(...) "Foram formados Comités de Desertores Portugueses nas cidades de Lund, Estocolmo e Uppsala. Para além de solicitarem asilo político, os membros dos comités uniam forças com os Grupos de África locais, defendendo activamente o apoio ao PAIGC, ao MPLA e à FRELIMO e dando força aos argumentos políticos a favor dos movimentos nacionalistas". (Tor Sellström, op. cit., 2008, pãg. 186).
1. Tor Sellström, do Instituto Nórdico de Estudos Africanos, é autor de um livro, de 290 páginas, "A Suécia e as lutas de libertação nacional em Angola, Moçambique e Guiné-Bissau" (publicado em 2008, em versão portuguesa). (Vd. ficha técnica a seguir.)
Nessa publicação ele conta-nos como é que os chamados Grupos de África (organizações suecas de solidariedade com a luta dos povos da África Austral, e nomeadamente contra o apartheid), o partido social-democrata e o governo sueco começaram a interessar-se pelo que se estava a passar na Guiné-Bissau, no final dos anos 60.
O território, então sob administração portuguesa, com um escasso meio milhão de habitantes, e com um pequeno partido nacionalista, o PAIGC, a lutar pela sua independência, era na altura praticamente desconhecido do público sueco.
A partir de 1969, a Suécia começou a dar, ao PAIGC, uma "ajuda humanitária" substancial, primeiro em géneros, depois em dinheiro, que se prolongou muito para além da independência, até meados dos anos 90. Em meados dessa década, fechou abruptamente a torneira, ao perceber que estava a mandar o dinheiro dos contribuintes para o lixo.
"As exportações financiadas com doações da Suécia representavam, durante este período, entre 5 por cento e 10 por cento do total das importações da Guiné-Bissau".
Estamos a falar de valores que chegaram aos 2,5 mil milhões (!) de coroas suecas [c. 269,5 milhões de euros] durante o período de 1974/75-1994/95 (sendo de 53,5 milhöes de coroas suecas, ao valor actual, ou sejam, cerca de 5, 8 milhões de euros, de 1969/70 até 1976/77).
São factos que já pertencem ao domínio da História. Mas, passados estes anos todos, julgamos que ainda pode ter algum interesse, para os nossos leitores, saber um pouco mais sobre o envolvimento da Suécia, mesmo que indireto, na "nossa" guerra colonial.
Vamos continuar a seguir esta narrativa, reproduzindo, com a devida vénia, o último excerto do livro de Tor Sellström (na parte da ajuda sueca ao PAIGC, pp. 138-172). Já chamámos, logo no início, a atenção para alguns factos e dados que merecem a nossa contestação ou reparo crítico, nomeadamente quando o autor fala do trajeto do PAIGC e do seu líder histórico, Amílcar Cabrak, não citando fontes independentes e socorrendo-se no essencial da propaganda do PAIGC (ou de fontes que lhe estavam próximas)...
Já apontámos, nos postes anteriores, para alguns exemplos desse enviesamento político-ideológico:
(1) a greve dos trabalhadores portuários do Pijiguiti e o papel do PAI (mais tarde, PAIGC);
(ii) a batalha do Como em 1964:
(iii) o controlo de 2/3 do território e de 400 mil habitantes (!) por parte do PAIGC;
(iv) as escolas, os hospitais e as lojas do povo nas "áreas libertadas";
(v) a morte de Amílcar Cabral e o seu contexto;
(vi) a declaração unilateral da independência em 24/9/1973, na região do Boé; etc.
O texto (na parte que nos interessa, a ajuda sueca ao PAIGC, pp. 138-172) tem demasiadas notas de pé de página, que são úteis do ponto de vista documental e até têm informação relevante mas são extremamente fastidiosas para a generalidade dos nossos leitores. (Vamos mantê-las, para não truncar a narrativa; podem ser lidas na diagonal)
Os negritos são nossos: ajudam a destacar alguns dos pontos importantes do texto. O "bold" a vermelho são passagens controversas, são uma chamada de atenção para o leitor, devendo merecer um comentário crítico (ou o recurso a leituras suplementares).
Corrigimos um ou outro erro de português. Os excertos, que reproduzimos, seguem o Acordo Ortográfico em vigor.
Para já aqui ficam os nossos agradecimentos ao autor e ao editor, Nordiska Afrikainstitutekl (em inglês, The Nordic Africa Institute).
Ficha técnica:
Tor Sellström - A Suécia e as lutas de libertação nacional em Angola, Moçambique e Guiné-Bissau. Nordiska Afrikainstitutekl, Uppsala, 2008, 290 pp. Tradução: Júlio Monteiros. Revisão: António Lourenço e Dulce Åberg. Impresso na Suécia por Bulls Graphic, Halmstad 2008ISBN 978–91–7106–612–1.
Disponível em
https://www.diva-portal.org/smash/get/diva2:275247/FULLTEXT01.pdf
(Também disponível na biblioteca Nordiska Afrikainstitutekl (ou Instituto Nórdico de Estudos Africanos) aqui, em "open acess" .)
Resumo dos excertos anteriores (*):
Com base numa decisão parlamentar aprovada por uma larga maioria, a Suécia tornou-se em 1969 o primeiro país ocidental a dar ajuda oficial aos movimentos nacionalistas das colónias portugueses (MPLA, PAIGC, FRELIMO). O PAIGC vai-se tornar o principal beneficiário dessa ajuda (humanitária, não-militar). Muito também por mérito de Amílcar Cabral e da sua habilidade diplomática.
Até então, e sobretudo na primeira metade da década de sessenta, o debate na Suécia sobre a África Austral tinha quase exclusivamente sido centrado na situação na África do Sul, onde vigorava o apartheid.
O êxito da campanha contra a participação da empresa sueca ASEA no projecto de Cahora Bassa em Moçambique, por volta de 1968–69, na altura em que decorria a guerra do Vietname, levou a que os principais grupos de pressão (“Grupos de África”, oriundos de cidade como Arvika, Gotemburgo, Lund, Estocolmo e Uppsala) se ocupassem, quase em exclusivo, da luta armada nas colónias portuguesas, com destaque para a Guiné-Bissau (Parte I).
Em 3 páginas (pp. 141-143), o autor faz um resumo da "luta de libertação na Guiné-Bissau", usando unilatereal e acriticameente informaçáo propagandística do PAIGC, alguma particularmente grosseira como a pretensão deste de controlar 400 mil habitantes (numa população de pouco mais de meio milhão)... (Parte II).
Nas páguinas 144-147, fala-se dos primeiros contactos com o PAIGC e das primeiras visitas ao território (Parte III).
Nas páginas 148-152, é referido a primeira visita (de muitas) de Amílcar Cabral à Suécia em novembro de 1968 (Parte IV).
As conversações de Ström com o PAIGC foram bastante simples. No seu relatório, descreveu Amílcar Cabral, secretário geral do PAIGC, como ”um jovem agrónomo bastante jovial, elegante, intelectual e um conversador desenvolto e muito animado. Nada de apelos patéticos nem declarações solenes. As suas intervenções eram objectivas, claras e concisas” (Parte V, pp. 152-154).
Os suecos quiseram, na sua ajuda "não-militar", privilegiar os sectores da educação e a saúde. onde o PAIGC estava confrontado com "enormes desafios". O pressuposto era de que, em 1971, calculava-se que viviam 400.000 pessoas nas zonas libertadas da Guiné-Bissau, (...) na sua maioria artesãos e camponeses (sic) (Parte VI, pp. 154-157. Uma estimativa, disparatada, que fazia parte do arsernal de propaganda do PAIGC...
Uma das maiores "mistificações" foi a entrega de 100 toneladas de "sardinhas" (ou arenques juvenis) sob a forma de cerca de 400 mil latas de conservas, de 225 gr cada uma (peso líquido), e que terão sido profusamente distribuídas pelas "zonas libertas" (sic) até chegarem a Bissau... (O nosso amigo Cherno Baldé disse-nos que chegou a provar essas tais "sardinhas", e não lhe sabiam a nada...) (Parte VII, pp. 157-161).
Referência, por fim, à missão especial da ONU que, em abril de 1972, faz uma visita"clandestina" à Guiné, concluindo que o PAIGC "não apenas controlava militarmente, mas governava de facto os territórios libertados" (Parte VIII, pp. 161-168).
Tor Sellström - A Suécia e as lutas de libertação nacional em Angola, Moçambique e Guiné-Bissau: o caso da ajuda ao PAIGC - IX ( e última):
A independência e para além dela (pp. 168-172) (*)
Excerto do índice (pág. 4)
O PAIGC da Guiné-Bissau: Desbravar terreno | Pág. |
As colónias portuguesas no centro das atenções | 138 |
A luta de libertação na Guiné-Bissau | 141 |
Primeiros contactos | 144 |
Caminho para o apoio oficial ao PAIGC | 147 |
Uma rutura decisiva | 152 |
Necessidades civis e respostas suecas | 154 |
Definição de ajuda humanitária | 157 |
Amílcar Cabral e a ajuda sueca | 161 |
A independência e para além dela | 168 |
A
independência e para além dela
A diplomacia do PAIGC era em grande medida norteada pelo objetivo
de obter o máximo de apoio internacional possível para a vindoura declaração de
independência, prevista para o início de 1973. Confiante na vitória, num futuro não
muito remoto, Cabral usava nesse campo de todo o seu pragmatismo (177). No caso
da Suécia e dos outros países nórdicos, a sua disponibilidade para o
compromisso não teve, contudo, contrapartida, que teria sido o reconhecimento
antecipado da independência da Guiné-Bissau.
Amílcar Cabral acabaria por não assistir à independência do
seu país, nem ao fim do colonialismo português em África. Exercendo de facto o
controlo sobre a maior parte da Guiné-Bissau, o PAIGC vinha, desde o início de
1970, a discutir a forma como esta situação se deveria traduzir num
reconhecimento internacional de jure da independência nacional. Aliás, a
questão tinha sido levantada, por exemplo, por Cabral, durante uma reunião no
Ministério dos Negócios Estrangeiros em Estocolmo, já em julho de 1971 (178).
O reconhecimento da Guiné-Bissau como estado independente
tinha sido recomendado aquando da missão de apuramento de factos das Nações
Unidas, em abril de 1972.
O PAIGC organizou eleições populares nas zonas libertadas em
Agosto–Outubro de 1972. Um ano mais tarde, a 24 de setembro de 1973, reuniu-se
a primeira Assembleia Nacional do Povo da Guiné, na região leste do Boé, na
qual se proclamou o Estado da Guiné-Bissau como um ”Estado soberano,
republicano, democrático, anti-colonialista e anti-imperialista”. As fronteiras
do país coincidiam com as da Guiné continental ”portuguesa” (179).
Luís Cabral foi eleito presidente. Como únicos jornalistas
ocidentais presentes (180), a cerimónia solene foi documentada pelos cineastas
suecos Lennart Malmer e Ingela Romare (181). O seu filme exclusivo, com uma hora de
duração, ”O Nascimento de uma Nação”(182), foi transmitido via televisão pela
empresa oficial sueca de televisão (183).
Apesar dos portugueses continuarem a deter o controlo da
capital Bissau e dos principais centros do país, o novo Estado foi
imediatamente reconhecido por um grande número de nações. Por volta do mês de outubro de 1973, o reconhecimento diplomático tinha-se alargado a mais seis
governos e, a 19 de novembro de 1973, a República independente da Guiné-Bissau
foi formalmente aceite como o quadragésimo segundo membro da Organizaçãode
Unidade Africana (184).
Aplicando, designadamente, o princípio do controlo integral
do território (185), o governo sueco teve, contudo, dúvidas em reconhecer o novo
Estado, o que provocou fortes reacções dos Grupos de África e do Partido de
Esquerda Comunista (186), mas também no seio do próprio partido no poder.
Em dezembro de 1973, a deputada social-democrata Birgitta Dahl que, em finais de
1970 visitara as zonas libertadas da Guiné-Bissau, confrontou o Ministro dos
Negócios Estrangeiros Sven Andersson (187) no Parlamento, exigindo que lhe
fosse prestada informação sobre a posição do governo (188).
Menos de seis meses
depois a questão foi resolvida, apesar de tudo, pela ”revolução dos cravos” em
Portugal. Grandemente influenciada pelas guerras em África, nomeadamente na
Guiné-Bissau (189), o Movimento das Forças Armadas (MFA) derrubou o regime
fascista de Caetano a 25 de Abril de 1974, abrindo o caminho para a democracia
no país e para a concessão da independência nacional às colónias em África.
No
final de julho foi emitida uma declaração oficial de intenções com esse efeito,
e dez dias depois, a 9 de agosto de 1974, o governo sueco reconheceu a
República da Guiné-Bissau (190).
A independência formal de Portugal foi
concedida a 10 de Setembro de 1974 (191) e, na semana seguinte, o novo estado
aderiu às Nações Unidas (192). Séculos
de opressão colonial tinham assim terminado. A Guiné-Bissau podia enfim ocupar
o seu legítimo lugar entre as nações independentes do mundo, na difícil senda
de transformar espadas em arados.
O PAIGC foi o primeiro movimento africano de libertação com
quem o governo sueco criou um programa global de cooperação. Apesar de os
primeiros contactos entre as duas partes terem sido estabelecidos apenas em
finais da década de sessenta, e de a ajuda humanitária englobar apenas um
período de meia década, o relacionamento com o PAIGC viria, de forma
significativa, a desbravar terrenos desconhecidos e a preparar o caminho para a
posterior participação da Suécia no esforço dos movimentos de libertação na
África Austral.
A possível ajuda ao PAIGC tinha sido mencionada de forma clara
nas alocuções históricas do parlamento sueco em maio de 1969. Ao avaliar a nova
política, volvidos dois anos, o Ministério dos Negócios Estrangeiros declarou
que ”as experiências em termos de ajuda têm sido muito positivas até esta
data”, acrescentando que ”a solidariedade com os países em vias de
desenvolvimento, de que é exemplo a ajuda dada aos movimentos de libertação,
resulta em boa-vontade que, por sua vez, e a longo prazo, acabará provavelmente
por ter uma importância cada vez maior para a Suécia” (193).
Vista sobretudo como um investimento político, e menos como caridade humanitária, concluía-se na avaliação que ”há todas as razões para continuar na linha daquilo que se fez no passado, mas aumentando o valor da ajuda” (194).
No final da década de sessenta, a decisão de alargar a ajuda oficial directa ao PAIGC e aos movimentos de libertação da África Austral não levantava qualquer celeuma política na Suécia.
O Partido Moderado (conservador) viria pouco tempo depois a opor-se aos mesmos argumentos que, em 1969, tinham sido usados como informação para a tomada unânime de posição por parte do Comité Permanente das Dotações, presidido pelo seu futuro líder Gösta Bohman.
Em vincado contraste com outros partidos com assento parlamentar, o Partido Moderado retirava conclusões bastante negativas dos primeiros anos de cooperação com os movimentos de libertação.
Por exemplo, em 1972, numa reunião da Comissão Permanente para os Negócios Estrangeiros, concluía que “apoiar ativamente movimentos revolucionários não está conforme com o princípio da não intervenção, consagrado no direito internacional, nem com a posição de neutralidade assumida pela Suécia. [...] Há, a nível internacional, muitas dúvidas quanto à ideia (do alargamento) da ajuda às populações africanas, sob a forma de apoio a um determinado movimento de libertação. No caso particular de um estado que pretende conduzir uma política credível de neutralidade, dever-se-ia abdicar da concessão de ajuda desta forma" (195).
O Partido Moderado que, na altura, representava cerca de 15 por cento do eleitorado, era o único partido com assento parlamentar que se opunha à ideia de ajuda humanitária oficial direta aos movimentos de libertação.
Depois dos seus primeiros e ainda tímidos passos nos inícios de 1969, o governo sueco acabaria, ao longo dos anos e de acordo com valores actuais, por canalizar um total de 53,5 milhões de coroas suecas para o PAIGC (196).
Concebido pelo PAIGC como um programa de ajuda em géneros, a ajuda foi aumentando rapidamente, acabando por cobrira maior parte das áreas da actividade civil do movimento de libertação, centrando-se na alimentação, transportes, educação e saúde, para além de toda a gama de artigos enviados para os armazéns do povo.
De um ponto de vista administrativo, foram utilizados métodos de planeamento semelhantes aos aplicados em programas de cooperação com países independentes, o que simplificou o processo de transformação da ajuda humanitária em programa de ajuda ao desenvolvimento depois da independência da Guiné-Bissau. Tal como viria mais tarde a acontecer com os movimentos de libertação da África Austral, a ajuda humanitária à luta pela governação por parte da maioria e para a independência nacional abriu caminho para a cooperação a mais longo prazo.
Como resultado do apoio dado ao PAIGC durante a luta de libertação, a Guiné-Bissau foi (como único país da África Ocidental) e a partir do ano fiscal 1974–75, incluído nos ”países-programa” que recebiam ajuda ao desenvolvimento da Suécia (197).
Com resultados umas vezes melhores que outras (198), o valor total da ajuda sueca à Guiné-Bissau independente, dada durante o período 1974/75 – 1994/95 cifrou-se (a preços fixos de 1995) em 2,5 mil milhões de coroas suecas (199), o que colocava a Suécia entre os três principais doadores ao país (200).
____________
Notas do autor:
177. Cabral participou em 1972, em representação dos movimentos africanos de libertação, nos preparativos da Conferência Internacional Nações Unidas/ OUA de Peritos para Apoio às Vítimas do Colonialismo e do Apartheid na África Austral, que se realizou em Oslo, na Noruega, em abril de 1973.
Ao debater a ordem de trabalhos e com o ”objectivo de sermos ’realistas’ em vez de perdermos tempo em polémicas acesas”, disse que a conferência, para além da questão da ajuda humanitária, devia concentrar-se nas questões de índole política e diplomática, deixando ao cuidado dos governos, cada um por si, decidir quando à questão da ajuda militar (Eriksen em Eriksen (ed.) op. cit., p. 59).
178. Ethel Ringborg: Memorando, Estocolmo, 6 de julho de
1971 (MFA). Na altura, os altos funcionários do Ministério dos Negócios
Estrangeiros concluíram que ”já se justifica, nesta altura, analisar a forma
como uma tal proclamação de independência deve ser formulada, do ponto de vista
do Direito Internacional. Esta questão tem tanto mais interesse quando a Suécia
é membro da Comissão das Nações Unidas para a Descolonização” (ibid.).
179. A proclamação de independência não incluiu as ilhas de
Cabo Verde.
180. Conversa telefónica com Lennart Malmer, 7 de outubro de
1999.
181. Malmer e Romare haviam apresentado, em 1971/72 a luta
moçambicana de libertação aos telespectadores suecos (...).
182. Lennart Malmer e Ingela Romare: ”En nations födelse”,
Sveriges Television (SVT).
183. Na altura não havia redes comerciais de televisão na
Suécia. Em 1973, Malmer e Romare produziram também um documentário sobre as
crianças e a luta de libertação na Guiné-Bissau, para a estação pública de
televisão, com o título ”Guiné-Bissau är vårt land” (”A Guiné-Bissau é o nosso
país”), Sveriges Television (SVT). A seguir à independência,produziram, entre
outros, os documentários para televisão ”Guiné-Bissau: Ett exempel”
(”Guiné-Bissau: Um exemplo”) e ”Guiné-Bissau efter självständigheten”
(”Guiné-Bissau a seguir à Independência”), SverigesTelevision (SVT), 1976.
184.
Rudebeck op. cit., p. 55.
185. As outras considerações do governo sueco tinham a ver
com o relacionamento com Portugal e a situação em Cabo Verde.
186. Cf. ”Resposta do Ministro dos Negócios Estrangeiros a
uma pergunta do Sr. Måbrink no parlamento”, 25 de outubro de 1973, em
Ministério dos Negócios Estrangeiros: Documents on Swedish Foreign Policy:
1973, Estocolmo, 1976, p. 155.
187. Sucedendo a Krister Wickman (1971–73), Sven Andersson
foi Ministro dos Negócios Estrangeiros no período crítico entre 1973 e 1976.
188. ”Resposta do Ministro dos Negócios Estrangeiros a uma
interpelação pela Sra. Dahl”, 10 de dezembro de 1973, em Ministério dos
Negócios Estrangeiros: Documents on Swedish Foreign Policy: 1973, Estocolmo,
1976, pp. 155–59.
189. Vários oficiais que lideraram o golpe de Lisboa, entre
os quais o General António de Spínola e o Capitão Otelo Saraiva de Carvalho,
tinham passado muito tempo na Guiné ”portuguesa”.
Spínola, que em Fevereiro de
1974 levou a cabo um importante prelúdio do golpe, ao publicar o seu famoso
livro Portugal e o Futuro, tornou-se presidente da república portuguesa em maio
de 1974, mas saiu de cena quatro meses mais tarde. Spínola tinha exercido o
cargo de governador e de comandante em Bissau entre 1968 e 1973.
Otelo de
Carvalho trabalhou no sector da informação e propaganda do quartel-general de
Spínola na Guiné, onde se convenceu da injustiça moral e política das guerras coloniais.
Entre as fileiras dos oficiais influentes do Movimento das Forças Armadas
destacados para Angola e Moçambique, contavam-se o Almirante Rosa Coutinho que,
por exemplo, tinha estado destacado para Angola, onde tinha chefiado o governo
militar após o golpe de Abril de 1974.
190. "Press release”, 9 de agosto de 1974, em Ministério dos
Negócios Estrangeiros: Documents on Swedish Foreign Policy: 1974, Estocolmo,
1976, p. 180. Chabal, e outros observadores que se lhe seguiram, engana-se
quando declara que ”nem um único governo ocidental reconheceu a Guiné-Bissau
até o governo português o fazer” (Chabal op. cit., p. 131).
191. O ministro sueco dos Negócios Estrangeiros, Sven
Andersson, fez uma intervenção na televisão portuguesa no dia da independência
da Guiné-Bissau (”Declaração pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Sr. Sven
Andersson, à televisão portuguesa por ocasião da declaração de independência da
Guiné-Bissau de Portugal”, 10 de setembro de 1974, em Ministério dos Negócios
Estrangeiros: Documents on Swedish Foreign Policy: 1974, Estocolmo, 1976, pp. 180–81).
192. O processo conducente à independência de Cabo Verde foi
mais complicado. Após eleições para a Assembleia Nacional, as ilhas tornaram-se
na República Independente de Cabo Verde a 5 de julho de 1975. O PAIGC era o partido
dominante na Guiné-Bissau e em Cabo Verde, até à cisão em janeiro de 1981,
altura em que o PAIGC foi substituído nas ilhas pelo PAICV (Partido Africano
para a Independência de Cabo Verde).
193. Ethel Ringborg: Memorando (”Stöd till
befrielserörelser”/”Ajuda aos movimentos de libertação”), Ministério dos
Negócios Estrangeiros, Estocolmo, 7 de setembro de 1971 (MFA).
194. Ibid.
195. Citado em Olav Stokke: Sveriges Utvecklingsbistånd och
Biståndspolitik (”Suécia: Ajuda e política para o desenvolvimento”), Instituto
Escandinavo de Estudos Africanos, Uppsala, 1978, p. 17.
196. Consulte a tabela junta de transferências da ASDI para
o PAIGC.
197. A República de Cabo Verde receberia, desde 1974/75, uma
verba da Suécia, que foi gradualmente aumentando. Expressa em preços fixos de
1994, a ajuda cifrou-se, em julho de 1994, num total de 1,4 mil milhões de
coroas suecas (SIDA: Bistånd i Siffror och Diagram /”Ajuda ao desenvolvimento
em valores e gráficos”/, Estocolmo, janeiro de 1995, p. 60). Deve notar-se que
Portugal recebeu da Suécia, durante um período mais curto, ajuda ao
desenvolvimento a partir de 1975/76.
198. A ajuda sueca ao desenvolvimento da Guiné-Bissau
independente não foi muito bem-sucedida. Para fazer uma avaliação factual,
consulte Peter Svedberg, Anders Olofsgård e Ekman: Evaluation of Swedish Development Cooperation with Guinea-Bissau (”Avaliação da cooperação sueca ao desenvolvimento na Guiné-Bissau”), Secretariado para Análise da Ajuda Sueca ao Desenvolvimento (SASDA), Relatório nº. 3, Ds 1994:77, Ministério dos Negócios Estrangeiros, Estocolmo, 1994.
Desde 1980, Patrik Engellau, que foi representante da ASDI na Guiné-Bissau no final da década de setenta, publicou um conto bem planeado e estruturado sobre as dificuldades pelas quais passou um cooperante sueco na República (fictícia) do Candjambari. Sem dúvida situada na Guiné-Bissau, esta história retrata os problemas e armadilhas que o movimento de libertação teve de enfrentar depois de assumir o poder, bem como as que passou o país doador, apesar das suas boas intenções (Patrik Engellau: Genom Ekluten (”Passar por dificuldades”), Atlantis, Estocolmo).
De volta à Guiné-Bissau vinte anos depois da visita que fizera às zonas libertadas do PAIGC, Anders Ehnmark fez, em 1993, uma reflexão semelhante sobre a libertação e a liberdade, a independência e o desenvolvimento, os sonhos e as realidades, num ensaio chamado ”Viagem ao Kilimanjaro”, onde conclui que ”aconteceu algo que não estava previsto” (Ehnmark (1993) op. cit., p. 113).
Em 1998, as lacunas económicas e as divisões étnicas e sociais não resolvidas levariam ao estalar de uma guerra civil na Guiné-Bissau. Tragicamente, o exemplo aglutinador dado por Amílcar Cabral e pelo PAIGC durante a luta pela libertação, tiveram um fim violento.
199. Sida: Development in Partnership: Sida and Swedish
Bilaterial Development Cooperation in Africa (”Desenvolvimento em Parceria: A
ASDI e a cooperação bilateral sueca para o desenvolvimento bilateral em
África”), ASDI, Estocolmo, 1997, p. 23.
Os valores correspondentes para a
Tanzânia e para os países da África Austral prioritários para a Suécia eram:
Tanzânia 20,3 mil milhões de coroas suecas, Moçambique 11,5, Zâmbia 6,9, Angola
3,9, Zimbabué 3,8 e Botswana 3.2.
200. Svedberg, Olofsgård e Ekman op. cit., p. 20.
[ Seleção / adaptação / revisão / fixação de texto / itálicos / bold, para efeitos de publicação deste poste no blogue: L.G ]
_______________
Notas do editor:
(*) Vd. postes anteriores da série >
17 de julho de 2023 > Guiné 61/74 - P24482: Antologia (90): "A Suécia e as lutas de libertação nacional em Angola, Moçambique e Guiné-Bissau", por Tor Sellström (2008). Excertos: o caso da ajuda ao PAIGC – Parte I
19 de julho de 2023 > Guiné 61/74 - P24489: Antologia (91): "A Suécia e as lutas de libertação nacional em Angola, Moçambique e Guiné-Bissau", por Tor Sellström (2008). Excertos: o caso da ajuda ao PAIGC – Parte II
24 de julho de 2023 > Guiné 61/74 - P24502: Antologia (92): "A Suécia e as lutas de libertação nacional em Angola, Moçambique e Guiné-Bissau", por Tor Sellström (2008). Excertos: o caso da ajuda ao PAIGC – Parte III
28 de julho de 2023 > Guiné 61/74 - P24510 Antologia (93): "A Suécia e as lutas de libertação nacional em Angola, Moçambique e Guiné-Bissau", por Tor Sellström (2008). Excertos: o caso da ajuda ao PAIGC – Parte IV
30 de julho de 2023 > Guiné 61/74 - P24518: Antologia (94): "A Suécia e as lutas de libertação nacional em Angola, Moçambique e Guiné-Bissau", por Tor Sellström (2008). Excertos: o caso da ajuda ao PAIGC – Parte V