sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Guiné 63/74 - P15127: Agenda cultural (424): "Canções da Guerra", um programa da Antena 1, todos os dias, a partir de 14 do corrente, de 2ª a 6ª feira, às 10h45, 14h55 e 20h55, com António Luís Marinho...

1. Canções da Guerra, um programa da RTP, Antena 1, todos os dias, de 2ª a 6ª feira, a partir de 14 do corrente:

Sinopse:

A guerra colonial, tendo em conta o seu enorme impacto social, foi motivo de canções. Desde logo, o hino "Angola é Nossa", criado logo após o início da rebelião em Angola que levou a uma guerra que durou 14 anos.

As canções ligadas à guerra falam da vida dos soldados, da saudade da terra, ou criticam, de forma mais dissimulada ou mais direta, a própria guerra.

Em programas diários de cerca de 5 minutos, vão apresentar-se as canções cujo tema é a guerra colonial, enquadradas por uma pequena história, que pode ser a da própria canção, do seu autor, ou um episódio que com ela esteja relacionado.

Antena 1, de 2ª a 6ª feira às 10h45, 14h55 e 20h55. (*)


2. Ficha Técnica:

Título Original: Canções da Guerra
Com: António Luis Marinho
Produção: Joana Jorge
Autoria: António Luis Marinho (**)

3. Cinco episódios disponíveis até hoje:



(...) Como sigo o seu blog, que é um referencial importante para quem se interessa pelo tema da guerra de África, gostaria de lhe propor que divulgasse o programa mas, sobretudo, que incentive os seguidores do seu blog a enviarem sugestões de músicas e histórias ligadas a elas. (...)

(***) Letra de Santos Braga e música de Duarte Pestana:

(...) Quando a guerra teve início em Angola, em Março de 1961, o governo português decidiu responder prontamente, enviando milhares de soldados para combater naquele território africano. No final de 1961, já combatem em Angola 33 mil e 500 soldados portugueses. Era necessário, no entanto, convencer a população portuguesa, de aquém e além- mar, para a necessidade daquela guerra.

Era preciso que ninguém duvidasse de que Angola fazia parte de Portugal.

Assim nasceu, em Junho de 1961, o hino “Angola é nossa”, com música de Duarte Pestana e letra de Santos Braga, interpretado pelo coro e orquestra da FNAT – Federação Nacional para a Alegria no Trabalho.

Trata-se de uma notável peça de propaganda. Um hino heróico e triunfalista, que se tornou de imediato numa espécie de hino de Angola, que fechava e abria as emissões de rádio e era cantado nas escolas. (...)




(****) Letra de Felix Bermudes e João Bastos, música de António Melo:

(...) Nos primeiros meses a seguir ao início da guerra em Angola, não houve inspiração para construir canções inspiradas no conflito. Só quando a guerra entrou na rotina das famílias portuguesas é que começaram também a surgir as primeiras canções, inicialmente de apoio aos soldados e à sua participação naquela guerra.

Por isso, o “Fado das trincheiras”, composto em 1940 para o filme “João Ratão”, de Jorge Brum do Canto, que conta o regresso de um soldado português da frente de batalha da I guerra mundial, começou na ser tocado assiduamente nas rádios, agora interpretado pelo grande fadista Fernando Farinha.

A letra é de Felix Bermudes e João Bastos, e a música de António Melo. (...)



(*****) Na Hora da Despedida:

(..:) Em 1966, a fadista Ada de Castro estreia-se no teatro de revista, no teatro Maria Vitória, na peça “Tudo à Mostra”. Foi ali que cantou o fado “Na hora da despedida”, que se tornaria num grande êxito.

Numa altura em que as opiniões já se dividiam claramente entre o apoio e a rejeição à guerra do ultramar, este fado cumpria inteiramente as três características destas canções de apoio aos soldados portugueses: a resposta ao apelo da pátria e o cumprimento do dever, a despedida e as saudades e desejo de regresso. (...)




(******) Raul Solnado:

(...) Com a guerra no ultramar ainda localizada só na frente de Angola, Raul Solnado apresenta, em outubro de 1961, na revista “Bate o Pé”, um dos maiores êxitos da sua longa carreira: “A guerra de 1908”.

O disco seria editado em abril de 1962 e bateu todos os recordes de venda de discos.

Ainda em 1962, Raul Solnado volta ao tema da guerra, com um número genial: “É do inimigo?”, na revista “Lisboa à Noite”, no Teatro Variedades.

A ridicularização da guerra, num texto notável, que a implacável censura deixou passar. (...)



(*******) Letra de Reinaldo Ferreira e música de Adriano Correia de Oliveira:

(...) Em 1964, Adriano Correia de Oliveira grava um disco de quatro faixas, onde inclui um poema do luso-moçambicano Reinaldo Ferreira, musicado por José Afonso: “Menina dos olhos tristes”.

O disco é rapidamente proibido, mas a canção fica e circula pelos meios clandestinos.

Em 1969, José Afonso grava um single com o título “Menina dos olhos tristes”, também retirado pela censura.

Falar de soldados que morriam, não era possível para a censura do regime. Na verdade, nos 14 anos de guerra, morreram perto de nove mil soldados portugueses, 14 mil ficaram deficientes físicos e muitas dezenas de milhares afetados psicologicamente. (...)



7 comentários:

Luís Graça disse...

O seu a seu dono... Há muita "bagunça" na Net

A letra da "Menina dos olhos tristes" não é do Adriano Correia de Oliveira...

http://letras.mus.br/adriano-correia-de-oliveira/740246/

... mas sim de Reinaldo Ferreira (Barcelona, 1922 - Lourenço Marques, 1959). O autor da música é o Zeca Afonso... A primeira interpretação é do Adriano, se não erro...

[Para saber mais sobre este grande poeta luso-moçambicano, Reinaldo Ferreira, prematuramente desaparecido, clicar aqui:

http://alfarrabio.di.uminho.pt/reinaldo/reinaldo1.html
_____________________

Menina dos olhos tristes

por Reinaldo Ferreira


Menina dos olhos tristes,
O que tanto a faz chorar?
- O soldadinho não volta
Do outro lado do mar.

Senhora de olhos cansados,
Porque a fatiga o tear?
- O soldadinho não volta
Do outro lado do mar.

Vamos, senhor pensativo,
Olhe o cachimbo a apagar.
- O soldadinho não volta
Do outro lado do mar.

Anda bem triste um amigo,
Uma carta o fez chorar.
- O soldadinho não volta
Do outro lado do mar.

A Lua, que é viajante,
É que nos pode informar
- O soldadinho já volta
Do outro lado do mar.

O soldadinho já volta,
Está quase mesmo a chegar.
Vem numa caixa de pinho.
Desta vez o soldadinho
Nunca mais se faz ao mar.


Fonte: Cortesia da página de A.P.Braga (Lisboa) J.João (Braga) (1997): Reinaldo Ferreira > Um Voo Cego a Nada

http://alfarrabio.di.uminho.pt/reinaldo/reinaldo2.html#47


Luís Graça disse...

Teria eu os meus 15/16 anos, quando o Sidney Poitier recebeu o Óscar de melhor ator principal pelo seu desempenho no fime "Os Lírios do Campo" (título original: "Lilies of the Field"), julgo que por volta de 1963.... Nessa altura eu era um voraz leitor de jornais e preocupava-me já a guerra em África, para onde partíam os mais velhos, vizinhos e parentes...

E impressionou-me o facto de o Sidney Poitier ter sido o primeiro ator negro, afro-americano, da história do cinema a receber tal distinção... Nessa altura a luta contra a discriminação racial estava ao rubro... O célebre discurso de Luther King, "I Have a dream" era dessa altura... O Ku Klux Kan ainda aterrorizava e matava impunemente na América, não apenas negros mas também brancos que apoiavam a causa da não-discriminação.

E por cá os jovens, talvez a pensar na "guerra do Ultramar" e nos sangrentos acontecimentos de Angola em 1961, cantarolavam um refrão "Matam-se pretos na Amér...i...cá". Não consigo identificar a letra dessa canção, que alguns de nós parodiavam... Seria brasileira ? Seria adaptação de um canção a favor dos "direitos cívicos" nos EUA ?

Obviamente, que o refrão não era cantado em público... Já sabíamos, alguns de nós, que as paredes tinham ouvidos...

"Matam-se pretos na Amé r... i...cá".

Luís Graça disse...

Estava aqui a pensar se esse refrão não seria de uma canção do tempo da ditadura militar brasileira... Com o sotaque do Brasil, a letra ainda ficava melhor, mais cáustica... Era um trocadilho para fugir à censura (cá e lá)... Ainda pensei que podia ser da Rita Lee, mas ela nessa altura era ainda amuito nova... Nasceu como eu em 1947... No princípio da década de 1960, ainda não cantava, nem era conhecida...

Mas pode ser outro cantor ou cantora do Brasil... Talvez o Luís Marinho e a sua equipa possam aproveitar esta "dica"... Na Guné, tal como em Moçambique ("Canções do Niassa"), parodiávamos letras de canções conhecidas... Nalguns casos, era só por gozo, noutros havia um sentido de crítica social...

Hélder Valério disse...

Caro Luís

Também não me lembro do desenvolvimento dessa letra (se é que havia... e sinceramente não me recordo) mas a música com que era trauteada era uma das do filme "West Side Story" cujo título em português foi "Amor sem barreiras". Um dos temas mais conhecidos era o "Maria" e penso que é por aí que uma das músicas 'marteladas' (pelo seu ritmo) prestava-se a 'colar' essa letra.
Hélder S.

Anónimo disse...

Luis

Era o aproveitamento e "adaptação" de um refrão cantado no filme "West Side Story". E o "west side"era (é ainda?) aquele lado... do outro lado da cidade.
Abraço
Alberto Branquinho

Luís Graça disse...

Bingo, é isso mesmo, Alberto!... "West Side Story"!... Obrigado!

O filme norte-americano, musical, de 1961, com música do grande Berstein, foi estreado em Portugal em 1963... Uma das canções adaptadas por nós (, não sei por quem nem onde se a cantava) tinha por refrão o verso "Matam-se pretos na Amer...i...cá".

Os portugueses, que são tão inteligentes como os outros povos, sabiam tourear a execrável (e estúpida) censura!

Anónimo disse...

Luis Marinho
18/09/2015


Caro Luis,

Obrigado pelo feedback. É sempre bom saber as reações ao nosso trabalho.

Lembro-me muito bem da canção. Era uma adaptação de uma canção do filme West Side Story.

Tenho recolhido coisas muito interessantes. Até já tenho uma pequena entrevista com a famosa “Maria Turra”.

Um abraço,

Luis Marinho