Votos da Tertúlia para o Ano de 2010
1. Mensagem de Luís Borrega
Boa noite
Vou enviar novamente as Boas Festas pois enviei para o email do Carlos Vinhal e não sei se foi recepcionada.
Portanto para todos, Alahj Luis Graça, Chernos Carlos Vinhal, Virginio Briote e Magalhães Ribeiro e para todos os Homens Grandes da nossa Tabanca Grande o desejo que o novo ano 2010 vos traga manga di saúde e manga di patacão são os meus votos sinceros.
Mantanhas
Luís Borrega
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2. Mensagem de António Paiva
Caros camaradas
Assim me vou embora
Um pouco esfarrapado,
Espero levar a crise comigo,
Para o povo ficar descansado.
BOM FIM DE ANO PARA TODOS
QUE 2010 TRAGA MAIS FELICIDADE.
Um abraço
António Paiva
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3. Mensagem de Afonso Sousa e Sousa de Castro
O nosso caminho é feito
pelos nossos próprios passos...
Mas a beleza da caminhada...
depende dos que vão connosco !
Para estes meus amigos, desejo um próspero ano de 2010, sobretudo
com saúde e com a concretização das aspirações de cada um.
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4. Mensagem de Manuel Amaro
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5. Mensagem de Mário Gualter Rodrigues Pinto
Para amigos e camaradas vão os meus votos de ANO NOVO
BOM ANO PARA TODOS
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6. Mensagem de Torcato Mendonça
CAMARADA AMIGO
BOM E FELIZ ANO NOVO COM SAÚDE E JUNTO DE QUEM AMAS PARA CONCRETIZAÇÃO DE TEUS SONHOS.
Através de ti abraço o Luís Graça, Virginio Briote Magalhães Ribeiro e TODOS mas Todos os e as Camaradas desta Tertúlia enorme
Abração do Torcato
__________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 31 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5571: Votos de Feliz Natal 2009 e Bom Novo Ano 2010 (27): O Pai Natal das minhas netas encheu-me o sapatinho (José da Câmara)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
quinta-feira, 31 de dezembro de 2009
Guiné 63/74 - P5575: O meu Natal no mato (31): A minha mensagem de 1968 na RTP: Um 69 em grande para os meus amigos (Jorge Félix)
1. Texto do Jorge Félix, também publicado no blogue Especialistas da Base Aérea 12, Guiné 65/74.
Aproveito para saudar, na pessoa do Victor Barata, seu fundador e editor, e nosso tertuliano de longa data, todos os camaradas da FAP que estiveram na Guiné, durante a guerra colonial, e que passaram por Bissalanca...
Para o Jorge Félix, o Victor Barata e os demais bissalanquenses, membros ou não do nosso blogue, vão as nossas melhores saudações bloguísticas, com uma menção especial ao Jorge Caiano que teve a gentileza de me telefonar do Canadá, nas vésperas de Natal... E já que estamos em maré de amores & humores, que o 2010 não seja um annus horribilis para nenhum de nós... É uma mensagem defensiva e conservadora, mas é que se pode arranjar... (LG)
A minha mensagem de 1968 na RTP: Um 69 em grande para os meus amigos
As mensagens de Natal eram um momento de TV muito visto nos anos da guerra do Ultramar. Centenas de militares enviaram a sua. Uns a desejarem "muitas propriedades" e outros a rematarem com o "nós por cá, todos bem"...
Eu também falei na RTP. Vou contar...
Naquele tempo, 1968, os Canibais residentes não estavam interessados em aparecer na televisão. Não havia voluntários, logo, foram os mais periquitos que tiveram que representar a classe de Pilotos da Esquadra. Por tal motivo tive que ser eu e recordo-me que também gravou mensagem o Sargento Piloto Marta. Eu por ser o mais novo, ele porque iria partir em breve.
Não estava nada interessado em falar e arranjei uma maneira de ser censurado.Então que fiz eu? Debitei uma laracha que não fosse transmitida e disse o seguinte:
" Um beijo para os meus pais e um sessenta e nove em grande para os meus amigos".
O Operador, Serra Fernandes, homem que vim a encontrar passados anos na RTP, disse logo:
Há dias a falar com o nosso Amigo, Belarmino Gonçalves, alferes Piloto em Bissalanca nos mesmos anos que eu, recordou-me esta história, quando lhe desejei um Bom Natal ele atirou o "um 69 em grande para os meus amigos".
Votos de um Bom Ano Novo a todos os que terteluem nesta excelsa página da Guiné-Bissau.
Abraço
Jorge Félix
_______________
Nota de L.G.:
(*) Vd. último poste desta série > 30 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5565: O meu Natal no mato (30): Também lá estive... (Carlos Pinheiro, 1º Cabo Op Msgs, STM/QG Bissau, 1968/70)
Para o Jorge Félix, o Victor Barata e os demais bissalanquenses, membros ou não do nosso blogue, vão as nossas melhores saudações bloguísticas, com uma menção especial ao Jorge Caiano que teve a gentileza de me telefonar do Canadá, nas vésperas de Natal... E já que estamos em maré de amores & humores, que o 2010 não seja um annus horribilis para nenhum de nós... É uma mensagem defensiva e conservadora, mas é que se pode arranjar... (LG)
A minha mensagem de 1968 na RTP: Um 69 em grande para os meus amigos
As mensagens de Natal eram um momento de TV muito visto nos anos da guerra do Ultramar. Centenas de militares enviaram a sua. Uns a desejarem "muitas propriedades" e outros a rematarem com o "nós por cá, todos bem"...
Eu também falei na RTP. Vou contar...
Naquele tempo, 1968, os Canibais residentes não estavam interessados em aparecer na televisão. Não havia voluntários, logo, foram os mais periquitos que tiveram que representar a classe de Pilotos da Esquadra. Por tal motivo tive que ser eu e recordo-me que também gravou mensagem o Sargento Piloto Marta. Eu por ser o mais novo, ele porque iria partir em breve.
Não estava nada interessado em falar e arranjei uma maneira de ser censurado.Então que fiz eu? Debitei uma laracha que não fosse transmitida e disse o seguinte:
" Um beijo para os meus pais e um sessenta e nove em grande para os meus amigos".
O Operador, Serra Fernandes, homem que vim a encontrar passados anos na RTP, disse logo:
- Tem que dizer outra mensagem que isso não vai para o ar.
E eu respondi:
- Ou vai isto ou não vai nada.
Sempre fiquei com a ideia que não iria passar nos ecrãs da TV mas a verdade é que passou. Na altura, 1969, contaram-me alguns amigos que foi uma barraca muito comentada.
Há dias a falar com o nosso Amigo, Belarmino Gonçalves, alferes Piloto em Bissalanca nos mesmos anos que eu, recordou-me esta história, quando lhe desejei um Bom Natal ele atirou o "um 69 em grande para os meus amigos".
Votos de um Bom Ano Novo a todos os que terteluem nesta excelsa página da Guiné-Bissau.
Abraço
Jorge Félix
_______________
Nota de L.G.:
(*) Vd. último poste desta série > 30 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5565: O meu Natal no mato (30): Também lá estive... (Carlos Pinheiro, 1º Cabo Op Msgs, STM/QG Bissau, 1968/70)
Guiné 63/74 - P5574: Gavetas da memória (Carlos Geraldes) (14): O menino que gostava de saber palavras novas
1. Mensagem de Carlos Geraldes (ex-Alf Mil da CART 676, Pirada, Bajocunda e Paúnca, 1964/66), com data de 28 de Dezembro de 2009:
Caro amigo:
Esperando que estejas a passar esta Quadra com a melhor das disposições juntamente com os teus familiares e amigos e, desejando óptimas perspectivas para o ano de 2010, aqui envio mais uma pequena crónica para fechar este ano de 2009.
Um grande abraço do
Carlos Geraldes
GAVETAS DA MEMÓRIA (14)
O menino que gostava de saber palavras novas
Em Pirada, logo após os primeiros dias da nossa chegada, apareceu a rondar a casa onde se alojaram alguns oficiais e sargentos, um rapaz com um ar meio ingénuo e meio atrevido a querer meter conversa numa linguagem atrapalhada, mistura de crioulo, fula e português. Sempre com um sorriso enorme, ria-se quando nós nos ríamos dos seus disparates e pontapés na gramática, olhando-nos atentamente quando não entendia tudo o que se lhe dizia. Durante o dia via-se a vadiar por ali, não ia à escola e não parecia ter qualquer ocupação.
Habituados a desconfiar de tudo e de todos, mergulhados naquele ambiente inteiramente novo, embora não directamente hostil, suspeitámos que algo de esquisito haveria ali escondido por detrás daquele sorriso resplandecente. Por isso não lhe demos muita confiança e chegámos até a escorraçá-lo à bruta. Mas ele regressava sempre como um cachorro vadio, de rabo entre as pernas, tentando conquistar as simpatias do Nine o nosso impedido que tinha também um coração grande de menino a quem tinham roubado a infância.
Quase sem darmos por isso, já ele andava a carregar lenha, a trazer os sacos de pão acabadinho de fazer no forno do M. Soares, ajudando o Nine a preparar o pequeno-almoço, varrendo o jardim das traseiras, tagarelando sempre em alegre camaradagem com o nosso impedido. De uma algaraviada que quase não se entendia nada, passámos a pouco e pouco a reparar que ele fazia nítidos progressos na fala e já se fazia entender quase na perfeição.
Em menos de um mês o Adérito, assim era o nome dele, dominava menos mal o português, à mistura é claro com alguns termos de crioulo que nós também já sabíamos utilizar. E estava sempre disposto a ajudar em qualquer coisa.
Quando aprendia uma palavra nova vinha radiante repeti-la para que nós lhe disséssemos se a estava a pronunciar bem.
- Alfero, olha hoje sabe palavra nova, “inauguraçom”!
- Inauguração, palerma!
E sempre a rir, lá ia ele tentando corrigir a pronúncia: - “ão, ão, inau…gura…ção.
- Alfero, qué que é um “opiniom?”
– Opinião, Adérito, opinião! Quer dizer o que tu pensas de uma coisa qualquer, o que pensas de mim, por exemplo.
- Alfero, “opiniom” tem “manga de ronco” - rematava logo ele radiante por ficar a saber mais uma palavra e a saber aplicá-la.
- E compro... vati... vu? - voltava ele, suando com o esforço de se fazer entender.
- O quê? Que queres tu agora?
- Comprovativo, nosso alfero?!... suplicava a medo.
E a pouco e pouco ia juntando, como a galinha, que vai catando o milho grão a grão, as palavras novas que escutava nas conversas dos soldados na caserna, dos sargentos na tasca do velho Palha. Depois ias repeti-las na tabanca perante uma assistência de outros miúdos que o miravam incrédulos da sua nova sapiência.
Mas o Adérito via mais longe, via para lá do horizonte da bolanha, para lá do chão que o vira nascer. Como seria lá em Bissau? Era uma pergunta, uma curiosidade que lhe minava o pensamento. Os diabos dos soldados brancos vieram tumultuar a sua alma simples. Suspirava romper mundo fora, talvez nos camiões da tropa, quem sabe? E a melhor das armas que se deveria levar era o saber fazer-se entender, disso não lhe restava a menor dúvida. Os brancos não tinham tudo? Pois tinha que saber falar como eles! Os outros que ficassem para ali sempre na mesma vidinha de sempre. Talvez à espera de serem mortos numa guerra que nunca tinham pedido. Ele tinha que fugir dali para fora!
(Na noite do primeiro ataque ao quartel, Adérito, quando corria a refugiar-se junto dos soldados brancos foi ceifado, por uma rajada de metralhadora disparada não se sabe donde, nem por quem. Renasceu hoje no fundo de uma das gavetas da memória, como um rosto radiante no meio de tantos outros que teimam em não se confundirem com a poeira vermelha da picada levantada pela desengonçada GMC que aos solavancos trouxe de volta os soldados brancos.)
Os meninos de Pirada na sala de aulas
Foto: © Carlos Geraldes (2009). Direitos reservados
Viana, 28 Dezembro de 2009
carlos.geraldes@live.com.pt
__________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 1 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5385: Gavetas da memória (Carlos Geraldes) (13): O primeiro ataque a Pirada e a morte do Gila
Caro amigo:
Esperando que estejas a passar esta Quadra com a melhor das disposições juntamente com os teus familiares e amigos e, desejando óptimas perspectivas para o ano de 2010, aqui envio mais uma pequena crónica para fechar este ano de 2009.
Um grande abraço do
Carlos Geraldes
GAVETAS DA MEMÓRIA (14)
O menino que gostava de saber palavras novas
Em Pirada, logo após os primeiros dias da nossa chegada, apareceu a rondar a casa onde se alojaram alguns oficiais e sargentos, um rapaz com um ar meio ingénuo e meio atrevido a querer meter conversa numa linguagem atrapalhada, mistura de crioulo, fula e português. Sempre com um sorriso enorme, ria-se quando nós nos ríamos dos seus disparates e pontapés na gramática, olhando-nos atentamente quando não entendia tudo o que se lhe dizia. Durante o dia via-se a vadiar por ali, não ia à escola e não parecia ter qualquer ocupação.
Habituados a desconfiar de tudo e de todos, mergulhados naquele ambiente inteiramente novo, embora não directamente hostil, suspeitámos que algo de esquisito haveria ali escondido por detrás daquele sorriso resplandecente. Por isso não lhe demos muita confiança e chegámos até a escorraçá-lo à bruta. Mas ele regressava sempre como um cachorro vadio, de rabo entre as pernas, tentando conquistar as simpatias do Nine o nosso impedido que tinha também um coração grande de menino a quem tinham roubado a infância.
Quase sem darmos por isso, já ele andava a carregar lenha, a trazer os sacos de pão acabadinho de fazer no forno do M. Soares, ajudando o Nine a preparar o pequeno-almoço, varrendo o jardim das traseiras, tagarelando sempre em alegre camaradagem com o nosso impedido. De uma algaraviada que quase não se entendia nada, passámos a pouco e pouco a reparar que ele fazia nítidos progressos na fala e já se fazia entender quase na perfeição.
Em menos de um mês o Adérito, assim era o nome dele, dominava menos mal o português, à mistura é claro com alguns termos de crioulo que nós também já sabíamos utilizar. E estava sempre disposto a ajudar em qualquer coisa.
Quando aprendia uma palavra nova vinha radiante repeti-la para que nós lhe disséssemos se a estava a pronunciar bem.
- Alfero, olha hoje sabe palavra nova, “inauguraçom”!
- Inauguração, palerma!
E sempre a rir, lá ia ele tentando corrigir a pronúncia: - “ão, ão, inau…gura…ção.
- Alfero, qué que é um “opiniom?”
– Opinião, Adérito, opinião! Quer dizer o que tu pensas de uma coisa qualquer, o que pensas de mim, por exemplo.
- Alfero, “opiniom” tem “manga de ronco” - rematava logo ele radiante por ficar a saber mais uma palavra e a saber aplicá-la.
- E compro... vati... vu? - voltava ele, suando com o esforço de se fazer entender.
- O quê? Que queres tu agora?
- Comprovativo, nosso alfero?!... suplicava a medo.
E a pouco e pouco ia juntando, como a galinha, que vai catando o milho grão a grão, as palavras novas que escutava nas conversas dos soldados na caserna, dos sargentos na tasca do velho Palha. Depois ias repeti-las na tabanca perante uma assistência de outros miúdos que o miravam incrédulos da sua nova sapiência.
Mas o Adérito via mais longe, via para lá do horizonte da bolanha, para lá do chão que o vira nascer. Como seria lá em Bissau? Era uma pergunta, uma curiosidade que lhe minava o pensamento. Os diabos dos soldados brancos vieram tumultuar a sua alma simples. Suspirava romper mundo fora, talvez nos camiões da tropa, quem sabe? E a melhor das armas que se deveria levar era o saber fazer-se entender, disso não lhe restava a menor dúvida. Os brancos não tinham tudo? Pois tinha que saber falar como eles! Os outros que ficassem para ali sempre na mesma vidinha de sempre. Talvez à espera de serem mortos numa guerra que nunca tinham pedido. Ele tinha que fugir dali para fora!
(Na noite do primeiro ataque ao quartel, Adérito, quando corria a refugiar-se junto dos soldados brancos foi ceifado, por uma rajada de metralhadora disparada não se sabe donde, nem por quem. Renasceu hoje no fundo de uma das gavetas da memória, como um rosto radiante no meio de tantos outros que teimam em não se confundirem com a poeira vermelha da picada levantada pela desengonçada GMC que aos solavancos trouxe de volta os soldados brancos.)
Os meninos de Pirada na sala de aulas
Foto: © Carlos Geraldes (2009). Direitos reservados
Viana, 28 Dezembro de 2009
carlos.geraldes@live.com.pt
__________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 1 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5385: Gavetas da memória (Carlos Geraldes) (13): O primeiro ataque a Pirada e a morte do Gila
Guiné 63/74 - P5573: Contraponto (Alberto Branquinho) (4): Desenraizado
1. Mensagem de Alberto Branquinho (ex-Alf Mil de Op Esp da CART 1689 (Fá, Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), com data de 27 de Dezembro de 2009:
Como o Natal já passou, abaixo transcrevo uma coisa escrita em 1971/1972 a propósito disso mesmo, enviando, ao mesmo tempo, votos de muitos e bons anos, incluindo o de 2010.
Vai junto, também, um abraço para todos, tanto para os que lerem como para os que venham a não ler e, se tiverem lido, tanto para os que gostem como para os que detestem.
CONTRAPONTO (4)
Desenraizado
No chão
à porta da casa onde foi senhor
está um pinheiro-de-Natal anão
restam-lhe uns flocos de algodão
(fingimento de neve)
e muita dor.
Já não tem luzes, brinquedos,
fios prateados e dourados…
Conheceu intimidades, enredos,
fingimento, adulação, calor.
Agora não pode voltar ao lar
E, nem mesmo, ao seu pinhal
Só porque já passou o Natal.
(IN: “Pré/Texto” – 1973)
------------------
P.S. – Porque Natal é nascimento, o nascimento do Cristo-bébé, o tal que veio a provocar uma revolução social com as suas ideias, qual é a razão pela qual vemos durante o Natal quase só Árvores assim ditas e o dito Pai-Natal?
Alberto Branquinho
__________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 11 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5445: Contraponto (Alberto Branquinho) (3): Fugas... na hora da morte
Como o Natal já passou, abaixo transcrevo uma coisa escrita em 1971/1972 a propósito disso mesmo, enviando, ao mesmo tempo, votos de muitos e bons anos, incluindo o de 2010.
Vai junto, também, um abraço para todos, tanto para os que lerem como para os que venham a não ler e, se tiverem lido, tanto para os que gostem como para os que detestem.
CONTRAPONTO (4)
Desenraizado
No chão
à porta da casa onde foi senhor
está um pinheiro-de-Natal anão
restam-lhe uns flocos de algodão
(fingimento de neve)
e muita dor.
Já não tem luzes, brinquedos,
fios prateados e dourados…
Conheceu intimidades, enredos,
fingimento, adulação, calor.
Agora não pode voltar ao lar
E, nem mesmo, ao seu pinhal
Só porque já passou o Natal.
(IN: “Pré/Texto” – 1973)
------------------
P.S. – Porque Natal é nascimento, o nascimento do Cristo-bébé, o tal que veio a provocar uma revolução social com as suas ideias, qual é a razão pela qual vemos durante o Natal quase só Árvores assim ditas e o dito Pai-Natal?
Alberto Branquinho
__________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 11 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5445: Contraponto (Alberto Branquinho) (3): Fugas... na hora da morte
Guiné 63/74 - P5572: Pensamento do dia (17): A guerra colonial e o sentido da História (José Brás)
1. Mensagem de José Brás* (ex-Fur Mil da CCAÇ 1622, Aldeia Formosa e Mejo, 1966/68), com data de 31 de Dezembro de 2009:
Carlos
Chegou-me agora mesmo à cabeça este texto que te envio para dele fazeres o que quiseres.
Um forte abraço para ti e para toda a camaradagem
José Brás
A Guerra colonial e o sentido da História
Por aquilo que digo correntemente sobre o tema que se abriga por debaixo do título, alguém, senão mesmo a maioria dos que me lêem, pode muito bem e unilateralmente, montado apenas nas palavras e nas ideias incompletas que esta forma de comunicar comporta, concluir que está perante um desses pseudo-intelectuais cheio de conceitos mal-fabricados por aí em tertúlias esquerdistas, recusando tudo quanto cheire a passado e a feitos deste grupo a que chamam povo desde Afonso Henriques, ou, de acordo com a história oficial, antes ainda, em Viriato e seus pastores, pelo menos.
E também poderá imaginar-se que desdenho o próprio acto de guerra suportado pelos militares portugueses, as acções no terreno, a luta que, sem assento na cadeira do poder, tiveram que assumir contra um inimigo que havia de derrotar, quer dizer, de eliminar.
A vida é o que é, e não o que gostaríamos que fosse, e sendo o que é, temos que agir como é… e não como se fosse o que gostaríamos que fosse, senão nunca virá a ser o que queremos que seja, mas outra coisa, provavelmente pior do que a da nossa esperança.
É minha convicção que Portugal raramente teve os líderes que este povo merecia e que, mesmo os heróis a que nos habituámos, reconquistadores do território, sendo gente brava no combate a Mouros e Leoneses, eram, de facto, fracos líderes políticos, mais gostando de comezainas e bebedeiras e torneios do que de aproveitar o conhecimento que nos deixaram os derrotados Árabes..
Dizem mesmo que a fundação da nacionalidade se deve mais a disputas entre a Igreja de Braga e de Santiago de Compostela e que não fora isso, teríamos continuado espanhóis até hoje, sem razões, portanto, para refilar sobre Olivenza.
Acredito que, como tudo na vida, também a igreja é e tem sido ao longo dos tempos, uma entidade dual, plena de bem e de mal, uma zona clara e brilhante que ajudou o homem no seu sonho de belo, e outra escura, repressora, mutiladora desse sonho.
Infelizmente, em Portugal, o tempo e a acção do poder desta última metade, é incomensurável e tragicamente maior do que os da outra.
Sempre que tivemos chefes brilhantes este povo elevou a sua verdadeira estatura, como no caso de 1383, no caso da chamada Escola de Sagres, nos vultos humanos como Gil Vicente, António Vieira, Damião de Góis, Pedro Nunes, Camões e tantos outros não nomeados mas tão importantes como estes, porque ninguém constrói “Tebas a das sete portas, sozinho”.
E mesmo na aventura que era partir daqui para o desconhecido, cheios de terror feudal, a cabeça plena de imagens de fábula, de monstros e dragões.
E a própria guerra que teve de fazer-se para ocupar as terras achadas, o sacrifício e heroicidade de tal gente que, sabendo disso ou não, deram um dos maiores contributos alguma vez dados, para que o mundo “pulasse e avançasse”.
O mal foi que o pensamento feudal e uma certa ideia de deus nos afastaram sempre do seu caminho.
Fomos colonialistas escassos porque sempre analfabetos, agarrados a passados pelo seu lado mais negativo, afastados do progresso e da ideia de mudança.
Mesmo temendo cair em cliché, diria que fomos em África apenas mais uns pretos, de tez menos carregada. Casámos com negras, vivemos nas matas, abrimos lojecas nos musseques, fizemos mulatos e tentámos ensinar o significado fundo da palavra saudade.
Também matámos e reprimimos, tem que se dizer, porém sem a crueza exibida por outros, “de cruz numa mão e de espada na outra”.
Quando os outros colonialistas (esses de verdade e inteiros) iniciaram a descolonização, tínhamos no poder um homem que não podia entender a vida porque foi sempre um monge, e tínhamos na alma a convicção de que éramos também África, quer dizer, as terras e o conceito de nação que construíramos ao longo dos anos em África.
É só isto que me leva a falar como falo, com palavras que querem dizer mesmo da minha crença funda de que inteligente e historicamente humano, teria sido mesmo negociar, salvaguardando o melhor do passado para construir um futuro bom, e não partir para uma luta que ninguém ganharia e que inviabilizaria, seguramente, qualquer caminho em comum.
A Guerra Colonial foi, assim, a oportunidade para o melhor dos “Últimos Guerreiros do Império” e para o pior “Regresso das Caravelas”.
Os novos países de África precisavam de nós, pese embora a opinião de alguns dos seus cidadãos. Nós precisávamos de África, embora alguns de nós julguem que somos apenas europeus, e, afinal, com tanta hesitação, nem somos africanos, nem europeus, mas qualquer coisa que ainda não desistiu de uma costela nem da outra.
Os nossos militares, nessa guerra, foram apenas mais uma prova da capacidade deste povo para aceitar o sacrifício, a dor e a morte em nome das suas convicções, certas ou erradas (se é que esta diferença existe), bravos que tentaram tudo para que o feudalismo persistente acabasse por entender que o caminho não era por ali.
É só isto, amigos, que me anima as palavras que digo e a crença em que, também eu, persisto.
No resto, embora contrariado, fui o que foram vocês todos, mesmo os que não me entendem, guerreiro que fez o que lhe era possível fazer, no sofrimento e no risco, e não branco fujão como, podia ter sido.
Abraços a todos (a todos, mesmo) e um melhor anos em 2010.
José Brás
__________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 16 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5477: Blogoterapia (137): Palavra de honra que não consigo entender (José Brás)
Vd. último poste da série de 15 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3208: Pensamento do dia (16): E não se pode exterminá-la ?... A epidemia de cólera em Bissau (Sofia Branco, Público)
Carlos
Chegou-me agora mesmo à cabeça este texto que te envio para dele fazeres o que quiseres.
Um forte abraço para ti e para toda a camaradagem
José Brás
A Guerra colonial e o sentido da História
Por aquilo que digo correntemente sobre o tema que se abriga por debaixo do título, alguém, senão mesmo a maioria dos que me lêem, pode muito bem e unilateralmente, montado apenas nas palavras e nas ideias incompletas que esta forma de comunicar comporta, concluir que está perante um desses pseudo-intelectuais cheio de conceitos mal-fabricados por aí em tertúlias esquerdistas, recusando tudo quanto cheire a passado e a feitos deste grupo a que chamam povo desde Afonso Henriques, ou, de acordo com a história oficial, antes ainda, em Viriato e seus pastores, pelo menos.
E também poderá imaginar-se que desdenho o próprio acto de guerra suportado pelos militares portugueses, as acções no terreno, a luta que, sem assento na cadeira do poder, tiveram que assumir contra um inimigo que havia de derrotar, quer dizer, de eliminar.
A vida é o que é, e não o que gostaríamos que fosse, e sendo o que é, temos que agir como é… e não como se fosse o que gostaríamos que fosse, senão nunca virá a ser o que queremos que seja, mas outra coisa, provavelmente pior do que a da nossa esperança.
É minha convicção que Portugal raramente teve os líderes que este povo merecia e que, mesmo os heróis a que nos habituámos, reconquistadores do território, sendo gente brava no combate a Mouros e Leoneses, eram, de facto, fracos líderes políticos, mais gostando de comezainas e bebedeiras e torneios do que de aproveitar o conhecimento que nos deixaram os derrotados Árabes..
Dizem mesmo que a fundação da nacionalidade se deve mais a disputas entre a Igreja de Braga e de Santiago de Compostela e que não fora isso, teríamos continuado espanhóis até hoje, sem razões, portanto, para refilar sobre Olivenza.
Acredito que, como tudo na vida, também a igreja é e tem sido ao longo dos tempos, uma entidade dual, plena de bem e de mal, uma zona clara e brilhante que ajudou o homem no seu sonho de belo, e outra escura, repressora, mutiladora desse sonho.
Infelizmente, em Portugal, o tempo e a acção do poder desta última metade, é incomensurável e tragicamente maior do que os da outra.
Sempre que tivemos chefes brilhantes este povo elevou a sua verdadeira estatura, como no caso de 1383, no caso da chamada Escola de Sagres, nos vultos humanos como Gil Vicente, António Vieira, Damião de Góis, Pedro Nunes, Camões e tantos outros não nomeados mas tão importantes como estes, porque ninguém constrói “Tebas a das sete portas, sozinho”.
E mesmo na aventura que era partir daqui para o desconhecido, cheios de terror feudal, a cabeça plena de imagens de fábula, de monstros e dragões.
E a própria guerra que teve de fazer-se para ocupar as terras achadas, o sacrifício e heroicidade de tal gente que, sabendo disso ou não, deram um dos maiores contributos alguma vez dados, para que o mundo “pulasse e avançasse”.
O mal foi que o pensamento feudal e uma certa ideia de deus nos afastaram sempre do seu caminho.
Fomos colonialistas escassos porque sempre analfabetos, agarrados a passados pelo seu lado mais negativo, afastados do progresso e da ideia de mudança.
Mesmo temendo cair em cliché, diria que fomos em África apenas mais uns pretos, de tez menos carregada. Casámos com negras, vivemos nas matas, abrimos lojecas nos musseques, fizemos mulatos e tentámos ensinar o significado fundo da palavra saudade.
Também matámos e reprimimos, tem que se dizer, porém sem a crueza exibida por outros, “de cruz numa mão e de espada na outra”.
Quando os outros colonialistas (esses de verdade e inteiros) iniciaram a descolonização, tínhamos no poder um homem que não podia entender a vida porque foi sempre um monge, e tínhamos na alma a convicção de que éramos também África, quer dizer, as terras e o conceito de nação que construíramos ao longo dos anos em África.
É só isto que me leva a falar como falo, com palavras que querem dizer mesmo da minha crença funda de que inteligente e historicamente humano, teria sido mesmo negociar, salvaguardando o melhor do passado para construir um futuro bom, e não partir para uma luta que ninguém ganharia e que inviabilizaria, seguramente, qualquer caminho em comum.
A Guerra Colonial foi, assim, a oportunidade para o melhor dos “Últimos Guerreiros do Império” e para o pior “Regresso das Caravelas”.
Os novos países de África precisavam de nós, pese embora a opinião de alguns dos seus cidadãos. Nós precisávamos de África, embora alguns de nós julguem que somos apenas europeus, e, afinal, com tanta hesitação, nem somos africanos, nem europeus, mas qualquer coisa que ainda não desistiu de uma costela nem da outra.
Os nossos militares, nessa guerra, foram apenas mais uma prova da capacidade deste povo para aceitar o sacrifício, a dor e a morte em nome das suas convicções, certas ou erradas (se é que esta diferença existe), bravos que tentaram tudo para que o feudalismo persistente acabasse por entender que o caminho não era por ali.
É só isto, amigos, que me anima as palavras que digo e a crença em que, também eu, persisto.
No resto, embora contrariado, fui o que foram vocês todos, mesmo os que não me entendem, guerreiro que fez o que lhe era possível fazer, no sofrimento e no risco, e não branco fujão como, podia ter sido.
Abraços a todos (a todos, mesmo) e um melhor anos em 2010.
José Brás
__________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 16 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5477: Blogoterapia (137): Palavra de honra que não consigo entender (José Brás)
Vd. último poste da série de 15 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3208: Pensamento do dia (16): E não se pode exterminá-la ?... A epidemia de cólera em Bissau (Sofia Branco, Público)
Guiné 63/74 - P5571: Votos de Feliz Natal 2009 e Bom Novo Ano 2010 (27): O Pai Natal das minhas netas encheu-me o sapatinho (José da Câmara)
1. Mensagem de José da Câmara* (ex-Fur Mil da CCAÇ 3327 e Pel Caç Nat 56, Guiné, 1971/73), com data de 31 de Dezembro de 2009:
Caro Carlos Vinhal,
Junto encontrarás um pequeno escrito.
Diferente, ditado do fundo do coração. Deixo à tua consideração a sua publicação ou não.
Logo, espero levantar com todos vós a minha taça de champanhe.
Que ela nunca esvazie de paz, de alegria e de boa saúde para todos e familiares.
Das terras frias dos States, um abraço muito quente para todos,
José Câmara
Como eu voltei a acreditar na existência do Pai Natal
Afinal há Pai Natal!
Não o vi, nem falei com ele. Mas sei que ele existe, pois ao longo dos últimos tempos foi-me deixando muitos presentes no sapatinho.
Na Noite da Consoada tive muitas histórias para contar à minha família.
Enquanto mamã Isabel se esmerava, para delírio dos genros e do filho, na preparação do prime rib à americana e do caldo verde à portuguesa do qual as netas são as grandes apreciadoras, lá fui contando alguns prodígios do Pai Natal.
Tudo começou com o meu primeiro encontro com o blogue Luís Graça e Camaradas da Guiné.
No blogue fui lendo histórias, comentários, encontros e desencontros entre camaradas. Histórias e fotografias que me tocaram: Mata dos Madeiros, Balenguerez, Bachile, Ponte Alferes Nunes, e muito mais à volta de Teixeira Pinto.
Senti a necessidade de me abeirar do capitão Jorge Picado, meu bom padrinho por tradição na entrada para o blogue. Com ele aprendi que as papaias vinham das papaeiras, e não daquela maldita papeira que apanhei quando jovenzito. Pelo Jorge Fontinha e Luís Faria, sujos do mesmo pó que eu, senhores de uma guerra esburacada, consegui chegar ao Chaves de Santa Maria que, passados tantos anos, já não conseguiu ligar o nome à pessoa. Com tanto Inchalauzinho à volta, não me admirei que o bom do Chaves se sentisse perdido.
O Carlos Silva levou-me à antiga estrada Teixeira Pinto/Cacheu, fez-me inveja com a nova ponte Alferes Nunes, mostrou-me Bassarel, e o nicho deixado em Calequisse pelo 3.º GComb da Ccaç 3327. Saudades tamanhas! Viagem impagável.
A partir deles e aos poucos, o meu sapatinho foi enchendo-se com a camaradagem e amizade do Carlos Vinhal, do Hélder Sousa, dos meus conterrâneos açorianos Matos e Cordeiro, e desse grande plantador de minas, coração de ouro (que poucos conhecem), que é o António G. Matos. Muitas vezes aventuram-se a atravessar o Atlântico para me acompanharem na apreciação dos loirinhos cá do sítio (com coca-cola, claro).
No sapatinho encontrei uma garrafa de vinho (sim daquele que se guardava ao sol durante meses e não estragava, justiça seja feita aos vinhateiros portugueses e à àgua do Geba) que o Luís Graça me mandou. Fiquei sem saber se era para beber assim ou com água. Resolvi… juntar-lhe gelo, pois fresquinho não azeda tanto o estômago. Fiquei mesmo sem saber se estava a beber água com vinho, ou vinho com água (e eu a sonhar com o vinho de cheiro da Ilha Montanha e dos Biscoitos da Terceira).
Não posso olvidar a ajuda preciosa, a camaradagem, e o trato fino dos amigos Virgínio Briote, Jero e Gualter Pinto. Os comentários do José Dinis, do José Martins, do Manuel Maia, do Mário Fitas do Jorge Teixeira Portojo e que outros calam fundo no meu coração. As respostas prontas que recebi do Mexia Alves, sobre a sua possível passagem por São João, deixaram-me (quase) a certeza que o conheci naquelas paragens. E a alegria do encontro com o José, Tenente Fuzileiro, ali para os lados de Cambridge tem um lugarzinho especial.
E, caramba, quem havia de dizer que uma das grandes palestras que recebi em associativismo Americano, viria de Portugal, pela pena do Alberto Branquinho!?
De dentro do sapatinho também tirei alguns emails do capitão Vasco da Gama e todo o humanismo que neles encerra. E também a certeza que a coluna por ali não partirá. E a promessa do Juvenal Amado (Sacadura) em encontrar-se comigo, imaginem só (e para quem quiser acreditar), na Ilha das Flores.
Com o pira Ribeiro e outros mantive correspondência que, julgo, esteve ao nível dos melhores princípios de camaradagem e amizade, mesmo sem nos conhecermose sem alardes, entre homens da “Guiné”. E acabei por perdoar o Alfero Cabral por ter ficado com todas as ninfas do tempo, e agora ensina outras que só há ele, e os outros que se lixem. Mesmo assim, encontrei uma bisnaga, lembrança do Enfermero Teixeira, para a deixa de um dia.
Mantive um excelente diálogo com o Amílcar Ventura, e ainda me sinto sensibilizado pelas palavras amáveis e de abertura do Manuel Reis. Do Abreu (pai) vou recebendo correio electrónico que me chama a atenção para artigos escritos, muitos deles bastante pertinentes, em OCS portugueses.
E quando for passar férias aos Açores terei sextilhas à minha espera, pois que do espírito também devo tratar.
No meu sapatinho ainda estão algumas coisas que chegaram da Suécia, da China e de muitos outros pontos do Globo. Excelentes artigos e histórias escritas nas bolanhas, nos ares e nos rios de uma terra que nos tocou profundamente, a Guiné, que deliciaram os meus tempos livres, durante os últimos meses. Até porque como mandam as regras “não devemos esquecer ninguém que nos toca”, e aqui me penitencio se aconteceu.
Também foi no sapatinho que, ao fim de 35 anos, encontrei o Furriel Enfermeiro Rui Esteves e, com o qual, tive contacto. Por ele, soube dos locais possíveis onde poderia encontrar outros camaradas da nossa Companhia. O Furriel André Fernandes deu um ar da sua graça. Trocámos alguns mimos. Também encontrei o Furriel Miliciano João Fevereiro, que passou pelo Pel Caç Nat 66, que também estava sediado no Destacamento de São João.
Entretanto, copiei o que as minhas netas costumam fazer e acabam sempre por ter sorte, resolvi escrever uma cartinha ao Pai Natal delas, pedindo-lhe que me ajudasse a encontrar os meus camaradas da CCaç 3327. Escolhi o delas porque, infelizmente, há muito tempo que não acreditava no meu….
O Pai Natal das minhas netas é mesmo bom. Munido das listas de telefone de Portugal, do Canadá e dos USA, proporcionadas pela internet, lá foi encontrando os antigos oficiais da Companhia, alguns furriéis e alguns soldados. Não conseguiu encontrar todos, mas continua a trabalhar nesse sentido.
Aos poucos, o meu sapatinho foi enchendo-se com os números de telefone e endereços dos soldados da minha Secção. Na véspera de Natal falei, via telefone, com o último homem do meu grupinho de amigos, meus camaradas, meus irmãos de armas. Eles foram, durante muitos meses, a minha família, da qual muito me orgulho.
O meu sonho é um encontro com todos eles num lugar qualquer. Se possível, nesta vida terrena. Difícil será, tenho a certeza, pois estamos espalhados pela Califórnia, Massachusetts, Ontário, São Miguel, Terceira e Faial.
Ah, e o meu encontro, via telefone, com o meu grande amigo Furriel Miliciano Pinto, o único com quem mantive correspondência durante alguns anos, para tudo se esfumar, ao perder o seu endereço, numa mudança de casa. Isto até há bem pouco tempo. Mas deu para perceber que ele já aderiu ao novo acordo ortográfico ao casar com uma muita simpática senhora brasileira. Resolveu, e bem, ficar pelas praias algarvias que rivalizam com Copacabana, mais fio menos fio a encobrir aquilo a que já não ligamos patavina. Quero dizer ligamos! Mas não passamos daí.
Surpresa foi encontrar o Furriel Santos da CCaç 3326 que me confessou ainda sonhar com o Monte Brasil, na Terceira. Pudera! Aquele lindo monte alberga memórias inesquecíveis a todos os militares que por lá passaram. Foram milhares que ali se prepararam para viver, sonhando com um regresso e, para muitos, com um futuro nas américas.
Monte Brasil - Ilha Terceira - Açores
Foto Carlos Vinhal (2006)
Mas o Pai Natal das minhas netas ainda tinha mais surpresas para mim. Tinha recebido um telefonema do Furriel Pinto, procurando por um camarada, mas que o número não era da pessoa indicada. Surpresa das surpresas o número era do Furriel Cruz da nossa Companhia, que, por sua vez, conhecia o Furriel Costa da CCaç 3328 que, por sua vez, conhecia e tinha contacto directo com o nosso Cap Mil Rogério Rebocho Alves.
Emoção a rodos. O sapatinho finalmente transbordara.
Ao fim de 36 anos, e em vésperas de Natal, eu chegava à fala com um bom Comandante de Companhia, um grande homem, e um bom amigo. Para mim…um pai!
Depois de todo esse trabalho o Pai Natal ainda teve forças para me acompanhar, via telefone, às casas das minhas irmãs e cunhada, nos States, e aos rochedos perdidos no meio do Atlântico para poder estar com os meus pais e a minha irmã ali regressados. Juntos, pudemos recordar a perda do filho e nosso irmão recentemente falecido. Até nisso o Pai Natal foi bom ao ajudar-nos a suavizar a dor.
Quando, finalmente, nos sentamos à mesa, ao olhar para a minha família, senti um tremor quente, único, doce e temente. No meu ombro senti a mão do Pai Natal das minhas netas. Ao meu coração chegou, num sussurro, aquelas palavras:
- Eu também sou o teu Pai Natal. Encontrar-me-ás todos os dias ao teu lado se me quiseres ver, tocar e falar comigo.
Aos sessenta anos voltava a acreditar na existência do Pai Natal.
José Câmara
__________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 20 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5508: Memórias e histórias minhas (José da Câmara) (11): Esta água tem pouco vinho
Vd. último poste da série de31 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5570: Votos de Feliz Natal 2009 e Bom Novo Ano 2010 (26): Um novo ano bem melhor do que o que passou (Joaquim Mexia Alves)
Caro Carlos Vinhal,
Junto encontrarás um pequeno escrito.
Diferente, ditado do fundo do coração. Deixo à tua consideração a sua publicação ou não.
Logo, espero levantar com todos vós a minha taça de champanhe.
Que ela nunca esvazie de paz, de alegria e de boa saúde para todos e familiares.
Das terras frias dos States, um abraço muito quente para todos,
José Câmara
Como eu voltei a acreditar na existência do Pai Natal
Afinal há Pai Natal!
Não o vi, nem falei com ele. Mas sei que ele existe, pois ao longo dos últimos tempos foi-me deixando muitos presentes no sapatinho.
Na Noite da Consoada tive muitas histórias para contar à minha família.
Enquanto mamã Isabel se esmerava, para delírio dos genros e do filho, na preparação do prime rib à americana e do caldo verde à portuguesa do qual as netas são as grandes apreciadoras, lá fui contando alguns prodígios do Pai Natal.
Tudo começou com o meu primeiro encontro com o blogue Luís Graça e Camaradas da Guiné.
No blogue fui lendo histórias, comentários, encontros e desencontros entre camaradas. Histórias e fotografias que me tocaram: Mata dos Madeiros, Balenguerez, Bachile, Ponte Alferes Nunes, e muito mais à volta de Teixeira Pinto.
Senti a necessidade de me abeirar do capitão Jorge Picado, meu bom padrinho por tradição na entrada para o blogue. Com ele aprendi que as papaias vinham das papaeiras, e não daquela maldita papeira que apanhei quando jovenzito. Pelo Jorge Fontinha e Luís Faria, sujos do mesmo pó que eu, senhores de uma guerra esburacada, consegui chegar ao Chaves de Santa Maria que, passados tantos anos, já não conseguiu ligar o nome à pessoa. Com tanto Inchalauzinho à volta, não me admirei que o bom do Chaves se sentisse perdido.
O Carlos Silva levou-me à antiga estrada Teixeira Pinto/Cacheu, fez-me inveja com a nova ponte Alferes Nunes, mostrou-me Bassarel, e o nicho deixado em Calequisse pelo 3.º GComb da Ccaç 3327. Saudades tamanhas! Viagem impagável.
A partir deles e aos poucos, o meu sapatinho foi enchendo-se com a camaradagem e amizade do Carlos Vinhal, do Hélder Sousa, dos meus conterrâneos açorianos Matos e Cordeiro, e desse grande plantador de minas, coração de ouro (que poucos conhecem), que é o António G. Matos. Muitas vezes aventuram-se a atravessar o Atlântico para me acompanharem na apreciação dos loirinhos cá do sítio (com coca-cola, claro).
No sapatinho encontrei uma garrafa de vinho (sim daquele que se guardava ao sol durante meses e não estragava, justiça seja feita aos vinhateiros portugueses e à àgua do Geba) que o Luís Graça me mandou. Fiquei sem saber se era para beber assim ou com água. Resolvi… juntar-lhe gelo, pois fresquinho não azeda tanto o estômago. Fiquei mesmo sem saber se estava a beber água com vinho, ou vinho com água (e eu a sonhar com o vinho de cheiro da Ilha Montanha e dos Biscoitos da Terceira).
Não posso olvidar a ajuda preciosa, a camaradagem, e o trato fino dos amigos Virgínio Briote, Jero e Gualter Pinto. Os comentários do José Dinis, do José Martins, do Manuel Maia, do Mário Fitas do Jorge Teixeira Portojo e que outros calam fundo no meu coração. As respostas prontas que recebi do Mexia Alves, sobre a sua possível passagem por São João, deixaram-me (quase) a certeza que o conheci naquelas paragens. E a alegria do encontro com o José, Tenente Fuzileiro, ali para os lados de Cambridge tem um lugarzinho especial.
E, caramba, quem havia de dizer que uma das grandes palestras que recebi em associativismo Americano, viria de Portugal, pela pena do Alberto Branquinho!?
De dentro do sapatinho também tirei alguns emails do capitão Vasco da Gama e todo o humanismo que neles encerra. E também a certeza que a coluna por ali não partirá. E a promessa do Juvenal Amado (Sacadura) em encontrar-se comigo, imaginem só (e para quem quiser acreditar), na Ilha das Flores.
Com o pira Ribeiro e outros mantive correspondência que, julgo, esteve ao nível dos melhores princípios de camaradagem e amizade, mesmo sem nos conhecermose sem alardes, entre homens da “Guiné”. E acabei por perdoar o Alfero Cabral por ter ficado com todas as ninfas do tempo, e agora ensina outras que só há ele, e os outros que se lixem. Mesmo assim, encontrei uma bisnaga, lembrança do Enfermero Teixeira, para a deixa de um dia.
Mantive um excelente diálogo com o Amílcar Ventura, e ainda me sinto sensibilizado pelas palavras amáveis e de abertura do Manuel Reis. Do Abreu (pai) vou recebendo correio electrónico que me chama a atenção para artigos escritos, muitos deles bastante pertinentes, em OCS portugueses.
E quando for passar férias aos Açores terei sextilhas à minha espera, pois que do espírito também devo tratar.
No meu sapatinho ainda estão algumas coisas que chegaram da Suécia, da China e de muitos outros pontos do Globo. Excelentes artigos e histórias escritas nas bolanhas, nos ares e nos rios de uma terra que nos tocou profundamente, a Guiné, que deliciaram os meus tempos livres, durante os últimos meses. Até porque como mandam as regras “não devemos esquecer ninguém que nos toca”, e aqui me penitencio se aconteceu.
Também foi no sapatinho que, ao fim de 35 anos, encontrei o Furriel Enfermeiro Rui Esteves e, com o qual, tive contacto. Por ele, soube dos locais possíveis onde poderia encontrar outros camaradas da nossa Companhia. O Furriel André Fernandes deu um ar da sua graça. Trocámos alguns mimos. Também encontrei o Furriel Miliciano João Fevereiro, que passou pelo Pel Caç Nat 66, que também estava sediado no Destacamento de São João.
Entretanto, copiei o que as minhas netas costumam fazer e acabam sempre por ter sorte, resolvi escrever uma cartinha ao Pai Natal delas, pedindo-lhe que me ajudasse a encontrar os meus camaradas da CCaç 3327. Escolhi o delas porque, infelizmente, há muito tempo que não acreditava no meu….
O Pai Natal das minhas netas é mesmo bom. Munido das listas de telefone de Portugal, do Canadá e dos USA, proporcionadas pela internet, lá foi encontrando os antigos oficiais da Companhia, alguns furriéis e alguns soldados. Não conseguiu encontrar todos, mas continua a trabalhar nesse sentido.
Aos poucos, o meu sapatinho foi enchendo-se com os números de telefone e endereços dos soldados da minha Secção. Na véspera de Natal falei, via telefone, com o último homem do meu grupinho de amigos, meus camaradas, meus irmãos de armas. Eles foram, durante muitos meses, a minha família, da qual muito me orgulho.
O meu sonho é um encontro com todos eles num lugar qualquer. Se possível, nesta vida terrena. Difícil será, tenho a certeza, pois estamos espalhados pela Califórnia, Massachusetts, Ontário, São Miguel, Terceira e Faial.
Ah, e o meu encontro, via telefone, com o meu grande amigo Furriel Miliciano Pinto, o único com quem mantive correspondência durante alguns anos, para tudo se esfumar, ao perder o seu endereço, numa mudança de casa. Isto até há bem pouco tempo. Mas deu para perceber que ele já aderiu ao novo acordo ortográfico ao casar com uma muita simpática senhora brasileira. Resolveu, e bem, ficar pelas praias algarvias que rivalizam com Copacabana, mais fio menos fio a encobrir aquilo a que já não ligamos patavina. Quero dizer ligamos! Mas não passamos daí.
Surpresa foi encontrar o Furriel Santos da CCaç 3326 que me confessou ainda sonhar com o Monte Brasil, na Terceira. Pudera! Aquele lindo monte alberga memórias inesquecíveis a todos os militares que por lá passaram. Foram milhares que ali se prepararam para viver, sonhando com um regresso e, para muitos, com um futuro nas américas.
Monte Brasil - Ilha Terceira - Açores
Foto Carlos Vinhal (2006)
Mas o Pai Natal das minhas netas ainda tinha mais surpresas para mim. Tinha recebido um telefonema do Furriel Pinto, procurando por um camarada, mas que o número não era da pessoa indicada. Surpresa das surpresas o número era do Furriel Cruz da nossa Companhia, que, por sua vez, conhecia o Furriel Costa da CCaç 3328 que, por sua vez, conhecia e tinha contacto directo com o nosso Cap Mil Rogério Rebocho Alves.
Emoção a rodos. O sapatinho finalmente transbordara.
Ao fim de 36 anos, e em vésperas de Natal, eu chegava à fala com um bom Comandante de Companhia, um grande homem, e um bom amigo. Para mim…um pai!
Depois de todo esse trabalho o Pai Natal ainda teve forças para me acompanhar, via telefone, às casas das minhas irmãs e cunhada, nos States, e aos rochedos perdidos no meio do Atlântico para poder estar com os meus pais e a minha irmã ali regressados. Juntos, pudemos recordar a perda do filho e nosso irmão recentemente falecido. Até nisso o Pai Natal foi bom ao ajudar-nos a suavizar a dor.
Quando, finalmente, nos sentamos à mesa, ao olhar para a minha família, senti um tremor quente, único, doce e temente. No meu ombro senti a mão do Pai Natal das minhas netas. Ao meu coração chegou, num sussurro, aquelas palavras:
- Eu também sou o teu Pai Natal. Encontrar-me-ás todos os dias ao teu lado se me quiseres ver, tocar e falar comigo.
Aos sessenta anos voltava a acreditar na existência do Pai Natal.
José Câmara
__________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 20 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5508: Memórias e histórias minhas (José da Câmara) (11): Esta água tem pouco vinho
Vd. último poste da série de31 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5570: Votos de Feliz Natal 2009 e Bom Novo Ano 2010 (26): Um novo ano bem melhor do que o que passou (Joaquim Mexia Alves)
Guiné 63/74 - P5570: Votos de Feliz Natal 2009 e Bom Novo Ano 2010 (26): Um novo ano bem melhor do que o que passou (Joaquim Mexia Alves)
1. Mensagem de Joaquim Mexia Alves* (ex-Alf Mil Op Esp/RANGER da CART 3492, (Xitole/Ponte dos Fulas); Pel Caç Nat 52, (Ponte Rio Udunduma, Mato Cão) e CCAÇ 15 (Mansoa), 1971/73), com data de 29 de Dezembro de 2009:
Meus caros Camarigos
Passou um ano e já outro ano está a começar!
Penso neste ano que passou em relação à nossa Tabanca Grande e vou-me apercebendo de várias coisas, pelo menos para mim, pois que felizmente não pensamos todos da mesma maneira.
Mas em primeiríssimo lugar quero tirar o chapéu, ou mais do que isso, agradecer ao Luís Graça, ao Carlos Vinhal, ao Virgínio Briote e ao Eduardo Magalhães Ribeiro o trabalho, a dedicação, que dedicaram a todos nós, aos nossos escritos, frutos das nossas memórias e também imaginação, pois então, e também, ou tão mais importante ainda, a paciência para lidarem com incompreensões, com impaciências, com pequenas revoltas, com pequenas ou grandes quezílias, com eles, ou entre atabancados, mas que no fundo acabam sempre por sobrar para eles.
É que muitas vezes a sua intervenção nesses pequenos problemas, (gerados porque somos diferentes e por isso pensamos diferente), vão muito para além dos textos, e transformam-se em contactos pessoais, carregados de sentido e amizade, para que a harmonia prevaleça.
Pela minha parte, e apesar de ser pessoa que rapidamente esqueço irritações e zangas, (as quais muitas vezes também sou rápido em comprar), quero desde já pedir desculpa a qualquer um que se tenha sentido ofendido por algo que escrevi, ou sugeri, na certeza de que se o fiz, não foi com esse sentido, mas tentando mostrar o meu ponto de vista que, reconheço, nem sempre será o mais correcto e verdadeiro.
Dito isto, quero ainda dizer, ou melhor, dizer escrevendo, que haverá sempre alguns assuntos que levantarão sempre crispações, irritações, até talvez zangas mais ou menos longas, assumidas ou não.
É lógico que se falarmos de Guileje, da guerra perdida ou ganha, da política ligada à guerra, etc., etc., sempre encontraremos clivagens, sempre encontraremos razões para discutirmos mais ou menos acesamente e, como tal, pontos de rotura e confronto, o que nem sempre nos torna mais calmos e sensatos.
(Estou a falar para mim e de mim, obviamente).
Mas não será por isso, que fique bem claro, que deixaremos de focar e discutir tais assuntos, apenas, julgo eu, devemos tentar perceber se as nossas intervenções vão acrescentar algo mais ao que já foi dito, ou se apenas são achas para um "fogo que arde sem se ver”.
E ao discuti-los que saibamos partir para a discussão na certeza de que aquilo que nós damos como certo e correcto, nem sempre é o certo e correcto para os outros.
Todos nós, julgo eu, já passámos por essa experiência de, ao falarmos com ex-camaradas de armas que estiveram ao nosso lado em determinada situação, percebermos que, estando no mesmo sítio à mesma hora e perante os mesmos factos, temos noções diferentes do que se passou.
Temos sempre que perceber, (e isso todos nós sabemos), que aquilo que para mim, longe de determinada situação parece errado, para aquele ou aqueles que a viveram, é a decisão mais correcta e acertada, ou seja, temos de calçar as botas dos outros, para que eles também calcem as nossas.
Estou a pensar, obviamente, em voz alta para mim, que bem preciso por vezes de pensar melhor, de ser mais sensato nos meus juízos, nos meus pensamentos, nas minhas certezas.
Uma coisa é certa: quem passou pelo que nós passámos, tornou-se irmão de sangue, mesmo que o não tenha derramado, e isso é ligação para toda a vida.
Só nós sabemos falar esta linguagem de ex-combatentes, e se já havia poucos que a entendessem, cada vez haverá menos.
Não será nos nossos tempos, creio eu, que se fará a História verdadeira da guerra de África, (nem sei se alguma vez se fará), mas o que escrevemos aqui, o que contamos ali, as fotografias que vamos recordando e que ficam para recordação, ajudarão com certeza, a tornar essa História mais verdadeira e sentida.
Tanto paleio afinal, para desejar aos meus camarigos todos um Novo Ano bem melhor do que o que passou, e sobretudo que neste Novo Ano possamos encontrar todos a forma melhor de lutarmos pela nossa dignidade e pelos nossos direitos, sobretudo os daqueles que ainda vivem escorraçados e desprezados pela Pátria que tão bem serviram com as suas vidas.
Abraço forte e camarigo para todos
Joaquim Mexia Alves
__________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 17 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5484: Votos de Feliz Natal 2009 e Bom Novo Ano 2010 (6): Guerra à guerra... (Joaquim Mexia Alves)
Vd. último poste de 31 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5568: Votos de Feliz Natal 2009 e Bom Novo Ano 2010 (25): 'Ousemos lutar para ousar vencer' (Hélder Sousa)
Meus caros Camarigos
Passou um ano e já outro ano está a começar!
Penso neste ano que passou em relação à nossa Tabanca Grande e vou-me apercebendo de várias coisas, pelo menos para mim, pois que felizmente não pensamos todos da mesma maneira.
Mas em primeiríssimo lugar quero tirar o chapéu, ou mais do que isso, agradecer ao Luís Graça, ao Carlos Vinhal, ao Virgínio Briote e ao Eduardo Magalhães Ribeiro o trabalho, a dedicação, que dedicaram a todos nós, aos nossos escritos, frutos das nossas memórias e também imaginação, pois então, e também, ou tão mais importante ainda, a paciência para lidarem com incompreensões, com impaciências, com pequenas revoltas, com pequenas ou grandes quezílias, com eles, ou entre atabancados, mas que no fundo acabam sempre por sobrar para eles.
É que muitas vezes a sua intervenção nesses pequenos problemas, (gerados porque somos diferentes e por isso pensamos diferente), vão muito para além dos textos, e transformam-se em contactos pessoais, carregados de sentido e amizade, para que a harmonia prevaleça.
Pela minha parte, e apesar de ser pessoa que rapidamente esqueço irritações e zangas, (as quais muitas vezes também sou rápido em comprar), quero desde já pedir desculpa a qualquer um que se tenha sentido ofendido por algo que escrevi, ou sugeri, na certeza de que se o fiz, não foi com esse sentido, mas tentando mostrar o meu ponto de vista que, reconheço, nem sempre será o mais correcto e verdadeiro.
Dito isto, quero ainda dizer, ou melhor, dizer escrevendo, que haverá sempre alguns assuntos que levantarão sempre crispações, irritações, até talvez zangas mais ou menos longas, assumidas ou não.
É lógico que se falarmos de Guileje, da guerra perdida ou ganha, da política ligada à guerra, etc., etc., sempre encontraremos clivagens, sempre encontraremos razões para discutirmos mais ou menos acesamente e, como tal, pontos de rotura e confronto, o que nem sempre nos torna mais calmos e sensatos.
(Estou a falar para mim e de mim, obviamente).
Mas não será por isso, que fique bem claro, que deixaremos de focar e discutir tais assuntos, apenas, julgo eu, devemos tentar perceber se as nossas intervenções vão acrescentar algo mais ao que já foi dito, ou se apenas são achas para um "fogo que arde sem se ver”.
E ao discuti-los que saibamos partir para a discussão na certeza de que aquilo que nós damos como certo e correcto, nem sempre é o certo e correcto para os outros.
Todos nós, julgo eu, já passámos por essa experiência de, ao falarmos com ex-camaradas de armas que estiveram ao nosso lado em determinada situação, percebermos que, estando no mesmo sítio à mesma hora e perante os mesmos factos, temos noções diferentes do que se passou.
Temos sempre que perceber, (e isso todos nós sabemos), que aquilo que para mim, longe de determinada situação parece errado, para aquele ou aqueles que a viveram, é a decisão mais correcta e acertada, ou seja, temos de calçar as botas dos outros, para que eles também calcem as nossas.
Estou a pensar, obviamente, em voz alta para mim, que bem preciso por vezes de pensar melhor, de ser mais sensato nos meus juízos, nos meus pensamentos, nas minhas certezas.
Uma coisa é certa: quem passou pelo que nós passámos, tornou-se irmão de sangue, mesmo que o não tenha derramado, e isso é ligação para toda a vida.
Só nós sabemos falar esta linguagem de ex-combatentes, e se já havia poucos que a entendessem, cada vez haverá menos.
Não será nos nossos tempos, creio eu, que se fará a História verdadeira da guerra de África, (nem sei se alguma vez se fará), mas o que escrevemos aqui, o que contamos ali, as fotografias que vamos recordando e que ficam para recordação, ajudarão com certeza, a tornar essa História mais verdadeira e sentida.
Tanto paleio afinal, para desejar aos meus camarigos todos um Novo Ano bem melhor do que o que passou, e sobretudo que neste Novo Ano possamos encontrar todos a forma melhor de lutarmos pela nossa dignidade e pelos nossos direitos, sobretudo os daqueles que ainda vivem escorraçados e desprezados pela Pátria que tão bem serviram com as suas vidas.
Abraço forte e camarigo para todos
Joaquim Mexia Alves
__________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 17 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5484: Votos de Feliz Natal 2009 e Bom Novo Ano 2010 (6): Guerra à guerra... (Joaquim Mexia Alves)
Vd. último poste de 31 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5568: Votos de Feliz Natal 2009 e Bom Novo Ano 2010 (25): 'Ousemos lutar para ousar vencer' (Hélder Sousa)
Guiné 63/74 – P5569: Histórias do Eduardo Campos (2): CCAÇ 4540, 1972/74 - Somos um caso sério (Parte 2): 5 meses como operador de mensagens em Cufar
1. O nosso camarada Eduardo Ferreira Campos, ex-1º Cabo Trms da CCAÇ 4540, Cumeré, Bigene, Cadique, Cufar e Nhacra, 1972/74, enviou-nos a segunda parte da sua história, que vem complementar a primeira publicada em 25 de Dezembro, no poste P5534:
CCAÇ 4540 – 72/74
SOMOS UM CASO SÉRIO
PARTE 2
CADIQUE-CUFAR
Dois dias após o desembarque em Cadique, eu e o Nelson (Rádio Telegrafista) fomos chamados ao Capitão da Companhia para nos informar que um de nós teria de ir para Cufar. Tinha sido criado o COP 4 na referida localidade e seria necessário pessoal de transmissões para formar uma equipa.
O dilema do Capitão era quem iria ser o felizardo que iria sair dali (palavras dele) e, como não queria ficar com problemas de consciência, sacou de uma moeda perguntando-me: “Cara ou coroa?” Por muito mórbido que pareça a moeda foi lançada em cima dum caixão, que viajava connosco desde Bigene como se de mantimentos se tratasse.
Deus e a moeda estiveram comigo e, nesse mesmo dia, vi-me enfiado num Sintex rumando através do rio Cumbijã, para Cufar.
Quando lá cheguei fiquei surpreendido com o que vi, já que os militares e a população viviam misturados e as instalações militares eram dispersas e pequenas. No entanto o que estava reservado para mim, era uma tenda de campanha e um colchão insuflável, que, pouco tempo depois, já não funcionava. Por aqui fiquei cerca de 5 meses.
Foto 11 – Cufar: Junto às tendas do pessoal de transmissões do COP 4
Foto 12 – Cufar: Junto a um bombardeiro T 6
Consultada a minha já fraca memória e não tendo encontrado o meu bloquinho de apontamentos, onde registava essas andanças, ainda consigo recordar-me de alguns elementos da CCaç 4740 (Leões de Cufar), do Pel Rec Fox e do Alf Mil Murta (Pel Obus 14), bem como da pista de aviação (uma das melhores do Sul do TO).
O COP 4 era comandado por oficiais pára-quedistas, sendo o seu Comandante o saudoso Tenente-Coronel Araújo e Sá, de quem eu guardo muito boas recordações, já que, sendo um homem duro e exigente, era também um militar de uma correcção extraordinária, humano e sempre bom Camarada, a que juntava um feitio extremamente rigoroso.
O COP 4 era comandado por oficiais pára-quedistas, sendo o seu Comandante o saudoso Tenente-Coronel Araújo e Sá, de quem eu guardo muito boas recordações, já que, sendo um homem duro e exigente, era também um militar de uma correcção extraordinária, humano e sempre bom Camarada, a que juntava um feitio extremamente rigoroso.
Trabalhei com ele muito de perto, sendo a minha especialidade radiotelegrafista, em Cufar passei a desempenhar as funções de Operador de Mensagens, pois não havia nenhum, e, diariamente, quase 24 horas por dia, lidava com ele, mesmo durante a noite entrando no seu quarto: “Meu Comandante, mensagem Relâmpago, Zulu.”, e a reposta era quase sempre: “Lê ou deixa.”
Nunca suportei muito bem a rotina da vida militar, como quase todos aqueles jovens que se encontravam na Guiné, mas foi precisamente este homem, um militar, que me ensinou alguns modos de comportamento e de decisão pessoais, que hoje imensamente prezo na minha vida.
Não posso formar sobre a sua personalidade, como é óbvio, uma opinião de carácter estritamente militar, mas uma coisa eu sei, é que era normal ouvir os seus homens dizerem, a todo o momento, que ele era detentor de invulgar e extraordinária competência militar.
Além deste vulto militar, tive também o grato prazer de conhecer, naturalmente, outros oficiais e sargentos, que na época constituíam a fina-flor dos pára-quedistas, como por exemplo: o Major Calheiros, Capitão Terras Marques, Pessoa, Valente dos Santos, Cordeiro e o Sargento Barros.
Foto 13 – Cufar: Natal (da esqª para a dirª). Eu, o “Eiras” (um homem da CCaç 4740 - Leões de Cufar) e o “Porto” do COP 4 (Nota-se nesta foto a falta que a ASAE já fazia naquele tempo)
Em termos de flagelações, Cufar também sofreu algumas, com mísseis (ou foguetões, como nós dizíamos), que caíram muito perto da pista de aviação e, um deles inclusive, teve o seu impacto dentro do aquartelamento, embatendo numa árvore e não explodindo.
Recordo-me, ainda, de um ataque do PAIGC com armas ligeiras, muito perto da vedação, em que eu estava dentro de uma vala e um militar da companhia açoriana, me pediu para encher carregadores de G3.
Eu estava tão entusiasmado a ver as balas tracejantes a atravessarem o espaço, que não tive tempo para lhe satisfazer tal pedido.
Foto 14 – Cufar: Local onde caiu míssil que não explodiu
Em Cufar apareceu um dia, uma delegação da NATO, para inspeccionar se nós, os militares portugueses, estaríamos a utilizar equipamento da mesma organização. Aqui deixem-me rir um pouco!
Entretanto chegou um pira, Operador de Mensagens, que me libertou muito do trabalho que vinha tendo, e me permitiu, inclusive, ir a Bissau passar uma semana de férias.
Entretanto chegou um pira, Operador de Mensagens, que me libertou muito do trabalho que vinha tendo, e me permitiu, inclusive, ir a Bissau passar uma semana de férias.
Foi o próprio Comandante a falar no assunto: “Você merece.” - disse ele. E lá fui para Bissau.
Era frequente estarem estacionados na pista de Cufar, um helicanhão e alguns helicópteros, que regressavam a Bissau ao final da tarde e foi num desses helis que fiz a viagem.
Fiquei surpreendido com a forma dos helis voarem muito rente às copas das árvores e perguntei à enfermeira, que viajava também no helicóptero, o porquê daquilo? Resposta dela: “Foi abatida, ou caiu, uma DO no Norte, perto de Binta.”.
A partir daí, a viagem pareceu-me durar uma eternidade.
No regresso a Cufar, uma semana depois, era para viajar num NordAtlas, mas olhando para o que se tinha passado com a DO e o modo como voavam os helicópteros, resolvi untar as mãos do responsável e lá me safei de voar outra vez. Acabei por regressar numa LDG, numa viagem com a duração de 24 horas a ração de combate, cansativa, mas mais segura (digo eu).
Foto 15 – Junto ao Canhão S/R com um camarada do COP 4
Foto 16 – Cufar –NordAtlas
Foto 17 – Cufar: Com outros camaradas de transmissões do COP 4
Foto 18 – Cufar: Pose... só para a fotografia claro…
Foto 19 – Cufar
Foto 20 – Cufar: Preparando a filmagem da chegada dos piras (estilo Steven Spielberg)
Foto 21 - Cufar: Heli Alouette III
Foto 22 – Cufar: Dentro da vala
Foto 23 – Cufar: Abrigo
Foto 24 – Cufar: NordAtlas
Foto 25 – Cufar: Canhão sem recuo
Foto 26 – Cufar: Vala com pessoal das transmissões COP 4
Foto 27 – Cufar
Cufar era uma placa giratória de apoio logístico para o Sul e, por esse motivo, originava um movimento muito fora de vulgar, quer em meios aéreos, quer em viaturas e pessoal militar.
Apesar de estar ausente da minha Companhia, eu vivia intensamente os seus problemas e estava ao corrente dos mesmos, porque o meu trabalho no COP 4 me dava acesso a quase todas as informações, e porque o que nos separava era apenas o rio.
Em Maio ou Junho de 1973, apareceu em Cufar um tenente de transmissões, destinado a chefiar o pessoal das transmissões do COP 4.
Mal vi o tal tenente conheci-o logo, era o Tenente V…. Pensei para comigo: “Estou feito!”
Não é que o homem era o mesmo que, no Regimento de Transmissões do Porto, passava a vida a escalar-me para reforços, quando estava de oficial de dia ?! Ou eram as botas, ou a camisa, ou isto e aquilo… nunca saí para a rua quando ele estava de oficial de dia.
De imediato fui ter com o Comandante Araújo e Sá e pedi para regressar a Cadique. Ele bem tentou demover-me dizendo: “Tu não estás bom da cabeça, queres ir para aquele inferno!”
Mas lá acabou por aceitar e, no dia seguinte, regressei a Cadique.
Um abraço Amigo,
Eduardo Campos
1º Cabo Telegrafista da CCaç 4540
Fotos: © Eduardo Campos (2009). Direitos reservados.
_____________
Notas de M.R.:
Vd. último poste desta série em:
Guiné 63/74 - P5568: Votos de Feliz Natal 2009 e Bom Novo Ano 2010 (25): 'Ousemos lutar para ousar vencer' (Hélder Sousa)
1. Mensagem do nosso amigo e camarada Hélder Sousa (ex-Fur Mil de Transmissões, TSF, Bissau e Piche, 1970/72) que já circulou na nossa rede interna, e que foi dirigida à lista dos seus muitos, centenas, de amigos, incluindo os membros da nossa Tabanca Grande:
Caros amigos
Agora que já passou a época das prendas de Natal, talvez o ambiente seja mais propício para se falar das coisas da Vida.
Lembro-me que quando fui estudante profissional ter visto, em 1969, salvo erro, uma edição de poesia da Associação de Estudantes da Faculdade de Ciências de Lisboa em que, entre outros, vinha lá um poema, cujo autor não me lembro e cujo tema pode parecer que não é apropriado, mas acho que pode ter algum paralelismo, e que era assim:
Foi Carnaval!
Todos tiraram as máscaras,
Já ninguém se conhece!
Ou seja, enquanto Tarzan, Zorro, Napoleão, Espanhola, Bombeiro, Enfermeira, Bailarina, Super-Homem, etc. eram sempre reconhecidos e identificados mas, passada a ocasião, voltava-se ao mesmo anonimato, à mesma indiferença.
Com o Natal passa-se um fenómeno semelhante. Diz-se amiúde Boas festas mas, de quê?, de quem?, porquê? E é ver pessoas que durante um ano inteiro se entretêm a fazer a vida num inferno aos que os rodeiam (ou aos que governam), a colocar aquele ar pungente, bonzinho, paternalista, 'amigo', desejando um 'bom Natal', 'festas felizes', etc.
Quantas vezes o 'motivo' da Festa não é totalmente excluído da mesma? Quem se lembra, neste espaço de civilização judaico-cristã, que se comemora exactamente o nascimento do Filho de Deus?
Que, por esse acontecimento, o nascimento d'O que nos iria redimir, é aberto, iniciado, um ciclo de vida que, segundo esses ensinamentos civilizacionais, nos levará à via da salvação?
Também nas civilizações pré-cristãs esta época era motivo de grandes festejos.
Não se esqueçam que o nosso povo tem um ditado que diz "pelo Natal, um pulinho dum pardal", referindo-se ao crescimento dos dias, já que o Solstício de Inverno ocorre poucos dias antes, a 21 de Dezembro.
Ora acontece então que, sendo o Solstício o acontecimento que marca 'o Sol parado', ou seja, o momento em que se inverte a predominância das trevas sobre a luz, em que os dias passarão a ganhar cada vez mais espaço em detrimento da noite, em que a Vida inicia um novo ciclo de crescimento até à Primavera com toda a sua pujança, culminando no Verão, voltando depois a completar o ciclo com a Ordem Natural das coisas, pode-se encontar aqui também uma proposta de orientação para os tempos que se aproximam.
Seja então o Natal cristão, seja a Ordem dos ciclos da natureza, temos a exaltação dum Início. O começo da caminhada para a remissão dos pecados, o começo dum novo ciclo de Vida.
Que seja pois encetada com todo o entusiasmo, com toda a coragem, com toda a confiança, a caminhada que cada um terá que fazer no Novo Ano que se avizinha e que, para variar, não se augura promissor.
Será a nossa determinação em "ousar lutar para ousar vencer" que poderá marcar a diferença!
Que tenham tido então umas Festas Felizes! Que tenham então um Novo Ano pleno de satisfação!
São os meus votos!
Beijos e abraços, conforme os casos.
Hélder Sousa
2. Comentário de L.G.:
Hélder, obrigado pelo teu presente de Natal, que tiveste, ainda para mais, a gentileza de ir expressamente entregar no meu local de trabalho. E que foi, nada mais nada menos, um exemplar da História de Portugal em Sextilhas, autografada pelo seu autor, o Manuel Maia. Agradeço a ambos. Quero desejar-te as melhoras da tua esposa e, se me permites, um Melhor Ano, em 2010, para todos nós.
Retomo a tua reflexão teológica e sócio-antropológica e interrogo-me também: por que é que o último ano é sempre (?) um annus horribilis ? ... No nosso actual ciclo de vida, é já difícil aspirar que o próximo ano seja melhor do que o anterior... Afinal,.estamos a envelhecer desde que... nascemos. Mas sejamos optimistas, por princípio!... Ou, melhor, por anti-conformismo!...
"Ousemos, pois, lutar par ousar vencer"... (Mesmo que a frase, já tão estafada, tenha velhas reminiscências maoístas e quiçá confucianas... Mas, afinal, tudo o que dizemos ou escrevemos, está inevitavelmente conotado ideologicamente... Quer queiramos ou não, acabamos todos por pensar no quadro da nossa dupla matriz histórico-cultural, helenística e judaico-cristã)...
Celebremos, antes, a vida, o início, o natal, o eterno retorno:
(..) Mas chegados ao fim do ano,
É costume fazer-se o balanço,
Se não da viagem,
Pelo menos do deve-e-haver
Das nossas vidas,
Da carga preciosa que transportamos connosco,
Que é a vida e o dever de a viver.
Que é o fogo da vida
E a obrigação de o alimentarmos,
O pequeno milagre
Ou o simples facto
De estarmos vivos,
De ainda estarmos vivos
E de estarmos juntos.
In: Luís Graça > Blogpoesia > 3 de Dezembro de 2005 >
Blogantologia(s) II - (21): O deve-e-o-haver de 2004
3. Comentário do Alberto Branquinho:
Helder
HOMBRE!! Que texto!
Era uma "coisa" assim que eu queria escrever, agora que passou o período em que o pessoal andava "alumbrado". É que muita gente não pensa. Vai na exurrada. Tive receio de escrever. Poderia ferir susceptibilidades (?!).
No entanto, enviei ontem um texto para o blogue, onde tento dizer isso mesmo, de forma muito resumida.
Quanto ao poema que citas de cor (e sem erros):
"CARNAVAL
Foi carnaval
Todos tiraram as máscaras
Já ninguém se conhece"
Está num livro de um só autor (José Fanha), chamado "Cantigas da dúvida e do perguntar" e foi, efectivamente, uma edição (em "plaquette") da Associação de Estudantes da Faculdade de Ciências de Lisboa. Foi vendido informalmente nas cantinas universitárias, a baixo preço, em 1970/1971, ainda esses ambientes fervilhavam de contestação ao regime político. Por curiosidade, nas primeiras páginas, onde, habitualmente, estão o ISBN, direitos de autor, etc., consta o seguinte texto:"Todos os direitos NÃO reservados incluindo os Estados Unidos da América".
Um abraço para o autor do texto (que merecia estar no blogue)
Alberto Branquinho
Caros amigos
Agora que já passou a época das prendas de Natal, talvez o ambiente seja mais propício para se falar das coisas da Vida.
Lembro-me que quando fui estudante profissional ter visto, em 1969, salvo erro, uma edição de poesia da Associação de Estudantes da Faculdade de Ciências de Lisboa em que, entre outros, vinha lá um poema, cujo autor não me lembro e cujo tema pode parecer que não é apropriado, mas acho que pode ter algum paralelismo, e que era assim:
Foi Carnaval!
Todos tiraram as máscaras,
Já ninguém se conhece!
Ou seja, enquanto Tarzan, Zorro, Napoleão, Espanhola, Bombeiro, Enfermeira, Bailarina, Super-Homem, etc. eram sempre reconhecidos e identificados mas, passada a ocasião, voltava-se ao mesmo anonimato, à mesma indiferença.
Com o Natal passa-se um fenómeno semelhante. Diz-se amiúde Boas festas mas, de quê?, de quem?, porquê? E é ver pessoas que durante um ano inteiro se entretêm a fazer a vida num inferno aos que os rodeiam (ou aos que governam), a colocar aquele ar pungente, bonzinho, paternalista, 'amigo', desejando um 'bom Natal', 'festas felizes', etc.
Quantas vezes o 'motivo' da Festa não é totalmente excluído da mesma? Quem se lembra, neste espaço de civilização judaico-cristã, que se comemora exactamente o nascimento do Filho de Deus?
Que, por esse acontecimento, o nascimento d'O que nos iria redimir, é aberto, iniciado, um ciclo de vida que, segundo esses ensinamentos civilizacionais, nos levará à via da salvação?
Também nas civilizações pré-cristãs esta época era motivo de grandes festejos.
Não se esqueçam que o nosso povo tem um ditado que diz "pelo Natal, um pulinho dum pardal", referindo-se ao crescimento dos dias, já que o Solstício de Inverno ocorre poucos dias antes, a 21 de Dezembro.
Ora acontece então que, sendo o Solstício o acontecimento que marca 'o Sol parado', ou seja, o momento em que se inverte a predominância das trevas sobre a luz, em que os dias passarão a ganhar cada vez mais espaço em detrimento da noite, em que a Vida inicia um novo ciclo de crescimento até à Primavera com toda a sua pujança, culminando no Verão, voltando depois a completar o ciclo com a Ordem Natural das coisas, pode-se encontar aqui também uma proposta de orientação para os tempos que se aproximam.
Seja então o Natal cristão, seja a Ordem dos ciclos da natureza, temos a exaltação dum Início. O começo da caminhada para a remissão dos pecados, o começo dum novo ciclo de Vida.
Que seja pois encetada com todo o entusiasmo, com toda a coragem, com toda a confiança, a caminhada que cada um terá que fazer no Novo Ano que se avizinha e que, para variar, não se augura promissor.
Será a nossa determinação em "ousar lutar para ousar vencer" que poderá marcar a diferença!
Que tenham tido então umas Festas Felizes! Que tenham então um Novo Ano pleno de satisfação!
São os meus votos!
Beijos e abraços, conforme os casos.
Hélder Sousa
2. Comentário de L.G.:
Hélder, obrigado pelo teu presente de Natal, que tiveste, ainda para mais, a gentileza de ir expressamente entregar no meu local de trabalho. E que foi, nada mais nada menos, um exemplar da História de Portugal em Sextilhas, autografada pelo seu autor, o Manuel Maia. Agradeço a ambos. Quero desejar-te as melhoras da tua esposa e, se me permites, um Melhor Ano, em 2010, para todos nós.
Retomo a tua reflexão teológica e sócio-antropológica e interrogo-me também: por que é que o último ano é sempre (?) um annus horribilis ? ... No nosso actual ciclo de vida, é já difícil aspirar que o próximo ano seja melhor do que o anterior... Afinal,.estamos a envelhecer desde que... nascemos. Mas sejamos optimistas, por princípio!... Ou, melhor, por anti-conformismo!...
"Ousemos, pois, lutar par ousar vencer"... (Mesmo que a frase, já tão estafada, tenha velhas reminiscências maoístas e quiçá confucianas... Mas, afinal, tudo o que dizemos ou escrevemos, está inevitavelmente conotado ideologicamente... Quer queiramos ou não, acabamos todos por pensar no quadro da nossa dupla matriz histórico-cultural, helenística e judaico-cristã)...
Celebremos, antes, a vida, o início, o natal, o eterno retorno:
(..) Mas chegados ao fim do ano,
É costume fazer-se o balanço,
Se não da viagem,
Pelo menos do deve-e-haver
Das nossas vidas,
Da carga preciosa que transportamos connosco,
Que é a vida e o dever de a viver.
Que é o fogo da vida
E a obrigação de o alimentarmos,
O pequeno milagre
Ou o simples facto
De estarmos vivos,
De ainda estarmos vivos
E de estarmos juntos.
In: Luís Graça > Blogpoesia > 3 de Dezembro de 2005 >
Blogantologia(s) II - (21): O deve-e-o-haver de 2004
3. Comentário do Alberto Branquinho:
Helder
HOMBRE!! Que texto!
Era uma "coisa" assim que eu queria escrever, agora que passou o período em que o pessoal andava "alumbrado". É que muita gente não pensa. Vai na exurrada. Tive receio de escrever. Poderia ferir susceptibilidades (?!).
No entanto, enviei ontem um texto para o blogue, onde tento dizer isso mesmo, de forma muito resumida.
Quanto ao poema que citas de cor (e sem erros):
"CARNAVAL
Foi carnaval
Todos tiraram as máscaras
Já ninguém se conhece"
Está num livro de um só autor (José Fanha), chamado "Cantigas da dúvida e do perguntar" e foi, efectivamente, uma edição (em "plaquette") da Associação de Estudantes da Faculdade de Ciências de Lisboa. Foi vendido informalmente nas cantinas universitárias, a baixo preço, em 1970/1971, ainda esses ambientes fervilhavam de contestação ao regime político. Por curiosidade, nas primeiras páginas, onde, habitualmente, estão o ISBN, direitos de autor, etc., consta o seguinte texto:"Todos os direitos NÃO reservados incluindo os Estados Unidos da América".
Um abraço para o autor do texto (que merecia estar no blogue)
Alberto Branquinho
quarta-feira, 30 de dezembro de 2009
Guiné 63/74 - P5567: Os amigos da Capela de Guileje (9): Reconstrução, quase pronta, da capelinha de Guileje, terra de fé e de coragem, nas palavras do saudoso Zé Neto (CART 1613, 1967/68)
Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > A capela da CART 1613 (1967/68), totalmente reconstruída, como parte do projecto "Memória de Guiledje", a inaugurar oficialmente no dia 20 de Janeiro de 2010.
Fotos: © Pepito/AD - Acção para o Desenvolvimento (2009). Direitos reservados
1. Em finais de Outubro, telefonou-me nosso amigo e camarada Camilo, de Lagoa (*). Anunciou-me que ia voltar à Guiné-Bissau, desta vez de avião. Da última vez, deixara o carro em Jugudul, na casa de um velho amigo.
Deve ter partido de avião a 30, e voltado um mês depois, em finais de Novembro. Acabara de fazer 65 anos (parabéns, Camilo!) no passado domingo dia 18 de Outubro. Os negócios ficaram por conta de filhos e genros. Ia dar uma mãozinho ao Pepito, ao Patrício Ribeiro e aos amigos da capela de Guileje (*).
- Vou ver se acabo a capela de Guileje. Mas a malta precisa de algum dinheirito. Até agora a mão de obra tem sido fornecida à borla pela empresa do Patrício [Impar Lda]. O dinheiro não cai do céu. Era preciso arranjar aí uma dúzia de camaradas, dispostos a entrar com 50 euros cada um...
Logo me prontifiquei a fazer um pedido aos camaradas e amigos da Guiné, à nossa Tabanca Grande, que estivessem dispostos a contribuir para este projecto, que sensibiliza a todos, de uma maneira ou de outra: a reconstrução da capela de Guileje, edificado no tempo da CART 1613 (1967/68). (**)
Alguns membros da nossa Tabanca Grande já me manifestaram a sua vontade e o seu interesse em comparticipar. Falta apenas abrir uma conta bancária, para esse efeito. Haja alguém, dos amigos da capela de Guileje, que assuma essa tarefa...
O nosso blogue abre o seu espaço a estas e outras iniciativas solidárias (como é o caso, por exemplo, do projecto Sementes: ainda recentemente o Zé Teixeira me fez o ponto da situação e me pediu o apoio do blogue para dar continuidade a esta bela iniciativa de levar água e sementes às corajosas e empreendedoras mulheres da Guiné-Bissau).
Entretanto, recebi a 17 do corrente, a seguinte mensagem do Pepito:
Luís: seguem para tua informação 2 fotos da capela. Já só falta pintar. abraço. Pepito
O museu "Memória de Guileje" (incluindo a capelinha) será oficialmente inaugurado no dia 20 de Janeiro próximo (***). Daremos em breve mais notícias sobre este evento.
______________
Notas de L.G.:
(*) Vd. poste de 16 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4534: Grupo dos Amigos da Capela de Guileje (2): António Camilo oferece 300 sacos de cimento e 150 litros de tinta
(**) Vd. primeiro e último postes da série:
6 de Junho de 2009 > Guiné 64/74 - P4469: Grupo dos Amigos da Capela de Guileje (1): Já temos três: Patrício Ribeiro, António Cunha e Manuel Reis
24 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5004: Notícias dos nossos amigos da AD - Bissau (8): A viúva do Cap José Neto estará na inauguração da Capela de Guileje (Pepito)
(***) Vd. poste de 18 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5494: Notícias dos nossos amigos da AD - Bissau (9): Inauguração do Núcleo Museológico Memória de Guiledje, em 20 de Janeiro de 2010
Guiné 63/74 - P5566: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (20): Memórias paralelas
1. Mensagem de Fernando Gouveia (ex-Alf Mil Rec e Inf, Bafatá, 1968/70), com data de 29 de Dezembro de 2009:
Caro Carlos:
Desejo que tenhas tido umas Boas Festas com toda a tua família, estendendo-se estes votos a todos os tertulianos.
Desta vez, apesar de enquadrada na série “A Guerra Vista de Bafatá”, não se trata de uma estória propriamente dita, mas antes um convite para uma exposição de fotografias, que fatalmente teria que acontecer.
A exposição abre no dia 04 de Janeiro e eu estarei lá presente nesse dia a partir das 17 horas.
Mais informo, que apesar de inicialmente não haver intenção de vender as fotos, estou a considerar isso (com um preço simbólico), e nesse caso o correspondente aos meus direitos de autor irão integralmente para as crianças da Guiné–Bissau por intermédio da ONGD “Ajuda Amiga”.
Um abraço
Fernando Gouveia
A GUERRA VISTA DE BAFATÁ
20 – Memórias paralelas
Vista da parte principal de Bafatá. No quarteirão, em primeiro plano situava-se a sede do Batalhão
Foto e legenda: © Fernando Gouveia (2009). Direitos reservados
Já em estórias anteriores referi que tive muita sorte na Guiné. Aliás em todo o tempo de tropa, como em estória futura relatarei. Dos cinco alferes, de Reconhecimento e Informações, que fomos mobilizados na mesma altura, dois com destino ao Q.G. e os outros, aos três Comandos de Agrupamento, considero que Bafatá foi o melhor que me podia ter calhado. Depois de ter ouvido os quatro camaradas que ficaram colocados nos outros locais, mais reforçada ficou essa minha ideia.
Bafatá, como todos sabem, era em 1968-70 uma zona de paz. Tive no entanto a minha pequena dose de guerra. Já aqui contei essa história*: Quinze dias em Madina Xaquili com condições inacreditáveis no que diz respeito a armamento e munições, o que me levou a conceber um plano de fuga caso houvesse um ataque e se acabassem as 16 granadas de Morteiro 60, de que dispunha. Esse ataque, com mortos e feridos, deu-se, como já contei, um mês depois de ter saído desse buraco. E por falar em buraco, sempre considerei o buraco da ponte do Rio Udunduma, por onde passei em Abril – 70, bem melhor que o de Madina Xaquili.
Podem crer camaradas, que se não tivesse vivido essa experiência de Madina Xaquili talvez nunca tivesse escrito texto algum para o Blog, apesar de considerar que a minha quota parte de ajuda no Agrupamento foi tão importante como a dos camaradas que todos os dias andavam de G3 nas unhas. Muita ajuda dei ao Coronel Hélio Felgas para delinear as suas Operações. Recordo o trabalho que deu o planeamento da “Lança Afiada” e só lamento a minha falta de coragem, naquela altura, para dizer ao Coronel que a Operação não ia dar em nada pois todo o pessoal IN iria atravessar o Rio Corubal, pondo-se a salvo. Dias depois sobrevoei a zona e o que se via lá em baixo era um frenesim na reconstrução de palhotas…
As minhas memórias de guerra foram deste tipo, mas paralelamente tenho outras que se reportam à minha estadia em Bafatá e mais concretamente à vivência extra quartel.
Por força de trabalhar no Agrupamento todo o dia até às oito da noite, praticamente só aos Domingos, é que me era possível passear a pé ou de jeep pelas tabancas, quer de Bafatá, quer as que ficavam próximas.
Morei cerca de um ano numa casa da tabanca da Rocha o que me ajudou a melhor contactar com a realidade civil africana. Como já anteriormente referi, “muitas fotos tirei (e gravações fiz) mas muitas mais ficaram por tirar”.
São estas últimas memórias, que face às de guerra propriamente dita, considero “Memórias Paralelas”. Assim e depois de um convite para expor algumas dessas fotos surge a concretização da exposição:
***/***/***/***/***
MEMÓRIAS PARALELAS DA GUERRA COLONIAL
GUINÉ 1968 – 70
Com um até para a semana camaradas, segue-se o convite para a exposição que vai estar patente, de 04 de Janeiro a 26 de Fevereiro próximos, no espaço “Vivacidade”, Rua Alves Redol, n.º 364 – B (traseiras do edifício), no Porto.
Fernando Gouveia
__________
Notas de CV:
(*) Postes de:
28 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4256: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia (2): Um alferes desterrado em Madina Xaquili, com um cano de morteiro 60 (I Parte)
8 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4305: A Guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (3): Um alferes desterrado em Madina Xaquili, com um cano de morteiro 60 (II Parte)
21 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4395: A Guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (4): Um alferes desterrado em Madina Xaquili, com um cano de morteiro 60 (III Parte)
28 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4429: A Guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (5): Um alferes desterrado em Madina Xaquili, com um cano de morteiro 60 (IV Parte)
6 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4470: A Guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (6): Um alferes desterrado em Madina Xaquili, com um cano de morteiro 60 (V Parte)
e
26 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4585: A Guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (7): Um alferes desterrado em Madina Xaquili, com um cano de morteiro (VI Parte)
Vd. último poste da série de 21 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5513: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (19): Referências a lugares
Caro Carlos:
Desejo que tenhas tido umas Boas Festas com toda a tua família, estendendo-se estes votos a todos os tertulianos.
Desta vez, apesar de enquadrada na série “A Guerra Vista de Bafatá”, não se trata de uma estória propriamente dita, mas antes um convite para uma exposição de fotografias, que fatalmente teria que acontecer.
A exposição abre no dia 04 de Janeiro e eu estarei lá presente nesse dia a partir das 17 horas.
Mais informo, que apesar de inicialmente não haver intenção de vender as fotos, estou a considerar isso (com um preço simbólico), e nesse caso o correspondente aos meus direitos de autor irão integralmente para as crianças da Guiné–Bissau por intermédio da ONGD “Ajuda Amiga”.
Um abraço
Fernando Gouveia
A GUERRA VISTA DE BAFATÁ
20 – Memórias paralelas
Vista da parte principal de Bafatá. No quarteirão, em primeiro plano situava-se a sede do Batalhão
Foto e legenda: © Fernando Gouveia (2009). Direitos reservados
Já em estórias anteriores referi que tive muita sorte na Guiné. Aliás em todo o tempo de tropa, como em estória futura relatarei. Dos cinco alferes, de Reconhecimento e Informações, que fomos mobilizados na mesma altura, dois com destino ao Q.G. e os outros, aos três Comandos de Agrupamento, considero que Bafatá foi o melhor que me podia ter calhado. Depois de ter ouvido os quatro camaradas que ficaram colocados nos outros locais, mais reforçada ficou essa minha ideia.
Bafatá, como todos sabem, era em 1968-70 uma zona de paz. Tive no entanto a minha pequena dose de guerra. Já aqui contei essa história*: Quinze dias em Madina Xaquili com condições inacreditáveis no que diz respeito a armamento e munições, o que me levou a conceber um plano de fuga caso houvesse um ataque e se acabassem as 16 granadas de Morteiro 60, de que dispunha. Esse ataque, com mortos e feridos, deu-se, como já contei, um mês depois de ter saído desse buraco. E por falar em buraco, sempre considerei o buraco da ponte do Rio Udunduma, por onde passei em Abril – 70, bem melhor que o de Madina Xaquili.
Podem crer camaradas, que se não tivesse vivido essa experiência de Madina Xaquili talvez nunca tivesse escrito texto algum para o Blog, apesar de considerar que a minha quota parte de ajuda no Agrupamento foi tão importante como a dos camaradas que todos os dias andavam de G3 nas unhas. Muita ajuda dei ao Coronel Hélio Felgas para delinear as suas Operações. Recordo o trabalho que deu o planeamento da “Lança Afiada” e só lamento a minha falta de coragem, naquela altura, para dizer ao Coronel que a Operação não ia dar em nada pois todo o pessoal IN iria atravessar o Rio Corubal, pondo-se a salvo. Dias depois sobrevoei a zona e o que se via lá em baixo era um frenesim na reconstrução de palhotas…
As minhas memórias de guerra foram deste tipo, mas paralelamente tenho outras que se reportam à minha estadia em Bafatá e mais concretamente à vivência extra quartel.
Por força de trabalhar no Agrupamento todo o dia até às oito da noite, praticamente só aos Domingos, é que me era possível passear a pé ou de jeep pelas tabancas, quer de Bafatá, quer as que ficavam próximas.
Morei cerca de um ano numa casa da tabanca da Rocha o que me ajudou a melhor contactar com a realidade civil africana. Como já anteriormente referi, “muitas fotos tirei (e gravações fiz) mas muitas mais ficaram por tirar”.
São estas últimas memórias, que face às de guerra propriamente dita, considero “Memórias Paralelas”. Assim e depois de um convite para expor algumas dessas fotos surge a concretização da exposição:
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MEMÓRIAS PARALELAS DA GUERRA COLONIAL
GUINÉ 1968 – 70
Com um até para a semana camaradas, segue-se o convite para a exposição que vai estar patente, de 04 de Janeiro a 26 de Fevereiro próximos, no espaço “Vivacidade”, Rua Alves Redol, n.º 364 – B (traseiras do edifício), no Porto.
Fernando Gouveia
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Notas de CV:
(*) Postes de:
28 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4256: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia (2): Um alferes desterrado em Madina Xaquili, com um cano de morteiro 60 (I Parte)
8 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4305: A Guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (3): Um alferes desterrado em Madina Xaquili, com um cano de morteiro 60 (II Parte)
21 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4395: A Guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (4): Um alferes desterrado em Madina Xaquili, com um cano de morteiro 60 (III Parte)
28 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4429: A Guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (5): Um alferes desterrado em Madina Xaquili, com um cano de morteiro 60 (IV Parte)
6 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4470: A Guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (6): Um alferes desterrado em Madina Xaquili, com um cano de morteiro 60 (V Parte)
e
26 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4585: A Guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (7): Um alferes desterrado em Madina Xaquili, com um cano de morteiro (VI Parte)
Vd. último poste da série de 21 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5513: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (19): Referências a lugares
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