Na foto, o José Martins (ex-furriel miliciano de transmissões), que nessa noite, também ele para dar de beber à dor - como diz a letra do célebre fado de Albert Janes, importalizado pela Amália (1) - despejou uma barrafa de uísque no bucho e dormiu que nem um santo... Bem, depende do número de horas, porque a fazer fé no provérbio popular Quatro horas dorme o santo, cinco o que não é santo, seis o estudante, sete o caminhante, oito o porco e nove o morto... Ora, na Guiné, no nosso tempo de meninos e moços, isto aplicava-se que nem um luva: eramos mais do que santos... excepto no Natal! (LG)
Foto: © José Martins (2006). Direitos reservados.
Foto: © Sousa de Castro (2005). Direitos reservados.
Guiné-Bissau > Cacheu > Barro > 1968 > Feliz Natal... "Este é mais outro aerograma que descobri. Mandei-o, pelo Natal, em 1968. O que eu quis transmitir é que eram natais de morte e que o que procurava era esquecer, dando de beber à dor".
Foto: © A. Marques Lopes (2005). Direitos reservados.
1. Mais uma prov(oc)ação do editor do nosso blogue:
Amigos e camaradas: Não há por aí mais aerogramas, fotos, poemas, contos, estórias, memórias do Feliz Natal, Próspero Ano Novo, Adeus e Até ao Meu Regresso ? Não há por aí notícias das Festas... Quentes e Boas que vivemos (ou desejámos ou fomos obrigados a viver) durante a guerra ?
Tenho espaço aberto para esta cena (como dirão os nossos filhos e netos)… Para já, tenho um texto meu sobre o meu primeiro Natal, de 1969 - emboscado... - e outro do Beja Santos (o presépio de Chicri)…
Aguardo mais qualquer coisinha dos restantes tertulianos, sobretudo dos que são mais preguiçosos a escrever (ou até que acham que não sabem escrever!)…
Vamos fazer um... grande presépio, evocando outros Natais, que tivemos de festejar no tempo e no lugar da guerra...
2. O José Martins foi o primeiro, dos nossos tertulianos, a responder-nos, prontamente:
Caro Luís:
Este anexo estava preparado para enviar a toda a tertúlia, com uma foto do Natal de 1969. Se o quiseres inserir, fica já enviado a toda a gente, não só aos tertulianos, mas a todos os que visitam o blogue.
Depois desta foto, fui dormir uma garrafa inteira de Johnny Walker no bucho. Que grande cadela apanhei...
O Natal anterior foi mais moderado. Tínhamos acabado de fazer a evacuação do corpo de um camarada, morto por doença, e que esteve em câmara ardente, do outro lado da parede do refeitório, até momentos antes do jantar.
Um abraço
José Martins
PS - A foto, que se insere, acima, vem acompanhada de uma nota que diz o seguinte:
Bom Natal
e Melhor 2007
Para todo o mundo e, em especial, para todos os Tertulianos.
Da família Martins:
José & Manuela,
Susana, Tiago, Diogo & Filipa (filhos e nora)
David João (neto)
_____________
Notas de L.G.:
(1) vd. Amália Rodrigues : Dar de beber à dôr. Letra e música: Alberto Janes.
Foi no Domingo passado que passei
À casa onde vivia a Mariquinhas,
mas 'stá tudo tão mudado
que não vi em menhum lado
as tais janelas que tinham tabuínhas.
Do rés-do-chão ao telhado não vi nada, nada, nada
que pudesse recordar-me a Mariquinhas,
e há um vidro pregado e azulado
onde havia as tabuínhas.
(...) P'ra terem feito da casa o que fizeram
melhor fora que a mandassem p'ràs alminhas,
pois ser casa de penhoreso que foi viveiro d'amores
é ideia que não cabe cá nas minhas
recordações do calor e das saudades. O gosto
que eu vou procurar esquecer numas ginginhas,
pois dar de beber à dor é o melhor,
já dizia a Mariquinhas.
Fonte: Projecto Natura > Arquivo de Música Portuguesa
Sem comentários:
Enviar um comentário