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terça-feira, 4 de novembro de 2025

Guiné 61/74 - P27385: Os nossos enfermeiros (21): Tirei o curso de enfermagem (3 meses) na Escola de Serviço de Saúde Militar (Lisboa, à Estrela) com estágiuo de 8 meses no HM Porto (António Figuinha, ex-fur mil enf, CCS / BCAÇ 2884, Bissau, Buba e Pelundo, 1969/71)


1. Mensagem de António Figuinha, ex-fur mil enf, CCS/BCAÇ 2884 (Bissau, Buba e Pelundo, 1969/71).

O António Sebastião Figuinha mora em Miratejo,  Seixal. É membro da Tabanca Grande, nº 861, bem como da Magnífica Tabanca da Linha. 

Tem 15 referèncias no nosso blogue. É autor da série "A Minha Passagem pela Guiné-Bissau em Tempo de Guerra" (de que se publicaram 10 postes).

Esta mensagem é a resposta a um repto do editor LG, lançado aos nossos enfermeiros no passado dia 14:

 "Sabe-se pouco sobre a formação do nosso pessoal de enfermagem militar (furrieís, cabos, soldados maqueiros) no nosso tempo.  Onde tiravam o(s) curso(s) ? Qualidade da instrução ? Matérias dadas ?"


Data - quinta, 30/10/2025, 11:38
Assunto - Curso de enfermeiro militar nos anos 60/70

Olá, Luis.

Conforme o solicitado por ti acerca da preparação de conhecimentos de saúde administrados aos Enfermeiros ( Furriéis, Cabos e Maqueiros) que serviram o exército durante a guerra no Ultramar Português (escrevo ultramar e não colónias porque era essa a designação na altura até porque, Cabo Verde e S. Tomé e Príncipe eram ilhas onde os portugueses foram os primeiros habitantes, e, na Comunidade Europeia,  assim têm tratamento os locais ultramarinos que a França ainda possui e outros países europeus, conforme li nos regulamentos comunitários).

Meu nome para que conste é António Sebastião Figuinha, nascido em Vila Nova de Foz Côa, Engenheiro Técnico Agrário, Furriel Enfermeiro na CCS / BCAÇ  2884.

Permaneci em Bissau desde maio de 1969 até fins de setembro desse ano. Durante este tempo, após a primeira semana, fui convidado pelo Quartel General em Bissau, a fazer um estágio na Granja Agrícola em Bissau. 

Durante este tempo, fui militar da parte da manhã e civil durante a tarde. A minha estadia em Bissau foi também interrompida durante quinze dias em que fui para Buba fazer reforço de saúde neste Quartel que,  na altura , tinha muitos civis por causa de trabalhos na estrada entre esta localidade e Aldeia Formosa.

Fui para o meu Batalhão no Pelundo em outubro de 1969 com a missão de atender as populações, além dos militares da CCS e da CCAÇ 2586 já que, o furriel enfermeiro desta companhia preferia ir para o mato de que atender os seus militares da companhia. Este furriel veio a morrer de doença quase no final da comissão. Nesta altura, eu encontrava-me em Có. 

Fui enviado pelo comandante do Batalhão em finais de outubro de 70 até fevereiro de 71, data do fim da comissão.

Quanto ao curso administrado, este decorreu na Escola de Serviço de Saúde Militar que se situava atrás da Basílica da Estrela e não nos Sapadores em Campo de Ourique.

O curso teve aulas teóricas de anatomia, cuidados de saúde primários de acordo com os casos habituais em África e, em cada um dos locais. para onde poderíamos ser chamados, aulas de acção psicológica com filmes sobre a Guerra na Coreia (aqui alguns dos alunos não aguentavam e saíam para deitar tudo o que tinham no estomago(.

Estas aulas eram dadas por médicos Militares com o posto de coronel ou tenente- coronel.

As aulas práticas eram dadas por primeiros sargentos e visitas a todas as valências do Hospital Militar Principal.


Este Curso teve a duração de três meses com provas escritas no final

Daqui, no meu caso, fui enviado para o Hospital Militar no Porto para fazer um Estagio de oito meses e, no meu caso, em Cirurgia pós-operatória e, onde se encontrava o Posto de Socorros que me ajudou nos conhecimentos que adquiri.

Regressei a Lisboa onde passei por Oftalmologia , Otorrino e por último, em Campolide no anexo e no serviço de deficientes com serviço de Fisioterapia Física, e da Fala. 

Daqui, fui mobilizado para a Guiné em maio de 1969. Já não contava, dado ser já desde princípios de abril tinha sido promovido a furriel e, já estava a ser preparado para tomar conta da parte administrativa do serviço 6 de Campolide.

Para terminar, devo dizer que que a formação que nos foi dada desde que cada um de nós se aplicasse na dita formação, estavámos habilitados a cumprir bem o nosso dever.

 A escola de Saúde Militar entregou-me um diploma comprovativo dessa formação. Na Guiné, não tive ajuda de Médico vários meses e consegui dar conta do recado. Na vida civil, vários Médicos elogiaram a formação que tínhamos adquirido.

Amigo Graça, espero poder ter-te ajudado sobre este tema .

Com um grade abraço

António S. Figuinha

Hoje Eng Tec Agrário aposentado

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Guiné 61/74 - P27384: A nossa guerra... a petromax (1): Quem é que ainda se lembra dos candeiros a petróleo ? Em 1964, em Guileje, Gadamael, Ganturé, Sangonhá, Cacoca, Cameconde... Em 1967/68, em Ponate, Banjara, Cantacunda, Sare Banda, Ponta do Inglês...



Candeeiro antigo a petróleo Hipólito de 350 velas
(Com a devida vénia, OLX: anúncio já não disponivel)


Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Sector L1 (Bambadinca) >  Destacamento da Ponte do Rio Udunduma > Setembro de 1973 > CART 3494 (Xime e Mansambo, 1971/74) > Uma foto rara : assinalado a amarelo está um candeeiro a petróleo de camisa, um petromax, possivelmente de 350 velas, que era fabricado em Portugal pela Casa Hipólito, de Torres Vedras. 

"A mesa polivalente, onde se comia, escrevia, lia,  jogava e conversava. Em suma: o espaço de socialização e de partilha. Da esquerda para a direita: Gregório Santos, José Sebastião, Ricardo Teixeira e eu [Jorge Araújo] participando no 'mata-bicho' das tardes, preparando-nos para mais uma noite de muitas estrelas."

Foto (e legenda): © Jorge Araújo  (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar:  Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
 




Capa do livro "Casa Hipólito : história, memórias e património de uma fábrica torriense / Joaquim Moedas Duarte ; pref. José Amado Mendes ; rev. cient. Jorge Custódio. - 1ª ed. - Torres Vedras : Associação para a Defesa e Divulgação do Património Cultural de Torres Vedras : Associação Portuguesa de Arqueologia Industrial, 2017. - 376 p. : il. ; 23 cm



1 Quem se lembra do velho "petromax" que iluminou muitas das nossas noites de breu na Guiné ? E nomeadamenmet nos primeiros anos da guerra, em destacamentos perdidos no mato ...

Eu nunca tive o "privilégio" de ter um pretomax no destacamento da ponte do rio Udunduma, na missão do sono em Bambadincanzinho, nas tabancas fulas em autodefesa que fui reforçar ou no destacamento do reordenamento (de população balanta e mandinga) de Nhabijões !... 


Fonte: Anúncio do OLX
Mas há quem se lembre... O petromax, das fotos acima, era da  Casa Hipólito, de Torres Vedras. Era um candeeiro a petróleo, de camisa.. Havia vários modelos, todos a petróleo/querosene, só mais tarde evoluiu para o gás...  

Havia candeiros de 150 velas, 250 velas, 350 velas, 500 velas... Pelo que vejo nos anúncios do OLX, estes candeeiros antigos podem ainda hoje valer entre os 50 e os 150 euros...Os modelos novos podem custar 300, 400, 500 euros...

O de 500 velas (ou CP="candle power") era o de topo de gama. 

O de 150 velas dava para 10 horas (1 litro de querosene / petróloe). Aplicaçáo: Uso doméstico, iluminação de tenda pequena ou posto de sentinela;

O de 250 velas tinha um autonomia de 7 horas, dava para iluminar um secção do perímetro de
arame farpado, uma cozinha de campanha, um ficina.

O de 350 velas (5 horas de autonomia) iluminava um de pátio, um pequeno acampamento, uma enfermaria.

O de 500 velas (4 horas de autonomia) iluminava superfícies maiores: quartéis, destacamentos, missões religiosas, médios / grandes acampamentos. Um candeeiro Petromax de 500 CP (ou velas) é comparável, em brilho, a quatro lâmpadas incandescentes de 100 W, mas concentrando a luz num feixe mais intenso.

Náo sabemos qual(quais) o(s) modelo(s) disponibilizado(s) pela Intendência. Mas pelo menos o de 150 velas já existia em 1967, 

"Petromax" era/é  uma marca registada, de origem alemã, fabricada em Portugal sob licença,a partir de 1949. Mas a Hipólito também tinha modelos próprios.


2. Ter um petromax em casa, no meu tempo de miúdo, era uma novidade, uma  coqueluche. Usava-se na pesca aretsanal e na pesca ao candeio (o pescador mais "abonado"; ainda me lembro da lanterna, luminária  ou lampião a carbureto)... Nas oficinas, para trabalhar à noite. E os mais remediados passaram a substituir o velho candeeiro a petróleo pelo petromax, enquantio não chegava a eletricidade de Castelo de Bode (a barragem foi inaugurada em 21/1/1951).

A palavra "petromax" entrou no nosso vocabulário nos anos 50. E o termo já está hoje grafado nos  nossos dicionários.

Temos diversas referências ao uso do "petromax" na iluminação das nossas instalações militares no CTIG (a par das garrafas de cerveja que, depois de vazias,  eram cheias de petróleo, levavam uma tampa  furada por onde passava uma mecha, torcida ou pavio funcionando à noite como luminária ou candeeiro improvisado).

Segundo a descrição da Wikipédia, "consta de um depósito, onde está introduzida uma bomba de pressão, do qual sai um tubo tendo na extremidade um vaporizador e fixa a este uma camisa em seda em forma de lâmpada, protegida por um cilindro em vidro. No cimo tem uma chaminé por onde saem os gases." (Vd, imagem acima).
 
Para quem quiser saber mais, aconselha-se uma visita à página do Facebook Memórias da Casa Hipólito de Torres Vedras, da autoria de Joaquim Moedas Duarte, criada no âmbito do Mestrado em Estudos do Património, da Universidade Aberta de Lisboa. 

Sabemos que esta grande empresa metalúrgica (o maior empregador da região) forneceu diversos equipamentos de iluminação para as Forças Armadas. Começou por ser uma pequena oficina de latoaria no início do séc. XX. Algumas décadas depois era já uma grande metalúrgica, com 1400 colaboradores.


3. Vejamos algumas referências ao petromax no CTIG:

Já temos uma série "A minha guerra a petróleo" (*), da autoria do ex-cap art (hoje coronel na reforma) António J. Pereira da Costa, membro da nossa Tabanca Grande.

Iremos citá-lo em próximo poste. Inspirados naquele título, é que nos lembrámos de repescar postes com referência a este descritor, "petromax". 

Em todo o caso, convém lembrar que a "A minha guerra a petróleo" (título que o autor voltou a usar no livro de memórias que publicou, sob a  chancela da Chiado Books, em 2019) tem um sentido metafórico e irónico. Mais diria que é também  uma amostra da literatura "pícara" que se tem publicado sobre a nossa guerra.

 Temos que revisitar esta série. Mas para já registe-se que o tom  que o nosso Tó Zé (para os amigos da Amadora)  usa, é  muitas vezes reflexivo e sarcástico, evocando as dificuldades logísticas e humanas da guerra (por exemplo, o combustível escasso, o calor, o esforço físico e moral, a burocracia). Neste contexto, a expressão “a petróleo” serve também para sublinhar   o carácter absurdo, tecnicodependente e mecanizado da guerra moderna,  que não funcionaria sem máquinas, motores, material, combustível, e sobretudo sem  uma máquina pesada que se impõe sobre o indivíduo. Aliás, nenhuma guerra.

Física e metaforicamente falando, foi de facto uma "guerra a petróleo", a nossa... Nalguns caso, um pouco mais evoluída, do ponto de vista da tecnologia com a introdução do "petromax " e a seguir do "gerador elétrico"...

Tudo indica, entretanto, que nos primeiros anos da guerra, na Guiné, o uso do "petromax" (ou lanterna de incandescência...)  fosse mais generalizado, servindo inclusive para iluminar o perímetro de defesa dos aquartelamentos, como no caso de Bedanda, por exemplo, ao tempo do nosso camarada Rui Santos, em 1963, bem como outros aquartelamentos  e destacamentos.

Cite-se, na região de Tombali, e ao longo da fronteira  com a Guiné-Conacri,  no 1º semestre de 1964, destacamentos como  Guileje, Gadamael, Ganturé, Sangonhá, Cacocca, Cameconde, etc.

Mas também na zona Leste, na região de Bafatá: Ponta do Inglês,no subsector do Xime (setor L1), Banjara, Cantacunda, Sare Banda, etc., no subsector de Geba (sector L2)... Ou na região do Cacheu, Ponate, por exemplo...

Em sítios isolados (destacamentos, tabancas em autodefesa, etc.), o uso do "petromax" levantava questões de segurança. Era um alvo fácil . E talvez por isso fosse distribuído com parcimónia. Não sabemos, por exemplo, quantos camaradas nossos morreram, de tiros isolados, à noite, disparados por "snipers". Ou de ataques junto ao arame farpado, como Sare Banda, 1968.

Depois vieram os geradores e passou a haver luz elétrica, pelo menos à noite... Mas, nos destacamentos, em Ponate, em 1966,  em Banjara, em 1967, na Ponta do Inglês, em 1968, no Biombo, em 1970, no rio Udunduma, em 1973, etc. continuava a recorrer-se ao "petromax".


Sangomhá, 1964 (**)

(...) "Depois de, em Ganturé, existirem as condições mínimas de sobrevivência para a instalação das tropas que aí permaneciam, o Pel Rec Fox 42 juntamente com tropas recém chegadas à Guiné [CART 640 ] e com um Pelotão de Milícias rumou até Sangonhá a 21 de maio de 1964.

Como de costume segue-se a capinagem, a vedação de arame farpado em volta da tabanca, que seria agora um quartel, a colocação de cavaletes para instalação dos candeeiros a petróleo (petromaxes), a que alguns “valentes” iam dar pressão de ar durante a noite, sempre que necessário." (*)

.
Sare Banda ,8 de setembro de 1968 (***)

(...)  Sare Banda (...) estava perto de Sinchã Jobel (importante base do PAIGC, e muito bem equipada, como é claro pelo material que deixaram), e é natural que fosse atacada.

O alferes morto foi o Carlos Alberto Trindade Peixoto. O outro morto foi o Furriel Raul Canadas Ferreira. Mas as circunstâncias da morte deles não estão devidamente relatadas.

Foi assim: este, como todos os destacamentos da CART 1690, não tinha luz eléctrica, nem mesmo um miserável gerador. Eles estavam os dois numa tenda a jogar às cartas, com um petromax aceso (depreende-se, aliás, do relatório as péssimas condições de instalação). Para os guerrilheiros foi muito simples, foi só apontar o RPG2. (...)


Banjara, 1967 (****)

De qualquer modo, as companhias deviam ter, em "stock", este precioso utensílio... mas era preciso garantir a disponibilidade de querosene/petróleo iluminante e de "camisas"...
 .




Guiné > Zona leste > Geba > Banjara > CART 1690 (1967/69) > Excerto de uma requisição de material, com data de 9/6/67, feita pelo alf mil Alfredo Reis,  na altura a comandar o destacamento de Banjara.

Alguns dos artigos requisitados (excerto):
  • fósforos, 
  • palha de aço,
  • camisas para petromax de 150 velas.
  • torcida e vidro (?) para o frigorífico (...),
  • pregos para pregar as chapas,
  • aerogramas,
  • selos, 
  • 12 esferográficas (uma vermelha e as outras azuis),  
  • bloco de cartas,
  • Omo e sabão, 
  • uma garrafa de whisky, 
  • Sumol ou outros sumos [...]

Foto: © Alfredo Reis (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

(Continua)

(Revisão / fixação de texto, itálicos, negritos: LG)
____________

Notas do editor LG:


(*) Vd, poste de 6 de maio de 2019 > Guiné 61/74 - P19752: Notas de leitura (1175): A Minha Guerra a Petróleo, por António José Pereira da Costa, Chiado Books, 2019 (Mário Beja Santos)
(***) Vd. poste de 28 de maio de 2005 > Guiné 63/74 - P28: Um ataque a Sare Banda (1968) (A. Marques Lopes)

(****) Vd. poste de 20 de novembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15388: Álbum fotográfico de Alfredo Reis (ex-alf mil, CART 1690, Geba, 1967/69) (3): O que é um homem precisava no mato, num miserável destacamento como o de Banjara, em 1967 ?

segunda-feira, 3 de novembro de 2025

Guiné 61/74 - P27383: Manuscrito(s) (Luís Graça) (277): "A Rua Suspensa dos Olhos", de Ábio de Lápara, pseudónimo literário de José António Bóia Paradela (1937-2023), ilhavense, urbanista, arquiteto e escritor - Parte II: a rua da minha infància


Capa do livro "A Rua Suspensa dos Olhos" de Ábio de Lápara (edição de autor,  José A. Paradela, Aveiro, 2015, 164 pp.) (*)...

Ábio de Lápara é o pseudónimo literário de José António Bóia  Paradela.  Imagens: arquivo de LG + Matilde Henriques 


Fotos (e legendas): © Luís Graça (2025). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Teria feito 88 anos no passado
dia 30 de outubro (*). Nasceu em
Ílhavo em 1937. Morreu no hospital,
em Aveiro, em 2023. Membro da 
Tabanca Grande. Fez a tropa
na marinha de guerra 
e antes, 
aos 17 anos, 
na pesca do
 bacalhau, 
seguindo os passos
dos seus avoengos.
Excertos de "A Rua Suspensa dos Olhos" - Parte II: a rua da minha infância

por Ábio de Lápara / José António Paradela 
(1937-2023)


A Rua Suspensa dos Olhos. Não sei como foi na vossa rua. Se quiserem acreditar, tudo bem, pois lá na minha os prodígios eram matéria banal. Qualquer um, desde que não fosse bisonho, podia embarcar nas cenas prodigiosas que vou relatar.

Aquela rua estava suspensa de mil olhos novos, acabadinhos de nascer. Eram olhos todos diferentes à primeira vista, porque as suas cores percorriam todo o arco-íris.

E quando aquelas cores já não chegavam para tantos olhos, abatiam-se os tons originais com aguadas de cinzento, ora mais claro, ora mais escuro  
e esses eram, na verdade, os olhos mais bonitos,  normalmente distribuídos 
às meninas a condizer com o tom dos seus cabelos.

Em alguns, a pálpebra superior descia um pouco mais sobre a íris e então diziam-se apaixonados. Noutros sucedia o contrário e chamavam-lhes desconfiados. Noutros ainda, uma ligeira rotação transformava-os em marotos!

Mas na verdade, acabados de nascer, eram sobretudo sedentos de luz, que bebiam em grandes quantidades, e também de formas, ora geométricas ora orgânicas, com as quais construíram uma rua perfeitamente igual á minha: as mesmas pedras, as mesmas portas, os mesmos rostos.

Por isso era chamada Rua Suspensa dos Olhos.

E toda a vida ali, era decalcada da outra, com papel químico em tons que evoluíam do azul celeste até ao rubro dos poentes. Só o tempo era mesmo diferente e bastante mais célere, comprimindo os vagarosos acontecimentos que se esmagavam impreterivelmente no fim do sonho, hora a que os poentes coincidiam com o toque a rebate das mães, cansadas do dia.

Cada par de olhos tinha um dono que tratava deles como pincéis de pelo de marta. As suas pestanas eram sanefas aveludadas, e os nomes dos seus donos fundiam-se por vezes com a geografia da rua: Laide do Canto, Laidinha do Cabeço, Amélia dos Cofinhos, Maria Mangona...

Ou com os nomes de coisas de utilidade discutível numa rua suspensa dos olhos: Benjamim Balança, Manéuzinho Fazenda, Júlio Abóbora, Aníbal Repolho, Rosário Papoila, Helena Caracola...

Ou ainda nomes estranhos, herdados de antigos náufragos arrojados à costa pelos temporais, lá para os lados da Barra: Reinaldo Perqueixo, Carolina Campanta, Laura Vigia, Luz Mastrago, Rosa Nocha, Artur Cagula...

Por ironia do destino, eu, que não era especialmente dotado para jogos complicados, tinha todo o tempo disponível para percorrer ambas as ruas e imiscuir-me em trapalhadas de que me sobraram ternas recordações! (...)


Ilhavo > Biblioteca Municipal > 26 de novembro de 2017 > 

O Zé António na apresentação da sua última obra, publoicada também sob pseudónimo: Ábio De Lápara, "O Livro das Santinhas de Apegar: Textos Poéticos". 

É ainda autor de dois livros de crónicas e pequenas estórias sobre as geografias emocionais da sua infància:  “Uma Ilha no Nome” (2007) e “A Rua Suspensa dos Olhos” (2015)

Foto de Etelvina Almeida (editada, com a devida vénia)


***

Para que percebam o meu tamanho de então, dir-lhes-ei que, o senhor Zé Pereira se sentava, normalmente após o almoço, a colher as amenas réstias do sol de Outono, no passeio da ti Cacilda.

Aí, eu instalava-me confortavelmente com os cotovelos apoiados nos seus joelhos, pés balouçando, ligeiramente levantados do chão, observando com minúcia o seu acto de fumar e todos os preparativos necessários para concluir a operação com sucesso:

1- Tirar uma mortalha do saquinho de função

2 - Enrolar nela o tabaco desfiado e molhar com a língua, numa passagem rápida

3 - Colocar a prisca na boca, em posição expectante de lume

4 - Tirar o catracezílio do saquinho, mais o fuzil e a pederneira

5 - Tanger o fuzil até saltar a faísca que ateia o morrão (a isca) no interior do catracezílio

6 - Soprar aumentando o lume do morrão

7 - Encostar a ponta do cigarro ao círculo incandescente e chupar até sair fumo.


Glória das glórias quando tudo terminava e o fumo invadia, cheiroso, os canais tabágicos do senhor Zé Pereira. Então eu descia dos meus cotovelos para lhe pedir que me deixasse colocar a rolha de cortiça na embocadura do catracezílio e assim apagar o lume.

— Mas quem é este senhor? 
— perguntareis intrigados.

Bem... na minha rua houve alguns casos semelhantes, passados em diversos pontos do mundo, que chegavam aos meus ouvidos nas conversas sussurradas dos adultos.
Este aconteceu na América.

Perante a escassez de recursos lá na rua, os homens punham pés ao caminho e “saltavam” noutros países arriscando todo um passado que tinham construído entre porões de dificuldades. Com isso pretendiam reconquistar a capacidade de sonho que a minha rua já não permitia aos adultos. Veleidades dessas, só na Rua Suspensa dos Olhos, acabados de nascer.

Ao saltarem longe da rua, em terras tão estranhas, o fervor da nova luta iluminada pela luz de outros quadrantes e associada ao jogo do fracasso, levava a que por vezes, na rija aposta que fizeram, saíssem a perder.

Poucos homens resistem à derrota,  como sabemos. Por isso, o senhor Zé Pereira ensaiou esquecer o passado... a mulher, as filhas e tudo o que as rodeava. E isso, durante muitos anos, demasiados anos!

Quando, no auge da angústia, resolveu voltar para dar conta do fracasso
 nem todos o faziam, preferindo morrer longe —  os seus olhos escureceram. De que cor estaria o seu coração?

A partir daí, não teve mais lugar na casa que esquecera e ficou a viver na "casinha", o anexo ao fundo do quintal, onde elas lhe serviam a comida em isolamento afectivo. Olho por olho, dente por dente.

Mas para mim, ele foi o avô que nunca tive, a quem ia apanhar "beatas" no tempo em que os cigarros não tinham filtro, para ele desmanchar e secar ao sol sobre uma folha de jornal, compondo depois novos cigarros.

Pagava-me com afecto
 "toma lá, sacanita"!  e punha na minha mão um rebuçado de açúcar negro e mole, que era o que havia na loja do ti Tomé Pascoal naquele tempo de guerra.

A Rua Suspensa dos Olhos era mais comprida que a outra, porque ali circulava mais gente em passada lenta e por isso os acontecimentos tinham sempre uma expressão diferente. (...)

***

Começava no Alto Badeira e seguia, Alqueidão abaixo, até à Malhada, onde após a pequena Ponte de Pedra Vermelha, se perdia na água que tornava o seu fim indefinível e aberto a todas as aventuras.

Por isso elas contam-se infindáveis e articulam-se como as pedras juntouras daquela pequena ponte em arco de volta perfeita. Estreito arco, ligado ao antes e ao depois, ali só passavam os humanos postos nos caminhos da água. (...)

Os que ficaram em terra com as suas carroças e os seus animais, aprisionaram-na mais tarde numa rotunda infame, porque apenas viram nela o arco.

Esqueceram que sem antes nem depois, sem aqueles estreitos percursos que a ela conduziam, o arco é inútil e sem isso não há caminho para a aventura. Só o todo interessava aos olhos que suspendiam a ponte daquela rua: presa, isolada como está hoje, as suas pedras não têm valor porque já não conduzem ao sonho...

Cada estranho que calhasse passar ali, abria o corredor do mistério, onde pululavam cobras cuspideiras da floresta amazónica, navios fantasma de velas rotas e gritos de pássaros surgidos na bruma, lobisomens necessitados de serem picados, bruxas e curandeiros.

Pendurado do medo, por ali ouvi essas estórias na boca do Cagula, o mais velho e suposto herói de aventuras reais, mesmo que imaginárias.

Mas os prodígios mais prodigiosos, eram os rituais na Rua Suspensa dos Olhos.

Não tinham paralelo em qualquer outra. Ali todos os olhos eram recém nascidos, quer os seus donos fossem novos ou fossem velhos.

Irmanados no seu poder encantatório, os ritos exprimiam-se através de cenários desmesurados como nos dramas ultrarromânticos:

  • o fogo purificador, multiplicado por mais de oito fogueiras ao longo de toda a rua na noite de São João, onde se esconjuravam todos os bruxedos, feitiços e maus olhados da rua, mesmo os do alfaiate Lavanca, boa pessoa mas tido por lobisomem;
  • os gigantescos papagaios lançados ao vento da agra, feitos de lençóis ou brancos sacos de farinha de bordo, cosidos e puxados por marinheiros com saudades do mar, como se quisessem contrariar a corrida das nuvens que lhes traziam recados do largo;
  • os jogos de malha para treino de músculos  —  aguardando o tempo de alar bacalhaus no balanço do bote —  onde ao fim da tarde, os olhos suspensos do grande grupo ficavam piscos perante as picheiras esvaziadas na tasca do Ti Tomé Pascoal.

Enfim, homens e crianças, por certo crianças/homens, suspendendo aquela rua na paixão inocente do brincar.

***
A estória já vai longa neste abrir e fechar de olhos aparentemente tão diferentes.

E garanto-vos que era mesmo só aparência, porque mais tarde, quando certos desgostos se impunham, todos os olhos choravam de igual modo lágrimas salgadas ou amargas e a sua expressão carregava-se dos mesmos tons nocturnos.

Foi assim no naufrágio do "Infante de Sagres" ou no naufrágio das traineiras num temporal em Matosinhos e em tantos outros casos onde morreram companheiros, noticiados em dias tempestuosos, quando o ribombo das ondas na costa ecoava pela laguna e se fazia ouvir ao longe sobre a rua.

Nesses momentos, as cores do olhar diminuíam de intensidade e as mulheres cochilavam enroladas nos seus xailes negros de cadilhos tristonhos e a Rua Suspensa dos Olhos descia ao solo, onde o som dos tamancos arrastados na calçada estabelecia um ritmo mais consentâneo com a misericórdia desses dias.

Em setembro encontrei a Laide do Canto, na Costa Nova. Há anos que não a via. Emigrara para a América onde criou filhos e netos. Poucos minutos depois da euforia do encontro, percebi claramente que a Rua Suspensa dos Olhos ainda existia.

Existirá sempre, enquanto viver um par daqueles olhos com as cores do arco íris.


Costa Nova, 1 dezembro 2011

Fonte: Excertos do manuscrito , em pdf, de "A Rua Suspensa dos Olhos",  de Ábio de Lápara, que ajudei a rever em 2015, antes da execução gráfica. Recorri de momento ao manuscrito por não ter aqui à mão um exemplar do livro em papel.

(Revisão / fixação de texto, negritos: LG) (**)

__________________

Notas do editor LG:

(*) Vd. poste anterior >  31 de outubro de 2025 > Guiné 61/74 - P27367: Manuscrito(s) (Luís Graça) (276): "A Rua Suspensa dos Olhos", de Ábio de Lápara, pseudónimo literário de José António Bóia Paradela (1937-2023), ilhavense, urbanista, arquiteto e escritor - Parte I : "Rua das Manhás, a morte levou tudo o que eu amava" 

(**) Último poste da série > 1 de novembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27372: Manuscrito(s) (Luís Graça) (277): As andorinhas de Candoz na véspera da "grande viagem" para a África (subsariana, equatorial e até austral)

Guiné 61/74 - P27382: Notas de leitura (1858): "Atlas Histórico do 25 de Abril", por José Matos; Guerra e Paz, 2025 (1) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 8 de Maço de 2025:

Queridos amigos,
O nosso confrade José Matos é de uma delicadeza extrema, mal foi publicado este seu último livro deu-me conhecimento do seu conteúdo, autorizando a revelá-lo, sob a forma de uma súmula, a todos os camaradas. Habituou-nos ao rigor das fontes e dos documentos, ilustra com textos pontos sugestivos da obra, igualmente recorre a ilustrações que facilitam a compreensão dos factos. Em termos de narrativa, contextualiza toda a guerra de África e desvela os principais acontecimentos de 1973 que aceleraram a sublevação militar; são igualmente mostradas as etapas da sublevação a partir da legislação que criava um Quadro Especial de Oficiais, e assim progredimos até aos preparativos da sublevação, depois do insucesso da revolta das Caldas os militares esboçaram uma estratégia que contemplou os três ramos das forças armadas e uma multiplicidade de unidades espalhadas pelo continente. Da operação em si e dos acontecimentos do 25 de Abril e subsequentes se fará referência no próximo texto.

Um abraço do
Mário



Atlas Histórico do 25 de Abril, por José Matos, um confrade que nos dá imensa companhia (1)

Mário Beja Santos

Acaba de ser dada à estampa pela editora Guerra e Paz o Atlas Histórico do 25 de Abril, a obra mais recente do nosso confrade José Matos, publicação muito sugestiva que nos permite recordar as etapas fundamentais do 25 de Abril, acompanharemos os alvores da revolução, chega-se à obra de Spínola Portugal e o Futuro e será esmiuçada a queda do regime e revisitada toda a operação que vitoriou o MFA; leitura tão mais sugestiva pela apresentação de imagens e quadros esclarecedores dessas diferentes etapas.

Em 1973, ainda havia a ilusão de que a ditadura portuguesa teria condições para durar; mas nesse ano alterou-se profundamente o cenário internacional, mudou profundamente a situação dos teatros de operações da Guiné e também em Moçambique; chegar-se-á mesmo ao momento de questionar se a Guiné era defensável, foi tema abordado no Conselho Superior de Defesa Nacional, perto do final do ano, julgava-se que ainda havia uma janela de oportunidade, isto na altura em que Portugal começa a sofrer as consequências não só da crise petrolífera, o país é castigado pelo mundo árabe, a inflação torna-se galopante. O ministro da Defesa, Sá Viana Rebelo, procura uma solução para a falta de oficiais para a guerra, propõe um Quadro Especial de Oficiais, estala a indignação do corpo de oficiais do quadro permanente, vão começar as reuniões, a primeira na Herdade do Monte do Sobral no Alentejo.

Desenhado por Diniz de Almeida, o croqui com indicações para os militares chegarem ao Monte do Sobral (Arquivo Diniz de Almeida)

Marcello Caetano remodela o Governo, Silva Cunha passa para ministro da Defesa, os militares continuam a protestar como se verá na reunião de S. Pedro do Estoril. A política ultramarina do Estado Novo isolara Portugal, consumia cada vez mais recursos ao país. Mesmo os Aliados da NATO furtavam-se a apoiar Portugal e a compra de armamento era cada vez mais difícil. José Matos rememora os acontecimentos que envolvem tal política ultramarina, o aparecimento da luta armada a partir de 1961. Destaca o problema da Guiné. Refere uma carta do chefe do Gabinete Militar Arnaldo Schulz, Tenente-Coronel Castelo Branco, para o governador, então em Lisboa, dizendo que “o inimigo colocou-nos a mão no pescoço, como bom lutador de judo, e nós temos dificuldade em sair desta posição”. Toda a situação na Guiné é passada em revista, Spínola regressa da Guiné em agosto, não escondendo que a situação se tornou incomportável, não podia haver solução militar, impunham-se negociações. Marcello Caetano nomeia novo governador, ele escreverá nas vésperas do 25 de Abril que se chegara à exaustão dos meios. Nessa altura já Marcello Caetano procurara sigilosamente conversações com o PAIGC, que ocorreram em Londres, em março.
Os apartamentos de Dolphin Square em Londres (Arquivo José Matos), foi aqui que decorreram as conversações secretas entre o PAIGC e o cônsul português José Manuel Villas-Boas, toda esta operação fora urdida pelo embaixador britânico em Lisboa

Prosseguem as reuniões dos militares conspiradores, o autor descreve a atmosfera em que é publicado o livro de Spínola Portugal e o Futuro, a proposta de criar uma federação já não assentava na realidade, não só nenhum dos movimentos de guerrilha era a favor como Portugal perdera oportunidade de preparar o ambiente que permitiria a conjugação de todas estas vontades. Mas o livro foi o rastilho da revolução, como Marcello Caetano constatou após a leitura do livro, na noite de 22 de fevereiro de 1974. Caetano está já entre a espada e a parede, quer demitir-se mas Thomaz não consente, discursa na Assembleia Nacional, pede-lhe um voto favorável para a continuação da política ultramarina, recebe os oficiais generais, demite Costa Gomes e Spínola, enquanto discursa na Assembleia Nacional surge o manifesto dos capitães numa reunião que se realizou em Cascais, Melo Antunes lê aos presentes um documento por ele elaborado: o regime era incapaz de se autorreformar, a perpetuação da guerra não ia resolver um problema ultramarino; os povos africanos tinham direito à autodeterminação, embora devessem ser acautelados os interesses dos portugueses residentes no Ultramar; era necessário um novo poder político eleito democraticamente que fosse realmente representativo das aspirações e interesses do povo.

Com a demissão de Costa Gomes e Spínola, os militares já em estado de sublevação vão procurar, a partir das Caldas da Rainha, caminhar em direção a Lisboa, a operação não é sucedida, Caetano falará dela na sua última Conversa em Família. Pelas diferentes vias diplomáticas, tenta-se adquirir novas armas, suscetíveis de se equiparar com o armamento da guerrilha. Temendo o uso da Força Aérea por parte do PAIGC, é comprado o Crotale.

Originalmente desenvolvido para a África do Sul pela Thomson-CSF e pela Matra, o Crotale era um sistema de defesa antiaérea para alvos a baixa altitude. Uma bateria de Crotale era composta por dois a três veículos de disparo, cada um com o seu próprio radar de controlo de fogo e quatro mísseis prontos a disparar, e um veículo de vigilância/aquisição. Portugal assinou um acordo de compra com os franceses em Janeiro de 1974, mas este sistema já não seria entregue a tempo. A única bateria de Crotale chegaria em Setembro de 1974, após o fim da guerra, e com a ajuda de Thomson foi revendida à África do Sul em 1976.

Vamos ver agora os preparativos do golpe, estiveram a cargo de um estratega, Otelo Saraiva de Carvalho; ele teve o cuidado de envolver várias unidades militares espalhadas pelo país, era imperativo tomar a capital. Sede do Governo, aqui estavam a televisão e as mais importantes estações de rádio e o aeroporto. Todas as operações seriam comandadas a partir de um centro de comando do MOFA (mais tarde MFA), havia necessidade de um sistema de comunicações fiável, ficou a cargo do tenente-coronel Garcia dos Santos, foi ele o responsável por arranjar o material de comunicações para a revolta.

A fuga do tenente Castro Gil:

“No dia 31 de Janeiro de 1974, ao fim da tarde, os guerrilheiros abateram com um míssil terra ar um Fiat G.91 que prestava apoio de fogo ao aquartelamento de Canquelifá, que estava sob ataque do PAIGC. Este quartel na fronteira nordeste com o Senegal distava cerca de 200 km de Bissau e era uma zona flagelada com alguma frequência pela guerrilha. O piloto ejetou-se e aterrou em segurança, mas teve de fugir para não ser capturado pelo inimigo. Decidiu rumar a norte, para o Senegal, indo pelo mato rasteiro ainda com cinzas ardentes para que a aragem do ar apagasse o seu rasto. De manhã, regressou à Guiné e foi ter a uma aldeia. Aproximou-se e escondeu-se nuns arbustos, a observar o movimento dos naturais e a ver se via homens armados ou fardados como os guerrilheiros. Quando viu que era seguro, entrou na aldeia e pediu ajuda. Surgiu então um homem com uma bicicleta e mandou o tenente Gil instalar-se atrás, arrancando a pedalar em direção ao sul para o Quartel de Piche. No quartel, começou a grande festa da recuperação do jovem tenente, que, no dia seguinte, chegou à base aérea de Bissalanca, onde a receção foi apoteótica e onde a festa se prolongou até de madrugada. Bastante alcoolizado, o tenente acabou internado no hospital de Bissau amarrado a uma cama.”

Texto retirado da obra de José Matos.

(continua)

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Nota do editor

Último post da série de 31 de outubro de 2025 > Guiné 61/74 - P27370: Notas de leitura (1857): "Ecos Coloniais", coordenação de Ana Guardião, Miguel Bandeira Jerónimo e Paulo Peixoto; edição Tinta-da-China 2022 (4) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P27381: 1º Cruzeiro de Férias às Colónias do Ocidente (Cabo Verde, Guiné, S. Tomé e Príncipe e Angola, 10 de agosto - 3 de outubro de 1935), de que foi diretor cultural o jovem e brilhante professor Marcello Caetano - Parte II: a nata do regime no cais da Fundição, à despedida

 








Fonte: (1935), "Diário de Lisboa", nº 4572, Ano 15, Sábado, 10 de Agosto de 1935, pp. 6-7 Fundação Mário Soares / DRR - Documentos Ruella Ramos, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_28743 (2025-11-3)




1º Cruzeiro de Férias às Colónias do Ocidente (Cabo Verde, Guiné, S. Tomé e Príncipe e Angola, 10 de agosto - 4 de outubro de 1935), de que foi diretor cultural o jovem e brilhante professor Marcello Caetano - Parte II


1. Foi um acontecimento social e político, a partida do N/M Moçambique  para o 1º Cruzeiro de Férias às Colónias do Ocidente (sic). A notícia foi título de caixa alta nas páginas centrais (pp. 6/7) do "Diário de Lisboa" (e por certo nos restantes diários da capital).

Pela lista das figuras públicas acima identificadas, ninguém faltou à largada do paquete da Companha Nacional de Navegação (CNN), atracado no Cais da Fundição, desde o Cardeal Patriarca ao ministro das Colónias. Salazar, naturalmente, não compareceu. Saía pouco, até por razões de segurança 
Mas estava lá a nata do regime. Ministros e ministeriáveis.

O Cais da Fundição não existe mais.   Era um nome histórico para uma área do Porto de Lisboa, entre Santa Apolónia e o cais do Jardim do Tabaco, associado principalmente à CNN, desde os finais do séc. XIX / princípios do séc. XX.   Situava-se perto da zona de Santa Luzia. Funcionava como um cais de carga e descarga, especialmente para a CNN. Atualmente, a área é agora ocupada por outras infraestruturas portuárias, como o Terminal Multiusos do Beato ou o Terminal Multipurpose de Lisboa (TSA). 

Embora não haja nenhuma foto do jovem professor da Faculdade de Direito de Lisboa, Marcello Caetano, ele era uma das figuras VIP do evento, sendo  o "diretor cultural" do cruzeiro.  À despedida, não faltou o sogro, João de Barros (1881-1960), poeta, publicista, pedagogo, político republicano, figura respeitada da oposição democrática à Ditadura Militar e ao Estado Novo.

Estava planeado que o cruzeiro visitasse, em 56 dias, Cabo Verde, Guiné,  São Tomé e Angola (a visita mais demorada). No regresso devia passar ainda pela Ilha do Príncipe e  Ilha da Madeira.   
  
O Moçambique largou festivamente ao som da sua orquestra  privativa.  Provavelmente com grande relutância, Salazar teve pagar do seu bolso (quer dizer, do erário público) um subsídio de 150 contos para custear a viagem. 

(Continua)

Guiné 61/74 - P27380: Parabéns a você (2429): Tenente-General PilAv Ref António Martins de Matos, ex-Tenente PilAv da BA 12 (Bissau, 1972/74)

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Nota do editor

Último post da série de 2 de Novembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27375: Parabéns a você (2428): Abílio Magro, ex-Fur Mil Amanuense do CSJD/QG/CTIG (Bissau, 1973/74)

domingo, 2 de novembro de 2025

Guiné 61/74 - P27379: 1º Cruzeiro de Férias às Colónias do Ocidente (Cabo Verde, Guiné, S. Tomé e Príncipe e Angola, 10 de agosto - 3 de outubro de 1935), de que foi diretor cultural o jovem e brilhante professor Marcello Caetano - Parte I: um grande evento social e político



Guiné > Bolama > Agosto de 1935 > A chegada do vapor Moçambique, com os participantes do 1.º Cruzeiro de Férias às Colónias do Ocidente ( Cabo Verde, Guiné, S. Tomé e Príncipe e Angola, 10 de agosto - 3 de outubro de 1935), entre os quais se contaria Ruy Cinatti (1915-1986), engenheiro agrónomo, poeta, antropólogo que iria mais tarde estabelecer uma relação especial com Timor. Era amigo do nosso camarada Beja Santos.

O N/M Moçambique esteve ao serviço da Companhia Nacional de Navegação (CNN), entre 1912 e 1939; com mais de 5700 toneladas, 122 m de comprimento e 133 tripulantes fazia a carreira da África Oriental; seria desmantelado em 1939.).


Guiné > Bolama > Agosto de 1935 > "Guarda do Palácio do Governador. Foto de Manuel Emídio da Silva, no âmbito do 1.º Cruzeiro de Férias às Colónias do Ocidente ( Cabo Verde, Guiné, S. Tomé e Príncipe e Angola, 10 de agosto - 3 de outubro de 1935).



Angola > Agosto de 1935 > Visita à Fazenda Tentativa (no Caxito a 60 km a norte de Luanda), no âmbito do 1.º Cruzeiro de Férias às Colónias do Ocidente  ( Cabo Verde, Guiné, S. Tomé e Príncipe e Angola, 10 de agosto - 3 de outubro de 1935). Foto da autoria de Sam Payo.

Fonte: O Mundo Português, Vol II, nºs 21-22, Setembro-Outubro de 1935 (Exemplar pessoal de Mário Beja Santos; digitalização e edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné).



Guiné > Zona Leste > Bafatá > c. 1931 > "Jangada no Rio Geba. Passagem entre Bafatá e Contuboel"... Imagem reproduzida em "O Missionário Católico, Boletim mensal dos Colégios das Missões Religiosas Ultramarinas dos Padres Seculares Portugueses, Ano VIII, n.º 81, Abril de 1931, p. 169 (Exemplar oferecido ao nosso blogue por Mário Beja Santos).


Digitalização, edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2018)


1º Cruzeiro de Férias às Colónias do Ocidente (Cabo Verde, Guiné, S. Tomé e Príncipe e Angola, 10 de agosto - 4 de outubro de 1935),  de que foi diretor cultural o jovem e brilhante professor Marcello Caetano -  Parte I


1. 
 Diz o António Rosinha, em comentário ao poste p27363 (*);

"Uma coisa penso que o Alberto Branquinho se esquece: é  que Caetano foi ministro das colónias, com visita prolongada às colónias. e tinha ideias bem claras, e opostas ao pensamento de Salazar, mas em 1968 já tudo estava nas mãos de Spínola e dos capitães. Caetano já não tinha as ideias de Salazar desde que foi ministro das colónias , está na Internet à mão de todos."

Rosinha: sei que és um leitor apaixonado da história do nosso país, e atento ao que se escreve e se publica sobre o período do Estado Novo e em especial sobre a colonização e a descolonização da "menina dos teus olhos", que era/é  Angola... (Descolonização que foi, estamos os dois de acordo, uma tragédia imensa, para todos; a história poderia ter sido escrita de outra maneira.)

Claro que entre Salazar e o seu sucessor político havia diferenças substanciais na maneira de ser, pensar, estar e fazer... Substanciais mas não antagónicas..."A solução na continuidade" acabou por nos levar a um beco sem saída, com o regime alienando o apoio (que era vital) das Forças Armadas.

Tenho dúvidas sobre o que dizes, que Marcelo Caetano "conhecia bem o ultramar"... 

Seguramente que conhecia melhor que o Salazar que nunca sujou as botas com a terra vermelha de África,  nunca lá foi, de resto, mal saía de São Bento, era um homem que sofria de claustrofobia social.  (Foi a Espanha, não foi comprar caramelos como qualquer português na época da "pesetita", foi  a 1ª vez encontrar-se secretamente com Franco, em 10 de fevereiro de 1942. par ter a garantia de que o homem não tinha intenções de "engolir" o pequeno Portugal e o seu grande império.)

 Muito antes de ser de comissário nacional da Mocidade Portugues (1940/44) e ,a seguir, a ministro das Colónias (1944/47), Marcelo Caetano já era uma "vedeta" do Estado Novo, um dos seus brilhantes "intelectuais orgânicos". Licenciado em direito, em 1927, será o primeiro doutorado (em ciências político-económicas), em 1931, pela Faculdade de Direito de Lisboa.

Oriundo da extrema-direita (católico, monárquico, integralista lusitano), foi um dos apoiantes da Ditadura Militar e depois do Estado Novo.  Participaria na redacção do Estatuto do Trabalho Nacional e da Constituição de 1933. E chegaria rapidamente a número 2 do regime, até que as suas relações com Salazar esfriaram logo em 1947 e depois em  1958. Ironicamente, será escolhido pela extrema-direita do regime (na pessoa do então presidente da República, Américo Thomaz), para suceder, em 1968, a Salazar. 

Em relação a Salazar,  o Caetano tinha a vantagem de "conhecer bem o  Ultramar". Conhecer ? Bom, foi pela primeira vez  à Guiné, por exemplo,  como "turista", em agosto de 1935, e depois em 1969, em 14 de abril, como presidente do Governo, alás, espantosamente, a primeira visita de um chefe de governo ao ultramar, e para mais oito anos depois do início da guerra. (**)

De facto, em 10 de agosto de 1935, vemo-lo partir, de Lisboa, no 1.º Cruzeiro de Férias às Colónias do Ocidente, a bordo do paquete Moçambique, com cerca de 200 (3e náo 250, como estava previsto...) excursionistas, uma boa parte estudantes. Ia fazer 29 anos no dia 19. Houve, por certo, grande festa a bordo.

A iniciativa partiu da revista "O Mundo Português", tendo juntado cerca de duas centenas de "estudantes, professores, médicos, engenheiros, advogados, artistas, escritores, industriais e comerciantes" (incluindo famílias dos estudantes)... Embora subsidiado pelo Governo, com 150 contos, havia 3 classes de passageiros (e respetivos precários; veremos em próximo poste mais alguns aspetos da viagem, que não foi um mar de rosas, até por que o "Moçambique" era velho navio, ronceiro, a vapor!)

O cruzeiro teve claramente um propósito de propaganda colonial, a mobilização dos jovens portugueses para o Império colonial, enfim, um “banho de portuguesismo” (sic).

O cruzeiro foi organizado pela revista "O Mundo Português" ( propriedade da  Agência Geral das Colónias e  da SPN - Sociedade de Propaganda Nacional, dirigido por António Ferro, esta última criada em 1933 e que, em 1945, passaria  a chamar-se SNI - Secretariado Nacional de Informação).

Marcelo Caetano (1906-1980), então já professor universitário, conceituado especialista em direito administrativo, ficou encarregue  da parte cultural do cruzeiro, com “preleções, conferências e palestras” durante a viagem. (O que deve ter sido uma grande 'seca' para os putos.)

O navio visitou as colónias portuguesas da África Ocidental ou “Ocidente”: Cabo Verde, Guiné, São Tomé e Príncipe, Angola. Aproveitou-se as férias escolares. O cruzeiro terminou a 4 de outubro de 1935. Quatro anos depois a Europa (e a seguir o Mundo) estaria em guerra. Impossível repetir aquele cruzeiro.

No arquivo biográfico de Marcello Caetano, na Torres do Tombo, consta que a colecção “6.ª Colecção/Série – Cruzeiro de férias às Colónias (1935-Agosto)” se refere à documentação produzida no âmbito do cruzeiro. 

(Continua)

2.  Marcelo Caetano (Lisboa, 1906-Rio de Janeiro, 1980): nota biográfica sobre

(...) "Marcelo José das Neves Alves Caetano nasceu em Lisboa, em 17 de Agosto de 1906, filho de José Maria Alves Caetano e de Josefa Maria das Neves Caetano. Licenciou-se em Direito pela Universidade de Lisboa, em 13 de Julho de 1927, com a informação final de Muito Bom, com 18 valores.

"Exerceu funções de oficial do Registo Civil, em Óbidos, colaborando, em simultâneo, em vários periódicos e revistas científicas e de especialidade. A convite de António de Oliveira Salazar, Ministro das Finanças, tomou posse como auditor jurídico do mesmo ministério, em 13 de Novembro de 1929, declarando, no entanto, por ocasião do convite, o seu objectivo de seguir a carreira docente na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa.

"Com esse fim, doutorou-se em 17 de Junho de 1931, com a dissertação "Depreciação da moeda depois da guerra", e, em Agosto de 1932, concorreu a uma vaga de professor auxiliar "do terceiro grupo da Faculdade de Direito (Ciências Políticas)", com a dissertação "Do poder disciplinar no Direito Administrativo Português", tendo sido aprovado por unanimidade e tomado posse do respectivo lugar em 12 de Julho de 1933.

"No ano lectivo de 1938-1939 é já apresentado, no Anuário da Universidade de Lisboa, como professor catedrático contratado, sendo simplesmente apresentado como professor catedrático no anuário para o ano lectivo de 1940-1941.

"Ao longo da sua carreira docente leccionou as cadeiras de Direito Administrativo, Administração Colonial, Direito Internacional Público, Direito Corporativo, Economia Política, Direito Penal e Direito Constitucional, publicando uma vasta obra com vertentes jurídica, histórica e de intervenção sociopolítica.

"Foi reitor da Universidade de Lisboa, de 20 de Janeiro de 1959 a 12 Abril de 1962 (cargo de que se demitiu por divergências com o Ministro da Educação, na sequência de oscilações de atitude do Governo perante as manifestações estudantis de Abril de 1962, em Lisboa)." (...)


Fonte: Arquivo Nacional Torre do Tombo > Arquivo Marcello Caetano. ara saber mais clicar aqui.
 
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Notas do editor LG:

(*) Vd. poste de 29 de outubro de 2025  > Guiné 61/74 - P27363: Quem foi obrigado a fazer a guerra, não a esquece: eu não esqueci... (Jaime Silva, ex-alf mil pqdt, BCP 21,Angola, 1970/72) (1): A minha (im)possibilidade de desertar

Guiné 61/74 - P27378: Efemérides (470): Romagem aos Talhões existentes no Cemitério n.º 1 de Leça da Palmeira e Cemitério de Sendim de Matosinhos para homenagear os matosinhenses caídos na guerra do ultramar (Carlos Vinhal)

Realizou-se no Dia de Finados uma romagem aos nossos talhões existentes nos cemitérios de Leça da Palmeira e de Matosinhos (Sendim), onde foram homenageados os matosinhenses que tombaram pela Pátria.

A cerimónia teve o seu início no talhão do cemitério de Leça da Palmeira, pelas 10h30, com a deposição de uma coroa de flores, seguindo-se o toque de homenagem aos mortos e uma evocação religiosa pelo Diácono Raul Borges.

Em Matosinhos, no cemitério de Sendim, pelas 11h15, depôs-se uma coroa de flores no Talhão, a que se seguiu o toque de homenagem aos mortos e foi lida a prece do Exército.

Posteriormente, no mesmo cemitério, os participantes dirigiram-se para o Memorial aos 70 Combatentes Mortos na Guerra do Ultramar, onde se procedeu à deposição de uma coroa de flores, seguindo-se o toque de homenagem aos mortos e a leitura da prece do Exército.

Os toques nas cerimónias foram executados por um elemento da Fanfarra dos Bombeiros Voluntários de Matosinhos-Leça da Palmeira. Estiveram presentes nas cerimónias a Presidente da Câmara de Matosinhos, Dra. Luísa Salgueiro, os Presidentes das Juntas de Leça da Palmeira e de Matosinhos, respetivamente o Dr. Plácido Santos e o Sr. Paulo de Carvalho, membros dos Órgãos Sociais, muitos sócios, combatentes e familiares e público em geral.

Leça da Palmeira > Cemitério n.º 1 > Talhão da Liga dos Combatentes
Guarda de Honra composta por Antigos Combatentes > Vista parcial
Momento da deposição de uma coroa de flores no Talhão > Tenente-Coronel Armando Costa, Liga dos Combatentes; Dra. Luísa Salgueiro, Presidente da Câmara Municipal de Matosinhos e Dr. Plácido Santos, Presidente da Junta de Freguesia de Matosinhos.
Momento religioso a cargo do Diácono Raul Borges, também ele um Antigo Combatente

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Matosinhos > Cemitério de Sendim > Talhão da Liga dos Combatentes
Guarda de Honra composta por Antigos Combatentes > Vista parcial
Momento da deposição de uma coroa de flores no Talhão > Em primeiro plano o senhor Paulo Carvalho, Presidente da Junta de Freguesia de Matosinhos

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Cemitério de Sendim > Monumento aos 70 Combatentes do Concelho de Matosinhos caídos em Campanha > Momento da deposição de uma coroa de flores.
Na foto: Porta-Guião, Neves, Antigo Combatente; SAj Joaquim Oliveira, que conduziu as cerimónias e Francisco Silva, Clarim dos Bombeiros Voluntários Matosinhos-Leça, que executou os toques.

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Texto: Núcleo de Matosinhos da Liga dos Combatentes
Fotos: © José Trindade.
Fixação do texto; selecção, edição e legendagem das fotos: Carlos Vinhal

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Nota do editor

Último post da série de 18 de outubro de 2025 > Guiné 61/74 - P27329: Efemérides (469): Parabéns, Vilma e João, unidos com a benção de Deus, em 12 de Outubro de 2025, na igreja eslovena de São Ciro, Nova Iorque