1. O nosso camarada José Teixeira, ex-1.º Cabo Enfermeiro da CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá e Empada , 1968/70, enviou-nos mais uma estória em 8 de Agosto de 2009:
MATARAM O FUTURO
No dia 24 de Julho de 1968, uma mina A.C. (Anti-Carro) roubou a vida a um camarada que ia em cima da viatura de rádio a comunicar com a base em Buba. Foi o meu primeiro encontro no mato com o IN e o primeiro camarada que vi morrer sem lhe poder valer.
Nunca soube o seu nome. Apenas sei que pertencia à Companhia dos Lenços Azuis, que estava estacionada em Aldeia Formosa e nos foi buscar a Buba para de seguida partilharmos aventuras em comum durante mais de meio ano.
Do Meu Diário
Julho 1968/Buba, 26
… O primeiro ataque foi de abelhas. Eram tantas que mais pareciam uma pequena nuvem. Era ver quem mais corria a fugir da sua picada. Eu fiquei quedo como um penedo a conselho de um soldado da milícia que estava a meu lado, me arrastou para o meio de uns arbustos me mandou cruzar os braços e ficar muito quietinho.
Ele foi a “mão de Deus” que me protegeu das picadas das abelhas. Assustado e perturbado pelo zumbido à minha volta e pela cor que o meu corpo foi tomando na medida em que se fixavam à minha roupa, na cara e na cabeça.
Neste estado pude apreciar a confusão de uma fuga precipitada, um tanto hilariante de toda a gente, que protegia a coluna de viaturas naquela área. Se o IN tivesse atacado nesse momento seria um desastre total, tal foi a desorganização gerada.
Depois... veio aquela mina roubar mais uma vida e pôr duas em perigo...
Inimigo cobarde!... frente a frente não consegue atingir os seus objectivos e ataca à traição, num pequeno descuido dos picadores.
Que culpa terá aquele jovem que me morreu nas minhas mãos, que os homens não se amem?
Que culpa tenho eu?
A sua vontade de fugir à morte impressionou-me e ainda hoje parece que estou a ouvir os seus últimos e já ténues gritos de vida.
MATARAM O FUTURO
O destino, no tempo o marcou.
Aquela hora!
A mina escondida!
Aquela viatura!
A quinta que passava,
E a mina que deflagrou
Uma vida cheia de vida,
A morte a levou.
Destino cruel.
Demasiado duro.
Deixou de ser a esperança, no futuro.
Para sempre partiu,
Aquele jovem.
Cheio de saudades de um tempo,
De quem nem sequer se despediu.
Um tempo, para com garra viver,
Mas…
Ficou sem tempo, para o conhecer.
Já não vejo!
Já não vejo!
Vou morrer!
Com ténue voz.
Balbuciou.
Tremendo grito.
Eu quero viver!
E…
Ali se ficou.
Até morrer.
Sede. Muita sede.
Aquela vontade danada de viver,
E um corpo a arrefecer!
Vida.
Quase sem vida.
E eu…
Sem lhe poder valer.
Tremendo momento.
Num mundo mais pobre,
Num futuro em sofrimento.
Aldeia Formosa, 1968 – Agosto, 28
Um abraço,
Zé Teixeira
1º Cabo Aux Enf
MATARAM O FUTURO
No dia 24 de Julho de 1968, uma mina A.C. (Anti-Carro) roubou a vida a um camarada que ia em cima da viatura de rádio a comunicar com a base em Buba. Foi o meu primeiro encontro no mato com o IN e o primeiro camarada que vi morrer sem lhe poder valer.
Nunca soube o seu nome. Apenas sei que pertencia à Companhia dos Lenços Azuis, que estava estacionada em Aldeia Formosa e nos foi buscar a Buba para de seguida partilharmos aventuras em comum durante mais de meio ano.
Do Meu Diário
Julho 1968/Buba, 26
… O primeiro ataque foi de abelhas. Eram tantas que mais pareciam uma pequena nuvem. Era ver quem mais corria a fugir da sua picada. Eu fiquei quedo como um penedo a conselho de um soldado da milícia que estava a meu lado, me arrastou para o meio de uns arbustos me mandou cruzar os braços e ficar muito quietinho.
Ele foi a “mão de Deus” que me protegeu das picadas das abelhas. Assustado e perturbado pelo zumbido à minha volta e pela cor que o meu corpo foi tomando na medida em que se fixavam à minha roupa, na cara e na cabeça.
Neste estado pude apreciar a confusão de uma fuga precipitada, um tanto hilariante de toda a gente, que protegia a coluna de viaturas naquela área. Se o IN tivesse atacado nesse momento seria um desastre total, tal foi a desorganização gerada.
Depois... veio aquela mina roubar mais uma vida e pôr duas em perigo...
Inimigo cobarde!... frente a frente não consegue atingir os seus objectivos e ataca à traição, num pequeno descuido dos picadores.
Que culpa terá aquele jovem que me morreu nas minhas mãos, que os homens não se amem?
Que culpa tenho eu?
A sua vontade de fugir à morte impressionou-me e ainda hoje parece que estou a ouvir os seus últimos e já ténues gritos de vida.
MATARAM O FUTURO
O destino, no tempo o marcou.
Aquela hora!
A mina escondida!
Aquela viatura!
A quinta que passava,
E a mina que deflagrou
Uma vida cheia de vida,
A morte a levou.
Destino cruel.
Demasiado duro.
Deixou de ser a esperança, no futuro.
Para sempre partiu,
Aquele jovem.
Cheio de saudades de um tempo,
De quem nem sequer se despediu.
Um tempo, para com garra viver,
Mas…
Ficou sem tempo, para o conhecer.
Já não vejo!
Já não vejo!
Vou morrer!
Com ténue voz.
Balbuciou.
Tremendo grito.
Eu quero viver!
E…
Ali se ficou.
Até morrer.
Sede. Muita sede.
Aquela vontade danada de viver,
E um corpo a arrefecer!
Vida.
Quase sem vida.
E eu…
Sem lhe poder valer.
Tremendo momento.
Num mundo mais pobre,
Num futuro em sofrimento.
Aldeia Formosa, 1968 – Agosto, 28
Um abraço,
Zé Teixeira
1º Cabo Aux Enf
2 comentários:
Caro camarada JTEIXEIRA
Mais uma estória da tua infidável memória, como sempre consisa e concreta.
Recordaste essa Companhia mítica que foram os Lenços Azuis que comigo estiveram na Est. BUBA-ALDEIA FORMOSA, e na sua ultima aventura por terras da Guiné naquela que foi a primeira e unica coluna que se fez pela estrada nova os mesmos tiveram 2 mortos e vários feridos.
Um abraço
Mário Pinto
Zé Teixeira
Simples e conciso! Parabens.
Mais uma vez retratas momentos que muitos de nós vivemos,ultrapassamos mas não conseguimos nem
conseguiremos esquecer, nunca.
Ficam "camuflados" no subconsciente...para nossa saude mental !Não fora assim e muitos mais Camaradas sofreriam das maleitas causadas pela vivencia desses anos,que em muitos casos julgo que levou até ao suicidio!
Um abraço
Luis Faria
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