quinta-feira, 21 de setembro de 2017

Guiné 61/74 - P17784: As memórias revividas com a visita à Guiné-Bissau, que efectuei entre os dias 30 de Março e 7 de Abril de 2017 (2): 2.º Dia: A cidade de Bissau (António Acílio Azevedo, ex-Cap Mil)


1. Continuação da publicação das "Memórias Revividas" com a recente visita do nosso camarada António Acílio Azevedo (ex-Cap Mil, CMDT da 1.ª CCAV/BCAV 8320/72, Bula e da CCAÇ 17, Binar, 1973/74) à Guiné-Bissau, trabalho que relata os momentos mais importantes dessa jornada de saudade àquele país irmão.

AS MINHAS MEMÓRIAS, REVIVIDAS COM A VISITA QUE EFECTUEI À GUINÉ-BISSAU ENTRE OS DIAS 30 DE MARÇO E 7 DE ABRIL E 2017

AS DESLOCAÇÕES PELO INTERIOR DA GUINÉ-BISSAU (2)

2.º DIA: 31 DE MARÇO DE 2017 – A CIDADE DE BISSAU

Conforme tinha sido préviamente planeado, destinámos o primeiro dia a revisitar a cidade de Bissau que, alguns tal como eu não conheciam desde o ano de 1974.
A primeira impressão foi favorável ao percorrermos de jeep, os cerca de oito quilómetros, que separam a zona do Aeroporto do centro de Bissau, numa ampla via rodoviária com duas vias, cada das quais tem três faixas de rodagem em cada sentido, ou duas nalguns locais mais estreitos, com o pavimento devidamente asfaltado, artéria esta que não existia naquele ano já longínquo de 1974.

Com grande movimento rodoviário, esta longa artéria atravessa zonas onde se localizam alguns hotéis, o edifício da Assembleia Nacional Popular, designado como Palácio Colinas de Boé e também o grande e muito frequentado Mercado de Bandim, que embora já existisse nos anos setenta, se estendia noutra via, quase paralela a esta avenida, mas para poente.
Esta larga avenida termina na antiga Rotunda da antiga Praça do Império, local onde se ergue o também antigo Palácio do Governador da então nossa Província da Guiné, mas actualmente depois de recuperado foi transformado no Palácio da Presidência da República da Guiné-Bissau, coexistindo na mesma praça outras edificações ainda da era colonial.

Foto 7 - Bissau: Avenida com duas vias e nalguns locais com três faixas de rodagem cada e que liga o Aeroporto à antiga Praça do Império, no centro da cidade. Nesta avenida e a cerca de um quilómetro do Aeroporto, situa-se o Aparthotel Machado, onde pernoitávamos, tomávamos o pequena almoço e jantávamos.  
Foto: Com a devida vénia a ANGOP

Foto 8 - Bissau (Guiné-Bissau): Mercado de Bandim, marginando a avenida que do Aeroporto nos leva à antiga Praça do Império, no centro de Bissau. Tem cerca de 1 quilómetro de extensão, sendo impressionante a quantidade de pessoas que a frequentam, uns como vendedores e a maioria de potenciais compradores.  
Foto: Com a devida vénia a TVI24.iol.pt

Descemos dos jeeps na antiga Praça do Império e decidimos ir tomar café e comer uma nata, no renovado Café Império, que já existia nos anos 70 do século passado, no mesmo local, ainda que com outra configuração, instalado num edifício que faz esquina com a avenida que conduz ao Cais do Pidjiquiti, no Rio Geba, que agora se chama Avenida Amílcar Cabral.

Alguns elementos do grupo (Moutinho e Leite Rodrigues) dirigiram-se entretanto de jeep, ao edifício da Alfândega de Bissau a fim de aí tentarem desbloquear um contentor de 40 pés, que com material escolar oferecido pelo Lions da Lusofonia de Matosinhos, de que o Leite Rodrigues é membro, se destina às escolas da Guiné-Bissau, mas que, por razões burocráticas, ali se encontra cativo desde Novembro de 2016, por falta de pagamento de taxas de armazenagem! “Burocratices”, por toda a parte…

Procurando ocupar o tempo disponível, o restante pessoal resolveu descer a pé a avenida até à zona do cais, apreciando o pouco que resta das antigas e bonitas casas, a maioria delas do tempo colonial, que alindavam essa mesma avenida, mas a decepção depressa se apoderou de nós, face ao aspecto de degradação e ruína da maioria deles, situação agravada pelo péssimo piso dessa mesma artéria e das artérias que para ela convergem.
Completando este desagradável cenário, chocou-nos o péssimo estado em que se encontra toda a marginal do Cais de Bissau, junto ao Rio Geba, antigamente bem calcetada em cubos de granito e agora transformado em autêntica picada, cheia de lixo e muito pó.

Aproximando-se a hora do almoço, decidimos telefonar ao Moutinho, dizendo-lhe que íamos avançando para o Restaurante Porto, situado próximo da Sé de Bissau e não muito longe do edifício da Alfândega de Bissau, ficando aí a aguardar a chegada dele e do Leite Rodrigues.

Foto 9 - Bissau: Breve paragem para tomarmos um café no Café Império, localizado na esquina da antiga Praça do Império, com a avenida que conduz ao Cais do Pidjiquiti. Na imagem: Azevedo, Cancela, Rebola e o nosso motorista Jorge

A Guiné-Bissau, que se localiza na costa ocidental do Continente Africano, faz fronteira a norte com a República de Senegal, a nascente e a sul com o da Guiné-Conakry e a poente com o Oceano Atlântico, ocupando uma superfície com 36.125 quilómetros quadrados e possuindo uma população que ronda 1.600.000 habitantes.
A história da cidade de Bissau, que actualmente conta com uma população de cerca de 400.000 habitantes, localiza-se na margem direita do estuário do Rio Geba, começa a desenhar-se no já longínquo ano de 1687, com um acordo entre o Rei daquela região Africana e Portugal, que deu origem a que no dia 15 de Março de 1682, fosse concretizada a fundação da cidade.

Para defesa do território começaram, desde logo a ser construídas diversas fortificações de que a mais conhecida e importante, é a ainda actual e bem conservada Fortaleza da Amura, concluída no ano 1766, erguida nas proximidades do Rio Geba e há já muitos anos integrada na zona urbana da cidade.

Bissau, é ainda considerado um importante centro de comércio, por onde são canalizados e exportados muitos dos produtos, não só de origem guineense, mas também das regiões do vizinho território do Senegal, que faz fronteira norte com a Guiné-Bissau, sendo disso exemplo algumas boas estradas, ao que parece, construídas por fundos financeiros suportados pela República do Senegal.

Em termos climatéricos, em cada ano, encontram-se bem definidas no território guineenses duas épocas, perfeitamente distintas e que são conhecidas como a época das chuvas e a época seca.
A primeira, com chuvadas diárias, inicia-se, normalmente, no mês de Maio e alonga-se até ao final do mês de Outubro, com chuvas, muitas vezes fortes e intensas, ainda que não contínuas, mas repetidas várias vezes ao dia. Saliente-se que o grau de humidade, neste período do ano, é muito elevado, levando as pessoas – talvez mais os não residentes – a estarem permanentemente a transpirar.
A época seca, ainda que mais quente que a das chuvas, é mais fácil de suportar, mas também não será “pera doce”, para quem não está adaptado a este tipo de clima.

Foto 10 - Bissau: Foto da antiga, mas bonita e bem arranjada Praça do Império, com o antigo Palácio do Governador em fundo, que é actualmente a residência oficial do Presidente da República da Guiné-Bissau 

É na bonita e antiga Praça do Império, actualmente bem cuidada e ajardinada, onde, para além do Palácio Presidencial, se erguem, tal como já atrás referi, alguns outros belos edifícios da capital guineense, como o da Delegação da TAP, o do Hotel e Pastelaria Império e o da antiga Associação Comercial de Bissau (actualmente sede do PAIGC) e local de onde irradiam os principais eixos rodoviários para a saída de Bissau, com principal incidência nos seguintes destinos:

a) Avenida Amílcar Cabral, com cerca de um quilómetro de extensão que, em frente ao Palácio nos leva até à margem direita do Rio Geba, onde se localiza o Porto de Bissau, esta infelizmente bastante deteriorada e de piso quase sem asfalto, o mesmo acontecendo, aliás, em grande parte dos seus arruamentos transversais;

b) Avenida dos Combatentes da Liberdade da Pátria, com cerca de oito quilómetros que, direccionada para poente une a cidade ao Aeroporto Internacional Osvaldo Vieira e daqui a todo o resto do território, já que até à Vila de Safim, esta estrada, com cerca de treze quilómetros, é a única saída da capital do País para toda a Guiné-Bissau;

c) Estrada de Santa Luzia, que conduz à zona urbana com o mesmo nome e área onde se sediam algumas das principais instalações militares e algumas das mais importantes unidades hoteleiras do País;

d) A única excepção que nos aparece como saída de Bissau, será a estrada que do Aeroporto conduz os visitantes à zona turística de Quinhamel, na zona norte e litoral ao Rio Geba.

Permitam-me perguntar, por que é que, pelo menos, toda a zona envolvente ao Palácio Presidencial, não se encontra arranjada e limpa como esta antiga Praça do Império?! Não despertará nos locais a vontade, o interesse e o desejo de que as pessoas que visitam a Guiné-Bissau, fiquem com boa impressão do País, não só para lá voltar, mas sobretudo para transmitir aos familiares e amigos que é um bom destino a visitar?

Cada vez mais, fico com a sensação de que a actual “pobreza política”, que infelizmente grassa por todo o lado, se sobrepõe aos interesses nacionais, não fazendo o menor esforço para se ir lembrando que a aposta no futuro de qualquer País ou região, passa pela indústria turística, canalizadora da entrada de divisas, bem precisas para o desenvolvimento de um povo ou de uma região?

Foto 11 - Bissau: Foto tirada na parte central da antiga Praça do Império, com o edifício da TAP, ao fundo à esquerda 

Foto 12 - Bissau: Antiga Praça do Império, com a Confeitaria e o Hotel Império, em segundo plano 

Depois desta breve paragem na Pastelaria Império, decidimos fazer uma breve passeata a pé pela praça situada em frente ao Palácio, que é considerada a sala de visitas da Capital Guineense, bem como pela sua área envolvente, procurando relembrar tempos antigos.

Terminado este curto passeio, dirigimo-nos, agora de jeep, pela antiga Avenida da República, para o Porto de Bissau, local onde se situa o Cais do Pidjiguiti, local bem conhecido de muitos milhares de militares portugueses, pois foi lá que desembarcaram e posteriormente embarcaram no seu regresso a Portugal, passados mais de dois anos e após o cumprimento do serviço militar obrigatório por aquelas bandas e período durante o qual, lá morreram muitos desses militares, a quem prestámos a nossa homenagem numa romagem de saudade que fizemos ao Cemitério Municipal de Bissau, localizado nas traseiras do actual Hospital Simão Mendes, dado que o antigo e bem equipado Hospital Militar, foi depois do 25 de Abril saqueado e vandalizado, encontrando-se em ruínas.

Ficamos igualmente decepcionados com o aspecto muito degradado em que se encontra, não só a antiga Avenida da República, actualmente identificada como Avenida Amílcar Cabral, mas também as artérias que dela irradiam para poente e para nascente, na maioria das quais os esgotos correm a céu aberto, a que podemos anexar a degradação da bela marginal da cidade, que nos anos de 1973/1974, bem conhecemos e por onde passeávamos algumas vezes, nas noites quentes de Bissau.

O bonito edifício dos CTT que em 1973/1974, era o local onde nos dirigíamos para fazer a marcação prévia das chamadas telefónicas que queríamos fazer para as nossas famílias em território metropolitano e que era um das mais emblemáticas construções da antiga Avenida da República, encontra-se com o interior bastante arruinado, dela escapando apenas a fachada principal que mantém a traça e pinturas que conhecemos.

Foto 13 - Bissau: Foto obtida no Cais do Pidjiguiti, com o Ilhéu do Rei em fundo 

Um facto insólito, por nós vivido, prende-se com o facto de alguns dos colegas se deslocarem ainda na manhã deste primeiro dia, às instalações da Alfândega de Bissau, esforço repetido três ou quatro dias depois, para tentar desalfandegar um contentor de quarenta pés que, acondicionando material escolar, tinha sido enviado gratuitamente para Bissau, em princípios de Novembro de 2016, pelo Lions da Lusofonia de Matosinhos, destinado a ser entregue a algumas das missões de solidariedade da Guiné-Bissau, a fim de ser posteriormente distribuído por diversos agrupamentos escolares daquela País.

Por estranho que pareça, passados quase seis meses, o contentor com o material, ainda se encontra por “desalfandegar”, encontrando-se depositado no Parque daquela Alfândega, onde o conseguimos localizar.

Inquirido o responsável da Alfândega local, por esta, não muito normal situação, foi-nos por ele transmitido que não tinha tido conhecimento da entrada nos serviços aduaneiros da documentação referente à mercadorias transportada naquela contentor, nem sabia onde se encontraria a documentação que confirmasse a sua chegada!

Com éramos portadores de cópia da documentação que confirmava a sua data de descarga e identificação do agente transitário local, o responsável da Alfândega, ao ser confrontado com estes factos, mostrou-se algo nervoso e confuso, e solicitou-nos que lá voltássemos na quarta-feira seguinte, prometendo-nos ajudar a resolver este imbróglio.

Saindo desta primeira tentativa de solução do desalfandegamento do contentor, com promessas positivas de resolução, almoçámos ali nas proximidades, tendo-nos dirigido ao “Restaurante Porto”, sediado numa das ruas perpendiculares à Avenida Amílcar Cabral e um pouco acima da Catedral, onde os outros colegas nos esperavam.

Fotos: © A. Acílio Azevedo

(Continua)
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Nota do editor

Primeiro poste da série de 19 de Setembro de 2017 > Guiné 61/74 - P17779: As memórias revividas com a visita à Guiné-Bissau, que efectuei entre os dias 30 de Março e 7 de Abril de 2017 (1): 1.º Dia, a viagem de ida (António Acílio Azevedo, ex-Cap Mil)

9 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Bravos viajantes!...Belo texto!... Vou seguir com entusiasmo as crónicas do Acílio, nosso novo grã-tabanqueiro!... Obrigado, Luís Graça.

PS - E espero que os nossos leitores participem com comentários, valorizando o texto!

antonio graça de abreu disse...

Voltar à Guiné-Bissau não será um contentamento e alegria.O que é que os guineenses fizeram da sua independência, forjada com tanto sangue, nosso e deles?
Gostava sim de regressar a Cufar. É possível visitar Cufar, ou a terra continua tabu por causa do aeroporto, dos aviões clandestinos e dos negócios da droga?
Abraço,

António Graça de Abreu

Cherno AB disse...

Caros amigos,

Os Portugueses, com as suas observacoes e interrogacoes, nao deixam de nos surpreender.

Em Setembro de 1974, poucos dias apos a saida dos ultimos soldados metropolitanos da nossa aldeia, a minha mae teve um problema repentino de saude, com vomitos e desmaio por ingestao de um pao contaminado de microbios/bacterias que estava num armario oferecido pelo meu amigo portugues, na altura, sem solucao e um pouco desorientado, o meu velho pai, ja falecido, teve a ingenuidade ou a clarividencia de fazer ao pessoal do PAIGC, a quem tinham entregue as instalacoes do aquartelamento, a seguinte pergunta:
- O que voces vao fazer com este pais, se nao tem nem os medicamentos de primeiro Socorro para ajudar um doente?

Esta pergunta, que parece ser inocente e muito ingénua devia ser feita ao PAIGC, antes de os entregar todo o territorio da Guine e sem condicoes previas, nos vos parece ? Agora eh muito tarde para dar conselhos e mostrar o caminho.

Na Guine, existiam pessoas que tinham colaborado, trabalhado e sacrificado suas vidas em prol da defesa do territorio ao lado de Portugal (esses eram os colaboradores ou caes dos colonialistas) e outros que queriam a todo o custo "libertar" esse territorio para simplesmente substituir os administradores coloniais e viver a larga a custa das populacoes (esses eram os nacionalistas ou "Turras", isto eh "Bandidos".

Mas, os Portugueses, simplesmente, ignoraram os seus colaboradores e entregaram o territorio aos "Bandidos" e hoje, passado o tempo e recuperados do medo e dos fantasmas, sao os mesmos que agora ficam decepcionados quando visitam a Guine e dao conselhos visionarios. Uma pena, meus amigos.

Cherno Balde

PS: O amigo AGA quando deixou Bissau e embarcou no seu aviao de regresso ao Puto em 1974 (Marco?) nem queria acreditar na sua sorte, mas ainda acredita que tudo podia ser diferente.

Um abraco amigo

Anónimo disse...

Ah, outra coisa que nao esta correcta no texto do amigo A. Acilio eh o relacionado com o financiamento de infrasetruturas (vias rodoviarias), por parte do vizinho Senegal, diz ele. Na verdade, sao financiamentos da UE na construcao das Pontes (Amilcar Cabral em Joao Landim e da Amizade GB/UE em S. Vicente no norte) e BOAD para a construcao ou reabilitacao das vias consideradas Regionais.

Cherno

Anónimo disse...

Amigo Cherne, inteiramente de acordo, acontece é que não foram os portugueses que abandonaram a Guiné ao seu malfadado destino.Mas um grupo denominado MFA uns poucos
que em nome dos portuguese abandonaram à sua sorte os povos da guiné.O mesmo grupo que também dividiu o povo aqui na metrópole.Eram uns "iluminados" que espalharam a escuridão por todo o lado, passe a metáfora.
Carlos Gaspar

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Acílio, está a ajudar-nos a refrescar as nossas memórias de Bissau...É inevitável, é humano, comparar o antes e o depois, a verdade é que as "duas cidades", a pequena Bissau colonial de ontem, e a capital da Guiné-Bissau de hoje não são comparáveis...

Como não é comparável a cidade do Porto de hoje, "destino turístico" por excelência, com a cidade do Porto do tempo de Ricardo Jorhe, no finais do séc. XIX, com os seus c. 120 mil habitantes, um terço dos quais vivia miseravelmente em "ilhas", sem água nem esgostos e a mais taxa de mortalidade da Europa...

Voltei lá, a Bissau, em 2008, há 9 anos portant,pela mesma altura do ano (março, tempo seco), e os meus sentimentos também eram "ambivalentes"... Não sou um "saudosista", mas é evidente que a degradação da baixa histórica de Guiné não podia deixar de tocar-nos...Não só por nóa, mas sobretudo pelos guineenses, nossos amigos e irmãos, que a Guiné é dos guineenses... Mas também pelo património (material e imaterial) que, esse, sim é de todos nós...Temos uma história em comum e uma língua, parece que às vezes esquecemo-nos disso...

Já agora, tira lá um zero à superfície da Guiné-Bissau: é uma gralha do processador de texto, não são 361 000 km2 mas, sim 36 100 km2 a área da pequena grande Guiné!... Um pouco menos que a superfície da Holanda (41 500 km2), e em ambos os casos, quase um quinto é água (na Guiné, quando enche a maré)... Enfim, a superfície da Guiné é um pouco mais de 1/3 da superfície de Portugal continental...

Espero que, na crónica do vosso regresso a casa, eu já possa ler que foi finalmente, apo fim de seis meses, desalfandegado o contentor com ajuda humanitária, para contentamento dos doadores e das crianças e professores da Guiné...

Ele de fato há coisas, na Guiné, em Portugal, em todo o lado, que qualquer homem e mulher de boa vontade têm dificuldade em lidar: uma delas é a "impunidade", a "arrogância", o "descaramento", a "filha de putice" de alguns homens e mulheres que pensam (e agem) como
se fossem "donos disto tudo... Infelizmente, também os havia, na Guiné, antes da independência, quer entre os "tugas" quer entre os militantes do PAIGC...

Podia dizer-se muito mais, mas fiquemos por aqui... LG

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Pergunto-me: se houver um acidente grave, na Guiné-Bissau, e um de nós tiver que ser hospitalizado, vai para onde ?... Que unidades de saúde na Guiné Bissau estão em condições de prestar cuidados de emergência médica ? ...

Julgo que tem havido alguma dose de "loucura" (ou de "inconsciência" ?) nas nossas idas, exaltantes e generosas, à GUiné, para "matar saudades"... A Guiné-Bissau tem grandes potencialidades turísticas, mas que garantias pode oferecer aos turistas estrangeiros em matéria, por exemplo, de internamento hospitalar ?

Essa é uam realidade brutal que nos choca: não há sistema de saúde na Guiné-Bissau, os guineenses (e sobretudo os que podem) vem à Europa, e em especial a Portugal... Ainda há dias, no Centro Comercial Colombo, em Lisboa, encontrou um casal, amigo, de Bissau, que se está a tratar em Portugal de doença oncológica...

Eu próprio fui professor de diversos médicos guineenses. Muitos deles continuam a trabalhar cá, porque o seu país não os pode aproveitar... A "fuga de cérebros" não é exclusiva da Guiné-Bissau, mas é um dor de alma saber que os melhores médicos guineenses vivem e trabalham... em Portugal.

Acho estéril a discussão sobre as "responsabilidades históricas" (no que diz respeito à questão das independências e das descolonizações)... Muito "à portuguesa", temos a tendência para a vitimização ou a procura de bodes expiatórios... A realidade histórica não muda só porque descarregamos aqui a nossa bílis (negra ou amarela)...

A história não se "reescreve", ou melhor, a história pode se reescrever, não se pode é repetir...

O nosso blogue é a prova de que a Guiné e os guineenses são tratados com muito afeto, estima e amizade... Às vezes mandamos, uns e outros, bocas infelizes... Não comento a atualidade política, nem muito menos critico as autoridades (portuguesas e guineenses) pelo que dizem ou não dizem sobre as relações Portugal - Guiné-Bissau. Teríamos que gastar a já pouca energia que temos numa guerrilha e contra-guerrilhas inúteis. Desta vez sem G3 e sem Kalasnikov...

Mas nada nos impede de termos às vezes ter as nossas pequenas discussões, ou conflitos de pontos de vista, normais entre irmãos, amigos e camaradas...

Cherno AB disse...

Caro amigo Luis Graca,

O sistema de saude e do ensino na Guine, foram os que mais sofreram com a Politica de Ajustamento Estrutural (PAE) que teve inicio em meados de 1986 com o FMI e que desmantelou por completo os sectores sociais do pais.

Actualmente o sistema de saude Guineense esta moribundo, os que podem (normalmente os que estao ligados ao poder) vao para Portugal e os outros vao morrer nos hospitais regionais de Kolda e Ziguinchor.

Cherno

Antº Rosinha disse...

A Guiné não está mito pior do que imensos paises africanos, sem falar o que se passa em certos favelados americanos e as guerras do médio oriente, paises também recem formatados e descolonizados pela Inglaterra, principalmente.

Só que no caso de África, se há um colonizador que não quis lançar deliberadamente ao abandono, (largar de mão) tanta gente, foi Portugal.

Angolanos que morreram ou foram deslocados aos milhões durante 30 anos,e hoje ainda vivem milhões em enormes musseques de Luanda ou Huambo, em piores condições do que os guineenses.

Não somos nós os que em maioria andamos por este blog e que embarcados nas margens do Tejo demos com os costados na Guerra do Ultramar, aqueles que se devem sentir culpados ou mesmo coniventes no decalabro que se passa em África e que já se reflete tragicamente nas grandes capitais europeias e no mediterrâneo e vai piorar.

Também houve portugueses responsáveis pelo descalabro que acompanharam ideologicamente os "progressistas" europeus, soviéticos e americanos, mas esses portugueses continuam a ser os"heróis intocáveis" e indiscutíveis.

De dia para dia está tudo a pioar à volta da Europa e não haverá mercenários suficientes para tanta guerra do ultramar, para a qual já Portugal está a participar.

A Guiné ainda não está tão mal assim, por enquanto, como se pretende pintar vez ou outra.