sábado, 19 de abril de 2008

Guiné 63/74 - P2777: Blogoterapia (49): Literatura da Guerra Colonial (Augusto Dias)

A vã glória de se ter sido grande

Augusto Dias
Ex-Fur. Mil. Enfermeiro

Há dias vi um programa na TV sobre a guerra "colonial", que procurava perceber a causa da actual proliferação de tanta literatura sobre o assunto.
A guerra "colonial" com todas as outras guerras maiores ou menores, mundiais ou regionais, não passam do único processo que o homem tem de resolver os seus diferendos.


Guiné, bolanhas, riachos, água, paisagens africanas de fazer os olhos felizes nos intervalos das batalhas de uma das mais cruentas Guerras da história de África.

Selvagem, que a evolução ainda não conseguiu sublimar os instintos predatórios primários, o homem encara e sempre encarou, a guerra como uma das suas principais atribuições, no seu mundo dito "civilizado". Tal acontece, por desprezar a existência do seu semelhante, que elimina, sem pestanejar, sempre que acha necessário.
Este acto de eliminação não é incriminado por nenhum código penal, pois o fazer a guerra, é ter autorização para matar impunemente e, não me venham com essa treta das regras da guerra, nela vale tudo de acordo com as necessidades.


Ainda o combate decorria, o corpo ainda quente a ser coberto pelos Camaradas.
"Op Ostra Amarga" (*). Imagem obtida momentos após a emboscada que custou dois mortos à CCAV 2487 e extraída do filme da reportagem efectuada por um grupo de jornalistas franceses ao território da Guiné. Em I.N.A., com a devida vénia.
Protegida pelo "código de honra da guerra", a barbárie indiscriminada é de todas as bandeiras e, a perversidade aceite como táctica. Numa guerra nunca há um lado bom ou um lado mau, só há um lado sem qualquer qualificação, onde sem nó nem piedade se soltam os cavaleiros do Apocalipse. Maldita condição humana: A GUERRA.

De tudo o que ouvi, das causas da presente literatura dedicada ao conflito africano, chamemos as coisas pelo seu nome, nada de alcunhas de circunstância, não me ficaram mais do que subjectivas interpretações, produto da factualidade da vivência, por isso limitada, destes novos salvadores da honra nacional.

A literatura não abundou anteriormente, por que nós por cá, interpretámos a guerra africana, não como um conflito para onde as forças das circunstâncias nos tinham atirado, mas de como, algumas "mentes brilhantes", complexadas e comprometidas, defendiam, um acto criminoso, efectuado por criminosos, a mando de criminosos.


Como é que uma pessoa, cuja acção é considerada criminosa, pode falar dela? Como é que uma pessoa, por contar uma história de sangue, suor e lágrimas, a sua própria história, é considerada criminosa?
Hoje, com o declínio dos opinion-makers da desgraça, que só viam na guerra africana, nada mais do que um chorrilho de massacres praticados pelos intervenientes portugueses, as pessoas começam a contar as suas vivências e com elas formar a história dessa guerra, não abjecta como muitos nos querem fazer crer, mas de uma inevitabilidade factual, que levou milhares e milhares de jovens, abnegadamente, a defender a Pátria.

Relembrar os que voltaram e nunca esquecer os que lá ficaram, é mais que uma obrigação, é um dever.

Falar mal da nossa gesta africana é pôr toda a nossa história em causa. O D. Afonso Henriques, que recusou ser vassalo e foi matador de mouros, os nossos grandes navegadores, desde o Bojador até à Índia dos marajás, os que aportaram à Taprobana, Calecut e a malta do Malabar, os intrépidos da China dos mandarins e do Japão dos samurais, os almirantes do Índico, os mercadores das especiarias, os que nos apresentaram ao Mundo, os que se afogaram, os que foram mortos pela espada, os que apodreceram com escorbuto, os que mirraram nas prisões, os que ninguém conheceu e não fala deles, os que naqueles tempos, defenderam os de hoje, quem sabe até, se na fúria doentia de tudo querer deitar borda fora, queiram considerar o Condestável um general criminoso, por ter feito o castelhano cair na armadilha e depois foi um matar que fartou. Eu, só choro Alcácer Quibir e agradeço a Camões, por mim e pela Pátria.

Nós não passamos daquilo que somos, uns mesquinhos que, para ganhar notoriedade, passamos a vida a dizer mal de nós próprios.

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Fixação e adaptação do texto da responsabilidade de vb. Artigos relacionados em

(*) 15 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2351: Vídeos da Guerra (6): Uma Huître Amère para a jornalista francesa Geneviève Chauvel (Virgínio Briote / Luís Graça) e

9 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1510: Os heróis do Chão Manjaco e o Alferes Giesteira (Paulo Raposo)

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