Pesquisar neste blogue

quinta-feira, 26 de junho de 2025

Guiné 61/74 - P26957: Seis jovens lourinhanenses mortos no CTIG (Jaime Silva / Luís Graça) (1): José António Canoa Nogueira (1942-1965), sold ap mort, Pel Mort 942 / BCAÇ 619 (Catió, 1964/1966) - Parte I: nota biográfica



José António Canoa Nogueira (1942-1965): um dos 20 militares lourinhanernses  mortos durante a guerra do ultramar / guerra colonial, o primeiro a morrer na Guiné (no total, morreram 9 em Angola, 6 na Guiné e 5 em Moçambique).


Lourinhã > Cemitério Municipal > 25 de agosto de 2013 > Pedra tumular do José António Canoa Nogueira (1942-1965), o primeiro lourinhanense a morrer na Guiné, em Cufar, Catió, região de Tombali. em combate. Foi no dia 23 de janeiro de 1965. Era soldado apontador de morteiro, Pel Mort 942 / BCAÇ 619 (Catió, 1964/66). Era primo, em 3º grau, do nosso editor Luís Graça, tal como o Arsénio Marques Bonifácio da Silva, morto em Angola, em 1972, era primo (direito) do Jaime Bonifácio Marques da Silva.

Fotos (e legenda): © Luís Graça (2013). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Lourinhã > Salão Nobre da Câmara Municipal > 21 de junho de 2025 > Da esquerda para a direita, o presidente da câmara (entidade que editou o livro, a irmã, Bia, do José  António Canoa Nogueira (1942-1965), o primeiro lourinhanense a morrer na Guiné, em combate (em 23 de janeiro de 1965), e o autor do livro "Não esquecemos...",  Jaime Bonifácio Marques da Silva (ex-alf mil pqdt, BCP 21, Angola, 1970/72). A Bia, viúva e reformada, vive no Canadá e na Lourinhã. A outra irmã, Esmeralda, vive na Lourinhã.


Fotos: Página do Facebook do Municipio da Lourinhã (com a devida vénia...)

Seleção e edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2025)



I. Foram seis os militares lourinhanenses que morreram no CTIG, entre 1965 e 1973, aqui listados pela seguinte ordem (ano da morte):

  • José António Canoa Nogueira (1942-1965) (morte  por ferimentos em combate)
  • José Henriques Mateus (1944-1966) (desaparecido em combate)
  • Albino Cláudio (1946- 1968) (morte por acidente com arma de fogo)
  • Alfredo Manuel Martins Félix (1948-1970) (morte por acidenete de viação)
  • Carlos Alberto Ferreira Martins (1948-1971) (morte por ferimentos em combate)
  • José João M. Agostinho (1951-1973) (morte por ferimentos em combate)

II. Vamos dedicar este primeiro poste ao José António Canoa Nogueira (Casal da Pedreira, Lourinhã, 11.01.1942 - Cufar, Catió, 23-01-65) (*)


1. Registo de nascimento

O José António Canoa Nogueira nasceu a 11 de janeiro de 1942, às 19 horas, no Casal da Pedreira, freguesia de Lourinhã. Filho legítimo de José Nogueira, de 20 anos, casado e fazendeiro, e de Rosalina da Conceição, 22 anos, casada, doméstica, ambos naturais da freguesia e concelho da Lourinhã e domiciliados no Casal da Pedreira (...).

A declaração do registo de nascimento foi feita pelo pai, às dez horas e cinquenta minutos do dia 9 de fevereiro de 1942 O registo foi assinado pelo pai e duas testemunhas e lavrado pelo conservador João Catanho de Menezes Júnior. (...)

 (Observação - na época, o registo de um filho custava 6 escudos de emolumentos mais 3 escudos de selos, uma exorbitância, já que um trabalhador rural não devia ganhar mais de que 20 escudos por dia, valor que corresponderia, a preços de hoje, a  qualquer coisa como 12 euros, LG).


2. Registo militar

Recenseamento: foi recenseado no ano de 1962, sob o número 68, e alistado em 9 de julho de 1962. Solteiro, com a profissão de agricultor,  tinha como habilitações literárias a 4.ª classe.

Inspeção militar: a 14 de fevereiro de 1963 na DRM 5. Tinha 1.65 de altura, 62 kg de peso e, em resultado da inspeção, foi “apurado para todo o serviço militar”. Atribuíram-lhe o número mecanográfico 63-E-78069.

Colocação durante o serviço: a 31 de julho de 1963 é incorporado como recrutado no RI 5, Figueira da Foz, passando a fazer parte do Regimento e da 2ª Companhia, sendo-lhe atribuído o nº 2530/63; fez o Juramento de Bandeira a 24 de setembro de 1963 e é transferido a 29 de setembro para o RI 7, Leiria, a fim de tirar a especialidade de Apontador (AP) de Morteiro; a 17 de novembro 1963 fica Pronto da Escola de Recrutas com a especialidade de AP Morteiros; a 17 de novembro de 1963 foi transferido para o RI 1, Amadora.

Comissão de serviço na Guiné

Embarque: a 8 de janeiro de 1964 embarca para o CTIG, fazendo parte do Pelotão de Morteiros nº 942, subunidade da CCS/BCAÇ 619, para cumprir uma comissão, por imposição de serviço.

Desembarque: a 15 de janeiro de 1964 desembarca em Bissau, desde quando conta 100% do aumento do tempo de serviço.

Data do falecimento: 23.01.1965.

Causa da morte
: ferimento em combate.

Local do acidente: Cufar, Catió, região de Tombali, sul da Guiné.

Abatido ao efetivo: a 23 de janeiro de 1965 foi abatido ao efetivo da Companhia, data em que faleceu em combate (...).

Despacho Superior: em 1 de julho de 1965, por despacho, foi considerado como ocorrido por motivo de serviço o acidente sofrido do qual lhe resultou a morte (...).

Registo disciplinar: condecorações e louvores

Medalha de segunda classe de comportamento (artº 188.º do RDM), atribuída em 31.07.1963


3. Processo de averiguações ao acidente: anotações e contexto

Participação superior do acidente: a 1 de fevereiro de 1965 o Comandante da CCAV 703, sediada em Cufar, cap cav Fernando Manuel dos Santos Lacerda, participa superiormente “que no dia 23 de janeiro de 1965, pelas 02.30 horas, foi ferido em combate durante o ataque levado a efeito pelo inimigo ao aquartelamento de Cufar o soldado nº 2955/63, José António Canoa Nogueira, do Pel Mort nº 942 do BCAÇ 619,  pelo que foi imediatamente transportado ao posto de socorros da Companhia onde ficou em tratamento”.

Instrução do processo de averiguações: na sequência da participação do cmdt de companhia, o Comando Territorial Independente da Guiné (CTIG) ordena que se instaure “processo por falecimento em combate nos termos da Instrução 15ª das Instruções para execução do Decreto-Lei 28404, de 31 dez 37, respeitante ao soldado nº 2955/63,  José António Canoa Nogueira, do Pel Mort 942 da CCS/BCAÇ 619”.

Certidão de óbito e relatório médico: estes dois documentos fazem parte do processo de averiguações e atestam sobre as causas da morte do soldado José António Canoa Nogueira.

(i) no primeiro documento, a Certidão de Óbito assinada a 23 de janeiro de 1965, o alferes miliciano médico, João Luís da Silva Sequeira, declara “que o soldado José António Canoa Nogueira residia em Catió, faleceu às 3 horas do dia 23 de janeiro de 1965, que a duração da doença se prolongou por 15 minutos, causada por traumatismo craniano com perda de massa encefálica, em estado terminal de coma”;

(ii) segundo documento: do Relatório Médico assinado a 1 de fevereiro 1965 pelo mesmo médico, consta que “o soldado José António Canoa Nogueira foi ferido durante o ataque ao estacionamento de Cufar e presente no Posto de Socorro, no qual se verificou as seguintes lesões: 1) derramamento da calote craniana na região parieto-occipital esquerda numa extensão de cinco centímetros; 2) perda de massa encefálica pelo citado ferimento; 3) estado de coma. Em virtude da gravidade das lesões veio a falecer neste Posto de Socorros, após cerca de 15 minutos de ter dado entrada”.

Abate ao efetivo: a 5 de fevereiro 1965 o alferes Manuel Henriques de Oliveira, Chefe da Secretaria do BCAÇ 619, sediado em Catió, divulga a cópia do artº 3.º da OS (Ordem de Serviço) 12, do BCAÇ 619 na qual se “confirma que o soldado n.º 2955/63, José António Canoa Nogueira, do Pel Mort 942/CCS, faleceu em 23 do mês findo, pelas 02h 45, por motivos de ferimento em combate, foi abatido ao efetivo do seu Pelotão e desta Unidade desde a mesma data”.

Ministério do Exército considera o acidente morte em combate: em 20 de abril de 1965 o Ministério do Exército, através do Comando Territorial da Guiné em Bissau ( Informação nº 1865/E do Serviço de Justiça e Disciplina)  informa por ofício assinado pelo Chefe de Serviço, capitão Raul Santos,  que: “i) em 23 de janeiro, faleceu, vítima de ferimentos recebidos em combate, o soldado nº 2955/63, José António Canoa Nogueira, do Pel Mort 942 do BCAÇ 619; ii) o processo foi organizado sumariamente, nos termos da Determinação nº 15 da OS nº 12, 1ª Série de 1961, pág. 639; iii) em presença dos elementos supra, este Serviço é de parecer que: a) o acidente deve ser considerado em serviço; b) de harmonia com a Determinação VII da O.E. nº 3, 1ª Série, de 1941, e aditamento constante da circular nº 18246, Pº 26, de 20.09.1957 o processo deve subir à DSP para os devidos efeitos. Quartel-General em Bissau, 20 de abril de 1965”.

(Continua)

(Seleção, revisão / fixação de texto, negritos: LG)
________________

Nota do editor LG:

(*) Excertos do livro do Jaime Bonifácio Marques da Silva, "Não esquecemos os jovens militares do concelho da Lourinhã mortos na guerra colonial" (Lourinhã: Câmara Municipal de Lourinhã, 2025, 235 pp., ISBN: 978-989-95787-9-1), pp. 163/165.

quarta-feira, 25 de junho de 2025

Guiné 61/74 - P26956: Historiografia da presença portuguesa em África (487): A Província da Guiné Portuguesa - Boletim Oficial do Governo da Província da Guiné Portuguesa, ainda 1926, dois documentos a abonar o desejo de bem servir do Governador Velez Caroço (41) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 15 de Janeiro de 2925:

Queridos amigos,
Andava a mexer e a registar o que mais de significativo seria para destacar do ano de 1927, quando me faltava algo a mencionar da governação de Vellez Caroço. Fui buscar o meu livro "Os Cronistas Desconhecidos do Canal de Geba", procurei este ano de 1926 e apercebi-me que o BNU e uma boa parte do comércio exportador dava por paus e pedras quanto às medidas propostas pelo governador para que não faltasse fluidez em cambiais para as transferências do encargo do Governo, pensões dos funcionários, necessidades do comércio importador, insurgiram-se e encaixavam-se a Lisboa, irá começar um contencioso assaz dramático que levará ao governador pedir a demissão, prontamente aceite pelo ministro João Belo e Vellez Caroço despede-se magoadíssimo, diz mesmo que há para ali um sinistro bater de asas dos abutres que pretender exercer a sua ação de rapina. Tenho para mim que devia merecer uma investigação aturada toda esta governação de 5 anos de alguém que, iniludivelmente, mudou a Guiné, ou pelo menos a valorizou e pode escrever à saída que dela saiu com as mãos limpas.

Um abraço de
Mário



A Província da Guiné Portuguesa
Boletim Oficial do Governo da Província da Guiné Portuguesa, ainda 1926, dois documentos a abonar o desejo de bem servir do governador Velez Caroço (41)


Mário Beja Santos

Considerei necessário voltar ao último ano de governação de Vellez Caroço, recordado que estava do litígio monumental que existia entre o governador e os parceiros económicos e financeiros, quando estava a preparar o meu livro Os Cronistas Desconhecido do Canal de Geba: O BNU da Guiné, ambos os chefes de delegação do BNU em Bolama e em Bissau criticavam profundamente as cambiais, dirigiam-se ao ministro das Colónias dizendo que a Guiné caminhava para o desastre mais completo. Ora Vellez Caroço dirigiu-se ao ministro das Colónias em 12 de abril apresentando os difíceis problemas das transferências e propondo soluções, como se pode ler:
“Atendendo à grave crise que atravessava a província da Guiné, devido à falta de transferências por parte do BNU, que alegava não ter coberturas para que em troca do escudo guineense a província pudesse satisfazer os seus encargos no estrangeiro e na metrópole, foi o Governo da província obrigado a pôr em execução um diploma, ultimamente tão discutido na imprensa, mas que, incontestavelmente, incalculáveis benefícios trouxe à província da Guiné.

Como grandes são esses benefícios Sr. Ministro, que seria um grave prejuízo para a administração daquela província tal problema não fosse mantido, ou então, substituído por uma outra medida equivalente que cabalmente satisfizesse os fins visados nesse diploma, isto é, garantir ao BNU em cambiais as coberturas necessárias para as transferências dos encargos do Governo, pensões de funcionários e necessidades do comércio importador.
Com a suspensão por parte do BNU das transferências, ficou uma casa comercial da Guiné, a mais importante da província, a Casa António Silva Gouveia, Limitada, a fazer transferências com prémios exagerados, desvalorizando assim o escudo da Guiné a seu talante, o que, necessariamente, importaria dentre em bem pouco tempo o monopólio de toda a exportação da província a favor desta firma. Pouco interessa ao governador da Guiné a forma de processos de comerciar desta ou qualquer outra empresa, mas a Casa Gouveia, estando a fazer operações bancárias, estava fora da lei pretendendo monopolizar a exportação das oleaginosas, esse plano prejudicava os altos interesses da província.

Difícil é avaliar de longe Sr. Ministro, as perniciosas consequências que a execução de um tal plano acarretaria para a Guiné, mas, quem ali vive há perto de 5 anos, com aqueles que ali têm interesses e afanosamente trabalham em explorações industriais, agrícolas e comerciais, e que pelo exercício dos seus cargos e misteres são obrigados a tratar com os indígenas e, portanto, conhecem alguma coisa da sua psicologia e os incentivo imprescindíveis que eles precisam para o trabalho, no qual reside toda a riqueza e em cuja intensificação assenta todo o progresso e desenvolvimento desta nossa rica colónia, não poder ter dúvidas nem hesitar em afirmar que esse monopólio tinha como consequência uma diminuição de trabalho por parte do indígena. Senhora da exportação de oleaginosas, a Casa Gouveia estabeleceria preços mínimos na sua compra ao indígena e estes, imediatamente, afastariam a sua atividade, reduzida simplesmente ao necessário, para a cultura de arroz, milho, feijão, mandioca e outros géneros que bastavam à sua alimentação.”


E, mais adiante:
“Outro perigo há ainda a evitar: é o contrabando para o território francês. A fronteira da Guiné é extensíssima e não há forma económica de obter-se uma fiscalização eficaz. A única forma é a concorrência de preços. Este ano, como no território francês pagavam a mancarra por melhor preço, principalmente no início da campanha, já se fez muito contrabando para lá. O que será amanhã quando a Casa Gouveia, ou qualquer outra, conseguir acabar com a concorrência e puder estabelecer no mercado interno preços a seu talante?”
Não escondendo que o diploma por ele mandado publicar fora alvo de reclamações quer por parte do comércio estrangeiro quer por parte da Casa Gouveia, o governador afirma que o diploma encerra um erro na parte que diz respeito ao depósito de 50% das cambiais dos produtos despachados para a metrópole, alegando que esse erro não traz ilegalidade ao diploma.

E escreve o seguinte:
“Mas, caso assim não fosse, nas mãos do Governo da Metrópole estava a resolução do assunto. Devido, porém, às reclamações que V. Ex.ª tem sido apresentada contra o diploma, uma solução eu venho propor que satisfará por completo os pontos de vista que o Governo da província procura efetivar com o seu diploma, e em coisa alguma irá lesar interesses do comércio exportador, quer estrangeiro quer nacional. Consiste essa solução em o Governo da Metrópole ceder das cambiais provenientes da exportação e reexportação da Guiné e que o Governo cobra, e que serão depositadas no BNU, ficando este obrigado a publicar no Boletim Oficial da Colónia uma conta corrente que sumariamente mostre a aplicação dessas cambiais e onde o Governo e o comércio facilmente possam verificar que 50% das cambiais da Guiné tem uma rigorosa e exclusiva aplicação às suas necessidades de transferência.

Outra solução há mas essa acarretará necessariamente uma maior intensificação nas reclamações do comércio estrangeiro, pois a adotar-se, poderá dizer-se que o diploma que eu promulguei só foi feito para agravar esse comércio, o que, debaixo do ponto de vista internacional e da boa harmonia existente hoje em todo o comércio da Guiné, que muito favorece a nossa política colonial, reputo inconveniente.
Essa outra solução consiste em manter o meu diploma na parte relativa à exportação para os portos estrangeiros e sustentar os produtos destinados aos portos da metrópole, mas sendo, todavia, as cambiais resultantes da reexportação desses últimos produtos, não aproveitados na indústria nacional e enviados a portos estrangeiros, depositados no BNU para servirem de coberturas ao movimento de transferências da Guiné.”

E conclui:
“Eis, Sr. Ministro, o que sobre tão momentoso problema ouso que expor a V. Ex.ª, esperando que as minhas propostas mereçam a esclarecida atenção de V. Ex.ª e que uma rápida solução seja dada para que a província da Guiné prosseguir o seu caminho de civilização e progresso.”


O diploma em referência irá conhecer alterações conforme aparecem publicadas no suplemento do Boletim Oficial, com data de 29 de junho, e igualmente o Boletim Oficial publica alterações propostas em harmonia com o acordo estabelecido entre o Governo central e o governador da Guiné, ouvidas as entidades interessadas que aí tinham a sua representação, haveria discussão destas alterações na sessão do Conselho Legislativo. O comércio exportador continuará a protestar e o BNU a negar financiamentos, será um braço de ferro terrível, os governos sucedem-se, Vellez Caroço dirige-se ao ministro das Colónias João Belo, faz ver a situação desastrosa em que se encontra a Guiné e se não lhe der uma solução pede a demissão. João Belo demite prontamente o governador a 16 de dezembro e a 18 está nomeado um encarregado do Governo, o Capitão António José Pereira Saldanha.

No suplemento publicado em 17 de dezembro, Vellez Caroço dirige-se aos militares de terra e mar o funcionalismo da Guiné em geral:
“Sei que entre alguns de vós tenho inimigos e detratores da minha obra na Guiné; não é agora a ocasião de a discutir; o tempo fará justiça e as nossas mútuas ações serão um dia julgadas com retidão e imparcialidade.
Saindo, porém, da Guiné de consciência e mãos limpas, saberei esquecer as ofensas para só me lembrar daqueles que com lealdade comigo cooperaram no desenvolvimento e engrandecimento desta rica província, joia inestimável e preciosa do nosso vasto domínio colonial.
Faço votos para que o sinistro bater de asas dos abutres e aves agoirentas que, rapaces esvoaçam nos céus da Guiné, se perca no espaço infinito e, lá bem longe dos nossos domínios, vai exercer a sua ação de rapina. Ao sair da Guiné trago mais uma vez, com toda a minha alma, com o coração sangrando, ferido pelas injustiças dos homens: Viva a Pátria! Viva a República Portuguesa!”


Tenente-coronel Vellez Caroço
A primeira central elétrica de Bissau, em 1940
_____________

Nota do editor

Último post da série de 18 de junho de 2025 > Guiné 61/74 - P26933: Historiografia da presença portuguesa em África (486): A Província da Guiné Portuguesa - Boletim Oficial do Governo da Província da Guiné Portuguesa, 1924 a 1925, de 1925 a 1926, é o fim da era do governador Vellez Caroço (40) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P26955: Os 50 anos de independência de Cabo Verde (2): vai estrear, em julho, no dia 4, na Praia, e no dia 11, no Mindelo, o filme "Nós, povo das ilhas", de Elson Santos e Lara Sousa (Documentário em português, 80', 2025, PT, CV, MZ)




Fotograma do filme "Nós, povo das ilhas", de realizadopelo cabo-verdiano Elson Santos e a moçambicana Lara Sousa (Documentário em português, 80', 2025). Trata-se de uma coprodução da Soul Comunicação (Cabo Verde), Midas Filmes (Portugal) e Kulunga Filmes (Moçambique). Terve  antestreia no IndieLisboa, 4 maio, domingo, 19:30,  no Cinema Ideal

 (Cortesia: Midas Filmes)



NÓS, POVO DAS ILHAS
Elson Santos, Lara Sousa
DCP | 80’ | 2025 | PT, CV, MZ 

Sinopse: 

"A partir de uma foto esquecida de um grupo de guerrilheiros cabo-verdianos clandestinos nas montanhas de Cuba, Elson, um jovem cineasta vai em busca dos heróis silenciados desta ousada e pouco conhecida operação militar, cujo principal objectivo era realizar o sonho de Amílcar Cabral de libertar o país das garras do colonialismo.

Num vai-e-vem entre o passado e o presente, o filme estabelece uma conversa com os heróis da Independência do país. Com eles, viaja pelos anos de luta na Guiné e no Cabo Verde pós-independência, reflectindo sobre sonhos, pesadelos e o que é o país hoje, entre a utopia e o esquecimento.

(Fonte: Midas Filmes)




1. Vai fazer 50 anos que Cabo Verde se tornou independente, em 5 de julho de 1975. Nesta série vamos dando apontamento e notícias sobre essa efeméride.  

Como já aqui o dissemos, esta data históricca  é uma boa ocasião para reforçar laços, afetivos e históricos, entre nós, independentemente do lado da barricada onde cada um de nós estava há 50/60 anos. (*)

Ontem recebemos uma mensagem do nosso amigo Nelson Herbert Lopes, que nos enviou o link com a noticia da estreia, na cidade da Praia, e depois no Mindelo,  do documentário, de 80 minutos, "Nós, Povo das Ilhas", do cabo-verdiano Elson Santos (n. 1977) e do moçambicano Lara Sousa.

O Nelson Herbert, guineense de origem cabo-verdiana,  tem 70 referêncvias no nosso blogue: jornalista,  trabalhou na VOA - Voice of America, e viveu nos EUA, estando hoje reformado: vive no Mindelo, São Vicente.

 
Data - 24/06/2025, 10:50 (há 20 horas
Assuto - Documentário "Nós, Povo das Ilhas" estreia em Cabo Verde relembrando a luta pela independência (Cultura - Santiago Magazine (...)


2. Reproduzimos cvom a devida vénia a notícia  publicada no Santiago Magazine




Por SM/Inforpress | 24 de Jun de 2025


Cabo Verde recebe a estreia do "Nós, Povo das Ilhas" no dia 04 de Julho, no Auditório Nacional, na Praia, marcando um momento de revisitação da história do país, conforme indicou Elson Santos, um dos realizadores do filme.

Em comunicado enviado à Inforpress, o realizador explica que o documentário retrata uma janela para a “memória e o debate essencial em desvendar a história por detrás de uma foto esquecida de guerrilheiros cabo-verdianos”.

A narrativa central foca-se numa operação militar da luta de libertação “ousada e pouco conhecida”, que decorreu em Cuba, com a intenção de preparar 31 guerrilheiros cabo-verdianos para uma invasão de Cabo Verde.

Embora a missão não se tenha concretizado, o treino serviu de base preparatória para a luta armada de libertação liderada por Amílcar Cabral e que viria a culminar na proclamação da Independência de Cabo Verde em 5 de Julho de 1975.

“O filme estabelece uma conversa íntima com cinco dos integrantes desse grupo, o ex: presidente Pedro Pires, Agnelo Dantas, Júlio de Carvalho (recentemente falecido e a quem o filme é dedicado), Silvino da Luz e a única mulher do contingente, Maria Ilídia Évora, conhecida por Dona Tutu”, lê-se na nota.

Segundo Elson Santos, a produção do filme enfrentou desafios, nomeadamente a dependência de financiamento externo e as dificuldades no acesso a arquivos audiovisuais que retratam a história de Cabo Verde.

O filme que estreou em Lisboa, Portugal, no dia 4 de maio, vai ser apresentado na cidade da Praia, no Auditório Nacional, a 4 de julho, e em São Vicente, no Auditório Onésimo Silveira, na Uni-Mindelo, no dia 11 de julho.

(Revisão / fixação de trexto, edição da foto: LG)


3. Sobre a estreia do filme em Cabo Verde, ver aqui uma peça da RTC - Rádio Televisão Cabo-verdiana, incluindo uma entrevista com o realizador Elson Santos: disponível no You Tube (7' 07'').
_________________

Nota do editor LG:

(*) Último poste ds série > 11 de junho de 2025 > Guiné 61/74 - P26909: Os 50 anos da independência de Cabo Verde (1): a "nova força africana" e a falta de formação em liderança e sensibilidade sociocultural de oficais e sargentos metropolitanos (José Macedo, ex-2º ten fuzileiro especial RN, DFE 21, Cacheu e Bolama, 1973/74)

Guiné 61/74 - P26954: Álbum fotográfico do Padre José Torres Neves, ex-alf graduado capelão, CCS/BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) - Parte XXV: Vila e quartel de Mansoa



Foto nº 1A e 1 > Mansoa (1) > Presumivelmente a sede da circunscrição e a casa do administrador


Foto nº 2 > Mansoa (2) > Ao fundo vê-se um reordenamento. A população era maioritariamente balanta (subgrupo dos mansoncas)




Fotro nº 3A e 3 > Ponte sobre o rio Mansoa


Foto  nº 4 > Ponte de Mansoa (2)


Foto nº 5 > O padre Patrocínio, da paróquia de Mansoa.

Guiné > Zona Oeste > BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) > Mansoa > s/ d> 

Fotos do álbum do Padre José Torres Neves, capelão

Fotos (e legendas): © José Torres Neves (2025). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné > Região Oeste > Mansoa > Carta de Mansoa (1954) (Escala 1/50 mil) > Posião relativa da vila de Mansoa, de Jugudul  e dos rios Braia e Mansoa (Jugudul ficava a sul; no final da guerra estava em conatrução o troço Jugudul-Bambadinca).

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné  (2025)


1, Mensagem do Ernestino Caniço (ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 2208, Mansabá e Mansoa; Rep ACAP - Repartição de Assuntos Civis e Ação Psicológica, Bissau, fev 1970/fev 1971, hoje médico, a residir em Tomar; fez amizade com o Zé Neves, e este confiou-lhe o seu álbum fotográfico da Guiné, que temos vindo a publicar desde março de 2022; são cerca de duas centenas de imagens, provenientes dos seus diapositivos, digitalizados; uma coleção única, preciosa.

Ele tem sido zeloso e diligente guardião do álbum fotográfico da Guiné, do padre missionário José Torres Neves, merecendo os dois os nossos melhores elogios e saudações.  O Padre Neves reformpou-se recentemente de uma vidfa inteira dedicada às missões católicas, nomeadamente em África.
 
Data - sábado, 7/06, 12:44
Assunto - Fotos do Padre Ze Neves
 
Caros amigos:

Votos de ótima saúde.

Em anexo envio-vos as primeiras doze fotos do álbum do meu amigo Padre Zé Neves.

Na foto  nº 5  parece-me o Padre Patrocínio (padre civil de Mansoa)

Grande abraço,
Ernestino Caniço

(Revisão / fixação de texto, edição e numeração das fotos: LG)
_________________

Nota do editor LG:

(*) Último poste da série > 11 de maio de 2025 > Guiné 61/74 - P26791: Álbum fotográfico do Padre José Torres Neves, ex-alf graduado capelão, CCS/BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) - Parte XXIV: Mais fotos de Mansabá, novembro de 1970

terça-feira, 24 de junho de 2025

Guiné 61/74 - P26953: Notas de leitura (1813): O livro do Jaime Bonifácio Marques da Silva, "Não esquecemos os jovens militares do concelho da Lourinhã mortos na guerra colonial" (2025) (235 pp.) - Parte II: apresentação de Joaquim Pinto Carvalho



Lourinhã  > Salão Nobre da Câmara Municipal da Lourinhã > 21 de junho der 20256 >  Sessão de lançamento do livro do nosso camarada Jaime Bonifácio Marques da Silva, "Não esquecemos os jovens militares do concelho da Lourinhã mortos na guerra colonial" (Lourinhã: Câmara Municipal de Lourinhã, 2025, 235 pp., ISBN: 978-989-95787-9-1) (*)

Da esquerda para a direita, o Joaquim Pinto Carvalho (que fez o posfácio do livro, e apresentou o livro e o autor), o autor, Jaime Silva, e o Luís Graça (que fez o prefácio do livro, e falou sobre a Lourinhã e a guerra do ultramar / guerra colonial) (*). 

Três amigos... estremenhos, colegas, companheiros e camaradas, cofundadores da "Tabanca do Atira-te ao Mar... e Não Tenhas Medo!", em plena pandemia de Covid-19... Localização: Porto das Barcas, Atalaia, Lourinhã...

0 Jaime Silva foi alf mil pqdt, BCP 21 (Angola, 1970/72), cruz de guerra de 3. classe.

Foto: Página do Facebook do Municipio da Lourinhã (com a devida vénia...)


Seleção e edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2025)


1. Sobre o Joaquim Pinto Carvalho:


(i) tem mais de 60 referências no nosso blogue,

(ii) é membro nº 633 da Tabanca Grande;

(iii) foi alf mil da CCAÇ 3398 (Buba) e CCAÇ 6 (Bedanda) (1971/73);

(iv) natural do Cadaval, é advogado, poeta e régulo da Tabanca do Atira-te ao Mar, Porto das Barcas, Atalaia, Lourinhã;

(v) é autor, entre outras obras, de uma brochura com a história da unidade, a CCAÇ 3398, distribuída no respetivo XXV Convívio, realizado no Cadaval, em 18/9/2021.

2. A Tabanca do Atira-te ao Mar, apesar de "secreta", não escapa à "bisbilhotice" do assistente de IA / Gemini /Google, que nos informou o seguinte:


(...) Sim, conheço a "Tabanca do Atira-te Ao Mar". É uma organização localizada no Porto das Barcas, em Lourinhã, Portugal.

De acordo com as informações disponíveis:

  • foi criada por Joaquim Pinto Carvalho e Maria do Céu Pinteus, que são os responsáveis pelo apoio logístico;
  • está associada ao blogue "Luís Graça & Camaradas da Guiné":
  • é também referida como "Tabanca do Atira-te ao Mar (... e Não Tenhas Medo)", com sede no Porto das Barcas, Atalaia, Lourinhã.

Apesar de não ter conseguido aceder diretamente à página do blogue, obtive estas informações através de uma pesquisa geral.

Pode encontrar mais detalhes nos seguintes links:

Guiné 61/74 - P21328: Tabanca do Atira-te ao Mar, Porto das Barcas, Lourinhã (1)

Tabanca do Atira-te ao Mar - Luís Graça & Camaradas da Guiné " (...)



3. Texto da apresentação do livro do Jaime Bonifácio Marques da Silva,  na sessão de lançamento, realizada no passado dia 21, no Salão Nobre da Câmara Municipal d Lourinhã, às 11h00:

AO "BONIFÁCIO"

Estamos aqui três antigos colegas de estudo, três antigos combatentes e, sobretudo, três amigos já com uma alguma antiguidade.

Conheci o Jaime no seminário de Santarém, no ano em que começava a “guerra colonial”! Anos depois, acabaria por conhecer o Luís, mas não de maneira tão próxima e noutro seminário. E foi através do Jaime que, há alguns anos, voltei a reencontrar o Luís. O Jaime apresentou-me o Luís como o criador do blogue “Luís Graça & Camaradas da Guiné”, blogue que eu já conhecia porque também estivera na Guiné.

O reencontro deu-se, na minha casa, na Atalaia. Recordo que, no meio da conversa, virei-me para o Luís e disse-lhe: "Então tu, o Luís Graça do Blogue, és o mesmo Luís Graça que eu conheci no seminário?"... 

E a partir daí, os três temos mantido um contacto próximo e regular que foi, de forma mais assídua, no período da pandemia Covid 19 e depois! 

Somos três filhos do pós-guerra (da segunda guerra mundial – que a terceira ainda não acabou!) e fomos “camaradas” na “guerra colonial”. Quando começou, no dealbar dos anos 60 – não sei se era também a ideia destes meus amigos! – a “guerra do ultramar” não nos dizia nada nem pouco nos preocupava. 

Eu estava convencido que, quando chegasse o tempo da “tropa”, a guerra já teria terminado. Puro engano! Os três fomos mobilizados: o Jaime, caiu de paraquedas em Angola e nós, os dois, sem paraquedas, batemos com os costados na Guiné! 

Uma coisa é certa: quando nos conhecemos ou quando, mais tarde, estivemos na guerra colonial, estávamos bem longe de pensar estar aqui hoje, os três, nesta vida bem mais airada. Mas hoje aqui estamos, neste ato, com a solenidade merecida, muito por causa dessa guerra, mas muissimo mais por culpa da amizade que nos une. 

Aqui estamos os três, colegas de estudo, camaradas combatentes e amigos e, à nossa frente, temos esta ilustre assembleia que se reuniu por causa de um livro, acabadinho de nascer! De parto difícil, ao que sei! 

O Luís Graça fez o ""prefácio", eu fiz o "posfácio", e o Jaime fez o "bonifácio - “bonifácio”,  do latim “bonum” + "facere” – que significa “fazer o bem”...  

E o Jaime o fez muito bem! Mas este livro não tem três pais, não é, de forma alguma, uma obra comum dos três. Foi concebido e escrito apenas por duas mãos ou a um só teclado, ou, melhor dizendo, foi gerado pelo coração e pela vontade do Jaime Bonifácio Marques da Silva, paternidade autoral que está inscrita logo no topo da capa do livro. Nós dois seremos, digamos assim, os “padrinhos de guerra” deste ser recém-nascido! 

Nota-se bem   – ou será mera impressão minha – que o Jaime, hoje, parece estar mais tranquilo, menos estressado e deve estar satisfeito: ao fim de mais de uma década de pesquisa, de recolha de testemunhos, de compilação e organização de dados, e numa década atravessada pelos riscos da pandemia Covid 19 e pelas vicissitudes da sua vida familiar, o Jaime venceu mais um bom combate. 

O Jaime é assim, combatente e guerreiro, é um veterano, não só da guerra, mas também das armas literárias que defendem a memória da guerra colonial! O Jaime já teve oportunidade de participar num trabalho coletivo, semelhante, quando foi vereador na Câmara Municipal de Fafe e fá-lo agora, imagino eu, com redobrada dedicação e entusiasmo, na terra e no município que o viu nascer e onde nasceram ou de onde partiram os jovens militares que vão recordados nesta obra! 

O Jaime não só deve estar satisfeito como está de parabéns! Parabéns... Porque o livro está pronto e está lindo. Na capa e no conteúdo. E também o livro deve estar feliz e desejoso para seguir o seu destino: chegar às mãos dos leitores, de todos nós e de outros, e ser lido e compreendido. 

O livro aí está. Completo, até no título. E inteiro. Tem corpo. Compõe-se de cabeça, tronco e membros. 

Na cabeça, o primeiro capítulo, mais racional, faz-se o enquadramento factual e sociopolítico da eclosão e desenvolvimento da guerra colonial. 

No segundo capítulo, o tronco, onde se situa o coração, bate o senmento, pulsa o testemunho pessoal do autor e digere-se a sua experiência como paraquedista e combatente. 
Nos membros, terceiro e quarto capítulos do livro, acolhem-se os 20 jovens militares e dá-se a mão ao objetivo da obra e seguem-se os passos que aqueles combatentes deram até à sua morte. Tudo detalhada e profusamente documentado e ilustrado. 

Este é o seu corpo; reserva-se ao leitor o desafio de lhe perscrutar a alma. Quanto a mim, a alma, o intuito do autor vai além desse corpo, das palavras. O autor pretende também preservar a memória desse conflito, ou seja, proclamar que a guerra colonial existuu, foi real, é história documentada, não é uma ficção! 

É certo que foi uma guerra que não se venceu, que acabou com os “restos” do império colonial português. Perdeu-se a guerra e o império, mas, por ela, ganhou-se a liberdade e o direito à cidadania. Só por isso – e apesar disso – valeu a pena existir! Foi na guerra que nasceu o 25 de abril que lhe pôs fim! E se, neste ano, acabámos de celebrar os cinquenta anos da “Revolução dos Capitães e dos Cravos”, já se ouvem vozes, com alguma violência até, a denegrir (sem qualquer conotação racista) e deturpar este facto histórico que trouxe a democracia que nos permite hoje estarmos aqui juntos e expressarmo-nos...

E não tardará que, como aconteceu com o Holocausto da segunda guerra mundial, surjam também teorias negacionistas a tentar branquear esta guerra e as suas sequelas familiares e sociais. 
A guerra colonial é uma página importante, ainda que triste, da história de Portugal e sobretudo desta geração de combatentes que são, por assim dizer, os úl mos heróis  – ou mátires - do império colonial português, mesmo aqueles que não tombaram em combate! 

Daqui a 20 ou 30 anos, não haverá ninguém para contar a história desta guerra e da geração que a suportou! Por isso, é preciso que o David e os netos desta geração não a esqueçam e que a Pátria preste aos combatentes o devido louvor e reconhecimento  – o que nem sempre é feito na justa medida.

Este livro obriga a NÃO ESQUECER esses heróis e, no caso concreto, os jovens lourinhanenses que morreram na e por causa da guerra colonial, em Angola, Guiné e Moçambique e é louvável que a Câmara Municipal da Lourinhã se tenha mobilizado também para esta nobre missão de preservar a memória coletiva e contribuído, com a publicação deste livro, para este bom combate da escrita e da cultura. 

Li há dias no “Blogue do Luís Graça” as seguintes palavras num “post” do Zé Teixeira que tomo a liberdade de citar: 

“Todos ficámos presos ao lamaçal da guerra, apesar de ela ter acabado há muito tempo. Regressámos, mas trouxemo-la connosco. Dorme connosco todas as noites. Não conseguimos desenvencilharmo-nos dela, apesar de ter terminado há muito tempo”. 

É por isso que, para terminar, como posfácio desta minha intervenção, quero deixar um recado amigo ao Jaime. É verdade que não esquecemos... a guerra e outras coisas menos boas da vida, mas apesar das adversidades, a vida continuou ou, recorrendo a uma frase bati da e frequentemente usada até pelos políticos, há mais vida para além da guerra. E é esta que vale a pena viver! 

Por isso, meu caro Jaime, não te esqueças deste recado, em jeito de mensagem: fica em paz com aquilo que deste a este livro e que este livro contém e deixa que o livro, hoje menino, cresça para o mundo dos leitores e dos livros e siga o seu caminho, a sua vida! 

Obrigado, Jaime, pelo teu livro, pelo teu... "bonifácio"! (**)

Joaquim Pinto Carvalho

(Revisão / fixação de texto: LG)

_______________

Notas do editor LG:

(*) Vd. poste de 23 de junho de 2025 > Guiné 61/74 - P26949: Notas de leitura (1811): O livro do Jaime Bonifácio Marques da Silva, "Não esquecemos os jovens militares do concelho da Lourinhã mortos na guerra colonial" (2025) (235 pp.) - Parte I: apresentação de Luís Graça

(**) Último poste da série > 23 de junho de 2025 > Guiné 61/74 - P26950: Notas de leitura (1812): Guiné - Os Oficiais Milicianos e o 25 de Abril; Âncora Editora, 2024 (2) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P26952: Agenda cultural (891): "Querido Pai, uma conversa entre ausentes - Cartas da guerra, 1961-1975", por Ana Vargas e Joana Pontes; Tinta da China, Julho de 2025


A correspondência entre pais mobilizados e os seus filhos menores durante a guerra colonial

Prefácio: Aniceto Afonso
Julho de 2025 | 304 PP | 17,2 X 21,4 cm
ISBN: 978‑989‑671‑951-7

Envios a partir de 03/07/2025

********************

A história que aqui se conta é a da relação dos militares mobilizados para a guerra colonial portuguesa com os filhos menores que deixaram na Metrópole ou que vieram a nascer na sua ausência, vivida através da correspondência. Em aerogramas escritos e desenhados, o militar vai desempenhando o seu papel de pai. Os filhos, por seu lado, consoante a idade, vão respondendo da maneira que conseguem, por vezes com a ajuda das mães, dos irmãos ou de outros familiares. Esta troca de correspondência revela as inquietações de ambos os lados e oferece‑nos uma reflexão muito particular sobre a ideia de família numa sociedade em mudança, a par dos valores e dos contextos sociais que marcaram uma época fundadora na história do país.

«As cartas entre pais e filhos, normalmente ainda crianças, levam e trazem emoções especiais e sentimentos íntimos que devemos olhar com delicadeza e compreensão. Fazer História obriga‑nos a considerar também estes casos singulares das relações com as crianças, o que nem sempre é um caminho fácil.»

Aniceto Afonso, Prefácio

A devida vénia a TINTA DA CHINA
_____________

Nota do editor

Último post da série de 22 de junho de 2025 > Guiné 61/74 - P26947: Agenda cultural (890): Lançamento do livro do Jaime Bonifácio Marques da Silva, "Não esquecemos os jovens militares do concelho da Lourinhã mortos na guerra colonial": Lourinhã, 21 de junho de 2025: fotogaleria

Guiné 61/74 - P26951: O Cancioneiro da Nossa Guerra (26): "Quero Ir para Lisboa", paródia cantada pela malta do BCP 12, em Cacine, em junho de 1973, ao tempo da CCAÇ 3520 (Abílio Magro, ex-fur mil amanuense, CSJD/QG/CTIG, 1973/74),




Crachá da madeirense CCAÇ 3520, disponibilizado em formato digital pelo nosso grão-tabanqueiro Juvenal Candeias, ex-alf mil.

Foto: © 
 Juvenal Candeias (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Há 13 anos atrás o  Abílio Magro (ex-fur mil amanuense, CSJD/QG/CTIG, 1973/74), na sua série "Um Amanuense em Terras de Kako Baldé" (*), escerevia, bem humorado:



(,,,) Decorria o mês de junho de 1973. Eu ainda era muito "pira", não tinha completado ainda 3 meses de Guiné. Vinha do "ar condicionado" e encontrava-me em Cacine, no meio de grande confusão, tropas páraquedistas, fuzileiros, Marcelino da Mata, etc.

Felizmente em Cacine não faltava nada. Não faltava cerveja morna, não faltava uma pedra de gelo, por cabeça, às refeições, não faltava o arroz de "rolhas" (arroz com muito colorau e meia dúzia de rodelas de salsicha), etc., etc..

A CCAÇ 3520  [ "Estrelas do Sul", ou "Os Homeopáticos Cacine´", mobilzados pelo BI 17, Funchal, dez 71 / mar 74, com pelotões destacados em Cameconde, Guileje. Cacine, 1971/74 ] era um companhia farta. Farta de ali estar, farta de comer arroz de "rolhas", farta de esperar pela rendição. Julgo que não cheguei a completar 4 semanas de "férias" naquela "estância balnear", mas foi o suficiente para imaginar uma estadia de 23 meses!

Tenho ideia de só ter comido arroz de "rolhas" durante aquele período. Posso estar enganado. Comecei a dar mais valor ao "pessoal do mato". Antes 527 serviços de Sargento da Guarda!

O major Leal de Almeida  
 [ comandnate do COP 5 ?]  lá continuava a fazer incursões por Gadamael e levava habitualmente consigo o outro furriel. O major, além de me ter pedido, no início, para lhe dar um jeito no "estaminé", pouco mais me pediu para fazer. Apenas um ou outro "mail" para Bissau.

E eu... andava por ali a ver as "bajudas"! (...) Entretanto, eu ia jogando a "lerpa", bebendo umas "bejecas" mornas e convivendo com os sargentos paraquedistas (ah gente do "catano"!).

Recordo-me bem de um convívio noturno na "messe" de sargentos. Houve de tudo! Aguardente, fados, poesia, etc., tudo a roçar o "hard-core", claro! Gente espetacular, camaradagem excelente e com uma disciplina extraordinária, nomeadamente com o armamento.

Guardei na memória alguns versos de um fado cantado pelos "páras" com música do hino académico "Amores de Estudante" e que, salvo erro, rezavam assim:

Quero, quero ir para Lisboa,
Ai, ai, eu quero,
Nem que seja de canoa,
Eu quero ir
P'ra terra santa querida,
Dizer adeus a esta merda
P'ro resto da minha vida.

Pára-quedistas, homens nobres,
Tanto ricos como pobres,
Avançando pela mata (...)

(e de mais não me recordo)




Crachá do BCP 12. Cortesia da página do Facebook Álbuns de  


2.  Ao fim destes anos todos (!), sem qualquer "feedback" da malta do BCP 12, conseguimos recuperar o resto da letra, graças à ajuda do assistente de IA / Perplexity...


(...) Sim, reconheço a canção a que te referes! Trata-se de uma canção popular entre militares portugueses, especialmente associada aos paraquedistas. Muitas vezes é conhecida simplesmente como "Quero ir para Lisboa" ou "Canção dos Paraquedistas". A letra que apresentaste é uma das versões que circulam oralmente, sobretudo entre antigos militares que serviram nas guerras coloniais portuguesas.(...)

Letra Completa (Versão Tradicional)  (embora haja variantes);

Quero, quero ir para Lisboa,
Ai, ai, eu quero,
Nem que seja de canoa,
Eu quero ir
P’ra terra santa querida,
Dizer adeus a esta merda
P’ro resto da minha vida.

Paraquedistas, homens nobres,
Tanto ricos como pobres,
Avançando pela mata,

Com a espingarda na mão,
Sempre prontos para a luta,

Com coragem e devoção.

O assistente de IA / Perplexity deu-nos duas fontes cujos URL, segundo confirmámos, já foram descontinuados. Devem ter tido vida efémera. Nem no Arquivo.pt conseguimos recuperá-los, mas aqui fica o seu registo:
 

https://www.paraquedistas.com/forum/.

Blog "Os Paraquedistas"

https://osparaquedistas.blogspot.com/


3. A letra aqui parodiada pelos páras (de uma das 3 companhias do BCP 12, não sabemos exatamenmete qual, talvez a CCP 122 ou CCP 123) passa a  fazer  parte integrante do Cancioneiro da Nossa Guerra (**),

A autoria da letra é mais provável que seja dos páras (envolvidos na batalha dos 3 G, e que aguentaram Gadamel). A CCAÇ 3520 era madeirense, e era a unidade de quadrícula de Cacine.

De qualquer modo, a letra pdoer ser vista como uma homenagem aos bravos do BCP 12 ("sempre prontos para a luta / com coragem e devoção"), mas também diz muito sobre o "estado de espírito" e o "moral" das NT no terrível período dos três G (Guileje, Gadamael, Guidaje), em maio/junho de 1973. 

Tanto a letra como a música nada têm a ver com os "hinos guerreiros" que podemos encontrar noutras fontes da Net sobre os nossos camaradas paraquedistas...e com os quais reforçam o seu "espírito de corpo".

Eles, o BCP 12, tal como nós, "tropa-macaca" ou (ou do "arre-nacho"), todos estavávamos fartos daquela... "merda" (sic), não se vendo, em meados de 1973,  qualquer luzinha no fim do túnel.. O general Spínola vai "bater com a porta"  na cara de Marcelo Caetano...

Implícita há uma mensagem: o poder político, na altura, usou e abusou da extraordinária capacidade de sofrimento, abnegação, coragem e patriotismo do soldado português. E não esteve decididamente à altura da história!...

O BCP 12, não é preciso recordá-lo,  tem um  brilhante historial no CTIG... Cite-se, pro exemplo,  o sítio dos Boinas Verdes

(...) A competência e eficiência com que os Paraquedistas cumpriram na Guiné as missões atribuídas, de 1961 a 1974, foi paga com a morte em combate de 56 paraquedistas (47 praças, 6 sargentos e 3 oficiais). (...)


4. A letra que reproduzimos acima é uma paródia (e, afinal, não mais do que isso), que se cantarolava enter dois copos e duas saídas para o mato...


(...) Quero, ficar sempre estudante,
P'ra eternizar
A ilusão de um instante.
E sendo assim,
O meu sonho de Amor
Será sempre rezado,
Baixinho dentro de mim. (...)


(Revisão / fixação de texto: LG)

_______________

Notas do editor LGF:


(**) Último poste da série > 30 de maio de 2024 > Guiné 61/74 - P25582: O Cancioneiro da Nossa Guerra (25): Os Gandembéis - Canto IV, Estrofes de I a XI (Fim) (CAÇ 2317, Gandembel, Ponte Balana e Nova Lamego, 1968/69)

segunda-feira, 23 de junho de 2025

Guiné 61/74 - P26950: Notas de leitura (1812): Guiné - Os Oficiais Milicianos e o 25 de Abril; Âncora Editora, 2024 (2) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 31 de Maio de 2024:

Queridos amigos,
O mínimo que se pode dizer deste conjunto de testemunhos é que pela primeira vez acorrem ao palco oficiais de milicianos que participaram de um modo ou do outro no MFA da Guiné, gente que tinha estado nas lutas estudantis, algum deles já tinha iniciado a sua vida profissional, coube-lhes relevantes funções desde o comando das forças militares até à coordenação dos serviços de comunicação e mesmo na direção de serviços da própria administração colonial. Contam como atuaram, formaram o núcleo inicial e este se desenvolveu, como tudo se estava a modificar depois da perda da supremacia aérea, como contribuíram para o 25 de abril. Fica demonstrado como todo este grupo de milicianos teve um papel marcante no fim do Império, como decorreram as negociações com o PAIGC, e todos são unânimes que Spínola era portador de um sonho anacrónico neocolonial que felizmente não houve condições para pôr em prática.

Um abraço do
Mário



Os milicianos no MFA da Guiné (2)

Mário Beja Santos

Na sequência do texto dado à estampa na semana anterior e referente ao livro recentemente publicado e intitulado Guiné, Os Oficiais Milicianos e o 25 de Abril, Âncora Editora, 2024, onde se dá voz a um conjunto de depoimentos de milicianos, alguns deles ligados à crise académica de 1969 e a Coimbra, já deu para entender que por um feliz acaso ocorreu uma gradual convergência entre estes oficiais milicianos sediados em Bissau e o núcleo de oficiais do quadro permanente onde, entre outros, estavam ativos Sales Golias, Duran Clemente e Carlos de Matos Gomes e estreitamente relacionados com o capitão miliciano José Manuel Barroso.

Dá-se a palavra a Eduardo Maia Costa, alferes miliciano do Serviço Geral da Força Aérea, colocado em Bissalanca. Chegou a Bissau no dia 20 de janeiro de 1973, dia do assassinato de Amílcar Cabral. Foi colocado no serviço de Justiça. A Força Aérea, no início desse ano, assegurava a superioridade da tropa portuguesa na guerra, tinha o domínio absoluto dos ares, cumpria sem sobressaltos a rotina que ia desde o apoio às operações, à evacuação dos feridos, ao transporte de pessoas, de géneros e materiais, até aos bombardeamentos.

Depois veio o abalo dado pelo uso dos mísseis terra-ar. Ponto importante para a ligação entre os milicianos foi a oferta feita por Barros Moura ao Major Coutinho e Lima de ser seu defensor, Spínola não gostou deste tipo de intervenção, Barros Moura foi empandeirado para S. Domingos. Em Portugal fermentava o MFA, na Guiné ele surge em agosto de 1973, implanta-se em Bissau, na Força Aérea aderem Jorge Alves e Faria Paulino. Sucedem-se os acontecimentos que outros autores já referenciaram, dá a sua nota pessoal:
“Realizaram-se na Força Aérea eleições para a escolha dos representantes do MFA das diversas categorias, tendo eu sido um dos eleitos dos oficiais milicianos. No dia seguinte apresentámo-nos ao comandante da Base. Ele recebeu-nos um pouco amedrontado, possivelmente pensando que o íamos prender. Foram-nos atribuídas tarefas específicas: substituir, com outros oficiais milicianos, os funcionários dos serviços de trabalho. Os funcionários coloniais receberam-nos de bom grado, eles não se entendiam com os novos tempos, queriam era regressar à metrópole, e logo desapareceram.” Vai passar férias e regressa a Bissau em 10 de agosto, aqui o ambiente era de fim do império, Portugal iria reconhecer no dia 26 a independência da Guiné.

Segue-se o depoimento de João Ferreira do Amaral, que chegou a Bissau em março de 1973, comenta a situação político-militar a partir dessa data. Ele está nos serviços de economia, recorda o aumento do preço de arroz, procurava-se a todo o transe garantir o abastecimento deste alimento básico; continuará nestes serviços até ao princípio de outubro. “Tive a oportunidade de transferir a administração dos serviços de economia para as novas autoridades, acompanhando o ministro Dr. Vasco Cabral, numa visita a uns serviços que estavam então a meu cargo, economia, estatística e planeamento.”

Dá-se agora a palavra a João Teixeira, alferes-miliciano com a especialidade de Engenharia, colocado na Base Aérea n.º 12. Chega a Bissau a 21 de janeiro de 1973, é esperado no aeroporto por José Manuel Barroso, especula-se sobre quem mandou matar Amílcar Cabral. Descreve a sua vida em Bissau, os acontecimentos posteriores aos abates dos aviões com os mísseis terra-ar, a adaptação dos voos à nova realidade, os apelos urgentes a Lisboa para se encontrar a competente defesa aérea para a Guiné. João Teixeira discorre amplamente sobre a evolução do MFA na Guiné, a tentativa neocolonial perpetrada por Spínola, e como foi derrotada, dá-nos um quadro do que foi a Assembleia Geral na Guiné em 1 de junho, e regressa a Lisboa em meados de setembro.

É o momento de ouvirmos José Manuel Barroso, capitão miliciano, parecia que ia para o mato, mas é nomeado para trabalhar com Spínola, a sua missão era acompanhar a atividade militar e governativa, e transformá-la em notícias a fornecer para o exterior, para os média nacionais e para as agências noticiosas internacionais, recorda algo que se ia aprofundando entre ele, Sales Golias e Matos Gomes. “A minha mais profunda surpresa inicial foi a descoberta no mundo da oficialidade que servia no Comando Chefe, na fortaleza de Amura. Uma boa parte dos oficiais falava abertamente da questão política da guerra, questionando-a, ouvi mesmo dizer a um dos meninos queridos de Spínola que aquilo só iria à força.” Viveu os acontecimentos ligados ao assassinato de Amílcar Cabral e pareceu-lhe sincera a atitude de Spínola, reagiu desalentado com esta perda.

Descreve a atitude de um punhado de oficiais do quadro permanente quando se souber da realização de um Congresso de Combatentes. “Quase a totalidade dos capitães do quadro permanente assinaram protesto dirigidos ao Governo central – e dezenas de milicianos também. Mas o episódio criou um clima de contestação aberta, que não pararia. Antes do Movimento dos Capitães, a Guiné era cabeça da contestação. O núcleo do que seria a comissão de militares do MFA estava constituído e preparado para qualquer ação. O nosso agora alargado grupo chegou a discutir uma hipotética ação militar contra Lisboa, sem sequer saber que algo idêntico, mas mais forte ainda, havia sido discutido por oficiais afetos a Spínola, como o Major Fabião revelaria depois. Estive no grupo que, na Guiné, ligado a Otelo e ao Movimento dos Capitães apoiou ativamente o golpe em Lisboa, despediu a 26 de abril as autoridades militares em Bissau que se não manifestaram favoráveis à Junta de Salvação Nacional. Depois, fui chamado, com o Tenente-Coronel Mateus da Silva para, em representação do MFA/Guiné, acompanhar o Ministro dos Negócios Estrangeiros no seu primeiro contacto com o presidente do PAIGC, Aristides Pereira, em Dacar. Dias depois de chegar a Bissau, fui chamado a Lisboa por Spínola, que me proibiu de regressar à Guiné. Fui o primeiro capitão do MFA saneado".

J. M. Correia Pinto era Segundo-Tenente do Comando de Defesa Marítima da Guiné, desembarcou em Bissau em 24 de maio de 1972. Faz um enquadramento do início da guerra colonial, do curso de oficial da Defesa Naval, acompanhou a evolução da situação da Guiné, ali chegara e ainda os ecos da operação Mar Verde estavam longe de estarem extintos, fora-lhe testemunhado por um oficial do quadro permanente ter participado na Mar Verde que o objetivo primordial era assassinar Sékou Touré, promover um golpe de Estado, sequestrar ou assassinar Amílcar Cabral mais dirigentes do PAIGC, destruir material bélico da República da Guiné, caso dos aviões MiG, quase tudo correu mal. E em 1973, a roda da fortuna desandou em favor do PAIGC, volta a falar na defesa do Major Coutinho e Lima, no significado do Congresso dos Combatentes, como se processou a ação do PAIGC no primeiro trimestre de 1974, o significado que se atribuiu ao livro de Spínola e descreve minuciosamente os acontecimentos do 25 de abril. “Chegado a Lisboa no dia 4 de maio, deparei-me com um convite de uns camaradas da Marinha, ir a Caxias ver os pides presos. Recordo que as primeiras pessoas que vi em Caxias, a consultar os arquivos, foram o Zé Manel Tengarrinha, o Oneto e o Jean Jacques Valente.”

Gadamael, maio de 1974. A primeira visita do PAIGC à tabanca e aquartelamento de Gadamael: Em primeiro plano, ao centro, o Comandante do COP5 (Cap Ten Fuzo Patrício); do seu lado direito está o comissário político do PAIGC, de cigarro russo na boca. Imagem retirada do nosso blogue
Pirada, primeiros contactos com o PAIGC, junto à fronteira do Senegal com o fim de combinar a "passagem de testemunho", dirigido pelo Comandante Jorge Matias, do BCAV 8323. Fotografia de António Rodrigues, com a devida vénia
China, Amílcar Cabral e o PAIGC: um namoro em três tempos Delegação do MPLA e do PAIGC na China, em Agosto de 1960, a convite do Comité Chinês de Solidariedade com África e Ásia. Imagem da Associação Tchiweka de Documentação

(continua)

_____________

Notas do editor

Vd. post de 16 de junho de 2025 > Guiné 61/74 - P26925: Notas de leitura (1809): Guiné - Os Oficiais Milicianos e o 25 de Abril; Âncora Editora, 2024 (1) (Mário Beja Santos)

Último post da série de 23 de junho de 2025 > Guiné 61/74 - P26949: Notas de leitura (1811): O livro do Jaime Bonifácio Marques da Silva, "Não esquecemos os jovens militares do concelho da Lourinhã mortos na guerra colonial" (2025) (235 pp.) - Parte I: apresentação de Luís Graça