quinta-feira, 13 de fevereiro de 2025

Guiné 61/74 - P26491: As nossas geografias emocionais (45): Café Bento / 5ª Rep: excertos de postes e comentários - Parte II: Ainda conhecemos o senhor Bento (Victor Tavares / Lucinda Aranha)



Guiné > Bissau > Outubro de 1973 > A então avenida da República: ao fundo o Palácio do Governador, em primeiro plano, do lado esquerdo, a Casa Gouveia e à direita, a esplanada do Café Bento, sob o arvoredo, com carros estaci0nados à frente; a seguir, a sede da administração civil e depois a catedral católica. Continuamos a não ter uma boa foto da esplanada do do Café Bento / 5ª Rep... Bolas, ninguém se pôs de costas para a Casa Gouveia para poder tirar uma foto do raio da esplanada em frente!...

 Foto (e legenda):  © António Graça de Abreu (2011). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Seleção de comentários inseridos nas postagens de:

  •  5 fev 2025 14:52
  • 7 fev 2015, 11:04
  •  10 fev 2025 o8:28
  • 10 fev 2025  14:49

da página do Facebook da Tabanca Grande:

 
(i) António Pimentel:

Foi aqui 
[no Café Bento] que conheci o Marco Paulo (1º cabo Simão) apresentado pelo meu inesquecível amigo alf mil Castanheira.

(ii) Victor Tavares:

Pois,  camarada e amigo Luís, eu fui apenas 2 vezes ao café Bento, eu parava pouco em Bissau/Bissalanca mas conheci o sr. Bento dessas vezes.

Vim a revê-lo passados quase 50 anos, estava ele internado no Hospital da Universidade de Coimbra num quarto, onde eu fui parar depois de uma das 29 cirurgias que não dá para recordar a data mas talvez lá por volta de 201 mais ano menos ano...

Quem o visitava diariamente era uma empregada e mais raramente uma senhora que me disseram ser sua filha.

Sei que quando vim embora, ele ainda lá ficou, mas ele não estava muito bem, não, não mais soube nada dele, e ele não estava em condições de conversar, eu comunicava através da empregada e esta não estava muito á vontade nas comunicação .

(iii) José Viegas:

Uma história engraçada no Café Bento: a malta por norma ia lá engraxar os sapatos ou as botas aos vários engraxadores que lá havia. Em 1967 no Vietnam armadilharam caixas de graxa e, quando lá iam para engraxar, eles os engraxadores desviam-se e as caixas explodiam matando a tropa... E a malta com medo que lhes acontecesse o mesmo ninguém engraxava.

(iv) Amilcar Mendes:

Puseram, sim, um engenho explosivo, em fevereiro de 74, no Café Ronda. Estava lá. Morreu um 1º Cabo da 38ª CCmds e outro sold ficou ferido. Paravamos pouco (os Comandos) na 5a. REP , lá paravam os heróis do arame farpado (nem todos eram , claro).

Abaixo da 5ª Rep ( mais conhecida pela casa dos mentirosos...) existia vida. Pelicano, Zé da Amura, a casa da Ostras, onde se reunia muito militar

 (v) Lucinda Aranha:

Victor Tavares, eu não conheci o Café Bento,mas conheci o sr. Bento, já muito doente. Tinha partido a anca, ficou preso à cama,uma empregada muito simpática tomava conta dele e fez- me a visita guiada à vida dele pelas fotografias que enchiam os móveis da casa, em Coimbra. 

A filha apareceu, médica , e desconfio para me tirar as medidas não fosse alguma vigarista. Fui de propósto a casa dele para o entrevistar para o meu livro "O Homem do Coimbra". Estava muito lúcido, só me pedia para não me ir embora e chamar o meu marido para ficarmos à conversa.

(vi) Tabanca Grande:

Será que o velho Bento ainda é vivo ? O Vitor Tavares chegou a estar com ele no hospital, em Coimbra. E a filha do "Manel Djoquim", o homem do cinema ambulante do nosso tempo, também falou com ele, quando andava a escrever a biografia (ficcionada) do pai (Lucinda Aranha, "O homem do cinema: a la Manel Djoquim i na bim", Alcochete, Alfarroba, 2018, 165 pp.)

(vii) Lucinda Aranha

Tabanca Grande Luís Graça,  a mim a senhora que tomava conta dele disse- me que ele se deixou morrer, não queria comer porque estava acamado por ter partido a anca. Quando o entrevistei ele jâ não se levantava mas estava lúcido de cabeça.

(viii) A. Marques Lopes (1944-2024):

(...) De manhã, o Almeida Campos, um alferes que andava por lá, convidou-o para ir com ele ao Bento. Era onde se sabia de tudo, porque por lá passavam quase todos os que vinham ou ainda estavam no mato e contavam coisas, tudo, operações, ataques, mortos. Era o sítio das informações, por isso lhe chamavam a 5ª REP, que era a Repartição de Informações do QG. Todos ficavam a saber coisas, todos e também os miúdos e miúdas que entre eles andavam a vender camarão, caju e mancarra ou a engraxar as botas dos mais aprumados. Muita coisa o PAIGC devia saber também através deles.
Comeram uns camarões e beberam umas canecas. O Almeida Campos tinha sido apontador de obus lá para o sul e estava também à espera de embarque para ir embora.
– É pá, e se a gente fosse dar uma volta? (...)


(ix) Tabanca Grande:

É pena, camaradas, não haver mais pequenas "estórias" do Café Bento... Que a História, com H grande, essa não passou por lá... Pormenor interessante: devia haver  poucas senhoras, esposas dos nossos militares, que se "atravessem", nesse tempo, a sentar-se numa esplanada como esta... Ou havia ?


(x) César Dias:

Não estive muitas vezes na 5ª Rep, mas um dia assisti a um comerciante a querer comprar camarão a uma bajuda, mas queria pagar uma ninharia, fiquei tão impressionado com aquilo que comprei todo o camarão do balaio, ela até me deu o balaio. Com 300 pesos foi uma festa na messe de sargentos em Mansoa.

(xi) José Colaço:

Porque não há mais "estórias" do café Bento ?... Porque este era frequentado em grande parte por sargentos xicos e oficiais do quadro e se aparecesse por lá o Zé soldado aproveitavam logo para os chamar à atenção por qualquer coisa que não estava bem e ameaçar com uma "porrada". Eu próprio só me sentava na esplanada do café Bento quando tinha autorização para me fardar à civil.

(xii) Luis Filipe Nascimento

Fui abordado pela PM na 5ª REP por estar na esplanada com fardamento novo a brilhar depois de vir do mato, julgaram me pEriquito, mostrei lhe a insígnia da medalha e seguiram em marcha lenta.

(xiii) José Viegas

Outro sitio também era a D. Berta onde se comia a famosa bola de gelado com whisky.

(xiv)  Ernesto Pacheco Duarte

O café Bento ! 5ª. Repartição ! Pelo ano de 1966, andei por lá !

Tive o privilégio de vir... De vir inteiro ! E algumas pequenas coisas !

Naquele mundo tudo era pequeno... Ou muito grande ! Vim algumas vezes a Bissau !
E estive lá mesmo uns dias, tirando um curso de encarregado do correio da unidade !

Mas o café Bento para mim... Recordo dele a malta conhecida que lá consegui encontrar !
Para quem estava uns dias... Nesses dias aparecia sempre um fulano conhecido !

Havia muitos marinheiros da minha terra... Recordo como dias bons ! Depois voltei muitas vezes às compras... (...)

 (xv) Casimiro Fernandes:

No Café Bento bebi umas "cervejolas" mas também ouvi contar o muito que os nossos "camaradas" sofreram nos mais diversos setores. No passado dia 6 de fevereiro, recordei com muita saudade a famigerada travessia do rio Corubal, onde, por acidente, morreram cerca de 50 homens, 27 dos quais pertenciam a uma companhia do meu Batalhão. São estes e outros episódios semelhantes que devem fazer parte da História que a maioria dos "politiqueiros" de agora não conhecem (ou não querem conhecer) e muito menos gratificar.

(xvi) Liberal Farias Correia

Frequentei o café Bento em 1964 (tinha ficado com a ideia que era restaurante). Antes de irmos participar numa operação. Eu e o Rodrigues furriel de transmissões. Comiamos um bife com vinho dão

Abraço do Liberal Correia, furriel CART 67. Bissau em intervenção de maio a setembro 1964 depois Bajocunda Pirada Paunca, Maio 1964 a Abril 1966.


(xvii) Raul Castanha;


E verdade, o Bento era como uma central de informações onde tudo se sabia e tudo se comentava. Por lá passaram figuras incríveis como era o caso do pequeno Biafra, uma criança adorável na sua inocência e na deformidade que tinha, uma enorme escoliose, e que oferecia a mancarra numa malga de esmalte e se dispunha a encaixar os sapatos.

O que terá sido dele passados mais de 50 anos?

Também um outro, de caixa de encaixar mais velho e de olhos muito escuros e com uma pulseira de prata de bafatá, que diziam ser informador do PAIGC.

(xviii) Jorge Pedro:

Para além de ser um local em que possivelmente circulavam informações um pouco pela calada, quase silenciosamente, o Café Bento era onde os conterrâneos se encontravam. Sempre que passava pelo Bento, encontrava um conterrâneo. Ali púnhamos a “ escrita em dia” (...)

(xix) Amílcar Mendes:

75% do que o PAIGC apanhava no Bento, 5ª Rep, era contra- informação, as conversas que se ouviam na gritaria era treta...

(xx) Jose Carvalho


Creio que no QG/CCFAG (A,mura)  só existiam 4 Repartições. Dai terem dado o nome de 5ª Rep  ao Café Bento

(xxi) Tabanca Grande: 

Sim, há aqui um "lapso" do autor (da "Canbra Cega", o A. Marques Lopes)... Não havia a 5ª Rep, no QG/CCFAG, (Amura), a Rep das Informações... O QG/CTIG era em Santa Luzia...

(xxii) António Pimentel:

Deixou saudades, o Marques Lopes. Lembro-me de ele ter contado essa história.

(xxiii) Augusto Catroga;


Assisti ao rebentamento de um pneu na avenida, quando estava a beber um gin tónico no Bento. Numa mesa perto estava um paraquedista que,  segundos mais tarde,  estava debaixo dum camião estacionado perto. Tremia como varas verdes.

(xxiv) Acácio Correia:

Também tive conhecimento por essas bandas do buraco que me estava destinado (o Xime). Só uma correcção, a repartição de informações do QG era a 2ª  repartição ( 2 e 3 informações e operações).
 

Vd. postes anteriores;


5 de fevereiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26461: As nossas geografias emocionais (40): A Casa Gouveia e o Café Bento num conhecido postal da época, da coleção do Agostinho Gaspar (ex-1.º Cabo Mec Auto Rodas, 3.ª CCAÇ/BCAÇ 4612/72, Mansoa, 1972/74)

 4 de fevereiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26459: Bom dia desde Bissau (Patrício Ribeiro) (53): O antigo Café Bento já não é do meu tempo, e foi vítima do "bota-abaixo"...Foi remodelado e até 2023 estave lá instalada a delegação da RTP África

3 de fevereiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26454: Bom dia desde Bissau (Patrício Ribeiro) (52): A antiga Cervejaria Solmar, na Av Domingos Ramos, perto do mercado novo e da Segurança Social

3 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Os comentários no Facebook também merecem aparecer (e deviam aparecer mais vezes) na montra grande do nosso blogue... Com a boa vontade dos nossos "feicebuqueiros", juntámos 20 e tal apontamentos sobre o (para uns saudoso, para outros nem tanto) Café Bento / 5ª Rep.... Entre eles, o de Victor Tavares e o da Lucinda Aranha, que ainda conheceram em vida o sr. Bento, que vivia em Coimbra...

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Poderia acrescentar uma cena que se passa na esplanada do Café Bento, por volta de 1966/67, e que vem relatada num dos meus "contos com mural ao fundo":

(...) A releitura dos seus aerogramas não te permitiu esclarecer cabalmente esta história que lhe sujou a “caderneta militar” (documento, aliás, a que tu nunca puseste a vista em cima, se é que ele não o destruiu em vida).

Há dois episódios que poderiam estar na origem da tal “porrada” ou castigo… Recapitulaste cada um deles, sem poderes entrar em grandes pormenores por falta de informação.

O primeiro terá tido a ver com uma exaltada discussão com a Polícia Militar, em Bissau, quando ele tirou uns dias para ir ao estomatologista. Traduziu-se numa participação contra ele, tudo por causa de um cena de pugilato com outro militar (de que desconhecias a patente, mas o mais provável era ter sido um 1º cabo).

O teu amigo Doc, que estava numa esplanada, a do Café Bento, perto da conhecida fortaleza da Amura, quis fazer justiça pelas suas próprias mãos, contra um grupo de “velhinhos”, ruidosamente festejando o fim de comissão e a véspera de embarque. Deram-lhes para se meter com os “djubis”, os miúdos que vendiam “mancarra" (amendoim), nas ruas da Bissau velha, frequentada pela tropa… Aliás, miúdos e miúdas.

Fizeram-lhes uma série de tropelias, o que começava a incomodar quem estava na esplanada, seguramente todos militares, uns fardados, outros à civil. O Doc interpretou isso como um ato de violência gratuita, se não mesmo racista, para mais sendo as vítimas crianças, indefesas, que tentavam ganhar a vida… Porém, de nada lhe valeu, a ele, puxar dos galões. O grupo estava sob a euforia dos vapores do álcool e ninguém mediu as consequências dos seus atos. Às tantas generalizou-se a pancadaria, e voaram cadeiras da esplanada, até que chegou a Polícia Militar e restabeleceu a ordem.

Abreviando a história, houve várias detenções. O Doc foi levado para o quartel da PM. Ficou lá cerca de uma manhã. Mas houve testemunhas que abonaram a seu favor. Pelo menos, um dos alferes ou furriéis que estavam sentados na esplanada, e que, por cobardia, comodismo ou cautela, não se quiseram meter ao barulho.

− Afinal, um militar fardado, para mais oficial, está ou não está 24 horas por dia de serviço?! − interrogava-se o Doc, em voz alta, a limpar o sangue do sobrolho e ainda a espumar de raiva contra o grupo de arruaceiros. (...)


Fonte: Excerto de poste de 6 de novembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26119: Contos com mural ao fundo (Luís Graça) (35): Nunca digas "coragem!", ao ouvido de quem está a morrer e sabe que vai morrer

JOSÉ MARIA PINELA disse...

Eu andei por essas bandas, 71-72. Bat. Cav. 3846. parece que foi ontem! como o tempo passa!!!