1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 25 de Outubro de 2010:
Queridos amigos,
Estou a alongar-me na apreciação do livro de Hélio Felgas, nada há de tão substancial para a época em que foi publicado. Permito-me manifestar a minha surpresa porque é que este livro não foi discutido nem posto à nossa disposição para sabermos a evolução da guerra. Sou levado a supor que não era uma questão de censura nem cabotinismo, era indiferença, era incapacidade de julgar factos… ou talvez medo de nos ceder informação que os dirigentes não soubessem comentar.
Enfim, suposições.
O importante é que chegamos na ignorância de tudo e nunca nos foi facultada a possibilidade de olhar para o todo.
Um abraço do
Mário
Guerra na Guiné, por Hélio Felgas (2)
Beja Santos
A ofensiva do PAIGC em 1963
Apresentada a Guiné portuguesa, feito o esboço histórico da Província, o tenente-coronel Hélio Felgas procede à apresentação dos diferentes grupos políticos, desde o Movimento de Libertação da Guiné até ao PAIGC. E seguidamente caracteriza o início da luta armada, logo após as flagelações de Fulacunda e Tite. Estamos ainda numa fase em que os quadros da guerrilha andam por várias academias chinesas e o armamento distribuído pela guerrilha do Sul e na região do Morés é proporcionalmente inferior ao das tropas portuguesas.
Em Fevereiro de 1963, a guerrilha começa a fazer uso de explosivos e a destruir os pontões que ligavam as povoações da região Sul. Nesse mês, Cacine conhece a primeira flagelação, embosca-se uma força militar em Salancaur, três dias depois ocorrem pilhagens em estabelecimentos da Sociedade Comercial Ultramarina. As diferentes penínsulas do Sul, umas atrás das outras, vão conhecendo a guerrilha. O aliciamento do PAIGC foi, regra geral, bem sucedido na região. Será muito difícil vir um dia a saber-se qual o grau de intimidação em função do terror, quais as adesões espontâneas, qual o número de populações em fuga, colocado entre dois fogos. Em Março as destruições chegam a Tite e a Buba, cortaram-se as estradas de acesso a Empada, incendiaram-se barcos a motor, colocaram-se abatizes e capturaram-se barcos que foram levados para a República da Guiné. A situação foi-se sempre agravando, de Abril para Junho. Depois, a guerrilha anunciou-se na margem oeste do rio Corubal e no final do mês o PAIGC começou a actuar no Xime, flagelando a população. Escreve Hélio Felgas: “A pequena densidade de ocupação militar portuguesa facilitara a expansão da actividade inimiga, não dando às populações nativas a protecção de que necessitavam. Em segurança reinava em vastas áreas e até mesmo algumas tabancas fulas das áreas de Aldeia Formosa, Cumbijã e Colibuia, começaram a ser abandonadas. Em especial na península de Cacine, junto à fronteira Sul, a maioria das tabancas estavam desertas, tendo os nativos fugido para a República da Guiné onde os bandidos evitavam molestá-los com receio de criarem complicações ou provocar distúrbios que desagradassem às autoridades daquele Estado”.
O PAIGC anunciou-se com o recurso a várias emissoras. Em comunicado difundido radiofonicamente, o PAIGC afirmava que a ilha do Como, a sudoeste de Catió, fora completamente libertada. Hélio Felgas exprime-se assim quanto ao tipo de bases ou refúgios da guerrilha: “São o que há de mais transitório pois as tropas, nos seus constantes reconhecimentos, acabam sempre por dar com eles, expulsando ou aniquilando os bandoleiros que lá encontram e, na maioria dos casos sem que estes ofereçam qualquer resistência. Umas vezes, o comando militar instala nessas áreas novos destacamentos militares. Mas em outras, a tropa, cumprida a missão que lhe foi atribuída, regressa aos seus quartéis. Não há na nossa Guiné região libertada alguma, desde que por esses termo se designe qualquer região que o inimigo controle efectivamente e onde disponha de meios que impeçam a penetração das nossas tropas”.
Enquanto a guerrilha alastra a Sul, dá os seus sinais no Oio, situado no quadrilátero Mansoa-Bissorã-Olossato-Mansabá, região de florestas densas e quase sem estradas. Ao tempo a presença militar era insignificante. Por exemplo, havia um pelotão em Bissorã e pouco mais em Mansoa. No fim de Junho, um grupo armado inutilizou a jangada de barro, no rio Cacheu. Em Julho foram alvejadas viaturas entre Binta e Farim e houve a tentativa de destruir diversas pontes e pontões nas estradas Olossato-Farim, Olossato-Mansabá e Mansoa-Nhacra. Seguem-se as emboscadas, o saque de casas comerciais e em Julho, perto do Morés, uma força é brutalmente emboscada.
Hélio Felgas comenta a actividade desenvolvida pelas forças portuguesas, inicialmente incapazes de conter esta onda destruidora, tanto no Sul como na região do Oio. Reconhece que havia um plano bem definido por parte do PAIGC e que o Morés era um refúgio natural bastante seguro. Muitos dos eixos rodoviários da Província, com interesse económico, ficaram inutilizados. Eixos fundamentais (como Mansoa-Bafatá), ficaram comprometidos. Seguiu-se o aumento de actividade na área de Xime Bambadinca e no segundo semestre de 1963 sucederam-se os ataques ou assaltos a Porto Gole e Enxalé e no Sul intensificaram-se as acções em Fulacunda, Catió, Buba, Cacine, Empada e Bedanda. Irradiando do Oio, o PAIGC procurava infiltrar-se na direcção de Binar e de Bula. Felgas aproveita a oportunidade para tecer considerações sobre aspectos que ele considera delirantes nos comunicados do PAIGC: aviões abatidos, 46 soldados portugueses postos fora de combate numa emboscada, a população de Empada a receber com entusiasmo o “exército de libertação nacionalista”, etc.
Na segunda metade de Outubro o PIAGC iniciou o emprego generalizado de minas e fornilhos de anticarro. O primeiro engenho explodiu na estrada Bambadinca-Xitole.
Nesta região, muitas tabancas começam a organizar-se em autodefesa, a resistência ao PAIGC foi inequívoca. No final do ano, a norte do Geba e em especial no Oio, a acção do PAIGC já se fazia sentir com crescente importância: ataque ao Olossato, flagelações a Binta, Cutia e Farim. O movimento das tropas portuguesas era dificultado ou impedido por milhares de abatizes e pela destruição de muitas infra-estruturas. A região de ligação entre o Norte e o Sul, o canal do Geba, tornou-se o local de cambança, em locais desertos entre Porto Gole e Enxalé. O PAIGC fixou-se no Oio. A reacção militar passou pela preparação de uma grande ofensiva sobre a ilha do Como e previa-se “fechar” a fronteira Sul instalando tropas entre a aldeia Formosa e Cacine. Como se sabe, este objectivo nunca foi alcançado. E chegámos assim a 1964 em que o Geba, tanto a Norte como a Sul se transformou no palco da ofensiva do PAIGC e das primeiras medidas bem sucedidas de reacção pelas tropas portuguesas. É esse o relato que iremos seguidamente fazer.
O livro “Guerra na Guiné” é indiscutivelmente o relato mais completo dos factos que ocorreram entre 1961 e 1965. Nenhum outro autor foi tão longe, do lado português. A despeito de inúmeros comentários apologéticos, o historiador, o investigador e curioso, dispõem aqui de um alfobre de informações que não estão disponíveis a não ser dispersa e às vezes confusamente, noutros autores.
A título de curiosidade, refira-se que Hélio Felgas editara em 1966 um conjunto de artigos que tinham sido dados à estampa na Revista Militar intitulados “Os Movimentos Terroristas de Angola, Guiné e Moçambique (influência externa)”. Felgas aproveitou o conteúdo do que escreveu sobre a Guiné na apresentação dos movimentos de libertação neste seu livro “Guerra na Guiné “. Para que conste.
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 24 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7168: Notas de leitura (161): Guerra na Guiné, por Hélio Felgas (1) (Mário Beja Santos)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
quarta-feira, 27 de outubro de 2010
Guiné 63/74 - P7182: Convívios (280): Tabanca de Pitche e Arredores (Hélder Sousa/Luís Borrêga)
Os nossos Camaradas Hélder Valério Sousa (ex-Fur Mil de TRMS TSF, Piche e Bissau, 1970/72) e Luís Borrega (ex-Fur Mil Cav e MA da CCAV 2749/BCAV 2922, Piche, 1970/72), enviaram-nos uma mensagem a darem-nos conta da inauguração de mais uma tabanca.
Caros amigos e camaradas,
Já faz bastante tempo que não colaboro com outro tipo de 'produção' que não seja a de comentar um ou outro texto.
Caros camaradas e amigos
Inspirados pelas notícias que nos chegam dos alegres convívios que, aqui e ali, vários camaradas vão fazendo, a pretexto da necessidade que todos temos de nos alimentar, seja a “Tabanca da Linha”, seja a do “Centro”, seja a de “Matosinhos”, a dos “Melros”, etc., um grupo de companheiros que têm em comum o facto de terem estado na área de Pitche, sendo que alguns são membros da nossa “Tabanca Grande”, o Blogu... e Luís Graça & Camaradas da Guiné, e outros ainda não ganharam coragem para tal, decidiram criar também o que aqui e agora se divulga, a “Tabanca de Pitche e Arredores”.
O núcleo inicial centra-se maioritariamente nos ex-Furriéis do BCAV 2922 e o que motivou esses encontros/almoços foi a possibilidade de rever um deles, o ex-Fur. Fernando Boto, que vive na África do Sul e que no final do ano passado veio a Portugal e originou assim um almoço na Costa da Caparica, de que até já foi dado conta, aqui no Blogue.
Pois então, depois disso, e sempre a pretexto de rever e juntar os companheiros cuja amizade se foi forjando e cimentando nos tempos de juventude e nas terras da Guiné, já ocorreram alguns almoços, tendo como organizador o ‘tertuliano’ Luís Borrêga, que tiveram como cenário o “Restaurante Alexandre” na Rua dos Mastros, em Lisboa, por sinal propriedade de um camarada da Guiné, de seu nome Alexandre Vieira de Oliveira, que pertenceu ao BCAV 790 com sede em Bula, de Abril de 1965 a Fevereiro de 1967. A esses almoços foram dados nomes, tal qual como às operações em que se viam envolvidos, sendo os dois últimos, em 6 de Agosto e 16 de Setembro passados e que se chamaram respectivamente “FERRODENTE” e “LIFEBUOY”, das quais se anexam algumas fotos.
Também como é natural, nesses encontros foram sendo envolvidos outros elementos, como é o caso do Pereira da Costa e do José Dinis (igualmente pertencentes à Tabanca Grande) e acabou por surgir e ganhar força a ideia de se criar um espaço do convívio que congregasse os camaradas que estiveram ou ‘giraram’ à volta de Piche.
Para dar mais consistência e procurar captar mais interessados, foi criado um espaço no “Facebook” dedicado então à “Tabanca de Pitche e Arredores”, espaço esse criado pelo Fernando Boto e ao qual eu e o Luís Borrêga damos apoio.
Nesse espaço escrevi uma saudação inicial, que aqui reproduzo:
“Antes do mais quero saudar a criação deste espaço que se espera possa vir a contribuir para estreitar relações entre todos aqueles que durante a sua 'comissão de serviço por imposição' em terras da Guiné, estiveram ou passaram por Piche, ou Pitche, na fonética local.Cabem aqui todos aqueles para quem Pitche foi local de permanência ou placa giratória: Canquelifá, Buruntuma, Dunane, Ponte Caium, Cambor, etc., incluindo também Bajocunda.
Vamos então em frente com este empreendimento.
A partir deste ponto de convergência agora criado, esta "Tabanca de Pitche e Arredores", podemos fazer mais coisas: podemos, como é natural, trocar recordações, imagens, lembranças, pormenores, relatar acontecimentos, desabafar, se for caso disso.
Podemo-nos encontrar quando se achar oportuno, para almoçar ou outro evento qualquer.
Podemos a partir daí pensar em algo que nos motive, nos sensibilize, que nos leve a solidarizar com o que se vier a considerar.
Por agora é só o 'pontapé de saída'. O jogo vai decorrer.
Aguardam-se contributos.”
Já está em organização a próxima ‘operação’, que até já tem nome de código, aguardando-se o regresso do Fernando Boto para a sua efectivação. O local deverá ser o mesmo, salvo se o Luís Borrêga levar avante a ideia que já fez circular de pretender diminuir a sua população de pombos... vamos aguardar pacientemente!
Que mais camaradas se possam juntar à “Tabanca de Pitche e Arredores”, quer no encontro/almoço, quer no “Facebook”, é o nosso desejo para que, a partir daí, se possa avançar para outros patamares.
Foto 2 – Em acção no objectivo
Da esquerda para a direita Fernando Boto, Borrêga, Encarnação, Hélder Sousa, dois elementos não muito visíveis sendo um deles o José Bóia, João P. Costa, Laranjeira e Henrique Ferreira.
Operação “LIFEBUOY”
Abraços,
Hélder Sousa/Luís Borrêga
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Nota de M.R.:
Vd. último poste desta série em: 25 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7174: Convívios (196): Encontro do Grupo do Cadaval no Couço-Coruche (José Manuel Matos Dinis)
Caros amigos e camaradas,
Já faz bastante tempo que não colaboro com outro tipo de 'produção' que não seja a de comentar um ou outro texto.
Nada de especial, apenas falta de tempo....
No entanto hoje trago ao conhecimento da "Tabanca Grande" que foi decidido, conforme texto que anexo, a criação da "Tabanca de Pitche e Arredores" que tem por objectivo proporcionar um local de encontro mais fácil para todos aqueles que estiveram ou passaram por aqueles locais.
No entanto hoje trago ao conhecimento da "Tabanca Grande" que foi decidido, conforme texto que anexo, a criação da "Tabanca de Pitche e Arredores" que tem por objectivo proporcionar um local de encontro mais fácil para todos aqueles que estiveram ou passaram por aqueles locais.
Trata-se como é natural, de encontros/almoços, para já, mas também se avançou com a criação de um local no "Facebook" que parece ser um elemento facilitador.
A partir do desenvolvimento que esta iniciativa possa ter, teremos possibilidade de passar a outras formas de organização e, porque não, outros objectivos.
TABANCA DE PITCHE E ARREDORES
Caros camaradas e amigos
Inspirados pelas notícias que nos chegam dos alegres convívios que, aqui e ali, vários camaradas vão fazendo, a pretexto da necessidade que todos temos de nos alimentar, seja a “Tabanca da Linha”, seja a do “Centro”, seja a de “Matosinhos”, a dos “Melros”, etc., um grupo de companheiros que têm em comum o facto de terem estado na área de Pitche, sendo que alguns são membros da nossa “Tabanca Grande”, o Blogu... e Luís Graça & Camaradas da Guiné, e outros ainda não ganharam coragem para tal, decidiram criar também o que aqui e agora se divulga, a “Tabanca de Pitche e Arredores”.
O núcleo inicial centra-se maioritariamente nos ex-Furriéis do BCAV 2922 e o que motivou esses encontros/almoços foi a possibilidade de rever um deles, o ex-Fur. Fernando Boto, que vive na África do Sul e que no final do ano passado veio a Portugal e originou assim um almoço na Costa da Caparica, de que até já foi dado conta, aqui no Blogue.
Pois então, depois disso, e sempre a pretexto de rever e juntar os companheiros cuja amizade se foi forjando e cimentando nos tempos de juventude e nas terras da Guiné, já ocorreram alguns almoços, tendo como organizador o ‘tertuliano’ Luís Borrêga, que tiveram como cenário o “Restaurante Alexandre” na Rua dos Mastros, em Lisboa, por sinal propriedade de um camarada da Guiné, de seu nome Alexandre Vieira de Oliveira, que pertenceu ao BCAV 790 com sede em Bula, de Abril de 1965 a Fevereiro de 1967. A esses almoços foram dados nomes, tal qual como às operações em que se viam envolvidos, sendo os dois últimos, em 6 de Agosto e 16 de Setembro passados e que se chamaram respectivamente “FERRODENTE” e “LIFEBUOY”, das quais se anexam algumas fotos.
Também como é natural, nesses encontros foram sendo envolvidos outros elementos, como é o caso do Pereira da Costa e do José Dinis (igualmente pertencentes à Tabanca Grande) e acabou por surgir e ganhar força a ideia de se criar um espaço do convívio que congregasse os camaradas que estiveram ou ‘giraram’ à volta de Piche.
Para dar mais consistência e procurar captar mais interessados, foi criado um espaço no “Facebook” dedicado então à “Tabanca de Pitche e Arredores”, espaço esse criado pelo Fernando Boto e ao qual eu e o Luís Borrêga damos apoio.
Nesse espaço escrevi uma saudação inicial, que aqui reproduzo:
“Antes do mais quero saudar a criação deste espaço que se espera possa vir a contribuir para estreitar relações entre todos aqueles que durante a sua 'comissão de serviço por imposição' em terras da Guiné, estiveram ou passaram por Piche, ou Pitche, na fonética local.Cabem aqui todos aqueles para quem Pitche foi local de permanência ou placa giratória: Canquelifá, Buruntuma, Dunane, Ponte Caium, Cambor, etc., incluindo também Bajocunda.
Vamos então em frente com este empreendimento.
A partir deste ponto de convergência agora criado, esta "Tabanca de Pitche e Arredores", podemos fazer mais coisas: podemos, como é natural, trocar recordações, imagens, lembranças, pormenores, relatar acontecimentos, desabafar, se for caso disso.
Podemo-nos encontrar quando se achar oportuno, para almoçar ou outro evento qualquer.
Podemos a partir daí pensar em algo que nos motive, nos sensibilize, que nos leve a solidarizar com o que se vier a considerar.
Por agora é só o 'pontapé de saída'. O jogo vai decorrer.
Aguardam-se contributos.”
Já está em organização a próxima ‘operação’, que até já tem nome de código, aguardando-se o regresso do Fernando Boto para a sua efectivação. O local deverá ser o mesmo, salvo se o Luís Borrêga levar avante a ideia que já fez circular de pretender diminuir a sua população de pombos... vamos aguardar pacientemente!
Que mais camaradas se possam juntar à “Tabanca de Pitche e Arredores”, quer no encontro/almoço, quer no “Facebook”, é o nosso desejo para que, a partir daí, se possa avançar para outros patamares.
Operação “FERRODENTE”
Foto 1 – Concentração antes de partir para o objectivo
José Bóia, João P. Costa, José Sobreira, Henrique Ferreira, Luís Encarnação, Castro Neves (então Cap. Comandante da CCav 2748 de Canquelifá, hoje Coronel), Francisco Palma e Luís Borrêga.
José Bóia, João P. Costa, José Sobreira, Henrique Ferreira, Luís Encarnação, Castro Neves (então Cap. Comandante da CCav 2748 de Canquelifá, hoje Coronel), Francisco Palma e Luís Borrêga.
Foto 2 – Em acção no objectivo
Da esquerda para a direita Fernando Boto, Borrêga, Encarnação, Hélder Sousa, dois elementos não muito visíveis sendo um deles o José Bóia, João P. Costa, Laranjeira e Henrique Ferreira.
Operação “LIFEBUOY”
Foto 1 – Em acção já no objectivo
Da esquerda para a direita Palma (em oração), Emanuel Vieira, Hélder, alguns elementos encobertos entre eles se vislumbra a cabeleira do Borrêga, João P. Costa, José Dinis e Encarnação (em meditação).
Foto 2 – Em acção já no objectivo:
De frente Palma, Vieira, Borrêga, Hélder e Bóia. De costas João P. Costa, José Dinis e Encarnação.
De frente Palma, Vieira, Borrêga, Hélder e Bóia. De costas João P. Costa, José Dinis e Encarnação.
Abraços,
Hélder Sousa/Luís Borrêga
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Nota de M.R.:
Vd. último poste desta série em: 25 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7174: Convívios (196): Encontro do Grupo do Cadaval no Couço-Coruche (José Manuel Matos Dinis)
Guiné 63/74 - P7181: No 25 de Abril de 1974 eu estava em... (13): Lisboa a viver num apartamento com mais três estudantes (José Corceiro)
1. Mensagem de José Corceiro (ex-1.º Cabo TRMS, CCaç 5 - Gatos Pretos , Canjadude, 1969/71), com data de 24 de Outubro de 2010:
Caros amigos, Luís Graça, Carlos Vinhal, E. Magalhães.
Envio este testemunho, onde exponho como eu senti o 25 de Abril na época, antecedentes e algumas consequências, que publicarão caso entendam que tem algum interesse para o blogue.
Um abraço
José Corceiro
NO 25 DE ABRIL EU ESTAVA EM...
Os anos sessenta foram fabulosos em acontecimentos musicais, e testemunharam uma criatividade ímpar, que fez florir uma grande multiplicidade de inovações nos géneros musicais e nos ímpetos comportamentais dos jovens. São dignos de destaque os talentosos artistas ingleses, no campo da música, tais como os Beatles, os Rollings Stones, os The Who, o Cliff Richard e muitos outros ídolos americanos, que se sobrepuseram com o seu estilo cultural original, a cuja corrente a irreverente juventude aderiu voluntariosa, obrigando as comunidades a romper com muitas tradições sociais, que estavam arreigadas nos comportamentos dos povos há séculos. Muitos conceitos que se pensavam bem alicerçados, desabaram, e outros se inovaram, no campo da política, comportamento, moda, sexo, religião, etc. Foi a adesão em massa por parte da juventude, sempre ansiosa por novas experiências, que ao aderir a esta original onda do estilo de vida destes ídolos, que em parte contribuíram para o aparecimento nos anos de 1966/67, das manifestações dos movimentos Hippies, com a sua doutrina filosófica contra cultura, manifestando a sua rebeldia no campo das ideias, no modo de vestir, nos comportamentos contestários, questões ambientais, emancipação sexual, vida comunitária, discordância dos valores tradicionais face a tudo o que os cercava. Os adeptos do movimento Hippie, filosofavam e procuravam uma nova identidade, purificada e liberta de tudo o que consideravam impuro e nefasto no seio da sociedade reinante. Algumas das ideias dos Hippies rasgaram com as concepções há muito instituídas, deixando campo vazio aos novos conceitos por eles propagandeados, que se foram dispersando na sociedade, acabando por ser absorvidos. Os Hippies, adoptaram como seu, o símbolo da paz, e o lema que apregoavam bem alto, era: Paz e Amor.
Em Portugal os anos 60 foram tempos agitados, tempos problemáticos e difíceis, para o regime Salazarista e para o povo português.
O nosso País não tinha tradição de música Pop & Rock, este género musical foi uma onda importada da cultura dos países anglo-americano, no princípio da década de sessenta, acabando por nascerem assim, as primeiras correntes de rock no nosso país.
Quando começaram a surgir as primeiras bandas musicais, influenciadas pelos artistas do rock americano, os grupos portugueses não tinham raízes nem tradição de música contestaria, e não enveredaram pela atitude do inconformismo, mas antes porém, optaram pelo facilitismo da via da ingenuidade e simplicidade do género musical “Yé-Yé”, que o mesmo é dizer, tudo gente bem comportada que não quer provocar sarilhos, mas sim assegurar uma vida calma e tranquila.
O regime fascista controla a governação do País, onde se instalou há mais de 30 anos. Com raras excepções a juventude portuguesa não se envolve em questões de política, nem lhe são dadas oportunidades para tal, já que a macabra polícia ”Pide” tem tudo minado e controla os passos de meio mundo, servindo-se da rede tentacular dos seus impúdicos informadores, que estão infiltrados em tudo o que é repartição pública, devassando a vida de quem lhes aprouver, não permitindo que algum cidadão, mais atrevido, ponha o pé em ramo viçoso.
O povo politicamente é amorfo, o balão do descontentamento, devido à repressão do regime, está prestes a rebentar, as injustiças contra o cidadão comum agravam-se a cada dia que passa, o ódio sufocado do povo contra o regime, já é difícil de ocultar, o desejo para vingar as atrocidades cometidas pelo poder, ameaça explodir a qualquer momento.
Rebentam as primeiras contestações de vulto, levadas a cabo por algumas personalidades bem integradas no regime salazarista. É o caso da candidatura do General Humberto Delgado, em 1958… - obviamente, demito-o… - palavras de Humberto Delgado, a referir-se a Salazar. O assalto e o desvio, do paquete Santa Maria, foi em 22 de Janeiro 1961, a responsabilidade deste acto é também assumida pelo General “Sem Medo”. O massacre do porto de Pidjiguiti, na Guiné, foi em 3 de Agosto de 1959.
O assalto da prisão, em Luanda, foi em 4 de Fevereiro de 1961, esta acção dá mais um rombo e um abanão na estrutura do poder, inicia-se o alvorecer e despertar das consciências dum povo adormecido, que amanhece, acorda e abre os olhos para outras realidades, e com outros sentimentos, começando por condenar a resposta de retaliação do assalto à prisão, dada pelas autoridades portuguesas, que arrasaram aldeias inteiras com bombardeamentos, massacrando inocentes indefesos.
A Índia invade, Goa, Damão e Diu, em 18 de Dezembro 1961, que nós dizíamos serem nossas possessões há séculos; estoira a guerrilha em Angola, no ano de 1961; a rebelião do assalto ao Quartel de Beja, foi em 1 de Janeiro de 1962; aparece a Frelimo em Moçambique, em 1962; começa a luta na Guiné com o ataque ao quartel de Tite “que foi a primeira acção armada do P.A.I.G.C”, em 23 de Janeiro de 1963. Portugal, do dia para a noite, vê-se obrigado a um enorme esforço suplementar, com o envio de contingentes militares, para combater em três frentes distintas.
A juventude estudantil portuguesa inquieta-se e acorda, começa a desperta e a politizar-se, ganhando consciência de luta contestando o regime vigente, eclode a crise universitária de 1962.
Crise Universitária, de 1962 (http://www.manuelgrilo.com/rui/artigos/crise.html)
O envio de tropas para o ultramar começa a ser em massa, e todos temem que a sorte lhes vá bater à porta num futuro muito próximo, caso se continue com a mesma política, que está a absorver as sinergias de toda a juventude dum País, ao ser mobilizada para os Teatros Operacionais de Guerra das colónias e é inevitável que terão que se confrontar, empunhando armas, frente a frente com os nossos irmãos, alguns dos quais são amigos e seguem o mesmo percurso universitário. (O eloquente Poste 3543 – encontro de Dois Amigos no TO, frente a frente os “Inimigos”- Mário Dias e Domingos Ramos patentearam um leal exemplo de amizade e generosa sensatez, ditosos intervenientes, apanágio que só contempla Homens com grande dignidade e honradez, porque só estes são bafejados com esta sabedoria. Para mim um marco Importantíssimo no Blogue, um comportamento a raiar o mitológico, coincidências da vida. Parabéns para os dotados com este discernimento). A maioria dos jovens não compreende o que é que está em causa no conflito, duvidando se vão defender a soberania da Pátria ou os interesses de alguns colonialistas. As instâncias internacionais estão todas contra as nossas pretensões, deixando-nos isolados e orgulhosamente sós. Estamos envolvidos em três frentes de combate, numa guerra de guerrilha que poucos são os que sentem estímulo para a alimentar, nem há simpatia pela doutrina que a apoia, duvidando-se se efectivamente estamos a contribuir para o interesse do país, ou a desbaratar a sua economia. Falta motivação combativa.
A somar a este desinteresse, as forças mobilizadas quando chegam ao destino, vão encontrar instalações com péssimas condições de alojamento, algumas são degradantes, a aclimatização é dificílima, a alimentação é de má qualidade e pobre. Eu, na Guiné, tive um períodos que durou mais de dois meses, em que a alimentação foi diariamente arroz, algum misturado com caganitas de rato, atum e salsichas, duvidando-se do estado de conservação de cada um destes géneros alimentícios, se eram próprios para consumo, porque o odor era nauseabundo, mas nada mais havia para comer (e éramos só cerca de 40 arranchados). Honra seja feita, ao Sr. Capitão Costeira, na altura Comandante da CCAÇ 5, homem sensível, e dotado de excepcional carácter e compreensão humana, que a determinada altura, crendo que esta injustiça estava a ultrapassar o limite do razoável, deslocou-se a Bissau, onde comprou vários alimentos, fretou uma avioneta, creio que civil, para os transportar para Canjadude, onde foi logo confeccionada uma ceia condigna, (jantar) que comemos sôfregos, confraternizando todos reunidos, sentados à volta da mesma mesa.
É notório que se está a atingir o auge do limite das capacidades do Estado, era incomportável exigir tanto sacrifício à nobre juventude dum País, tão pequeno e com tão limitados recursos económicos, forçado por interesses de alguns monopólios, que não souberam nem quiseram aproveitar e criar condições oportunas e atempadas, para solucionar o problema, arrastando-nos agora para uma guerra fratricida em três frentes, guerra que já dura há mais duma década, sem perspectiva de paz à vista, estando a ceifar milhares de vidas e a deixar outras tantas com deficiências físicas, dum lado e do outro, não poupando a vida a inocentes, a agravar, ainda ocasiona traumas psíquicos, supliciando os que assistem aos horrores da guerra, traumas que só a morte lhos vai apagar. A guerra é sempre uma catástrofe… que provoca horrores e excessos de parte a parte… uma imbecilidade… Não se vislumbra no horizonte fim à vista para esta contenda.
O País continua cada vez mais só. O regime está tão obcecado com a linha da sua política que se convenceu (ou quer convencer) que só ele é o detentor de virtudes e da verdade, despreza toda e qualquer proposta no sentido de encontrar uma via diplomática alternativa, para solucionar o caso e pôr fim à guerra, alheando-se de todos os contra-argumentos que lhe sejam desfavoráveis, preferindo antes enterrar a cabeça na areia, para não ver, não ouvir, nem dar diálogo a vozes conscienciosas e sensatas, que exprimem outras opiniões… Progressivamente vai-se avolumando e generalizando a contestação ao regime vigente, e surgem resistências à mobilização dos militares para o ultramar.
Já antes da década de sessenta, surgiram algumas vozes de intervenção (protesto) no campo da música e da poesia, que com palavras dissimuladas contestam o regime. O José Afonso é a figura emblemática da canção de intervenção em Portugal, figura proeminente no combate contra a opressão do regime, através da canção. Dizia o Zeca Afonso sem pretensões algumas: - Semeio palavras na música. Assim, através das suas palavras disseminadas através das baladas, umas vezes com letras mais veladas, outras, mais explícitas, contesta o regime. Eu tenho algumas músicas do José Afonso, que algumas vezes ouvia com amigos mas com muito recato e quase em silêncio, havia receio (isto em 66 ou 67).
Vampiros: ( http://www.youtube.com/watch?v=ZUEeBhhuUos&feature=related)
Dentro da música de intervenção, há outros nomes que merecem ser lembrados, é o caso: José Mário Branco, Janita Salomé, Fausto, Sérgio Godinho, Vitorino, Manuel Freire (Pedra Filosofal), etc. que tiveram um percurso de vida, utilizando a canção de intervenção, para se manifestarem contra o antigo regime, o que os molestou, tendo alguns sido perseguidos acabando por se exilarem.
Pedra Filosofal: (http://www.youtube.com/watch?v=2DA-mzhk0s4)
Por sua vez o regime também aproveitou a imagem e a popularidade dos artistas da época, (conveniência ou ingenuidade destes) ao promover espectáculos com os cantores mais conotados com a ideologia política do poder, espectáculos esses que serviam para serenar o cidadão, e ao utilizar os meios de comunicação divulgava-se a mensagem enganosa, que havia união entre o poder e o povo, ao qual o regime servia e administrando com rigor e controlo o erário público. Um embuste. Também eram enviados artistas em digressão pelas Províncias Ultramarinas onde eram fomentados espectáculos para impressionar e confundir a opinião pública, ao passar a mensagem que a guerra era obra de grupelhos conflituosos, que não intimidavam nada nem ninguém, visto que até os nossos artistas se deslocam livremente em segurança, a locais que difamadores dizem ser perigosos. A actuação dos artistas era a prova de que há paz e tranquilidade e não guerra! Era o continuar das “Conversas em Família” e o renovar o velho discurso do ditador dos anos trinta: - «Às almas laceradas pela dúvida e pelo negativismo, nós procuramos restituir o conforto (com bastonadas e prisão) das grandes certezas. Nós não discutimos Deus e a sua virtude, não discutimos a Pátria e a sua História, não discutimos a Família e a sua moral, não discutimos a Glória do trabalhador e a sua obrigação. Assim foram construídas as pilastras do edifício.»
Paralelamente a estes acontecimentos, começa a germinar uma juventude mais esclarecida e mais politizada, que se organiza contestando o regime e as suas instituições, e rebenta a Crise Académica na Universidade de Coimbra, nos meses de Abril, Maio e Junho, de 1969.
Crise Universidade de Coimbra: (http://www.youtube.com/watch?v=FV5cFbvK5p8&feature=related)
Crise Universidade de Coimbra: (http://www.youtube.com/watch?v=IqC6H0Ry17c)
Crise Universidade de Coimbra: (http://videos.sapo.pt/vFw8pzw6tGnH7JYATOlz)
Fotos: (http://caminhosdamemoria.wordpress.com/2009/06/02/crise-academica-coimbra-1969/)
Enquanto a guerra no ultramar ceifava a vida a militares e a inocentes dos dois lados, a polícia continuava a dar bastonadas nos contestários, e estes por sua vez aperfeiçoavam os seus métodos de reposta. Os embarques em massa para a guerra continuam, por vezes utilizando transportes marítimos cujas condições e instalações são humilhantes e degradantes para o homem, como me aconteceu a mim quando fui para a Guiné no Niassa, em 24 de Maio de 1969, mais parecendo que carregavam massa humana já destinada a carne de canhão. Estas condições eram aceites por muitos jovens, todos praças, por imposição e servilismo, mas com revolta contida, pois não tinham outras condições, sócio-económicas que lhes permitissem alternativa.
Progressivamente alguma juventude começa a adquirir consciência política, e concluí que a guerra é incomportável e de finalidade duvidosa, e decidem-se por abandonar o País a assalto, mancebos com 17, 18, 19 e 20 anos, fogem da tropa (nem sempre por medo). Vão para França e outros países Europeus, onde alguns já tinham familiares ou amigos, que lhe serviam de orientação e sustento nos primeiros tempos. Da minha terra foram muitas dezenas que tomaram esta atitude, assim como em toda a zona fronteiriça do País, como é a minha aldeia. Eu próprio cheguei a dar guarida, numa casa dos meus pais, durante uma semana, a 5 jovens naturais do Porto que estavam por ali de passagem, e que na hora de nos despedirmos me confidenciaram que estavam de abalada para o estrangeiro, para fugir à tropa, isto no Verão de 1967. Havia também os que desertavam quando estavam já a cumprir o serviço militar, ou já depois de estarem mobilizados com embarque agendado para o Ultramar, na minha aldeia houve casos destes. Estas deserções aconteciam com mais frequência em jovens militares oriundos de famílias da média burguesia, que tinham recursos monetários que fizessem face ao sustento no estrangeiro, até arranjarem emprego ou poderem continuar a estudar, tirando cursos superiores, como alguns da minha aldeia fizeram. Particularizando, tenho um caso na minha família, dum tio meu, da minha idade, que com 18 anos, para se livrar do serviço militar partiu para França, onde estava bem integrado e optou em 1968 por vir voluntariamente a cumprir a tropa. Logo em 1968 foi mobilizado para Angola, onde tombou em combate no dia 04 de Fevereiro de 1969. Já eu estava na Guiné quando se realizou o funeral do meu tio.
Era insustentável para um país com os recursos que Portugal tinha, sustentar uma guerra desgastante do género desta, com três frentes, onde não havia uma razão mobilizadora, nem uma causa justa que aglutinasse os seus efectivos em torno dum ideal, que motivasse os seus combatentes à luta. Faltava o ideal e a causa era injusta, estávamos condenados. Estávamos envolvidos neste conflito há mais duma década, não havia fim político ou militar à vista… estava já tudo saturado e cansado.
FOTO 5 - Dia 25 de Abril de 1974, em Lisboa, Corceiro com garrafa na mão na casa onde vivia mais três amigos a festejar a Revolução dos Cravos. Não tinha whisky nem champanhe, abri uma garrafa de conhaque, Pedro Domecq. Quem não se aguentou nas canelas foi o meu amigo Freitas que já não se tinha na vertical e está na cama na horizontal. Pode ler-se num papel na parede – Comemoração de 25-04-1974
Em 25 de Abril de 1974, eu vivia em Lisboa num apartamento na R. Viriato, (paralela à R. Fontes Pereira de Melo) com mais três estudantes. De madrugada, às 04:30h, tocou o telefone insistentemente, atendeu-se e era a irmã do meu amigo Freitas, que hoje deve ser médico. A irmã do Freitas trabalhava como jornalista num órgão de comunicação social, e telefonou a alertar o irmão que tinha havido uma revolução militar e a preveni-lo para não sair de casa. O Freitas ainda não tinha cumprido a tropa. Ainda não eram 5 horas, já o Corceiro, o Freitas e outro amigo, estávamos junto ao Marques de Pombal, pois do apartamento até lá eram dois minutos a caminhar. Acompanhamos durante todo o dia, na via pública, as movimentações militares, sem mais voltarmos a casa, quisemos assistir ao evoluir da Revolução dos Cravos. Palmilhámos a Avenida da Liberdade, Restauradores, Rossio, na Rua do Carmo e na R. Nova do Almada, assistimos a pilhagens em duas ou três casas comerciais, fomos para a Praça do Comércio e a culminar, ao fim da tarde, assistimos aos acontecimentos do render no Largo do Carmo.
Recordo deste dia a força aglutinadora e a impulsividade manifestada pelo povo, no apoio aos militares com os quais se misturava e queria proteger, no Rossio foi o apogeu, as floristas a abraçarem e a colocarem espontaneamente cravos nos canos das G3 dos militares, que transportavam uma arma na mão, mas guardavam dentro do peito um coração que palpitava e esvoaçava qual pomba branca a anunciar a paz, foi dum simbolismo de ensoberbecer; o povo anónimo dava as mãos e enlaçava-se, dando abraços a irmãos desconhecidos, era o comungar e saudar o novo porvir de esperança e paz, erguendo em uníssono o ramo de oliveira, simbolizando um pacto de concórdia; era uma alegria esfuziante, que só os momentos de glória dum egrégio e pacífico povo, com notável história, sabem enobrecer…
O 25 de Abril foi aquilo que todos sabemos que é! Poderia ter sido melhor? - Podia… Poderia ter sido pior? - Podia… Mas era muito urgente a mudança… É de louvar os homens que tiveram os ideais de Abril. O País estava a ficar incomportável, não havia viabilidade para o status quo…
FOTO 6 - Dia 28 de Abril de 1974, ao fim da tarde, na R. Fontes Pereira de Melo, antes de chegar às Picoas. Começou espontaneamente o pessoal a aglomerar-se, já depois da Rotunda, e enquanto o diabo esfregou o olho, estruturou-se uma manifestação, com muitos militares da força aérea, como se pode ver nas linhas da frente com farda azul e boina verde. As palavras de ordem – Nem mais um soldado para o ultramar…
FOTO 7 - Dia 30 de Abril, de 1974, na parte da tarde na Ave. da Liberdade, antes de chegar à Rotunda, veja-se a destreza e o à vontade, dum pai ou avô, a passear a criança. O Sr. que está no meio do trânsito, está a distribuir panfletos para a convocação do 1º de Maio.
O 25 de Abril foi obra feita por seres humanos, com as suas virtudes e defeitos, portadores duma carga genética com as suas dominâncias, detentores das suas experiências de vida, e até limitados por contingências diversas: ideologias políticas, interesses pessoais, valores humanos, houve muitas determinantes que condicionaram o bom evoluir dos acontecimentos, e até, talvez, os seus ideólogos e operacionais não esperassem que fosse este o evoluir do rumo revolucionário que sonharam e queriam dinamizar, e que o seu querer tenha sido ultrapassado pelo progredir!?
FOTO 9 - Dia 1º de Maio, de 1974, tirei esta foto ao meio da tarde, na Alameda, podem ver-se muitos militares da Marinha. Estava posicionado, para fotografar, no lado do Técnico. Veja-se o mar de gente.
Seguiram-se dias de salutar entusiasmo sibilante, aos quais tive a fortuna de assistir, que culminaram com a realização da festa do 1.º de Maio de 1974, na Alameda, nunca mais houve outra igual. Tive o privilégio de presenciar nos dias a seguir ao 25 de Abril, à progénie de manifestações espontâneas, em que o povo circundante aderia apaixonadamente à torrente da multidão, onde era regra invariável e obrigatória serem sempre gritadas, bem alto, as mesmas palavras de ordem: - Nem mais um soldado para o ultramar… Regressem do ultramar os soldados já… Para o ultramar nem mais um militar… Não à guerra no ultramar…
Estava sempre presente o Ultramar, nas preocupações do Povo.
A descolonização das ex-colónias foi mal negociada, foi um autêntico desastre, não se garantiram a segurança e direitos aos residentes e o que aconteceu após a entrega foi uma indignidade para o povo português e para os movimentos de libertação, que não se entendiam porque lhes faltava coesão Nacional, no caso da Guiné eram muitas as tribos (interferências e interesses em jogo etc., etc.)… O êxodo de milhares e milhares de retornados…?! Questiono-me, se perante o momento conturbado que atravessava o País, se seria possível fazer melhor descolonização? A culpa do que aconteceu, terá sido de quem negociou, ou de quem não soube atempadamente ir preparando os nativos das colónias para a autodeterminação, deviam ter acordado mais cedo, dando um rumo diferente à política ultramarina…?! Já havia muitos exemplos de descolonizações! Sabemos a aceleração com que foi feita a saída das nossas tropas, deixando ao Deus dará o destino das Novas Nações, que seguiram um rumo desastroso que descambou num caos, que foi aproveitado para vinganças vis, que provocaram o derrame de muito sangue, mas nunca saberemos o que aconteceria se fosse feita doutra maneira! Após o 25 de Abril, era dificílimo a Portugal manter-se nas ex-colónias, o desinteresse era geral, e aos Novos Países faltava-lhes formação governativa. Era complicadíssimo continuar a enviar tropas em massa e desmotivadas para o ultramar! E o que poderia acontecer? Quem estava na disposição de continuar a ir? Quem dos que estavam no ultramar não estavam desejosos e impacientes para regressar ontem? Como reagiriam os movimentos de libertação? Quem estava disponível para permanecer lá, ou ir policiar? Há muitas interrogações e dúvidas… mas são sempre os imbróglios provocados pelos horrores da guerra que conduzem a estes embaraços, a guerra é perpetuamente uma destruição do espírito humano, mas infelizmente tem muitos apologistas que por ela nutrem paixão, e que astutamente conseguem argumentar e convencer os incautos, das reais “virtudes e necessidades” que a guerra comporta… a culpa nunca querer morrer solteira. A Portugal faltou um estadista para orientar os destinos da Nação, já tínhamos muitas fontes onde nos podíamos rever e inspirar, para poder dar um rumo diferente com mais dignidade e mais ordem à descolonização…
Um abraço e boa saúde para todos.
José Corceiro
PS – As fotos 1, 2 e 3, assim como os endereços dos links foram retirados do Youtube
__________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 1 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7063: José Corceiro na CCAÇ 5 (17): Coincidências no dia 3 de Agosto de 1970
Vd. último poste da série de 26 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6251: No 25 de Abril de 1974 eu estava em... (10): Canfuja, sector de Piche, com o Jamanca e a CCAÇ 21, no rasto do PAIGC (Amadú Djaló, Alf Comando Graduado)
Caros amigos, Luís Graça, Carlos Vinhal, E. Magalhães.
Envio este testemunho, onde exponho como eu senti o 25 de Abril na época, antecedentes e algumas consequências, que publicarão caso entendam que tem algum interesse para o blogue.
Um abraço
José Corceiro
NO 25 DE ABRIL EU ESTAVA EM...
Os anos sessenta foram fabulosos em acontecimentos musicais, e testemunharam uma criatividade ímpar, que fez florir uma grande multiplicidade de inovações nos géneros musicais e nos ímpetos comportamentais dos jovens. São dignos de destaque os talentosos artistas ingleses, no campo da música, tais como os Beatles, os Rollings Stones, os The Who, o Cliff Richard e muitos outros ídolos americanos, que se sobrepuseram com o seu estilo cultural original, a cuja corrente a irreverente juventude aderiu voluntariosa, obrigando as comunidades a romper com muitas tradições sociais, que estavam arreigadas nos comportamentos dos povos há séculos. Muitos conceitos que se pensavam bem alicerçados, desabaram, e outros se inovaram, no campo da política, comportamento, moda, sexo, religião, etc. Foi a adesão em massa por parte da juventude, sempre ansiosa por novas experiências, que ao aderir a esta original onda do estilo de vida destes ídolos, que em parte contribuíram para o aparecimento nos anos de 1966/67, das manifestações dos movimentos Hippies, com a sua doutrina filosófica contra cultura, manifestando a sua rebeldia no campo das ideias, no modo de vestir, nos comportamentos contestários, questões ambientais, emancipação sexual, vida comunitária, discordância dos valores tradicionais face a tudo o que os cercava. Os adeptos do movimento Hippie, filosofavam e procuravam uma nova identidade, purificada e liberta de tudo o que consideravam impuro e nefasto no seio da sociedade reinante. Algumas das ideias dos Hippies rasgaram com as concepções há muito instituídas, deixando campo vazio aos novos conceitos por eles propagandeados, que se foram dispersando na sociedade, acabando por ser absorvidos. Os Hippies, adoptaram como seu, o símbolo da paz, e o lema que apregoavam bem alto, era: Paz e Amor.
Em Portugal os anos 60 foram tempos agitados, tempos problemáticos e difíceis, para o regime Salazarista e para o povo português.
O nosso País não tinha tradição de música Pop & Rock, este género musical foi uma onda importada da cultura dos países anglo-americano, no princípio da década de sessenta, acabando por nascerem assim, as primeiras correntes de rock no nosso país.
Quando começaram a surgir as primeiras bandas musicais, influenciadas pelos artistas do rock americano, os grupos portugueses não tinham raízes nem tradição de música contestaria, e não enveredaram pela atitude do inconformismo, mas antes porém, optaram pelo facilitismo da via da ingenuidade e simplicidade do género musical “Yé-Yé”, que o mesmo é dizer, tudo gente bem comportada que não quer provocar sarilhos, mas sim assegurar uma vida calma e tranquila.
O regime fascista controla a governação do País, onde se instalou há mais de 30 anos. Com raras excepções a juventude portuguesa não se envolve em questões de política, nem lhe são dadas oportunidades para tal, já que a macabra polícia ”Pide” tem tudo minado e controla os passos de meio mundo, servindo-se da rede tentacular dos seus impúdicos informadores, que estão infiltrados em tudo o que é repartição pública, devassando a vida de quem lhes aprouver, não permitindo que algum cidadão, mais atrevido, ponha o pé em ramo viçoso.
O povo politicamente é amorfo, o balão do descontentamento, devido à repressão do regime, está prestes a rebentar, as injustiças contra o cidadão comum agravam-se a cada dia que passa, o ódio sufocado do povo contra o regime, já é difícil de ocultar, o desejo para vingar as atrocidades cometidas pelo poder, ameaça explodir a qualquer momento.
Rebentam as primeiras contestações de vulto, levadas a cabo por algumas personalidades bem integradas no regime salazarista. É o caso da candidatura do General Humberto Delgado, em 1958… - obviamente, demito-o… - palavras de Humberto Delgado, a referir-se a Salazar. O assalto e o desvio, do paquete Santa Maria, foi em 22 de Janeiro 1961, a responsabilidade deste acto é também assumida pelo General “Sem Medo”. O massacre do porto de Pidjiguiti, na Guiné, foi em 3 de Agosto de 1959.
O assalto da prisão, em Luanda, foi em 4 de Fevereiro de 1961, esta acção dá mais um rombo e um abanão na estrutura do poder, inicia-se o alvorecer e despertar das consciências dum povo adormecido, que amanhece, acorda e abre os olhos para outras realidades, e com outros sentimentos, começando por condenar a resposta de retaliação do assalto à prisão, dada pelas autoridades portuguesas, que arrasaram aldeias inteiras com bombardeamentos, massacrando inocentes indefesos.
A Índia invade, Goa, Damão e Diu, em 18 de Dezembro 1961, que nós dizíamos serem nossas possessões há séculos; estoira a guerrilha em Angola, no ano de 1961; a rebelião do assalto ao Quartel de Beja, foi em 1 de Janeiro de 1962; aparece a Frelimo em Moçambique, em 1962; começa a luta na Guiné com o ataque ao quartel de Tite “que foi a primeira acção armada do P.A.I.G.C”, em 23 de Janeiro de 1963. Portugal, do dia para a noite, vê-se obrigado a um enorme esforço suplementar, com o envio de contingentes militares, para combater em três frentes distintas.
A juventude estudantil portuguesa inquieta-se e acorda, começa a desperta e a politizar-se, ganhando consciência de luta contestando o regime vigente, eclode a crise universitária de 1962.
Crise Universitária, de 1962 (http://www.manuelgrilo.com/rui/artigos/crise.html)
O envio de tropas para o ultramar começa a ser em massa, e todos temem que a sorte lhes vá bater à porta num futuro muito próximo, caso se continue com a mesma política, que está a absorver as sinergias de toda a juventude dum País, ao ser mobilizada para os Teatros Operacionais de Guerra das colónias e é inevitável que terão que se confrontar, empunhando armas, frente a frente com os nossos irmãos, alguns dos quais são amigos e seguem o mesmo percurso universitário. (O eloquente Poste 3543 – encontro de Dois Amigos no TO, frente a frente os “Inimigos”- Mário Dias e Domingos Ramos patentearam um leal exemplo de amizade e generosa sensatez, ditosos intervenientes, apanágio que só contempla Homens com grande dignidade e honradez, porque só estes são bafejados com esta sabedoria. Para mim um marco Importantíssimo no Blogue, um comportamento a raiar o mitológico, coincidências da vida. Parabéns para os dotados com este discernimento). A maioria dos jovens não compreende o que é que está em causa no conflito, duvidando se vão defender a soberania da Pátria ou os interesses de alguns colonialistas. As instâncias internacionais estão todas contra as nossas pretensões, deixando-nos isolados e orgulhosamente sós. Estamos envolvidos em três frentes de combate, numa guerra de guerrilha que poucos são os que sentem estímulo para a alimentar, nem há simpatia pela doutrina que a apoia, duvidando-se se efectivamente estamos a contribuir para o interesse do país, ou a desbaratar a sua economia. Falta motivação combativa.
A somar a este desinteresse, as forças mobilizadas quando chegam ao destino, vão encontrar instalações com péssimas condições de alojamento, algumas são degradantes, a aclimatização é dificílima, a alimentação é de má qualidade e pobre. Eu, na Guiné, tive um períodos que durou mais de dois meses, em que a alimentação foi diariamente arroz, algum misturado com caganitas de rato, atum e salsichas, duvidando-se do estado de conservação de cada um destes géneros alimentícios, se eram próprios para consumo, porque o odor era nauseabundo, mas nada mais havia para comer (e éramos só cerca de 40 arranchados). Honra seja feita, ao Sr. Capitão Costeira, na altura Comandante da CCAÇ 5, homem sensível, e dotado de excepcional carácter e compreensão humana, que a determinada altura, crendo que esta injustiça estava a ultrapassar o limite do razoável, deslocou-se a Bissau, onde comprou vários alimentos, fretou uma avioneta, creio que civil, para os transportar para Canjadude, onde foi logo confeccionada uma ceia condigna, (jantar) que comemos sôfregos, confraternizando todos reunidos, sentados à volta da mesma mesa.
É notório que se está a atingir o auge do limite das capacidades do Estado, era incomportável exigir tanto sacrifício à nobre juventude dum País, tão pequeno e com tão limitados recursos económicos, forçado por interesses de alguns monopólios, que não souberam nem quiseram aproveitar e criar condições oportunas e atempadas, para solucionar o problema, arrastando-nos agora para uma guerra fratricida em três frentes, guerra que já dura há mais duma década, sem perspectiva de paz à vista, estando a ceifar milhares de vidas e a deixar outras tantas com deficiências físicas, dum lado e do outro, não poupando a vida a inocentes, a agravar, ainda ocasiona traumas psíquicos, supliciando os que assistem aos horrores da guerra, traumas que só a morte lhos vai apagar. A guerra é sempre uma catástrofe… que provoca horrores e excessos de parte a parte… uma imbecilidade… Não se vislumbra no horizonte fim à vista para esta contenda.
O País continua cada vez mais só. O regime está tão obcecado com a linha da sua política que se convenceu (ou quer convencer) que só ele é o detentor de virtudes e da verdade, despreza toda e qualquer proposta no sentido de encontrar uma via diplomática alternativa, para solucionar o caso e pôr fim à guerra, alheando-se de todos os contra-argumentos que lhe sejam desfavoráveis, preferindo antes enterrar a cabeça na areia, para não ver, não ouvir, nem dar diálogo a vozes conscienciosas e sensatas, que exprimem outras opiniões… Progressivamente vai-se avolumando e generalizando a contestação ao regime vigente, e surgem resistências à mobilização dos militares para o ultramar.
Já antes da década de sessenta, surgiram algumas vozes de intervenção (protesto) no campo da música e da poesia, que com palavras dissimuladas contestam o regime. O José Afonso é a figura emblemática da canção de intervenção em Portugal, figura proeminente no combate contra a opressão do regime, através da canção. Dizia o Zeca Afonso sem pretensões algumas: - Semeio palavras na música. Assim, através das suas palavras disseminadas através das baladas, umas vezes com letras mais veladas, outras, mais explícitas, contesta o regime. Eu tenho algumas músicas do José Afonso, que algumas vezes ouvia com amigos mas com muito recato e quase em silêncio, havia receio (isto em 66 ou 67).
Vampiros: ( http://www.youtube.com/watch?v=ZUEeBhhuUos&feature=related)
Dentro da música de intervenção, há outros nomes que merecem ser lembrados, é o caso: José Mário Branco, Janita Salomé, Fausto, Sérgio Godinho, Vitorino, Manuel Freire (Pedra Filosofal), etc. que tiveram um percurso de vida, utilizando a canção de intervenção, para se manifestarem contra o antigo regime, o que os molestou, tendo alguns sido perseguidos acabando por se exilarem.
Pedra Filosofal: (http://www.youtube.com/watch?v=2DA-mzhk0s4)
FOTO 1 - Coimbra, 17 de Abril de 1969, o desfile militar, povo, estudantes e cartazes!
FOTO 2 - Coimbra, 14 de Junho de 1969, estudantes na R. Ferreira Borges, operação balão.
FOTO 3 - Coimbra, 22 de Junho de 1969, Final da Taça de Portugal. Comunicados caem sobre os espectadores
Por sua vez o regime também aproveitou a imagem e a popularidade dos artistas da época, (conveniência ou ingenuidade destes) ao promover espectáculos com os cantores mais conotados com a ideologia política do poder, espectáculos esses que serviam para serenar o cidadão, e ao utilizar os meios de comunicação divulgava-se a mensagem enganosa, que havia união entre o poder e o povo, ao qual o regime servia e administrando com rigor e controlo o erário público. Um embuste. Também eram enviados artistas em digressão pelas Províncias Ultramarinas onde eram fomentados espectáculos para impressionar e confundir a opinião pública, ao passar a mensagem que a guerra era obra de grupelhos conflituosos, que não intimidavam nada nem ninguém, visto que até os nossos artistas se deslocam livremente em segurança, a locais que difamadores dizem ser perigosos. A actuação dos artistas era a prova de que há paz e tranquilidade e não guerra! Era o continuar das “Conversas em Família” e o renovar o velho discurso do ditador dos anos trinta: - «Às almas laceradas pela dúvida e pelo negativismo, nós procuramos restituir o conforto (com bastonadas e prisão) das grandes certezas. Nós não discutimos Deus e a sua virtude, não discutimos a Pátria e a sua História, não discutimos a Família e a sua moral, não discutimos a Glória do trabalhador e a sua obrigação. Assim foram construídas as pilastras do edifício.»
Paralelamente a estes acontecimentos, começa a germinar uma juventude mais esclarecida e mais politizada, que se organiza contestando o regime e as suas instituições, e rebenta a Crise Académica na Universidade de Coimbra, nos meses de Abril, Maio e Junho, de 1969.
Crise Universidade de Coimbra: (http://www.youtube.com/watch?v=FV5cFbvK5p8&feature=related)
Crise Universidade de Coimbra: (http://www.youtube.com/watch?v=IqC6H0Ry17c)
Crise Universidade de Coimbra: (http://videos.sapo.pt/vFw8pzw6tGnH7JYATOlz)
Fotos: (http://caminhosdamemoria.wordpress.com/2009/06/02/crise-academica-coimbra-1969/)
Enquanto a guerra no ultramar ceifava a vida a militares e a inocentes dos dois lados, a polícia continuava a dar bastonadas nos contestários, e estes por sua vez aperfeiçoavam os seus métodos de reposta. Os embarques em massa para a guerra continuam, por vezes utilizando transportes marítimos cujas condições e instalações são humilhantes e degradantes para o homem, como me aconteceu a mim quando fui para a Guiné no Niassa, em 24 de Maio de 1969, mais parecendo que carregavam massa humana já destinada a carne de canhão. Estas condições eram aceites por muitos jovens, todos praças, por imposição e servilismo, mas com revolta contida, pois não tinham outras condições, sócio-económicas que lhes permitissem alternativa.
Progressivamente alguma juventude começa a adquirir consciência política, e concluí que a guerra é incomportável e de finalidade duvidosa, e decidem-se por abandonar o País a assalto, mancebos com 17, 18, 19 e 20 anos, fogem da tropa (nem sempre por medo). Vão para França e outros países Europeus, onde alguns já tinham familiares ou amigos, que lhe serviam de orientação e sustento nos primeiros tempos. Da minha terra foram muitas dezenas que tomaram esta atitude, assim como em toda a zona fronteiriça do País, como é a minha aldeia. Eu próprio cheguei a dar guarida, numa casa dos meus pais, durante uma semana, a 5 jovens naturais do Porto que estavam por ali de passagem, e que na hora de nos despedirmos me confidenciaram que estavam de abalada para o estrangeiro, para fugir à tropa, isto no Verão de 1967. Havia também os que desertavam quando estavam já a cumprir o serviço militar, ou já depois de estarem mobilizados com embarque agendado para o Ultramar, na minha aldeia houve casos destes. Estas deserções aconteciam com mais frequência em jovens militares oriundos de famílias da média burguesia, que tinham recursos monetários que fizessem face ao sustento no estrangeiro, até arranjarem emprego ou poderem continuar a estudar, tirando cursos superiores, como alguns da minha aldeia fizeram. Particularizando, tenho um caso na minha família, dum tio meu, da minha idade, que com 18 anos, para se livrar do serviço militar partiu para França, onde estava bem integrado e optou em 1968 por vir voluntariamente a cumprir a tropa. Logo em 1968 foi mobilizado para Angola, onde tombou em combate no dia 04 de Fevereiro de 1969. Já eu estava na Guiné quando se realizou o funeral do meu tio.
Era insustentável para um país com os recursos que Portugal tinha, sustentar uma guerra desgastante do género desta, com três frentes, onde não havia uma razão mobilizadora, nem uma causa justa que aglutinasse os seus efectivos em torno dum ideal, que motivasse os seus combatentes à luta. Faltava o ideal e a causa era injusta, estávamos condenados. Estávamos envolvidos neste conflito há mais duma década, não havia fim político ou militar à vista… estava já tudo saturado e cansado.
FOTO 4 - Corceiro, em Lisboa, ao fim da tarde, no dia 24 de Abril de 1974, o edifício em plano de fundo é o Palácio da Justiça.
FOTO 5 - Dia 25 de Abril de 1974, em Lisboa, Corceiro com garrafa na mão na casa onde vivia mais três amigos a festejar a Revolução dos Cravos. Não tinha whisky nem champanhe, abri uma garrafa de conhaque, Pedro Domecq. Quem não se aguentou nas canelas foi o meu amigo Freitas que já não se tinha na vertical e está na cama na horizontal. Pode ler-se num papel na parede – Comemoração de 25-04-1974
Em 25 de Abril de 1974, eu vivia em Lisboa num apartamento na R. Viriato, (paralela à R. Fontes Pereira de Melo) com mais três estudantes. De madrugada, às 04:30h, tocou o telefone insistentemente, atendeu-se e era a irmã do meu amigo Freitas, que hoje deve ser médico. A irmã do Freitas trabalhava como jornalista num órgão de comunicação social, e telefonou a alertar o irmão que tinha havido uma revolução militar e a preveni-lo para não sair de casa. O Freitas ainda não tinha cumprido a tropa. Ainda não eram 5 horas, já o Corceiro, o Freitas e outro amigo, estávamos junto ao Marques de Pombal, pois do apartamento até lá eram dois minutos a caminhar. Acompanhamos durante todo o dia, na via pública, as movimentações militares, sem mais voltarmos a casa, quisemos assistir ao evoluir da Revolução dos Cravos. Palmilhámos a Avenida da Liberdade, Restauradores, Rossio, na Rua do Carmo e na R. Nova do Almada, assistimos a pilhagens em duas ou três casas comerciais, fomos para a Praça do Comércio e a culminar, ao fim da tarde, assistimos aos acontecimentos do render no Largo do Carmo.
Recordo deste dia a força aglutinadora e a impulsividade manifestada pelo povo, no apoio aos militares com os quais se misturava e queria proteger, no Rossio foi o apogeu, as floristas a abraçarem e a colocarem espontaneamente cravos nos canos das G3 dos militares, que transportavam uma arma na mão, mas guardavam dentro do peito um coração que palpitava e esvoaçava qual pomba branca a anunciar a paz, foi dum simbolismo de ensoberbecer; o povo anónimo dava as mãos e enlaçava-se, dando abraços a irmãos desconhecidos, era o comungar e saudar o novo porvir de esperança e paz, erguendo em uníssono o ramo de oliveira, simbolizando um pacto de concórdia; era uma alegria esfuziante, que só os momentos de glória dum egrégio e pacífico povo, com notável história, sabem enobrecer…
O 25 de Abril foi aquilo que todos sabemos que é! Poderia ter sido melhor? - Podia… Poderia ter sido pior? - Podia… Mas era muito urgente a mudança… É de louvar os homens que tiveram os ideais de Abril. O País estava a ficar incomportável, não havia viabilidade para o status quo…
FOTO 6 - Dia 28 de Abril de 1974, ao fim da tarde, na R. Fontes Pereira de Melo, antes de chegar às Picoas. Começou espontaneamente o pessoal a aglomerar-se, já depois da Rotunda, e enquanto o diabo esfregou o olho, estruturou-se uma manifestação, com muitos militares da força aérea, como se pode ver nas linhas da frente com farda azul e boina verde. As palavras de ordem – Nem mais um soldado para o ultramar…
FOTO 7 - Dia 30 de Abril, de 1974, na parte da tarde na Ave. da Liberdade, antes de chegar à Rotunda, veja-se a destreza e o à vontade, dum pai ou avô, a passear a criança. O Sr. que está no meio do trânsito, está a distribuir panfletos para a convocação do 1º de Maio.
O 25 de Abril foi obra feita por seres humanos, com as suas virtudes e defeitos, portadores duma carga genética com as suas dominâncias, detentores das suas experiências de vida, e até limitados por contingências diversas: ideologias políticas, interesses pessoais, valores humanos, houve muitas determinantes que condicionaram o bom evoluir dos acontecimentos, e até, talvez, os seus ideólogos e operacionais não esperassem que fosse este o evoluir do rumo revolucionário que sonharam e queriam dinamizar, e que o seu querer tenha sido ultrapassado pelo progredir!?
FOTO 8 - Dia 1º de Maio, 1974, tirei esta foto ao princípio da tarde, na Alameda. Posicionei-me junto da Fonte Luminosa.
FOTO 9 - Dia 1º de Maio, de 1974, tirei esta foto ao meio da tarde, na Alameda, podem ver-se muitos militares da Marinha. Estava posicionado, para fotografar, no lado do Técnico. Veja-se o mar de gente.
Seguiram-se dias de salutar entusiasmo sibilante, aos quais tive a fortuna de assistir, que culminaram com a realização da festa do 1.º de Maio de 1974, na Alameda, nunca mais houve outra igual. Tive o privilégio de presenciar nos dias a seguir ao 25 de Abril, à progénie de manifestações espontâneas, em que o povo circundante aderia apaixonadamente à torrente da multidão, onde era regra invariável e obrigatória serem sempre gritadas, bem alto, as mesmas palavras de ordem: - Nem mais um soldado para o ultramar… Regressem do ultramar os soldados já… Para o ultramar nem mais um militar… Não à guerra no ultramar…
Estava sempre presente o Ultramar, nas preocupações do Povo.
FOTO 10 - Agosto 2010, Corceiro na Madeira, junto à cascata Véu da Noiva, na costa Norte.
A descolonização das ex-colónias foi mal negociada, foi um autêntico desastre, não se garantiram a segurança e direitos aos residentes e o que aconteceu após a entrega foi uma indignidade para o povo português e para os movimentos de libertação, que não se entendiam porque lhes faltava coesão Nacional, no caso da Guiné eram muitas as tribos (interferências e interesses em jogo etc., etc.)… O êxodo de milhares e milhares de retornados…?! Questiono-me, se perante o momento conturbado que atravessava o País, se seria possível fazer melhor descolonização? A culpa do que aconteceu, terá sido de quem negociou, ou de quem não soube atempadamente ir preparando os nativos das colónias para a autodeterminação, deviam ter acordado mais cedo, dando um rumo diferente à política ultramarina…?! Já havia muitos exemplos de descolonizações! Sabemos a aceleração com que foi feita a saída das nossas tropas, deixando ao Deus dará o destino das Novas Nações, que seguiram um rumo desastroso que descambou num caos, que foi aproveitado para vinganças vis, que provocaram o derrame de muito sangue, mas nunca saberemos o que aconteceria se fosse feita doutra maneira! Após o 25 de Abril, era dificílimo a Portugal manter-se nas ex-colónias, o desinteresse era geral, e aos Novos Países faltava-lhes formação governativa. Era complicadíssimo continuar a enviar tropas em massa e desmotivadas para o ultramar! E o que poderia acontecer? Quem estava na disposição de continuar a ir? Quem dos que estavam no ultramar não estavam desejosos e impacientes para regressar ontem? Como reagiriam os movimentos de libertação? Quem estava disponível para permanecer lá, ou ir policiar? Há muitas interrogações e dúvidas… mas são sempre os imbróglios provocados pelos horrores da guerra que conduzem a estes embaraços, a guerra é perpetuamente uma destruição do espírito humano, mas infelizmente tem muitos apologistas que por ela nutrem paixão, e que astutamente conseguem argumentar e convencer os incautos, das reais “virtudes e necessidades” que a guerra comporta… a culpa nunca querer morrer solteira. A Portugal faltou um estadista para orientar os destinos da Nação, já tínhamos muitas fontes onde nos podíamos rever e inspirar, para poder dar um rumo diferente com mais dignidade e mais ordem à descolonização…
Um abraço e boa saúde para todos.
José Corceiro
PS – As fotos 1, 2 e 3, assim como os endereços dos links foram retirados do Youtube
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Notas de CV:
(*) Vd. poste de 1 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7063: José Corceiro na CCAÇ 5 (17): Coincidências no dia 3 de Agosto de 1970
Vd. último poste da série de 26 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6251: No 25 de Abril de 1974 eu estava em... (10): Canfuja, sector de Piche, com o Jamanca e a CCAÇ 21, no rasto do PAIGC (Amadú Djaló, Alf Comando Graduado)
Guiné 63/74 - P7180: (In)citações (22): Era uma vez...Três TVês Comunitárias: Klelé (Bairro de Quelélé, Bissau), Massai (Iemberém, Cantanhez) e Bagunda (S. Domingos, Região de Cacheu)
Guiné-Bissau > Bissau > AD - Acção para o Desenvolvimento > Foto da semana > Título da foto: Festival Quilombola em Cacheu > Data de publicação: 3 de Outubro de 2010 > Data da foto: 2000 > Palavras-chave: História e Cultura > Legenda:
"De Cacheu para o novo mundo, Brasil, Caraíbas e América do Norte, milhares de escravos foram levados, há mais de 400 anos, para trabalhar nas grandes plantações agrícolas, especialmente de cana-de-açúcar e algodão. Esta fortaleza testemunhou o embarque desses negros, no porto de cais que se situa ao lado, muitos dos quais não aceitaram ser escravos e, no Brasil, decidiram fugir e criar as suas zonas libertadas, os Quilombos. Em Novembro deste ano, um grupo de cerca de 30 quilombolas (*) regressa às origens e vem visitar a terra dos seus avós, indo de seguida à cidade da Praia em Cabo Verde, local onde os escravos eram vendidos e partiam em várias direcções"(AD).... E seguramente que a TV Bagunda, televisão comunitária de São Domingos, vai lá estar para registar e divulgar esse (re)encontro histórico, emocionante, das gentes do Cacheu com os "quilombas" (LG)...
Foto: AD - Acção para o Desenvolvimento (2010) (com a devida vénia...)
Télévisions communautaires et sécurité alimentaire en Guinée Bissau, de Thierry Michal. Um vídeo de 10' 02''
Uma história que, desta vez, não tem que ser triste, só porque passada num dos países mais pobres do mundo... Como é que uma ONGD, local, a AD - Acção para o Desenvolvimento, onde trabalham amigos nossos, como o Pepito, a Isabel Lévy, o Domingos Fonseca, o Tomani Camará, e outros, criou 3 (três) televisões counitárias no seu país com o objectivo de apoiar a sua acção em prol dfe três objectivos: (i) segurança alimentar; (ii) preservação do ambiente; e (iii) valorização das culturais locais.
Neste filme produzido pela Federação Nacional dos Vídeos dos Países e dos Bairros, Fédération nationale des Vidéos des Pays et des Quartiers, no quadro de uma missão de estudo na Guiné-Bissau, o nosso amigo Pepito é longamente entrevistado (em francês). Fala-nos, com grande entusiasmo, da importância dessas televisões locais, postas ao serviço da cidadania, do desenvolvimento integrado, da extensão rural, da luta contra a degradação ambiental, da protecção e promoção da saúde, da literacia, da identidade cultural e da preservação da memória.
Clicar aqui para visualizar o vídeo:
http://www.vimeo.com/15948009
Do relatório de actividade da AD - Acção para o Desenvolvimento, respeitante ao exercício de 2009, destacamos a seguinte informação sobre as três televisões comunitárias, a TVK [, Klelé,], em Bissau, TVMassai, no Cantanhez, e TVBagunda, em São Domingos (pp. 9-11).
Trata-se de uma iniciativa da AD que tem 8 anos de existência e que se vemafirmando de forma gradual, apesar das reservas iniciais que muitos lhe apontavam. A Oxfam Novib foi o único parceiro que aceitou correr o risco na procura desta nova forma de comunicação.
Em 2009, elas acabaram por ocupar um lugar incontornável na informação, comunicação e produção de DVD para as comunidades locais do nosso país, começando a ser reconhecidas pela qualidade dos seus serviços e pelob impacto das suas produções, especialmente na difusão de técnicas de vulgarização, no resgate da cultura nacional e na recolha de testemunhos históricos da luta pela independência da Guiné-Bissau.
As três televisões comunitárias promovidas pela AD têm características diferentes e usam métodos de comunicação diversificados.
A TVKlélé, a mais antiga, criada em Setembro de 2001, assume-se como uma televisão “ambulante” organizando sessões na comunidade do bairro de Quelélé em Bissau (22.000 habitantes), ou noutros locais do país, como Canchungo, por exemplo. São emissões pontuais (não diárias), com uma periodicidade mensal em que a população é convocada a participar na apresentação de uma emissão de rua, da qual constam vários programas: noticiário das actividades da comunidade, um spot ou mensagem sobre a higiene, saúde ou agricultura, uma parte cultural (vídeo-clip ou dança e canto tradicional ou pequena peça de teatro) e finalmente o tema forte que irá ser o motivo de debate comunitário. Escolhe-se sempre um assunto que esteja na ordem do dia da preocupação das pessoas: comercialização dos produtos, falta de água, funcionamento das escolas públicas, higiene e saneamento urbano.
Télévisions communautaires et sécurité alimentaire en Guinée Bissau, de Thierry Michal. Um vídeo de 10' 02''
Uma história que, desta vez, não tem que ser triste, só porque passada num dos países mais pobres do mundo... Como é que uma ONGD, local, a AD - Acção para o Desenvolvimento, onde trabalham amigos nossos, como o Pepito, a Isabel Lévy, o Domingos Fonseca, o Tomani Camará, e outros, criou 3 (três) televisões counitárias no seu país com o objectivo de apoiar a sua acção em prol dfe três objectivos: (i) segurança alimentar; (ii) preservação do ambiente; e (iii) valorização das culturais locais.
Neste filme produzido pela Federação Nacional dos Vídeos dos Países e dos Bairros, Fédération nationale des Vidéos des Pays et des Quartiers, no quadro de uma missão de estudo na Guiné-Bissau, o nosso amigo Pepito é longamente entrevistado (em francês). Fala-nos, com grande entusiasmo, da importância dessas televisões locais, postas ao serviço da cidadania, do desenvolvimento integrado, da extensão rural, da luta contra a degradação ambiental, da protecção e promoção da saúde, da literacia, da identidade cultural e da preservação da memória.
Clicar aqui para visualizar o vídeo:
http://www.vimeo.com/15948009
Do relatório de actividade da AD - Acção para o Desenvolvimento, respeitante ao exercício de 2009, destacamos a seguinte informação sobre as três televisões comunitárias, a TVK [, Klelé,], em Bissau, TVMassai, no Cantanhez, e TVBagunda, em São Domingos (pp. 9-11).
(...) 2. As Televisões Comunitárias ao serviço do desenvolvimento local
Trata-se de uma iniciativa da AD que tem 8 anos de existência e que se vemafirmando de forma gradual, apesar das reservas iniciais que muitos lhe apontavam. A Oxfam Novib foi o único parceiro que aceitou correr o risco na procura desta nova forma de comunicação.
Em 2009, elas acabaram por ocupar um lugar incontornável na informação, comunicação e produção de DVD para as comunidades locais do nosso país, começando a ser reconhecidas pela qualidade dos seus serviços e pelob impacto das suas produções, especialmente na difusão de técnicas de vulgarização, no resgate da cultura nacional e na recolha de testemunhos históricos da luta pela independência da Guiné-Bissau.
As três televisões comunitárias promovidas pela AD têm características diferentes e usam métodos de comunicação diversificados.
A TVKlélé, a mais antiga, criada em Setembro de 2001, assume-se como uma televisão “ambulante” organizando sessões na comunidade do bairro de Quelélé em Bissau (22.000 habitantes), ou noutros locais do país, como Canchungo, por exemplo. São emissões pontuais (não diárias), com uma periodicidade mensal em que a população é convocada a participar na apresentação de uma emissão de rua, da qual constam vários programas: noticiário das actividades da comunidade, um spot ou mensagem sobre a higiene, saúde ou agricultura, uma parte cultural (vídeo-clip ou dança e canto tradicional ou pequena peça de teatro) e finalmente o tema forte que irá ser o motivo de debate comunitário. Escolhe-se sempre um assunto que esteja na ordem do dia da preocupação das pessoas: comercialização dos produtos, falta de água, funcionamento das escolas públicas, higiene e saneamento urbano.
À volta deste tema, a TVComunitária produz um filme de 20 minutos onde coloca o problema sob vários ângulos: quais são os problemas existentes? Qual a posição dos diferentes interesses em causa (mulheres, comerciantes, poder local, etc.)? Quais os desafios e eventuais soluções preconizadas? O filme pretende criar as condições de informação e sensibilização para que todospercebam o alcance do problema e possam participar activamente na discussão. Após a apresentação do filme-documentário sobre o tema central, abre-se uma fase de debate em câmara aberta, isto é, em que todos os que estão a assistir à emissão o possam seguir numa tela gigante onde se revejam e vejam os diferentes intervenientes. Isto ajuda normalmente a aumentar a consciência de que se trata de uma questão colectiva e que exige a intervenção e responsabilização individual para a sua solução. Por outro lado, criam-se dinâmicas de acção e de entre-ajuda nos diferentes grupos sociais da comunidade.
Se a TVK é sobretudo uma televisão periurbana, já as outras duas,a TVMassai, de Cantanhez e a TVBagunda, de S.Domingos, são rurais, funcionando diariamente com o sistema “clássico” de emissões por ondas hertzianas, atingindo um raio de cerca de 15 Km. As emissões têm uma duração de 2 horas diárias, sendo o mesmo programa apresentado durante uma semana, isto é, só de 7 em 7 dias é que se faz um novo programa. No entanto, há a preocupação diária de introduzir o noticiário da televisão nacional oficial, para
que a população tenha conhecimento do que se vai passando a nível nacional.
Nestas televisões, porque rurais, são apresentados um maior número de programas agrícolas e ambientais referentes a novas tecnologias de simples utilização que podem ser vulgarizadas a nível local, como também de sistemas de cultura praticados pelos agricultores de referência, isto é, aqueles que praticam técnicas mais modernas e eficazes. Os programas de resgate das culturas das etnias da região são uma constante, permitindo dar a conhecer e valorizar as que são pouco conhecidas ou que estão em vias de desaparecimento. Outro dos temas motivantes é o da recuperação da história local de cada uma das etnias e da história nacional. A captação destas emissões é feita através de postos colectivos nas tabancas, normalmente nas Escolas de Verificação Ambiental (EVA), que dispõem de um sistema de postos de recepção que funcionam a energia solar.
Para a produção dos programas emitidos em cada uma destas TV, cada uma delas dispõem de: um pequeno estúdio de montagem áudio-visual, dotado de equipamento muito simples de captação de imagem, sendo os filmes produzidos com recurso a uma mesa de montagem “Casablanca”; um núcleo de cerca de 10 jovens da comunidade, a maior parte dos quais são estudantes que, em regime de voluntariado e após várias formações técnicas e jornalísticas, fazem os guiões, recolhem as imagens e produzem osfilmes (eles são formados para desempenharem o papel de animadores comunitários); “actores” recrutados entre a população local para os filmes devulgarização.
A estreita ligação com a AD enquanto associação de promoção do desenvolvimento, assegura que a vulgarização obedeça a critérios de prioridades agrícolas e garanta uma coerência na sua apresentação, evitando-se que elas caiam do céu sem serem acompanhadas pelos técnicos que estãoa trabalhar no terreno com os pequenos agricultores.
Se a TVK é sobretudo uma televisão periurbana, já as outras duas,a TVMassai, de Cantanhez e a TVBagunda, de S.Domingos, são rurais, funcionando diariamente com o sistema “clássico” de emissões por ondas hertzianas, atingindo um raio de cerca de 15 Km. As emissões têm uma duração de 2 horas diárias, sendo o mesmo programa apresentado durante uma semana, isto é, só de 7 em 7 dias é que se faz um novo programa. No entanto, há a preocupação diária de introduzir o noticiário da televisão nacional oficial, para
que a população tenha conhecimento do que se vai passando a nível nacional.
Nestas televisões, porque rurais, são apresentados um maior número de programas agrícolas e ambientais referentes a novas tecnologias de simples utilização que podem ser vulgarizadas a nível local, como também de sistemas de cultura praticados pelos agricultores de referência, isto é, aqueles que praticam técnicas mais modernas e eficazes. Os programas de resgate das culturas das etnias da região são uma constante, permitindo dar a conhecer e valorizar as que são pouco conhecidas ou que estão em vias de desaparecimento. Outro dos temas motivantes é o da recuperação da história local de cada uma das etnias e da história nacional. A captação destas emissões é feita através de postos colectivos nas tabancas, normalmente nas Escolas de Verificação Ambiental (EVA), que dispõem de um sistema de postos de recepção que funcionam a energia solar.
Para a produção dos programas emitidos em cada uma destas TV, cada uma delas dispõem de: um pequeno estúdio de montagem áudio-visual, dotado de equipamento muito simples de captação de imagem, sendo os filmes produzidos com recurso a uma mesa de montagem “Casablanca”; um núcleo de cerca de 10 jovens da comunidade, a maior parte dos quais são estudantes que, em regime de voluntariado e após várias formações técnicas e jornalísticas, fazem os guiões, recolhem as imagens e produzem osfilmes (eles são formados para desempenharem o papel de animadores comunitários); “actores” recrutados entre a população local para os filmes devulgarização.
A estreita ligação com a AD enquanto associação de promoção do desenvolvimento, assegura que a vulgarização obedeça a critérios de prioridades agrícolas e garanta uma coerência na sua apresentação, evitando-se que elas caiam do céu sem serem acompanhadas pelos técnicos que estãoa trabalhar no terreno com os pequenos agricultores.
Exemplos mais recentes de produtos DVD destas TV comunitárias: (i) combate à mosca da fruta nos citrinos e mangueiros; (ii) introdução de novas tecnologias amigas do ambiente e que aligeiram o trabalho das mulheres: fogões de cozinha melhorados “numo” que permitem reduzir drasticamente o consumo de lenha e o abate de árvores da floresta; (iii) sal solar “minda” que reduz o trabalho das mulheres e recorrem ao sol como única fonte de energia; (iv) fabrico de carvão pelo método “mate”, que produz carvão de melhor qualidade e com maior duração de consumo; (v) repovoamento comunitário do mangal e do cibe; (vi) higiene pessoal e colectiva com acento tónico no bom uso da água; (vii) prevenção e tratamento das doenças mais comuns como a malária, cólera, diarreia.
Todos estes produtos DVD assentam numa perspectiva de sensibilização dos destinatários e de demonstração clara de como e o que fazer, utilizando-se diferentes formas: através das emissões da TV Comunitárias (nas escolas EVA ou na esquina das ruas no caso da TV ambulante); projecções em seminários técnicos, encontros de agricultores ou reuniões comunitárias nas tabancas; na formação dos vulgarizadores, agentes locais de desenvolvimento e professoresn das EVA.
Vários aspectos merecem uma profunda reflexão e intervenção para se obterem melhores performances destas televisões:
Todos estes produtos DVD assentam numa perspectiva de sensibilização dos destinatários e de demonstração clara de como e o que fazer, utilizando-se diferentes formas: através das emissões da TV Comunitárias (nas escolas EVA ou na esquina das ruas no caso da TV ambulante); projecções em seminários técnicos, encontros de agricultores ou reuniões comunitárias nas tabancas; na formação dos vulgarizadores, agentes locais de desenvolvimento e professoresn das EVA.
Vários aspectos merecem uma profunda reflexão e intervenção para se obterem melhores performances destas televisões:
(i) do ponto de vista técnico há que encontrar uma melhor solução para os emissores (frequência irregular e avarias frequentes), a existência de técnicos de manutenção-reparação competentes e de sistemas de videomontagem que se avariem com menos frequência e não deixar muito tempo os receptores parados devido a pequenas avarias (antena deslocada, fusível queimado, etc.);
(ii) do ponto de vista de direcção da televisão, há que encontrar soluções e incentivos para ter à frente delas jovens com uma maior visão e perspectiva do desempenho futuro que as televisões virão a ser chamadas a desempenhar, concilindo com o facto de todo o pessoal trabalhar em regime de voluntariado;
(iii) do ponto de vista da produção de conteúdos, há que haver uma maior articulação entre os técnicos da AD e os jornalistas das televisões para a concepção de programas agrícolas, assim como formações específicas para os jornalistas ligados aos aspectos culturais;
(iv) no que concerne ao acompanhamento e avaliação do funcionamento das televisões, há que constatar que ela não se faz de forma sistemática e consequente, mas apenas aleatoriamente e sem consequências práticas para a rectificação dos erros ou lacunas.
Começa a ser importante conhecer o universo das pessoas atingidas, o funcionamento dos postos de recepção nas tabancas, o interesse que cada tema desperta nos diferentes grupos sociais, o impacto no seu bem estar e vida em geral, as sugestões e críticas da
comunidade.
A imaginação, a força de vontade, o empenho e a melhoria constante dos conhecimentos das pessoas que dirigem, fazem funcionar ou apoiam as rádios e televisões comunitárias vão empurrando para mais longe os limites das TV comunitárias.(...)
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Nota de L.G.:
Último poste desta série > 27 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7179: (In)citações (21): Os irmãos Turpin, José e Eliseu, "verdadeiros filhos da Guiné" (Luís Graça)
(*) Segundo o Dicionário Houaiss (2003), o quilombo (o termo é de origem angolana) era um sítio, no Brasil, onde se escondiam os escravos fugidos. Com o tempo, os quilombos tornaram-se comunidades autónomas. Em geral, ficavam no mato, na selva ou na montanha, longe dos centros urbanos. A essa gente foragida dava-se o nome de quilombolas.O mais célebre terá sido o Quilombo dos Palmares, em Alagoas, símbolo da resistência dos afrobrasileiros ao esclavagismo no período colonial. Vd. entradas na Wikipédia.
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Nota de L.G.:
Último poste desta série > 27 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7179: (In)citações (21): Os irmãos Turpin, José e Eliseu, "verdadeiros filhos da Guiné" (Luís Graça)
(*) Segundo o Dicionário Houaiss (2003), o quilombo (o termo é de origem angolana) era um sítio, no Brasil, onde se escondiam os escravos fugidos. Com o tempo, os quilombos tornaram-se comunidades autónomas. Em geral, ficavam no mato, na selva ou na montanha, longe dos centros urbanos. A essa gente foragida dava-se o nome de quilombolas.O mais célebre terá sido o Quilombo dos Palmares, em Alagoas, símbolo da resistência dos afrobrasileiros ao esclavagismo no período colonial. Vd. entradas na Wikipédia.
Guiné 63/74 - P7179: (In)citações (16): Os irmãos Turpin, José e Eliseu, "verdadeiros filhos da Guiné" (Luís Graça)
Há dias ouvi pela rádio RFI, uma entrevista de José Turpin (irmão de Elysée Turpin, co-fundador do PAIGC) que falava de Cabral dizendo:
- Quando ele chegou a Conacri, escondido sob o pseudónimo de Abel Djassi, e onde eu e mais outros camaradas já nos encontrávamos, rapidamente se impôs como líder, não pela força mas pela sua integridade moral e força de convicção. Foi ele que nos unificou sob uma única liderança política e estratégica, antes dele, os "verdadeiros" Guineenses pavoneavam-se por aí, perdendo seu tempo em discursos patrióticos e disputas pueris por mulheres (prostitutas, provavelmente).
Cherno Baldé (*)
Comentário de Luís Graça (foto à esquerda, em Bambadinca, 1969):
Meu caro Cherno, conheci o José (ou Joseph) Turpin em Bissau, no último dia do encerramento do Simpósio Internacional de Guileje (1-7 de Março de 2008) (**).
Fiz, inclusive, um pequeno vídeo com um depoimento dele, com uma mensagem de saudação destinada ao António Lobato, o hoje major piloto aviador reformado que foi prisioneiro do PAIGC durante 7 anos em Conacri... Nunca cheguei a saber se o António, que é minhoto de Melgaço (se não me engano), teve conhecimento do vídeo, que de resto está disponível em You Tube > Nhabijoes.
Embora tivesse sido breve a nossa conversa, fiquei com uma boa impressão deste homem em cuja casa, a dos pais que eram comerciantes, se acolheu Amílcar Cabral (aliás, Abel Djassi), quando veio, da clandestinidade, para Conacri, creio que em 1960. Nessa altura o Joseph (hoje, José) nem sequer falava (ou falava muito mal o) português, segundo depreendi da nossa conversa no Hotel Palace, em Bissau... A sua admiração por Amílcar terá começado aí...
Como aqui, neste blogue, já o disse em tempos, o José pediu-me para gravar e mandar uma curta mensagem para o António Lobato, o antigo sargento piloto aviador português, cujo caça-bombardeiro T6 fizera uma aterragem de emergência, na Ilha do Como, em 1963.
Feito prisioneiro por camponeses e entregue ao PAIGC, o Lobato foi levado para Conacri, onde permaneceu sete longos anos de cativeiro, até à sua libertação em 22 de Novembro de 1970, no decurso da Op Mar Verde, como todos sabem. (***)
Gostei da autenticidade, da simplicidade e da sinceridade deste homem:
- Ó Lobato, depois da tempestade, depois de tantos anos, não sei se te vais lembrar de mim... - são as primeiras palavras deste histórico do PAIGC, na altura, nos anos 60, a viver em Conacri, sendo então membro do Conselho Superior da Luta. (O irmão, o Elisée ou Eliseu, nascido a 23 de Maio de1930, viveu sempre em Bissau onde foi guarda-livros da Casa Gouveia, entre 1958 e 1964, e depois gerente da ANCAR, até 1973, nunca tendo particiapdo directamente na luta armada).
Nesse curto vídeo, o José Turpin recordava os momentos em que, por diversas vezes, visitara o nosso camarada António Lobato na prisão. Não esconde que foram momentos difíceis, para ambos, mas ao mesmo tempo emocionantes: dois inimigos que, afinal, revelavam o melhor da nossa humanidade...
- Eu compreendia, estavas desmoralizado...Havia animosidade...
José Turpin agradecia, por fim, ao Lobato as palavras de apreço com que ele se referira à sua pessoa, ao evocar há tempos, em entrevista à rádio, a sua dura experiência de cativeiro. Agradecia também o exemplar do livro que o Lobato lhe mandara e que ele leu, com muito interesse. Diz ainda, no vídeo, que ficara sensibilizado com as palavras e o gesto do Lobato.
- Mas tudo isso hoje faz parte da história...Seria bom que viesses a Bissau - são as últimas palavras, deste homem afável, e de grande estatura moral, dirigidas ao seu antigo prisioneiro português que ele trata por camarada.
Como eu gostava, Cherno Baldé, que este homem se juntasse a nós, aqui, na Tabanca Grande. Ele é seguramente um "verdadeiro filho da Guiné", independentemente das circunstâncias do nascimento (julgo que os dois irmãos nasceram na Guiné-Bissau, indepentemente de os pais, comerciantes, viverem ou terem vivido em Conacri).
Que será feito do José Turpin, hoje ? E do seu irmão, Elisée Turpin (hoje com 80 anos) (**) ? E dessa mulher extraordinária, que é a Carmen Pereira, outra "verdadeira filha da Guiné", em 7 de Março de 2008, que também conheci na altura e que é visita, sempre que vem a Portugal, da casa da Júlia e do Nuno Rubim. (Aliás, as duas mulheres são primas).
Cherno, se souberes notícias do José o Eliseu não o conheço pessoalmente), dá-lhe um grande abraço meu e transmite-lhe o meu convite para ingressar na nossa Tabanca Grande.E, já agora, que estamos em maré de mantenhas, dá também um abraço ao Cadogo Pai, membro da nossa Tabanca Grande.
______________
Notas de L.G.:
(*) Vd. poste de 26 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7176: (In)citações (20): Os verdadeiros filhos da Guiné (Cherno Baldé / José Belo)
(**) Vd. entrevista dada por Elisée (ou Eliseu) Turpin ao portal Notícias Lusófonas > 20 de Janeiro de 2003 > Pai de duas nacionalidades foi assassinado há 30 anos , de que se reproduzem, com a devida vénia, alguns dos excertos mais significativos:
(...) Quando se assinala o 30º aniversário da "partida" do "pai" [, Amílcar Cabral,] das nacionalidades da Guiné-Bissau e Cabo Verde, as certezas da memória "esmagam" as dúvidas sobre a orquestração do assassínio do guerrilheiro. Apenas a especulação aponta possíveis cenários para o que se passou naquele dia [20] de Janeiro [de 1973], mas a memória de Elisé Turpin, um dos "camaradas" de Amílcar, permite seguir, com assinatura, os mais importantes momentos da "gestação" da independência da Guiné-Bissau.
Após a longa batalha de 11 anos travada pelos guerrilheiros liderados por Cabral e quase três décadas de independência, foram muitos os heróis que ficaram esquecidos num "canto da história" da Guiné-Bissau, permanecendo Amílcar como o regaço onde todos se recolhem.
Foi por "convicção" que, logo após a independência, EliséeTurpin se retirou para o seu "canto da história" e é para "ajudar a, finalmente, cumprir o ideal de Amílcar Cabral" que agora, com 72 anos de idade, regressa através de um passeio pela memória.
"Não há futuro possível - para a Guiné-Bissau - sem os ecos do passado a marcar o passo da história", considera Turpin, e é com essa convicção que, na sua casa, a 50 metros da sede do PAIGC (Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde), situada na Praça dos Heróis da Liberdade da Pátria (ex-Praça do Império), em Bissau, activa a memória.
Elisée Turpin conta, enquanto fundador do PAIGC ao lado de "mais cinco camaradas: Amílcar e Luís Cabral, Aristides Pereira, Fernando Fortes e Júlio Almeida", o que foram os primeiros passos desta organização política que viria a ser o pilar central da "libertação da Guiné-Bissau". Mas há ainda outro "pormenor" que enfatiza o papel de Turpin na criação do PAIGC: "Sim, posso ser considerado como o único indivíduo que esteve na fundação do partido e que era genuinamente cidadão guineense. Os outros eram todos filhos de pais cabo-verdianos".
O surgimento do PAI (Partido Africano para a Independência), depois transformado em PAIGC na Guiné-Conacri, acontece "por vontade e iniciativa de Amílcar Cabral", então jovem engenheiro agrónomo regressado dos estudos em Portugal, em 19 de Setembro de 1956. Antes do surgimento do PAI, havia na então Guiné portuguesa muitas outras organizações ou movimentos de tendência nacionalista que aspiravam à libertação do país. Tudo no seguimento dos ventos da libertação que sopravam nas outras províncias coloniais, sobretudo as províncias vizinhas do território da Guiné-Bissau: Senegal, Gana e Guiné-Conacri.
"Mas, verdade seja dita, o PAI foi de longe a organização melhor estruturada, conseguindo rapidamente granjear a simpatia dos rapazes da altura, que encontraram em Amílcar pensamento e personalidade, o estandarte que secretamente procuravam para poder seguir", diz Turpin com um leve, mas mal disfarçado, ar de orgulho por ter vivido estes momentos ao lado do mítico guerrilheiro.
Tudo começou com "um simples clube de futebol (não se recorda do nome) do qual faziam parte os fundadores do partido" e que rapidamente foi transformado num "espaço de consciencialização dos moços da altura para uma ideia de libertação do país".
"Lá partíamos nós, com as coisas do futebol à frente, mas com as coisas da libertação da Pátria atrás, dos lados, por cima, por baixo ... cada vez mais, cada vez mais conscientes do pontapé certeiro que estávamos a dar na História", diz Turpin. Iniciativas deste tipo já aconteciam no Senegal, para onde muitos dos guineenses se deslocavam em visitas familiares, sobretudo Turpin, que, então, tinha familiares na administração pública em Dacar (capital).
Com tudo isso, cita de memória, Cabral dizia: "Olhem que os portugueses nos estão a enganar com alguns privilégios que dão a um grupo reduzido de indivíduos, enquanto a grande parte da população é explorada e maltratada".
"Devemos avançar para a independência", defendia Cabral, ainda citado por Turpin, mas acompanhava sempre esse desígnio com a exigência de uma "independência negociada". Ou seja: "Com diálogo. Sem violência". Cabral era um "profundo cultivador do diálogo e da tolerância", frisa, admitindo algumas saudades desta forma de estar nos dias de hoje.
Chegado a este ponto do "escorrer" das memórias, Elisée Turpin fala também da polémica que é, na Guiné-Bissau, quase da idade do PAIGC: Quem foram, de facto, os fundadores do partido?
Sobre a história da dúvida de quem foram os fundadores do partido responde um dos eleitos: "Havia muitas pessoas com as quais Cabral vinha mantendo um relacionamento mais ou menos próximo mas, no acto da fundação do partido, Cabral fez uma selecção de pessoas da sua inteira confiança".
"Não se podia expor muito ao risco da PIDE (...) desconfiar da nossa actividade", recorda. "Todos nós éramos funcionários públicos na altura. Cabral era engenheiro agrónomo, Júlio Almeida, prático agrícola, Fernando Fortes, aspirante nas alfândegas, Aristides Pereira, chefe de administração e eu era guarda-livros", diz, aliviado, como que dando por sepultada a dúvida sobre este assunto.
"Lembro-me que, após a fundação do PAI, a PIDE quase que não saía do nosso encalço. Sabia que estávamos “contaminados” com o “vírus” dos movimentos de libertação, que se tinha já instalado noutras paragens de África. Mas, graças a Deus, sempre soubemos esconder os nossos propósitos", adianta. No início, diz, "começámos (1956/57) logo os trabalhos de mobilização com os Balantas (a mais representativa etnia da população guineense) de Brá e Portegol, e ainda na região de Mansôa".
Fingiam que iam caçar coelhos e perdizes, mas a caçada era outra: "Aproveitávamos para falar com os rapazes sobre os propósitos do partido". Isto é, mobilizar a juventude para seguirem para os campos do partido na Guiné-Conacri".
Nesse trabalho de mobilização a favor do PAI os "camaradas" contaram com a ajuda de portugueses que estavam contra a ditadura fascista de Oliveira Salazar, alguns liberais, outros revolucionários do PCP que estavam na Guiné, "como é o caso de José Tomás Pires, Fortes Teixeira, Filipe Pomba Guerra, o próprio chefe do posto da polícia, de nome Liberato (...) todos estavam do nosso lado, só que de forma bem disfarçada".
Houve mesmo um administrador português que, na altura, só não prendeu Amílcar Cabral porque não quis, pois sabia muito bem das suas actividades "subversivas" e um dia chamou Cabral à sua residência, conta Turpin, para lhe dizer: "Rapaz, sei tudo o que andas a fazer mas não te prendo porque gosto muito de ti. Vê lá no que te metes". Esse administrador era Diogo José Pereira de Melo [e Alvim, e não Antunes, como por lapso consta no portal , governador da Guiné entre 1954 e 1956].
O objectivo primeiro e último do partido de Cabral foi sempre a independência da Guiné que, ainda segundo Turpin, dizia: "Se a independência tiver que passar por um partido marxista, então vamos tê-lo". E foi o que foi. Mas Cabral fazia também a distinção entre ter "um partido de cariz marxista e ser marxista", o que "ele mesmo dizia - o próprio Turpin o ouviu afirmar -, no princípio, que não era".
O contacto de Elisée Turpin com Cabral esfriou muito quando ele decide transferir a base do partido para Conacri, onde decidiram mudar a denominação do partido de PAI [, Partido Africano da Independência,] para PAIGC. "Eu não participei na luta armada, ou seja, nos tiros. Não porque não quisesse, o facto foi que achei que podia ser útil ao partido estando cá para outras tarefas, tais como a mobilização de outros camaradas", frisa. E acrescenta, arredando qualquer hipótese de ser encarada a afirmação como uma justificação: "Fui eu quem trouxe de Dacar aquele que foi o primeiro instrutor dos guerrilheiros guineenses em Conacri, o comandante Luciano Ndaw. Esse senhor já tinha feito a tropa colonial portuguesa e, portanto, sabia bem da poda".
"A minha ligação a Cabral resumiu-se à estadia dele em Bissau. Depois da sua partida para a Guiné-Conacri praticamente deixamos de nos corresponder. Passei a falar mais com o irmão dele - Luís Cabral (...) - e com Rafael Barbosa que na altura era responsável pela chamada «zona zero» de mobilização, hoje a capital do país", Bissau.
"Não posso falar muito do partido depois da independência porque, praticamente, desliguei-me, mas uma coisa sei: o partido que Cabral e nós fundámos queria mais de que isto que hoje temos. O nosso sonho era transformar a Guiné numa Suíça de África, pois julgávamos, e eu continuo a julgar, que o país tem potencialidades para tal", diz em tom de desafio às "novas gerações". (...).
[ Fixação / revisão de texto / destaque a cor: L.G.]
(***) Tenho um exemplar do livro escrito pelo António Lobato, Liberdade ou evasão: O mais longo cativeiro da guerra (Amadora, Erasmos, 1995), com a particularidade de ter duas dedicatórias, belíssimas.
- Quando ele chegou a Conacri, escondido sob o pseudónimo de Abel Djassi, e onde eu e mais outros camaradas já nos encontrávamos, rapidamente se impôs como líder, não pela força mas pela sua integridade moral e força de convicção. Foi ele que nos unificou sob uma única liderança política e estratégica, antes dele, os "verdadeiros" Guineenses pavoneavam-se por aí, perdendo seu tempo em discursos patrióticos e disputas pueris por mulheres (prostitutas, provavelmente).
Cherno Baldé (*)
Comentário de Luís Graça (foto à esquerda, em Bambadinca, 1969):
Meu caro Cherno, conheci o José (ou Joseph) Turpin em Bissau, no último dia do encerramento do Simpósio Internacional de Guileje (1-7 de Março de 2008) (**).
Fiz, inclusive, um pequeno vídeo com um depoimento dele, com uma mensagem de saudação destinada ao António Lobato, o hoje major piloto aviador reformado que foi prisioneiro do PAIGC durante 7 anos em Conacri... Nunca cheguei a saber se o António, que é minhoto de Melgaço (se não me engano), teve conhecimento do vídeo, que de resto está disponível em You Tube > Nhabijoes.
Embora tivesse sido breve a nossa conversa, fiquei com uma boa impressão deste homem em cuja casa, a dos pais que eram comerciantes, se acolheu Amílcar Cabral (aliás, Abel Djassi), quando veio, da clandestinidade, para Conacri, creio que em 1960. Nessa altura o Joseph (hoje, José) nem sequer falava (ou falava muito mal o) português, segundo depreendi da nossa conversa no Hotel Palace, em Bissau... A sua admiração por Amílcar terá começado aí...
Como aqui, neste blogue, já o disse em tempos, o José pediu-me para gravar e mandar uma curta mensagem para o António Lobato, o antigo sargento piloto aviador português, cujo caça-bombardeiro T6 fizera uma aterragem de emergência, na Ilha do Como, em 1963.
Feito prisioneiro por camponeses e entregue ao PAIGC, o Lobato foi levado para Conacri, onde permaneceu sete longos anos de cativeiro, até à sua libertação em 22 de Novembro de 1970, no decurso da Op Mar Verde, como todos sabem. (***)
Gostei da autenticidade, da simplicidade e da sinceridade deste homem:
- Ó Lobato, depois da tempestade, depois de tantos anos, não sei se te vais lembrar de mim... - são as primeiras palavras deste histórico do PAIGC, na altura, nos anos 60, a viver em Conacri, sendo então membro do Conselho Superior da Luta. (O irmão, o Elisée ou Eliseu, nascido a 23 de Maio de1930, viveu sempre em Bissau onde foi guarda-livros da Casa Gouveia, entre 1958 e 1964, e depois gerente da ANCAR, até 1973, nunca tendo particiapdo directamente na luta armada).
Nesse curto vídeo, o José Turpin recordava os momentos em que, por diversas vezes, visitara o nosso camarada António Lobato na prisão. Não esconde que foram momentos difíceis, para ambos, mas ao mesmo tempo emocionantes: dois inimigos que, afinal, revelavam o melhor da nossa humanidade...
- Eu compreendia, estavas desmoralizado...Havia animosidade...
José Turpin agradecia, por fim, ao Lobato as palavras de apreço com que ele se referira à sua pessoa, ao evocar há tempos, em entrevista à rádio, a sua dura experiência de cativeiro. Agradecia também o exemplar do livro que o Lobato lhe mandara e que ele leu, com muito interesse. Diz ainda, no vídeo, que ficara sensibilizado com as palavras e o gesto do Lobato.
- Mas tudo isso hoje faz parte da história...Seria bom que viesses a Bissau - são as últimas palavras, deste homem afável, e de grande estatura moral, dirigidas ao seu antigo prisioneiro português que ele trata por camarada.
Como eu gostava, Cherno Baldé, que este homem se juntasse a nós, aqui, na Tabanca Grande. Ele é seguramente um "verdadeiro filho da Guiné", independentemente das circunstâncias do nascimento (julgo que os dois irmãos nasceram na Guiné-Bissau, indepentemente de os pais, comerciantes, viverem ou terem vivido em Conacri).
Que será feito do José Turpin, hoje ? E do seu irmão, Elisée Turpin (hoje com 80 anos) (**) ? E dessa mulher extraordinária, que é a Carmen Pereira, outra "verdadeira filha da Guiné", em 7 de Março de 2008, que também conheci na altura e que é visita, sempre que vem a Portugal, da casa da Júlia e do Nuno Rubim. (Aliás, as duas mulheres são primas).
Cherno, se souberes notícias do José o Eliseu não o conheço pessoalmente), dá-lhe um grande abraço meu e transmite-lhe o meu convite para ingressar na nossa Tabanca Grande.E, já agora, que estamos em maré de mantenhas, dá também um abraço ao Cadogo Pai, membro da nossa Tabanca Grande.
______________
Notas de L.G.:
(*) Vd. poste de 26 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7176: (In)citações (20): Os verdadeiros filhos da Guiné (Cherno Baldé / José Belo)
(**) Vd. entrevista dada por Elisée (ou Eliseu) Turpin ao portal Notícias Lusófonas > 20 de Janeiro de 2003 > Pai de duas nacionalidades foi assassinado há 30 anos , de que se reproduzem, com a devida vénia, alguns dos excertos mais significativos:
(...) Quando se assinala o 30º aniversário da "partida" do "pai" [, Amílcar Cabral,] das nacionalidades da Guiné-Bissau e Cabo Verde, as certezas da memória "esmagam" as dúvidas sobre a orquestração do assassínio do guerrilheiro. Apenas a especulação aponta possíveis cenários para o que se passou naquele dia [20] de Janeiro [de 1973], mas a memória de Elisé Turpin, um dos "camaradas" de Amílcar, permite seguir, com assinatura, os mais importantes momentos da "gestação" da independência da Guiné-Bissau.
Após a longa batalha de 11 anos travada pelos guerrilheiros liderados por Cabral e quase três décadas de independência, foram muitos os heróis que ficaram esquecidos num "canto da história" da Guiné-Bissau, permanecendo Amílcar como o regaço onde todos se recolhem.
Foi por "convicção" que, logo após a independência, EliséeTurpin se retirou para o seu "canto da história" e é para "ajudar a, finalmente, cumprir o ideal de Amílcar Cabral" que agora, com 72 anos de idade, regressa através de um passeio pela memória.
"Não há futuro possível - para a Guiné-Bissau - sem os ecos do passado a marcar o passo da história", considera Turpin, e é com essa convicção que, na sua casa, a 50 metros da sede do PAIGC (Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde), situada na Praça dos Heróis da Liberdade da Pátria (ex-Praça do Império), em Bissau, activa a memória.
Elisée Turpin conta, enquanto fundador do PAIGC ao lado de "mais cinco camaradas: Amílcar e Luís Cabral, Aristides Pereira, Fernando Fortes e Júlio Almeida", o que foram os primeiros passos desta organização política que viria a ser o pilar central da "libertação da Guiné-Bissau". Mas há ainda outro "pormenor" que enfatiza o papel de Turpin na criação do PAIGC: "Sim, posso ser considerado como o único indivíduo que esteve na fundação do partido e que era genuinamente cidadão guineense. Os outros eram todos filhos de pais cabo-verdianos".
O surgimento do PAI (Partido Africano para a Independência), depois transformado em PAIGC na Guiné-Conacri, acontece "por vontade e iniciativa de Amílcar Cabral", então jovem engenheiro agrónomo regressado dos estudos em Portugal, em 19 de Setembro de 1956. Antes do surgimento do PAI, havia na então Guiné portuguesa muitas outras organizações ou movimentos de tendência nacionalista que aspiravam à libertação do país. Tudo no seguimento dos ventos da libertação que sopravam nas outras províncias coloniais, sobretudo as províncias vizinhas do território da Guiné-Bissau: Senegal, Gana e Guiné-Conacri.
"Mas, verdade seja dita, o PAI foi de longe a organização melhor estruturada, conseguindo rapidamente granjear a simpatia dos rapazes da altura, que encontraram em Amílcar pensamento e personalidade, o estandarte que secretamente procuravam para poder seguir", diz Turpin com um leve, mas mal disfarçado, ar de orgulho por ter vivido estes momentos ao lado do mítico guerrilheiro.
Tudo começou com "um simples clube de futebol (não se recorda do nome) do qual faziam parte os fundadores do partido" e que rapidamente foi transformado num "espaço de consciencialização dos moços da altura para uma ideia de libertação do país".
"Lá partíamos nós, com as coisas do futebol à frente, mas com as coisas da libertação da Pátria atrás, dos lados, por cima, por baixo ... cada vez mais, cada vez mais conscientes do pontapé certeiro que estávamos a dar na História", diz Turpin. Iniciativas deste tipo já aconteciam no Senegal, para onde muitos dos guineenses se deslocavam em visitas familiares, sobretudo Turpin, que, então, tinha familiares na administração pública em Dacar (capital).
Com tudo isso, cita de memória, Cabral dizia: "Olhem que os portugueses nos estão a enganar com alguns privilégios que dão a um grupo reduzido de indivíduos, enquanto a grande parte da população é explorada e maltratada".
"Devemos avançar para a independência", defendia Cabral, ainda citado por Turpin, mas acompanhava sempre esse desígnio com a exigência de uma "independência negociada". Ou seja: "Com diálogo. Sem violência". Cabral era um "profundo cultivador do diálogo e da tolerância", frisa, admitindo algumas saudades desta forma de estar nos dias de hoje.
Chegado a este ponto do "escorrer" das memórias, Elisée Turpin fala também da polémica que é, na Guiné-Bissau, quase da idade do PAIGC: Quem foram, de facto, os fundadores do partido?
Sobre a história da dúvida de quem foram os fundadores do partido responde um dos eleitos: "Havia muitas pessoas com as quais Cabral vinha mantendo um relacionamento mais ou menos próximo mas, no acto da fundação do partido, Cabral fez uma selecção de pessoas da sua inteira confiança".
"Não se podia expor muito ao risco da PIDE (...) desconfiar da nossa actividade", recorda. "Todos nós éramos funcionários públicos na altura. Cabral era engenheiro agrónomo, Júlio Almeida, prático agrícola, Fernando Fortes, aspirante nas alfândegas, Aristides Pereira, chefe de administração e eu era guarda-livros", diz, aliviado, como que dando por sepultada a dúvida sobre este assunto.
"Lembro-me que, após a fundação do PAI, a PIDE quase que não saía do nosso encalço. Sabia que estávamos “contaminados” com o “vírus” dos movimentos de libertação, que se tinha já instalado noutras paragens de África. Mas, graças a Deus, sempre soubemos esconder os nossos propósitos", adianta. No início, diz, "começámos (1956/57) logo os trabalhos de mobilização com os Balantas (a mais representativa etnia da população guineense) de Brá e Portegol, e ainda na região de Mansôa".
Fingiam que iam caçar coelhos e perdizes, mas a caçada era outra: "Aproveitávamos para falar com os rapazes sobre os propósitos do partido". Isto é, mobilizar a juventude para seguirem para os campos do partido na Guiné-Conacri".
Nesse trabalho de mobilização a favor do PAI os "camaradas" contaram com a ajuda de portugueses que estavam contra a ditadura fascista de Oliveira Salazar, alguns liberais, outros revolucionários do PCP que estavam na Guiné, "como é o caso de José Tomás Pires, Fortes Teixeira, Filipe Pomba Guerra, o próprio chefe do posto da polícia, de nome Liberato (...) todos estavam do nosso lado, só que de forma bem disfarçada".
Houve mesmo um administrador português que, na altura, só não prendeu Amílcar Cabral porque não quis, pois sabia muito bem das suas actividades "subversivas" e um dia chamou Cabral à sua residência, conta Turpin, para lhe dizer: "Rapaz, sei tudo o que andas a fazer mas não te prendo porque gosto muito de ti. Vê lá no que te metes". Esse administrador era Diogo José Pereira de Melo [e Alvim, e não Antunes, como por lapso consta no portal , governador da Guiné entre 1954 e 1956].
O objectivo primeiro e último do partido de Cabral foi sempre a independência da Guiné que, ainda segundo Turpin, dizia: "Se a independência tiver que passar por um partido marxista, então vamos tê-lo". E foi o que foi. Mas Cabral fazia também a distinção entre ter "um partido de cariz marxista e ser marxista", o que "ele mesmo dizia - o próprio Turpin o ouviu afirmar -, no princípio, que não era".
O contacto de Elisée Turpin com Cabral esfriou muito quando ele decide transferir a base do partido para Conacri, onde decidiram mudar a denominação do partido de PAI [, Partido Africano da Independência,] para PAIGC. "Eu não participei na luta armada, ou seja, nos tiros. Não porque não quisesse, o facto foi que achei que podia ser útil ao partido estando cá para outras tarefas, tais como a mobilização de outros camaradas", frisa. E acrescenta, arredando qualquer hipótese de ser encarada a afirmação como uma justificação: "Fui eu quem trouxe de Dacar aquele que foi o primeiro instrutor dos guerrilheiros guineenses em Conacri, o comandante Luciano Ndaw. Esse senhor já tinha feito a tropa colonial portuguesa e, portanto, sabia bem da poda".
"A minha ligação a Cabral resumiu-se à estadia dele em Bissau. Depois da sua partida para a Guiné-Conacri praticamente deixamos de nos corresponder. Passei a falar mais com o irmão dele - Luís Cabral (...) - e com Rafael Barbosa que na altura era responsável pela chamada «zona zero» de mobilização, hoje a capital do país", Bissau.
"Não posso falar muito do partido depois da independência porque, praticamente, desliguei-me, mas uma coisa sei: o partido que Cabral e nós fundámos queria mais de que isto que hoje temos. O nosso sonho era transformar a Guiné numa Suíça de África, pois julgávamos, e eu continuo a julgar, que o país tem potencialidades para tal", diz em tom de desafio às "novas gerações". (...).
[ Fixação / revisão de texto / destaque a cor: L.G.]
(***) Tenho um exemplar do livro escrito pelo António Lobato, Liberdade ou evasão: O mais longo cativeiro da guerra (Amadora, Erasmos, 1995), com a particularidade de ter duas dedicatórias, belíssimas.
Uma, escrita pelo punho do Miguel Pessoa, que me ofereceu um exemplar que tinha a mais em casa, e que diz esta coisa singela, mas que me tocou, como camarada:
"Ao Luís Graça, do Miguel Pessoa, alguém que, felizmente, não precisou de escrever um livro assim. Jun 2009."...
E, a propósito, vai daqui um grande Alfa Bravo para o Miguel e um beijinho ternurento para a Giselda, que ontem fizeram anos de casados e andaram pelas "minhas terras" da Lourinhã, antes de seguirem, hoje, para o almoço de convívio da Tabanca do Centro, em Monte Real... Que sejam (e)ternamente felizes o Miguel e a Giselda... e que levem para o régulo Joaquim Mexia Alves e demais convivas da Tabanca do Centro os nossos votos de amizade e camaradagem.
A outra dedicatória é do autor e reza assim:
A outra dedicatória é do autor e reza assim:
"A quantos me amam ou odeiam, sem que eu dê por isso; a todos os que amo, sem nunca lhes ter dito; àqueles de quem gosto e que acredito gostarem de mim, (...)".
Do livro do Lobato, tomo a liberdade de transcrever este excerto:
“(...) O comportamento deste homem [o chefe dos sentinelas, Koda, de etnia balanta,] não pode servir de exemplo para qualificar os outros guerrilheiros do PAIGC e muito menos uma parte dos seus responsáveis.
Do livro do Lobato, tomo a liberdade de transcrever este excerto:
“(...) O comportamento deste homem [o chefe dos sentinelas, Koda, de etnia balanta,] não pode servir de exemplo para qualificar os outros guerrilheiros do PAIGC e muito menos uma parte dos seus responsáveis.
De entre estes, merecem especial referência Fidelis Cabral, Aristides Pereira, Joseph Turpin e o Tio Lourenço, não só pela sua moderação, sensatez e sabedoria, mas sobretudo pela força do humanismo que deles emana e se repercute em quantos, por razões comuns ou mesmo contrárias, se encontram à mercê das suas decisões. São os homens bons do presente, mas sem dúvida também os do futuro,
"Uma vez por outra , um deles vem falar comigo e procura tranquilizar-me. Joseph Turpin, que passa a maior parte do seu tempo no Cairo, em representação do partido, diz-me que o Papa intercedeu por mim junto do Arcebispo de Conakry, Monsenhor Tchidimbo, o que certamente terá resultados práticos. Mas o tempo vai passando e nada acontece.
"Fidelis, um advogado formado em Portugal, procura convencer-me das razões da sua luta, do respeito e amizade pelo povo português. Afirma que, após a independência, não pretendem ligar-se a ninguém, mas que se isso tivesse de acontecer, só poderiam continuar com os portugueses” (…) (Lobato, 1995, p. 168)
"Uma vez por outra , um deles vem falar comigo e procura tranquilizar-me. Joseph Turpin, que passa a maior parte do seu tempo no Cairo, em representação do partido, diz-me que o Papa intercedeu por mim junto do Arcebispo de Conakry, Monsenhor Tchidimbo, o que certamente terá resultados práticos. Mas o tempo vai passando e nada acontece.
"Fidelis, um advogado formado em Portugal, procura convencer-me das razões da sua luta, do respeito e amizade pelo povo português. Afirma que, após a independência, não pretendem ligar-se a ninguém, mas que se isso tivesse de acontecer, só poderiam continuar com os portugueses” (…) (Lobato, 1995, p. 168)
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terça-feira, 26 de outubro de 2010
Guiné 63/74 - P7178: Tabanca Grande (251): José Manuel Marques Pacífico dos Reis, Coronel Cav Reformado, CCAÇ 5 e CIM/Bolama (Guiné, 1968/70)
Mensagem José Marcelino Martins, (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), com data de 23 de Outubro de 2010:
Boa noite amigos e camaradas
É com muito prazer que, em anexo ao presente mail, envio a nota de apresentação do meu Comandante e Amigo José Manuel Marques Pacifico dos Reis, que já é colaborador assíduo no nosso blogue, no qual contei oito intervenções.
Anexo, também, o curriculum já publicado, mas com a introdução de imagens.
Espero que desta nova adesão nos traga novas histórias e novas vivências.
Um abraço
José Martins
1. CURRICULUM
José Manuel Marques Pacífico dos Reis
Coronel de Cavalaria (reformado)
No seu curriculum, e no que respeita às Campanhas de África 1961-1974, consta:
Comando Territorial Independente da Guiné
Companhia de Caçadores n.º 5 – Recrutamento local
Capitão de Cavalaria, NMEC 50991111, foi aumentado ao efectivo da Companhia em 8 de Julho de 1968, assumindo o comando da mesma.
Foi sob o seu comando que se processou a transferência do Comando e os Serviços da Unidade para o então Destacamento de Canjadude, em Agosto de 1968,
Em 12 de Setembro de 1969, foi ferido em combate num perseguição ao IN junto de Uelingará na estrada Nova Lamego – Canjadude.
Foi abatido ao efectivo da unidade em Setembro de 1969, por ter sido transferido para o Centro de Instrução Militar / CTIG.
* da História da Companhia de Caçadores nº 5 – os Gatos Pretos de Canjadude [compilação de José Martins]
Centro de Instrução Militar – Bolama
Comandante da Companhia de Instrução – 1.º Turno de 1970. A escola de recrutas foi realizada entre o dia 26 de Janeiro e 26 de Abril de 1970, data em que os recrutas Juraram Bandeira, em Bissau. A instrução da especialidade teve início em 27 de Abril de 1970, tendo terminado em 13 de Junho as Especialidades de Atiradores, Apontadores de Metralhadora e Transmissões e continuando os Corneteiros e Clarins até 27 de Junho e os Escriturários até 04 de Julho de 1970.
Foi desta escola de recrutas e instrução de Especialidades, que saíram os militares que, em conjunto com os Oficiais, Sargentos e Praças especialistas da Metrópole, constituíram as Companhias de Caçadores n.ºs 17, de etnia Balanta.
* do Relatório sobre a Instrução, elaborado pelo Capitão de Cavalaria Pacifico dos Reis, Comandante da Companhia de Instrução.
Região Militar de Angola
Comandante da Companhia de Policia Militar n.º 3524, mobilizada no Regimento de Lanceiros n.º 2, em Lisboa.
Embarcou em Lisboa em 4 de Março de 1972.
Permaneceu em Luanda até 1 de Maio de 1974, data em que efectuou a viagem de regresso.
* do volume 13 de “OS ANOS DA GUERRA”, edição do Correio da Manhã, 2009.
©Emblemas da Colecção de Carlos Coutinho, com a devida vénia.
2. APRESENTAÇÃO
Depois de quase ano e meio ter sido o seu Sargento de Transmissões e seu Adjunto do Centro Cripto na CCAÇ 5 na Guiné, tomei, já há alguns anos, o papel de “secretário pessoal para assuntos blogisticos”, na metrópole. Para mim foi uma honra.
Foi desta forma que em 2006, com a devida autorização, levei ao conhecimento da Tabanca Grande, na altura era ainda uma Tertúlia, o texto sobre o Sargento Enfermeiro Cipriano.
Depois desta colaboração outras se seguiram. Agora com uma colaboração de mais de seis postes, tomo a liberdade de apresentar, como membro, o meu “Capitão” e Comandante, o Coronel José Manuel Marques Pacífico dos Reis.
Desde sempre ligado aos meios Castrenses, foi Menino da Luz no Colégio Militar e Cadete na Academia Militar. A sua passagem pela Guerra do Ultramar está sumarizada no Poste 4028 de 13 de Março de 2009.
Falta, para a “integração efectiva nas nossas fileiras” o envio de uma foto actual, o que acontece hoje.
Postes publicados:
04/06/2006 – P0839 – O valente Sargento Enfermeiro Cipriano
13/03/2009 – P4028 – O meu amigo Tartaruga
Série Divagações de Reformado
01/11/2009 – P5189 – Ida para a Guiné
02/11/2009 – P5194 – Mofunado ou não na Guiné de 68
13/03/2010 – P5987 – É a vida …
15/05/2010 – P6395 – Politicamente incorrecto
23/06/2010 – P6779 – Só á pedrada …
30/08/2010 - P6911 – TAP ou TAPioca?
E pelo que ouvi hoje ao almoço, tem muitas histórias para “nos encantar”.
José Marcelino Martins
23 de Outubro de 2010
__________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 25 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7173: Tabanca Grande (250): Carlos Manuel Rodrigues Pinheiro, ex-1.º Cabo TRMS Op MSG (STM/QG/CTIG, 1968/70)
Boa noite amigos e camaradas
É com muito prazer que, em anexo ao presente mail, envio a nota de apresentação do meu Comandante e Amigo José Manuel Marques Pacifico dos Reis, que já é colaborador assíduo no nosso blogue, no qual contei oito intervenções.
Anexo, também, o curriculum já publicado, mas com a introdução de imagens.
Espero que desta nova adesão nos traga novas histórias e novas vivências.
Um abraço
José Martins
1. CURRICULUM
José Manuel Marques Pacífico dos Reis
Coronel de Cavalaria (reformado)
No seu curriculum, e no que respeita às Campanhas de África 1961-1974, consta:
Comando Territorial Independente da Guiné
Companhia de Caçadores n.º 5 – Recrutamento local
Capitão de Cavalaria, NMEC 50991111, foi aumentado ao efectivo da Companhia em 8 de Julho de 1968, assumindo o comando da mesma.
Foi sob o seu comando que se processou a transferência do Comando e os Serviços da Unidade para o então Destacamento de Canjadude, em Agosto de 1968,
Em 12 de Setembro de 1969, foi ferido em combate num perseguição ao IN junto de Uelingará na estrada Nova Lamego – Canjadude.
Foi abatido ao efectivo da unidade em Setembro de 1969, por ter sido transferido para o Centro de Instrução Militar / CTIG.
* da História da Companhia de Caçadores nº 5 – os Gatos Pretos de Canjadude [compilação de José Martins]
Centro de Instrução Militar – Bolama
Comandante da Companhia de Instrução – 1.º Turno de 1970. A escola de recrutas foi realizada entre o dia 26 de Janeiro e 26 de Abril de 1970, data em que os recrutas Juraram Bandeira, em Bissau. A instrução da especialidade teve início em 27 de Abril de 1970, tendo terminado em 13 de Junho as Especialidades de Atiradores, Apontadores de Metralhadora e Transmissões e continuando os Corneteiros e Clarins até 27 de Junho e os Escriturários até 04 de Julho de 1970.
Foi desta escola de recrutas e instrução de Especialidades, que saíram os militares que, em conjunto com os Oficiais, Sargentos e Praças especialistas da Metrópole, constituíram as Companhias de Caçadores n.ºs 17, de etnia Balanta.
* do Relatório sobre a Instrução, elaborado pelo Capitão de Cavalaria Pacifico dos Reis, Comandante da Companhia de Instrução.
Região Militar de Angola
Comandante da Companhia de Policia Militar n.º 3524, mobilizada no Regimento de Lanceiros n.º 2, em Lisboa.
Embarcou em Lisboa em 4 de Março de 1972.
Permaneceu em Luanda até 1 de Maio de 1974, data em que efectuou a viagem de regresso.
* do volume 13 de “OS ANOS DA GUERRA”, edição do Correio da Manhã, 2009.
©Emblemas da Colecção de Carlos Coutinho, com a devida vénia.
2. APRESENTAÇÃO
Depois de quase ano e meio ter sido o seu Sargento de Transmissões e seu Adjunto do Centro Cripto na CCAÇ 5 na Guiné, tomei, já há alguns anos, o papel de “secretário pessoal para assuntos blogisticos”, na metrópole. Para mim foi uma honra.
Foi desta forma que em 2006, com a devida autorização, levei ao conhecimento da Tabanca Grande, na altura era ainda uma Tertúlia, o texto sobre o Sargento Enfermeiro Cipriano.
Depois desta colaboração outras se seguiram. Agora com uma colaboração de mais de seis postes, tomo a liberdade de apresentar, como membro, o meu “Capitão” e Comandante, o Coronel José Manuel Marques Pacífico dos Reis.
Desde sempre ligado aos meios Castrenses, foi Menino da Luz no Colégio Militar e Cadete na Academia Militar. A sua passagem pela Guerra do Ultramar está sumarizada no Poste 4028 de 13 de Março de 2009.
Falta, para a “integração efectiva nas nossas fileiras” o envio de uma foto actual, o que acontece hoje.
Postes publicados:
04/06/2006 – P0839 – O valente Sargento Enfermeiro Cipriano
13/03/2009 – P4028 – O meu amigo Tartaruga
Série Divagações de Reformado
01/11/2009 – P5189 – Ida para a Guiné
02/11/2009 – P5194 – Mofunado ou não na Guiné de 68
13/03/2010 – P5987 – É a vida …
15/05/2010 – P6395 – Politicamente incorrecto
23/06/2010 – P6779 – Só á pedrada …
30/08/2010 - P6911 – TAP ou TAPioca?
E pelo que ouvi hoje ao almoço, tem muitas histórias para “nos encantar”.
José Marcelino Martins
23 de Outubro de 2010
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 25 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7173: Tabanca Grande (250): Carlos Manuel Rodrigues Pinheiro, ex-1.º Cabo TRMS Op MSG (STM/QG/CTIG, 1968/70)
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