Texto e foto: © Carlos Vinhal (2006). Direitos reservados.
O Natal de 1970 da CART 2732
por Carlos Vinhal
Quando se está longe da família, há datas que são lembradas e vividas de modo diferente. As festas da nossa terra, os nossos aniversários e os dos familiares, e os feriados santificados. Como não podia deixar de ser, o Natal é de todos o mais especial pela sua conotação à família. Para quem como eu estava habituado a um Natal num núcleo familiar muito pequeno, este tinha para mim muita expectativa. Que enorme família eu ia ter este ano!
Por sorte, no dia 24 de Dezembro [de 1970] , estava de Sargento de Ronda, pelo que tinha o dia todo por minha conta dentro do aquartelamento e só entraria de serviço à meia-noite. Resolvemos, alguns, ir almoçar a casa do senhor José Leal. A ementa constou de camarão regado com boa cerveja geladinha. Despachados os camarões, encostadas à parede, por trás de nós, já perfilavam umas quantas garrafas vazias. Seguidamente veio veio o prato principal que como era mais corrente se tratava de bom frango pica no chão. Mais umas garrafas de Verde Branco para o regar, boa sobremesa, café e cigarrito para terminar.
Conversa puxa conversa e o Nunes diz que recebeu uns discos novos, dos quais se podiam fazer umas gravações em cassete. Plano traçado, toca a levantar da mesa com destino ao estúdio de gravação, melhor dizendo ao quarto dele.
Só então, de pé, verifiquei que algo não estava bem, porque o chão oscilava e as paredes não estavam na vertical. Eu não conseguia compensar estas oscilações. A deslocação até ao quarto do Nunes fez-se com algum custo e muito cuidado para disfarçar a falta de equilíbrio, tentando ao mesmo tempo acertar com a porta de armas, sabe-se lá porquê, hoje mais estreita do que o costume. Lá se fizeram as gravações de entre as quais não esqueço a Pedra Filosofal, de autoria de António Gedeão e cantada pelo Manuel Freire.
Mal pude fui para a cama a fim de curar a má disposição.
Por volta das 17 horas acordei, levantei-me devagarinho para avaliar a situação e acordei o Dias que ainda dormia na cama ao lado. Houve uma pequena discussão porque alguém havia vomitado junto da cama dele, mas foi pacífico apurar o culpado.
Depois de um bom banho, estava como novo.
Fui dar uma volta pelos Abrigos situados à volta do aquartelamento, para ao mesmo tempo que me inteirava do serviço, aproveitava para desejar uma boa Ceia de Natal aos nosso rapazes. Como Natal é Natal, em cada Posto eu era obsequiado com um cálice, melhor dizendo com um copo, de licor daquele que só os madeirenses sabem fazer e que os meus companheiros de luta tinham recebido pelo correio dias antes, mandados pelos seus familiares.
Acabada a volta pelos abrigos, a luz do sol já incomodava um pouco, vá-se lá saber porquê.
As horas foram passando lentamente e havia que jantar cedo pois nestes dias nunca se sabia se o PAIGC respeitava a data com a mesma religiosidade que nós.
O jantar, como não podia deixar de ser, era bacalhau, batatas e hortaliça. Claro que tinha de ser bem regado, senão até podia cair mal. Uma garrafita de Casal Garcia foi mesmo a matar, lá isso foi. Não arranjei sócio para me ajudar a bebê-la pelo que não tive outro remédio senão aguentar. Nem pinga sobrou.
Quando me levantei da mesa para ir ao balcão tomar o café da ordem, a reacção foi menos má do que a do almoço, já estava a ficar mestre na arte do copos.
Às tantas organizou-se um grupo de boas-festas e lá fomos dar a volta ao aquartelamento, indo de abrigo em abrigo saudar os nossos militares que estavam de serviço. Uns quantos licores ali, outros acolá e os buracos da estrada dificultavam o andar mais do era costume. No escuro da noite ecoavam cânticos (?) de Natal. Bonito de se ouvir.
Chegada a meia-noite era a hora de eu começar as rondas, como se tal fosse necessário nesta noite. Como estávamos todos mais ou menos alegrotes, começaram os meus problemas pois todos os meus camaradas resolveram fazer-me companhia mesmo contra minha vontade. Imagine-se um Unimog dos pequenos, carregado de gente empoleirada de toda a maneira e feitio, terreno irregular e eu à espera que um deles se estatelasse no chão e se magoasse. Pelas três da madrugada, finalmente esgotados, lá se foram deitar e eu fiquei muito mais descansado.
As 6 horas chegaram e eu pude ir descansar também.
Já ia alta a manhã do dia 25 quando acordei. Toca a levantar, tomar duche, vestir farda lavada e caminhar para o refeitório dos praças. Para o convívio ser completo o almoço foi com toda toda a gente à mesma mesa. Não faltou nada neste dia, até houve whisky à descrição para todos. Da ementa já não me recordo, mas retive a alegria verdadeiramente compartilhada e a saudade da família disfarçada com alguns risos e muito álcool.
Só então, de pé, verifiquei que algo não estava bem, porque o chão oscilava e as paredes não estavam na vertical. Eu não conseguia compensar estas oscilações. A deslocação até ao quarto do Nunes fez-se com algum custo e muito cuidado para disfarçar a falta de equilíbrio, tentando ao mesmo tempo acertar com a porta de armas, sabe-se lá porquê, hoje mais estreita do que o costume. Lá se fizeram as gravações de entre as quais não esqueço a Pedra Filosofal, de autoria de António Gedeão e cantada pelo Manuel Freire.
Mal pude fui para a cama a fim de curar a má disposição.
Por volta das 17 horas acordei, levantei-me devagarinho para avaliar a situação e acordei o Dias que ainda dormia na cama ao lado. Houve uma pequena discussão porque alguém havia vomitado junto da cama dele, mas foi pacífico apurar o culpado.
Depois de um bom banho, estava como novo.
Fui dar uma volta pelos Abrigos situados à volta do aquartelamento, para ao mesmo tempo que me inteirava do serviço, aproveitava para desejar uma boa Ceia de Natal aos nosso rapazes. Como Natal é Natal, em cada Posto eu era obsequiado com um cálice, melhor dizendo com um copo, de licor daquele que só os madeirenses sabem fazer e que os meus companheiros de luta tinham recebido pelo correio dias antes, mandados pelos seus familiares.
Acabada a volta pelos abrigos, a luz do sol já incomodava um pouco, vá-se lá saber porquê.
As horas foram passando lentamente e havia que jantar cedo pois nestes dias nunca se sabia se o PAIGC respeitava a data com a mesma religiosidade que nós.
O jantar, como não podia deixar de ser, era bacalhau, batatas e hortaliça. Claro que tinha de ser bem regado, senão até podia cair mal. Uma garrafita de Casal Garcia foi mesmo a matar, lá isso foi. Não arranjei sócio para me ajudar a bebê-la pelo que não tive outro remédio senão aguentar. Nem pinga sobrou.
Quando me levantei da mesa para ir ao balcão tomar o café da ordem, a reacção foi menos má do que a do almoço, já estava a ficar mestre na arte do copos.
Às tantas organizou-se um grupo de boas-festas e lá fomos dar a volta ao aquartelamento, indo de abrigo em abrigo saudar os nossos militares que estavam de serviço. Uns quantos licores ali, outros acolá e os buracos da estrada dificultavam o andar mais do era costume. No escuro da noite ecoavam cânticos (?) de Natal. Bonito de se ouvir.
Chegada a meia-noite era a hora de eu começar as rondas, como se tal fosse necessário nesta noite. Como estávamos todos mais ou menos alegrotes, começaram os meus problemas pois todos os meus camaradas resolveram fazer-me companhia mesmo contra minha vontade. Imagine-se um Unimog dos pequenos, carregado de gente empoleirada de toda a maneira e feitio, terreno irregular e eu à espera que um deles se estatelasse no chão e se magoasse. Pelas três da madrugada, finalmente esgotados, lá se foram deitar e eu fiquei muito mais descansado.
As 6 horas chegaram e eu pude ir descansar também.
Já ia alta a manhã do dia 25 quando acordei. Toca a levantar, tomar duche, vestir farda lavada e caminhar para o refeitório dos praças. Para o convívio ser completo o almoço foi com toda toda a gente à mesma mesa. Não faltou nada neste dia, até houve whisky à descrição para todos. Da ementa já não me recordo, mas retive a alegria verdadeiramente compartilhada e a saudade da família disfarçada com alguns risos e muito álcool.
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