terça-feira, 8 de junho de 2010

Guiné 63/74 - P6562: Contraponto (Alberto Branquinho) (10): Grafia do crioulo da Guiné-Bissau

1. Mensagem de Alberto Branquinho (ex-Alf Mil de Op Esp da CART 1689, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), com data de 6 de Junho de 2010:

Karo Karlos Winhal
Não fiques peocupado, não ensandeci. Quando leres o texto que vai junto, entenderás a razão.

Um abraço do
Alberto Branquinho


CONTRAPONTO (10)

GRAFIA DO CRIOULO DA GUINÉ-BISSAU


Não tenho conhecimento que exista grafia oficial ou oficiosa do Crioulo da Guiné-Bissau.

Por outro lado, ninguém põe em dúvida que a sua língua-base é o Português, apesar de encontrarmos vocábulos que são de origem francesa devido ao facto de a Guiné-Bissau estar cercada por dois países francófonos.

Então, porquê escrever o Crioulo da Guiné-Bissau com letras que, na pureza da sua origem, não são do alfabeto português?

Porquê escrever “kriol” e não “criol”? Porquê escrever “ká” e não “cá”? Porquê “kurpo” e não “curpo”, “macaco-kom” e não “macaco-com”? Porquê usar kk e ww?

Será que é para dar um aspecto exótico à escrita? Por serem letras usadas em outras escritas africanas ou com influência anglófona?

Se é o exotismo que se procura, sugiro, então, que se escreva “makako-kom”, que, além do mais, transmite, também, um aspecto “amacacado”.

Apesar de, por força das circunstâncias (terminologia científica e outras), termos sido obrigados a receber esses caracteres para escrevermos algumas palavras, não queiramos ser ortógrafos “avant-la-lettre” com respeito à forma de escrever num espaço geográfico que não é o nosso. Deixemos as autoridades guineenses decidir sobre a grafia do seu crioulo e não comecemos já a “estrangeirar” essa miscigenação linguística que pode continuar fiel à sua origem.

Ainda recentemente pudemos ver, aqui no blogue, uma fotografia de uma mulher guineense (com uma criança às costas) escrevendo no quadro preto de uma escola. Escreveu “Candê”, “Calissa” e não “Kandê”, “Kalissa”. Assim, também, ”Camará” e não “Kamará”.

Claro que convém ter presente que muitos apelidos são comuns à Guiné-Bissau e à Guiné-Conacri e ao Senegal. Nas nossas movimentações dos tempos da guerra, encontrámos muitas vezes cidadãos com “dupla cidadania” (quero dizer, com documentos de identificação de dois países). E, nesses casos, o atrás mencionado apelido “Candê”, estaria, francofonamente escrito, “Candé” ou “Kandé”. Aí está, também, outra diferença – como passar à escrita o som “ê”.

De qualquer modo, a última palavra será da própria Guiné-Bissau.

Convém lembrar que o(s) crioulo(s) de origem portuguesa falado(s) na parte ocidental de África (Guiné, Cabo Verde, São Tomé) deu(deram) origem a um “papiamento” falado em ilhas da América Central (que contém, também, palavras de origem holandesa e espanhola) e que tem estatuto de língua oficial. Tive oportunidade de o ouvir falar em Curaçau há poucos anos, durante um Carnaval. Este caso será, talvez, o único que beneficiou desse estatuto, mas muitos outros existem em outros lugares do mundo onde o Português foi falado por navegadores e comerciantes.

Alberto Branquinho
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 19 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6430: Contraponto (Alberto Branquinho) (9): Eutanásia?

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