domingo, 13 de abril de 2008

Guiné 63/74 - P2756: Dia 14 de Abril de 1965, Domingo de Páscoa em Farim (Valentim Oliveira)

Mensagem do Valentim Oliveira, Soldado Condutor da CCav 489/BCav 490:

Caro amigo Virgínio


Hoje, dia 13 de Abril, e amanhã, dia 14, se a memória não me falha, vai fazer 43 anos que foi Domingo de Páscoa do ano 1965.

Foi um Domingo cheio de sol e também de rancho melhorado. Tenho a lembrança firme de que foi batata frita com BIFES EM LETRA GRANDE. Porque era muito raro aparecer uma coisa destas.
Estava nesta época em Farim, precisamente no local que servia de base à CCav 487 onde me instalei num canto da caserna juntamente com os meus colegas, Horácio, condutor 777, e o 783, o Pacheco.

Tudo correu na normalidade durante o dia. Claro que á noite não houve distribuição de rancho, mas como no rancho do meio-dia tudo foi avantajado, todos levaram um pouco mais para á noite continuar a festa. E a festa continuou.

Só de uma maneira diferente daquela que esperávamos. Precisamente já com o sol escondido a algumas horas, estávamos nós a saborear o resto dos bifes, quando fomos sobressaltados com explosões de granadas de morteiro 82, que neste caso o IN estava mais avançado, porque nós só tínhamos o 81.

O IN estava na outra margem do rio Cacheu. Felizmente as granadas começaram a cair uns 50 m à frente da caserna, mas houve duas que com a apontaria afinada rebentaram, uma em cima do posto de socorros e outra precisamente no canto esquerdo onde eu me encontrava, junto dos meus colegas Horácio e Pacheco.

Claro, todas as telhas a caírem e um grande estilhaço a passar entre nós e a fazer um grande furo numa mala que se encontrava encostada à parede. A que caiu no posto de socorros feriu um Furriel que agora não me lembra o nome e foi evacuado no outro dia para Bissau.

Responderam ao ataque o pelotão de morteiros que estava sediado a alguns 100m da margem do rio, juntamente com uma fragata de guerra estacionada no mesmo local.



Farim, edifício do comando do BCaç 2879 e anteriormente, entre outros, do BArt 733 e do BCav 490.
Fotos: © Carlos Silva (2008). Direitos reservados.

Antes da reacção das nossas tropas diversos locais foram atingidos, um deles o local onde estava instalado o comando do Comandante Ten Cor Fernando Cavaleiro. Valeu-lhe uma grande mangueira, que estava na frente do edifício onde rebentaram as granadas.
Esta é uma das passagens tristes que vivi na Guiné, mas muitas outras tenho para escrever.

Também quero dizer ao nosso amigo e camarada Teixeira, que a parte romanesca como ele terminou com a Fanta Baldé é de louvar, porque só pessoas com civismo e respeito pelos Valores Humanos, assim o fazem. UM ABRAÇO, TEIXEIRA!

Virgínio, já me pronunciei, que não estive em Cuntima, mas passei por diversos lugares da região de Farim.

Eu era soldado condutor 784/63 da CCav 489/BCav 490 e passei para a CCS, para condutor do Oficial de transmissões, Alferes Pires. Se alguém souber o contacto deste camarada, agradecia que mo dessem.

Um abraço para o comandante Luís, para ti e para o Vinhal e todos os que fazem parte da TABANCA GRANDE.

Até breve,

Valentim Oliveira

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Nota de vb: artigo relacionado em
10 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2745: Tabanca Grande (61): Apresenta-se o Valentim Oliveira da CCAV 489 / BCAV 490 (1963/65)

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