quinta-feira, 3 de abril de 2008

Guiné 63/74 - P2717: Exército Português: Manual do Oficial Miliciano (1): A Selva, perigos, demónios e manhas (A. Marques Lopes)



Guiné-Bissau > Região de Tombali > Mata do Cantanhez , algures entre Iemberém e Cananime, na margem direita do Rio Cacine > Simpósio Internacional de Guiledje > 2 de Março de 2008 > Visita, da parte da manhã, ao Acampamanto (Baraca) Osvaldo Vieira... O típico tarrafe (ou mangal) da Guiné, que nos infernalizava a vida, em patrulhamentos junto aos cursos de água... Nas fotos pode ver-se um das escapatórias dos guerrilheiros, em caso de ataque... Havia também pirogas, camufladas, que permitiam também a fuga organizada...

Fotos e legendas: © Luís Graça (2008). Direitos reservados.


Cópia do Manual do Oficial Miliciano de que o A. Marques Lopes nos mandou uns excertos, como sugestão de leitura... natalícia. Edição do Ministério do Exército (!), Estado Maior do Exército, Rep Instrução... Não deixa de ser irónico: este manual do oficial miliciano foi um presente envenenado para muitos jovens portugueses que passaram pelo TO da Guiné e das outras frentes de guerra, com responsabilidades de comando de homens, mal preparados e mal equipados para uma guerra de contraguerrilha num meio - físico, simbólico e cultural - hostil para qualquer europeu... Basta só reparar num pormenor (hilariante) deste manual: o equipamento com que se partia inicialmente para o TO da Guiné (e antes disso Angola, e depois Moçambique) incluía o capacete de aço... Há, na nossa tertúlia, gente desse tempo... Mas também podíamos falar na total inadequação das nossas rações de combate, de grande parte do nosso armamento, etc. Tudo indica que este manual, editado em 1965, seja uma tradução, apressada e manhosa, de algum manual da infantaria americana da II Guerra Mundial... (LG)

Foto: ©
A. Marques Lopes (2008). Direitos reservados


1. Texto enviado pelo A. Marques Lopes, com data de 11 de dezembro de 2007, como sugestão de leitura para a época natalícia...

Caros camaradas

Envio-vos o que vem no Manual do Oficial Miliciano, no seu 1.º Volume, Parte Geral, sobre o 'Combate na Selva'. Foi escrito em 1965 e foi-me dado quando estive no COM (Curso de Oficiais Milicianos) em 1966. Este texto vem nas páginas 300 a 331 desse volume. Dá para ler nas férias de Natal... A. Marques Lopes


CAPÍTULO VII > O COMBATE NA SELVA

146. A GUERRA NA SELVA

a) Considerações gerais:

O termo «selva» a que nos queremos referir é aquela zona de terreno com densa vegetação tropical, com arbustos, árvores acácias, trepadeiras e fetos gigantes que se estende desde as praias e desde as baixas regiões das montanhas até aos cumes.

A vegetação varia em densidade de acordo com a quantidade de luz de sol que penetra através do emaranhado dos ramos das árvores. Nos locais onde a vegetação é espessa, a progressão é excessivamente vagarosa e laboriosa; em muitos casos as colunas de tropas estarão em grande perigo de serem atacadas de flanco ou isoladas e cercadas, pois somente cortando o mato com enorme dificuldade se consegue abrir um caminho.

Cursos de água, quer correndo à superfície quer encaixados, gargantas apertadas e ravinas estreitas, aumentam dificuldades àquelas que a selva já por si apresenta. Em terrenos montanhosos, ribeiros que têm normalmente pequeno volume de água podem tornar-se torrentes perigosas dentro de uma hora, depois de uma chuva abundante.

O terreno é quente e húmido e caracterizado por mudanças bruscas. Num período de alguns minutos o tempo claro e quente pode tornar-se numa chuva torrencial. Com igual rapidez a chuva pode cessar e o sol, incidindo na massa espessa da vegetação, produzirá uma humidade relativa máxima.

A vida desenvolve-se num ambiente de calor e humidade. O perigo dos animais ferozes que existem na selva é em grande parte uma criação da imaginação. Os animais são bastante abundantes nuns lugares e raros noutros, mas mesmo quando são abundantes, só raramente são vistos pelo homem. Muitos animais têm medo natural do homem e o seu instinto de conservação obriga-os a manterem-se escondidos. As cobras pouco se vêem na selva, embora possam ser abundantes. As cobras venenosas, embora muitas vezes não representem uma ameaça fatal, implicam a necessidade de precauções especiais.

Nalgumas regiões, os crocodilos são uma ameaça e habitam nos pântanos, lagoas, rios e ainda nas praias próximas da foz dos rios.

A importância militar da vida animal reside no facto de o movimento rápido de animais e aves poder alertar os exploradores, indicando-lhes a presença do homem. A identificação apropriada das plantas e animais é de um valor incalculável para as unidades e indivíduos que tenham os seus abastecimentos cortados e estejam na dependência das plantas e aniais que possam apanhar para a sua alimentação. Contudo é tão difícil entrar dentro da distância de tiro dos animais da selva que é melhor não contar com a caça como meio de obter alimentos; os frutos carnudos e as plantas são mais fáceis de obter.

Na guerra, na selva, o soldado combate dois Inimigos: o homem e a natureza. O soldado deve ser instruído não só para combater na selva, mas para ser capaz de viver nela e de a aproveitar no combate. A selva é todavia bastante exigente.

Se um indivíduo não se adaptar às condições que ela impõe não será capaz de viver nela muito tempo, mesmo que não exista mimigo humano.

b) Factores característicos da selva:

(1) Visão limitada

A visão é limitadíssima, resultando daí um limitado campo de tiro e alvos que desaparecem rapidamente—aspectos que têm as seguintes consequências:

(a) O constante uso de vários tipos de armas portáteis (a espingarda, a baioneta, a pistola, a pistola-metralhadora, a granada e o lança-chamas) pelo que o combatente deve estar apto a manejar todas igualmente e no momento mais apropriado, devendo sobretudo ser intenso o treino de granada de mão, em virtude de seu notável emprego.

(b) Falta de apoio das armas pesadas e muitas vezes tam bém dos morteiros, devido à dificuldade de observação.

(c) Dificuldades de sinalização à vista, de qualquer tipo, e consequentemente necessidade de nos servirmos do telefone, telefonia sem fios e dos estafetas para fins de intercomunicação.

(d) Necessidade de tomar especiais precauções .contra a surpresa numa emboscada ou várias formas de assalto imprevisto. Quer no ataque, na defensiva, ou na marcha, para qualquer lado que se "caminhe, há flancos descobertos que se podem atingir por caminhos perfeitamente cobertos ou cuja aproximação pode ser obtida a coberto, sofrendo no entanto, como é óbvio, o inimigo as mesmas dificuldades.

(e) Facilidade de envolvimento e infiltração, com notável vantagem para o assaltante.

(f) Necessidade de limpeza dos terrenos próximos quando se ocupa uma posição defensiva no interior da selva com o inconveniente de denunciar a posição à observaçâo aérea inimiga.


(2) Informação pelo som

Ainda que a visão seja má podemos utilizar o ouvido. Consequentemente:

(a) Os homens devem ser treinados para a escuta Devem conhecer todos os ruídos normais da selva, para que possam ser postos em alerta por um som não usual ou pela ausência de ruído. Devem compreender que o silêncio raramente reina na selva e quando a quietude prevalece, deve ser em regra causado pelo receio, despertado pelo homem ou pelo vaguear das feras. O homem deve mover-se silenciosamente.

(b) Devem do mesmo modo, ser treinados para cuidarem dos seus ouvidos. Devem procurar desenvolver o seu poder de audição para tirarem partido dele, no mais alto grau.

(c) Para as sentinelas e patrulhas a protecção é grande- mente facilitada, pois podem permanecer estacionadas e escondidas. Quanto ao inimigo, se avança, move-se ruidosamente, através de pequenos arbustos, sendo a sua presença prontamente assinalada e denunciada; as veredas que possam existir deverão ser guardadas e atravessadas com pequenos arames, minas, armadilhas ou emboscadas, para evitar que o inimigo se sirva delas de modo a obter a aproximação silenciosa.

(d) Quando um homem, individualmente, tenha de se apro- ximar de outro, o assaltante, se avança, não deve rastejar porque agindo assim faz pelo menos mais barulho do que se fosse caminhando direito, e, o que é importante, perde de vista, porventura para sempre, o seu inimigo. Por outro lado, num ataque por uma força militar, em que a direcção geral é fácil de manter, a acção de rastejar é recomendável nos terrenos desen fiados e também porque a tendência do defensor na luta da selva é fazer fogo alto.

(e) E, não somente devemos fazer o maior uso dos nossos ouvidos, mas- devemos também procurar interferir ou reduzir a capacidade inimiga para ouvir e distinguir

(3) Mobilidade restrita

O movimento é difícil e é principalmente limitado às veadas. Por consequência:

(a) Homens e animais têm de marchar, a menos que me- lhores caminhos tenham sido abertos e completados por eles, ao longo de caminhos estreitos e sinuosos, frequentemente em coluna por um. Desta restrição, resulta a marcha ou em colunas multo longas ou em formações de um grande número de pequenas colunas.

No primeiro caso, duas exigências são feitas; primeira, uma severa disciplina de marcha pois que, como tudo o que se estende, resultará num interminável e desalinhado alongamento; a segunda, é que a reparação dos caminhos tem que ser executada em cada sector, à medida que for necessário; de outro modo as tropas da retaguarda encontrarão o caminho impraticável. No caso de numerosas colunas, como os caminhos são raramente paralelos e os impedimentos ao movimento são abundantes e severos, o estabelecimento de ligações laterais apresenta problemas espinhosos. Por esta razão, os altos com o fim de ajustar a marcha têm de ser feitos a horas estabelecidas e feitas correcções, calculadas com grande meticulosidade, para que não haja avanço nem atraso.

(b) Com tais restrições, os movimentos nocturnos são de uma dificuldade extraordinária. Devem raramente ser feitos, porque como principal razão para o seu uso na guerra em campo aberto, é essencialmente, o perigo dum ataque aéreo a tropas marchando de dia, esse perigo dificilmente existe na selva.

(c) Como as reservas quer na sustentação dum avanço ou retirada, quer para apoiar um ataque ou defesa, são incapazes de se moverem livremente de um lado para outro, têm usualmente, ao invés de serem concentratradas, de serem distribuídas em grupos, próximo dos vários núcleos de tropas em primeiro escalão, que elas tenham necessidade de apoiar. Este procedimento acarreta uma indesejável dispersão das forças.

(d) Como os caminhos, raramente têm uma direcção que convém e como correm, no caso de serem para animais para as águas mais próximas e no caso de serem para homens para as aldeias ou terrenos de cultura mais próximos, por toda a parte serpenteando para adear os obstáculos, torna-se difícil manter a direcção que se pretenda e a avaliação das distâncias per- corridas.

(e) A facilidade de movimento depende do vestuário usado. E se alguém tiver alguma dúvida acerca desta verdade, percorra 25 km em calções e botas altas e repita a aventura em «Shorts» e sapatos e compare o resultado.

(4) Dificuldade de Reabastecimento

O reabastecimento dum exército moderno numa floresta tropical é o mais difícil dos problemas.

Quando as colunas estejam distribuídas em profundidade, ao longo de caminhos estreitos não se pode prover ao reabastecimento regular e periódico de grupos numerosos tais como unidades inteiras. Em primeiro lugar, os mantimentos tinham de ser transportados à retaguarda das tropas combatentes, caso contrário interferiam no dispositivo e nos movimentos tácticos. Em segundo lugar, se a testa da co luna chegasse ao acampamento escolhido ao escurecer, como sucede muitas vezes, os escalões de abastecimento teriam ainda uma longa caminhada para chegar às tropas. Em terceiro lugar, o piso, excepto em períodos muito secos, estraga-se devido à marcha dos elementos que seguem na frente, dificultando assim o movimento dos elementos da retaguarda. Finalmente, quando a perspectiva da luta é eminente, é aconselhável cessar o transporta de mantimentos, construir um abrigo e montar-lhe uma guarda, operação que mais uma vez contribuiria para a perda de tempo. Ainda, quando uma força considerada esteja em movimento, não há a certeza se as rações chegarão muito tarde ou mesmo no dia seguinte. Por estas razões e porque uma grande parte do trabalho da floresta é feito por homens aos pares, ou em pequenos grupos, será normalmente necessário entregar as rações individualmente.

A água é o requisito mais importante; porque, apesar de abundar nas florestas é facilmente expelida do corpo humano, devido à alta temperatura e humidade, tendo que ser substituida para o soldado se conservar activo. Deve, portanto, haver muito cuidado. A água deve ser servida purificada ou fervida.

Altemadamente deve-se misturá-la com pastilhas esterilizadoras que são fáceis de se transportar.

A seguir, em ordem de importância vêm as munições e o seu transporte. Condensado e pesado é um fardo considerável, especialmente quando., o que é frequente, as tropas têm de ser empregadas no seu transporte. Para isso as munições devem ser empregadas com muita economia.

Finalmente, porque no caso de emergência o homem pode viver sem comer durante alguns dias, vêm os alimentos.

A dificuldade de fornecimento de abastecimento e a irregularidade da sua distribuição, sugere que o soldado deve ser encorajado a ser frugal e a viver como for possível em qualquer região.

No reabastecimento de alimentos e munições, e, particularmente, em tempo oportuno, no de armas de fogo e outros materiais, as forças aéreas podem prestar incalculáveis auxílios. Para facilitar o lançamento de tais abastecimentos as colunas têm usualmente que fazer consideráveis clareiras. No entanto, as tropas, no terreno, devem estar sempre prontas para cobrir falhas ocasionais, cultivando a sua capacidade para viver da região.

(5) Perigos para a saúde

A selva é insalubre, quente e húmida e é, nas estações das chuvas, umaq região de chuva torrencial. Está impestada de cobras, sanguessugas, aranhas, mosquitos e muitas outras espécies peçonhentas. É o inimigo número dois, e na verdade, para tropas inexperientes, é muitas vezes nais perigosa do que o homem, que é o inimigo número um.

Os médicos e os enfermeiros nem sempre podem estar presentes num lugar onde as tropas marcham e às vezes não existem comunicações. Portanto, se quisermos reduzir as pesadas baixas por motivo de doença, o soldado deve saber alguma coisa de higiene pessoal. Ele deverá compreender, principalmente, a necessidade do banho, se não for possível todo o corpo, pelo menos os sovacos, as articulações e os pés. Ê absolutamente necessário que o soldado considere isto tão importante como o treino militar. Quase tão necessário é a noção do uso de antídotos e o tratamento de mordeduras.

Outros pontos principais são: o uso de latrinas à prova de moscas e pulverização nos pântanos próximos com matérias desinfectantes, a limpeza completa dos recipientes de alimentação antes e depois das refeições, enterrar os restos das cozinhas e latas de conservas vazias e a construção de chuveiros improvisados.

(6) Dificuldade de observação aérea

As acções na selva estão ao abrigo da observação aérea, por conseguinte uma superior força aérea pode prestar relativamente pequeno apoio às tropas por acção directa.

Pelas considerações atrás escritas vê-se perfeitamente que a guerra na selva é intensamente individual. Muitas vezes o soldado tem de atacar ou defender-se contando só consigo. Muitas vezes caminha isolado e se se, perde é o próprio provisor, cozinheiro, médico, carregando ele próprio as munições.

Tudo isto se impõe o sacrifício de um grande número de horas de treino individual com o fim de os princípios fundamentais, por constante repetição, se tornarem hábitos.

147. O SERVIÇO NA SELVA

a) A instrução para o serviço na selva

(1) Condições físicas


Durante a instrução para as operações na selva, deve ser dada especial importância às condições físicas. Nos períodos finais da instrução todo o trabalho deve ser no campo. Devem-se realizar frequentemente marchas difíceis e os exercícios tácticos devem ter lugar nos piores terrenos.

(2) Aclimatação

Antes de entrar nas áreas de combate da selva, as tropas oriundas dos climas temperados devem ser submetidas a um período especial de instrução, que irá aumentando gradual- mente em rudeza e dificuldades, numa zona de selva de clima e terreno semelhantes àqueles onde futuramente vão combater. Para as tropas experimentadas, um período de quatro semanas é suficiente. Períodos mais longos resultam em cansaço e diminuição de eficiência.

Nos trabalhos, de início, a exposição ao calor deve ser progressiva. O homem aclimatado mostra-se alegre e executa o seu trabalho energicamente e sem esforço. Em contraste, o homem não aclimatado, trabalhando ao calor, torna-se estúpido e apático, executa o trabalho em más condições e pode manifestar, em vários graus, os sintomas e sinais de exaustaçâo pelo calor.

(3) Necessidade de água

Na selva, onde a humidade é elevada, o suor não evapora mas corre pela pele, por isso o arrefecimento é menos eficiente e as perdas de água são elevadas.

Quando a temperatura é elevada, um homem em descanso pode perder, pelo suor, cerca de melo litro de água por hora; se trabalhar, as suas perdas de água aumentarão na razão directa da quantidade de trabalho realizado. O pessoal que executa trabalhos pesados, como os Sapadores, homens marchando a pé, necessitam cerca de 10 litros de água por dia. Qualquer restrição de água abaixo do nível necessário para um homem resultará numa rápida perda de eficiência, redução nas possibilidades de trabalho e abaixamento de moral. Os melhores resultados obtêm-se tomando a água em pequenas quantidades sempre que haja sede.

(4) Necessidade de sal

Em todas as circunstâncias, a perda pelo suor de um grande volume de água é associada a uma perda de sal. A quantidade de sal ingerido com a comida normal é o suficiente para restabelecer e recompletar o perdido, quando o total da água ingerida é inferior a 5 litros por dia. Acima desta quantidade é necessário adicionar sal, e a melhor forma de o ingerir é em solução na água que se bebe. Ë absolutamente necessário que se tome sal nos primeiros dias de exposição ao calor, uma vez que as perdas de sal são então maiores que depois da aclimatação.

Não é recomendável o consumo de tabletes ou comprimidos de sal sem serem dissolvidos em água.

(5) Insolação, exaustação e cãibras

As tropas em instrução ou em operações nos climas quentes podem sofrer efeitos de doenças devido à exposição a altas temperaturas. Este facto aumentará se houver, também, grande humidade. Três estados bem definidos se podem apresentar e que devem ser conhecidos de todos. São eles: a insolação, a exaustaçâo e as cãibras. As causas e os métodos de evitar estas doenças são semelhantes. Contudo produzem sinais distintos, e qualquer deve ser capaz de reconhecer imediatamente, por forma a ministrar os cuidados e atenções necessárias às vitimas:

— Insolação

Este estado, muitas vezes, aparece repentinamente. Dá dores de cabeça, tonturas, muitas vezes com náuseas e vómitos, dando então colapso, delírio e inconsciência. O primeiro sinal pode ser o colapso. É importante lembrar que a pele estará quente e seca. É devido a este facto que na insolação a temperatura sobe bastante (41 "C ou superior).

Tratamento de emergência: Fazer baixar rapidamente a temperatura do paciente. Quando no campo, não esperar por tratamento médico ou por ambulância, mas tirar imediatamente a roupa do paciente, excepto os calções, e, quanto possível, espargir o corpo com água. Ter alguns ajudantes friccionando energicamente os braços, pernas e tronco para aumentar a circulação do sangue na pele, enquanto outros o vão abanando (arejando) continuamente, a fim de aumentar a velocidade de evaporação da água e o seu correspondente efeito de refrigeração. Os cuidados médicos devem ser assegurados logo que possível e o paciente deve ser hospitalizado. Contudo, as medidas de arrefecimento do corpo devem continuar durante a transferência do paciente para o hospital.

— Exaustação

Este estado manifesta-se por dores de cabeça, adormecimento, extrema fraqueza, tonturas e incapacidade para andar. Poderá também ter cãibras. É importante lembrar que na exaustação a pele está húmida, fria e viscosa. Apesar de este estado se verificar com frequência, a percentagem de mortes é baixa.

Tratamento de emergência: Colocar o paciente num lugar fresco, onde possa descansar e tomar grandes quantidades de água salgada. Isto, normalmente, bastará para a recuperação. Contudo, não se deve tentar a sorte, mas sim assegurar os cuidados médicos ou hospitalizar o paciente.

— Cãibras

As cãibras são manifestadas por espasmos dolorosos dos músculos, com mais frequência nas pernas, braços e parede intestinal. Variam de simples aborrecimentos a severa e completa incapacidade.

Tratamento de emergência: Estes sintomas são directamente devidos à perda de sal do corpo. Desaparecem quando a perda do sal é recuperada. O tratamento consiste em beber livremente água salgada. Os casos graves devem ser hospitalizados e possivelmente tratados com Injecções de solução de sal, intravenosas.

(6) Instrução mental e psicológica

Os efeitos psicológicos da selva só podem ser totalmente vencidos pela experiência, se bem que as palestras sobre moral também sejam vantajosas. A instrução em áreas da selva é o melhor meio para os vencer. No combate da selva, como aliás em toda a espécie de combate, o treino mental e psicológico, a fim de acostumar a mente dos homens aos rigores do campo de batalha, é essencial. Exercícios de fogos reais, de explosivos, tiro por cima das nossas tropas e outros exercícios tendentes a darem a ideia real do campo da batalha, são de grande importância, porque a própria selva, só por si, é mais uma dificuldade a juntar às das outras áreas de combate.

b) Necessidades do serviço na selva

(1) Disciplina

Para o sucesso das operações na selva é absolutamente essencial um invulgar estado de disciplina—disciplina mental, disciplina de camuflagem, disciplina de fogo, disciplina de marcha, disciplina de luz. Todas as fases do combate devem ser norteadas por um estrito senso dos efeitos que uma acção individual possa ter na acção do conjunto. A disciplina, em todas as suas formas, deve ser inculcada na mente de todos, de forma que não só cada um se conduza convenientemente, como também saiba que os outros homens da unidade farão o mesmo sob as mesmas condições de incerteza e desânimo. Na selva, em todas as fases do combate, é essencial que os comandantes das unidades tenham uma grande noção da disciplina.

(2) Desconfiança

O combatente na selva deve desconfiar de tudo. O grau de ocultação que a selva oferece requer vagarosa e cuidada pesquisa do inimigo. Os elementos destacados em missão de segurança devem pesquisar todos os lugares de possível ocuitacão, a fim de evitar ultrapassar qualquer grupo de inimigos, que os poderão atacar de flanco ou pela retaguarda. Há sempre a possibilidade de observadores Inimigos estarem abrigados nas proximidades para descobrirem e relatarem os preparativos da nossa próxima operação. É preferível, pois, pensar que o inimigo está sempre próximo, observando e escutando. Na selva, a visibilidade limitada facilita a táctica da surpresa; uma surpresa engenhosa pode frequentemente permitir que uma pequena unidade vença outra de maior efectivo. Podem aplicar-se estratagemas de várias espécies. Demonstrações de força numa área, enquanto se ataca noutra; emboscadas e infiltrações para atacar postos de comando, postos de reabastecimentos ou comunicações; largo uso de atiradores especiais são formas de tácticas de surpresa que flagelam o inimigo e que se adaptam bem aos terrenos da selva. B preciso não esquecer que o inimigo também utiliza estratagemas e devemos estar prevenidos para não cairmos vitimas da surpresa.

(3) Paciência

Um dos principais requisitos das operações na selva é o segredo. Os movimentos furtivos requerem paciência. Da mesma forma é preciso paciência para deter os movimentos furtivos do inimigo. A paciência, embora não seja característica de todos os homens, pode ser aprendida e desenvolvida com a prática. E essencial no sucesso das operações na selva.

(4) Vedetas e patrulhas

As pequenas patrulhas de atiradores, quando bem treinadas, poderão mover-se através da selva, evitar os postos avançados nimigos, deslizar através das defesas inimigas e penetrar nas áreaa inimigas da retaguarda. Tais patrulhas, muitas vezes, constituem um dos mais importantes meios à disposição do comando para obter informações do inimigo.

A instrução especial dos elementos de tais patrulhas deve incluir grande número de conhecimentos sobre a selva, treino de ocultação, movimento, observação, conhecimentos característicos e hábitos do inimigo e ainda identificação das armas pelo som.

(5) Arte de comandar

As privações das operações da selva reclamam um bom comando. As dificuldades de controle obrigam a uma descentralização que resulta num importante aumento de acções elementares. Assim, os oficiais subalternos e os sargentos devem possuir extraordinária Iniciativa, bravura e decisão. Um importante objectivo da instrução é o desenvolvimento da confiança própria em todos os indivíduos.

c) Armamento, fardamento e equipamento

(1) Armamento

O armamento tem muitas vezes de- ser reduzido, tal como as munições, ao que possa ser transportado pelas próprias tropás ou nos limitados transportes capazes de as acompanharem. Isto, frequentemente, reduz o número de armas de apoio, requer que os planos tácticos sejam baseados fundamentalmente no uso de armas que possam ser transportadas à mão, que se não utilizem muitas munições e que estas não sejam muito pesadas. As ordens referentes à quantidade de munições, espécie de munições e armas que devem ser transportadas são decisões do comando, depois de cuidadosas considerações sobre as dificuldades de transporte e dos tipos de armas necessárias para cumprir a missão.

As armas mais convenientes para serem usadas na guerra da selva, onde a observação e o campo de tiro são muito limitados, são armas de curto alcance, de fácil remuniciamento e fácil transporte sobre terreno difícil. As armas que reúnem melhores condições são a espingarda, a baioneta, a espingarda-metralhadora, a pistola-metralhadora, a carabina, granadas de mão e de espingarda, a catana e a faca de mato.

Metralhadoras ligeiras, metralhadoras pesadas, os morteiros ligeiros e médios são armas menos manobráveis, menos convenientes para o emprego momentâneo e necessitam de munições mais difíceis de transportar; contudo, são de muito valor e podem ser transportadas em pequenos carros ou às costas dos homens. Os morteiros de 60 e 81 transportam-se mais facilmente e a sua eficiência na guerra da selva é igual à dos modelos mais pesados. Os lança-foguetes, utilizando munições carregadas com explosivos ou fósforo branco, são esplêndidas armas contra tropas abrigadas, em cavernas ou contra posições defensivas bem construídas; os lança-chamas são também eficientes contra tais posições.

(2) Fardamento e equipamento

Na selva, cada artigo de fardamento e equipamento deve ser considerado em função da sua necessidade e utilidade. A leveza é fundamental devido às dificuldades de transporte. Devem fazer-se todos os esforços para reduzir ao mínimo o equipamento, mas deve haver o máximo cuidado em não omitir equipamento essencial.

O fardamento justo e apertado não é conveniente pois torna-se quente e reduz os movimentos.
O calçado com sola, fornecido para a campanha, satisfaz em geral.

O capacete de aço pode ser facilmente camuflado, usando folhas e ramos que se seguram com a rede de camuflagem do capacete.

(Continua)

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