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quarta-feira, 27 de novembro de 2024

Guiné 61/74 - P26200: In Memoriam (518): Lúcia Bayan († 26 de Novembro de 2024): Doutorada em Estudos Africanos e colaboradora do nosso Blogue em assuntos do Chão Felupe (Mário Beja Santos)

IN MEMORIAM

Doutora Lúcia Bayan (†24 de Novembro de 2024)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 14 de Agosto de 2023:

Queridos amigos,

O que me deslumbrava nesta investigadora era o entusiasmo que punha nas histórias que tinha vivido em território Felupe, onde fez tarimba para o seu doutoramento, que se realizou em 2023. Terá deixado um acervo impressionante de imagens, bom seria que um dia viessem a ser publicadas, algumas delas são verdadeiramente esplendentes, o que mais me impressiona é o entusiasmo que está por detrás da sua captação. 

Algumas das imagens que estão publicadas no blogue têm a ver com o sentido festivo do povo Felupe, e a Lúcia enriqueceu o nosso reportório com os marcos de fronteira, oxalá que a sua tese de doutoramento mereça o melhor acolhimento das instâncias universitárias guineenses e da comunicação social.

Um abraço do
Mário



Morreu Lúcia Bayan, nossa colaboradora, os Felupes estão de luto

Mário Beja Santos

Conheci a Lúcia quando, através do meu amigo Eduardo Costa Dias, ela pediu para falarmos sobre documentação do General Arnaldo Schulz, que estava em poder de uma sobrinha dele. Examinei a documentação, nada era desconhecido, salvo um conjunto de fotografias, para as quais sugeri destino, havendo uma delas pedido de autorização para ser publicada no nosso blogue, como aconteceu.

 Palavra puxa palavra, e íamos falando regularmente sobre o seu doutoramento, a sua paixão, temas da cultura Felupe. Doutorou-se, parecia ter a vida num trilho esplendente, e ontem o Eduardo Costa Dias deu-me a infausta notícia da sua partida. 

A Lúcia colaborou no nosso blogue, como hoje se relembra, um texto primoroso, imagens belíssimas de um povo que ela estudou in loco, há para ali imagens de grande significado, e não são só os marcos de fronteira. Levava os estudos africanos muito a sério, numa abrangência de etnologia, etnografia, antropologia, conhecimento histórico (e aqui estudava afincadamente os Djolas, ramo étnico onde avultam os Felupes).

Esta etnia, digo-o cheio de comoção, perdeu uma investigadora de grande mérito, a cultura luso-guineense fica mais pobre. E não voltaremos a ter o colorido das imagens que a Lúcia nos ofereceu, que tristeza. 

Junta-se a sua colaboração em texto e imagens um apontamento radiofónico sobre histórias que ela investigou e deu a conhecer tanto na Guiné-Bissau como em Portugal.

 Curvo-me respeitosamente perante a sua memória.

Ver colaboração no Blogue em:

15 de janeiro de 2020 > Guiné 61/74 - P20560: Antropologia (35): Djobel, uma tabanca vítima das alterações climáticas, por Lúcia Bayan (Mário Beja Santos / Lúcia Bayan)
e
22 de Janeiro de 2020 > Guiné 61/74 - P20584: Antropologia (36): As insígnias de autoridade dos Felupe e Marcos no Chão Felupe, por Lúcia Bayan (Mário Beja Santos / Lúcia Bayan)
Belíssimas fotos do Chão Felupe da autoria de Lúcia Bayan, publicadas no nosso Blogue

Link que contém a sua entrevista sobre a narrativa oral Felupe (Fumaça.pt) :

Foto com a devida vénia

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CV de Lúcia Bayan - Resumo

Doutorada em Estudos Africanos pelo ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa, mestre em Estudos Africanos pelo ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa e licenciada em Estudos Africanos pela Universidade de Lisboa.

- Entre 2011 e 2013 foi bolseira de investigação no Centro de Estudos Africanos do ISCTE-IUL no âmbito do projecto "Sociedades africanas face a dinâmicas globais: turbulências entre intervenções externas, migrações e insegurança alimentar" (PTDC/AFR/104597/2008).

- Entre 2013 e 2017 foi bolseira de Doutoramento FCT em Estudos Africanos (SFRH/BD/88278/2012) no Centro de Estudos Internacionais (CEI-IUL), onde desenvolveu uma tese intitulada Linguagens de poder, cadeias iniciáticas, identidade e coesão na sociedade Felupe (Guiné-Bissau).

- Em 2017, participou no projecto de recolha e edição de música tradicional infantil "I NO BALUR", fazendo pesquisa e recolha de música tradicional infantil na Guiné-Bissau.

- Desde 2009, tem desenvolvido trabalho de terreno continuado na Guiné-Bissau, centrado nas estruturas políticas da sociedade Felupe.

Principais áreas de interesse: as estruturas políticas tradicionais e organização social das sociedades rurais africanas.

Qualificações Académicas:

- ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa - Doutoramento Estudos Africanos - 2023

- ICS - Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa - Curso Livre O Estudo da Política em África: métodos, objectos e temas de investigação - 2017

- ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa - Curso Livre Documentário Etnográfico Interactivo - 2014

- ISCTE - Istituto Universitário de Lisboa - Portugal - Lisboa - Mestrado Estudos Africanos - 2010

- Universidade de Lisboa - Faculdade de Letras - Portugal - Lisboa - Licenciatura Estudos Africanos - 2007

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Nota do editor

Último post da série de 15 de novembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26156: In Memoriam (517): José Manuel Amaral Soares (1945-2024), ex-fur mil sapador MA, CCS/BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70); morava em Caneças, Odivelas

4 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Mário: encontrei aqui uma nota de pesar da ERA Massamá, pelo falecimento há 3 dias da Lúcia Bayan. Só pode ser a mesma pessoa !

https://www.facebook.com/story.php/?story_fbid=1132604668872986&id=100063703890563&_rdr

Ela tinha página no Facebook, parada desde 2020/2021.

https://www.facebook.com/lucia.bayan.3

Trezentos e tak amigos e poucas postagens. Tinha algumas referências ao seu trabalho com os felupes. Deve ter sido aluna do Eduardo Costa Dias. Fez o doutoramento em 2023.

Mas os títulos académicos não enchem barriga... Quem quer empregar uma doutorada em estudos africanos ? E para mais "especializada em felupes" !... E para mais ainda que o "império colonial" já se foi...

Até chegar a Doutor por extenso, o desgraçado do doutorando precisa de penar muito, pagar as propinas, pagar a renda de casa, viagens, trabalho de campo, etc, enfim, essas coisas todas que não caiem do céu...

Náo admira por isso que trabalhasse na ERA Massamá há 2 anos...como comercial...

Obrigado por a teres lembrado no nosso blogue. Luís

Cherno disse...

Caro amigo Luis Graça, "Os títulos académicos não enchem barriga" , uma observação pertinente. Não é para qualquer um, pois é uma escolha e trabalho para pessoas especiais, desinteressadas e, sobretudo, dotadas com capacidades de extrema dedicação e de sacrificio.
Que a sua alma repouse em paz.

Cherno AB

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Nota de pesar, de 28 de novembro de 2024, do CEI / ISCTE-IUL

https://cei.iscte-iul.pt/2024/11/nota-de-pesar/


É com profundo pesar que comunicamos o falecimento de Lúcia Bayan, doutorada em Estudos Africanos pelo Iscte e investigadora colaboradora do CEI-Iscte.

Lúcia Bayan foi bolseira de investigação no Centro de Estudos Africanos do Iscte (atualmente CEI-Iscte), entre 2011 e 2013, no âmbito do projecto “Sociedades africanas face a dinâmicas globais: turbulências entre intervenções externas, migrações e insegurança alimentar” (PTDC/AFR/104597/2008). Entre 2013 e 2017 foi bolseira de Doutoramento FCT em Estudos Africanos (SFRH/BD/88278/2012) no Centro de Estudos Internacionais (CEI-IUL), onde desenvolveu uma tese intitulada Linguagens de poder, cadeias iniciáticas, identidade e coesão na sociedade Felupe (Guiné-Bissau), defendida em 2023. Desde 2009 que desenvolvia trabalho de terreno continuado na Guiné-Bissau, centrado nas estruturas políticas da sociedade Felupe.

O CEI-Iscte manifesta solidariedade aos familiares, amigos e colegas de Lúcia.

As cerimónia fúnebres serão realizadas no dia 29/11, com o Velório a partir das 17h. No dia 30/11, realizam-se as cerimónias religiosas, às 15h com saída da igreja de São Bento de Massamá para o crematório do Rio de Mouro.

Anónimo disse...

Os meus pêsames.
Folgo em ver os nossos Felupes numa era moderna.
Eu que vivi tanto com eles, porque gostava de ver aqueles trajes e roncos.
Virgilio Teixeira