quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Guiné 63/74 - P6828: Memórias de um Combatente da Liberdade da Pátria, Carlos Domingos Gomes, Cadogo Pai (3): Estabelecido por conta própria em 1955



Continuação da publicação das memórias de Cadogo Pai (*)... O documento, de 26 páginas, tem por título: Memória de Carlos Domingos Gomes, Combatente da Liberdade da Pátria: Registos da História da Mobilização e Luta da Libertação Nacional. Recordar Guiledje, Simposium Internacional, Bissau, 1 a 7 de Março de 2008.

Excertos da 1ª Parte, Pág. 7-9 


"17. Foi a fase em que surgiu Amílcar Cabral, [em 1952, o qual ] jogou um papel importante, inteligente, em que organizou a sociedade, fazendo serenar os ânimos [exaltados devidos às ] rivalidades, e levando os adeptos a uma camaradagem que se impunha, e a um convívio em paz. E unidos, no sentido de organizar o combate ao único inimigo da Pátria, o nefasto colonialismo.

“Amílcar organizou os contactos, restritos. Para defesa da confidencialidade necessária”: Elisée Turpin, Inácio Semedo, Fernando Fortes, Luís Cabral, Aristides Pereira, Epifânio Soto Amado, Júlio Almeida, guarda-redes da UDIB, etc.

"18. Os colonialistas, em vez de corrigirem, incentivaram mais os motivos das rivalidades e dos reparos dos guineenses: Liceus em Cabo-Verde, bons empregos, salários desiguais, etc.

"19. Vinha de Bolama, as reuniões eram no quarto de Elisée Turpin, [,em Bissau,] que ficava situado atrás do salão onde se pratica hoje o judo. Vinham conhecidos dele do Senegal e os encontros eram ali e também na messe do B.N. U. [, Banco Nacional Ultramarino,] com os cabo-verdianos, empregados do B.N.U. que passaram a dar uma contribuição válida, Lima Barber, Júlio Simas, Eanes, Cézar, Lomba Nascimento, etc., sendo os últimos de S. Tomé.

“Após as reuniões, o camarada Luís Cabral, invariavelmente, mantinha-s eno passeio do B.N.U,, a passear. Ao chegarmos à esquina da empresa francesa NOSOCO (hoje Henrique Rosa), o Elisée dizia-nos:
- Um momento, para eu dar uma fala ao Luís Cabral.  

"Mas nunca dizia o que ia tratar com ele"... 









Cópia da 1ª Parte, pág. 8 (em cima)... Transcrição da página 9 (a seguir):

"razão do meu constrangimento e propôs-me uma transferência para Paris, dada a confiança que ganhei em toda a organização, a exemplo de muitos colegas que foram transferidos na altura para Ziguincgor, Dakar, etc. 

"Avisou-me que o vento da Independência iniciada nos países vizinhos (Conakry, Senegal, etc.) chegaria à Guiné-Bissau e aconselhou-me que, se ficasse na Guiné, iria passar mal, como passei.

"Após esta reunião, decidi adiar a minha decisão, era altura da campanha, mas com o constrangimento a que éramos obrigados nas compras dos produtos, voltei à carga com a decisão. Foi assim que me estabeleci por conta própria a 5 de Setembro de 1955.

"Fim da 1ª Parte".

[ Revisão / fixação  de texto/ excertos / digitalizações / título: L.G.]

____________


Nota de L.G.:

 (*) Vd. postes anteriores da série:


2 de Agosto de 2010 > 
Guiné 63/74 - P6815: Memórias de um Combatente da Liberdade da Pátria, Carlos Domingos Gomes, Cadogo Pai (2): A elite guineense nos anos 50


1 comentário:

Antº Rosinha disse...

Duas razões para Carlos Gomes estar contra o colonialismo:«Liceus em Caboverde e bons empregos, salários desiguais...»

«E, com o início da companha, com o constragimento a que eramos obrigados na compra dos produtos...»(penso que se refere ao monopólio dos grandes armazenistas, tipo casa Gouveia).

Como sempre, até o Sr. Carlos Gomes não diz "todas as razões" para se revoltar contra o colon português.

Mas digo eu: Então e as razões de revolta, por uma terra ser tão rica, "diamantes, ouro, bauxites etc" e o Salazar escondia essas riquezas?

E outra razão que se ouvia aos nacionalistas e ainda se sente essa ideia em Angola "rica", menos em Bissau "pobre":

Colonizados por um país atrazado, de analfabetos...?

Como da minha faixa etária (72). poucos lêm estas linhas, se ofender algum africano ou afrodescendente ou luso descendente, ou colegas guineenses que tive em Bissau, peço desculpa pelo que vou dizer, mas é a minha ideia, que, embora nacionalistas, homens como o Sr Carlos Gomes, a maioria se não ficou contra a guerra que os movimentos desenvolveram, pelo menos «ficaram em cima do muro».

Alguns, jovens afrodescendentes cujo pai era um dos tais portugueses analfabetos atrazados, quando chegou aquela idade de tomarem partido, foram estudar a espensas do velho colon, para a Inglaterra, França e mesmo Coimbra.

No fim poucas coisas correram bem para os diversos povos africanos.

Fui ver muitos paises praticarem «psico-social» na Guiné-Bissau!