terça-feira, 19 de setembro de 2017

Guiné 61/74 - P17779: As memórias revividas com a visita à Guiné-Bissau, que efectuei entre os dias 30 de Março e 7 de Abril de 2017 (1): Preparação e viagem de ida (António Acílio Azevedo, ex-Cap Mil)

Aeroporto Francisco Sá Carneiro (Pedras Rubras): Na hora da partida. Alguns elementos do grupo, com a bandeira da Guiné-Bissau, à nossa frente e aguardando embarque para Bissau, via Lisboa. Da esquerda para a direita: Vitorino, Cancela, Isidro, Monteiro, eu próprio e o impagável Rodrigo.

1. Começamos hoje a publicar as "Memórias Revividas" com a recente visita do nosso camarada António Acílio Azevedo[1] (ex-Cap Mil, CMDT da 1.ª CCAV/BCAV 8320/72, Bula e da CCAÇ 17, Binar, 1973/74) à Guiné-Bissau, trabalho que relata os momentos mais importantes dessa jornada de saudade àquele país irmão.


AS MINHAS MEMÓRIAS, REVIVIDAS COM A VISITA QUE EFECTUEI À GUINÉ-BISSAU ENTRE OS DIAS 30 DE MARÇO E 7 DE ABRIL DE 2017 

PORMENORES SOBRE A IDA, A ESTADIA E O REGRESSO (1)

A PREPARAÇÃO DA VIAGEM: 

Concretizando uma já antiga vontade de realizar uma visita de saudade ao território da Guiné-Bissau, onde, nos anos já longínquos de 1973 e 1974, prestei serviço militar, como Capitão Miliciano, nos destacamentos de Binar, Bula, Pete e Nhamate, localizados cerca de 50 quilómetros a norte de Bissau, numa linha quase horizontal, entre as localidades de Teixeira Pinto (actualmente Canchungo) e Bissorã, decidi, finalmente, aceitar um convite de alguns antigos colegas de armas que, comigo, fazem parte dum razoável número de antigos combatentes daquela antiga Província Ultramarina Portuguesa, da África Ocidental e habituais frequentadores dos almoços/convívios semanais de todas as quartas-feiras, que se realizam no Restaurante “Milho Rei”, sito na Rua Heróis de África, em Matosinhos, para lá ir.
Bem liderados pelo colega Dr. Eduardo Moutinho, que já se deslocou à Guiné-Bissau, pelo menos três vezes, constituímos um unido e solidário grupo de 13 elementos, que englobava os colegas Moutinho, Vitorino, Rebola, Ferreira, Marques Barbosa, Leite Rodrigues, Isidro, Monteiro, Cancela, Rodrigo, Angelino, Samouco (que embarcou em Lisboa) e eu próprio, eis-nos prontos a iniciar esta viagem, recheada de algum saudosismo e com alguma expectativa sobre aquilo que lá iríamos encontrar.

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UM POUCO DA HISTÓRIA DA ACTUAL GUINÉ-BISSAU

Bissau, é a cidade-capital do território da Guiné-Bissau, situado na costa ocidental do Continente Africano, na margem direita do estuário do Rio Geba e a uma latitude de cerca do 12º norte.

A Guiné-Bissau, com uma população que ronda os 1.600.000 habitantes, ocupa uma superfície relativamente pequena, já que com os seus 36.125 quilómetros quadrados, é apenas um pouco maior que o território da Bélgica e/ou do nosso Alentejo.

O seu território, faz fronteira com o Senegal, a norte, com a Guiné-Conakry, a leste e a sul, sendo banhada a oeste pelo Oceano Atlântico. A língua oficial é o português, embora muita gente fale crioulo, mas que não é reconhecida como língua oficial, existindo populações de muitas das povoações do interior, onde ainda se falam línguas africanas nativas.

Fazendo inicialmente parte do antigo Reino de Gabú, que persistiu até ao século XVIII, sendo no século XIX colonizada pelos portugueses, que a passaram a considerar como Colónia Portuguesa do Ultramar, sob a designação de Guiné Portuguesa.
Foi a primeira antiga colónia portuguesa, no continente africano, a ter a independência, reconhecida por Portugal, no dia 10 de Setembro de 1974.

O território da Guiné-Bissau, encontra-se actualmente dividido em nove divisões administrativas, assim constituídas:
a) Sector Autónomo de Bissau, cuja capital é Bissau:
b) Região de Bafatá, com capital em Bafatá;
c) Região de Biombo, com capital em Quinhamel;
d) Região de Bolama, com capital em Bolama;
e) Região do Cacheu, com capital no Cacheu;
f) Região de Gabú (ex-Nova Lamego), com capital em Gabú;
g) Região do Oio, com capital em Farim;
h) Região de Quinara, com capital em Buba;
i) Região de Tombali, com capital em Catió.

Em termos orográficos, o território da Guiné-Bissau, estende-se por uma área de baixa altitude, já que o seu ponto mais alto só atinge cerca de 300 metros acima do nível do mar, sendo o seu interior constituído, maioritariamente, por savanas e o litoral por planícies pantanosas.
A economia do País depende fundamentalmente do exercício da agricultura e da pesca, principalmente em áreas como a do cultivo do arroz, do recurso à pesca e à criação de gado, todas elas muito importantes para a alimentação das suas populações.
Por outro lado e na importante vertente virada para a exportação, destacam-se as áreas da produção da castanha de caju, da manga e da mancarra (amendoim) e um pouco da apanha de marisco já que o recurso à exploração de matérias-primas do seu subsolo, é praticamente inexistente.

Uma das grandes preocupações actuais das autoridades guineenses, é o controlo dos narcotraficantes que aqui encontram um ponto de transbordo de cocaína para a Europa.
A Guiné-Bissau, um dos países com o Produto Interno Bruto (PIB) mais baixos do mundo, é actualmente membro das seguintes instituições mundiais:
a) Unidade Africana;
b) Comunidade Económica de Estados da África Ocidental;
c) Da Organização para a Cooperação Islâmica;
d) Da União Latina;
e) Da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa;
f) Da Francofonia;
g) Da Zona de Paz e de Cooperação do Atlântico Sul.

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1.º DIA: DIA 30 DE MARÇO DE 2017 - A VIAGEM DE IDA

Decidida e marcada a viagem para o dia 30 de Março de 2017, iniciámo-la saindo do Aeroporto Francisco de Sá Carneiro, pelas 16,40 horas, num avião bimotor da “White Airwais”, que nos deixaria em Lisboa cerca de uma hora depois, fazendo o voo ATR 20 600.
Desembarcados deste avião, dirigimo-nos pelas instalações internas do Aeroporto General Humberto Delgado, em Lisboa, para as proximidades da porta 26, onde pelas 19,30 horas embarcarmos num avião Airbus 320-200, da Tap Air Portugal que, fazendo o voo 1496, acabaria por aterrar no Aeroporto Internacional Osvaldo Vieira, em Bissau, pelas 22,50 horas locais (menos uma hora que em Portugal), sentindo nós logo depois do desembarque uma baforada quente e húmida, própria desta época do ano naquele território guineense, realidade para nós já conhecida, ainda que vivida há já cerca de 43/44 anos (1973/1974).

Após uma viagem sem qualquer turbulência, de cerca de quatro horas e dez minutos, efectuada quase toda de noite, entre Lisboa e Bissau, aterrámos no Aeroporto Internacional Osvaldo Vieira, em Bissau, cerca das vinte e duas horas e cinquenta minutos (horas locais, menos uma hora que em Lisboa), com uma temperatura bastante alta, em relação àquela de onde tínhamos partido.

Foto 2 - Aeroporto de Bissau: Foto obtida da sala de recolha da bagagem do Aeroporto de Bissau, onde os colegas Leite Rodrigues, Cancela, Ferreira e eu próprio, aguardávamos os outros colegas que ainda estavam a fazer o controlo de passaportes

Foto 3 - Bissau: Aeroporto Internacional Osvaldo Vieira: Sala de saída do Aeroporto onde, bem dispostos, aparecem, já com a bagagem, os colegas: Leite Rodrigues, Angelino, Azevedo, Isidro e Moutinho

Foto 4 - Bissau: Vista panorâmica da Avenida dos Combatentes da Liberdade da Pátria, com o edifício do Aeroporto Internacional Osvaldo Vieira, em fundo, obtida da frente do restaurante do Aparthotel Machado

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O NOSSO ALOJAMENTO EM BISSAU

Esperavam-nos, à saída do aeroporto, quatro jeeps que nos conduziram ao Aparthotel Machado, localizado a menos de mil metros, na nova e longa avenida, agora designada como Avenida dos Combatentes da Liberdade da Pátria que, com duas vias e três faixas de rodagem cada, termina na antiga Praça do Império, local onde se ergue o antigo Palácio do Governador Português da Província da Guiné, já felizmente reconstruido, depois de ter sido bombardeado durante as guerras internas, ocorridas nos finais do anos noventa do século passado, entre os apoiantes de Nino Vieira e de Ansume Mané, ambos falecidos durante essas guerras algo fratricidas.

Este Palácio, é actualmente a residência oficial de Sua Exa. o Senhor Presidente da República da Guiné-Bissau e que localizado nessa zona central da cidade de Bissau, é um área onde se erguem outros edifícios como, a Sede do PAIGC, a delegação da TAP AIR Portugal e ainda o Hotel Império.

Chegados no Aparthotel Machado, cujas instalações nos pareceram muito razoáveis e localizadas em zona muito sossegada, como mais tarde pudemos confirmar, foram de imediato distribuídos os quartos, sendo-me atribuído o quarto número nove, que durante a nossa permanência de sete noites por aquelas terras guineenses, reparti com o companheiro de viagem Isidro.

Este empreendimento turístico, de dois pisos, que desde logo nos pareceu acolhedor, comportava 17 quartos, dos quais 7 nos foram atribuídos, estando os outros ocupados por outros hóspedes, alguns deles estrangeiros e a trabalhar em empresas ou obras da Guiné-Bissau.

No decorrer dos dias verificámos que estavam a decorrer obras num terceiro piso que, segundo posteriormente nos informou o proprietário Sr. Manuel Machado, se destinavam a aumentar de 17 para 27 o número de quartos a disponibilizar aos potenciais futuros clientes.

Deixada a bagagem nos quartos e tomado um refrescante duche, ainda tivemos tempo, antes de dormir, de petiscarmos alguma coisa que a D. Teresa, esposa do proprietário do Aparthotel, Senhor Manuel Machado, preparou, para os novos treze hóspedes.
Aproveitando o tempo dessa pequena refeição e até um pouco para além dela, começamos a delinear, ouvindo a opinião mais conhecedora do nosso anfitrião, Sr. Manuel Machado, que nos ajudou a elaborar um programa de visitas para o primeiro dia da nossa permanência nestas terras africanas da Guiné-Bissau, fornecendo-nos umas ideias sobre as zonas a visitar, bem como sobre a quilometragem que iríamos percorrer, até atingirmos os nossos objectivos.

Tal como o viríamos a fazer todos os dias depois do jantar e atendendo ao calor que ainda se fazia sentir, ficávamos na sala de jantar para uns longos minutos de conversa, descrevendo uns aos outros as peripécias do nosso dia-a-dia e as visitas que fazíamos em cada uma das jornadas.
Íamos depois descansar, já que também nos começávamos a sentir um pouco fatigados, não só pelas deslocações e visitas feitas diariamente, mas também pela temperatura elevada, que procurámos anular, ligando o ar condicionado que existia de cada um dos quartos onde dormíamos, permitindo-nos dessa forma melhor passarmos uma tranquila noite de sono, já que no dia seguinte, nova etapa nos esperava.

Embora longos anos se tenham já passado desde a nossa forçada estadia por estas paragens, mesmo assim sentimos alguma emoção ao pisar terras africanas da Guiné, mais acentuada ao verificarmos a existência de um arruamento moderno que liga o Aeroporto ao centro de Bissau, conforme no dia seguinte pudemos confirmar.
Constatámos, não só, a existência desta nova avenida, mas também que a partir da rotunda do Aeroporto, existiam novos eixos rodoviários, onde se construíram novas e modernas edificações, a maioria delas ligadas aos sectores turísticos e da restauração, bem como outras onde se sediam instalações estatais e embaixadas estrangeiras.

Não só nesta noite, mas também nas seguintes e depois de jantar e devido ao calor que ainda se fazia sentir, ficávamos na sala de jantar uns longos minutos de conversa, descrevendo aos outros as visitas que fizemos em cada uma das jornadas, indo só depois descansar, já que também nos começávamos a sentir um pouco fatigados, não só pelas deslocações e visitas feitas diariamente, mas também pela temperatura elevada que se fazia sentir durante o dia.
Desse cansaço e do calor que sentíamos, “vingávamo-nos” à noite, ligando o ar condicionado que existia em cada um dos quartos onde dormíamos, para melhor passarmos uma tranquila noite de sono, já que no dia seguinte, nova etapa nos esperava.

E foi desta forma simples e despreocupada, que os treze voluntários desta visita histórica a terras da Guiné, se prepararam para passar a primeira das sete noites, numa terra, onde tinham estado, numa missão bem mais difícil, há cerca de uns 40/44 anos atrás.

Mostram-se duas fotos onde aparecem retratadas duas imagens do exterior do Aparthotel Machado, na cidade de Bissau

Foto 5 - Bissau (Guiné-Bissau): Aparthotel Machado, local onde ficamos bem alojados e onde pernoitávamos, tomávamos o pequeno almoço e jantávamos

Foto 6 - Bissau: Eu a descer as escadas do Aparthotel Machado, para iniciar umas das saídas matinais

Fotos: © A. Acílio Azevedo

(Continua)
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Nota do editor

[1] - Vd. poste de 14 de setembro de 2017 > Guiné 61/74 - P17766: Tabanca Grande (446): António Acílio Quelhas Antunes Azevedo, ex-Cap Mil, CMDT da 1.ª CCAV/BCAV 8320/72 (Bula) e da CCAÇ 17 (Binar), 1973/74, que passa a ocupar o lugar n.º 754 da tertúlia

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