1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 2 de Maio de 2011:
Queridos amigos,
O depoimento do Almirante Pereira Crespo é de uma grande coerência e dignidade para um homem com a sua formação. Veio a talhe de foice respigar as suas considerações acerca das conversações Senghor e Spínola que, como todos sabemos, foi o rastilho para a criação da fábula federalista e um dos ingredientes para o spinolismo.
Um abraço do
Mário
O Almirante Pereira Crespo e a guerra da Guiné
Beja Santos
Ministro da Marinha entre 1968 e 1974, o Almirante Manuel Pereira Crespo foi considerado como uma das figuras mais distintas da Armada. A sua ligação à Guiné começou ainda nos anos 40 quando foi nomeado Chefe da Missão Geo-Hidrográfica, funções que exerceu durante 10 anos. Importa salientar que sob a sua direcção foram elaboradas a maior parte das cartas hidrográficas e tipográficas da Guiné portuguesa bem como a rede geodésica do território. Conheci directamente o impacto desse trabalho, em Mato de Cão lá estava e permanece a marca dessa missão Geo-Hidrográfica, destinada a medir a altura das marés; tal como o marco existente em Ponta Varela.
“Porque Perdemos a Guerra” (Edição Abril 1977) constitui o seu depoimento sobre as razões do envolvimento de Portugal e a sua explicação para a derrota. Começa por avançar com noções sobre a guerra e estratégia, explana sobre as políticas de coacção, as diferentes soluções da guerra, as várias estratégias e as possíveis soluções de compromisso. Após este preâmbulo, tece considerações sobre a conjuntura internacional e a natureza da guerra que enfrentamos, confronta as teses de Marcelo Caetano e vai sempre encontrando argumentação para as demonstrar como incontornáveis, na lógica da defesa da Pátria.
É exactamente quando aborda eventuais quadros de negociação com o inimigo que se irá referir às conversações que António de Spínola teve com Senghor, em 1972. Tem todo o cabimento, neste contexto de se registarem os depoimentos de todos os matizes quanto ao conflito, ouvir as suas considerações:
“Na Guiné, em meados de 1972, surgiu, por intermédio do presidente Senghor, do Senegal, uma hipótese de negociações entre as nossas autoridades e Amílcar Cabral. Esta hipótese, na qual o general António de Spínola depositou grandes esperanças, merece uma referência especial, pelas nefastas consequências que provocou em alguns oficiais que prestavam serviço naquela província e que passaram a descrer da política ultramarina do Governo.
Tanto quanto me recordo, seria acordado um cessar-fogo, Amílcar Cabral regressaria à Guiné, colaborando no Governo e, em prazo a fixar, os guinéus seriam consultados sobre o seu destino, aceitando o Governo de Lisboa a independência, se o povo daquelas terras assim o desejasse.
São evidentes os pontos fracos deste projecto.
Amílcar Cabral não regressaria à Guiné como vencido. Manteria intacta a estrutura militar do PAIGC e não se compreende muito bem como viriam a funcionar as relações entre os guerrilheiros e as nossas tropas.
Também não desistiria de amarrar ao destino da Guiné o arquipélago de Cabo Verde. E, de acordo com a ética dos chefes políticos e militares da época, seria indigno negociar o futuro daquelas ilhas, nas costas dos seus habitantes, profundamente marcados pela cultura lusíada.
No que se refere a Angola e Moçambique, o facto de aceitarmos negociar com o inimigo, antes de se considerar vencido, iria moralizar grandemente os grupos armados.
Quando o assunto foi analisado em Lisboa, alguns foram de opinião de que as negociações propostas escondiam uma armadilha de Amílcar Cabral. Depois de instalado na Guiné, promoveria infiltrações nas tropas negras que nos eram fiéis e, na ocasião mais oportuna, procuraria a vitória por um golpe surpresa.
Eu admitia que tal armadilha não existisse nas intenções de Amílcar Cabral e acreditava no seu desejo de negociar com os portugueses nas condições atrás referidas, que, embora vagas, eram-lhe muito favoráveis. Conhecera-o na Guiné. Era um homem de muito valor, sem preconceitos raciais e muito chegado aos portugueses, entre os quais tinha bons amigos. Sempre pensei que lhe seria muito desagradável a convivência com Sékou Touré. De resto, é possível que, já nessa altura, receasse ser assassinado.
O que não acreditava é que a URSS, só pelo facto de Amílcar Cabral se querer entender com os portugueses desistisse das suas pretensões sobre a Guiné portuguesa, óptima posição estratégica para a expansão russa no Senegal e região onde se situa o melhor porto natural de África ocidental.
Admitia, por isso, que, depois de Amílcar Cabral se unir aos portugueses e abandonar os russos estes, com auxílio de Sékou Touré, o denunciariam como traidor e prosseguiriam a luta com um novo chefe.
As condições geográficas da província, extraordinariamente favoráveis ao desenvolvimento de uma guerra subversiva, não exigiriam muita gente. Algumas centenas de homens seriam suficientes (…) Processar-se-ia, assim, na Guiné, um grave desaire, que, além do mais, teria reflexos imprevisíveis na defesa de Angola e Moçambique.
De qualquer forma, o projecto de negociações, antes de ser abandonado, foi cuidadosamente estudado por chefes políticos e militares, tendo havido, para apreciar a matéria, uma reunião do Conselho Superior da Defesa Nacional, a que estive presente, presidida pelo Almirante Américo Tomás e a que assistiu o Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas”.
As observações de Pereira Crespo, como hoje é sabido, enfermam de vários enviesamentos. Primeiro, Cabral nunca foi ouvido sobre as conversações Senghor-Spínola. Segundo, é necessário fazer política numa atmosfera de irrealismo para se visionar Cabral como encarregado de Governo e as tropas do PAIGC a provocar golpes de Estado entre Fulas e Mandingas. Terceiro, a URSS, como se comprovou depois de 1970, em que passou a ter um maior acesso ao porto de Conacri, nunca utilizou o porto de Bissau depois da independência, o espantalho soviético foi mesmo buscado à força. E, goste-se ou não, há que reconhecer que a negativa de Caetano para a continuação de conversações com Senghor fomentaram um descontentamento em Spínola e nos seus colaboradores próximos. Inequivocamente, este o acontecimento que marcou a separação entre Caetano e Spínola.
____________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 20 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8304: Notas de leitura (240): O Meu Testemunho, uma luta, um partido, dois países, por Aristides Pereira (5) (Mário Beja Santos)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
terça-feira, 24 de maio de 2011
Guiné 63/74 - P8317: Tabanca Grande (287): Carlos Alberto Duarte Prata, Coronel Reformado, ex-Capitão, CMDT das CCAÇ 4544/73 (Cafal Balanta) e CCAÇ 13 (Bissorã), 1973/74
1. Mensagem de Carlos Alberto Duarte Prata, ex-cap inf, cmdt das CCAÇ 4544/73 (Cafal Balanta) e CCAÇ 13 (Bissorã), 1973/74, atualmente coronel na situação de reforma, com data de 20 de Maio de 2011:
A convite do amigo Manuel Reis, sabedor que eu fora combatente na Guiné, acompanhei-o já a 2 almoços de confraternização na Tabanca do Centro, onde me foi dado o privilégio de, além de contactar com antigos combatentes naquela antiga província e recordar locais e acontecimentos aí decorridos, ficar com uma pequena ideia desta louvável agremiação (chamemos-lhe assim) dos antigos combatentes na Guiné.
O objectivo deste mail é apresentar-me e solicitar os vossos ofícios para que me seja dada a honra de também fazer parte da família da Tabanca Grande, o que, antecipadamente, agradeço!
Chamo-me Carlos Alberto Duarte Prata, natural do Porto, casado, com dois filhos já homens, e sou Coronel de Infantaria, na situação de Reforma.
Frequentei a Academia Militar, curso de 1961/65.
Promovido a Capitão fui mobilizado para Angola onde cumpri uma comissão de serviço entre Maio de 1969 a Julho de 1971.
Em Maio de 1973 fui mobilizado pelo RI15 (Tomar) onde formei a CCaç 4544/73 que seguiu para a Guiné em Setembro de 1973, tendo como destino Cafal Balanta, na região do Cantanhês.
Tentamos de algum modo deixar para memória futura as nossas histórias, contadas sempre na primeira pessoa, com as imprecisões próprias do tempo já passado, mas quantas vezes acompanhadas de fotos exclusivas, que cada um guardou religiosamente. Para o efeito vamos buscá-las ao álbum há muito fechado, como as recordações, boas e más, escondidas no mais fundo do subconsciente. Recordar é viver, mas será também sofrer.
Como saberá, a apresentação neste blogue acarreta a "obrigação" de contribuir para este espólio já importante no que concerne à guerra na Guiné.
Os seus tempos de fim de guerra terão particularidades próprias de uma transição de poder apressada, desordenada e sem apoio por parte da governação de Lisboa. É pelo menos esta a ideia que temos, nós os ex-combatentes já como espectadores, conhecedores da realidade de antes da revolução do 25 de Abril. Poderá dar-nos a sua visão pessoal ou pelo menos contar-nos as peripécias que viu e viveu.
Para terminar a sua apresentação, deixo-lhe um abraço de boas-vindas em nome da tertúlia e dos editores, e os desejos de que se sinta bem entre nós e entre os seus camaradas do QP que compõem a nossa tertúlia.
Carlos Vinhal
____________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 23 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8314: Tabanca Grande (286): Maria Arminda Lopes Pereira dos Santos, ex-Ten Grad Enf.ª Pára-quedista, 1961-1970
A convite do amigo Manuel Reis, sabedor que eu fora combatente na Guiné, acompanhei-o já a 2 almoços de confraternização na Tabanca do Centro, onde me foi dado o privilégio de, além de contactar com antigos combatentes naquela antiga província e recordar locais e acontecimentos aí decorridos, ficar com uma pequena ideia desta louvável agremiação (chamemos-lhe assim) dos antigos combatentes na Guiné.
O objectivo deste mail é apresentar-me e solicitar os vossos ofícios para que me seja dada a honra de também fazer parte da família da Tabanca Grande, o que, antecipadamente, agradeço!
Chamo-me Carlos Alberto Duarte Prata, natural do Porto, casado, com dois filhos já homens, e sou Coronel de Infantaria, na situação de Reforma.
Frequentei a Academia Militar, curso de 1961/65.
Promovido a Capitão fui mobilizado para Angola onde cumpri uma comissão de serviço entre Maio de 1969 a Julho de 1971.
Em Maio de 1973 fui mobilizado pelo RI15 (Tomar) onde formei a CCaç 4544/73 que seguiu para a Guiné em Setembro de 1973, tendo como destino Cafal Balanta, na região do Cantanhês.
Por determinação do General Comandante do CTIG, em Março de 1974 fui comandar a CCaç 13, em Bissorã, onde me encontrava em 25 de Abril de 1974.
Regressei a Portugal em 30 de Setembro de 1974, após a entrega da Guiné às tropas do PAIGC.
Apenas para informação devo acrescentar que em 1995 regressei à Guiné, durante 6 meses, em missão de Cooperação Militar.
Aqui está pois o motivo da minha ligação aquela antiga província, as saudades dos bons e menos bons momentos lá vividos e a vontade firme de conviver com quem viveu experiências análogas.
Nasci em 03/10/42 e junto envio duas fotos, uma de 1973 e outra actual, penso que não será difícil destrinçá-las...
Um abraço de muita estima e fico a aguardar notícias.
Carlos Alberto Duarte Prata
cadprata@gmail.com
2. Comentário de CV:
Caro Coronel Carlos Prata, bem-vindo à Tabanca Grande, caserna virtual que acolhe todos aqueles que de algum modo se sentem ligados à Guiné dos nossos tempos, Guiné-Bissau actual, mas principalmente aqueles que pisaram aquele chão, deixando muito suor e, infelizmente, sangue. As lágrimas, algumas ou muitas dependendo de cada um e de cada situação, faziam também parte do dia-a-dia daqueles terríveis anos de guerra.
É preciso que se diga que, cada militar do quadro que se apresenta na Tabanca, é para nós um sinal de que o nosso blogue e o nosso trabalho são considerados sérios, onde os tertulianos não debitam anormalidades e fanfarronices para impressionar os leitores.
Regressei a Portugal em 30 de Setembro de 1974, após a entrega da Guiné às tropas do PAIGC.
Apenas para informação devo acrescentar que em 1995 regressei à Guiné, durante 6 meses, em missão de Cooperação Militar.
Aqui está pois o motivo da minha ligação aquela antiga província, as saudades dos bons e menos bons momentos lá vividos e a vontade firme de conviver com quem viveu experiências análogas.
Nasci em 03/10/42 e junto envio duas fotos, uma de 1973 e outra actual, penso que não será difícil destrinçá-las...
Um abraço de muita estima e fico a aguardar notícias.
Carlos Alberto Duarte Prata
cadprata@gmail.com
2. Comentário de CV:
Caro Coronel Carlos Prata, bem-vindo à Tabanca Grande, caserna virtual que acolhe todos aqueles que de algum modo se sentem ligados à Guiné dos nossos tempos, Guiné-Bissau actual, mas principalmente aqueles que pisaram aquele chão, deixando muito suor e, infelizmente, sangue. As lágrimas, algumas ou muitas dependendo de cada um e de cada situação, faziam também parte do dia-a-dia daqueles terríveis anos de guerra.
É preciso que se diga que, cada militar do quadro que se apresenta na Tabanca, é para nós um sinal de que o nosso blogue e o nosso trabalho são considerados sérios, onde os tertulianos não debitam anormalidades e fanfarronices para impressionar os leitores.
Tentamos de algum modo deixar para memória futura as nossas histórias, contadas sempre na primeira pessoa, com as imprecisões próprias do tempo já passado, mas quantas vezes acompanhadas de fotos exclusivas, que cada um guardou religiosamente. Para o efeito vamos buscá-las ao álbum há muito fechado, como as recordações, boas e más, escondidas no mais fundo do subconsciente. Recordar é viver, mas será também sofrer.
Como saberá, a apresentação neste blogue acarreta a "obrigação" de contribuir para este espólio já importante no que concerne à guerra na Guiné.
Os seus tempos de fim de guerra terão particularidades próprias de uma transição de poder apressada, desordenada e sem apoio por parte da governação de Lisboa. É pelo menos esta a ideia que temos, nós os ex-combatentes já como espectadores, conhecedores da realidade de antes da revolução do 25 de Abril. Poderá dar-nos a sua visão pessoal ou pelo menos contar-nos as peripécias que viu e viveu.
Para terminar a sua apresentação, deixo-lhe um abraço de boas-vindas em nome da tertúlia e dos editores, e os desejos de que se sinta bem entre nós e entre os seus camaradas do QP que compõem a nossa tertúlia.
Carlos Vinhal
____________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 23 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8314: Tabanca Grande (286): Maria Arminda Lopes Pereira dos Santos, ex-Ten Grad Enf.ª Pára-quedista, 1961-1970
Guiné 63/74 - P8316: Contraponto (Alberto Branquinho) (34): Teatro do Regresso - 9.º Acto - Filho da ausência
1. Mensagem do nosso camarada Alberto Branquinho (ex-Alf Mil de Op Esp da CART 1689, Fá, Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), com data de 22 de Maio de 2011:
Caro Carlos
Este 9º. Acto - Contraponto (34) - aborda um outro aspecto da realidade verificada em alguns dos regressos, consequência da ausência e da carência por ela provocada... (paciência!...).
Um abraço
Alberto Branquinho
CONTRAPONTO (34)
TEATRO DO REGRESSO
(Peça em vários actos)
9º. Acto – Filho da ausência
Cenário
Refeitório dos soldados.
O Elias, analfabeto, observa as frases escritas na carta que acabou de abrir, vira e revira a folha, com ternura nas pontas dos dedos. Entretanto, olha em volta. Regressa à contemplação da carta. Espera o Cabo Costa, que faz de seu “secretário” na leitura e resposta ao correio que recebe. Esta carta chegara há pouco no Dornier.
Acção
Entra o Cabo Costa e senta-se em frente do Elias.
- Atão, bê lá o que é que a minha mulher diz.
O Costa pega na folha e lê:
- “Meu querido homem…”
Pára e olha o Elias, que já saboreia as palavras, com a cabeça apoiada entre as mãos.
Continua:
- “Espero que esta te bá encontrar de boa saúde que nós por cá todos bem graças a Deus. Olha, agora já te posso dar a nuticia porque já tenho a certeza. No hospital já confirmaram que eu estou grábida. Como bês deixas-te-me uma prenda antes de abalares prá Guiné. Dizem que o menino porque eu acho que é menino debe nascer lá pró Natal. Bai ser o nosso Menino Jesus…”
O Costa pára a leitura e fica a olhar o Elias, com ar interrogativo. Este, com ar embevecido, olha o papel da carta, como se, através dela, visse a mulher, a aldeia, o futuro filho…
Aí o Costa poisa a carta em cima da mesa e começa a contar pelos dedos. E repetia, repetia a contagem. Foi interrompido pelo Elias:
- Atão? Acabou?
- Não, pá. Não pode ser… O filho não é teu.
- O quê??!!
- Pois. Olha lá: a gente embarcou no princípio de Janeiro, estamos no fim de Março e se vai nascer em Dezembro, passam quase onze meses depois de embarcarmos… de tu embarcares.
- Não estou a entender.
- Ó Elias, o filho… não é teu filho.
- Hã??
Ficam os dois a olhar-se e, num repente, o Elias arranca a carta de cima da mesa e sai.
O Costa, aparvalhado, fica a vê-lo afastar-se. O Elias nunca mais lhe falou. Soube que pedira ao alferes para desempenhar as funções de “secretário”.
………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………
Cerca de vinte meses depois, regressam da Guiné.
Quando desembarcam do comboio que os transportara de Lisboa para o Porto, o Costa pára para observar o “pai” Elias com o bebé, de quase um ano, ao colo, rodeado da mulher e mais familiares.
Retoma a marcha e, levantando os ombros, diz baixinho:
- Ora… que se lixe… Já estamos em casa.
____________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 17 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8288: Contraponto (Alberto Branquinho) (33): Teatro do Regresso - 8.º Acto - Foi outra guerra qualquer
Caro Carlos
Este 9º. Acto - Contraponto (34) - aborda um outro aspecto da realidade verificada em alguns dos regressos, consequência da ausência e da carência por ela provocada... (paciência!...).
Um abraço
Alberto Branquinho
CONTRAPONTO (34)
TEATRO DO REGRESSO
(Peça em vários actos)
9º. Acto – Filho da ausência
Cenário
Refeitório dos soldados.
O Elias, analfabeto, observa as frases escritas na carta que acabou de abrir, vira e revira a folha, com ternura nas pontas dos dedos. Entretanto, olha em volta. Regressa à contemplação da carta. Espera o Cabo Costa, que faz de seu “secretário” na leitura e resposta ao correio que recebe. Esta carta chegara há pouco no Dornier.
Acção
Entra o Cabo Costa e senta-se em frente do Elias.
- Atão, bê lá o que é que a minha mulher diz.
O Costa pega na folha e lê:
- “Meu querido homem…”
Pára e olha o Elias, que já saboreia as palavras, com a cabeça apoiada entre as mãos.
Continua:
- “Espero que esta te bá encontrar de boa saúde que nós por cá todos bem graças a Deus. Olha, agora já te posso dar a nuticia porque já tenho a certeza. No hospital já confirmaram que eu estou grábida. Como bês deixas-te-me uma prenda antes de abalares prá Guiné. Dizem que o menino porque eu acho que é menino debe nascer lá pró Natal. Bai ser o nosso Menino Jesus…”
O Costa pára a leitura e fica a olhar o Elias, com ar interrogativo. Este, com ar embevecido, olha o papel da carta, como se, através dela, visse a mulher, a aldeia, o futuro filho…
Aí o Costa poisa a carta em cima da mesa e começa a contar pelos dedos. E repetia, repetia a contagem. Foi interrompido pelo Elias:
- Atão? Acabou?
- Não, pá. Não pode ser… O filho não é teu.
- O quê??!!
- Pois. Olha lá: a gente embarcou no princípio de Janeiro, estamos no fim de Março e se vai nascer em Dezembro, passam quase onze meses depois de embarcarmos… de tu embarcares.
- Não estou a entender.
- Ó Elias, o filho… não é teu filho.
- Hã??
Ficam os dois a olhar-se e, num repente, o Elias arranca a carta de cima da mesa e sai.
O Costa, aparvalhado, fica a vê-lo afastar-se. O Elias nunca mais lhe falou. Soube que pedira ao alferes para desempenhar as funções de “secretário”.
………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………
Cerca de vinte meses depois, regressam da Guiné.
Quando desembarcam do comboio que os transportara de Lisboa para o Porto, o Costa pára para observar o “pai” Elias com o bebé, de quase um ano, ao colo, rodeado da mulher e mais familiares.
Retoma a marcha e, levantando os ombros, diz baixinho:
- Ora… que se lixe… Já estamos em casa.
____________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 17 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8288: Contraponto (Alberto Branquinho) (33): Teatro do Regresso - 8.º Acto - Foi outra guerra qualquer
Guiné 63/74 - P8315: As mulheres que, afinal, também foram à guerra (9): Maria Arminda Santos, a decana das enfermeiras pára-quedistas, participante do filme Quem Vai à Guerra (a estrear no cinema comercial, a 16 de Junho, em Lisboa, Porto e Aveiro)
Fotograma do filme Quem Vai à Guerra, de Marta Pessoa (Portugal, Real Ficção, 2011)> Quatro enfermeiras pára-quedistas, da esquerda para a direita, a Cristina Silva e a Rosa Serra (1º plano); a Natércia Neves e a Maria Arminda Santos (em 2º plano) (*)..
A Maria Arminda acaba de entrar para a nossa Tabanca Grande, com o nº de registo 500...
Segundo a apresentação feita pelo nosso camarada Miguel Pessoa, "a Maria Arminda é a decana das enfermeiras pára-quedistas, tendo sido a n.º 1 do 1º curso. Tem uma óptima memória que lhe permite relembrar muitas das experiências que viveu na Força Aérea e, das conversas que temos tido, auguro que poderão vir aí muitas histórias interessantes. Por isso, aqui vai a sua ficha de inscrição, de que consta o seu currículo, uma foto da época (tipo passe), uma foto recente e algumas fotos de época que podem ser espalhadas pelo Poste de apresentação… Finalmente, o necessário texto, um dos requisitos para a inscrição" (...)
Em 21 participantes do filme Quem Vai à Guerra, todas mulheres, oito são ex-enfermeiras pára-quedistas, se bem as contei: além das já citadas, temos ainda a Giselda Pessoa, a Ercília Pedro, a Aura Teles e a Júlia Lemos...
O filme vai ter estreia comercial, em Lisboa, Porto e Aveiro, no dia 16 de Junho (**). Dois trailers do filme podem aqui ser vistos:
http://youtu.be/sgECshCJbeE (genérico)
http://www.youtube.com/watch?v=a_mdRc4owwM&feature=related (depoimento de enfermeiras pára-quedistas)
Acima: Foto da rodagem do filme Quem Vai à Guerra, disponível no mural da respectiva página no Facebook (Aqui reproduzidas com a devida vénia...)
___________
Notas do editor:
(*) Vd. poste de 18 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8289: As mulheres que, afinal, foram à guerra (6): Mais fotos da rodagem do filme "Quem vai à guerra"...
(**) Último poste da série > 18 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8295: As mulheres que, afinal, foram à guerra (8): As nossas correspondentes e o nosso volume de correio semanal... (Luís Graça)
segunda-feira, 23 de maio de 2011
Guiné 63/74 - P8314: Tabanca Grande (286): Maria Arminda Lopes Pereira dos Santos, ex-Ten Grad Enf.ª Pára-quedista, 1961-1970
1. Mensagem do nosso camarada Miguel Pessoa, Coronel Pilav Reformado (BA 12, 1972/74), enviada ao Blogue:
Caros editores
Mais uma enfermeira pára-quedista que vai integrar-se no blogue. Porque ainda não está completamente à vontade nas lides informáticas, a Maria Arminda Santos* procurou o meu apoio para a apresentar aos restantes tabanqueiros, o que faço com muito gosto.
A Maria Arminda é a decana das enfermeiras pára-quedistas, tendo sido a n.º 1 do 1º curso. Tem uma óptima memória que lhe permite relembrar muitas das experiências que viveu na Força Aérea e, das conversas que temos tido, auguro que poderão vir aí muitas histórias interessantes. Por isso, aqui vai a sua ficha de inscrição, de que consta o seu currículo, uma foto da época (tipo passe), uma foto recente e algumas fotos de época que podem ser espalhadas pelo Poste de apresentação… Finalmente, o necessário texto, um dos requisitos para a inscrição.
Vamos ver se ainda consigo convencer mais alguma a juntar-se a nós…
Abraço
Miguel
13 de Janeiro de 2011 > Maria Arminda Santos ao centro da foto. À sua direita a Enf Rosa Serra, nossa tertuliana
2. Apresentação:
Maria Arminda Lopes Pereira dos Santos
Estado civil: casada
Naturalidade: Setúbal
Profissão: Enfermeira (Aposentada).
Ingresso na Força Aérea Portuguesa no Curso de Enfermeiras Pára-quedistas a 5 de Junho de 1961.
Final do Curso a 8 de Agosto de 1961 como Alf/Grad/Enfermeira pára-quedista
Promoções: em 20 de Novembro de 1962, sendo graduada em Ten/Grad/Enf pára.
1961- A doze de Outubro, colocada em Angola, até Fevereiro 62. Nesse período, nomeada para a missão a Carachi, para acompanhar mulheres e crianças retiradas do ex-Estado Português na Índia, anteriormente à sua invasão.
1962 – Março destacada para Lisboa e Tancos (R.C. P.), na preparação do 2º Curso de Pára-quedismo, para enfermeiras até Maio, findo o qual acompanhou as novas enfermeiras, num estágio efectuado no Hospital da B. A. 4 (Terra Chã), Ilha Terceira, Açores.
1962 – Colocada na Zona Aérea da Guiné e Cabo Verde, mas cedida ao Exército, Hospital Militar de Bissau, para trabalho nas enfermarias e Bloco Operatório. Após o primeiro ataque a Tite, colocada posteriormente na BA12, quando se começaram a fazer “Evacuações Aéreas”, com recurso ao emprego de enfermeiras.
1963 – Janeiro, colocada no Hospital Militar Principal (Lisboa), na prestação de cuidados de Enfermagem, a militares da F.A., queimados em acidentes de dois aviões.
- Colocada temporariamente em dois períodos no Hospital da BA 4, (6 de Maio a 18 de Julho e de 3 de Outubro a 7de Novembro).
- Ainda nesse ano, (19 de Agosto a 24 de Setembro), acompanhamento do 3º Curso de Pára-quedismo para enfermeiras e ida para Hospital da B.A.4.
1964 - De Novembro a Janeiro de 1965 – Colocada na 2ª Região Aérea, no BCP nº 21 e Direcção dos Serviços de Saúde.
1965/67 – Maio até 1969, foi colocada por vários períodos na Guiné, interrompidos, por outras missões: (i) acompanhamento de doentes paraplégicos da FAP, a um Centro de Recuperação, (Stoke Mandeville Hospital), em Aylesbury, nos Arredores de Londres; (ii) missão da NATO, a Gibraltar, Madeira e Açores, (1967); (iii) Hospital da BA nº.4; (iv)em Novembro, a 2ª. Fase do 7º. Curso de pára-quedismo de enfermeiras.
1969 – De 4 de Maio até Dezembro do mesmo ano, desempenhou funções no Hospital da B.A. nº 4 e foi instrutora do Curso de Formação a 1ºs Cabos Enfermeiros (Especialistas e Pára-Quedistas)
1970 – Colocada na 3ª Região Aérea (Moçambique), sendo por dois períodos, de dois meses destacada para Nampula.
A 14 de Dezembro de 1970, passa à disponibilidade a seu pedido, após a rescisão dos contratos anuais automaticamente renovados, fórmula de vínculo que ligava as enfermeiras à Força Aérea Portuguesa, antes do 25 de Abril de 1974). Desempenhou depois as suas funções na vida civil.
Louvores - Seis
Agraciada – Com o Grau de Cavaleiro da Ordem de Benemerência.
Condecorações – Uma medalha de Mérito Militar de 3ª classe.
Mª. Arminda Santos
Ex: Tenente Enf pára
Setúbal, 2011-02-16
3. O MEU SAUDOSO AMIGO AMÍLCAR BARBOSA
O início, na Guiné
Encontrava-me na Guiné desde Julho de 1962 e, passados quinze dias, juntou-se-me a Eugénia, tendo sido nós as primeiras enfermeiras pára-quedistas a lá chegar. Sem percebermos porquê fomos cedidas ao Exército e colocadas no Hospital Militar onde tratávamos dos doentes (não feridos), apenas doentes militares e civis ao serviço das Forças Armadas. O nosso dia-a-dia era trabalho de enfermaria e na sala de operações.
Havendo uma Base, achávamos que deveríamos aí trabalhar, onde também estavam colocados dois médicos, mas reconheço a esta distância que naquela data desenvolvemos um trabalho muito útil no referido hospital; e, não havendo guerra, fazia mais sentido ser essa a nossa actividade que, no entanto, com reduzidas condições de trabalho, me levava a sentir saudades do meu Hospital de Santa Maria, donde saíra no ano anterior.
Habitávamos uma vivenda térrea que partilhávamos com um oficial miliciano da FA cuja mulher era francesa, convivendo como se fôssemos uma família. O nosso contacto com o restante pessoal da FAP era mais restrito, só nos encontrando por vezes ao jantar, quando não estávamos escaladas para serviço nocturno no hospital.
A convivência e a amizade foram-se estabelecendo aos poucos consoante nos íamos reciprocamente conhecendo e o Barbosa foi um dos primeiros, que pelo seu espírito aberto, brincalhão e pelo facto de ser cabo-verdiano, tal como a Eugénia, o que facilitou essa convivência.
Comandava a Zona Aérea de Cabo-Verde e Guiné e a Base, o Ten-coronel Pilav Durval, o qual começou a solicitar a nossa presença na Base, mas sem resultado; e como tal a vida foi continuando do mesmo modo, continuando nós as duas cedidas temporariamente ao Exército.
No período da tarde íamos à Missão do Sono, conjuntamente com o Dr. Norberto Canha, um cirurgião que nas suas horas vagas ia operar doentes com elefantíase e lepra, ajudando na sala de operações, a instrumentar e circular, chegando por vezes a executar a tarefa de ajudantes no acto operatório. Da equipa faziam ainda parte o Dr. Silva e o anestesista, o Dr. Inês, que era de Loulé. Eram todos médicos militares e com eles estabelecemos relações de amizade que perduraram por mais alguns anos.
O Dr. Canha, que tinha na Guiné a mulher, Dr.ª Célia, professora, e a quem nós ajudámos ao parto de uma filha, vim anos depois a encontrá-lo, como Prof. Doutor e Director do Centro Hospitalar de Coimbra. O Dr. Inês, encontrei-o algumas vezes no Algarve, (quando ia para a casa da minha saudosa colega, amiga e comadre, a Maria Zulmira). Do Dr. Silva perdi-lhe o contacto.
Certa manhã na época, das chuvas, ouvimos o ruído de dois F86 voando muito baixo sobre a cidade e com fraca visibilidade. Depois só ficou um no ar; passadas umas horas soubemos ser o Barbosa, que aterrou no extremo da pista preso a um gancho e a uma espécie de rede, em último recurso, pois estava quase sem combustível. Nessa noite ao jantar houve comemoração, como habitualmente regada com uma garrafa de vinho branco “Casal Garcia”.
O Barbosa andava muitas vezes connosco, sempre alegre e a cantar as “Mornas e as Coladeras”, ao desafio com a Eugénia.
Certa noite fomos a um jantar de despedida do Tenente-Coronel Moura Pinto e de recepção ao Tenente-Coronel Barbeitos, tendo o nosso amigo Barbosa feito um discurso, tão eloquente que quase nos levou às lágrimas. Dessa data lembro-me de outros pilotos: o Mendonça, o Pessoa e o Andrade (de alcunha o Ventoinhas, que era dos helicópteros) e por acaso, irmão de uma enfermeira civil, minha amiga, o Simão e o Lobato (que em 1963 foi feito prisioneiro pelo PAIGC, sendo depois libertado, como todos sabemos, na Operação Mar Verde, em 1970).
A nossa vida continuava sem sobressaltos, até que em fins de Janeiro ou princípio de Fevereiro de 1963, dá-se o primeiro ataque ao aquartelamento de Tite, do outro lado do Geba. Ainda prestávamos serviço no Hospital Militar e foi quase ao fim tarde que começaram a chegar os feridos, cujo número não me recordo; lembro-me apenas que se operou pela noite fora, com mais uma mesa operatória improvisada, com um auto-clave e estufa para esterilização de materiais, insuficientes para as necessidades repentinas e com as quais ninguém contava.
Tivemos vários mortos nesse dia, mas não me recordo do número, apenas sei que mais tarde, no Hospital da Base Aérea nº 4, na Ilha Terceira (também conhecido pelo da Terra-Chã), vim a trabalhar com o Sargº Enf.º Amaral, cujo filho, um Furriel miliciano, morrera nesse ataque.
A partir daí a guerra na Guiné estava instalada e assim que foi possível fomos colocadas na Base de Bissalanca, para o início das evacuações aéreas com enfermeiras. Havia os aviões Auster e os helicópteros Alouette II; nestes não nos era possível acompanhar de perto os feridos, os quais eram transportados fora do helicóptero, numa espécie de caixas colocadas por cima dos patins do heli, uma de cada lado. Nos Auster a maca quase entrava pela cadeira ao lado do piloto e na cauda do avião. Felizmente mais tarde chegaram os DO-27 e os Alouette III, onde passámos a fazer inúmeras evacuações, adaptando e modificando os meios sanitários e a nossa actuação, com a finalidade de uma mais eficaz prestação de cuidados aos feridos, os quais iam sendo cada vez em maior número. Infelizmente tivemos que chegar a fazer evacuações no Dakota, quando havia ao mesmo tempo muitos feridos e a pista era adequada para a sua aterragem.
As nossas comissões eram por curtos períodos, mas continuamente a saltitar de Província para Província, intercalando com o acompanhamento de novos cursos de pára-quedismo para enfermeiras, permanências no hospital da Terra-Chã, na Ilha Terceira, na Direcção do Serviço de Saúde da FAP e no Hospital Militar Principal de Lisboa. Foi assim que eu, entre outros locais, fui parar à Guiné por seis vezes...
Penso que num dos períodos, entre 1965/66, voltei a encontrar ali o Barbosa, estando também a Nazaré, mais tarde a Zulmira e outras colegas. Ele era um companheiro presente, tinha a sua namorada Estela, com quem viria mais tarde a casar, e nós éramos as suas “irmãs mais velhas”, portadoras de mensagens e encomendas, de cá para lá e vice-versa, (o que aconteceu também com outros camaradas, ao longo da nossa vida militar). Por vezes cantava para nós, e bem, as canções do Charles Aznavour, do Gilbert Bécaud, ou os fados da Amália Rodrigues, fazendo nós o coro, o que nos ajudava a esquecer as tristezas daquela terra que se apelidou do “Vietname Português”. Fazia também umas piruetas (era um bom ginasta) e até parecia ser feito de borracha.
Fiz várias evacuações em DO-27 com o Barbosa e recordo especialmente duas; uma pela positiva, a ida a Bolama, para evacuar uma criança; a outra pela negativa, à Aldeia Formosa, a de um Furriel que infelizmente faleceu. O Barbosa e eu tínhamos sempre peripécias que nos aconteciam nos percursos, mas acabavam sempre bem.
A ida a Bolama
Saímos para Bolama a meio da tarde para recuperar uma criança que o médico suspeitava ter uma poliomielite. Chegados à pista não estava ninguém, apenas um militar que guardava o hangar. Indicou-nos a zona donde tinha vindo o pedido de evacuação e vendo da minha parte a vontade de ir ao local, pediu a outro colega que me transportasse num carro de caixa aberta, que estava próximo, tendo o Barbosa dito que eu não iria sozinha; e lá seguimos por uma picada, (talvez um a dois quilómetros).
Era chamada à zona, de “Ato Fula”. Tinha no terreiro uma entrada e as palhotas da tabanca situavam-se em círculo, tendo nas suas traseiras as terras de cultivo. De repente fomos cercados por todos os habitantes; as crianças, todas contentes por nos verem, faziam uma “chilreada”, sem eu entender uma palavra e tocavam-me. Nunca deviam ter visto uma mulher de camuflado e vim depois a saber que diziam que eu tinha “mezinha”.
Com aquele aparato todo, o Barbosa saltou para o carro e pediu ao motorista que pusesse rapidamente o mesmo a trabalhar e disse-me que subisse também, porque não queria que nos apanhassem à mão, o que eu não consegui fazer, por estar presa no meio das mulheres e filhos, aproximando-se entretanto também alguns homens. Não havia nada a fazer; embora soubéssemos que naquela área não havia ataques, a situação não era cómoda para nós - e começava a escurecer.
Ao longe vinham dois homens, que pareciam ser os “Homens Grandes” da tabanca, os quais traziam algo nas mãos que receámos serem granadas. O Barbosa dizia para o motorista "esta minha tenente mete-me em cada uma…” Os Homens aproximaram-se e, num gesto de gratidão por lá termos ido, ofereceram-nos a cada um uma massaroca de milho, possivelmente as melhores da sua lavra; e com gestos de alguma humildade apertaram-nos as mãos.
Fiquei impressionada com os acontecimentos e nunca mais esqueci aquela população. Chegámos já de noite à Base, com todos preocupados pela nossa demora. Ao jantar o nosso amigo contou no gozo a todos, como os “turras iam apanhando à mão, sem nenhum trabalho e de uma assentada, um piloto e uma enfermeira”. Foi uma risada e um momento de boa disposição, com o aparato descrito pelo nosso amigo.
A ida a Aldeia Formosa
Numa manhã, muito cedo, na época das chuvas, recebemos um pedido de evacuação tipo “Y” e lá fui com o Barbosa buscar o ferido. Quando chegámos este não estava junto à pista mas no aquartelamento; desloquei-me então eu até ao local onde o ferido se encontrava, num gravíssimo estado. Tinha um esfacelamento de grande parte do pescoço e face, de onde o sangue saía em abundância, levando-me a pensar que uma das carótidas podia ter sido também atingida e que, assim sendo, pouco ou nada havia a fazer. De imediato consegui canalizar-lhe uma veia, mas o ferido acabou por falecer-me nos braços, em frente do oficial que comandava o destacamento. Colocou-se-nos o problema: deixá-lo ali, ou eu assumir que tinha falecido após a descolagem, com o que o Barbosa concordou. O morto era um furriel miliciano, estimado por todos com quem convivia. Os camaradas estavam desolados com o desfecho daquele acidente (cuja causa soubemos então) e o seu apelido e aquela imagem ainda hoje estão presentes no meu pensamento, que reservo, por respeito à sua memória.
Ao colocarmos a maca no avião, o oficial veio pedir ao Barbosa se aterrava em Buba, porque já tinha contactado com o Comando do Batalhão, que lhe queria prestar homenagem - e assim se fez. Ao aterrarmos estavam os militares todos formados e o Comandante veio entregar uma Bandeira Nacional e pediu-nos que cobríssemos o seu corpo e o levássemos desse modo para a Base. Concordámos e assim procedemos, mas também sabíamos que tínhamos que a guardar antes da aterragem. É certo que não procedemos de acordo com as regras instituídas, mas não podíamos deixá-lo no meio daquela tropa fragilizada pela triste ocorrência, a aguardar pelo caixão para ser dali retirado pelos meios habituais.
Só entende este nosso procedimento quem lá esteve e conheceu as condições por que passaram os militares na Guiné, principalmente os que estiveram colocados no interior, muitas vezes vivendo praticamente nos abrigos.
O Barbosa guardou a bandeira, que devolveu posteriormente; e eu anotei no meu relatório da “evacuação aérea” que o ferido tinha falecido cinco minutos após a descolagem. MISSÃO CUMPRIDA.
Anos depois, já casada e com filhos, fora da FA, onde entrei e saí voluntariamente, após quase dez anos vividos intensamente - mas dos quais nunca me arrependi - soube pela comunicação social da morte na Carreira de Tiro de Alcochete de um piloto, para minha tristeza o meu AMIGO AMÍLCAR BARBOSA.
Senti uma grande mágoa pela perda de mais uma pessoa boa com quem na vida me cruzei; durante esse período foram infelizmente bastantes cuja perda nos deixou marcas que por vezes nem o passar do tempo faz esquecer.
Quando falamos entre nós o Barbosa, entre outros, vem-nos à lembrança, enquanto A VIDA E A NOSSA MEMÓRIA O DEIXAR RECORDAR.
Mª Arminda Santos
Enf.ª Pára-quedista
4. Comentário de CV:
Cara Enfermeira Maria Arminda, muito obrigado por se juntar a nós nesta Caserna Virtual, onde lhe vamos arranjar um lugar confortável, porque a antiguidade é um posto e a senhora é só a Enfermeira Pára-quedista mais antiga de Portugal, diz o Miguel, e nós acreditamos, que a senhora foi a primeira classificada do primeiro curso de Enfermeiras Pára-quedistas.
A Maria Arminda que esteve em acção logo no início da guerra colonial, está numa posição privilegiada para nos contar as suas memórias coincidentes com esse tempo. Tudo o que nos possa descrever, não só sobre a Guiné, mas também nos outros TO, será uma mais valia para este Blogue que a partir de hoje é também seu.
Vamos dar-lhe a honra simbólica de ser a 500.ª tertuliana do nosso Blogue. Este número era para nós uma meta mágica. A partir de hoje podemos dizer que somos mais de meio milhar de tertulianos.
Permita que em nome dos tertulianos que viveram em aquartelamentos no interior da Guiné, cercados de arame farpado, lhe agradeça o bem que fez aos nossos camaradas que desafortunadamente precisaram de evacuações por doença ou ferimentos em combate, quantas vezes em condições bem perigosas para as máquinas, tripulação e pessoal de saúde. Este agradecimento feito à n.º 1 das Enf Pára-quedistas é extensivo a todos os nossos anjos da guarda.
Receba, senhora Enfermeira, um beijinho colectivo da tertúlia que a estima e fica honrada com a sua presença no Blogue.
O Editor de serviço
Carlos Vinhal
____________
Notas do Editor:
(*) Vd. poste de 29 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6487: As Nossas Queridas Enfermeiras Pára-quedistas (14): As primeiras mulheres portuguesas equiparadas a militares (2): Maria Arminda (Rosa Serra)
Vd. último poste da série de 21 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8308: Tabanca Grande (285): Ernestino Caniço, ex-Alf Mil, CMDT do Pel Rec Daimler 2208 (Mansabá, Mansoa e Bissau, 1970/71)
Caros editores
Mais uma enfermeira pára-quedista que vai integrar-se no blogue. Porque ainda não está completamente à vontade nas lides informáticas, a Maria Arminda Santos* procurou o meu apoio para a apresentar aos restantes tabanqueiros, o que faço com muito gosto.
A Maria Arminda é a decana das enfermeiras pára-quedistas, tendo sido a n.º 1 do 1º curso. Tem uma óptima memória que lhe permite relembrar muitas das experiências que viveu na Força Aérea e, das conversas que temos tido, auguro que poderão vir aí muitas histórias interessantes. Por isso, aqui vai a sua ficha de inscrição, de que consta o seu currículo, uma foto da época (tipo passe), uma foto recente e algumas fotos de época que podem ser espalhadas pelo Poste de apresentação… Finalmente, o necessário texto, um dos requisitos para a inscrição.
Vamos ver se ainda consigo convencer mais alguma a juntar-se a nós…
Abraço
Miguel
TERTULIANA N.º 500
Ten Grad Enf.ª Pára-quedista Maria Arminda Lopes Pereira dos Santos
13 de Janeiro de 2011 > Maria Arminda Santos ao centro da foto. À sua direita a Enf Rosa Serra, nossa tertuliana
2. Apresentação:
Maria Arminda Lopes Pereira dos Santos
Estado civil: casada
Naturalidade: Setúbal
Profissão: Enfermeira (Aposentada).
Ingresso na Força Aérea Portuguesa no Curso de Enfermeiras Pára-quedistas a 5 de Junho de 1961.
Final do Curso a 8 de Agosto de 1961 como Alf/Grad/Enfermeira pára-quedista
Promoções: em 20 de Novembro de 1962, sendo graduada em Ten/Grad/Enf pára.
1961- A doze de Outubro, colocada em Angola, até Fevereiro 62. Nesse período, nomeada para a missão a Carachi, para acompanhar mulheres e crianças retiradas do ex-Estado Português na Índia, anteriormente à sua invasão.
1962 – Março destacada para Lisboa e Tancos (R.C. P.), na preparação do 2º Curso de Pára-quedismo, para enfermeiras até Maio, findo o qual acompanhou as novas enfermeiras, num estágio efectuado no Hospital da B. A. 4 (Terra Chã), Ilha Terceira, Açores.
1962 – Colocada na Zona Aérea da Guiné e Cabo Verde, mas cedida ao Exército, Hospital Militar de Bissau, para trabalho nas enfermarias e Bloco Operatório. Após o primeiro ataque a Tite, colocada posteriormente na BA12, quando se começaram a fazer “Evacuações Aéreas”, com recurso ao emprego de enfermeiras.
1963 – Janeiro, colocada no Hospital Militar Principal (Lisboa), na prestação de cuidados de Enfermagem, a militares da F.A., queimados em acidentes de dois aviões.
- Colocada temporariamente em dois períodos no Hospital da BA 4, (6 de Maio a 18 de Julho e de 3 de Outubro a 7de Novembro).
- Ainda nesse ano, (19 de Agosto a 24 de Setembro), acompanhamento do 3º Curso de Pára-quedismo para enfermeiras e ida para Hospital da B.A.4.
1964 - De Novembro a Janeiro de 1965 – Colocada na 2ª Região Aérea, no BCP nº 21 e Direcção dos Serviços de Saúde.
1965/67 – Maio até 1969, foi colocada por vários períodos na Guiné, interrompidos, por outras missões: (i) acompanhamento de doentes paraplégicos da FAP, a um Centro de Recuperação, (Stoke Mandeville Hospital), em Aylesbury, nos Arredores de Londres; (ii) missão da NATO, a Gibraltar, Madeira e Açores, (1967); (iii) Hospital da BA nº.4; (iv)em Novembro, a 2ª. Fase do 7º. Curso de pára-quedismo de enfermeiras.
1969 – De 4 de Maio até Dezembro do mesmo ano, desempenhou funções no Hospital da B.A. nº 4 e foi instrutora do Curso de Formação a 1ºs Cabos Enfermeiros (Especialistas e Pára-Quedistas)
1970 – Colocada na 3ª Região Aérea (Moçambique), sendo por dois períodos, de dois meses destacada para Nampula.
A 14 de Dezembro de 1970, passa à disponibilidade a seu pedido, após a rescisão dos contratos anuais automaticamente renovados, fórmula de vínculo que ligava as enfermeiras à Força Aérea Portuguesa, antes do 25 de Abril de 1974). Desempenhou depois as suas funções na vida civil.
Louvores - Seis
Agraciada – Com o Grau de Cavaleiro da Ordem de Benemerência.
Condecorações – Uma medalha de Mérito Militar de 3ª classe.
Mª. Arminda Santos
Ex: Tenente Enf pára
Setúbal, 2011-02-16
Na foto, Maria Arminda Santos rodeada por camaradas
3. O MEU SAUDOSO AMIGO AMÍLCAR BARBOSA
O início, na Guiné
Encontrava-me na Guiné desde Julho de 1962 e, passados quinze dias, juntou-se-me a Eugénia, tendo sido nós as primeiras enfermeiras pára-quedistas a lá chegar. Sem percebermos porquê fomos cedidas ao Exército e colocadas no Hospital Militar onde tratávamos dos doentes (não feridos), apenas doentes militares e civis ao serviço das Forças Armadas. O nosso dia-a-dia era trabalho de enfermaria e na sala de operações.
Havendo uma Base, achávamos que deveríamos aí trabalhar, onde também estavam colocados dois médicos, mas reconheço a esta distância que naquela data desenvolvemos um trabalho muito útil no referido hospital; e, não havendo guerra, fazia mais sentido ser essa a nossa actividade que, no entanto, com reduzidas condições de trabalho, me levava a sentir saudades do meu Hospital de Santa Maria, donde saíra no ano anterior.
Habitávamos uma vivenda térrea que partilhávamos com um oficial miliciano da FA cuja mulher era francesa, convivendo como se fôssemos uma família. O nosso contacto com o restante pessoal da FAP era mais restrito, só nos encontrando por vezes ao jantar, quando não estávamos escaladas para serviço nocturno no hospital.
A convivência e a amizade foram-se estabelecendo aos poucos consoante nos íamos reciprocamente conhecendo e o Barbosa foi um dos primeiros, que pelo seu espírito aberto, brincalhão e pelo facto de ser cabo-verdiano, tal como a Eugénia, o que facilitou essa convivência.
Comandava a Zona Aérea de Cabo-Verde e Guiné e a Base, o Ten-coronel Pilav Durval, o qual começou a solicitar a nossa presença na Base, mas sem resultado; e como tal a vida foi continuando do mesmo modo, continuando nós as duas cedidas temporariamente ao Exército.
No período da tarde íamos à Missão do Sono, conjuntamente com o Dr. Norberto Canha, um cirurgião que nas suas horas vagas ia operar doentes com elefantíase e lepra, ajudando na sala de operações, a instrumentar e circular, chegando por vezes a executar a tarefa de ajudantes no acto operatório. Da equipa faziam ainda parte o Dr. Silva e o anestesista, o Dr. Inês, que era de Loulé. Eram todos médicos militares e com eles estabelecemos relações de amizade que perduraram por mais alguns anos.
O Dr. Canha, que tinha na Guiné a mulher, Dr.ª Célia, professora, e a quem nós ajudámos ao parto de uma filha, vim anos depois a encontrá-lo, como Prof. Doutor e Director do Centro Hospitalar de Coimbra. O Dr. Inês, encontrei-o algumas vezes no Algarve, (quando ia para a casa da minha saudosa colega, amiga e comadre, a Maria Zulmira). Do Dr. Silva perdi-lhe o contacto.
Certa manhã na época, das chuvas, ouvimos o ruído de dois F86 voando muito baixo sobre a cidade e com fraca visibilidade. Depois só ficou um no ar; passadas umas horas soubemos ser o Barbosa, que aterrou no extremo da pista preso a um gancho e a uma espécie de rede, em último recurso, pois estava quase sem combustível. Nessa noite ao jantar houve comemoração, como habitualmente regada com uma garrafa de vinho branco “Casal Garcia”.
Com Zulmira Andrade e Barbosa
O Barbosa andava muitas vezes connosco, sempre alegre e a cantar as “Mornas e as Coladeras”, ao desafio com a Eugénia.
Certa noite fomos a um jantar de despedida do Tenente-Coronel Moura Pinto e de recepção ao Tenente-Coronel Barbeitos, tendo o nosso amigo Barbosa feito um discurso, tão eloquente que quase nos levou às lágrimas. Dessa data lembro-me de outros pilotos: o Mendonça, o Pessoa e o Andrade (de alcunha o Ventoinhas, que era dos helicópteros) e por acaso, irmão de uma enfermeira civil, minha amiga, o Simão e o Lobato (que em 1963 foi feito prisioneiro pelo PAIGC, sendo depois libertado, como todos sabemos, na Operação Mar Verde, em 1970).
A nossa vida continuava sem sobressaltos, até que em fins de Janeiro ou princípio de Fevereiro de 1963, dá-se o primeiro ataque ao aquartelamento de Tite, do outro lado do Geba. Ainda prestávamos serviço no Hospital Militar e foi quase ao fim tarde que começaram a chegar os feridos, cujo número não me recordo; lembro-me apenas que se operou pela noite fora, com mais uma mesa operatória improvisada, com um auto-clave e estufa para esterilização de materiais, insuficientes para as necessidades repentinas e com as quais ninguém contava.
Tivemos vários mortos nesse dia, mas não me recordo do número, apenas sei que mais tarde, no Hospital da Base Aérea nº 4, na Ilha Terceira (também conhecido pelo da Terra-Chã), vim a trabalhar com o Sargº Enf.º Amaral, cujo filho, um Furriel miliciano, morrera nesse ataque.
A partir daí a guerra na Guiné estava instalada e assim que foi possível fomos colocadas na Base de Bissalanca, para o início das evacuações aéreas com enfermeiras. Havia os aviões Auster e os helicópteros Alouette II; nestes não nos era possível acompanhar de perto os feridos, os quais eram transportados fora do helicóptero, numa espécie de caixas colocadas por cima dos patins do heli, uma de cada lado. Nos Auster a maca quase entrava pela cadeira ao lado do piloto e na cauda do avião. Felizmente mais tarde chegaram os DO-27 e os Alouette III, onde passámos a fazer inúmeras evacuações, adaptando e modificando os meios sanitários e a nossa actuação, com a finalidade de uma mais eficaz prestação de cuidados aos feridos, os quais iam sendo cada vez em maior número. Infelizmente tivemos que chegar a fazer evacuações no Dakota, quando havia ao mesmo tempo muitos feridos e a pista era adequada para a sua aterragem.
As nossas comissões eram por curtos períodos, mas continuamente a saltitar de Província para Província, intercalando com o acompanhamento de novos cursos de pára-quedismo para enfermeiras, permanências no hospital da Terra-Chã, na Ilha Terceira, na Direcção do Serviço de Saúde da FAP e no Hospital Militar Principal de Lisboa. Foi assim que eu, entre outros locais, fui parar à Guiné por seis vezes...
Penso que num dos períodos, entre 1965/66, voltei a encontrar ali o Barbosa, estando também a Nazaré, mais tarde a Zulmira e outras colegas. Ele era um companheiro presente, tinha a sua namorada Estela, com quem viria mais tarde a casar, e nós éramos as suas “irmãs mais velhas”, portadoras de mensagens e encomendas, de cá para lá e vice-versa, (o que aconteceu também com outros camaradas, ao longo da nossa vida militar). Por vezes cantava para nós, e bem, as canções do Charles Aznavour, do Gilbert Bécaud, ou os fados da Amália Rodrigues, fazendo nós o coro, o que nos ajudava a esquecer as tristezas daquela terra que se apelidou do “Vietname Português”. Fazia também umas piruetas (era um bom ginasta) e até parecia ser feito de borracha.
Fiz várias evacuações em DO-27 com o Barbosa e recordo especialmente duas; uma pela positiva, a ida a Bolama, para evacuar uma criança; a outra pela negativa, à Aldeia Formosa, a de um Furriel que infelizmente faleceu. O Barbosa e eu tínhamos sempre peripécias que nos aconteciam nos percursos, mas acabavam sempre bem.
A ida a Bolama
Saímos para Bolama a meio da tarde para recuperar uma criança que o médico suspeitava ter uma poliomielite. Chegados à pista não estava ninguém, apenas um militar que guardava o hangar. Indicou-nos a zona donde tinha vindo o pedido de evacuação e vendo da minha parte a vontade de ir ao local, pediu a outro colega que me transportasse num carro de caixa aberta, que estava próximo, tendo o Barbosa dito que eu não iria sozinha; e lá seguimos por uma picada, (talvez um a dois quilómetros).
Era chamada à zona, de “Ato Fula”. Tinha no terreiro uma entrada e as palhotas da tabanca situavam-se em círculo, tendo nas suas traseiras as terras de cultivo. De repente fomos cercados por todos os habitantes; as crianças, todas contentes por nos verem, faziam uma “chilreada”, sem eu entender uma palavra e tocavam-me. Nunca deviam ter visto uma mulher de camuflado e vim depois a saber que diziam que eu tinha “mezinha”.
Com aquele aparato todo, o Barbosa saltou para o carro e pediu ao motorista que pusesse rapidamente o mesmo a trabalhar e disse-me que subisse também, porque não queria que nos apanhassem à mão, o que eu não consegui fazer, por estar presa no meio das mulheres e filhos, aproximando-se entretanto também alguns homens. Não havia nada a fazer; embora soubéssemos que naquela área não havia ataques, a situação não era cómoda para nós - e começava a escurecer.
Ao longe vinham dois homens, que pareciam ser os “Homens Grandes” da tabanca, os quais traziam algo nas mãos que receámos serem granadas. O Barbosa dizia para o motorista "esta minha tenente mete-me em cada uma…” Os Homens aproximaram-se e, num gesto de gratidão por lá termos ido, ofereceram-nos a cada um uma massaroca de milho, possivelmente as melhores da sua lavra; e com gestos de alguma humildade apertaram-nos as mãos.
Fiquei impressionada com os acontecimentos e nunca mais esqueci aquela população. Chegámos já de noite à Base, com todos preocupados pela nossa demora. Ao jantar o nosso amigo contou no gozo a todos, como os “turras iam apanhando à mão, sem nenhum trabalho e de uma assentada, um piloto e uma enfermeira”. Foi uma risada e um momento de boa disposição, com o aparato descrito pelo nosso amigo.
A ida a Aldeia Formosa
Numa manhã, muito cedo, na época das chuvas, recebemos um pedido de evacuação tipo “Y” e lá fui com o Barbosa buscar o ferido. Quando chegámos este não estava junto à pista mas no aquartelamento; desloquei-me então eu até ao local onde o ferido se encontrava, num gravíssimo estado. Tinha um esfacelamento de grande parte do pescoço e face, de onde o sangue saía em abundância, levando-me a pensar que uma das carótidas podia ter sido também atingida e que, assim sendo, pouco ou nada havia a fazer. De imediato consegui canalizar-lhe uma veia, mas o ferido acabou por falecer-me nos braços, em frente do oficial que comandava o destacamento. Colocou-se-nos o problema: deixá-lo ali, ou eu assumir que tinha falecido após a descolagem, com o que o Barbosa concordou. O morto era um furriel miliciano, estimado por todos com quem convivia. Os camaradas estavam desolados com o desfecho daquele acidente (cuja causa soubemos então) e o seu apelido e aquela imagem ainda hoje estão presentes no meu pensamento, que reservo, por respeito à sua memória.
Ao colocarmos a maca no avião, o oficial veio pedir ao Barbosa se aterrava em Buba, porque já tinha contactado com o Comando do Batalhão, que lhe queria prestar homenagem - e assim se fez. Ao aterrarmos estavam os militares todos formados e o Comandante veio entregar uma Bandeira Nacional e pediu-nos que cobríssemos o seu corpo e o levássemos desse modo para a Base. Concordámos e assim procedemos, mas também sabíamos que tínhamos que a guardar antes da aterragem. É certo que não procedemos de acordo com as regras instituídas, mas não podíamos deixá-lo no meio daquela tropa fragilizada pela triste ocorrência, a aguardar pelo caixão para ser dali retirado pelos meios habituais.
Só entende este nosso procedimento quem lá esteve e conheceu as condições por que passaram os militares na Guiné, principalmente os que estiveram colocados no interior, muitas vezes vivendo praticamente nos abrigos.
O Barbosa guardou a bandeira, que devolveu posteriormente; e eu anotei no meu relatório da “evacuação aérea” que o ferido tinha falecido cinco minutos após a descolagem. MISSÃO CUMPRIDA.
Anos depois, já casada e com filhos, fora da FA, onde entrei e saí voluntariamente, após quase dez anos vividos intensamente - mas dos quais nunca me arrependi - soube pela comunicação social da morte na Carreira de Tiro de Alcochete de um piloto, para minha tristeza o meu AMIGO AMÍLCAR BARBOSA.
Senti uma grande mágoa pela perda de mais uma pessoa boa com quem na vida me cruzei; durante esse período foram infelizmente bastantes cuja perda nos deixou marcas que por vezes nem o passar do tempo faz esquecer.
Quando falamos entre nós o Barbosa, entre outros, vem-nos à lembrança, enquanto A VIDA E A NOSSA MEMÓRIA O DEIXAR RECORDAR.
Mª Arminda Santos
Enf.ª Pára-quedista
4. Comentário de CV:
Cara Enfermeira Maria Arminda, muito obrigado por se juntar a nós nesta Caserna Virtual, onde lhe vamos arranjar um lugar confortável, porque a antiguidade é um posto e a senhora é só a Enfermeira Pára-quedista mais antiga de Portugal, diz o Miguel, e nós acreditamos, que a senhora foi a primeira classificada do primeiro curso de Enfermeiras Pára-quedistas.
A Maria Arminda que esteve em acção logo no início da guerra colonial, está numa posição privilegiada para nos contar as suas memórias coincidentes com esse tempo. Tudo o que nos possa descrever, não só sobre a Guiné, mas também nos outros TO, será uma mais valia para este Blogue que a partir de hoje é também seu.
Vamos dar-lhe a honra simbólica de ser a 500.ª tertuliana do nosso Blogue. Este número era para nós uma meta mágica. A partir de hoje podemos dizer que somos mais de meio milhar de tertulianos.
Permita que em nome dos tertulianos que viveram em aquartelamentos no interior da Guiné, cercados de arame farpado, lhe agradeça o bem que fez aos nossos camaradas que desafortunadamente precisaram de evacuações por doença ou ferimentos em combate, quantas vezes em condições bem perigosas para as máquinas, tripulação e pessoal de saúde. Este agradecimento feito à n.º 1 das Enf Pára-quedistas é extensivo a todos os nossos anjos da guarda.
Receba, senhora Enfermeira, um beijinho colectivo da tertúlia que a estima e fica honrada com a sua presença no Blogue.
O Editor de serviço
Carlos Vinhal
____________
Notas do Editor:
(*) Vd. poste de 29 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6487: As Nossas Queridas Enfermeiras Pára-quedistas (14): As primeiras mulheres portuguesas equiparadas a militares (2): Maria Arminda (Rosa Serra)
Vd. último poste da série de 21 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8308: Tabanca Grande (285): Ernestino Caniço, ex-Alf Mil, CMDT do Pel Rec Daimler 2208 (Mansabá, Mansoa e Bissau, 1970/71)
Guiné 63/74 - P8313: Os nossos médicos (26): J. Pardete Ferreira, ex-Alf Mil Med (Teixeira Pinto e Bissau, 1969/71), criador literário do Paparratos
A. Comentário, com data de 22 do corrente, de José Pardete Ferreira ao poste P8062:
Meu caro camarada de armas [, Albino Silva:]
(...) "Apresentado o bom soldado português Gabriel ou o Paparratos], o autor divaga pelos espaços míticos dos estudantes que frequentavam a Cidade Universitária no início dos anos 60: o Café Roma, onde hoje é um Mc Donald’s, junto ao Cinema Londres, a praxe do luto académico, o Café Colonial, o CDUL, o Monte Carlo, o Monumental, o D. Rodrigo, a Pastelaria Biarritz bem como as respectivas faunas, sonhos, devaneios. Tudo entremeado pela vida mais ou menos bélica no chão manjaco onde vai aparecer o alferes miliciano médico Pekoff. Fica-se com a ilusão que Pekoff se cruza com o Paparratos, mas seguramente, já que são figuras mais ou menos falsas e mais ou menos reais, seguem caminhos paralelos. E temos um flash dessa tão celebrada e jamais esquecida 105ª Companhia de Comandos, comandada com cada vez maior frequência pelo alferes Jorge Esteves, em virtude das visitas, quase permanentes a Bissau, do capitão Dias Anjos e que se prolongavam no tempo. A sua mulher encontrava-se de férias na capital providencial, os dois pombinhos podiam ser encontrados no Quartel General.
"O Posto de Comando do Aquartelamento do Chão Manjaco era conhecido como A Casa da Mariquinhas com as suas janelas com tabuinhas. Por dever de causa, o autor apresenta-se pondo-se ao espelho através de João Pekoff, vamos aos seus locais de estudo, alguns dos cafés atrás referidos, subimos até à Cantina Universitária, às Pró-Associações de Medicina e de Letras, às Associações de Direito e de Ciências, entramos no Estádio Universitário. Ficamos a saber que além dos estudos de medicina, pratica desporto e andou no associativismo religioso. Pelo que se dirá adiante, a sua guerra não foi só feita de tiros e morteiradas mas também de hospital e em Bissau, remendando feridos graves e ligeiros, criando a ideia, junto dos autóctones, de que era feiticeiro. Um bom pretexto para, sempre a propósito e a despropósito, voltar aos cafés de Lisboa e saudar os seus amigos inesquecíveis. (...)
"Como quem não quer a coisa, dado o retrato do CDUL e o seu desempenho na Academia Lisboeta, vamos numa missão helitransportada à Caboiana, que meteu bombardeamentos, reconhecimentos e até mosquitos. No Cacheu, para que conste, as Companhias de açorianos e madeirenses não só não se misturavam como tinham hortas separadas. E depois o alferes Pekoff vai até à Ilha de Jeta, fazer a psico, tratar das populações, e o alferes deliciou-se com esta floresta quase tropical, pensou mesmo que estava num Haiti a 4 horas de voo da Europa. Spínola é conhecido pelo Brigadeiro Sebastião Ribeiro, alguém que vai todos os dias ao Hospital, lugar onde o pessoal de saúde é de uma dedicação exemplar. Nova saltada à mocidade de João Pekoff, desta feita às suas práticas no andebol e até às suas lembranças da campanha presidencial de 1958 e às manifestações ao candidato Humberto Delgado. Paparratos e Pekoff encontram-se de facto num passeio à Ponta de Caió, andaram por lá até desoras, o que trouxe uma grande inquietação lá no aquartelamento do chão manjaco. Fala-se da Pax Romana, dos movimentos católicos universitários, da retirada de Madina do Boé, da Operação Mar Verde (tratada no livro como a Operação Verde Tinto), depois viaja-se até Paris, segue-se o tratamento de um ferido VIP, o capitão cubano Peralta, a guerra prossegue, o Paparratos continua a fazer das suas na tabanca, ao aproximar-se do sentinela que grita 'Alto!', ele continua a avançar e é fulminado por uma rajada. A família soube da notícia e ficou incrédula pois disseram-lhes que tinha falecido de um acidente em serviço, morte impensável para quem fazia parte das tropas especiais". (...)
O francês, historiógrafo da nossa guerra colonial, e que tem acompanhado a produção literária dos ex-combatentes portugueses, René Pélissier, escreveu o seguinte sobre autor e o livro, num artigo ("Combater, viajar, rezar") publicado na revista Análise Social, vol. XL (176), 2005, 717-730:
(...) "Não é preciso mais do que o verbo 'amar' para fazer um ser humano completo. Quase completo! Mas o amor encontrá-lo-emos em alguns dos títulos referidos mais abaixo. Mesmo nos livros de guerra, o amor — ou o seu contrário — surge; sobretudo quando os seus autores não a fizeram pessoalmente. O amor em O Paparratos ? Verdadeiramente não, mas uma certa nostalgia positiva dos anos de juventude de José Pardete Ferreira, isto é, neste caso, os dois anos (1969-1971) que passou como médico militar na Guiné. Inicialmente mobilizado numa companhia de comandos no território dos manjacos, depois afecto ao Hospital Militar de Bissau, ele evoca neste romance «histórico» factos reais, como (i) a evacuação de Madina do Boé (...), (ii) o ataque português contra Conakry, (iii) a captura de um capitão cubano próximo de Guileje e o seu tratamento pelos médicos portugueses em Bissau (...).
"Pelo mesmo editor [, Prefácio], muito dinâmico a nível da literatura de guerra, recomendamos as recordações apaixonantes de José Alberto Mesquita, também ele, actualmente, médico. Decididamente, os médicos constituem uma percentagem muito grande dos autores que escrevem sobre a guerra colonial". (...)
Pardete Ferreira (de quem não temos qualquer foto) diz, sobre si próprio, o seguinte, em termos autobiográficos:
Dados Pessoais constantes do seu blogue:
Ao nosso camarada J. Pardete Ferreira queremos dirigir formalmente o convite para se sentar, aqui, connosco no bentem da nossa Tabanca Grande, sob o mágico, frondoso, secular e fraterno poilão, onde cabe toda fauna do mundo, desde os morcegos aos irãs, desde os tugas aos fulas, desde os manjacos aos balantas, desde os inimigos de ontem aos amigos de hoje... Ele próprio já constatou que o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande.
Com um Alfa Bravo do Luís Graça
______________
Nota do editor:
Vd. último poste da série > 2 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8032: Os nossos médicos (25): Dois louvores militares atribuídos ao ex-Alf Mil Med Amaral Bernardo (CCS / BCAÇ 2930, e CCAÇ 6, 1970/72)
Meu caro camarada de armas [, Albino Silva:]
Obrigado por se ter lembrado de algumas coisas, mas não de todas:
1 - Ainda bem que confirma a real existência do Paparratos.
2 - Fica-lhe bem não querer nomear o graduado em questão. O que eu conto é a "morte do Paparratos" e não outro episódio passado antes da minha chegada ao aquartelamento que, como bem descreve, ficava ao pé do arame farpado.
3 - Está enganado: estive em Teixeira Pinto ao mesmo tempo que o meu colega e amigo Prof. Maymone Martins e fui enviado à pressa para o CAOP porque o Dr. Bessa deu baixa ao Hospital.
4 - Nunca fui Capitão, limitei-me a ser Alferes enquanto estive na Guiné e em T. Pinto não estive só 15 dias... esqueceu-se dos outros até aos seis meses!!!
5 - Obrigado pelas boas referências que fez de mim.
6 - Li o seu livro.
Desejo-lhe boa saúde e trabalho... nestes tempos de crise são coisas importantes a desejar aos amigos.
J. Pardete Ferreira
José Pardete Ferreira. Sim, sou o autor de "O Paparratos" de que tanto gostou. Agradeço-lhe a publicidade e o seu padrinho de casamento, o Emílio Rosa, está no Colonial e em Bissau. Estivemos pois muito próximos. O David Payne foi meu colega na Faculdade e creio que igualmente, durante um tempo no HM241 [, vd. foto acima, do nosso arquivo].
Afinal o mundo é pequeno. Um Abraço do Companheiro jpardete@hotmail.com + 1 blog no Sapo.
C. Comentário de L.G.:
José Pardete Ferreira foi, pois, nosso camaradana na Guiné, Alferes Miliciano Médico (Teixeira Pinto e Bissau, 1969/71)... Nasceu em 1941, estudou na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa (Turma de 1966), trabalhou no Hospital São Bernardo, em Setúbal (onde foi Director Clínico). Interessou-se também pela prática do desporto e pela medicina desportiva. Vive em Setúbal. Tem uma conta no Facebook. E um blogue no Sapo.
Sobre ele, como escritor, e sobre o seu Paparratos diz o nosso camarada Beja Santos (no poste P:
Sobre ele, como escritor, e sobre o seu Paparratos diz o nosso camarada Beja Santos (no poste P:
(...) "É assim que José Pardete Ferreira apresenta as suas divertidas memórias, que incluem, talvez com uma intensidade única o meio universitário do princípio dos anos 60, sobre a sua passagem por terras da Guiné onde serviu como alferes miliciano médico e, autobiograficamente falando, aparecerá como João Pekoff, um médico que forjou Gabriel, o Paparratos (“O Paparratos, Novas Crónicas da Guiné, 1969 – 1971”, por José Pardete Ferreira, Prefácio, 2004) " (...).
Também sobre o Paparratos, escrevue René Pélissier, na Análise Social, vol. XL (176), 2005, 717-730 ("Combater, viajar, rezar"):
Também sobre o Paparratos, escrevue René Pélissier, na Análise Social, vol. XL (176), 2005, 717-730 ("Combater, viajar, rezar"):
(...) "Apresentado o bom soldado português Gabriel ou o Paparratos], o autor divaga pelos espaços míticos dos estudantes que frequentavam a Cidade Universitária no início dos anos 60: o Café Roma, onde hoje é um Mc Donald’s, junto ao Cinema Londres, a praxe do luto académico, o Café Colonial, o CDUL, o Monte Carlo, o Monumental, o D. Rodrigo, a Pastelaria Biarritz bem como as respectivas faunas, sonhos, devaneios. Tudo entremeado pela vida mais ou menos bélica no chão manjaco onde vai aparecer o alferes miliciano médico Pekoff. Fica-se com a ilusão que Pekoff se cruza com o Paparratos, mas seguramente, já que são figuras mais ou menos falsas e mais ou menos reais, seguem caminhos paralelos. E temos um flash dessa tão celebrada e jamais esquecida 105ª Companhia de Comandos, comandada com cada vez maior frequência pelo alferes Jorge Esteves, em virtude das visitas, quase permanentes a Bissau, do capitão Dias Anjos e que se prolongavam no tempo. A sua mulher encontrava-se de férias na capital providencial, os dois pombinhos podiam ser encontrados no Quartel General.
"O Posto de Comando do Aquartelamento do Chão Manjaco era conhecido como A Casa da Mariquinhas com as suas janelas com tabuinhas. Por dever de causa, o autor apresenta-se pondo-se ao espelho através de João Pekoff, vamos aos seus locais de estudo, alguns dos cafés atrás referidos, subimos até à Cantina Universitária, às Pró-Associações de Medicina e de Letras, às Associações de Direito e de Ciências, entramos no Estádio Universitário. Ficamos a saber que além dos estudos de medicina, pratica desporto e andou no associativismo religioso. Pelo que se dirá adiante, a sua guerra não foi só feita de tiros e morteiradas mas também de hospital e em Bissau, remendando feridos graves e ligeiros, criando a ideia, junto dos autóctones, de que era feiticeiro. Um bom pretexto para, sempre a propósito e a despropósito, voltar aos cafés de Lisboa e saudar os seus amigos inesquecíveis. (...)
"Como quem não quer a coisa, dado o retrato do CDUL e o seu desempenho na Academia Lisboeta, vamos numa missão helitransportada à Caboiana, que meteu bombardeamentos, reconhecimentos e até mosquitos. No Cacheu, para que conste, as Companhias de açorianos e madeirenses não só não se misturavam como tinham hortas separadas. E depois o alferes Pekoff vai até à Ilha de Jeta, fazer a psico, tratar das populações, e o alferes deliciou-se com esta floresta quase tropical, pensou mesmo que estava num Haiti a 4 horas de voo da Europa. Spínola é conhecido pelo Brigadeiro Sebastião Ribeiro, alguém que vai todos os dias ao Hospital, lugar onde o pessoal de saúde é de uma dedicação exemplar. Nova saltada à mocidade de João Pekoff, desta feita às suas práticas no andebol e até às suas lembranças da campanha presidencial de 1958 e às manifestações ao candidato Humberto Delgado. Paparratos e Pekoff encontram-se de facto num passeio à Ponta de Caió, andaram por lá até desoras, o que trouxe uma grande inquietação lá no aquartelamento do chão manjaco. Fala-se da Pax Romana, dos movimentos católicos universitários, da retirada de Madina do Boé, da Operação Mar Verde (tratada no livro como a Operação Verde Tinto), depois viaja-se até Paris, segue-se o tratamento de um ferido VIP, o capitão cubano Peralta, a guerra prossegue, o Paparratos continua a fazer das suas na tabanca, ao aproximar-se do sentinela que grita 'Alto!', ele continua a avançar e é fulminado por uma rajada. A família soube da notícia e ficou incrédula pois disseram-lhes que tinha falecido de um acidente em serviço, morte impensável para quem fazia parte das tropas especiais". (...)
O francês, historiógrafo da nossa guerra colonial, e que tem acompanhado a produção literária dos ex-combatentes portugueses, René Pélissier, escreveu o seguinte sobre autor e o livro, num artigo ("Combater, viajar, rezar") publicado na revista Análise Social, vol. XL (176), 2005, 717-730:
(...) "Não é preciso mais do que o verbo 'amar' para fazer um ser humano completo. Quase completo! Mas o amor encontrá-lo-emos em alguns dos títulos referidos mais abaixo. Mesmo nos livros de guerra, o amor — ou o seu contrário — surge; sobretudo quando os seus autores não a fizeram pessoalmente. O amor em O Paparratos ? Verdadeiramente não, mas uma certa nostalgia positiva dos anos de juventude de José Pardete Ferreira, isto é, neste caso, os dois anos (1969-1971) que passou como médico militar na Guiné. Inicialmente mobilizado numa companhia de comandos no território dos manjacos, depois afecto ao Hospital Militar de Bissau, ele evoca neste romance «histórico» factos reais, como (i) a evacuação de Madina do Boé (...), (ii) o ataque português contra Conakry, (iii) a captura de um capitão cubano próximo de Guileje e o seu tratamento pelos médicos portugueses em Bissau (...).
"Pelo mesmo editor [, Prefácio], muito dinâmico a nível da literatura de guerra, recomendamos as recordações apaixonantes de José Alberto Mesquita, também ele, actualmente, médico. Decididamente, os médicos constituem uma percentagem muito grande dos autores que escrevem sobre a guerra colonial". (...)
Pardete Ferreira (de quem não temos qualquer foto) diz, sobre si próprio, o seguinte, em termos autobiográficos:
"(...) Nasci durante a 2ª Guerra e ainda me lembro das senhas de racionamento, aqueles
selinhos, castanho claro ou roxo esbatido, tavez com um pouco de verde,
igualmente! Penso no 'black out', porque a aviação alemã vinha bombardear Lisboa, com o meu pai a orientar as operações, com as tiras de papel a cruzarem
os vidros, as grandes portas interiores de madeira fechadas, luzes apagadas e a
permissão de uma ou outra vela em pontos estratégicos que não podessem ser
vistos do exterior. Fiz igualmente a minha Guerra, na Guiné, hoje Guiné-Bissau,
com um quarto de mato e três quartos em Bissau, nos hospitais, civil e
militar" (...).
Telefone> 265522530; telemóvel> 914019160
Data Nascimento> 15-02-1941
Ao nosso camarada J. Pardete Ferreira queremos dirigir formalmente o convite para se sentar, aqui, connosco no bentem da nossa Tabanca Grande, sob o mágico, frondoso, secular e fraterno poilão, onde cabe toda fauna do mundo, desde os morcegos aos irãs, desde os tugas aos fulas, desde os manjacos aos balantas, desde os inimigos de ontem aos amigos de hoje... Ele próprio já constatou que o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande.
Com um Alfa Bravo do Luís Graça
______________
Nota do editor:
Vd. último poste da série > 2 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8032: Os nossos médicos (25): Dois louvores militares atribuídos ao ex-Alf Mil Med Amaral Bernardo (CCS / BCAÇ 2930, e CCAÇ 6, 1970/72)
Guiné 63/74 - P8312: Convívios (342): Encontro do pessoal da CCAÇ 2679 e Pel Caç Nat 65, dia 29 de Maio de 2011 no Fundão (José Manuel M. Dinis)
1. Mensagem de José Manuel Matos Dinis (ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71), com data de hoje, 23 de Maio de 2011:
Olá Carlos, bom dia.
Solicito a divulgação de um Encontro, já no próximo domingo, ali para as faldas da Estrêla, no Fundão, onde os heróicos sobreviventes da CCaç 2679 e do Pel Caç Nat 65, que andaram a malhar no leste da Guiné, nas terras fulas que vão do infinito Corubal em Buruntuma (onde mais parecia um regato), e subiam os marcos que fazem o ângulo recto da passagem da fronteira da Guiné-Conakry para a do Senegal, de onde se passava a calcorrear para oeste até um marco número sessenta e tal, algures entre Bajocunda e Pirada, donde se flectia para sul, novamente em direccção ao Corubal, fazendo uma barriguinha para a Z.A. de Nova Lamego. Foi nas terras atrás identificadas, quiçá a mais larga área de intervenção do TO da Guiné, que os ainda jovens veteranos ficaram a conhecer-se e vão providenciar um encontro para matança de fomes estomacais e sentimentais.
Um grande abraço
JD
No dia 13 de Maio de 2011 17:16, João Patricio <joao.patricio@finantia.com> escreveu:
É com imenso prazer que faço parte do grupo de trabalho deste grande evento conjuntamente com o Aquino e o Dinis. Agradeço o empenho de todos na abrangência do maior numero de presenças, pois já confirmaram alguns dos companheiros, que até á presente data, desconheciam estes nossos encontros.
17.00H – Passeio pelos pomares de Cerejeiras da encosta da Gardunha
18.00H – Regresso ao Hotel Alambique e encerramento do encontro
Diligenciei esforços para que todos aqueles que pretendam pernoitar de 28/29 ou 29/30 de Maio fiquem bem acomodados e com um preço acessível.
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 18 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8296: Convívios (335): Almoço/Convívio do BCAÇ 3883, dia 28 de Maio de 2011, em Viseu (António Rodrigues)
Olá Carlos, bom dia.
Solicito a divulgação de um Encontro, já no próximo domingo, ali para as faldas da Estrêla, no Fundão, onde os heróicos sobreviventes da CCaç 2679 e do Pel Caç Nat 65, que andaram a malhar no leste da Guiné, nas terras fulas que vão do infinito Corubal em Buruntuma (onde mais parecia um regato), e subiam os marcos que fazem o ângulo recto da passagem da fronteira da Guiné-Conakry para a do Senegal, de onde se passava a calcorrear para oeste até um marco número sessenta e tal, algures entre Bajocunda e Pirada, donde se flectia para sul, novamente em direccção ao Corubal, fazendo uma barriguinha para a Z.A. de Nova Lamego. Foi nas terras atrás identificadas, quiçá a mais larga área de intervenção do TO da Guiné, que os ainda jovens veteranos ficaram a conhecer-se e vão providenciar um encontro para matança de fomes estomacais e sentimentais.
Um grande abraço
JD
No dia 13 de Maio de 2011 17:16, João Patricio <joao.patricio@finantia.com> escreveu:
É com imenso prazer que faço parte do grupo de trabalho deste grande evento conjuntamente com o Aquino e o Dinis. Agradeço o empenho de todos na abrangência do maior numero de presenças, pois já confirmaram alguns dos companheiros, que até á presente data, desconheciam estes nossos encontros.
As metas que nos propusemos e que tomamos como objectivos estão a ser alcançadas e até ultrapassadas.
Em ficheiro encontram-se o nome todas as confirmações até à presente data.
Programa do encontro dia 29 de Maio de 2011 dos Bravos Soldados do Leste - 40 Anos de Peluda - CCac 2679 e Pel Caç Nat 65 (Leões Negros)
Em ficheiro encontram-se o nome todas as confirmações até à presente data.
Programa do encontro dia 29 de Maio de 2011 dos Bravos Soldados do Leste - 40 Anos de Peluda - CCac 2679 e Pel Caç Nat 65 (Leões Negros)
10.30H – Concentração no átrio do Hotel Alambique no Fundão
11.15H – Missa na Igreja Matriz de Aldeia de Joanes em Homenagem aos antigos companheiros já falecidos
13.00H – Almoço e entrega de diplomas de presença no Hotel Alambique
15.00H – Passagem de um filme “A Guiné de Hoje” apresentado pelo meu amigo Pereira Nina (que esteve na Guiné nos anos 1972/1974 e que no passado mês de Março voltou à Guiné por um período de 30 dias)
17.00H – Passeio pelos pomares de Cerejeiras da encosta da Gardunha
18.00H – Regresso ao Hotel Alambique e encerramento do encontro
Diligenciei esforços para que todos aqueles que pretendam pernoitar de 28/29 ou 29/30 de Maio fiquem bem acomodados e com um preço acessível.
Hotel Alambique (275 774 145) ou www.hotealambique.com
-quartos individual normal – 29.50€
-quarto casal normal – 47.50€
quarto individual superior – 31.50€
quarto individual superior – 31.50€
-quarto casal superior – 62.50€
Confirmações
Aguardo noticias Vossas
____________Nota de CV:
Vd. último poste da série de 18 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8296: Convívios (335): Almoço/Convívio do BCAÇ 3883, dia 28 de Maio de 2011, em Viseu (António Rodrigues)
domingo, 22 de maio de 2011
Guiné 63/74 - P8311: Os nossos camaradas guineenses (32): José Carlos Suleimane Baldé... Pensando na CCAÇ 12, em Coimbra, em Amedalai, em Bambadinca... Andando pelo Planaltod as Cesaredas, à procura de amonites e orquídeas-abelhas... Celebrando a biodiversidade, a etnodiversidade, a camarigagem, os nossos encontros e desencontros... (Luís Graça)
Lourinhã > Planalto das Cesaredas > 22 de Maio de 2011 > Dia Mundial da Biodiversidade
1. Passeio pedestre pelo Planalto das Cesaredas (uma região calcária, com cerca de 160 milhões de anos, do Jurássico0 Superior, pertencente aos concelhos da Lourinhã, Peniche, Óbidos e Bombarral). Belíssimo local para se abordar o tema da biodiversidade do nosso planeta, com o Oceânico Atlântico ao fundo. E para se celebrar o Dia Mundial da Biodiversidade (sem a qual não haverá futuro para todos nós, portugueses, europeus, guineenses, africanos)...
Hoje aprendi coisas que não sabia sobre a fauna marítima fossilizada (amonites, por ex.)... E sobre as as orquídeas-abelha, uma espantosa espécie que tem, em relação, ao Homo Sapiens Sapiens, algumas semelhanças, a sua incrível capacidade de adaptação às mudanças do ambiente. Como nós, está espalhada por todos os continentes, excepto a Antártida...
Lourinhã > Planalto das Cesaredas > 22 de Maio de 2011 > Dia Mundial da Biodiversidade > A orquídea-abelha. Nome científicO: Ophrys insetifera. Além de ser parecida com um insecto, emite o mesmo odor das abelhas quando estão prontas para acasalar. A sua estratégia evolutiva levou-a a usar este estratagema para atrair os zangões que visitam as flores e assim espalhar o seu pólen, contribuindo portanto para a reprodução da planta:
" A polinização ocorre por pseudo-cópula, sendo que o zangão (Hymenoptera) confunde-a com uma fêmea e pousa roçando seu dorso nas polínias onde o pólen se adere ao inseto e este passa à outras flores fecundando o estigma contido em uma invaginação da coluna. A atração dos zangões se dá por meio visual como também por meio bioquímico, sendo que este gênero secreta a mesma substância das fêmeas de Hymenoperos. A fecundação é facilitada devido a emergência das ninfas dos machos ocorrerem antes das fêmeas, os machos após um tempo aprendem a diferença e passam a não mais polinizar as flores, portanto são favorecidas aquelas que florescem cedo. O tamanho do labelo é um modo de seleção do polinizador" (Fonte: Irmandade Natureza Divina).
2. Obrigado aos meus amigos do Museu da Lourinhã, que organizaram o passeio e nos guiaram (uma jovem equipa multidisciplinar, com 1 paleontógo, 1 bióloga, 1 arquitecta paisagista e militante ambientalista, 1 fotógrafa da natureza...).
Espantoso: ao longo do passeio, falámos também de Angola (onde o meu amigo, paleontólogo, Octávio Mateus descobriu recentemente o primeiro dinossauro...) bem como da Guiné e do diversidade cultural e dos fulas e do meu antigo camarada de armas José Carlos Suleimane Baldé, 61 anos, que fui abraçar a Coimbra, ontem, dia 21...
3. O Zé Carlos vive em Amedalai, região de Bafatá, Guiné-Bissau, perto do Xime e do Rio Geba, sem luz, sem internet, sem cuidados de saúde, sem água potável, sem saneamento básico, sem televisão, sem livros, sem os confortos da nossa sociedade, com duas mulheres (uma delas herdada do irmão que morreu, de acordo com os usos e costumes do seu grupo étnico, o "levirato") e uma dúzia de filhos... E em vésperas de casar uma das filhas com o filho do seu compadre e ex-camarada de armas Sori Baldé...
Pela surpresa (agradável) que eu tive, é que os tempos são outros, memso no interior da Guiné-Bissau:
3. O Zé Carlos vive em Amedalai, região de Bafatá, Guiné-Bissau, perto do Xime e do Rio Geba, sem luz, sem internet, sem cuidados de saúde, sem água potável, sem saneamento básico, sem televisão, sem livros, sem os confortos da nossa sociedade, com duas mulheres (uma delas herdada do irmão que morreu, de acordo com os usos e costumes do seu grupo étnico, o "levirato") e uma dúzia de filhos... E em vésperas de casar uma das filhas com o filho do seu compadre e ex-camarada de armas Sori Baldé...
Pela surpresa (agradável) que eu tive, é que os tempos são outros, memso no interior da Guiné-Bissau:
(i) já se casa por amor ("sentimento", diz o Zé Carlos), entre as elites e os mais jovens, sobretudo escolarizados;
e (ii) já não se submete as bajudinhas ao cruel fanado tradicional (com Mutilação Genital) (pelo menos o Zé Carlos diz que não fará isso com a sua Odetezinha, de 6 anos)...
4. A escassos quilómetros de distância, camaradas meus, de armas, que passaram por Bambadinca, Guiné, nos anos 68, 69, 70, 71 e 72, reuniram-se, ontem, em Coimbra, em locais diferentes, para comemorar o facto de estarem vivos e de terem partilhado, na sua juventude, a sua mesma situação-limite... Uns, na Casa do casal Sobral, em Santo António dos Olivais, Coimbra; outros na Quinta da Malhadinha, Cabouco, freguesia de Ceira...
4. A escassos quilómetros de distância, camaradas meus, de armas, que passaram por Bambadinca, Guiné, nos anos 68, 69, 70, 71 e 72, reuniram-se, ontem, em Coimbra, em locais diferentes, para comemorar o facto de estarem vivos e de terem partilhado, na sua juventude, a sua mesma situação-limite... Uns, na Casa do casal Sobral, em Santo António dos Olivais, Coimbra; outros na Quinta da Malhadinha, Cabouco, freguesia de Ceira...
O Zé Carlos, um fula da Guiné-Bissau, um bom muçulmano com alma de português, foi a estrela da festa (num lado e noutro).... Está felicíssimo com a oportunidade que o Jaime Pereira e a a esposa, Odete Cardoso, lhe proporcionaram, de conhecer Portugal e de reencontrar, quarenta anos depois, alguns dos seus camaradas que conviveram com ele em Bambadinca, gente da CCAÇ 12, da CCS/BCAÇ 2852, CCS/BART 2917, Pel Caç Nat 52, Pel Caç Nat 63, Pel Rec Daimler do Jaime Machado, Pel Rec Daimler do J.L. Vacas de Carvalho, e outras subunidades adidas...
Coimbra > Convívio da CCAÇ 12 (2ª geração, 1971/72) > 21 de Maio de 2011 > Casa do casal Sobral (José e Ermelinda, ambos médicos, ele, estomatologista, ela obstetra, figuras conhecidas e estimadas no meio coimbrão)... > Na foto, a anfitriã, a Dra. Ermelinda com o Zé Carlos, fotografado junto à mesa das sobremesas, uma amostra da nossa grande, riquíssima, diversidade gastronómica... Destaque, nas frutas, para as cerejas de Resende (cada conviva trouxe a sua sobremesa).
Coimbra > Convívio da CCAÇ 12 (2ª geração, 1971/72) > 21 de Maio de 2011 > Casa do casal Sobral, ambos médicos, ele, estomatologista, ela obstetra e ginecologista... > Da esquerda para a direita, a Ermelinda, o Rui (enfermeiro, amigo e colega da Ermelinda no Hospitalar Universitário de Coimbra, se não me engano), o Sobral e o Ferreira (eles dois, alferes milicianos da CCAÇ 12, Bambadinca, 1971/72, vivendo o Ferrreira hoje em Felgueiras, sendo professor do ensino básico aposentado)...
A chanfana, em Coimbra, não podia faltar e não faltou: estava uma delícia... Pelo mkenos na casa do casal Sobral. Obrigado, cara amiga Ermelinda, obrigado, caro camarigo Sobral, grandes anfitriões!
Coimbra > 17º Convívio do Pessoal de Bambadinca (1968/71) > Um momento de grande emoção, proporcionado pelo Jaime Pereira, ex-Alf Mil da CCAÇ 12 (Bambadinca, 1971/72): o reencontro do Zé Carlos com o seu primeiro comandante de secção, a 2ª do 4º Gr Comb, CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71)...
Coimbra > Convívio da CCAÇ 12 (2ª geração, 1971/72) > 21 de Maio de 2011 > Casa do casal Sobral (José e Ermelinda, ambos médicos, ele, estomatologista, ela obstetra, figuras conhecidas e estimadas no meio coimbrão)... > Na foto, a anfitriã, a Dra. Ermelinda com o Zé Carlos, fotografado junto à mesa das sobremesas, uma amostra da nossa grande, riquíssima, diversidade gastronómica... Destaque, nas frutas, para as cerejas de Resende (cada conviva trouxe a sua sobremesa).
Coimbra > Convívio da CCAÇ 12 (2ª geração, 1971/72) > 21 de Maio de 2011 > Casa do casal Sobral, ambos médicos, ele, estomatologista, ela obstetra e ginecologista... > Da esquerda para a direita, a Ermelinda, o Rui (enfermeiro, amigo e colega da Ermelinda no Hospitalar Universitário de Coimbra, se não me engano), o Sobral e o Ferreira (eles dois, alferes milicianos da CCAÇ 12, Bambadinca, 1971/72, vivendo o Ferrreira hoje em Felgueiras, sendo professor do ensino básico aposentado)...
A chanfana, em Coimbra, não podia faltar e não faltou: estava uma delícia... Pelo mkenos na casa do casal Sobral. Obrigado, cara amiga Ermelinda, obrigado, caro camarigo Sobral, grandes anfitriões!
Coimbra > 17º Convívio do Pessoal de Bambadinca (1968/71) > Um momento de grande emoção, proporcionado pelo Jaime Pereira, ex-Alf Mil da CCAÇ 12 (Bambadinca, 1971/72): o reencontro do Zé Carlos com o seu primeiro comandante de secção, a 2ª do 4º Gr Comb, CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71)...
Na foto, em primeiro plano, o nosso camarigo António Marques e o Zé Carlos... Em segundo plano, o Jaime e um camarada da CCS/BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70) cujo nome me escapa...
O Zé Carlos manifestou o desejo de poder ir a Fátima, e esse sonho vai-se realizar graças à generosidade e disponibilidade do António Marques. Também está cá para tratar da sua "situação militar"... Como nos escvreveu a Dra. Odete Cardoso:
O Zé Carlos manifestou o desejo de poder ir a Fátima, e esse sonho vai-se realizar graças à generosidade e disponibilidade do António Marques. Também está cá para tratar da sua "situação militar"... Como nos escvreveu a Dra. Odete Cardoso:
"Ele traz os documentos da sua vida militar na Guiné e pretende saber a que serviço público português se há-de dirigir para indagar se esse tempo lhe dá direito a alguma pensão. Tem alguma informação que lhe possa dar a esse respeito?"...
Conforme tive ocasião de dizer pessoalmente à nossa amiga Odete, madrinha da filha mais nova do Zé Carlos, talvez o nosso António José Pereira da Costa, coronel na reserva em efectividade de funções, nos possa dar alguma pista ou até uma ajudinha...Mas temos mais gente que está por dentro deste assunto como o Carlos Silva (que é advogado, profundo conhecedor da situação dos nossos camaradas guineenses, além de dirigente da ONGD Ajuda Amiga), o José Martins (que tem bons contactos com a Liga dos Combatentes), o Inácio Silva (que lidera uma petição pública à Assembeia da República), etc.
O José Carlos Suleimane Baldé pertenceu á CCAÇ 2590 (mais tarde CCAÇ 12) e à CCAÇ 12, desde Junho de 1969 até Agosto de 1974. Já no final da guerra, foi dispensado da actividade operacional para dar aulas como monitor escolar em Dembataco. Foi, no meu tempo (1969/71), o primeiro soldado arvorado, do recrutamento local, a ser promovido (em 15 de Setembro de 1969) ao posto de 1º Cabo At Inf, por ter completado com sucesso o exame da 4ª classe.
Tive ocasião de ouvir da boca derle alguns momentos extremamente dramáticos por que passou, no início de 1975, quando os "balantas e mandingas" do PAIGC transformaram Bambadinca numa permanente Tribunal Popular e numa "matadouro humano"... Esteve sentado no banco dos réus, valendo-lhe a influência do seu pai e o peso dos "homens grandes" do chão fula, bem como a opinião generalizada de que o Zé Carlos eram um homem bom, e um antigo militar de conduta correcta...
Conforme tive ocasião de dizer pessoalmente à nossa amiga Odete, madrinha da filha mais nova do Zé Carlos, talvez o nosso António José Pereira da Costa, coronel na reserva em efectividade de funções, nos possa dar alguma pista ou até uma ajudinha...Mas temos mais gente que está por dentro deste assunto como o Carlos Silva (que é advogado, profundo conhecedor da situação dos nossos camaradas guineenses, além de dirigente da ONGD Ajuda Amiga), o José Martins (que tem bons contactos com a Liga dos Combatentes), o Inácio Silva (que lidera uma petição pública à Assembeia da República), etc.
O José Carlos Suleimane Baldé pertenceu á CCAÇ 2590 (mais tarde CCAÇ 12) e à CCAÇ 12, desde Junho de 1969 até Agosto de 1974. Já no final da guerra, foi dispensado da actividade operacional para dar aulas como monitor escolar em Dembataco. Foi, no meu tempo (1969/71), o primeiro soldado arvorado, do recrutamento local, a ser promovido (em 15 de Setembro de 1969) ao posto de 1º Cabo At Inf, por ter completado com sucesso o exame da 4ª classe.
Tive ocasião de ouvir da boca derle alguns momentos extremamente dramáticos por que passou, no início de 1975, quando os "balantas e mandingas" do PAIGC transformaram Bambadinca numa permanente Tribunal Popular e numa "matadouro humano"... Esteve sentado no banco dos réus, valendo-lhe a influência do seu pai e o peso dos "homens grandes" do chão fula, bem como a opinião generalizada de que o Zé Carlos eram um homem bom, e um antigo militar de conduta correcta...
Mesmo assim, foi ob5rigado a assitir à execução pública de um cipaio (polícia administrativa) em Bambadinca, à execução de "sete irmãos" em Bissorã... Descreveu as torturas horrorosas a que foi submetido o nosso "gigante", o Abibo Jau (1º Gr Comb da CCAÇ 12, e que depois transitou para a CCAÇ 21, do Jamanca e do A,madu Djaló) antes de ser executado...
Andou também fugido pelo Senegal e tentou ir de avião para Angola, acabando por ser recambiado para a sua terra... O seu sonho é que dois dos seus filhos consigam vir viver e trabalhar em Portugal... Hoje é agricultor em Amedalai, trabalhando no duro com as suas mulheres e filhos para sobreviver...
Coimbra > 17º Convívio do Pessoal de Bambadinca (1968/71) > Jorge Cabral (ex-Cmdt do Pel Caç Nat 63, Fá e Missirá, 1969/71) com dois camaradas da CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71), o Zé Carlos e o Humberto (que veio ao convívio, pela primeira vez sozinho, sem a sua saudosa Teresa, 1947-2011).
Coimbra > 17º Convívio do Pessoal de Bambadinca (1968/71) > Jorge Cabral (ex-Cmdt do Pel Caç Nat 63, Fá e Missirá, 1969/71) com dois camaradas da CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71), o Zé Carlos e o Humberto (que veio ao convívio, pela primeira vez sozinho, sem a sua saudosa Teresa, 1947-2011).
Coimbra > 17º Convívio do Pessoal de Bambadinca (1968/71) > Dois alferes da CCAÇ 12 reencontram-se 40 anos depois: Abel Rodrigues (3º Gr Comb, 1969/71) e Jaime Pereira (4º Gr Comb, 1971/72), aqui de costas.
Fotos: © Luís Graça (2011). Todos os direitos reservados
______________
Nota do editor:
Subscrever:
Mensagens (Atom)