Mensagem de 17 de Setembro de 2008, do nosso camarada Nuno Almeida, ex-1.º Cabo MMA de Heli, BA12, 1972/73 (1).
Olá Camaradas
Junto envio foto actual para completar os vossos arquivos.
Apesar de pouco contribuir com a minha verbe, sou um visitante assíduo do blogue e sempre atento ao que cá se escreve, por isso ao ler a nota do Beja Santos, Guiné 63/74 - P3132: Notas de leitura (10): A minha Jornada em África (Beja Santos), fiquei imediatamente interessado no livro "A Minha Jornada em África" de António Ramalho da Silva Reis e publicado pela Editora Ausência.
Porque estive dois meses internado no HM241 de Bissau, entre 25 de Novembro de 1972 e 25 de Janeiro de 1973, onde fui operado 4 vezes em 25 dias, tenho uma enorme dívida de gratidão por todos quantos ali prestavam serviço, é, para mim, fundamental ter acesso a este relato da vivência de quem do outro lado da barricada (doente/enfermeiro) via a situação daqueles que dependiam das suas capacidades para sobreviverem aos ferimentos sofridos.
Sobre o que o Beja Santos diz sobre o Tenente Lobato, é sintomático de como os heróis da Guerra, que fomos obrigados a combater, são esquecidos pela História e remetidos a uma insignificância, para que não se dimensione o que foi, na realidade, a juventude de toda uma geração.
Guiné-Conacri > Conacri > Instalações do PAIGC > 1970 > Prisioneiros portugueses, fotografados pelo fotógrafo húngaro Bara István (nascido em 1942).
Fonte / Source: Foto Bara > Fotogaleria (com a devida vénia / with our best wishes...)
O Tenente Lobato foi um mártir, durante muitos anos prisioneiro, sem saber se regressaria ao seio dos seus, torturado fisica e psicologicamente, nunca uma Lei foi promulgada onde verdadeiramente se desse o valor a essa condição de prisioneiro e se compensasse, devida e correctamente, os anos de ausência e sofrimento que ele e muitos outros como ele sofreram.
Foto do Tenente Lobato quando, no passado dia 31 de Maio de 2008, os Especialistas da Força Aérea, que serviram na Guiné, o homenagearam com o respeito que ele nos merece. Junto e ladeando-o estão o Victor Barata e o Carlos Wilson, organizadores deste evento.
Neste almoço de confraternização foram igualmente homenageados o Ten Pil Av Pessoa e a sua esposa Enfermeira Pára-quedista Giselda, ele abatido em 1973 por um míssil e ela representando todas as Enfermeiras Pára-quedistas que tantas vidas salvaram com a sua coragem e prontidão na recuperação de feridos em zonas de combate.
Foto da evacuação do Ten Pessoa, assistido pela enfermeira na altura e actual esposa, a nossa muito querida camarada da armas Giselda.
Capa do livro Liberdade ou Evasão; Autor: António Lobato; Colecção: Memória do Tempo; Editor: Rui Rodrigues; Editora: Erasmos. © ERASMOS e António Lobato.
Neste livro, António Lobato conta o seu percurso na FAP desde a incorporação em Setembro de 1957, até ao dia 22 de Novembro de 1970, dia em que finalmente libertado, após sete anos e meio de cativeiro. Pelo meio ficam três tentativas de fuga frustradas. Por se tratar do militar português que mais tempo esteve prisioneiro do IN, pela forma como sobreviveu às condições mais adversas a que o ser humano pode ser submetido e porque nunca traíu a Pátria nem os camaradas que no terreno continuavam a lutar, António Lobato é digno da nossa admiração, estima e reconhecimento. CV
Foto e legenda de Carlos Vinhal
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Nota de CV:
(1) - Vd. poste de 10 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1941: Estórias (nem sempre) vistas do ar (Nuno Almeida, ex-1º Cabo Mecânico de Heli, FAP)
Embarquei para a Guiné (BA12 - Bissalanca) em 27-01-1972 e fui ferido na mata de Choquemone - Bula , ao proceder a uma evacuação de dois feridos, debaixo de intenso fogo de metralhadoras e morteiros, em 25-11-1972.
Fui evacuado para o Hospital Militar de Bissau, onde fui sujeito a 5 intervenções cirúrgicas, no espaço de 25 dias, e evacuado para Lisboa em 27-01-1973 (para vir morrer ao pé da família!!!).
1 comentário:
Na fotografia dos prisioneiros, o primeiro da fila da frente com a mão no bolso, é o Fur Mil Vaz do Pel Caç Nat 52, que também esteve envolvido numa tentativa de fuga.
Henrique Matos
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