
Camarada Leopoldo Amado e Queridos Amigos,
Li com muito prazer o ensaio do Leopoldo Amado em torno de alguma literatura emergente com a Guerra Colonial (*).
Sinto-me em sintonia com muitos dos pontos de vista expendidos, trago algum aditamento, na certeza certa de que o autor e todos os tertulianos anseiam para que esta problemática venha a ser desenvolvida em ulteriores investigações, seja de Leopoldo Amado ou de outros especialistas.
Primeiro, convirá distinguir a literatura publicada a “quente” ainda durante a guerra e a posteriori, daí que me parece útil clarificar o sentido de “novíssima literatura” usada pelo Leopoldo Amado.

Segundo, muitas das temáticas que Leopoldo Amado destaca e analisa na literatura antes do 25 de Abril vai encontrar, sem apelo nem agravo, na mais recente, escrita por combatentes que consideram que chegou a hora de pôr em cima da mesa as suas memórias, os seus relatos em detalhe ou em cinemascópio.
Há temas recorrentes como o ferido ás costas, a flagelação brutal, o camarada que nos morreu nos braços, as durezas da operação, a solidão, a emboscada sanguinolenta. Não deixa de ser altamente impressivo o quadro de sentimentos de todos os combatentes seja qual for o palco das suas lutas, em qualquer região da Guiné forçosamente os depoimentos convergem para os estados de choque, as situações delirantes, as descrições de abandono e exaustão e de profunda incerteza. Não é por acaso.

Terceiro, a vivência das tropas portuguesas e destes portugueses que escrevem como porta-vozes de múltiplos acontecimentos, carece do outro reverso da medalha: conhecer o estado de espírito dos combatentes de 1961 a 1974.
Penso que o Leopoldo Amado me dará razão, a guerra começou com Movimento de Libertação da Guiné (depois FLING), em 1961 nos ataques perpetrados no Norte (caso de S. Domingos e Susana), o PAIGC preparava-se no Sul e na região do Morés, foi uma realidade distinta, não conhecemos a literatura desses combatentes, não a podemos justapor, por ora, aos relatos dos portugueses.
Há, pois, um trabalho imenso a fazer de recuperação, de recolha de depoimentos, de um lado e de outro, é bem provável que o Leopoldo Amado esteja na primeira linha para poder investigar e prestar este relevante serviço ás nossas culturas e até mesmo ao nosso blogue.
Um abraço
Mário Beja Santos
__________
Notas de vb:
(*) Leopoldo Amado, Doutor em História Contemporânea pela Universidade Clássica de Lisboa (Faculdade Letras): tese de doutoramento: "Guerra Colonial da Guiné 'versus' Luta de libertação Nacional (1961 – 1974)"; membro da nossa tertúlia; editor do blogue Lamparam II.
Vd. poste de 5 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3272: A novíssima literatura da Guerra Colonial (Leopoldo Amado)
(**) vd. poste de 28 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1323: Bibliografia de uma guerra (15): Os Mastins e o Disfarce, de Alvaro Guerra (Beja Santos)
1 comentário:
Sabes Mário e eu sei que sabes...para "teres" um livro a ser publicado antes do 25 a censura...ora certos termos turra ou outros, devem, se hoje queremos contextualizar, ter em conta isso. Mas não só. Temos que separar as três guerras; Angola, Guiné, Moçambique e, porque não analisar o resto do "Império"? Nós temos uma visão, o Leopoldo tem outra, deita fora o Historiador,com todo o respeito, interessa aqui o cidadão, se bem que é praticamente impossível dissociar a parte académica. É,para mim claro, nos últimos tempos dos Temas com mais interesse ( ou desde sempre)aqui "postados". Oxalá seja aprofundado e tenha o tratamento devido. Abraços Torcato
Enviar um comentário