá polarizar no negócio europeu, passa-se uma esponja sobre o tráfego praticado entre a Arábia e o Norte de África, a vida destes impérios do norte, centro e sul do continente onde se praticava o comércio negreiro e onde ninguém possuía direitos. Ora o que ele vai enfatizar é o comércio negreiro praticado pelos europeus, o outro, praticado durante séculos entre gente da mesma cor, não conta. Assim se pretendia fazer lavrar o mito de que tinham sido os colonialistas europeus a definhar África através do comércio mais ignóbil do mundo. Mas Davidson era um homem comprometido com estes movimentos de libertação e fez parte fraca. O passado de África teve os seus momentos de glória e as múltiplas fraquezas e ações ignóbeis que encontramos nos outros impérios.

Um abraço do
Mário


À descoberta do passado de África, por Basil Davidson (2)

Mário Beja Santos

A edição original é de 1978 e a tradução portuguesa de 1981, Sá da Costa Editora, que também produziu uma edição para o Ministério da Educação da República Popular da Angola. Basil Davidson, jornalista e escritor, tem vasto currículo ligado aos movimentos independentistas de língua portuguesa, recordo que foi ele que propiciou a ida de Amílcar Cabral a Londres em 1960, o líder do PAIGC (então PAI) apresentou um significativo documento sobre as colónias portuguesas, deu conferências e conversou com parlamentares, estabeleceu apoios. Este livro é uma introdução à história dos africanos, decorre às vezes numa atmosfera de intenso elogio ao contributo dos africanos para o progresso do Mundo Antigo, enfatizará a ascensão e esplendor de civilizações famosas do vale do Nilo, e iremos ver referências a mercadores e impérios, o Gana, o Mali e o Songai; haverá uma exposição quanto à importância da África Oriental e Central, como é óbvio procuraremos relevar o que ele escreve sobre a África Ocidental. Em tom francamente divulgativo, seguem-se exposições quanto ao modo de vida dos africanos, uma exposição sobre o comércio de escravos e, por fim, um capítulo dedicado ao colonialismo e independência.

Já viajámos por impérios do passado, Gana, Mali e Songai, seguidamente o autor transporta-nos para a África Oriental e Central, dá-nos uma descrição da cultura Suaíli, o viajante árabe Ibn Battuta, que referenciou Tombuctu e as cidades do Mali e Songai, rumou para o sul, esteve onde é hoje a capital a Somália, Mogadíscio, e depois Quíloa, o principal centro do comércio do ouro e do marfim da África Oriental, situada numa pequena ilha junto da costa da parte sul da Tanzânia. Tudo vai mudar em 1498, com a viagem de Vasco da Gama, ele não encontrou Quíloa na sua primeira viagem, esteve em Mombaça e depois Melinde. Davidson refere os reinos Xonas, foram visitados por portugueses que partiam de Sofala e que avançaram para esta região entre os rios Zambeze e Limpopo. No século XV, quando os Xonas se lançaram num importante período de expansão política, eles já tinham criado importantes Estados e haviam completado as altas muralhas do Grande Zimbabué, residência dos seus governantes mais poderosos, cerca de 1400.

Impõe-se uma referência ao reino de Angola, há a considerar o reino do Congo e o dos Quimbundos, a sul, na atual parte ocidental e central de Angola, chamava-se Ndongo e o rei tinha o título de Ngola. Em 1500, os portugueses do Congo confundiram o título do rei com o nome do país, entrou em uso o nome de Angola. O autor recorda a correspondência entre os reis de Portugal e os do Congo. E voltamos à África Ocidental, fora a região mais densamente povoada do continente, sabe-se que tudo mudara com a avassaladora extensão do deserto, foi aqui que se deu o impacto do comércio de escravos do Atlântico, levaram para a América as artes, as técnicas e o trabalho da gente negra. O autor dá-nos o quadro do passado recente antes da vinda dos europeus:
“Os africanos ocidentais comerciavam com o Norte e o Leste. Vendiam os produtos das suas florestas, o ouro e a noz de mascar aos mercadores viajantes do Sudão, do Mali e a gente do território dos Haússas. Toda a África Ocidental era atravessada por uma rede de rotas comerciais ligadas às cidades mercantis, tais como Djenne, Tombuctu e Kano. Os africanos ocidentais ao sul do Sudão também comerciavam muito entre eles próprios.” O autor fará referência aos reinos Iorubas, ao império do Oyo, ao império do Benim, que manteve boas relações com os portugueses. “O povo de Benim viu que os europeus estavam desejosos de comprar a pimenta que eles cultivavam em quantidade, pois a pimenta era então um produto valioso na Europa. Descobriram também que os europeus tinham grande admiração pelos excelentes algodões tingidos e queriam comprá-los. Em contrapartida, o povo do Benim achou que os europeus possuíam coisas úteis para lhes vender, nomeadamente artigos de linho e de metal.” As obras de arte produzidas deste intercâmbio são hoje altamente disputadas pelos museus e grandes colecionadores.

Uma palavra agora para o reino do Achanti, que englobava a maior parte do que é agora a República do Gana. Depois de 1700, os Achantis dominaram um vasto território durante quase 200 anos. E depois de uma descrição feita deste reino de Achanti, Davidson descreve o sistema político africano, a governação, as linhagens, as sociedades secretas, mas também a religião, o encontro entre o cristianismo e o Islão, a feitiçaria, a tecnologia prática, o tratamento dos metais, a fiação, tintura e tecelagem; e igualmente pormenoriza a arte de viver, a literatura, a música, o teatro. E assim chegamos à história do comércio de escravos entre África e o Mundo Ocidental.

Chama-se a atenção do leitor que Davidson, não se sabe bem porquê, não tem uma palavra sobre o comércio de escravos antes da chegada dos portugueses e outros, ora a escravatura vem desde os tempos antigos, em qualquer conquista entre povos africanos se escravizava população e esta era comerciada pelo continente. A sua narrativa começa exclusivamente com a chegada dos portugueses, mas antes, porém, socorre-se de uma descrição mirabolante, truncada do que fora a escravatura no passado. Vale a pena reproduzi-la para se ver a onde nos leva a manipulação e a ignorância:
“As primeiras incursões em busca de cativos negros que pudessem ser vendidos na Europa têm de ser encaradas no contexto da época. Em 1441, quando Antão Gonçalves zarpou da costa portuguesa, o comércio de escravos já era muito antigo na Europa. Remontava à época romana e, mais atrás ainda, à Grécia antiga. Continuou parte importante da vida quotidiana na Europa até ao fim da Idade Média e mesmo posteriormente. Tratava-se sobretudo de comércio de escravos europeus. Estes vinham, normalmente, dos países eslavos da Europa Oriental, porque os povos eslavos converteram-se ao cristianismo mais tarde que os outros europeus; e os cristãos, como os muçulmanos, não viam nada de errado em escravizar os não-crentes. Este comércio não se confinava à Europa. Estados cristãos, especialmente as cidades-estados da Itália, tais como Génova e Veneza, vendiam muitos escravos europeus para os reis do Egito e da Ásia Ocidental e quando o fornecimento de não-cristãos baixava, eles compravam cristãos e vendiam-nos também. Os genoveses eram tão ativos na venda de cristãos que o Papa Martinho V, em 1425, emitiu uma ordem de excomunhão contra eles. Mas o destino destes cativos era muito diferente do dos escravos transatlânticos de épocas posteriores. Tal como em África, eles tornavam-se pessoas sem direitos que podiam ser compradas e vendidas, ou oferecidas de presente, para servirem como pessoal doméstico ou artífices especializados. Podiam ascender a postos de autoridade, casar no seio das famílias dos amos, trabalhar para reaverem a liberdade. Eram muito bem tratados, porque eram caros. Apenas os ricos podiam tê-los. Por conseguinte, Gonçalves e os seus colegas capitães, trazendo prisioneiros africanos para Lisboa, não viam crime no que faziam e sabiam que a carga era valiosa.”

Assim se passa uma esponja sobre a história do comércio negreiro africano que antecede o comércio negreiro europeu em África…

(continua)

Basil Davidson (1914-2010)
Bronzes do Benim, coleção do Museu das Belas Artes de Boston
A Grande Mesquita, Djenne, Mali
Gao e o rio Niger
Mapa do império Mali, cerca de 1337
Saleiro de Marfim, arte cingalo-português, séc. XVI, império do Benim, peça do Museu Britânico
Saleiro, séc. XVI, arte cingalo-portuguesa, peça do Museu Nacional de Arte Antiga
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Notas do editor

Vd. post de 4 de novembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26114: Notas de leitura (1741): À descoberta do passado de África, por Basil Davidson (1) (Mário Beja Santos)

Último post da série de 8 de novembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26128: Notas de leitura (1742): "A Presença Portuguesa na Guiné, História Política e Militar 1878-1926", por Armando Tavares da Silva; Caminhos Romanos, 2016 (1) (Mário Beja Santos)

sexta-feira, 8 de novembro de 2024

Guiné 61/74 - P26128: Notas de leitura (1742): O Arquivo Histórico Ultramarino em contraponto ao Boletim Official, até ao virar do século (1) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 24 de Outubro de 2024:

Queridos amigos,
Não escondo o pasmo e admiração do conteúdo dos anos mais recentes do Boletim Oficial da Província da Guiné, tornou-se numa enfadonha rotina administrativa: nomeações, exonerações, movimento marítimo, questões orçamentais, boletins do estado sanitário das principais povoações, questões alfandegárias, etc., etc. Até parece que a província vive num estado de serenidade absoluta, não há rebeliões, nem necessidade de tratados de paz, não há conflitos com a demarcação das fronteiras, até parece que acabou a guerra do Forreá. Vi-me, pois, na contingência de procurar material que desse contraponto ao que vem no Boletim Oficial. Ora, temos um documento de peso, o vasto e importante acervo documental é que procedeu Armando Tavares da Silva em A Presença Portuguesa na Guiné, História Política e Militar 1878-1926, Caminhos Romanos, 2016, obra indispensável para quem pretende estudar este período. Ele abre o seu trabalho com os estabelecimentos portugueses do distrito da Guiné em 1888, por conflitos em Bolor e em Geba, e depois de diferentes peripécias chegamos à transformação da Guiné em província independente de Cabo Verde, estava-se em 1879.

Um abraço do
Mário



O Arquivo Histórico Ultramarino em contraponto ao Boletim Official, até ao virar do século (1)

Mário Beja Santos


Em 2016, era publicado "A Presença Portuguesa na Guiné, História Política e Militar 1878-1926", por Armando Tavares da Silva, Caminhos Romanos. É, indiscutivelmente, um acervo documental de peso, uma investigação minuciosa com a justificada chamada de atenção para acontecimentos relevantes de uma Guiné que deixava de ter categoria de distrito na dependência de Cabo Verde e passava a ser província autónoma.

Apropriadamente, o autor chama a atenção para o apelo feito pelo ministro da Marinha e Ultramar para que os governadores habilitassem o Governo com elementos suficientes para poder nessas províncias fomentar a implantação e desenvolvimento de diferentes ramos da indústria, a que melhor se prestem as condições especiais de cada uma delas. E 18 de fevereiro a 21 de março de 1878, o Governador-Geral de Cabo Verde visita os estabelecimentos portugueses na Senegâmbia. Em abril dá conta da visita: há possibilidades de desenvolvimento do território, Bolama tem uma excelente posição geográfica (estava então indicada para capital de distrito) e fez notar que os antigos estabelecimentos em Geba, Farim e Ziguinchor, Cacheu e Bissau se encontravam em notável decadência. Previa para Buba um próspero futuro. O Governador conta a Lisboa que se encontrou com os principais chefes das tribos, ele notou disposição amigável destes chefes com os portugueses. Face a este ofício, o ministro da Marinha faz publicar uma portaria em que determina ao Governador-Geral de Cabo Verde que fossem elaborados plantas e orçamentos dos edifícios a construir em Bolama. Havia uma grande insatisfação quanto à atenção prestada aos poderes públicos do distrito da Guiné. Ainda o Governo não tinha tomado medidas efetivas quando a situação muda totalmente devido ao chamado “desastre de Bolor”.

Havia neste ponto do Norte da Guiné um grave conflito interétnico, fora arrasada Bolor, o Governador Cabral Vieira fez juntar uma força para punir os conflituosos, dá-se um massacre que deixou as autoridades de Lisboa em sobressalto, vão barcos de homens armados para intimar as populações e elabora-se um relatório, quem o escreve é o Secretário-Geral do Governo de Cabo Verde, Castilho Barreto. No documento afirma ter havido um procedimento inconveniente por parte do administrador do concelho de Cacheu que forneceu pólvoras e balas aos rebeldes. Havia indiscutivelmente influência estrangeira que alimentava estas insubordinações, eram sobretudo súbditos franceses, estava em curso o plano para ocupar o rio Casamansa.

O assunto vai à Câmara dos Deputados, elaborara-se um projeto para transformar a Guiné em província independente, como observa o autor a opinião dos deputados não foi unânime, mas mesmo assim houve luz verde em março. Estabelecia-se que o Governo da província teria a sua sede na ilha de Bolama, transferia-se para a Guiné o Batalhão de Caçadores n.º 1, o Governo fica autorizado a organizar uma bateria de artilharia para guarnecer as fortalezas da província da Guiné, previa-se o estabelecimento de comunicações regulares a vapor entre a Guiné e a metrópole, o que só virá a acontecer mais tarde, em 1881, foi celebrado um contrato com a Empresa nacional de navegação para o serviço de navegação por barcos de vapor entre Lisboa e os portos de África Ocidental. Vamos agora ver o Governo de Agostinho Coelho, 1.º Governador da Guiné.
Armando Tavares da Silva

(continua)

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Nota do editor

Último post da série de 4 de novembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26114: Notas de leitura (1741): À descoberta do passado de África, por Basil Davidson (1) (Mário Beja Santos)

quinta-feira, 7 de novembro de 2024

Guiné 61/74 - P26122: As nossas geografias emocionais (30): A "toponímia" da colónia ou a "Babel linguística": Bafatá devia ter sido grafada como "Báfata" e Gabú como "Cabo" (do mandinga "caabu")...







Governador Manuel Sarmento Rodrigues (1945-1949) 
[ foto: cortesia da Revista Militar]. 
Também era carinhosamente conhecido com o "Mamadu" Rodrigues
e havia uma tabanca conhecida como Sinchã Sarmento.  


1. "Em bom português nos entendemos" ? ... Nem ontem nem hoje...

Foi em 1948, quando era governador da Guiné (então colónia  portuguesa, parte do Império Colonial Português, e sem complexos, de natureza semântica e conceptual, e muito menos político-ideológica!),  o  capitão de fragata Sarmento Rodrigues,     que se  fez um primeiro esforço sério para grafar os topónimos (nomes geográficos) guineenses, através da Portaria nº 71, de 7 de julho de 1948...


Ainda hoje, há um pequena "Babel linguística" no nosso blogue  (e demais redes sociais), quando escrevemos alguns nomes de terras por onde passámos e que nos são familiares (dolorosamente familiares, em muitos casos)

Por exemplo, deve escrever-se:
  • Guileje e não Guilege ou Guiledje;
  • Guidaje e não Guidage;
  • Jabicunda e não Djabicunda:
  • Bajocunda e não Badjucunda (e muit0 menos Bajicunda);
  • Iracunda e náo Ira Cunda;
  • Áfia e não Afiá;
  • Piche e não Pitche;
  • Xime e não Chime;
  • Xitole e não Chitoli;
  • Contuboel e não Contubo El;
  • Pecixe e não Peciche;
  • Porto Gole e não Portogole;
  • Gandembel e não Gã Dembel;
  • Camamadu e não Cã Mamadu;
  • Copelão e não Cupelom ou Cupilão ou Pilão (para os "tugas");
  • Poindom e não Poidon ou Poidão;
  • Sinchã e não Sintchã;
  • Sare e não Saré;
  • Tombalí e não Tombali ou Tombáli;
  • Quitáfine (e não Quitafine) (palavra exdrúxula, mas o "e" final é aberto: Quitáfinè);
  • Ilha de Jeta e nãoo Jata ou Jete...
O caso de Pigiguiti então é divertido...Temos visto as mais diversas grafias: Pijiguiti, Pidjiguiti, Pidgiguiti, Pindgiguiti... 

Bambadinca também já tenho visto como Babadinca e até Bambarinca  e Bambadinga (num anúncio comercial, erro tipográfico comum na nossa imprensa da época colonial). E deve dizer-se Bambadincazinho e não Bambadincazinha... tal como de resto vem na carta de Bambainca (1955), escala de 1/50 mil.

Nalguns casos, ficaram consagradas pelo uso  grafias erradas como;
  • Bafatá (que deveria ser Báfata, como pronunciam os fulas);
  • Gabú em vez de Cabo;
  • Sinchã Jobel em vez de Sinchã Jaubel...
Gabú (do mandinga, "caabu") era o nome de uma circunscrição, Gabú-Sara era uma povoação (p. 37, da Portaria, abaixo citada) e Nova Lamego uma vila tal como Nova Sintra (p. 52).

As cartas geográficas seguiram esta orientação de "aportuguesamento" dos nomes geográficos da Guiné, de acordo com  as regras fixadas na Portaria nº 74, de 7 de julho de 1948 e a ortografia então em vigor.

No nosso blogue (que é escrito, em geral, em Português europeu...) devemos seguir esta "normalização"  dos nomes geográficos da Guiné que conhecemos..., sob pena de cairmos na babelização linguística...

A crioulização do português da Guiné.Bissau é outro problema  (complexo e delicado...) sobre o qual não nos vamos debruçar agora... Na dúvida, perguntamos ao Ciberdúvida da Língua Portuguesa...

Até 1948, as tropelias linguísticas nesta matéria (grafia dos nomes geográficos da Guiné) era confrangedora, agravada pelas frequentes gralhas tipográficas (vd. por exemplo anúncios comerciais da imprensa da época). 

Leia-se, também,  um folheto como o "Resumo do que era a Guiné Portuguesa há vinte anos e o que é hoje", da autoria do 2.º Sargento António dos Anjos (Bragança, Tipografia Académica, 1937, c. 97 pp.) que  publicámos no nosso blogue. Cite-se alguns nomes, mal grafados: 

  • Gábu
  • Xôroenque,
  • Sáfim, 
  • Gêba
  • Gade-Mael
  • Xôro
  • Bacerél
  •  Sozana, etc.

Armando Tavares da Silva (1933-2023)


Obrigado ao nosso saudoso amigo e grão-tabanqueiro Armando Tavares da Silva (1933-2023), especialista da história político-militar da Guiné (1878-1926) que nos fez chegar cópia desta portaria e de alguns dos seus anexos. 


2. Voltamos a reproduzir aqui a mensagem do prof Armando Tavares da Silva, com data de 3/10/2017 (*)

Luís,

Enviei por WeTransfer 14 páginas da "Primeira Relação de Nomes Geográficos da Guiné Portuguesa" elaborada em 1948 nos tempos do Governador Sarmento Rodrigues.

Por ela se pode ver que havia 2 povoações Canchungo, uma na área de S. Domingos e outra na área de Cacheu. Teixeira Pinto existia e era uma Vila.

Quanto a Portugal, havia uma povoação na área de Bolama e uma fulacunda. A do régulo Bacar Dikel deve ser esta.

Gabú era uma circunscrição e Nova Lamego uma Vila.

Quanto a Aldeia Formosa esta aparece como uma fulacunda, e Quebo outra fulacunda, aparecendo também como povoação na região de Catió (páginas não enviadas).

Curioso é ler o preâmbulo da Portaria de Sarmento Rodrigues e as normas adoptadas para a escrita dos nomes geográficos.

Sinchã foi introduzida para designar uma nova povoação fula. Entre elas notei a existência de uma Sinchã Comandante, outra Sinchâ Sarmento e (entre muitas outras) uma Sinchã Marío (com acento agudo!?).

Espero que isto anime a discussão...

Abraço, 
Armando






Excerto da Portaria nº 71, de 7 de julho de 1948 (publicada no Boletim Oficial, suplemento nº 10, de 7 de julho de 1948, Império Colonial Portuguêrs, Colónia da Guiné)
 

3. Veja-ser também o Anexo à Portaria nº 71, de 7 de julho de 1948, do Governo da Colónia da Guiné, de que publicámos, por ser muito extenso, apenas alguns excertos (pp. 7, 23, 37, 52, 57, 68, 67, 69, 72) (*).


Por essa lista (onde parece haver gralhas tipográficas da sempre rigorosa Imprensa Nacional - Casa da Moeda) se pode ver, por exemplo, que havia duas povoações Canchungo, uma na área de S. Domingos e outra na área de Cacheu (p. 23). O Canchungo, nome gentílico, de povoação,  coexistia com a nova vila, Teixeira Pinto (p. 72).

Quanto à tabanca Portugal, havia dois lugares com este nome: (i) povoação na área de Bolama; e e uma outra na região de Fulacunda, sendo nesta que morava, em 1947, o régulo Bacar Dikel (p. 57).

Gabú era uma circunscrição (e região), Gabú-Sara era uma povoação (p. 37) e Nova Lamego uma vila tal como Nova Sintra (p. 52). 

Também existia uma Nova Cuba (p. 52) (que só podia sere a Cuba do Alentejo e não a Cuba do...mar de Caribe).

Quanto a Aldeia Formosa (p. 7) esta aparece como uma povoação de Fulacunda, a par de Quebo (p. 57).

Como se lê no preâmbulo da Portaria de Sarmento Rodrigues, houve uma expressa vontade de normalização da escrita dos nomes geográficos da Guiné. Alguns nomes são novos, ou aparecem pela primeira vez: 

  • Teixeira Pinto, 
  • Nova Lamego, 
  • Aldeia Formosa, 
  • Nova Sintra, 
  • Nova Có,
  • Nova Cuba (...do Alentejo ?)...

Lembre-se, por fim, que Sinchã foi introduzida para designar uma nova povoação fula, acompanhando a "expansão" do chão fula... Entre elas (e são mais de centena e meia) notámos a a existência de uma Sinchã Comandante (p. 67) e outra Sinchã Sarmento (p. 68)... E, já agora, uma Áfia do Governador (p.7).

Por sua vez, Sare que dizer povoação fula não recente...

Também, para além de Aldeia Formosa, há mais 3 Aldeias (p. 7). 

Também havia muitas Pontas (pp. 56 e 57) (não temos a pág. 56 do Anexo):

  • desde a Ponta Brandão à Ponta Varela, 
  • de Ponta do Inglês a Ponta de Janadá, 
  • de Ponta Augusto Barros à Ponta Luís Dias.

 (Ponta era sinónimo de horta, pomar, terra agrícola, em geral junto a um curso de água ou bolanha.)

Há ainda, topónimos pouco vulgares ou pitorescos como:

  • Algodão, 
  • Acampamento,
  • Achada do Burro (p. 7),
  • Olho Grande, 
  • Olhozinho (p. 52),
  • Porcoa, 
  • Preço Leve
  • Quartel (p. 57)
  • Sinchã Fodê (p. 67)...

Pode ser que o Valdemar Queiroz ou Ramiro Jesus, que são os nossos campeões dos passatempos "Vê se és bom observador" e "As gralhas da nossa embirração"..., sejam capazes de descobrir se alguns destes topónimos, aportuguesados, sobreviveram à guerra e à independência...

No nosso blogue há, por exemplo, há várias referências a lugares começados por Sinchã... Destaque para Sinchã Jobel (ou Jaubel, mais correto) e foi uma base do PAIGC ou "barraca" no regulado de Mansomine (carta de 1/50 mil. Bambadinca).

Sinchã Abdulai (1)
Sinchã Bambe (1)
Sinchã Dumane (1)
Sinchã Jobel (16)
Sinchã Madiu (1)
Sinchã Molele (1)
Sinchã Queuto (2)
Sinchã Sambel (1)

Tirando um ou outro nome português, do nosso roteiro poético-sentimental (Nova Sintra, Nova Lamego, Nova Cuba, Aldeia Formosa, Teixeira Pinto...), o essencial dos nomes geográficos (ou topónimos) da Guiné não nos diziam nada, nem tinham que dizer, eram exóticos, pitorescos, gentílicos... mas não suscitavam curiosidade por aí além... Muito menos, emoção... nem faziam sorrir como alguns topónimos portugueses, com conotações erótico-burlescas (Coito, Pito, Picha, Rata, Rabo, Cabrão, Coina, Cu,  etc.)

Eu, que não sabia mandinga, só muito mais tarde é que vim a saber, por este bliogue,  que Bambadinca, por exemplo, queria dizer "a cova do lagarto"...

De facto, quem é que se lembraria de ir fazer umas "férias", em 1948, a Contuboel, a Gadamael a Pejungunto, ou a Buruntuma ou a Catió... ? Eram nomes completamente estranhos aos militares portugueses que foram aportando a Bissau, a partir de 1961... 

Mas muitos desses topónimos hoje fazem parte das  nossas "geografias emocionais" (**), de Madina do Boé a Guidaje, de Gadamel a Guileje, de Canquelifá a Mansoa, de Fajonquito ao Xime, de Piche a Contabane, de Buruntuma a Cumbijã, de Buba a Bambadinca, de Olossato a Farim...

quarta-feira, 11 de setembro de 2024

Guiné 61/74 - P25935: Historiografia da presença portuguesa em África (441): A Guiné Portuguesa em 1878 - Boletim Official do Governo da Província da Guiné Portuguesa, 1880 e 1881 (1) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 16 de julho de 2024:

Queridos amigos,
Peço particular atenção à súmula apresentada seguramente pelas autoridades oficiais sobre a Guiné Portuguesa, em 1878, é explícita quanto à exiguidade da presença portuguesa. Entramos agora em novo Boletim Oficial, já existe a província da Guiné.Como se fez referência aquando da leitura do Boletim Official do Governo Geral de Cabo Verde e da Costa da Guiné, um Boletim Official é uma das muitas ferramentas de que se mune o investigador, carece de cruzamentos com outras fontes. No caso vertente, sugiro sem nenhuma hesitação, o levantamento apreciável que Armando Tavares da Silva fez no seu livro monumental "A Presença Portuguesa na Guiné, História política e militar, 1878-1926", Caminhos Romanos, 2016, logo os dois primeiros capítulos, referentes aos estabelecimentos portugueses no Distrito da Guiné em 1878 e à atividade do primeiro governador da Guiné, Agostinho Coelho, entre 1879 e 1881, revelam-se de grande importância.

Um abraço do
Mário


A Guiné Portuguesa em 1878
Boletim Official do Governo da Província da Guiné Portuguesa, 1880 e 1881 (1)


Mário Beja Santos

Preparava-me para começar a leitura do Boletim Official do Governo da Província da Guiné Portuguesa quando dei pela existência de uma brochura onde fazia o ponto da situação das colónias portuguesas numa edição em língua francesa, Imprensa Nacional, 1878. É um texto de síntese, mas que permite ao leitor confirmar o que era a exiguidade da presença portuguesa naquela porção da Senegâmbia. Diz o autor que até perto dos finais do século XVI Portugal possuía ainda todo o território que se estendia do Cabo Verde (ponto continental) até à Serra Leoa, numa extensão de costa de 450 milhas. Durante o domínio filipino Portugal perdera todo o território ocupado a norte do Cabo de Sta. Maria e a sul do Cabo Verga. A Guiné Portuguesa compunha-se de três municipalidades: Cacheu, Bissau e Bolama, esta última compreendendo a Ilha das Galinhas. Todo o Distrito da Guiné é muito insalubre, sobretudo de junho a dezembro; as chuvas começas perto do fim de maio e duram até ao fim de setembro. O ardor do sol e a humidade das noites são bastante danosas para a saúde, sobretudo de quem acaba de desembarcar. Uma doença chamada no país por carneirada pode provocar muitas moléstias, os todos os que resistem a estas situações penosas passaram a gozar de uma excelente saúde. A Guiné Portuguesa contém 1386 fogos e 6154 indivíduos, da metrópole há 37 homens e 3 mulheres, provenientes de outras províncias ultramarinas 419 homens e 217 mulheres, mais 56 estrangeiros e 6 estrangeiras. O autor passa em revista as três municipalidades.

Cacheu compões de Casa Forte e compreende a população dos arredores do rio S. Domingos, do presídio de Bolor, Ziguinchor e Farim. Estas feitorias têm cerca de uma milha quadrada de extensão cada uma. A agricultura reduz-se sobretudo à produção de arroz. Cacheu fornece uma espécie de arroz chamado arroz de Gâmbia, que é muito apreciado na Europa e se pode comparar ao arroz da Carolina. Abundam a cera, o marfim, o óleo de palma ou de dendém; há igualmente algodão branco em abundância e incenso. Os portos de Cacheu, de Bolor e Ziguinchor estão bem abrigados.

Bissau compõe-se do Forte de S. José e dos presídios de Fá e de Geba no interior, no território dos Mandigas. A extensão de cada uma destas feitorias é semelhante ou aproximada às feitorias de Cacheu bem como os tipos de produção. O Forte de S. José está praticamente envolvido por seis povoações que são governadas por régulos, dependentes do rei de Intim. O porto de Bissau tem em frente o Ilhéu do Rei ou dos Feiticeiros; à semelhança de Farim e Ziguinchor, são os pontos que alimentam o comércio de Cacheu, Geba fornece a Bissau os principais artigos do seu comércio.

Bolama compreende a Ilha das Galinhas, o arquipélago dos Bijagós, na embocadura do Rio Grande. As produções daqui são geralmente as mesmas que as das outras municipalidades da Guiné. No entanto, Bolama produz mancarra de muito boa qualidade; a pesca é muito produtiva e abundam as tartarugas nas águas destas ilhas. A ilha de Bolama foi cedida a Portugal em 1607 pelo rei de Guinala. O autor depois explica a tentativa de apropriação por parte dos ingleses e verte o texto da sentença do presidente dos Estados Unidos Ulisses Grant, versão inglesa.

O autor informa que o Governador Geral de Cabo Verde visita Bolama em 30 de setembro de 1870 e tomou solenemente posse da ilha em 1 de outubro; Bolama está coberta de plantações, tem excelentes madeiras e o seu clima é bastante salubre, goza de um grande movimento comercial e a fertilidade do seu solo assegura-lhe um futuro de prosperidade. A Ilha das Galinhas, dada por Damião, rei de Canhabaque, ao coronel português Joaquim António de Matos que a ofereceu à coroa de Portugal em 1830; é uma ilha bastante fértil, produz excelentes madeiras, possui água em abundância, pescam-se tartarugas de que se recolhe o âmbar; o seu melhor porto não é acessível a não ser a pequenas embarcações.

É este o essencial do que se dizia da Guiné em 1878, a um ano da sua separação de Cabo Verde, passando de distrito a província.

Concluída a leitura do Boletim Official do Governo de Cabo Verde e da Guiné, incluindo os primeiros meses de 1880, começa-se agora a folhear o Boletim Oficial da Província da Guiné Portuguesa, na Biblioteca da Sociedade de Geografia de Lisboa. Esclarece-se o leitor de que há lacunas, os primeiros números são inexistentes com reduzidos a folhas praticamente elegíveis, entra-se a sério no documento no Boletim N.º 12, com data de 25 de setembro. Há imensas parecenças com as matérias que se encontram no Boletim Oficial de Cabo Verde, informações sobre pessoal que vai em gozo de férias, quais os papéis que devem ser escritos em papel selado, nomeações, transferências, embarcações que vão em socorro de outras, com os respetivos agradecimentos e louvores, arrematações em hasta pública, movimento marítimo, mensagens de gratidão, etc.

No Boletim N.º 13, de 9 de outubro, aparece a constituição de uma comissão permanente de saúde pública, visa-se melhorar as condições de salubridade, “removendo ou modificando as causas mais conhecidas das doenças que se generalizam em épocas determinadas.” É decisão tomada pelo primeiro governador, Agostinho Coelho. Mas o ponto forte deste número do Boletim é dado pelo tratado de paz feito em Buba, em 27 de setembro último, entre Sambel Tombom e Sambá Mané, subchefe dos Fulas-Pretos:
“1.º - Passa a haver paz e concórdia entre os Fulas-Pretos existentes no Forreá e os Fulas-Vermelhos do território de Buba.
2.º - Os Fulas-Vermelhos comprometem-se, para esta paz ser inalterável, a entregar as espingardas e mais armamentos tomados em Sambafim.
3.º - Logo que sejam entregues as armas, os Fulas-Pretos sairão do território de Buba e conservar-se-ão no sítio que neste tratado é convencionado.
4.º - O chefe dos Fulas-Pretos e a sua gente serão passados em embarcações para o território de Bolola, ficando por esta forma proibidos de passarem pelo território de Buba.
5.º - O chefe do Forreá, Sambel Tombom, terá sempre em Buba um filho seu representante da sua autoridade com quem o Governo se entenderá sobre as questões do interior.”


Assina Gabriel Fortes e os dois chefes em litígio, a grande novidade, conforme o leitor pode ver na imagem é o texto do tratado vir em português e na língua árabe.

Estamos agora em 1881, temos o Boletim n.º 2 de 22 de janeiro que faz referência ao estado sanitário de Gorée e dos arredores, dizendo que o estado é bom e que em S. Luiz é excelente, a última morte por febre amarela tinha tido lugar na noite de 25 para 26 de dezembro. Quem assina é o cônsul de Portugal, Jean Guiraud, que também confirma que não se verificou nenhum caso nem na cidade nem no hospital nem nos campos e nem mesmo nos navios de comércio. É uma informação curiosa, como o leitor se recordará está em aberto o contencioso com a França sobre o Casamansa, só ficará resolvido pela Convenção Luso-Francesa de 12 de maio de 1886. É por isso que a apreciação do cônsul vem assinada pelo chefe de saúde em Bolama, Pereira Leite de Amorim, temos novas informações, paira sempre o espectro do regresso da febre amarela.

Mas este Boletim introduz uma novidade, a administração do concelho de Bolama publica o movimento dos presos, neste caso o referente ao mês de dezembro do ano anterior. Poderá ser ruma mera curiosidade, faz-se referência. Como o leitor poderá ver na imagem, há de tudo: embriaguez, desordens, pancadaria com ferimentos, roubos. A administração do concelho de Bolama irá repetir mensalmente o movimento dos presos.

No Boletim N.º 5, de 26 de fevereiro, a repartição de saúde informa que a Junta de Saúde recebeu tubos de linfa vacínica, e que se procede à sua inoculação todos os domingos, das 7h às 9h. No Boletim N.º 7, de 19 de março, o presídio de Geba imite o relatório referente ao mês de janeiro, nestes termos:
Sossego público – não foi alterado em todo o mês.
Estado sanitário – foi regular. O número de óbitos verificados em todo o presídio foi de quatro, sendo dois maiores de 60 ano e dois menores, um de quatro anos e outro de um, sendo a morte deste último produzida por desastre.
Agricultura – quase nula, limitando-se à cultura da cebola.
Indústria – tecidos de algodão e sabão para consumo do presídio, esteiras e cestos.
Instrução pública – tem funcionado a escola com regularidade, frequentada por 20 alunos.
Estado alimentício – bastante escasso, devido talvez à continuação das guerras.

(continua)


Bolama em 1912
Carta da província da Guiné, 1912
Carta da colónia da Guiné, 1933
_____________

Nota do editor

Último post da série de 10 de setembro de 2024 > Guiné 61/74 - P25926: Historiografia da presença portuguesa em África (440): em 1934 já se temia e discutia a transferência da capital, de Bolama para Bissau...

segunda-feira, 3 de junho de 2024

Guiné 61/74 - P25597: O 20º aniversário do nosso blogue (16): quem são os "históricos" da Tabanca Grande...




Monte Real > Palace Hotel > 4 de Junho de 2011 > VI Encontro Nacional da Tabanca Grande >

Imagens de arquivo do VI Encontro Nacional da Tabanca Gande, Monte Real, o segundo que se realizou no Palace Hotel Monte Real, em 4 de junho de 2011. Em 2012 e em 2015, por e4xemplo, conseguimos fazer o pleno: atingir a lotação da saçla, que eram 200 lugares. Fotos do arquivo do blogue.

 
Fotos:  © Manuel Resende  (2014).
Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Leiria > Monte Real > Palace Hotel Monte Real >X Encontro Nacional da Tabanca Grande > 18 de abril de 2015 > "Foto de família"... Um dos encontros até agora realizados em que se consguir fazer o pleno: 200 participantes...Na "foto de família", porém,  não estavam todos... A disciplina já não é o que era,,,

Foto (e legenda): © Miguel Pessoa (2015). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complemenetar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Apontamentos para a história do nosso blogue, no 20º aniversário (*):

Foi a partir de 1 de junho de 2006 que o nosso blogue "mudou de instalações", passou a designar-se "Luís Graça & Camaradas da Guiné" e abandonou a numeração romana na postagem... 

O poste DCCCXXV (ou poste P825) foi o último da "Série I" e o primeiro da "Série II". Mais tarde as duas séries foram fundidas, a numeração dos postes começa no nº 1 (23 de abril de 2004) (**).

Até hoje, em 20 anos, publicaram-se 25597 postes, todos eles pesquisáveis "on line" (pelo nº de poste ou pela data).


2. O que é dizia orginalmente o cabeçalho do blogue da I Série (https://blogueforanada.blogspot.com/)

blogue-fora-nada. homo socius ergo blogus [sum]. homem social logo blogador. em sociobloguês nos entendemos. o port(ug)al dos (por)tugas. a prova dos blogue-fora-nada. a guerra colonial. a guiné. do chacheu ao boe. de bissau a bambadinca. os cacimbados. o geba. o corubal. os rios. o macaréu da nossa revolta. o humor nosso de cada dia nos dai hoje. lá vamos blogando e rindo. e venham mais cinco (camaradas). e vieram tantos que isto se transformou numa caserna. a maior caserna virtual da Net!

Nessa altura, em em 1 de junho de 2006,  já éramos 111:

A. Marques Lopes, 
A. Mendes, 
Abel Maria Rodrigues, 
Afonso M.F. Sousa, 
Aires Ferreira, 
Albano Costa, 
Amaro Samúdio, 
Américo Marques, 
Ana Ferreira, 
Antero F. C. Santos, 
António Baia,
 António Duarte, 
António J. Serradas Pereira, 
António (ou Tony) Levezinho, 
António Rosinha, 
António Santos, 
António Santos Almeida, 
Armindo Batata, 
Artur Ramos, 
Belmiro Vaqueiro, 
Carlos Fortunato, 
Carlos Marques dos Santos, 
Carlos Schwarz (Pepito), 
Carlos Vinhal, 
Carvalhido da Ponte, 
David Guimarães, 
Eduardo Magalhães Ribeiro, 
Ernesto Ribeiro, 
Fernando Chapouto, 
Fernando Franco, 
Fernando Gomes de Carvalho, 
Hernani Acácio Figueiredo, 
Hugo Costa, 
Hugo Moura Ferreira, 
Humberto Reis,
Idálio Reis, 
J. C. Mussá Biai, 
J. L. Mendes Gomes,
 J. L. Vacas de Carvalho, 
João Carvalho, 
João S. Parreira,
 João Santiago, 
João Tunes, 
João Varanda, 
Joaquim Fernandes, 
Joaquim Guimarães, 
Joaquim Mexia Alves, 
Jorge Cabral, 
Jorge Rijo, 
Jorge Rosmaninho,
Jorge Santos, 
Jorge Tavares,
 José Barreto Pires, 
José Bastos,
 José Casimiro Caravalho, 
José Luís de Sousa, 
José Manuel Samouco, 
José Martins, 
José (ou Zé) Neto , 
José (ou Zé) Teixeira,
Júlio Benavente
Leopoldo Amado, 
Luis Carvalhido, 
Luís Graça, 
Luís Moreira (V. Castelo),
Luís Moreira (Lisboa), 
Manuel Carvalhido, 
Manuel Castro, 
Manuel Correia Bastos, 
Manuel Cruz, 
Manuel Domingues, 
Manuel G. Ferreira, 
Manuel Lema Santos, 
Manuel Mata, 
Manuel Melo, 
Manuel Oliveira Pereira, 
Manuel Rebocho, 
Manuela Gonçalves (Nela), 
Mário Armas de Sousa, 
Mário Beja Santos, 
Mário Cruz, 
Mário de Oliveira (Padre), 
Mário Dias (ou Mário Roseira Dias), 
Mário Migueis, 
Martins Julião, 
Maurício Nunes Vieira,
Nuno Rubim, 
Orlando Figueiredo, 
Paula Salgado, 
Paulo Lage Raposo, 
Paulo & Conceição Salgado, 
Paulo Santiago, 
Pedro Lauret, 
Raul Albino, 
Renato Monteiro, 
Rogério Freire, 
Rui Esteves, 
Rui Felício, 
Sadibo Dabo, 
Sérgio Pereira, 
Sousa de Castro, 
Tino (ou Constantino) Neves,
Tomás Oliveira, 
Torcato Mendonça, 
Victor David, 
Victor Tavares, 
Virgínio Briote,
Vitor Junqueira, 
Xico Allen, 
Zélia Neno
(Total=111)


3. E progressivamente alargámos o arco temporal da guerra da Guiné: começou por ser 1969/71 (o tempo da comissão do fundador do blogue,  Contuboel e Bambadinca, junho 69/mar 71), depois 1963/74 (a partir do início "oficial" da guerra) e finalmente 1961/74 (em rigor, o início e o fim desta guerra).

(...) Por razões de espaço e de tráfego, tivemos que mudar de instalações. O nosso senhorio, o Blogger.com, só nos dá 300 MB para alojar o nosso álbum de fotografias, o que é pouco para tanta gente. De facto, ao fim de um ano já estamos na casa da centena de amigos & camaradas.

O blogue passa a chamar-se simplesmente Luís Graça & Camaradas da Guiné, dando continuidade ao Blogue-fora-nada. Continuará a ser o sítio (virtual) onde nos encontramos, sempre que quisermos e pudermos. É um blogue colectivo que tem por missão ajudar a reconstituir o puzzle da memória da guerra colonial (ou do ultramar, ou de libertação, como queiram) na Guiné, nos anos quentes de 1963 a 1974. (...

E passávamos a ter um novo endereço:


Já na altura fazíamos questão de fazer uma pequena distinção, meramente circunstancial, entre: 

(i) amigos (como era o caso do José Carlos Mussá Biai, do Leopoldo Amado, do Pepito ou de outros guineenses, não combatentes; ou como é o caso das nossas companheiras ou dos nossos filhos ou sobrinhos); 

e (ii) camaradas (que dormimos no mesmo chão, que fomos mordidos pelos mesmos mosquitos, que comemos as mesmas rações, que vertemos sangue, suor e lágrimas nos mesmos rios, lalas, bolanhas, matas, buracos e tabancas, que apanhámos a mesma porrada.


4. E criámos também um livro de estilo, que foi imitado por outros blogues: o nosso comportamento, agora como… tertulianos (alguém inventou uma palavra nova em português), deve apenas pautar-se por determinados critérios éticos ou valores... E seguiam as nossas dez regras de convívio, as nossas dez regras de convívio, que fizeram história e doutrina... 

Nessa época, ainda não estava enraizado o saudável hábito de fazer comentários aos postes, embora essa funcionalidade já existisse... Simplesmente havia um mecanismo de moderação dos comentários, uma leitura e avaliação prévia por parte do(s)  editor(es)... Em boa hora acabámos com essa maçada, e abrimos as portas e as janelas a todos os comentários de todos os homens e mulheres de boa vontade que nos visitavam... O resultado tem sido deveras surpreendente e compensador, aumentando o nível de participação tantos dos membros (inscritos) do nosso blogue como dos simples leitores...  Até â data acumulámos mais de 102 mil comentários, limpos de SPAM (uma média de 5 mil por ano).

5. Por outro lado, e embora já usassemos o termo "Tabanca Grande", desde meados de 2005,   só a partir de 20 de junho de 2006 é que criámos a série "Tabanca Grande", com numeração própria (***)...

Nesse dia entraram para a nossa tertúlia o Pedro Lauret e o Mário Beja Santos. Mas não sabemos o seu nº de tabanqueitros: estão entre os 148 históricos abaixo listados. Aí a partir das 3 ou 4  centenas começámos a atribuir um número a cada novo membro (ou grã-tabanqueiro).

Escrevemos no poste P 1747, de 10 de maio de 2007 (****)

(...) Camaradas & amigos: De futuro, os novos camaradas (ex-combatentes do lado português) e amigos (por ex., filhos de camaradas nossos, jovens portugueses e guineenses que se interessam pela história da guerra colonial, antigos combatentes do PAIGC) entram directamente para a tabanca grande, que sempre é mais democrática que a tertúlia e mais arejada que a caserna... Sentamos-nos debaixo de um centenário poilão, fazemos as nossas apresentações e contamos as nossas estórias. As regras de convívio continuam a ser as mesmas.(...)

Deve ter sido a primeira vez que associámos à Tabanca Grande um poilão, simbólico, sagrado, fraterno, frondoso, acolhedor, como eram os poilões no centro, no ponto de encntro, das aldeias da Guiné-Bissau.  

Só começámos, por outro lado, a publicar estatísticas sobre a nossa atividade  bloguística em finais de 2009: nessa altura éramos já 390 tabanqueiros, tínhamos publicado c. 5580 postes, e registávamos um milhão e 400 mil páginas visitadas, 50 mil por mês... Hoje somos 888 (entre vivos e mortos), estamos à bica dos 25,6 mil postes, e mais de 15,1 milhões de páginas visitadas.


6. No final de 2006, há 18 anos,  éramos 148 os "históricos" da  nossa tertúlia (dos quais 19 já morreram; e doutros não temos notícias há muito):
 
  
A (N=28)
  • A. Marques Lopes, 
  • A. Mendes, 
  • Abel Maria Rodrigues, 
  • Abílio Machado,
  • Adelaide Gramunha Marques
  • Afonso M.F. Sousa, 
  • Aires Ferreira, 
  • Albano Costa, 
  • Amaral Bernardo,
  • Amaro Samúdio, 
  • Américo Marques (1951-2019), 
  • Ana Ferreira, 
  • Antero F. C. Santos, 
  • António Baia, 
  • António Barroso,
  • António Bartolomeu,
  • António Duarte, 
  • António Graça de Abreu,
  • António J. Serradas Pereira, 
  • António (ou Tony) Levezinho, 
  • António Pimentel,
  • António Pinto,
  • António Rosinha
  • António Santos, 
  • António Santos Almeida, 
  • Armindo Batata, 
  • Artur Conceição,
  • Artur Ramos 
B/H (N=27)
  • Belmiro Vaqueiro.
  • Benito Neves,
  • Benjamin Duráes,
  • Carlos Américo Cardoso,
  • Carlos Fortunato, 
  • Carlos Marques dos Santos (1943-2019), 
  • Carlos Schwarz ("Pepito") (1949-2014)
  • Carlos Vinhal, 
  • Carvalhido da Ponte, 
  • David Guimarães, 
  • Eduardo Magalhães Ribeiro, 
  • Ernesto Ribeiro, 
  • Fernando Barata,
  • Fernando Calado,
  • Fernando Chapouto,
  • Fernando Franco (1951-2020),
  • Fernando Gomes de Carvalho,
  • Fernando Inácio,
  • Gabriel Gonçalves,
  • Gilda Pinho Brandão,
  • Hélder Sousa,
  • Henrique Matos,
  • Henrique Pinho,
  • Hernani Acácio Figueiredo, 
  • Hugo Costa, 
  • Hugo Moura Ferreira
  • Humberto Reis
I/J (N=34)
  • Idálio Reis,
  • Inácio Silva,
  • J. Armando F. Almeida
  • J. C. Mussá Biai, 
  • J. L. Mendes Gomes,
  • J. L. Vacas de Carvalho, 
  • João Carreiro Martins,
  • João Carvalho, 
  • João S. Parreira, 
  • João Santiago, 
  • João Tunes, 
  • João Varanda, 
  • Joaquim Fernandes, 
  • Joaquim Guimarães, 
  • Joaquim Mexia Alves, 
  • Jorge Cabral (1944-2021) 
  • Jorge Canhão.
  • Jorge Neto,
  • Jorge Rijo, 
  • Jorge Rosmaninho, 
  • Jorge Santos, 
  • Jorge Tavares, 
  • José Afonso,
  • José Barreto Pires, 
  • José Bastos, 
  • José Casimiro Caravalho, 
  • José Luís de Sousa, 
  • José Manuel Samouco,
  • José Martins,
  • José (ou Zé) Neto (1927-2007),
  • José Rocha,
  • José (ou Zé) Teixeira, 
  • Júlio Benavente 
  • Júlio César 
L/M (N=29)
  • Leopoldo Amado (1960-2021), 
  • Luís Camões.
  • Luis Carvalhido, 
  • Luís Graça, 
  • Luís F. Moreira (1948-2013), 
  • Luís Moreira,
  • Luís Nabais,
  • Manuel Carvalhido, 
  • Manuel Castro, 
  • Manuel Correia Bastos, 
  • Manuel Cruz, 
  • Manuel Domingues, 
  • Manuel G. Ferreira, 
  • Manuel Lema Santos, 
  • Manuel Mata, 
  • Manuel Melo, 
  • Manuel Oliveira Pereira, 
  • Manuel Rebocho, 
  • Manuela Gonçalves ("Nela") (1946-2019), 
  • Mário Armas de Sousa, 
  • Mário Beja Santos, 
  • Mário Bravo,
  • Mário Cruz ("Shemeiks"),
  • Mário Fitas,
  • Mário de Oliveira (Padre) (1937-2022),
  • Mário Dias (ou Mário Roseira Dias), 
  • Mário Migueis, 
  • Martins Julião, 
  • Maurício Nunes Vieira
N/Z (N=30)
  • Nelson Domingues,
  • Nuno Rubim (1938-2023), 
  • Orlando Figueiredo, 
  • Paula Salgado,
  • Paulo Lage Raposo, 
  • Paulo & Conceição Salgado, 
  • Paulo Santiago, 
  • Pedro Lauret, 
  • Raul Albino (1945-2020), 
  • Renato Monteiro (1946-20121), 
  • Rogério Freire, 
  • Rui Alexandrino Ferreira (1943-2022),
  • Rui Esteves, 
  • Rui Felício,
  • Rui Silva, 
  • Sadibo Dabo, 
  • Sérgio Pereira, 
  • Sousa de Castro, 
  • Tino (ou Constantino) Neves, 
  • Tomás Oliveira, 
  • Torcato Mendonça (1944-2021), 
  • Victor Barata (1951-2021).
  • Victor Condeço (1943-2010),
  • Victor David, 
  • Victor Tavares, 
  • Virgínio Briote, 
  • Vitor Junqueira, 
  • Xico Allen (1950-2022),
  • Zélia Neno (1953-2023).


E a propósitos de portas e janelas (que não existem na Tabanca Grande, como não existem valas, abrigos, espaldões, arame farpado, cavalos de frisa, etc.), fica aqui uma sugestão: continuemos a celebrar o nosso 20º  aniversário, procurando sobretudo surpreendermo-nos uns aos outros, aos amigos e camaradas da Guiné, bem como às muitas centenas de leitores, anónimos, que nos visitam diariamente, com os nossos textos, as nossos documentos, as nossas fotos, as nossas histórias... Mesmo que o blogue já não tenha a mesma frescura, novidade, dinâmica, etc., dos primeiros anos... Convenhamos que 20  anos a blogar, é muita coisa, são pelo menos 10 comissões de serviço na Guiné... 

Nestes 20 anos também conseguimos reslizar  14 encontros nacionais da Tabanca Grande,de 2006 a 2019). O último foi o XIV, em 25 de maio de 2019. O XV já se realizou por causa da pamdemia de Covid-19.
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Notas do editor:

(***) Vd, poste de 20 de junho de  2006 > Guiné 63/74 - P887: Tabanca Grande (1): Pedro Lauret, ex-Imediato da LFG Orion e Mário Beja Santos, ex-Alf Mil CMDT do Pel Caç Nat 52

(****) Vd poste de 10 de maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1747: Tabanca Grande (8): Herlânder Simões, ex-Fur Mil, um dos Duros de Nova Sintra (1972/74)