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terça-feira, 1 de agosto de 2023

Guiné 61/74 - P24525: Documentos (42): "Acordo Missionário", de 7 de maio de 1940, celebrado entre a Santa Sé e a República Portuguesa

"Assinatura da Concordata e do Acordo Missionário no Vaticano, 7 de Maio de 1940. À direita o Cardeal Luigi Maglione, representante da Santa Sé e à esquerda o General Eduardo Marques, antigo Ministro das Colónias portuguesas. [AHD- Colecção de Álbuns Fotográficos]" (Fonte: Cortesia de Instituto Diplomátio / Ministério dos Negócios Estranheiros)


1. Faz agora 83 anos que a Santa Sé (Estado do Vaticano) e o República Portuguesa assinaram a Concordata, a par do Acordo Missionário. Foi no dia 7 de maio de 1940. 

O histórico evento passou-se no papado do Pio XII e no governo de António de Oliveira Salazar. Os dois documentos foram depois ratificados,  a 30 de maio desse ano, pela Assembleia Nacional (que não tinha qualquer legitimidade democrática, dado o Estado Novo ser um regime de partido único),

Foi a 5.ª Concordata da História de Portugal. Com ela procurou-se "normalizar" as relações entre o Estado e a Igreja Católica.  Ficou consagrada a liberdade religiosa e a separação entre o poder laico e o religioso. À Igreja foi restituída parte do património que perdera em momentos históricos anteriores (nomeadamenet durante o liberalismo e a República), bem como uma série de prerrogativas (como a liberdade de organização, certas isenções fiscais, etc.). 

Recorde-se que durante a República foi promulgada, em 1911, a Lei da Separação do Estado das Igrejas de 1911, o que deu origem  a um  corte de relações diplomáticas que vigorou até 1918.

Lê-se na Infopédia (Concordata):

(...) "O chamado Acordo Missionário, assinado na mesma altura, criou condições para a colaboração entre a Igreja Católica e o regime salazarista, quer no território europeu, quer, e sobretudo, nas colónias ultramarinas.

"A Igreja fora lesada no seu património e liberdades pelo liberalismo do século XIX e de novo a seguir à implantação da República. Com a Concordata, porém, adquiriu ou recuperou uma série de prerrogativas: foi consagrado o direito de ela se organizar como melhor lhe conviesse, de comunicar com os fiéis sem prévia autorização do Estado e de lhes cobrar coletas, de ministrar instrução religiosa nas suas próprias instituições de ensino e noutras instituições privadas.

"Por outro lado, ficou previsto o ministério da religião e moral católicas nas escolas públicas e o serviço dos sacerdotes como capelões nas Forças Armadas. Aos casamentos católicos foi reconhecida validade civil.

Ainda nos termos dos acordos de 1940, a Igreja recebeu parte do património que lhe fora expropriado, prescindindo explicitamente da parte restante, enquantoa" o Estado se comprometeu, em contrapartida, a subsidiar a ação missionária nas colónias (em que Salazar estava especialmente interessado, como instrumento de consolidação do império) e a conceder-lhe regalias ímpares no capítulo das isenções fiscais.

"À Concordata e ao Acordo Missionário estavam subjacentes dois princípios distintamente modernos. Por um lado, estabelecia-se a separação do poder laico e da Igreja: ficou consagrado o princípio da não intromissão de uma esfera na outra, sem prejuízo de poder haver cooperação com objetivos específicos. Por outro lado, foi consagrado o princípio da liberdade religiosa. Estes dois princípios constituem, ainda hoje, a base do relacionamento do Estado português com as confissões e instituições religiosas." (..:)

Lê-se na Wikipédia (Concordata entre a Santa Sé e Portugal de 1940):

(...) "Apesar de ser um documento negociado pessoalmente por Salazar e conotado com o Estado Novo vigorou até 2004 tendo sobrevivido 34 anos em regime autoritário e 30 anos em regime democrático. O texto sobreviveu intacto, tendo apenas sofrido apenas uma alteração em 1975 de molde a acabar com a renúncia legal ao divórcio para os casamentos católicos posteriores à Concordata, o que na prática resultava na indissolubilidade dos casamentos canónicos.

"Curiosamente este era um ponto onde Salazar tinha aceitado a contragosto a posição da Santa Sé, tendo na altura deixado claro que essa não era no seu juízo a melhor solução. A fórmula alternativa que veio a ser consagrada na revisão deste artigo 1975 foi justamente a fórmula que Salazar e os seus conselheiros tinham sugerido à Santa Sé em 1937.

"Salazar pretendeu sempre evitar tudo o que pudesse ser interpretado como uma violação do regime de separação entre Estado e Igreja e conseguiu, através de negociações firmes e de um hábil jogo diplomático, fazer valer as posições do Estado português face às pretensões da Santa Sé" (..:).

2. Para saber mais: 

Manuel Braga da Cruz · As negociações da Concordata e do Acordo Missionário de 1940. Análise Social, vol. XXXII (143-144), 1997 (4.º-5.º), 815-845, Disponível em http://analisesocial.ics.ul.pt/documentos/1218793712C5wMG9pn8Pj18SG5.pdf


 3. Texto do Acordo Missionário (realces a amarelo: editor LG). (Sob o descritor "Missionários" temos mais de meia centena de referências no nosso blogue; na Guiné, e nomeadamente durante guerra colonial, as relações entre as autoriddaes locais, civis e militares, e as missões católicas estrangeiras, nomeadamente os missionários italianos do PIME - Pontífico Instituto Para as Missões Exteriores, não foram fáceis nem pacíficas, como documenta o nosso blogue).

INTER SANCTAM SEDEM ET REMPUBLICAM LUSITANAM 

SOLLEMNES CONVENTIONES (#)

ACORDO MISSIONÁRIO ENTRE 

A SANTA SÉ  E A REPÚBLICA PORTUGUESA 


Considerando :

Que na data de hoje foi assinada a Concordata entre a Santa Sé e a República Portuguesa;

Que na dita Concordata nos artigos XXVI-XXVIII estão enunciadas as normas fundamentais relativas à actividade missionária;

Que durante as negociações para a conclusão da mesma Concordata o Governo Português propôs que as ditas normas fôssem ulteriormente desenvolvidas numa Convenção particular;

A Santa Sé e o Governo Português resolveram estipular um acordo destinado a regular mais completamente as relações entre a Igreja e o Estado no que diz respeito à vida religiosa no Ultramar Português, permanecendo firme tudo quanto tem sido precedentemente convencionado a respeito do Padroado do Oriente.

Para este fim nomearam Plenipotenciários respectivamente

Sua Eminência Reverendíssima o Senhor Cardeal LUIGI MAGLIONE, Secretário de Estado de Sua Santidade;

 e Sua Excelência o Sr. General EDUARDO AUGUSTO MARQUES, antigo Ministro das Colónias, Presidente da Câmara Corporativa, Grã- Cruz das Ordens militares de Cristo, de S. Bento d'Aviz e da Ordem do Império Colonial;

Sua Excelência o Sr. Doutor MARIO DE FIGUEIREDO, antigo Ministro da Justiça e dos Cultos, Professor e Director da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, Deputado e Grá-Cruz da Ordem militar de S. Tiago da Espada;

Sua Excelência o Sr. Doutor VASCO FRANCISCO CAETANO DE QUEVEDO, Enviado Extraordinário e Ministro Plenipotenciário junto da Santa Sé, Grã-Cruz da Ordem militar de Cristo e Cavaleiro de Grã-Cruz da Ordem de S. Gregório Magno;

os quais, sob reserva de ratificação, concordaram em quanto se segue :

Art. 1

A divisão eclesiástica das Colónias Portuguesas será feita em dioceses e circunscrições missionárias autónomas.

Aos bispos das dioceses cabe organizar, por intermédio do clero secular e regular, a vida religiosa e o apostolado da própria diocese.

Nas circunscrições missionárias a vida religiosa e o apostolado serão assegurados por corporações missionárias reconhecidas pelo Governo, sem prejuízo de, com autorização deste, se estabelecerem, nos ditos territórios, missionários doutras corporações ou do clero secular.

Art. 2

Os Ordinários das dioceses e circunscrições missionárias, quando não haja missionários portugueses em número suficiente, podem, de acordo com a Santa Sé e com o Governo, chamar missionários estrangeiros, os quais serão admitidos nas missões da organização missionária portuguesa, desde que declarem submeter-se às leis e tribunais portugueses. Esta submissão será a que convém a eclesiásticos.

Art. 3

As dioceses serão governadas por bispos residenciais e as circunscrições missionárias por Vigários ou Prefeitos Apostólicos, todos de nacionalidade portuguesa.

Tanto numas como noutras, os missionários católicos do clero secular ou de corporações religiosas, nacionais ou estrangeiros, estarão inteiramente sujeitos à jurisdição ordinária dos sobreditos prelados no que se refere ao trabalho missionário.

Art. 4

As dioceses e as circunscrições missionárias serão representadas junto do Governo da Metrópole pelo respectivo prelado ou por um seu delegado, e as corporações missionárias pelo respectivo Superior ou por um seu delegado.

Os Superiores e os delegados, aqui mencionados, terão a nacionalidade portuguesa.

Art. 5

As corporações missionárias reconhecidas estabelecerão em Portugal continental ou ilhas adjacentes casas de formação e de repouso para o seu pessoal missionário.

As casas de formação e de repouso de cada corporação constituem um único instituto.

Art. 6

São desde já criadas três dioceses em Angola, com sede em Luanda, Nova Lisboa e Silva Porto; três em Moçambique, com sede em Lourenço Marques, Beira e Nampula; uma em Timor, com sede em Dili. Além disso, nas ditas colónias e na Guiné poderão ser eretas circunscrições missionárias.

A Santa Sé poderá, de acido com o Govêrno, alterar o número das dioceses e circunscrições missionárias. Os limites das dioceses e circunscrições missionárias serão fixados pela Santa Sé de maneira a corresponderem, na medida do possível, à divisão administrativa e sempre dentro dos limites do território português.

Art. 7

A Santa Sé, antes de proceder à nomeação de um arcebispo ou bispo residencial ou dum coadjutor cum iure successionis, comunicará o nome da pessoa escolhida ao Governo Português a fim de saber se contra ela há objecções de caracter politico geral. O silêncio do Governo, decorridos trinta dias sôbre a referida comunicação, será interpretado no sentido de que não há objeções. Todas as diligências previstas neste artigo ficarão secretas.

Quando dentro de cada diocese ou circunscrição missionária fôrem estabelecidas novas direções missionárias, a nomeação dos respectivos diretores, não podendo recair em cidadão português, só será feita depois de ouvido o Governo Português.

Criada uma circunscrição eclesiástica, ou tornando-se vacante, a Santa Sé, antes do provimento definitivo, poderá imediatamente constituir um administrador apostólico provisório, comunicando ao Govêrno Português a nomeação feita.

Art. 8

Às dioceses e circunscrições missionárias, às outras entidades eclesiásticas e aos institutos religiosos das colónias, e bem assim aos institutos missionários, masculinos e femininos, que se estabelecerem em Portugal continental ou ilhas adjacentes, é reconhecida a personalidade jurídica.

Art. 9

As corporações missionárias reconhecidas, masculinas e femininas, serão, independentemente dos auxílios que receberem da Santa Sé, subsidiadas segundo a necessidade pelo Governo da Metrópole e pelo Governo da respectiva colónia. Na distribuição dos ditos subsídios, ter-se-ão em conta não somente o número dos alunos das casas de formação e o dos missionários nas colónias, mas também as obras missionárias, compreendendo nelas os seminários e as outras obras para o clero indígena. Na distribuição dos subsídios a cargo das colónias, as dioceses serão consideradas em paridade de condições com as circunscrições missionárias.

Art. 10

Além dos subsídios a que se refere o artigo anterior, o Governo continuará a conceder gratuitamente terrenos disponíveis às missões católicas, para o seu desenvolvimento e novas fundações. Para o mesmo fim, as entidades mencionadas no artigo 8 poderão receber subsídios particulares e aceitar heranças, legados e doações.

Art. 11

Serão isentos de qualquer imposto ou contribuição, tanto na Metrópole como nas colónias :

a) todos os bens que as entidades mencionadas no artigo 8 possuírem em conformidade com os seus fins:

b) todos os actos inter vivos de aquisição ou de alienação, realizados pelas ditas entidades para satisfação dos seus fins, assim como todas as disposições mortis causa de que forem beneficiárias para os mesmos fins.

Além disso, serão isentos de todos os direitos aduaneiros as imagens sagradas e outros objectos de culto.

Art. 12

Além dos subsídios previstos no artigo 9, o Governo Português garante aos Bispos residenciais, como Superiores das missões das respetivas dioceses e aos Vigários e Prefeitos Apostólicos honorários condignos e mantém-lhes o direito à pensão de aposentação. Para viagens ou deslocações, porém, não haverá direito a qualquer ajuda de custo.

Art. 13

O Govêrno Português continuara a abonar a pensão de aposentação ao pessoal missionário aposentado e para, o futuro dá-la-á aos membros do clero secular missionário quando tiverem completado o número de anos de serviço necessário para tal efeito.

Art. 14

Todo o pessoal missionário terá direito ao abono das despesas de viagem dentro e fora das colónias. 

Para gozar de tal direito basta que na Metrópole o Ordinário ou seu delegado apresente ao Governo os nomes das pessoas, juntamente com atestado médico, que comprove a robustez física necessária para viver nos territórios do Ultramar, sem necessidade de outras formalidades. 

Se o Governo, por fundados motivos, julgar insuficiente o atestado médico, poderá ordenar novo exame que será feito na forma devida por médicos de confiança, sempre do sexo feminino para as pessoas deste sexo.

As viagens de regresso à Metrópole por motivo de doença ou em gozo de licença graciosa serão, por proposta dos respectivos prelados, autorizadas segundo as normas vigentes para os funcionários públicos.

Art. 15

As missões católicas portuguesas podem expandir-se livremente, para exercerem as formas de actividade que lhes são próprias e nomeadamente a de fundar e dirigir escolas para os indígenas e europeus, colégios masculinos e femininos, institutos de ensino elementar, secundário e profissional, seminários, catecumenatos, ambulâncias e hospitais.

De acordo com a Autoridade eclesiástica local, poderão ser confiados a missionários portuguêses os serviços de assistência religiosa e escolar a súbditos portugueses em territórios estrangeiros.

Art. 16

Nas escolas indígenas missionárias é obrigatório o ensino da língua portuguesa, ficando plenamente livre, em harmonia com os princípios da Igreja, o uso da língua indígena no ensino da religião católica.

Art. 17

Os Ordinários, os missionários, o pessoal auxiliar e as irmãs missionárias, não sendo funcionários públicos, não estão sujeitos ao regulamento disciplinar nem a outras prescrições ou formalidades a que possam estar sujeitos aqueles funcionários.

Art. 18

Os Prelados das dioceses e circunscrições missionárias e os Superiores das corporações missionárias na Metrópole darão anualmente ao Governo informações sobre o movimento missionário e actividade exterior das missões.

Art. 19

A Santa Sé continuará a usar da sua autoridade para que as corporações missionárias portuguesas intensifiquem a evangelização dos indígenas e o apostolado missionário.

Art. 20

Mantém-se em vigor o regime paroquial da diocese de Cabo Verde.

Art. 21

Os dois textos do presente Acprdo, em língua portuguesa e em língua italiana, farão igualmente fé.

Feito em duplo exemplar.

Cidade do Vaticano, 7 Maio de 1940. (*)

L. Card. MAGLIONE

EDUARDO AUGUSTO MARQUES

MARIO DE FIGUEIREDO

S. VASCO FRANCISCO CAETANO DE QUEVEDO (**) 

(#) AAS 32 (1940) 235-244.

_____________

Notas do editor:

(*) Texto disponível aqui:

https://www.vatican.va/roman_curia/secretariat_state/archivio/documents/rc_seg-st_19400507_missioni-santa-sede-portogallo_po.html

(**) Último poste da série > 21 de dezembro de 2022 > Guiné 61/74 - P23904: Documentos (41): "Diploma de Cobra", outorgado pelo cap inf Jorge Parracho, cmdt da CCAÇ 3325, "Cobras" (Guileje e Nhacra, 1971/72) ao seu amigo e camarada do tempo da Academia Militar, cap art Morais da Silva, cmdt da CCAÇ 2796, "Gaviões" (Gadamael e Nhacra, 1970/72)

Guiné 61/74 - P24524: Convívios (968): Almoço da malta do "PIFAS", Lisboa, Pátio Alfacinha, 9 de setembro de 2023 (Silvério Dias / Jorge Varanda)


A mascote do Programa [de Informação]  das Forças Armadas (PIFAS), da responsabilidade da Repartição de Assuntos Civis e Acção Psicológica. Autor (até à data) desconhecido. 

Imagem, enviada pelo nosso camarada Miguel Pessoa, cor pilav ref (ten pilav, Bissalanca, BA 12, 1972/74). 



Oeiras > Galeria-Livraria Municipal Verney > 4 de março de 2017 > 15h00 - 16h30> A antiga equipa que deu voz e alma ao PIFAS: o primeiro sargento Silvério Dias (nosso grã-tabanqueiro nº 651) e a famosa "senhora tenente", sua esposa. (*)

Recorde-se aqui o  percurso de vida do nosso camarada Silvério Dias: 

(i) ex-2º srgt art, CART 1802, Nova Sintra, 1967/69; 

(ii) 1º srgt art, locutor do PFA. Porgrama das Forças Armadas, 'Pifas', Bissau QG/CTIG, 1969/74, onde trabalhou com Ramalho Eanes e Otelo, entre outros; 

(iii) civil, foi delegado de propaganda médica, 1974/76, em Bissau; (iv) hoje, 1º srgt art ref; beirão, casado com a "senhora tenente", também do 'Pifas'; vive em Oeiras;

(v) edita o  blogue "Poeta Todos Dias" que já existe desde 2011 e onde todos os dias, publica um, dois, três, quatro , cinco ou seis apontamentos poéticos, em geral, quadras populares, sobre temas do quotidiano: 

(vi) já teve mais de 400  mil vizualizações de páginas; 

(vii) presenta-se nestes termos singelos: "Sou da Beira; ex-militar; Índia, Moçambique e Guiné; na velhice o vício da poesia, e o amor que me une às boas tradições beirãs"; 

(viii) natural de Sarnadinha, Vila Velha de Ródão, é autor do livro  de poesia "Neste lugar onde nasci" (2017);

(ix) é membro da Tabanca Grande desde 24/3/2014; tem cerca de 3 dezenas de referências no nosso blogue.

Foto (e legenda): © Luís Graça (2017). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do Silvério Dias, o 1º srgt ref, radialista do PIFAS (1969/74), que é um caso extraordinário de "resistência e resiliência" contra os "males da idade": aos 92 ou 93 anos (julgo que nasceu em 1930) ainda continua de "mente sã em corpo (já) cansado"... 

Data - sábado, 15/07/2023, 12:59

Assunto - Reviver o "Pifas"

Caro "Tabanqueiro-mor", aceita os cumprimentos do 651.

Venho solicitar que anuncies o que se aprasenta em epígrafe e simultaniamente, convidar-te a estar present, no evento que reunirá "pifanianos" mui ilustres.

Resumindo e não baralhando: 

Almoço no "Pátio Alfacinha". Em 9 de Setembro.

Para mais pormenores, contacta 962 333 147 (alferes Jorge Varanda).

Comigo, pelo E-mail que conheces. E... diz coisas.

Sempre amigo,
Silvério Dias.

2. Comentário do editor LG:

Meu caro e ilustre "pifiano" Silvério Dias: com este tandém, tu e o Jorge Varanda, e uma ajudinha do nosso blogue, vamos fazer do dia 9 de setembro, no "Pátio Alfacinha",  uma grande jornada de convívio dos "radialistas" e demais colaboradores e fãs do Pifas!...

Para já sai este primeiro anúncio do convívio. Depois vamos chamar a capítulo os "pifianos" que integram a nossa Tabanca Grande. O Jorge Varanda   (que eu conheço de outras guerras, as da saúde) terá que ser o próximo, uma vez que ainda não deu a cara... 

Em princípio, lá estarei (dependendo, embora, da minha complicada agenda terapêutica. ...). 

Um alfabravo para ti e para o Jorge. Um chicoração para a "senhora tenente". LG
___________

Nota do editor:

Último poste da série > 25 de junho de 2023 > Guiné 61/74 - P24429: Convívios (967): 52º almoço-convívio da Magnífica Tabanca da Linha, Algés, 22 de junho de 2023, juntando 45 comensais

segunda-feira, 31 de julho de 2023

Guiné 61/74 - P24523: Notas de leitura (1602): "Aldeia Mágica", por Alexandre Faria; Poética Edições, 2019, ilustrações de Ricardo Braz (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 2 de Julho de 2021:

Queridos amigos,
Generosidade não falta a quem escreve esta obra, é entranhado o seu profundo afeto por Bolama, dela mantém gratas recordações e até colabora com a ONG Pró-Bolama. É generoso e didático, para quem se embrenha nesta viagem e nesta utopia teremos súmulas históricas: Cascais, a presença portuguesa em Marrocos, a Mauritânia, a Gâmbia, o Senegal, a Guiné antes da presença portuguesa e depois, os reinos e a cultura Bijagó, as lutas pela independência, dirão que é uma cultura de almanaque, mas para quem pela primeira vez percorre estes itinerários, vai encontrando algumas chaves explicativas e melhor se acompanha um autor devotado a uma causa, é bem patente o seu estado de rendição às gentes e à natureza. E não se ensaia a falar na verdade desse miserando tráfico de drogas que põe a Guiné-Bissau como um Estado internacionalmente desrespeitado, com uma classe política corrupta e insensível à ânsia de desenvolvimento humano que todo o povo reclama.

Um abraço do
Mário



Homenagem a Bolama, uma elegia utópica e a maldita cocaína

Mário Beja Santos

Aldeia Mágica, por Alexandre Faria, Poética Edições, 2019, ilustrações de Ricardo Braz, é um romance de afetos, prenhe de informação sobre diferentes lugares, desde Cascais a lugares guineenses e ao seu passado. O seu autor, que é advogado e presidente do Estoril Praia, de há muito tem uma relação enamorada com Bolama, decidiu brindar essa ternura acumulada com um romance, uma utopia e a denúncia da maldição que persegue a Guiné-Bissau, imiscuída numa rota de drogas, que é um segredo de polichinelo.

Teresa e Daniel constituíam um casal muito feliz, bem posicionado na vida, vivem em Cascais, onde o autor foi autarca durante 20 anos e aproveita a circunstância para dela nos falar e dar uma súmula histórica. Daniel é surpreendido pela notícia da gravidez de Teresa e num instante a devastação de um acidente rodoviário põe termo a esse quadro de harmonia, houvera um violento embate, o condutor responsável desaparecera, a vida de Daniel é um túnel de pesadelo. Bem instalado na sua profissão de consultor, negoceia a sua saída, colocou a casa à venda.

E começa uma viagem sem rumo, procura alívio descobrindo novos horizontes. Segue de Faro para Sevilha, depois de se despedir dos sogros, adquiriu bilhete para Tanger, nova abordagem histórica do relacionamento de Portugal com Marrocos, sente-se atraído pelo deserto, como se tivesse sentido um chamamento espiritual, encaminha-se para o Sara, entra na Mauritânia, lançou-se na autoestrada que o irá conduzir a Nouakchott, abre-se a porta para o Senegal, mas antes teremos mais informação sobre a História da Mauritânia. Atravessou o Parte Natural Diawling perto da fronteira do Senegal e daqui segue para Dacar. Num caminho encontra um cão, será o seu companheiro a partir de agora, chama-lhe Dacar, passa pela Gâmbia e como sempre faz com uma nova localidade dá-nos um resumo dessa antiga colónia britânica. E entra na Guiné-Bissau a partir de São Domingos. E viaja até Bissau.

Instala-se no Hotel Azalai 24 de Setembro, no dia seguinte ruma para Mansoa, sente-se atraído pelo Parque Natural das Lagoas de Cufada, janta em Fulacunda, na mesa ao lado dois pescadores conversam e criticam a atividade devastadora do estaleiro da cooperação japonesa. Metem conversa com Daniel e sugerem-lhe a ida a Bolama. Alexandre Faria tudo descreve com simplicidade, não esconde o fascínio que aquela natureza lhe provoca: “O caminho de Fulacunda até ao final da zona continental empolgou-o pela beleza que exibia, vendo com frequência as entradas de água que se aproximavam da estrada, que permanecia envolta na vegetação autóctone e selvagem, vibrante, parecendo surpreendida pela passagem de uma viatura por ali. Por vezes, a lama adensava-se e a força-motriz do carro era posta à prova”.

Tem agora a ilha em frente, avança, sente-se intrigado com aqueles edifícios com vários séculos de história, degradados há muito, entrega a um certo Emílio a encomenda que lhe fora dada por um daqueles marinheiros com quem conversara, segue-se uma descrição de Bolama, com um claro elogio aos seus recursos naturais e estrondosa beleza. Começa a explorar a ilha, quer compreendê-la, entender os motivos pelo fascínio que ela exerce sobre ele. E começa a nascer a utopia, a organização de uma aldeia feita de cooperação e de entendimento, de justa repartição dos recursos e dos proventos, vão sendo ouvidos anciãos, atraídos os jovens com capacidade organizativa, Daniel vai a Bissau e temos novo aporte histórico, por razões desconhecidas atribui a Bissau o papel de capital em 1836 e 1915, o que é rigorosamente uma falsidade, mas romance é romance, segue-se uma descrição do passado da Guiné do século XII em diante, regressa a Bolama com os jovens João e Vasco definem a localização dos principais edifícios da aldeia para a qual já existe população aderente entusiasta.

Encurtando razões, como quando nos encaminhamos para o melhor dos mundos possíveis, naquele lugar mágico chega um grupo de colombianos, no entretanto o leitor recebeu lauta informação sobre os reinos e a cultura Bijagó. A ameaça desenha-se no horizonte, os colombianos fazem uma proposta, bem sinistra: exigem silêncio total sobre o comércio de drogas que passa ali ao lado e darão apoios como contrapartida, os dinheiros de Daniel caminham para a extinção. Há decisões horríveis para tomar nessa aldeia onde já se alcançou a harmonia social, as crianças vão à escola e os pescadores e agricultores vivem as doçuras de uma economia comunalista. Um comerciante libanês, Saad, que presta ajuda à construção da Aldeia Mágica, pede a Daniel que leve Mateus, uma antiga criança-guerreiro, muito traumatizada.

E Alexandre Faria detalha o negócio da droga:
“A Guiné-Bissau funcionava como uma espécie de entreposto entre a América do Sul e a Europa. As dispersas ilhas dos Bijagós, muitas delas desabitadas, aliadas à falta de meios da polícia marítima guineense, criavam a tempestade perfeita. Pelas informações que circulavam pela capital, cada grama de cocaína podia render cerca de 20€ a um jovem guineense, metade do valor que eventualmente ganhava num mês inteiro de trabalho. Este montante podia aumentar se fosse derretida para a versão cristalizada de crack, mas a principal intenção residia no trampolim da América do Sul para o mundo. Chegada por via aérea até à Guiné-Bissau, cada pequeno avião clandestino transportava cerca de 500 a 600 quilos de droga por carga que pousavam onde podiam. Existindo alguns relatos sobre a presença de elementos das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, FARC, os quilos de droga eram posteriormente dissimulados nas arcas frigoríficas e transportados para a capital, prontos para a viagem intercontinental”.

Daniel e os anciãos e os jovens colaboradores vivem este trágico dilema. Quando parecem prontos para capitular, Daniel janta com Pablo, o interlocutor colombiano, é aí que ele sabe quem foi o responsável pela morte de Teresa, e num ímpeto executa o cobarde condutor que fugiu às suas responsabilidades. Vai seguir-se a defesa da aldeia, os colombianos não irão deixar de responder. O autor dá-nos uma resposta bem imaginativa para a resistência guineense, aquela gente desarmada que enfrenta com engenho e arte os bem equipados colombianos, haverá refregas, os traficantes serão forçados a recuar temporariamente, o autor aproveita a circunstância para nos dar uns parágrafos sobre a história da luta armada para justificar certamente a resiliência daqueles velhos que passaram tantos anos a combater de um lado e do outro, aquela resistência a um autêntico exercício de guerrilha que lembra o passado que precedeu a independência da Guiné-Bissau.

Há bastante lucidez nesta gente da Aldeia Mágica, leva consigo um protocolo que todos respeitam, a Carta da Aldeia, os painéis solares e os depósitos de água mais pequenos, tudo é transportado num êxodo, vão-se esconder junto a Buba. Daniel pertence imparavelmente a este projeto, acompanha com satisfação estes guineenses ansiosos de paz e de harmonia e que acreditam piamente na utopia da Aldeia Mágica.

Romance de ternura, como se vê, e onde não se esconde como a Guiné tem todos os requisitos de um Estado-pária, mas onde ainda é possível sonhar que as crianças viverão num futuro melhor.

Monumento dedicado aos pilotos italianos falecidos num desastre aéreo em Bolama, em janeiro de 1931, uma bela fotografia de Francisco Nogueira que deu a capa do livro Bijagós: Património Arquitetónico, Edições Tinta-da-China, 2016
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Nota do editor

Último poste da série de 28 DE JULHO DE 2023 > AGuiné 61/74 - P24512: Notas de leitura (1601): "Palavras e Silêncios – Memórias Femininas da Presença Militar no Ultramar", por Ana Maria Taveira, Maria Armanda Taveira e Maria de Fátima Pina; Âncora Editora, 2020 (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P24522: Tabanca Grande (551): cor inf ref Cunha Ribeiro (Gondomar, 1926 - Porto, 2023), antigo 2º cmdt, BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70), fica simbolicamente inumado, à sombra do nosso poilão, no lugar n.º 879


Foto nº 1


Foto nº 2 > O major Cunha Ribeiro falando para o "corresponde local"... do jornal "A Bola"...


Foto nº 3 > O fatídico jipe...

Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Bambadinca > Coamndo e CCS/BCAÇ 2852 (1968/70)  > O  então major Cunha Ribeiro, integrando uma equipa de futebol (Fotos nº 1 e 2)... Na terceira  e última foto pode ver-se o estado em que ficou o seu jipe no acidente que lhe ia sendo fatal, e que o mandou para o hospital durante vários meses.

Na foto nº 1 está a equipa de futebol de oficiais de Bambadinca que acabara de jogar contra uma equipa de sargentos (*). Na fotografia aparecem, na segunda fila, da esquerda para a direita:  de pé, o alf mil Beja Santos (cmdt do Pel Caç Nat 52, 1968/70), o alf mil médico, David Payne Pereira (já falecido, era um conhecido psiquiatra), o major Cunha Ribeiro, 2º comandante do BCAÇ 2852,  o cap inf Carlos Alberto Maqcahdo de Brito (hoje cor ref), comandante da CCAÇ 12, e ainda o alf mil at int Abel Maria Rodrigues, também da CCAÇ 12.

Na primeira fila, da esquerda para a direita, um militar que não conseguimos identificar, seguidos de três alf mil,   José António G. Rodrigues, da CCAÇ 12 (já falecido), o António Carlão, da CCAÇ 12 (jã falecido) e o Isamel Augusto (CCS). O Fernando Calado, alf mil trms, também fazia parte da equipa mas fracturou um braço, não aparecendo por isso na foto.

O major Cunha Ribeiro  substituiu, em setembro de 1969,  major Viriato Amílcar Pires da Silva, transferido por motivos disciplinares. 

Fotos (e legenda): © João Pedro Cunha Ribeiro (2023). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]





Cunha Ribeiro, no 1º convívio do pessoal de Bambadinca, em 1994, 
em Fão, Esposende. 

Foto: Beja Santos


1. Mensagem de João Pedro de Paiva Cunha Ribeiro, filho do  cor inf ref Ângelo Cunha Ribeiro (1926-3023):

Data - quarta, 26/07/2023, 02:03  
Assunto - Cunha Ribeiro, Cor

Caro Amigo,
Revisitei hoje o blogue de que é autor,  para recuperar a notícia que lá publicou do falecimento do meu pai, da autoria do Dr Mário Beja Santos, com a intenção de divulgar o respetivo link no dia em que o meu pai faria 97 anos. 

Deparei assim com o pedido de fotografias dele na campanha da Guiné, o que me levou a contactá-lo e consigo partilhar as poucas fotografias que dessa altura dele possuímos. Inclusive do estado em que ficou o veículo onde teve o acidente.

Com as minhas mais cordiais saudações,
João Pedro Cunha Ribeiro
Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa | 
School of Arts and Humanities – University of Lisbon


2. Comentário do editor LG:

Aquando da notícia da morte do cor Cunha Ribeiro,  manifestei em comentário ao poste P24216 (*), os meus votos de pesar à família pela sua perda, aos 97 anos... E mais disse: 

"Conheci  o coronel Cunha Ribeiro, em Bambadinca, como major, segundo comandante do BCAÇ 2852. Estivemos juntos uns escassos meses até ao seu fatídico acidente na rampa de acesso ao quartel. E falei com ele poucas vezes. Eu era um simples furriel, para mais não pertencia ao seu batalhão.

Foi um superior hierárquico de que temos vivas memórias pela energia e entusiasmo que punha na sua atividade de comando. Vejo agora que era natural de Gondomar e vivia no Porto. Era de facto um homem do Norte.

Foi lembrado no blogue diversas vezes, tem cerca de uma dúzia de referências. Voltei a vê-lo em Fão em 1994. Morreu em paz com 96 anos, isso também nos consola, a todos nós, antigos combatentes.

O Beja Santos já há muito que formulou o desejo de juntar o seu nome à lista dos membros da Tabanca Grande. Ele gostava muito de lembrar os tempos de Bambadinca. Por mim, tudo bem. Será que o Beja Santos (ou a família) nos disponibiliza algumas fotos dele, desse tempo?"

O filho João Pedro acaba de nos mandar três fotos do seu querido pai. Fica satisfeito o nosso pedido, estando agora em condições de, a título póstumo, integrar na Tabanca Grande o nosso "major elétrico", como ele é afetuosamente conhecido pelos seus subordiandos em Bambdinca. O seu lugar, sob o nosso poilão, será pois o nº 879. Que descanse em paz! 



3. Ficha de unidade : Batalhão 
de Caçadores nº 2852

Identificação: BCaç 2852
Unidade Mob: RI 2 - Abrantes

Cmdt: TCor Inf Manuel Maria Pimentel Bastos | TCor Cav Álvaro Nuno Lemos de Fontoura | TCor Inf Jovelino Moniz de Sá Pamplona Corte Real

2.° Cmdt: Maj Inf Manuel Domingues Duarte Bispo | Maj Inf Viriato Amílcar Pires da Silva | Maj Inf Ângelo Augusto da Cunha Ribeiro | Maj Inf Herberto Alfredo do Amaral Sampaio

OInfOp/Adj: Maj Inf Viriato Amílcar Pires da Silva | Maj Inf Ângelo Augusto Cunha Ribeiro

Cmdts Comp:
CCS: Cap Inf Eugénio Baptista Neves | Cap Mil Art António Dias Lopes | Cap Inf Manuel Maria Pontes Figueiras | Alf Millnf Ismael Quitério Augusto (não confirmado)

CCaç 2404: Cap Mil Inf Carlos Alberto Franqueira de Sousa | Cap Mil Inf Francisco António Brito Limpo Trigueiros | Cap Inf António Jacques Favre Castel-Branco Ferreira | Alf Mil Inf Manuel Abreu Barbosa | Cap Inf Eugénio Baptista Neves | Cap lnf Manuel Dias Chagas

CCaç 2405: Cap Mil Inf José Miguel Novais Jerónimo

CCaç 2406: Cap Inf Diamantino Ribeiro André

Divisa: Sacrifícios Não Contamos

Partida: Embarque em 24Ju168; desembarque em 30Jul68 | Regresso: Embarque em 16Jun70 (CCaç 2405 e 2406 em 28Mai70)

Síntese da Actividade Operacional

Inicialmente, ficou colocado em Bissau na situação de reserva do Comando-Chefe, sendo as suas subunidades atribuídas em reforço de outros batalhões.

Em 160ut68, rendendo o BArt 1904, assumiu a responsabilidade do Sector LI, com sede em Bambadinca c abrangendo os subsectores de Xime, Xitole e Bambadinca, este com sede temporariamente em Fá Mandinga até 18Ju169.

Em 04Dez68, foi criado o subsector de Galomaro e, em 25Fev69, ainda o subsector de Saltinho, com as consequentes reformulações dos subsectores.

Em 290ut69, a zona de acção foi alargada da área de Enxalé, então retirada ao BCaç 2885. Em 28Jul69 e 07Nov69, os subsectores de Galomaro e Saltinho deixaram de pertencer ao Sector LI, por atribuição ao COP 7 e ao BCaç 2851, respectivamente.

Desenvolveu intensa actividade operacional de patrulhamento, emboscadas e acções ofensivas sobre as linhas de infiltração inimigas, por forma a impedir o alastramento do seu esforço na zona Leste; a par disso, continuou a promover a organização do sistema de autodefesa das populações e respectivos aldeamentos.

Pela duração e áreas batidas, destacam-se as operações "Hálito", "Guia II" e "Dá Forte" e a sua colaboração na operação "Mabecos Bravios" - na qual, por acidente na travessia do rio Corubal, pereceram 17 militares - e na operação "Lança Afiada".

Dentre o armamento capturado mais significativo, salienta-se: 2 metralhadoras pesadas, 2 pistolas-metralhadoras, 4 espingardas, 117 granadas de armas p
esadas e cerca de 10000 munições de armas ligeiras.

Em 07Jun70, foi rendido no sector pelo BArt 2917 e recolheu seguidamente a Bissau, a fim de aguardar o embarque de regresso.

Fonte: Excertos de Portugal. Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961-1974 [CECA] - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974). 7.º volume: Fichas das Unidades. Tomo II: Guiné. Lisboa: 2002, pp. 117/118.
___________

Nota do editor:



Guiné 61/74 - P24521: Antologia (95): "A Suécia e as lutas de libertação nacional em Angola, Moçambique e Guiné-Bissau", por Tor Sellström (2008). Excertos: o caso da ajuda ao PAIGC – Parte VI

 Foto nº 1 

Foto nº 2


Foto nº 3

S/l > PAIGC > Alegadamente numa "região libertada", talvez no sul  ou na fronteira com a Guiné-Conacri > Visita de uma delegação escandinava  > Novembro de 1970 >  Trasnporte de sacos de arroz  (Fotos nº 1 e 2)... 

As autoridades militares portugueses subestimaram, inicialmente, o "génio organizativo" de Amílcar Cabral e dos demais dirigentes e militantes do PAIGC. Em 1971, num documento produzido pela inteligência militar do Estado-Maior de Spínola, reconhecia-se a real importância da logística do PAIGC, mesmo não tendo os meios (navais, aéreos e terrestres) das NT...

Na foto nº 3, uma consulta médica, ao ar livre. Em primeiro plano, um enfermeiro (presume-se) e a "farmácia ambulante"  (?) (um "caixote")..

Fonte: Nordic Africa Institute (NAI) / Fotos: Knut Andreasson (com a devida vénia... e a competente autorização do NAI, de acordo com a resposta que nos deu oportunamente Webmaster do NAI:

Dear Luís Graça, I am glad to hear that you like the photos and that you use them. Best regards,

Agneta Rodling | Information/Webb | Nordiska Afrikainstitutet | The Nordic Africa Institute
Box 1703 | SE-751 47 UPPSALA | Tel +46-18 56 22 21

Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2023)





Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Setor L1 (Bambadinca) > CART 3494 (Xime e Mansambo, 1971/74) > População sob controlo do PAIGC, no subsetor do Xime, capturada no decurso da Acção Garlopa, em 19 de julho de 1972, num total de 10 elementos. Seguramente que os suecos nunca puseram aqui os pés, nas "áreas libertadas" do Xime, na margem direita do rio Corubal...

Foto (e legenda): © Sousa de Castro (2013). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem conplementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1.  Tor Sellström, do Instituto Nórdico de Estudos Africanos, é autor de um livro,  de 290 páginas, sobre "A Suécia e as lutas de libertação nacional em Angola, Moçambique e Guiné-Bissau" (publicado em 2008, em versão portuguesa). (Vd. ficha técnica a seguir.)

Nessa publicação conta-nos como é que de repente certas organizações suecas de solidariedade com a luta dos povos da África Austral (e nomeadamente c9ntra o apartheid) e o governo sueco começaram a interessar-se pelo que se estava a passar na Guiné-Bissau, um território então sob administração portuguesa, com um escasso meio milhão de habitantes, e com um pequeno partido nacionalista, o PAIGC; a lutar pela sua independência, praticame nte desconmhecidos do público sueco até ao final da década de 1960.

Apartir de 1969, a Suécia começou a dar, ao PAIGC, uma "ajuda humanitária", substancial, que se prolongou muito para além da independência, até meados dos anos 90. "As exportações financiadas com doações da Suécia representavam, durante este período, entre 5 por cento e 10 por cento do total das importações da Guiné-Bissau". Estamos a falar de valores que chegaram aos 2,5 mil milhões (!) de coroas suecas [c. 269,5 milhões de euros] durante o período de 1974/75-1994/95 (sendo de 53,5 milhöes de coroas suecas, ao valor actual, ou sejam, cerca de 5, 8 milhões de euros, de 1969/70 até 1976/77).

Estes factos ká pertencem ao domíbnio da História. Mas, oassados estes anos todos, julgamos que ainda tem algum interesse, para os nossos leitores, saber um pouco mais sobre o envolvimento da Suécia 

Vamos continuar a seguir esta narrativa, reproduzindo, com a devida vénia, mais um excerto do livro de Tor Sellström. Já chamámos, logo no início, a atenção para alguns factos e dados que merecem a nossa contestação ou reparo crítico, nomeaadamente quando o autor fala do trajeto do PAIGC e do seu líder histórico, não citando fontes independentes e socorrendo-se no essencial da propaganda do PAIGC (ou de fontes que lhe estavam próximas)...

Já apontámos, nos postes anteriores, para alguns exemplos desse enviesamento político-ideológico: (1) a greve dos trabalhadores portuários do Pijiguiti e o papel do PAIGC; (ii) a batalha do Como: (iii) o controlo de 2/3 do território e de 400 mil. habitantes por parte do PAIGC; (iv) as escolas, as clínicas e as lojas do povo nas "áreas libertadas"; (v) o assassassinato de Amílcar Cabral. etc. .

O texto (na parte que nos interessa, a ajuda sueca ao PAIGC, pp. 138-172) tem demasiadas notas de pé de página, que podem ser úteis do ponto de vista documental mas sáo extremamente fastidiosas para a generalidade dos nossos leitores. (Vamos mantê-las, para não truncar a narrativa; podem ser lidas na diagonal)

Os negritos são nossos: ajudam a destacar alguns dos pontos importantes do texto. O "bold" a vermelho são passagens controversas, são uma chamada de atenção para o leitor, devendo merecer um comentário crítico (ou o recurso a leituras suplementares).

Corrigimos os excertos seguindo o Acordo Ortográfico em vigor.

Para já aqui ficam os nossos agradecimentos ao autor e ao editor, Nordiska Afrikainstitutekl (em inglês, The Nordic Africa Institute).

Ficha técnica:

Tor Sellström - A Suécia e as lutas de libertação nacional em Angola, Moçambique e Guiné-Bissau. Nordiska Afrikainstitutekl, Uppsala, 2008, 290 pp. Tradução: Júlio Monteiros. Revisão: António Lourenço e Dulce Åberg. Impresso na Suécia por Bulls Graphic, Halmstad 2008ISBN 978–91–7106–612–1.

Disponível em https://www.diva-portal.org/smash/get/diva2:275247/FULLTEXT01.pdf

(Também disponível na biblioteca Nordiska Afrikainstitutekl (ou Instituto Nórdico de Estudos Africanos) aqui, em "open acess" .)


Resumo dos excertos anteriores (*):

Com base numa decisão parlamentar aprovada por uma larga maioria, a Suécia tornou-se em 1969 o primeiro país ocidental a dar ajuda oficial aos movimentos nacionalistas das colónias portugueses (MPLA, PAIGC, FRELIMO). O PAIGC vai-se tornar o principal beneficiário dessa ajuda (humanitária, não-militar). Muito também por mérito de Amílcar Cabral e da sua habilidade diplomática. Até então, e sobretudo na primeira metade da década de sessenta, o debate na Suécia sobre a África Austral tinha quase exclusivamente sido centrado na situação na África do Sul, onde vigorava o apartheid.

O êxito da campanha contra a participação da empresa sueca ASEA no projecto de Cahora Bassa em Moçambique, por volta de 1968–69, na altura em que decorria a guerra do Vietname, levou a que os principais grupos de pressão (“Grupos de África”, oriundos de cidade como Arvika, Gotemburgo, Lund, Estocolmo e Uppsala) se ocupassem quase em exclusivo da luta armada nas colónias portuguesas, com destaque para a Guiné-Bissau(Parte I).

Em 3 páginas (pp. 141-143), o autor faz um resumo da "luta de libertação na Guiné-Bissau", usando unilatereal e acriticameente informaçáo propagandística do PAIGC, alguma particularmente grosseira como a pretensão deste de controlar 400 mil habitantes... (Parte II).

Nas páguinas 144-147, fala-se dos primeiros contactos com o PAIGC e das primeiras visitas ao território (Parte III).

Nas páginas 148-152, é referido a primeira visita (de muitas) de Amílcar Cabral à Suécia em novembro de 1968 (Parte IV).

As conversações de Ström com o PAIGC foram bastante simples. No seu relatório, descreveu Amílcar Cabral, secretário geral do PAIGC, como ”um jovem agrónomo bastante jovial, elegante, intelectual e um conversador desenvolto e muito animado. Nada de apelos patéticos nem declarações solenes. As suas intervenções eram objectivas, claras e concisas” (Parte V, pp. 152-154).

Tor Sellström - A Suécia e as lutas de libertação nacional em Angola, Moçambique e Guiné-Bissau: o caso da ajuda ao PAIGC - Parte VI:

Necessidades civis e respostas suecas (pp. 154-157)

 Excerto do índice (pág. 4)

O PAIGC da Guiné-Bissau: Desbravar terreno

Pág.

As colónias portuguesas no centro das atenções

138

A luta de libertação na Guiné-Bissau

141

Primeiros contactos

144

Caminho para o apoio oficial ao PAIGC

147

Uma rutura decisiva

152

Necessidades civis e respostas suecas

154

Definição de ajuda humanitária

157

Amílcar Cabral e a ajuda sueca

161

A independência e para além dela

168

 


Necessidades civis e respostas suecas (pp. 154-157)

O PAIGC deu, desde a primeira hora, mostras de uma grande eficácia relativamente  â administração, distribuição e listagem dos bens recebidos da Suécia. Depois de uma visita de uma delegação da ASDI a Conacri no final de 1971, concluía-se num memorando destinado ao Comité Consultivo para a Ajuda Humanitária que, por exemplo, ”o apoio sob a forma de bens, dado pela Suécia, está a ser utilizado de forma ideal. O PAIGC é sinónimo de rapidez na tomada de decisões, encomenda pormenorizada de mercadorias, bom armazenamento e contabilização” (91). 

Os relatórios escritos pelo PAIGC à ASDI eram, também eles, da maior qualidade. Anualmente, o próprio Amílcar Cabral e, depois a sua morte em 1973, Aristides Pereira, apresentavam comentários gerais quanto à ajuda e listas detalhadas de produtos recebidos, apresentadas com uma decomposição da distribuição pelas várias escolas, clínicas e armazéns do povo nas zonas libertadas (92). De acordo com Stig Lövgren da ASDI, ”o PAIGC era, para nós, uma espécie de organização ideal” (93).

Enquanto isso, o PAIGC estava confrontado com enormes desafios. Em 1971, calcula-se que viviam 400.000 pessoas nas zonas libertadas da Guiné-Bissau (94). na sua maioria artesãos e camponeses.

A taxa de analfabetismo era de cerca de 80 por cento e a situação geral em termos de saúde era complicada. Largos extractos populacionais, nomeadamente as crianças, sofriam de desnutrição (95). Ao tentar construir uma sociedade nova nas zonas libertadas, pela via da disponibilização de serviços sociais e desenvolvendo a economia, o PAIGC (que, antes de mais, estava empenhado numa guerra generalizada contra Portugal, que era apoiado pela OTAN) assumia o papel de um governo e de uma administração de um estado independente (96).

 Em contraste vincado com um estado independente, o movimentode libertação não controlava os recursos nacionais nem podia conduzir operações de comércio internacional (97). Pelo contrário, num país com um enorme potencial para as pescas, a população que vivia nas zonas libertadas sofria de falta de proteínas o que, paradoxalmente, levou o PAIGC a incluir no pacote de ajuda humanitária sueca pedidos de grandes quantidades de conservas de peixe. 

Para além disso, o PAIGC não podia cobrar impostos à população residente nas zonas libertadas porque, para já, não havia matéria tributável e também porque, de forma ainda mais clara, a economia de base monetária tinha sido abolida e substituída por um sistema de trocas directas, no qual os bens daspessoas tinham um papel economicamente crucial e politicamente delicado.

Os armazéns do povo tinham como função servir de centros de comércio ou depósitos,onde os aldeões podiam trocar os seus produtos agrícolas por outros bens de primeira necessidade e de consumo, como têxteis, óleo de cozinha, sabão, fósforos, utensílios domésticos e agrícolas ou cigarros (98).(**)

 Como notou Rudebeck, tratava-se de uma ”função altamente política. Caso não fosse realizada a contento da população, toda a credibilidade do PAIGC sairia diminuída aos olhos do povo” (99). O sistema que consistia em regatear a aquisição de produtos só poderia funcionar devidamente se as lojas do PAIGC dispusessem de stocks suficientes de produtos (100).

Beneficiando de um amplo apoio político, com necessidades quase ilimitadas e dando provas de uma boa capacidade administrativa, o PAIGC conseguiria tornar-se numa força dominante entre os movimentos de libertação africanos durante a década de setenta, recebendo ajuda oficial sueca. 

O valor inicialmente concedido foi de um milhão de coroas suecas, depois aumentado para 1,75 milhões em 1970–71, 4,5 em 1971–72, 10 em 1972–73, 15 em 1973–74 e 22 milhões em 1974–75.101 

Tal como foi dito acima, dos 67,5 milhões de coroas suecas realmente gastos pela Suécia como ajuda humanitária directa aos movimentos de libertação na África Austral e ao PAIGC entre 1969–70 e 1974–75, 64,5 milhões (ou seja, 96 por cento do valor total) foi pago ao MPLA de Angola, à FRELIMO de Moçambique e ao PAIGC da Guiné-Bissau e de Cabo Verde, o que indica uma clara concentração nas colónias portuguesas. 

Desse total, uns surpreendentes 45,2 milhões foram pagos ao PAIGC. Durante os primeiros seis anos da ajuda oficial aos movimentos de libertação, o PAIGC recebeu dois terços dos fundos pagos, daí que não surpreenda que os movimentos de libertação da África Austral com os quais a Suécia tinha relações estreitas há já mais tempo, se sentissem prejudicados.

Entrevistado em 1996, o líder do MPLA Lúcio Lara declarou que o apoio ao PAIGC ”até nos deixou com algum ciúme”, acrescentando que ”comparámos os valores e constatámos a diferença” (102).

Relativamente à ajuda não-militar, o governo sueco tornou-se muito provavelmente o maior doador ao PAIGC (103).  A liderança guineense reconheceu isso mesmo muitas vezes ao longo dos anos, nomeadamente ao comparar a postura da Suécia com a de outros países ocidentais (104).

Constatando que os Estados Unidos tinham aumentado a ajuda a Portugal em quase 500 milhões de dólares, Cabral escreveu, por exemplo, em 1972 que ”o belo exemplo do povo sueco e do seu governo influencia e influenciará cada vez mais, a atitude de outros povos e de outros Governos, em prol da luta contra o domínio, o colonialismo e o racismo estrangeiros no nosso continente” (105).

 No caso do PAIGC era, contudo, bastante fácil para o governo sueco tomar uma posição. A luta de libertação não constituía uma ameaça à segurança nacional do país e a afinidade com os objectivos do PAIGC era forte. 

Além disso, não existiam conflitos de interesses relativamente à oportunidade económica (106).

Por fim, e do ponto de vista da legitimidade pública, a política oficial tinha uma grande base de apoio popular

Dito isto, e vista de um ponto de vista da Guerra Fria, que vigorava desde os anos setenta, a ajuda sueca ao PAIGC era mais política do que sugeriria uma interpretação pura e simples do termo ”ajuda humanitária”(107 )o que tem a sua importância em termos de cooperação com os movimentos de libertação na África Austral.

Para além de levar a cabo a luta militar, o PAIGC tinha entrado, por via do sistema de troca directa centrado nas lojas do povo, numa batalha económica contra Portugal.

Cabral  estava também determinado em afirmar que ”com hospitais e escolas podemos vencer a guerra”(108).

 Longe de constituírem uma reacção defensiva contra o colonialismo e a opressão, os sectores produtivo, de saúde e de educação eram vitais, fazendo parte integrante e muito activa do esforço de libertação. A maior parte da ajuda sueca era exactamente canalizada para estes sectores. 

Limitada inicialmente a bens puramente humanitários, a lista alargar-se-ia paralelamente ao ”engordar” do pacote de ajuda, por forma a permitir que necessidades de índole política fossem supridas, tendência que se foi acentuando (109). Os programas foram concebidos em conjunto pelo PAIGC e pela ASDI.

O Comité Consultivo para a Ajuda Humanitária e o governo sueco seguiam, por norma,as recomendações feitas pela ASDI.

 ___________

Notas do autor:

91 . SIDA: ”Fortsatt stöd till Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC)”/ASDI: ”Continuação do apoio ao PAIGC”, Estocolmo, 5 de Setembro de 1972 (SDA).

92. Os relatórios eram escritos em francês. A ajuda sueca era também enviada ao PAIGC na República da Guiné, nomeadamente para as escolas do PAIGC e, sobretudo, para o Hospital da Solidariedade em Boké, no norte do país. A ajuda incluía, para além disso, veículos e equipamento de escritório para o quartel-general do PAIGC em Conacri.

93. Entrevista com Stig Lövgren, p. 312.

94. SIDA: ”Fortsatt svenskt stöd till Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde”/ASDI: ”Continuação do apoio sueco ao PAIGC”, Estocolmo, 28 de outubro de 1971 (SDA).

95. Ibid.

96. PAIGC: ”Sur l’aide humanitaire de la Suède à notre parti: Rapport bref et proposition d’aide” (”Ajuda humanitária da Suécia ao nosso partido: Breve relatório e proposta de ajuda”), Conacri, maio de 1972 (SDA).

97. No âmbito da economia baseada nas lojas do povo, o PAIGC conseguiu, apesar de tudo, organizar uma quantidade limitada de exportações para os países vizinhos, nomeadamente de nozes de cola e arroz, mas também de amendoim, óleo de palma e outros produtos agrícolas. (***)

98. O sistema destinava-se também a conseguir justiça económica, mantendo os preços por troca directa mais baixos do que os preços a dinheiro praticados nas lojas portuguesas das zonas não libertadas. O primeiro armazém do povo foi criado em 1964 e por volta de 1968 já havia quinze lojas desse tipo nas zonas libertadas. Em 1973 já haveria mais do dobro de lojas.

99. Rudebeck op. cit., p. 179.

100. Sobre os armazéns do povo, ver Rudebeck op. cit., pp. 178–86 e Chabal op. cit., pp. 112–14.

101. SIDA: ”Stöd till PAIGC”/ ASDI: ”Ajuda ao PAIGC”, Estocolmo, 25 de Junho de 1974 (SDA).

102. Entrevista com Lúcio Lara, p. 19. O apoio sueco ao MPLA durante esse mesmo período não ultrapassava os 2,3 milhões de coroas suecas, ou seja, 5 por cento do apoio dado ao PAIGC. Lara atribuía a diferença às qualidades do secretário geral do PAIGC: ”A razão era a presença de Amílcar Cabral. Ele era muito dinâmico e estava sempre ”em cima” dos acontecimentos” (ibid.).

103. À falta de contabilidade global no PAIGC, esta questão fica por provar com base documental. A conclusão retirada baseia-se em declarações do PAIGC, da ASDI e das Nações Unidas.

104. Lövgren comentaria depois que a ajuda em mercadorias dada pela Suécia era, de acordo com Cabral ”a melhor forma de ajuda que a Suécia nos poderia dar. [...] Não precisavam de dinheiro naquela altura. Aquilo de que precisavam para a guerra era-lhes fornecido pelo bloco socialista, mas não tinham quaisquer recursos no que diz respeito a alimentação, medicamentos e equipamento escolar, etc. para a parte civil da luta. Dependiam totalmente de países como a Suécia para conseguir esses bens, porque não os adquiriam no mercado internacional” (Entrevista com Stig Lövgren, p. 310)

105. PAIGC: ”Sur l’aide humanitaire de la Suède à notre parti: Rapport bref et proposition d’aide” (”Sobre a ajuda humanitária da Suécia ao nosso partido: Breve relatório e proposta de ajuda”), Conacri, maio de 1972 (SDA).

106. Ver a entrevista com Bengt Säve-Söderbergh, na qual o antigo subsecretário de estado social-democrata dos Negócios Estrangeiros (1985–91) declara que ”Angola tinha interesse para quem procurava dinheiro. Sabíamos que ninguém se preocupava realmente com a Guiné-Bissau e que alguns se preocupavam, mas apenas marginalmente, com Moçambique. Angola era o foco de interesse e, por isso mesmo o país mais ”quente”, em termos da clivagem  Leste-Ocidente” (p. 338).

107. Para Cabral, toda a ajuda ao PAIGC era humanitária, ”independentemente da forma e do conteúdo da ajuda, porque é dada em prol do progresso político, económico, social e cultural da humanidade e da paz” (Carta de Amílcar Cabral à ASDI, Conacri, 28 de Julho de 1971) (SDA).

108. Cabral citado em Chabal op. cit., p. 114.

109. No início dos anos setenta, o movimento sueco de solidariedade era essencial para definir os contornos da ajuda oficial aos movimentos de libertação. Num livro publicado pelos Grupos de África dizia-se, em ~janeiro de 1972, que ”a contribuição da ASDI não era dada de forma incondicional aos movimentos de libertação, sendo dada para ’fins humanitários’ como, por exemplo, a saúde, a educação e afins, o que significava que os movimentos não eram reconhecidos como representantes dos respectivos povos e que o aspecto militar da actividade dos movimentos de libertação não recebia qualquer apoio” (AGIS op. cit., p. 194). 

Mais ou menos na mesma altura, num documento elaborado pelos Grupos de África em Inglaterra para uma conferência sobre solidariedade internacional para com a FRELIMO, o MPLA e o PAIGC, realizada em Lund no início de 1972, dizia-se que ”ao recusar-se a ver o aspecto militar como parte integrante da luta, o governo sueco está a dar uma imagem deturpada da situação. Outra das limitações é que a ajuda prestada pela ASDI é dada em géneros, seleccionados de uma lista e comprados (na Suécia) por funcionários da ASDI. Trata-se de uma forma grave de paternalismo, o que se poderá talvez explicar apenas pelo desejo de manter vínculos económicos importantes com Portugal durante o máximo de tempo possível e também pelo desejo de encontrar uma solução neo-colonialista para as colónias portuguesas” (Versão preliminar: ”Imperialismo sueco em Portugal e em África”, Conferência da Páscoa, Lund, 1972) (AGA). 

Deve notar-se que a ajuda oficial não estava vinculada à obtenção dos produtos na Suécia, nem a ASDI tentava obter mercadorias em Portugal para os movimentos de libertação nas colónias portuguesas (Entrevista com Stig Lövgren, p. 314).


[ Seleção / adaptação / revisão / fixação de texto / itálicos / bold, para efeitos de publicação deste poste no blogue: L.G ]

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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 30 de julho de 2023 > Guiné 61/74 - P24518: Antologia (94): "A Suécia e as lutas de libertação nacional em Angola, Moçambique e Guiné-Bissau", por Tor Sellström (2008). Excertos: o caso da ajuda ao PAIGC – Parte V

(**) Vd. poste de 12 de setembro de 2022 > Guiné 61/74 - P23609: (D)o outro lado do combate (68): os "Armazéns do Povo", mito ou realidade ?

(***) Veja-se o poste de 2 de maio de  2010 > Guiné 63/74 - P6296: PAIGC: Como se vivia nas regiões libertadas (1): Chegam descalças, andrajosas, às vezes com filhos pequenos às costas a chupar os peitos secos e mirrados... (António Graça de Abreu, Alf Mil, CAOP1, Canchungo, Mansoa, Cufar, 1972/74)

(...) António Graça de Abreu > Mansoa, 3 de Maio de 1973

Na região de Mansoa, as NT capturam mais elementos IN, ou aparentados com os guerrilheiros, do que em Canchungo. Normalmente chegam ao nosso CAOP com um aspecto lastimável, a subnutrição, as doenças, a miséria têm tomado conta deste pobre povo que vive nas regiões libertadas.

Os prisioneiros são quase sempre mulheres que se deslocam às povoações controladas pelas NT, a fim de venderem por exemplo mancarra (amendoim), óleo ou vinho de palma, e são capturadas nas estradas ou nos caminhos em volta dos nossos aquartelamentos.

Chegam descalças, andrajosas, às vezes com filhos pequenos às costas a chupar os peitos secos e mirrados. Dói, só de olhar. 

São interrogadas, é-lhes pedido todo o tipo de informações sobre os acampamentos, o armamento, as aldeias controladas pelo IN onde vivem os seus maridos, os seus familiares. Como é natural, estas mulheres falam muito pouco e também magoa o coração ver como são tratadas. 

É minha tarefa comprar-lhes uns trapinhos novos para tapar o corpo, umas sandálias de plástico para protegerem os pés. (...)

Fonte: António Graça de Abreu – Diário da Guiné: Lama, Sangue e Água Pura. Lisboa: Guerra e Paz, Editores, SA, 2007, p. 94.

Guiné 61/74 - P24520: Parabéns a você (2191): Manuel Augusto Reis, ex-Alf Mil Cav da CCAV 8350/72 (Guileje, Gadamael, Quinhámel, Cumbijã e Colibuia, 1972/74)

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Nota do editor

Último poste da série de 30 de Julho de 2023 > Guiné 61/74 - P24517: Parabéns a você (2191): Amaral Bernardo, ex-Alf Mil Médico da CCS/BCAÇ 2930 e CCAÇ 6 (Catió e Bedanda, 1970/72); Júlio Costa Abreu, ex- 1.º Cabo Comando, Grupo Centuriões (Guiné, 1964/66) e Victor Tavares, ex-1.º Cabo Caçador Paraquedista da CCP 121/BCP 12 (Guiné, 1972/74)

domingo, 30 de julho de 2023

Guiné 61/74 - P24519 Fotos à procura de... uma legenda (175): Capinadores e "homens armadas" em Cutia, tabanca e destacamento no setor de Mansoa, ao tempo do BCAÇ 2885 (1969/71) (José Torres Neves, capelão)




Guiné > Região do Oio > Sector 4 (Mansoa) > BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) > Destacamento e tabanca de Cutia >  Uma jornada de capinagem... A população da tabanca é balanta.

Foto (e legenda): © José Torres Neves (2023). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. É uma imagem (editada) do álbum  do Padre José Torres Neves, ex-alf graduado capelão, CCS/BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) (*).

Do alto da estrada (Mansoa-Cutia-.Mansabá), o capelão tirou uma magnífica foto de um conjuntio de cerca de 3 dezenas de capinadores em ação. 

O capim, nas imedaiações e tabanca de Cutia,  atingia uma altura considerável (3 a 4 metros), constituindo obviamente um perigo para a segurança da tropa e da população civil... Era preciso cortá-lo,  periodicamente... 

Ao mesmo tempo, o capim era, na altura,  a base das coberturas das moranças, precisando ser renovadas regularmente, na época seca. 

O que pode ser mais insólito nesta foto são os dois elementos armados de G3 ou outras armas automáticas (assinalados por um círculo a amarelo) que devem ser parte da escolta de segurança aos capinadores... Serão civis armados, milícias ou militares ? 

Fica a dúvida e o desafio para o leitor completar a legenda ou comentar a foto (**)... LG
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