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segunda-feira, 6 de janeiro de 2025

Guiné 61/74 - P26351: Tabanca dos Emiratos (14): Visita nas férias de Natal ao antigo Ceilão, a Taprobana de "Os Lusíadas", hoje Sri Lanka (Jorge Araújo) - Parte II



Foto nº 14 > Ceilão > Kandy > 20 de dezembro de 2024 >"Vários macacos subiram à varanda do meu apartamento no 3º. andar, no Senani Hotel, em Kandy, a capital cultural e espiritual do país.


Nota do editor LG:

 Trata.se de um exemplar da espécie Macaca sinica é um macaco do Velho Mundo endémico do Sri Lanka (só existe nesta ilha). Há 3 subespécies. (É conhecido aqui pela designação "rilewa" ou "rilawa"; em inglês, "toque macaque").

Vive em bandos que podem ir a mais de duas dezenas de indivíduos. Há três subespécies. É um macaco de porte médio, embora seja o mais pequeno do género Macaca. Mede entre 35 e 62 cm, de comprimento, sem a cauda (esta mede entre 40 e 60 cm). Os machos pesam entre 4,1 e 8,4 kg, quase o dobro das fêmeas.

É considerrada uma espécie em perigo, devido à destruição do seu habitat, à caça e ao tráfico (como "pet"). Em menos de 40 anos de independência, entre 1956 e 1993, metade da floresta da ilha foi destruída (por causas das plantações e da recolha de lenha). Os agricultores consideram este primatas como uma praga. O governo chegou a propor a venda à China de 100 mil macacos,  um negócio que foi abortado pelo protesto dos conservacionistas... Foi também uma vítima inocente da guerra civil de 1983/2009 entre o exército do Sri Lanka e os Tigres de Tamil.




Foto nº 15 > Ceilão > Kandy > 20 de dezembro de 2024 > "Tuque-tuque, o transporte mais popular no país"



Foto nº 16 > Ceilão > Kandy > 22 de dezembro de 2024 > "Um elefante, domesticado, nas festas budistas. É um animal sagrado e protegido por lei (mas mal tratado em cativeiro, segundo acusações frequentes).



Foto nº 17 > Ceilão > Kandy > 20 de dezembro de 2024 > "Fachada do Hotel Senani rodeado de árvores de grande porte e comunidade de macacos "



Foto nº 18 > Ceilão > Kandy > 20 de dezembro de 2024 > "Mais um macaco a fazer equilíbrio nos fios eléctricos"



Foto nº 19 > Ceilão > Kandy > 20 de dezembro de 2024 > "Vista do meu apartamento"



Foto nº 20 > Ceilão > Kandy > 20 de dezembro de 2024 > "Instalações da fábrica de chá Damro em Kandy" (1). ("5 mil hectatres de plantações de chá, é obra"... vd. o sítio da DamroTea e a história do chá, um produto colonial, no Sri Lanka)


Foto nº 21 > Ceilão > Kandy > 20 de dezembro de 2024 > "Instalações da fábrica de chá Damro em Kandy" (2)



Foto nº 22 > Ceilão > Kandy > 20 de dezembro de 2024 > "Espaço comercial da empresa de chá:  três funcionárias e a Maria João".



Foto nº 23 > Ceilão > Ella > Ella Gap Hotel > 21 de dezembro de 2024 > Ella fica perto de Badulla, a cerca de 270 km de comboio, da capital  Colombo.



Foto nº 24 e 24A > Ceilão > Ella > Ella Gap Hotel > 21 de dezembro de 2024 > Árvore de Natal no Hotel... A diferença de fuso horário entre Colombo e Lisboa é de 5 horas e meia...


Foto nº 25 > Ceilão > Ella > Ella Gap Hote > 21 de dezembro de 2024 > "Eu à porta do Hotel de Ella"


Fotos (e legendas): © Jorge Araújo (2024). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].



Mapa do Sri Lanka: principais cidades do país

Fonte: USA > CIA > The World Factbook (com  a devida vénia...)





Jorge Araújo, ex-fur mil op esp / ranger, CART 3494 / BART 3873 (Xime e Mansambo, 1972/1974); nosso coeditor, a viver há uns anos entre Almada e Abu Dhabi, Emiratos Árabes Unidos. É um dos nossos coeditores. Como autor, tem mais de 335 referências no nosso blogue. Tem várias séries: "Tabanca dos Emiratos", "Memórias cruzadas...", "(D)o outro lado combate"...





Banda desenhada infantil "Portuguese in Sri Lanka: part two: their exploits" (em inglês). Texto. Hashana Bandara; ilustração: Saman Kalubowila. (Sumitha Publishers. s/d., s/l. 24 pp.) Fonte: Poth Pancha, Panadura, Sri Lanka: uma livraria "on line" para crianças com menos de 12 anos (Imagem reproduzida com a devida vénia...)

Nota de JA/LG: 

Na primeira imagem acima pode ler-se em inglês: "Os Portugueses que chegaram ao Sri Lanka acidentalmente, em 1505, empenharam-se em estabelecer o seu poder na região costeira norte da ilha, até por volta de 1580" (... o que não é exato: a presença portuguesa manteve-se até meados do séc. XVII, Colombo cairia nas mãos dos holandeses apenas em 1656, depois de uma heróica resistência, tendo sobrevivido apenas menos de uma centena de defensores...Os holandeses por sua vez serão substituídos pelos ingleses em finais do século XVIII.


1. Continuação da publicação de uma fotorreportagem sobre o antigo Ceilão, hoje Sri Lanka (independente desde 1948, do domínio britânico), feita durante as últimas férias de Natal pelos nossos amigos Jorge Araújo e Maria João (que vivem em Abu Dhabi, EAU).(*)


(...) 21 de dezembro de 2024.

Caro Luís,  bom dia, com uma diferença horária de 5 horas e meia. Ontem tive de suspender o envio de fotos devido à quebra de rede na Net e face ao adiantado da hora fui-me deitar.

Considerando que já tens imagens para mais de um poste, apenas anexo mais umas duas ou três da cidade de Ella. OK. Abraço, Jorge (e Maria João).

PS - A festa budista a que se refere a foto nº 16 aconteceu no domingo em Kandy. (Os budistas representam cerca de 3/4 da população.)

Iremos a seguir para a costa sul.  Bom fim de semana Só estou contatável através deste canal. Obrigado.

PS - Faltam ainda as Partes III (a caminho do Sul do Sri Lanka)  e IV (visita à cidade de Galle ou Taprobana, e arredores, local de acostagem do capitão-mor Lourenço de Almeida).

(Revisão / fixação de texto, título, edição das fotos, negritos e itálicos: LG)

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Guiné 61/74 - P26350: Parabéns a você (2342): Paulo Santiago, ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 53 (Saltinho, 1970/72)

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Nota do editor

Último post da série de 3 de janeiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26339: Parabéns a você (2341): António Ramalho, ex-Fur Mil Cav da CCAV 2639 (Binar, Bula e Capunga, 1969/71)

sábado, 4 de janeiro de 2025

Guiné 61/74 - P26349: Tabanca dos Emiratos (13): Visita nas férias de Natal ao antigo Ceilão, a Taprobana de "Os Lusíadas", hoje Sri Lanka (Jorge Araújo) - Parte I

 

Banda desenhada infantil "Portuguese in Sri Lanka: part two: their exploits" (em inglês). Texto. Hashana Bandara; ilustração: Saman Kalubowila. (Sumitha Publishers. s/d., s/l. 24 pp.)  Fonte: Poth Pancha, Panadura, Sri Lanla: uma livraria "on line" para crianças com menos de 12 anos  (Imagem reproduzida com a devida vénia...)

A primeira estrofe de "Os Lusíadas" do Luís Vaz de Camões, cujos 500 anos do seu nascimento estamos a comemorar, começa justamente por fazer uma referència ao antigo Ceilãpo, a Taprobana, dos gregos e dos romanpos:  "As armas e os barões assinalados / Que da ocidental praia Lusitana / Por mares nunca de antes navegados / Passaram ainda além da Taprobana / Em perigos e guerras esforçados / Mais do que prometia a força humana / E entre gente remota edificaram / Novo Reino, que tanto sublimaram". (JA/LG) 


Foto nº 1 > Ceilão > 20 de dezembro de 2024 > Aeroporto de Colombo, a capital  (uma cidade fundada pelos portugueses, no séc. XVI). O atual Sri Lanka tornou-se indepente, pacificamente, em 1948: estava desde o séc. XVIII sob o domínio da coroa britànica.



Foto nº 2 > Ceilão > 20 de dezembro de 2024 > Sigiriya, na região Norte



Foto nº 3  > Ceilão > 20 de dezembro de 2024 >  Jipe das picadas na região de  Sirigiya

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Foto nº 4 > Ceilão > 20 de dezembro de 2024 > Elefante na região de Sigiriya, na região Norte




Foto nº 5 > Ceilão > 20 de dezembro de 2024 > Mais elefantes na região de Sigiriya


Foto nº 6 >  Ceilão >20 de dezembro de 2024 > A picada dos elefantes


Foto nº 7 e 7A >  Ceilão >20 de dezembro de 2024 > Canoas de  passeio para os turistas


Foto nº 8 > Ceilão >20 de dezembro de 2024 > Mesa com vários alimentos para o almoço, em casa rural


Foto nº 9 > Ceilão >20 de dezembro de 2024 >  Cozinha, onde se confeccionam os alimentos (A Maria João à esquerda.)


Foto nº 10 > Ceilão >20 de dezembro de 2024 >   Espaço exterior ao local onde se tomam as refeições



Foto nº 11 > Ceilão >20 de dezembro de 2024 > "Bolanha" de arroz 


Foto nº 12 > Ceilão >20 de dezembro de 2024 >   A estação de comboios de Badulla (1)


Foto nº 13 > Ceilão >20 de dezembro de 2024 >   A estação de comboios de Badulla (2)



Foto nº 14 > Ceilão >20 de dezembro de 2024 >   A estaçáo de comboios de Badulla (3)



Fotos (e legenda): © Jorge Araújo (2024). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].



Jorge Araújo, ex-fur mil op esp / ranger, CART 3494 / BART 3873 (Xime e Mansambo, 1972/1974); nosso coeditor, a viver há uns anos entre Almada e  Abu Dhabi, Emiratos Árabes Unidos. É um dos nossos coeditores. Como autor, tem mais de 335 referências no nosso blogue. Tem várias séries: "Tabanca dos Emiratos", "Memórias cruzadas...", "(D)o outro lado combate"...



1. A escassas semanas de completar 520 anos do início da conquista e ocupação do então Ceilão pelos portugueses, aproveitamos as férias da atividade académica para visitar este país do sul da Ásia, no Oceano Índico, tendo Colombo por capital. (População estimada; 22 milhões de habitantes; superfície: 65,6 mil km2.)

Este é um destino muito procurado pelos estrangeiros residentes  nos Emiratos Árabes Unidos (EAU).

Neste contexto e de modo a simbolizar o período das Festas Natalícias, envio algumas "rabanadas recheadas de história", sobre a presença dos lusitanos nesta região, em particular na agora República Democrática  Socialista do Sri Lanka, seguida de imagens desta minha nova "comissão de serviço".

Segundo consta na literatura consultada (Enciclopédia de História Inglesa), o primeiro português a alcançar esta ilha, foi o capitão-mor Lourenço de Almeida (Martim, c. 1480 - Chuil, Índia. 1508),  único filho varão de Francisco de Almeia (Lisboa, c. 1450 - Baía de Saldanha, costa sul-ocidental da África do Sul,  1 de março de 1530).(Foi o primeiro vice-rei da  Índia Portuguesa, 1505-1509).

Lourenço de Almeida tornou-se capitão-mor, ao serviço do pai, e em 1505 foi incumbido,  por ele, da missão de interceptar uma frota moutra, carregada de especiarais, que navegava pelo Oceano Índico. Por motivo de uma tempestadae, a sua embarcação saiu da rota pretendida, acabando por aportar no Ceilão, na cidade de Galle, na costa sul. (Ceilão, também conhecida por Taprobana, na antiguidade clássica e na idade média.)

O capitão-mor Lourenço de Almeida procurou manter relações  conmerciais amistosas e cordiais com o rei de Cota,  Dharmaparakrama Nahu - a quem inclusive chegou a oferecer proteção militar em troca de de um tributo anual, pago em canela (uma especiaria de alto calor  comercial na Europa de então).

Este foi o primeiro passo dado rumo à consolidação do predomínio comercial e político lusitano naquela região, tendo culminado em 1518 quando o rei de Cota  outorga aos portugueses a autorizaçáo para erigir um forte na cidade portuária de Colombo,  bem como um rol de concessões especiais que lhes conferiam o direito de ezxercer actividades na ilha. 

O Ceilão passou, assim,  a integrar a esfera de influência colonial de Lisboa, tendo aí permanecido até meados do séc. XVII.

Após a  construção do forte na cidade portuária de Colombo, os portugueses estenderam gradualmente o seu controlo sobre as áreas costeiras, nomeadammnete a Norte. Em 1592, após guerras intermitentes  com os portugueses, o rei mudou a capital do seu reino para a cidade interior de Kandy, um local que ele considerou mais seguro contra ataques. 

Em 1619, sucumbindo aos ataques dos portugueses, chegaria ao fim a existência independente do Reino de Jaffna.

Durante o reinado de Rajasinghe II (1629-1687), exploradores holandeses chegaram à ilha. Em 1638, o rei assinou um tratado com  Companhia Holandesa das Índias Orientais para se livrar dos portugueses, que governavam a maior parte das áreas costeiras. 

A guerra holandesa-portuguesa que se seguiu, resultou numa vitória holandesa. Colombo cairia nas mãos dos holandese em 1656.

Foi exatemente por Colombo que começámos, depois de termos aterrdo no Aerporto Internacional Bandarnaike, criado em 1944, em plena II Guerra Mundial, como uma base aérea da Real Força Aérea do Reino Unido. A conversão para aeroporto civil foi completada em 1967. 

De seguida apresentaremos algumas das imagens mais emblemátias desta nossa nova "comissão de serviço" (Ver fotos acima.)

(Continua)

(Revisão / fixação de texto, seleção e edição das fotos, título: LG)

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Nota do editor:

Último poste da série > 22 de outubro de 2024 > Guiné 61/74 - P26067: Tabanca dos Emiratos (12): "Prova de vida" (Jorge Araújo)

Guiné 61/74 - P26348: Humor de caserna (91): O anedotário da Spinolândia (XIV): "Vão-se todos vestir com a roupa que tinham quando viram o helicóptero!"... (Mário Gaspar, ex-fur mil art, MA, CART 1659, Gandembel e Ganturé, 1967/69)


1. Excerto do poste P12412(*), de Mário Gaspar:

(...)  A CART 1659, "Zorba", só conheceu dois governadores, o General Arnaldo Schulz e o Brigadeiro António de Spínola. Só este último nos visitou – e por duas vezes. – mas, na segunda vez, discursou depois de formada a Companhia:

− Vão-se todos vestir com a roupa que tinham quando viram o helicóptero!

E assim sucedeu, depois de destroçarmos todos, rapidamente surgimos, de calções, tronco nu, chinelos e cabeça destapada.

 Continuou o discurso e, já no fim, um soldado perguntou quando terminávamos a comissão, já que nos tinham prometido sairmos ao fim de 18 meses se terminássemos de fazer o cais, e este já se encontrava funcional há muito tempo. 

António de Spínola respondeu:

Não venho fazer promessas. Venho pedir mais privações e sacrifícios! (...) (**)

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 8 de dezembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12412: Tabanca Grande (413): Mário Vitorino Gaspar, ex-Fur Mil Art, MA da CART 1659 - Zorba (Gadamael e Ganturé, 1967/68)


Vd, também poste de 19 de junho de 2024 > Guiné 61/74 - P25657: Humor de caserna (68): O anedotário da Spinolândia (XIII): na ilha das Cobras, a ementa hoje é... cabrito com ostras... V. Exas são servidas ?

Guiné 61/74 - P26347: A Nossa Poemateca (6): Adeus, de Eugénio de Andrade ("Os Amantes Sem Dinheiro", 1950) (escolha de Mário Vitorino Gaspar, ex-fur mil art, MA, CART 1659, Gadamael e Ganturé,1967/69)


Mário Gaspar
1, A escolha é do Mário Vitorino Gaspar,
(ex-fur mil art MA, CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68); lapidador de diamantes reformado, cofundador e antigo dirigente da Associação APOIAR; ele próprio leitor e cultor de poesia, porque "ler poesia faz bem ao cérebro"; tem c. 140 referências no nosso blogue; ingressou na Tabanca Grande em 8/12/2013.


Adeus
por Eugénio de Andrade  






Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.

Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro;
era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.

Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes.
E eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.

Mas isso era no tempo dos segredos,
no tempo em que o teu corpo era um aquário,
no tempo em que os meus olhos
eram realmente peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco, mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.

Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor,
já não se passa absolutamente nada.
E, no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.

Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.

Adeus.


Eugénio de Andrade
in "Os Amantes sem Dinheiro" (1950)


Eugénio de Andrade, pseudónimo literário de José Fontinhas (Fundão, 1923 — Porto, 2005). Tem mais de 40 títulos publicados, em poesia, em prosa e em obras de tradução. Um dos poetas maiores, portugueses, do séc. XX. Dos mais lidos e traduzidos, Entre muitos prémios, recebeu o Camões em 2001. Por razões profissionais ( era inspector administrativo dos Serviços Médico-Sociais da Caixa de Previdência, 1947-1983), adotou o Porto como a sua cidade, a partir de 1950.

Para saber mais, ver Biblioteca Digital Eugénio Andrade

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Nota do editor:

Último poste da série > 2 de janeiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26335: A Nossa Poemateca (5): Romance de Tomasinho Cara-Feia, de Daniel Filipe (Ilha da Boavista, 1925-Lisboa, 1964 ) (escolha de Alberto Branquinho, ex-alf mil, CART 1689,1967/69)

Guiné 61/74 - P26346: Os nossos seres, saberes e lazeres (661): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (186): O que é próprio do traço vivo é ser justo e trair. Trai o que desconhece (Júlio Pomar dixit) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 2 de Janeiro de 2025:

Queridos amigos,
Júlio Pomar entrou na minha vida quando me fiz sócio da Cooperativa Gravura, pagava-se sete escudos e meio por trimestre, no fim do primeiro ano recebi uma gravura de Júlio Pomar, Mulher Reclinada; uma das prendas de casamento que recebi do meu padrinho de batismo foi uma gravura dele premiada pela Gulbenkian em 1961, e tenho procurado conhecer tudo quanto ele concebeu em azulejo, cerâmica, desenho, pintura e outros materiais. Há dias, visitando um antigo administrador do Metropolitano de Lisboa, um homem que vai a caminho dos 99 anos, levamos 50 anos de amizade, falámos deste trabalho inspirador de Pomar no Alto dos Moinhos, da serigrafia do Cupido, uma prenda com que me regalou. Vim a esta exposição com uma enorme tentativa, do princípio ao fim badalava-me uma frase de um outro grande artista plástico que me privilegiou com a sua amizade, Rolando Sá Nogueira: "O mais tormentoso, onde tudo arrisco pelo que se vai seguir é o primeiro traço do lápis, o espaço que ele vai ocupar, a forma que vai criar, em segundos eu terei a oportunidade de saber se naquele momento a inspiração está do meu lado ou se houve uma tentativa frustrada, inconsequente." E lembrei-me, igualmente, das observações que João Castel-Branco Pereira publicou da arte de Pomar na estação de metropolitano de Alto dos Moinhos, o génio plantado em azulejo. E como se escreve no folheto oferecido ao visitante desta soberba exposição, o próprio depoimento de Pomar: "Paredes ao alcance de mão vândala excluem toda a hipótese de pintura, dama de pele sensível e carnes frágeis. O revestimento cerâmico aparece naturalmente como solução ótima. O desenho linear pratiquei-o sempre e neste se tem acentuado ao longo dos anos, o cursivo da escrita." Por favor, dentro das vossas possibilidades, não percam esta exposição!

Um abraço do
Mário


Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (661):
O que é próprio do traço vivo é ser justo e trair. Trai o que desconhece (Júlio Pomar dixit)

Mário Beja Santos

O Atelier-Museu Júlio Pomar (Rua do Vale, 7, descendo a Calçada do Combro, ao fundo, à direita, como se fôssemos para a Igreja de Nossa Senhora das Mercês, antiga Igreja de Jesus, ao lado da Escola Secundária Passos Manuel) tem uma exposição patente até 20 de fevereiro intitulada De um traço, trai, uma exposição que mostra uma alargada seleção de desenhos que Pomar realizou sobre papel vegetal. De diferentes formatos, estes desenhos serviram de suporte, de estudo ou de esboço a composições realizadas em projetos de arte para o espaço público: estação de metropolitano Alto dos Moinhos, estação ferroviária de Corroios, Tribunal da Moita, espaço exterior da Fundação Champalimaud, Circo de Brasília, entre outros. Como se pode ler no folheto disponibilizado ao visitante, Pomar “Parte de um processo de estudo para chegar às composições finais, estes desenhos reclamam, ao mesmo tempo, uma autonomia face às mesmas. Eles revelam qualidades próprias, intensidades e pontos de vista irrepetíveis em cada registo. Com eles, revelam-se caminhos, aventuras em que o pinto se lançou e metodologias, como por exemplo os grandes formatos e as sobreposições, permitidas pelas folhas de papel vegetal (…) Os desenhos de Júlio Pomar surgem da rapidez do traço e essa rapidez resulta, certamente, de uma prática continuada e diária do desenho. Significa que rapidez e intuição estão, no caso de Júlio Pomar, radicadas em treino profundo, duradouro, consistente. E, se de uma assentada o traço sai, outras vezes haverá em que a posição ou a intensidade do traço é corrigida; o traço é refeito.” Haverá mais comentários durante a viagem, o melhor é mesmo entrar na exposição, nesta esplêndida atmosfera que é obra de um amigo de Pomar, Siza Vieira.

Desenhos para o Julgamento de Salomão, sobre papel vegetal montado em tela, 1993, obra destinada ao Tribunal da Moita
Desenho exposto no chão, para uma obra delineada para uma infraestrutura
Estudo para o painel de azulejos do Gran Circo Lar de Brasília (removido em 1999)
Pormenor do Atelier-Museu, conceção de Siza Vieira
Retrato de Dante Alighieri, acrílico e pastel, reproduzido em A Divina Comédia, tradução de Vasco da Graça Moura, 2006
Outro pormenor do Atelier-Museu Júlio Pomar
Desenhos de Almada Negreiros. Fotografia, à direita, da estação do metropolitano Alto dos Moinhos
Um dos muitos desenhos que Júlio Pomar fez de Fernando Pessoa
Retrato de António Champalimaud, carvão sobre papel vegetal, 2016
Estudo para os painéis de azulejo da estação de metropolitano Alto dos Moinhos, 1983
Desenhos de animais elaborados para a estação do metropolitano Alto dos Moinhos (camelos, elefantes e gaivota)
Bocage, estudo para os painéis de azulejo da estação de metropolitano Alto dos Moinhos, 1983
Esculturas metálicas baseadas no Ciclo do Tigre, à porta do Atelier-Museu Júlio Pomar

O visitante tem à sua disposição a visualização de um filme em que Pomar tece comentários à exposição que fizera na Gulbenkian em 1984, isto a propósito do seu trabalho para o Metropolitano de Lisboa. Retenha-se um desses comentários: “ver o que está em cada traço, que se sucede, se sobrepõe, eliminando ou ajuntando dentro de uma economia que eu gostaria que fosse condição do poder da expressão. Um mínimo de traços, um mínimo de elementos em jogo, é para mim a condição do máximo desejado da especificidade.” Pomar dirá noutro contexto: “Eu só poderia, e só isso me tentava, fazer o que até aqui tenho feito – soltar imagens. Suponho que, também, era isso que de mim se esperava.”
Voltando ao folheto que se distribui aos visitantes, uma outra anotação, como ponto final a esta visita: “Esta exposição procura mostrar o processo desenvolvido por Júlio Pomar até chegar a obra final, que hoje habita o espaço público: o seu traço limpo e espontâneo é, afinal, decorrente de várias tentativas para cercar cada figura, de movimentos de aproximação e distância em relação ao papel e ao plano onde está assente.”
Exposição imperdível, tenho para mim que Júlio Pomar foi o mais talentoso dos nossos artistas plásticos destes dois séculos que me foi dado viver.

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Nota do editor

Último post da série de 28 de dezembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26321: Os nossos seres, saberes e lazeres (660): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (185): From Southeast to the North of England; and back to London (5) (Mário Beja Santos)